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Noções de Medicina Baseada em Evidências

Introdução
A ciência representa um conhecimento profundo, baseado no estudo de
fenômenos e formulação das leis gerais que os regem, adquirido através de estudo
sistematizado ao longo do tempo. A metodologia científica é uma das principais
bases da medicina ocidental contemporânea, sendo seu entendimento crítico
fundamental para a prática clínica.
É importante ter em mente que os processos de adoecimento e cura são fenômenos muito
complexos que abrangem diversas dimensões, algumas delas extremamente individuais, sendo
impossível de serem totalmente entendidos por uma única ciência.
Na área médica, a produção científica desenvolve-se preferencialmente a
partir da aplicação dos princípios da metodologia científica, seguindo uma ordem
lógica e sistemática de observação, identificação do problema, formulação da
hipótese e sua verificação, conclusões e comunicação dos resultados.
Apesar do rigor do método científico, interesses financeiros e outros desvios podem levar a fraudes,
métodos inconsistentes e irreprodutíveis, resultados estatisticamente torturados, dentre outras
falácias. Neste sentido, ao avaliar uma publicação científica, é importante atenção redobrada aos
métodos, antecipando vieses que possam comprometer os resultados.

Avaliação Estatística
A avaliação estatística de um fenômeno sempre considera uma parcela de
erro, analisando a divisão matemática entre medidas de tendência central
(geralmente a média, mas também mediana ou moda) e de dispersão (geralmente a
variância e desvio padrão, ou também percentil e intervalo interquartil) de diferentes
grupos.
Esta análise matemática é baseada em testes estatísticos e seus significados. Neste contexto, é
importante o conhecimento de conceitos como erro estatístico, intervalo de confiança, p-value, dentre
outros. As tabelas a seguir abordam de maneira resumida esses conhecimentos.

Principais Testes Estatísticos


Testes t-Student Mann-Whitney Qui-quadrado Análises Multivariadas
Pearson Regressão Logística ou Linear

Variáveis Médias Medianas Variáveis Diversas Variáveis Simultaneamente


Categóricas
O melhor teste depende da amostra, tipo de variável e objetivos do estudo.

Conceitos Relevantes
Erro Tipo 1 Este é o risco de rejeitaremos a hipótese nula quando ela é verdadeira, ou seja,
α resultado falso-positivo, representado pela letra grega α. A probabilidade de
cometer um Erro Tipo I num teste de hipóteses traduz seu nível de significância,
geralmente fixado em α=5%.

Intervalo de Calcula-se, como 1-α, o Intervalo de Confiança (IC). Na maioria dos casos, como
Confiança α=5%, temos IC=100%-5%=95%=0.95, ou seja, há 95% de chance de a verdade
estar dentro deste intervalo, nestas condições. O IC pode ser influenciado por
fatores como tamanho da amostra, nível de confiança e variabilidade
populacional. O achado de um IC estreito sugere que a diferença entres os seus
grupos foi pequena e consistente, o que torna o resultado um melhor
representante da realidade.

Erro Tipo 2 O Erro Tipo 2 consiste em aceitar a hipótese nula quando ela é falsa, também
β conhecido como falso negativo, representado pela letra grega β. Deste conceito
deriva o poder de um teste, que depende de fatores como tamanho amostral e
do efeito, calculado como 1-𝛃, geralmente considerado aceitável >80%.

p-value Representa a probabilidade da hipótese nula ser verdadeira. Quanto menor o p,


menor a chance de estarmos frente a um Erro Tipo 2 ou falso-negativo. Quando
p é menor que α rejeita-se a hipótese nula, ou seja, o resultado é confiável,
provavelmente representativo e estatisticamente significante. Nesse caso,
observa-se que o IC não contém o número 1. Ou seja, podemos ficar
convencidos de que o efeito observado não ocorreu devido a um erro amostral e
que de fato existe uma diferença entre os grupos comparados.
Por exemplo, ao avaliar se uma intervenção foi capaz de reduzir mortalidade e o IC 95% foi de
0.5-1.1, temos que o número 1 está presente neste intervalo e, dessa forma, entendemos que não
houve significância estatística nesta medida. Neste caso, matematicamente, teremos p≥0.05.

