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2.3 ERROS
- 2 tipos de erros podem ser cometidos na conclusão dos Testes de Hipóteses:
ERRO TIPO I (α):
o É a probabilidade de rejeitar H0 (afirmando que existe diferença entre os grupos) quando esta é
verdadeira (isto é, na realidade não existe diferença) → FALSO POSITIVO;
o Para aceitar ou rejeitar H0, estabelece-se um limite aceitável (nível de significância ou nível α), ou seja,
um risco máximo admitido para o Erro Tipo I que é fixado pelo pesquisador:
Normamente, o nível α igual a 5% (0,05) funciona bem → significa que, ao rejeitar H0, a
probabilidade de cometer um Erro Tipo I é de 5%;
Pode-se adotar valor de 1% (0,01) quando quer se obter um resultado mais preciso.
o No teste de hipóteses, essa probabilidade é denominada de p-valor.
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MBE – Problema 02
Ana Carolina Conde Rodrigues
ERRO TIPO II (β):
o É probabilidade de se aceitar H0 (afirmando que não existe diferença entre os grupos) e esta ser falsa
(isto é, na realidade existe diferença) → FALSO NEGATIVO;
o Deve-se fixar o erro tipo II em 10% (0,10). Alguns autores fixam esse erro em 20% (0,20).
OBS.: o p-valor muito baixo não constitui necessariamente prova de que H 0 é falsa, mas apenas que esta é provavelmente
falsa.
A medicina baseada em evidencias (MBE) é definida como o elo entre a boa pesquisa cientifica e a prática clínica. Em
outras palavras, a MBE utiliza provas científicas existentes e disponíveis no momento, com boa validade interna e
externa, para a aplicação de seus resultados na prática clínica.
❶ Identificar o
❷Buscar evidênias ❸ Analizar
problema e formular ❹ Aplicar as
que possam responder criticamente os dados
uma questão bem evidências na prática
a questão coletados
estruturada (PICO)
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MBE – Problema 02
Ana Carolina Conde Rodrigues
1) ETAPA 1 – IDENTIFICAR PROBLEMA E FORMULAR UMA QUESTÃO BEM ESTRUTURADA:
A formulação da questão clínica permite delimitar com clareza qual exatamente a dúvida clínica que se
deseja responder → USAR O PICO.
2) ETAPA 2 – BUSCAR EVIDÊNCIAS NA LITERATURA QUE POSSAM RESPONDER À QUESTÃO:
É a partir da questão no formato PICO que se inicia a busca por evidências;
Deve-se procurar na literatura artigos que estejam abordando especificamente os componentes da questão
analisada. Para facilitar a busca por evidências, utiliza-se os operadores boleanos, sendo os mais utilizados o
AND e o OR;
Parte-se para a pesquisa em bancos de dados que podem ser os não filtrados (Pubmed, Medline, EMBASE)
e os bancos de dados pré-filtrados (p.ex.: ACP jornal club, Clinical evidence, evidence-based on call). A
diferença é que os bancos de dados pré-filtrados já fazem uma análise crítica prévia;
Deve-se avaliar criticamente a informação, adaptando-a para o caso em questão.
3) ETAPA 3 – ANALISAR CRITICAMENTE OS DADOS COLETADOS:
Deve-se avaliar criticamente a evidência coletada com relação a sua validade, importância e aplicabilidade.
A análise crítica possui algumas etapas:
o Encontrar vieses;
o Encontrar limitações.
Normalmente para essa análise estão disponíveis diversas listas;
Basicamente estas listas respondem a 3 questões principais:
1) O estudo possui validade interna? → representa uma estimativa sem erros sistemáticos do efeito
do tratamento ou apresentam alguma influência de forma sistemática conduzindo a uma falsa
conclusão?
2) Os resultados são importantes?
3) Os resultados auxiliam no manejo dos meus pacientes?
2) ETAPA 4 – APLICAR EVIDÊNCIAS NA PRÁTICA:
Deve-se procurar integrar a avaliação crítica com nossa competência clínica e com os valores e as
circunstâncias do paciente.
