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Introdução
A ciência representa um conhecimento profundo, baseado no estudo de
fenômenos e formulação das leis gerais que os regem, adquirido através de estudo
sistematizado ao longo do tempo. A metodologia científica é uma das principais
bases da medicina ocidental contemporânea, sendo seu entendimento crítico
fundamental para a prática clínica.
É importante ter em mente que os processos de adoecimento e cura são fenômenos muito
complexos que abrangem diversas dimensões, algumas delas extremamente individuais, sendo
impossível de serem totalmente entendidos por uma única ciência.
Na área médica, a produção científica desenvolve-se preferencialmente a
partir da aplicação dos princípios da metodologia científica, seguindo uma ordem
lógica e sistemática de observação, identificação do problema, formulação da
hipótese e sua verificação, conclusões e comunicação dos resultados.
Apesar do rigor do método científico, interesses financeiros e outros desvios podem levar a fraudes,
métodos inconsistentes e irreprodutíveis, resultados estatisticamente torturados, dentre outras
falácias. Neste sentido, ao avaliar uma publicação científica, é importante atenção redobrada aos
métodos, antecipando vieses que possam comprometer os resultados.
Avaliação Estatística
A avaliação estatística de um fenômeno sempre considera uma parcela de
erro, analisando a divisão matemática entre medidas de tendência central
(geralmente a média, mas também mediana ou moda) e de dispersão (geralmente a
variância e desvio padrão, ou também percentil e intervalo interquartil) de diferentes
grupos.
Esta análise matemática é baseada em testes estatísticos e seus significados. Neste contexto, é
importante o conhecimento de conceitos como erro estatístico, intervalo de confiança, p-value, dentre
outros. As tabelas a seguir abordam de maneira resumida esses conhecimentos.
Conceitos Relevantes
Erro Tipo 1 Este é o risco de rejeitaremos a hipótese nula quando ela é verdadeira, ou seja,
α resultado falso-positivo, representado pela letra grega α. A probabilidade de
cometer um Erro Tipo I num teste de hipóteses traduz seu nível de significância,
geralmente fixado em α=5%.
Intervalo de Calcula-se, como 1-α, o Intervalo de Confiança (IC). Na maioria dos casos, como
Confiança α=5%, temos IC=100%-5%=95%=0.95, ou seja, há 95% de chance de a verdade
estar dentro deste intervalo, nestas condições. O IC pode ser influenciado por
fatores como tamanho da amostra, nível de confiança e variabilidade
populacional. O achado de um IC estreito sugere que a diferença entres os seus
grupos foi pequena e consistente, o que torna o resultado um melhor
representante da realidade.
Erro Tipo 2 O Erro Tipo 2 consiste em aceitar a hipótese nula quando ela é falsa, também
β conhecido como falso negativo, representado pela letra grega β. Deste conceito
deriva o poder de um teste, que depende de fatores como tamanho amostral e
do efeito, calculado como 1-𝛃, geralmente considerado aceitável >80%.
Tipos de Estudo
Legenda: T: tratamento, C: controle, -M: margem de não-inferioridade. T é superior a C se a diferença dos intervalos de
confiança se situar inteiramente à direita do zero e é não inferior se estiver inteiramente à direita de -M.
Performance Comportamento dos participantes e Duplo cegamento, para que assim nem o participante
pesquisadores muda em função do tipo de grupo nem o pesquisador saibam ao grupo que pertence.
intervenção ou controle.
Detecção Selecionar análises ou dados que favoreçam Triplo cegamento, que inclui o estatístico ou
significância no grupo intervenção. pesquisador responsável pela análise. Outra
possibilidade é o pré-registro dos métodos e análises
que se pretende fazer em plataformas públicas, antes
da coleta de dados.
Atrito Desistência de participantes sistematicamente Realizar a análise “Por intenção de tratar”, que
em um grupo em relação ao outro, por exemplo, resumidamente significa não excluir o sujeito desistente
por falta de efeito ou muitos eventos adversos. da análise final. Ou ainda admitir o pior desfecho para
os desistentes.
O resultado de seis estudos hipotéticos, enumerados de 1-6, é representado por uma linha horizontal, sendo que o quadrado
no meio da linha mostra o valor da medida de associação e seu tamanho representa o peso que o estudo teve na metanálise,
o que geralmente está relacionado com seu tamanho amostral. O comprimento da linha horizontal de cada estudo representa
seu intervalo de confiança. A linha vertical que passa pelo Risco Relativo (RR) de 1 é a linha de "não efeito" e, se a linha
horizontal não cruzar esta linha vertical, há chance de haver diferença real entre os grupos. Por fim, na região mais inferior,
vemos a síntese da metanálise representada por um diamante. Se o diamante tocar a linha representando o RR de 1, a
metanálise foi inconclusiva. Se o diamante não tocar o RR de 1, é possível tirar conclusões da metanálise. Em geral, valores
maiores do de 1 indicam que o desfecho é mais comum nos pacientes do grupo intervenção e valores entre 0 e 1 significam o
desfecho mais frequente no grupo controle.
Testes Diagnósticos
Na prática clínica, muitas vezes utilizamos testes diagnósticos para distinguir
presença ou ausência de uma determinada condição. Cada teste tem suas
particularidades, inclusive risco de resultados falsos, sendo importante o
entendimento dessas limitações para escolha do melhor teste e interpretação dos
resultados em diferentes contextos.