Por fim, é importante diferenciar se um achado é casual ou causal. Neste


sentido, os critérios de Critérios de Hill e outras análises podem ser aplicados para
avaliar a plausibilidade da relação causal entre uma exposição e uma doença, por
exemplo, sustentando a lógica por trás da qualidade de evidência e evitando
conclusões errôneas.
Os Critérios de Hill envolvem a força de associação, consistência, especificidade, temporalidade,
gradiente biológico, plausibilidade biológica, coerência, evidências experimentais e analogia a outros
conhecimentos correlatos já sedimentados.

Tipos de Estudo

Didaticamente, os estudos são separados em primários, quando baseados


em artigos originais e secundários, quando procuram estabelecer conclusões a
partir de estudos primários. A decisão sobre a escolha do tipo de estudo a ser
empregado depende da área de interesse de investigação, do estado de
conhecimento a respeito da doença ou situação clínica em questão e de sua
prevalência.
Os estudos primários ainda são subdivididos em observacionais, quando não há modificação da
história natural da doença (Relatos de Caso, Transversal, Coorte, Caso-Controle), e experimentais de
intervenção, quando ocorre interferência na exposição, tratamento ou desfecho (Ensaios Clínicos).

Ensaio Clínico → Estudo primário, longitudinal, prospectivo e experimental. Seu entendimento é


muito relevante para a prática médica, sendo necessário um conhecimento mais aprofundado e
crítico das suas características. Existem vários subtipos deste estudo, mas a maioria envolve um
grupo intervenção e um grupo controle, que ainda podem ser estratificados em subgrupos, como por
exemplo, grupos de intervenção com diferentes doses da medicação, ou grupos controle com
placebo ou tratamento alternativo.
Avalia-se nos grupos as incidências dos desfechos de interesse, como por exemplo cura,
alívio, morte, sequelas, reações adversas, dentre outros. Sua medida resumo é o Risco Relativo
(RR), além de ser possível avaliar outras medidas de efeito como Risco Absoluto (RA), Redução do
Risco Relativo (RRR), Redução Absoluta do Risco (RAR). É importante também o entendimento do
Number Needed to Treat → NNT=1/RAR e do Number Needed to Harm → NNH e suas implicações
na decisão de indicar ou não um tratamento.
Por exemplo, imagine que um tratamento para uma doença tem um NNT=20 e um NNH=30, ou seja, será necessário tratar 20
pacientes para obter um resultado positivo, mas ao mesmo tempo a cada 30 pacientes tratados ocorrerá um efeito adverso
grave. Quanto melhor o tratamento, menor será o NNT e maior o NNH, sendo a escolha de tratar ou não baseada na avaliação
desses dois números, na gravidade da doença não tratada, efeitos adversos e custo do tratamento.

Geralmente, os ECR têm um objetivo definido no início do estudo, que é avaliar


superioridade, equivalência ou não inferioridade de uma intervenção em relação a algum tratamento
padrão ou ao placebo. Essa comparação, exemplificada na figura a seguir, gera um gráfico cujo eixo
horizontal representa a subtração dos intervalos de confiança, dessa forma o ponto de referência é o
“zero” e não o “um”, como ocorre quando se compara os intervalos de confiança simplesmente.

Legenda: T: tratamento, C: controle, -M: margem de não-inferioridade. T é superior a C se a diferença dos intervalos de
confiança se situar inteiramente à direita do zero e é não inferior se estiver inteiramente à direita de -M.

Quanto a desvantagens e problemas, Ensaios Clínicos são dispendiosos, caros e


demorados. Deve também haver controle de vieses que possam comprometer a interpretação dos
resultados, com atenção inclusive para eventuais interesses financeiros que possam estar
envolvidos, pelo seu alto impacto no mercado farmacêutico.
Vieses de Ensaios Clínicos
Viés Definição Soluções

Seleção Diferenças sistemáticas entre os grupos de Randomização verdadeira na alocação de grupos, e a


intervenção e controle. posteriori, com a estratificação de subgrupos na análise.

Performance Comportamento dos participantes e Duplo cegamento, para que assim nem o participante
pesquisadores muda em função do tipo de grupo nem o pesquisador saibam ao grupo que pertence.
intervenção ou controle.

Detecção Selecionar análises ou dados que favoreçam Triplo cegamento, que inclui o estatístico ou
significância no grupo intervenção. pesquisador responsável pela análise. Outra
possibilidade é o pré-registro dos métodos e análises
que se pretende fazer em plataformas públicas, antes
da coleta de dados.