- Exemplo do problema:
O aumento súbito no número de casos de psicose aguda seguida de óbito em jovens usuários de drogas se
encontra relacionado apenas ao uso de drogas ilícitas, ou este quadro estaria sendo causado pelo consumo de
Flakka (nova droga sintética disponível no mercado)?
o P → jovens usuários de drogas com sinais e sintomas de psicose aguda que foram a óbito;
o I → uso de Flakka;
o C → uso de drogas ilícitas já conhecidas;
o O → diminuição no número de casos de psicose aguda em jovens.
- Outros exemplos:
O controle medicamentoso da HAS é mais eficiente no aumento da sobrevida de pacientes idosas com HAS e
DM2 não complicadas, do que o controle medicamentoso da glicemia?
o P → pessoas idosas do sexo feminino com DM2 e HAS não complicada;
o I → tratamento medicamentoso anti-hipertensivo;
o C → tratamento medicamentoso da DM;
o O → benefício para a saúde do paciente.
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MBE – Problema 02
Ana Carolina Conde Rodrigues
Há evidências de que o uso de probióticos em pré-escolares com tratamento de antibióticos reduz o risco de
diarreia:
o P → crianças pré-escolares em tratamento com antibióticos;
o I → uso de probióticos;
o C → sem intervenção comparável;
o O → redução do risco de diarreia associado ao uso de antibiótico.
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MBE – Problema 02
Ana Carolina Conde Rodrigues
o Possível viés: as populações estão continuamente se alterando (entrada e saída populacional), podendo
enviesar o resultado da pesquisa especialmente se a amostra de casos e controles for feita durante um
longo período de tempo.
Abordagem aninhada em coorte:
o Pode-se obter um caso-controle a partir de um estudo de coorte;
o Útil quando o estudo de coorte inicial envolvia grandes amostras cujas variáveis (especialmente
algumas covariáveis) podem não estar disponíveis em bancos de dados da coorte e, portanto, precisam
ser coletadas de outras fontes para cada paciente → o estudo se torna dispendioso e inviável, sendo
melhor realizar um estudo de caso-controle com os dados da coorte;
o P.ex.: um estudo de coorte, que levou em conta somente a idade, demonstrou que o risco absoluto para
fraturas típicas relacionado ao uso de bifosfonados foi de 5 casos para cada 10.000 pacientes-ano,
sendo necessária a coleta de covariáveis através de bancos que foi presumidamente trabalhosa demais
→ pode-se utilizar os dados, então para a realização de um estudo caso-controle;
o P.ex.: há um estudo de coorte sobre o fumo e o câncer de pulmão, mas durante o estudo alguns
pacientes desenvolvem DPOC. Pode-se fazer um estudo caso-controle com esses pacientes. É ótimo, pois
tem a seleção dos casos incidentes e tem a certeza da ordem dos eventos.
Controles em hospitais e na comunidade:
o Está mais sujeito a falhas do que a abordagem populacional ou aninhada à coorte → os pacientes
hospitalizados são, em geral, uma amostra enviesada de todas as pessoas da comunidade (indivíduos
aos quais os resultados deveriam ser aplicados);
o Os controles podem ser selecionados de uma ala hospitalar ou a partir da comunidade atendida pelo
hospital (no entanto, os hospitais podem indivíduos de outras comunidades, assim como os indivíduos
da própria comunidade podem se tratar em outros hospitais).
Múltiplos grupos-controle:
o Utilizado se nenhum grupo controle parecer ideal → seleciona-se grupos controle com forças e
fraquezas científicas aparentemente complementares;
o Estimativas semelhantes de RR em diferentes grupos controle são evidência contra vieses.
Múltiplos controles de caso:
o Utilizado se o número de casos for limitado (p.ex.: doenças raras) → nesse caso, determina-se mais de
um controle por caso;
o Proporciona maior capacidade de determinar aumento ou redução do risco;
o Na prática, se seleciona de 3 a 4 grupos controle por caso.
Pareamento:
o É realizado o pareamento quando algumas características parecem fortemente relacionadas à
exposição ou à doença, devendo-se certificar se elas são comparáveis nos casos e nos controles →
serve para reduzir as diferenças entre os grupos;
o Assim, para cada caso com um conjunto de características, seleciona um controle com as mesmas
características (ex: parear por idade, sexo, residência);
o Pareamento guarda-chuva: quando se realiza o pareamento com base em uma variável como hospital
ou comunidade → é um substituto para muitas outras variáveis que seriam impossíveis de medir uma
de cada vez. Variáveis “cobertas” pelo guarda chuva: desvantagem social relacionada à renda,
escolaridade, raça e etnia, propensão para buscar cuidados médicos ou seguir orientações médicas etc.;
o Superpareamento: ocorre quando são pareadas tantas variáveis estritamente relacionadas à exposição
a ponto de as taxas entre casos e controles se tornarem mais semelhantes do que são na população →
o RR acaba por se aproximar de 1.