Atrito Desistência de participantes sistematicamente Realizar a análise “Por intenção de tratar”, que
em um grupo em relação ao outro, por exemplo, resumidamente significa não excluir o sujeito desistente
por falta de efeito ou muitos eventos adversos. da análise final. Ou ainda admitir o pior desfecho para
os desistentes.

Publicação Tendência das revistas científicas e Pré-registro do estudo e futuras análises em


pesquisadores de publicarem apenas resultados plataformas públicas.
positivos, levando a omissão de resultados não
significativos ou até rejeição de publicação.
Existem diversos outros vieses possíveis e métodos para evitar ou amenizar sua ocorrência. Sua consulta está disponível
gratuitamente em algumas plataformas, como a Oxford Brazil EBM.

Coorte → Trata-se de um desenho de estudo primário, observacional, longitudinal e


analítico, que pode ser prospectivo ou retrospectivo. Parte-se da avaliação do fator de risco, de um
grupo de indivíduos com características semelhantes que é acompanhado durante um período de
tempo variável, em que são observados comportamentos e parâmetros de interesse para determinar
a incidência de uma variável ou mortalidade entre os expostos e não expostos a um ou mais fatores.
Sua medida resumo de associação é o Risco Relativo (RR), sendo possível avaliar outras medidas
de efeito como Risco Atribuível (RA) ao Fator, RA Populacional e RA Percentual.
Por suas características, estudos de coorte são capazes de fornecer informações valiosas
sobre causas e fatores de risco para doenças, além de sua incidência, evolução e prognóstico. Têm
o poder de avaliar múltiplos desfechos para um certo fator de exposição, a relação temporal entre
exposição e doença e também estimativas de causalidade através da força de associação.
Quanto às suas limitações, é pouco eficiente para a investigação de doenças raras, além de,
se for prospectivo, necessitar de longos períodos de acompanhamento, tornando-se oneroso e
vulnerável a perdas de follow up. Se for retrospectivo, requer a disponibilidade de registros
adequados.
Um exemplo notável de estudo de coorte é o Framingham Heart Study, realizado em uma cidade de 28 mil habitantes nos
Estados Unidos, acompanhou 6 mil norte-americanos por 20 anos, investigando os fatores de risco para doença arterial
coronariana e cardiovascular. Por ter sido muito bem planejado, conduzido e analisado, teve grande impacto no
estabelecimento de algumas bases atuais do conhecimento da gênese e manejo de doenças cardiovasculares.

Caso-Controle → Estudo primário, observacional, longitudinal e retrospectivo, compara dois


grupos em busca de um possível fator de risco ou proteção para um determinado desfecho. O grupo
“Caso” reúne os indivíduos que possuem a característica de interesse, como por exemplo uma
determinada doença, já o grupo “Controle”, utilizado de maneira comparativa, reúne indivíduos que
não possuem essa característica e sendo representativos da população de interesse. A escolha dos
participantes do grupo controle é uma etapa crucial, sendo importante que ambos os grupos sejam
razoavelmente homogêneos para evitar vieses. Diferente das coortes, os estudos caso-controle
sempre partem do desfecho para selecionar os grupos.
A medida resumo de associação entre a exposição e a doença ou desfecho é a razão de
chances, ou Odds Ratio. Suas principais vantagens são a maior facilidade de investigar doenças
raras, com longos períodos de indução ou latência, sem a necessidade de acompanhamento de uma
grande população por longos períodos de tempo. São relativamente baratos e rápidos, além de
possibilitarem a análise simultânea de vários fatores de exposição. Um de seus principais problemas
é o viés de memória, associado ao fato de que indivíduos com histórico positivo de doença lembram,
em geral, com maior clareza e detalhes de fatores de exposição pregressos.
Relato de Caso → Descreve aspectos de interesse de um único paciente, sendo um dos
tipos mais comuns de apresentação em congressos. Embora não seja considerado de alto nível de
evidência, é uma importante fonte de informação quando a entidade diagnosticada é rara, o
tratamento é pioneiro ou o resultado inusitado.
Por exemplo, a primeira publicação sobre a associação de Sarcoma de Kaposi e AIDS foi através de um relato de caso.

Transversal → Estudo primário observacional em que se avalia uma amostra da população


num determinado momento, para determinar a prevalência de alguma condição de interesse. Tem
baixo custo, é rápido e simples, conseguindo estimar, por exemplo, a prevalência de uma doença,
sendo útil principalmente para levantamento de hipóteses. Contudo, devido à sua estruturação, não é
capaz de inferir causalidade. Sua medida resumo é a Razão de Prevalência.
Revisão Sistemática → Estudo secundário, baseado na análise de estudos primários, que
se propõe a responder uma pergunta específica de forma objetiva e imparcial. Para evitar viés de
análise na revisão sistemática, os métodos de seleção e análise dos dados são estabelecidos antes
de a revisão ser conduzida, num processo rigoroso e bem definido.
Realiza-se uma ampla busca da literatura com o objetivo de se identificar o maior número
possível de estudos relevantes e bem qualificados relacionados à questão. Uma vez selecionados,
aplicam-se critérios para avaliação da qualidade metodológica conforme o delineamento do estudo
original. Quando os estudos forem compatíveis, os resultados podem ser finalmente sintetizados na
forma de uma Metanálise.
Metanálise → Síntese estatística dos resultados numéricos de vários estudos dedicados a
examinar a mesma questão, com objetivo de produzir uma única estimativa ou índice que caracterize
o efeito de uma determinada intervenção. Revisões Sistemáticas e Metanálises figuram no topo da
pirâmide da evidência científica, porém, suas conclusões dependem diretamente da qualidade e
comparabilidade dos estudos revisados. Metanálises com estudos de baixa qualidade, viés de
publicação ou muito heterogêneas, geram dados inconsistentes e inconclusivos.
O grau de heterogeneidade entre os estudos pode ser estimado matematicamente no cálculo percentual I², considerado alto
se >50%.
Os resultados de uma metanálise são geralmente apresentados em um gráfico chamado
Forest Plot, que expressa dados individuais de cada estudo para um dado desfecho e, ao final, uma
medida agregada que resume a metanálise:

O resultado de seis estudos hipotéticos, enumerados de 1-6, é representado por uma linha horizontal, sendo que o quadrado
no meio da linha mostra o valor da medida de associação e seu tamanho representa o peso que o estudo teve na metanálise,
o que geralmente está relacionado com seu tamanho amostral. O comprimento da linha horizontal de cada estudo representa
seu intervalo de confiança. A linha vertical que passa pelo Risco Relativo (RR) de 1 é a linha de "não efeito" e, se a linha
horizontal não cruzar esta linha vertical, há chance de haver diferença real entre os grupos. Por fim, na região mais inferior,
vemos a síntese da metanálise representada por um diamante. Se o diamante tocar a linha representando o RR de 1, a
metanálise foi inconclusiva. Se o diamante não tocar o RR de 1, é possível tirar conclusões da metanálise. Em geral, valores
maiores do de 1 indicam que o desfecho é mais comum nos pacientes do grupo intervenção e valores entre 0 e 1 significam o
desfecho mais frequente no grupo controle.

Guidelines ou Diretrizes → São recomendações desenvolvidas de forma sistemática, com


o objetivo de auxiliar profissionais e pacientes na tomada de decisão para o cuidado de sua saúde
em circunstâncias clínicas específicas. Para sua construção é necessário o consenso de um grupo
de especialistas e estudiosos conceituados da área.

Testes Diagnósticos
Na prática clínica, muitas vezes utilizamos testes diagnósticos para distinguir
presença ou ausência de uma determinada condição. Cada teste tem suas
particularidades, inclusive risco de resultados falsos, sendo importante o
entendimento dessas limitações para escolha do melhor teste e interpretação dos
resultados em diferentes contextos.
Para avaliação de um teste diagnóstico cujo resultado é dicotômico, pode-se
utilizar a clássica Tabela 2x2, comparando o teste de interesse com a estratégia
considerada padrão-ouro para diagnóstico daquela condição. Geralmente utiliza-se
parâmetros como Sensibilidade (S), Especificidade (E), Valor Preditivo Positivo
(VPP), Valor Preditivo Negativo (VPN) e Acurácia (AC), dentre outros.
Resultado falso-positivo ocorre quando o teste é positivo em paciente sem a condição. Já o
falso-negativo faz referência ao teste negativo quando o paciente tem a condição.
Tabela 2x2 e Principais Parâmetros

Doença Presente Doença Ausente

Teste Positivo Verdadeiro Positivo (A) Falso Positivo (B)

Teste Negativo Falso Negativo (C) Verdadeiro Negativo (D)


Parâmetro Cálculo Explicação

Sensibilidade S=A/(A+C) Probabilidade de um indivíduo doente ter o teste positivo. Testes muito
sensíveis são úteis para rastreio e estão sujeitos a mais falsos positivos,
sendo mais confiáveis quando o resultado é negativo.