4) Verificação do nível de exposição de cada participante:
Deve-se verificar o nível de exposição de cada pessoa classificada como caso ou controle, que pode ser por;
o Entrevista; OU
o Prontuários, atestados e resultados de exames laboratoriais → p.ex.: pacientes que já tiveram
toxoplasmose são soro reativos ao Toxoplasma gondii.
Deve-se procurar evitar o viés de aferição nessa etapa.
4.3 APLICABILIDADE
São úteis na investigação de doenças raras (que possuem baixas taxas de prevalência e incidência), as quais
dificilmente poderiam ser objeto de amostras populacionais (no caso de utilização de estudos transversais e de
coorte), devido ao seu tamanho.
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MBE – Problema 02
Ana Carolina Conde Rodrigues
4.4 ESTUDO DE CASO-CONTROLE x COORTE HISTÓRICA
Nos estudos de coorte, tanto a exposição quanto o desfecho
já ocorreram antes do início do estudo, enquanto que nos
estudos de caso-controle procura-se descobrir qual foi a
exposição a partir do desfecho (vai “de trás para frente”).
Ou seja:
𝑎/(𝑎 + 𝑐)
𝑐/(𝑎 + 𝑐) 𝑎/𝑐 𝑎𝑑
𝑂𝑑𝑑𝑠 𝑅𝑎𝑡𝑖𝑜 (𝑂𝑅) = = =
𝑏/(𝑏 + 𝑑) 𝑏/𝑑 𝑏𝑐
𝑑/(𝑏 + 𝑑)
Pode-se perceber que o OR pode ser obtido multiplicando-se os valores das diagonais da tabela 2x2 e
dividindo-se os produtos cruzados;
- Interpretação: é análoga ao do RR:
Se OR = 1 → a exposição não interferiu na ocorrência da doença; O OR é aproximadamente igual ao RR quando
a incidência da doença é baixa ou quando a
Se OR > 1 → possibilidade de fator de risco: chance do desfecho mesma é rara → se o nº de casos no grupo
ocorrer nos casos > do que nos controles; exposto (a) for pequeno em relação ao grupo
Se OR ≤ 1 → possibilidade de fator de proteção: chance do não exposto (b), então a(a+b) é
desfecho ocorrer nos casos < do que nos controles. aproximadamente igual a a/b; o mesmo ocorre
- Confirmação do cálculo: da mesma forma que é feito no RR, para para c/d. Portanto, o RR = a/b dividido por c/d,
confirmar os resultados achados, deve-se calcular o intervalo de que é igual a ad/bc, ou seja, o OR.
confiança (IC):
De forma simplificada, o IC nos diz que, se repetirmos o mesmo estudo por 100 vezes, em 95 vezes (95%) o valor
verdadeiro estará dentro de um intervalo determinado e, quanto mais estreito esse intervalo, maior a precisão:
o P.ex.: estudo com RR 18 e IC 95% (1,4 – 59,4) e outro com IC 95% (16,7 – 21,4); o segundo é mais
confiável.
O IC não deve incluir a unidade (OR = 1), que informaria não existir associação entre fator e efeito:
o Se o OR do grupo pesquisado foi 4 e o IC 95% foi de (2,3-5,6), pode-se usar a informação do risco
sabendo que no cotidiano pode-se ter a variação de risco de 2,3 até 5,6, no entanto, se o IC 95% fosse de
(0,6-8,3), não se poderia reproduzir o resultado que ocorreu no grupo (OR de 4), já que o intervalo tem o
valor 1 (OR = 1 demonstra não associação) e consequentemente tem valores menores do que 1 (OR < 1,
seria de fator de proteção) e valores maiores que 1 (OR > 1, seria de risco), sendo assim, não se tem
confiança na informação, pois ficou pouco precisa: risco, sem associação e proteção.