Especificidade E=D/(D+B) Probabilidade de um indivíduo saudável ter o teste negativo. Testes muito
específicos são úteis para confirmações diagnósticas, sendo especialmente
confiáveis quando o resultado é positivo.

Valor Preditivo VPP=A/(A+B) Probabilidade de a doença estar presente frente a um teste positivo. Sofre
Positivo influência da prevalência populacional da condição.

Valor Preditivo VPN=D/(D+C) Probabilidade de a doença estar ausente frente a um teste negativo. Sofre
Negativo influência da prevalência populacional da condição.

Acurácia AC=(A+D)/(A+B+C+D) Proporção de resultados verdadeiros em relação a todos os resultados.


Testes acurados são dotados simultaneamente de boa Sensibilidade e
Especificidade.
A alta prevalência de uma doença na população testada aumenta o VPP e diminui o VPN. Aplicação de testes
simultaneamente, em paralelo, aumenta a sensibilidade do processo. Já a aplicação de testes em série aumenta a
especificidade. Note que a S e E de um teste são geralmente antagônicos em relação a um contínuo de valores de pontos de
corte. Neste sentido, a Curva ROC (Receiver Operator Characteristic) pode ser utilizada para identificar, no ponto com maior
área sob a curva, o ponto ótimo de equilíbrio entre S e E.

Qualidade da Evidência
Além da questão estatística e do modelo de estudo, devemos avaliar a
qualidade da evidência para julgar o quanto devemos considerá-la para embasar
nossas condutas. Os principais fatores que podem diminuir ou aumentar a qualidade
evidência de estudos são resumidos abaixo:

Diminuem a Evidência Aumentam a Evidência

Fator Comentário Fator Comentário

Limitação Validade interna e risco de vieses. Grande Medida de associação com valor muito
Metodológica Magnitude de impactante.
Efeito

Inconsistência Estudos semelhantes com resultados Gradiente Corroboram a causalidade e confiança


discordantes. Dose-resposta no resultado.

Imprecisão Amplos Intervalos de Confiança. Fatores de Justificam o tamanho ou ausência de


Confusão efeito.
Plausíveis

Direcionamento Comparações indiretas entre grupos


de interesse.

Viés de Comunicar apenas resultados


Publicação positivos.

Por muito tempo considerava-se a “Pirâmide da Evidência” como principal


determinante da qualidade de uma evidência. Este sistema inicia a avaliação da
qualidade de evidência a partir do delineamento do estudo, organizando-os em um
formato piramidal que classifica a qualidade da evidência em quatro níveis: Alto (A),
Moderado (B), Baixo (C) e Muito Baixo (D).
Pirâmide de Evidências
Contudo, muitas vezes, a avaliação apenas do desenho do estudo é
insuficiente para avaliar sua qualidade. Por exemplo, um Ensaio Clínico
Randomizado (ECR), que figura no topo da pirâmide, pode ter sua qualidade de
evidência comprometida por vieses e falhas metodológicas.
Considerando isso, foi proposto a “Nova Pirâmide de Evidências GRADE
(Grades of Recommendation, Assessment, Development and Evaluation)”, baseada
em uma hierarquia mais fluida entre os diferentes delineamentos de estudo a
depender dos métodos utilizados para redução máxima dos vieses. Desta forma,
estudos observacionais rigorosos podem, eventualmente, proporcionar uma
evidência mais forte do que uma série de casos não controlada.
No GRADE, os graus de recomendação são resumidos em apenas duas categorias: "Forte" ou
"Fraca", que podem ser a favor ou contra a conduta proposta. Outra mudança importante é que as
Revisões Sistemáticas e Metanálises saem da pirâmide e funcionam como uma "lente de aumento"
para que se avalie a evidência de diferentes estudos.

Busca e Escrita de Artigos


O modo mais utilizado é através da plataforma online PubMed. É possível
criar um cadastro e salvar os temas de maior interesse ou fazer uma busca casual,
procurando sua principal palavra-chave seguida ou não de [TITLE], caso queira
selecionar apenas artigos que contenham este termo no título. Além disso, é
possível ampliar sua busca com conectores, chamados de operadores booleanos,
como “AND”, “OR” e “NOT”. É possível, no menu lateral, selecionar filtros
avançados para as revistas de interesse, publicações apenas dos últimos anos e
delineamento de estudos.
Por exemplo, para pesquisar estudos com título envolvendo uso de Dexametasona na insuficiência
respiratória, mas não em pacientes Covid, seria possível a seguinte pesquisa: Dexamethasone AND
Respiratory [TITLE] NOT Covid.
Após analisar os artigos, a escolha depende do contexto de interesse.
Geralmente em reuniões científicas, por exemplo, prefere-se a apresentação de
artigos recentes publicados no último ano, realizados em centros de pesquisa de
qualidade, publicados em revistas de prestígio. Existem modelos predefinidos de
apresentação de artigos e até plataformas online, como o Wiki Journal Club, que
trazem análises críticas dos principais artigos do meio médico.
Plataformas e Sites Úteis
Apresentaremos abaixo uma seleção de plataformas e sites úteis,
abrangendo não só publicações científicas, mas também busca de informações
médicas, estratégias de estudo, podcasts, calculadoras, dentre outros.

UpToDate é uma excelente plataforma Sanford Antimicrobial Stewardship é


paga que fornece informações completas uma plataforma paga considerada
atualizadas confiáveis sobre a maioria dos padrão-ouro para escolha de antibióticos e
assuntos clínicos e medicamentos, na manejo de doenças infecciosas.
forma de textos, imagens e fluxogramas.

MD Calc é uma plataforma que reúne PubMed é uma plataforma para pesquisa
diversas calculadoras e scores utilizados de publicações científicas da área médica.
na prática. Gratuíto e com interface fácil e Infelizmente o acesso completo aos artigos
intuitiva. muitas vezes é pago.

Clinical Key é uma plataforma da Elsevier, Medscape é uma plataforma semelhante


semelhante ao UpToDate, para pesquisa ao UpToDate e ClinicalKey voltada para
de informações e artigos atualizados em pesquisa de guidelines e artigos
diversas áreas da medicina. atualizados sobre os principais tópicos da
prática médica.

edX é uma plataforma online, com opções NEJM Knowledge+ é uma plataforma
pagas e gratuitas, de cursos médicos e de educacional para aprimoramento do New
outros assuntos de grandes universidades England para aprendizado adaptativo com
como Harvard e Berkeley. questões e feedbacks inteligentes.

Online MedEd é uma plataforma com The Vortex Airway Approach é um site
vídeo-aulas, flashcards e perguntas. As australiano com diversos materiais sobre
vídeo-aulas são rápidas e precisas e manejo de via aérea, apresentados
abordam a maioria dos temas. O acesso gratuitamente de maneira visual e intuitiva.
aos vídeos é gratuito.

The Pocus Atlas TPA é uma plataforma POCUS 101 é uma plataforma semelhante
predominantemente gratuita com diversas ao TPA, que conta também com esquemas
imagens de USG Point-of-care separadas e ilustrações didáticas.
por tópicos.

Radiopaedia é uma plataforma gratuita Life in the Fastlane LIFTL é uma


que traz achados de diversos exames de plataforma de conteúdos médicos voltada
imagem e sua correlação clínica com para medicina de emergência e intensiva.
doenças.

ASCVD Plus é uma calculadora de risco USPSTF fornece um aplicativo gratuito que
cardiovascular baseada em fatores avalia indicação de rastreios baseado em
epidemiológicos que também sugere fatores epidemiológicos. Cuidado pois pode
condutas para diminuição do risco. divergir das recomendações no Brasil.

Chemocare é uma plataforma da eviQ é uma plataforma do Governo


Cleveland Clinic com os principais Australiano para auxílio de prescrição e
esquemas, doses e efeitos adversos de manejo de pacientes em tratamento
quimioterápicos. quimioterápico, semelhante ao Chemocare.

Wiki Journal Club é uma plataforma Read by QxMD é uma plataforma que
gratuita que disponibiliza avaliação crítica e permite leitura personalizada de
resumos por tópicos da maioria dos publicações selecionando artigos por
estudos relevantes já publicados. especialidades, jornais e fontes.

The Bottom Line é um site que seleciona Clinical Care Options CCO é uma
e organiza os artigos e estudos recentes plataforma educacional gratuita que
mais relevantes para a prática de medicina disponibiliza materiais e aulas sobre
intensiva. diversos temas médicos.
Google Keep é uma ferramenta gratuita Trello é uma ferramenta semelhante ao
para criação de notas personalizadas Google Keep que permite criação e
compartilháveis. Pode ser extremamente compartilhamento de notas personalizadas.
útil para organizar anotações sobre Também pode ser utilizada para organizar
pacientes e passagens de plantão. anotações entre vários médicos.

Anki “Powerful, intelligent flashcards. Cápsula é uma plataforma brasileira de


Remembering things just became much fácil acesso para estudo de flashcards. Tem
easier.” Plataforma de estudo com disponível nossa coleção para Acesso
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automática de diversos idiomas que utiliza gramatical e ortográfica que utiliza
algoritmos de inteligência artificial e inteligência artificial e processamento de
Machine Learning. linguagem natural.

Mendeley é um organizador de BioRender é uma plataforma com diversos


referências, útil para escrita acadêmica. ícones e figuras gratuitas que permite
Pode ser utilizado como plugin no Word. rápida confecção gráfica para trabalhos.

American Journal Experts é uma ECG Wave-Maven é uma plataforma


plataforma paga para correção linguística educacional de Harvard com quizes e
de especialistas para artigos científicos. explicações teóricas de ECG.

RK.MD é um blog com diversos tópicos Xlung é uma plataforma que possibilita
sobre medicina intensiva, conta com simulações de configuração de ventilação
explicações fisiopatológicas e infográficos. mecânica, além de cursos sobre o tema.
Criado por ex-residentes da EPM-Unifesp.

Curbsiders é outro podcast de medicina EMCrit é um podcast e um blog focado em


interna, semelhante ao Core IM, que temas de medicina de emergência.
discute temas relevantes em clínica
médica.

Tá de Clinicagem TdC é um podcast de Nefropapers é uma plataforma que discute


medicina interna com site que também os principais temas de nefrologia, além de
fornece cursos e guias. Criado por fornecer cursos e outros materiais. Criado
ex-residentes da EPM-Unifesp. por ex-residentes da EPM-Unifesp.

Doze Cast é um podcast sobre temas Cardiopapers é uma plataforma de textos,


relevantes em cardiologia. Criado por cursos e vídeos sobre os principais temas
ex-residentes da EPM-Unifesp e do de cardiologia. Criado por ex-residentes da
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. EPM-Unifesp.

Advanced Residency Life Support ARLS é o melhor método para aprimoramento nos conhecimentos
essenciais de Clínica Médica. Trata-se de um material completo baseado em textos, vídeos, flashcards,
casos clínicos e perguntas, organizados em uma plataforma online inteligente. Desenhado por Docentes e
Preceptores da Clínica Médica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -
Unifesp EPM, é utilizado como projeto pedagógico basal dos nossos e disponibilizado para outros
médicos que buscam aprimoramento técnico na área.

Autores
Heloisa Batista Teza; CRM-SP 211.343; CPF 076.245.219-62
Jackeline Neves Pereira; CRM-SP 209.315; CPF 091.206.346-76
Pedro dos Santos Perez; CRM-SP 200.425; CPF 433.001.868-38
Referências
1. Guyatt GH, Oxman AD, VIST G, et al. GRADE guidelines: 4. Rating the quality of evidence - study limitations, risk of
bias, Journal of Clinical Epidemiology, Volume 64, Issue 4, 2011.
2. Phillips, M.R., Kaiser, P., Thabane, L. et al. Risk of bias: why measure it, and how?. Eye 36, 346–348, 2022.
3. Ioannidis JPA. The Proposal to Lower P Value Thresholds to .005. JAMA 2018; 319:1429.
4. Oxman AD, Cook DJ, Guyatt GH. Users' guides to the medical literature. VI. How to use an overview.
Evidence-Based Medicine Working Group. JAMA 1994; 272:1367.
5. Mulrow CD. The medical review article: state of the science. Ann Intern Med 1987; 106:485.

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