Para avaliação de um teste diagnóstico cujo resultado é dicotômico, pode-se
utilizar a clássica Tabela 2x2, comparando o teste de interesse com a estratégia
considerada padrão-ouro para diagnóstico daquela condição. Geralmente utiliza-se
parâmetros como Sensibilidade (S), Especificidade (E), Valor Preditivo Positivo
(VPP), Valor Preditivo Negativo (VPN) e Acurácia (AC), dentre outros.
Resultado falso-positivo ocorre quando o teste é positivo em paciente sem a condição. Já o
falso-negativo faz referência ao teste negativo quando o paciente tem a condição.
Tabela 2x2 e Principais Parâmetros
Sensibilidade S=A/(A+C) Probabilidade de um indivíduo doente ter o teste positivo. Testes muito
sensíveis são úteis para rastreio e estão sujeitos a mais falsos positivos,
sendo mais confiáveis quando o resultado é negativo.
Especificidade E=D/(D+B) Probabilidade de um indivíduo saudável ter o teste negativo. Testes muito
específicos são úteis para confirmações diagnósticas, sendo especialmente
confiáveis quando o resultado é positivo.
Valor Preditivo VPP=A/(A+B) Probabilidade de a doença estar presente frente a um teste positivo. Sofre
Positivo influência da prevalência populacional da condição.
Valor Preditivo VPN=D/(D+C) Probabilidade de a doença estar ausente frente a um teste negativo. Sofre
Negativo influência da prevalência populacional da condição.
Qualidade da Evidência
Além da questão estatística e do modelo de estudo, devemos avaliar a
qualidade da evidência para julgar o quanto devemos considerá-la para embasar
nossas condutas. Os principais fatores que podem diminuir ou aumentar a qualidade
evidência de estudos são resumidos abaixo:
Limitação Validade interna e risco de vieses. Grande Medida de associação com valor muito
Metodológica Magnitude de impactante.
Efeito
MD Calc é uma plataforma que reúne PubMed é uma plataforma para pesquisa
diversas calculadoras e scores utilizados de publicações científicas da área médica.
na prática. Gratuíto e com interface fácil e Infelizmente o acesso completo aos artigos
intuitiva. muitas vezes é pago.
edX é uma plataforma online, com opções NEJM Knowledge+ é uma plataforma
pagas e gratuitas, de cursos médicos e de educacional para aprimoramento do New
outros assuntos de grandes universidades England para aprendizado adaptativo com
como Harvard e Berkeley. questões e feedbacks inteligentes.
Online MedEd é uma plataforma com The Vortex Airway Approach é um site
vídeo-aulas, flashcards e perguntas. As australiano com diversos materiais sobre
vídeo-aulas são rápidas e precisas e manejo de via aérea, apresentados
abordam a maioria dos temas. O acesso gratuitamente de maneira visual e intuitiva.
aos vídeos é gratuito.
The Pocus Atlas TPA é uma plataforma POCUS 101 é uma plataforma semelhante
predominantemente gratuita com diversas ao TPA, que conta também com esquemas
imagens de USG Point-of-care separadas e ilustrações didáticas.
por tópicos.
ASCVD Plus é uma calculadora de risco USPSTF fornece um aplicativo gratuito que
cardiovascular baseada em fatores avalia indicação de rastreios baseado em
epidemiológicos que também sugere fatores epidemiológicos. Cuidado pois pode
condutas para diminuição do risco. divergir das recomendações no Brasil.
Wiki Journal Club é uma plataforma Read by QxMD é uma plataforma que
gratuita que disponibiliza avaliação crítica e permite leitura personalizada de
resumos por tópicos da maioria dos publicações selecionando artigos por
estudos relevantes já publicados. especialidades, jornais e fontes.
The Bottom Line é um site que seleciona Clinical Care Options CCO é uma
e organiza os artigos e estudos recentes plataforma educacional gratuita que
mais relevantes para a prática de medicina disponibiliza materiais e aulas sobre
intensiva. diversos temas médicos.
Google Keep é uma ferramenta gratuita Trello é uma ferramenta semelhante ao
para criação de notas personalizadas Google Keep que permite criação e
compartilháveis. Pode ser extremamente compartilhamento de notas personalizadas.
útil para organizar anotações sobre Também pode ser utilizada para organizar
pacientes e passagens de plantão. anotações entre vários médicos.
RK.MD é um blog com diversos tópicos Xlung é uma plataforma que possibilita
sobre medicina intensiva, conta com simulações de configuração de ventilação
explicações fisiopatológicas e infográficos. mecânica, além de cursos sobre o tema.
Criado por ex-residentes da EPM-Unifesp.
Advanced Residency Life Support ARLS é o melhor método para aprimoramento nos conhecimentos
essenciais de Clínica Médica. Trata-se de um material completo baseado em textos, vídeos, flashcards,
casos clínicos e perguntas, organizados em uma plataforma online inteligente. Desenhado por Docentes e
Preceptores da Clínica Médica da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -
Unifesp EPM, é utilizado como projeto pedagógico basal dos nossos e disponibilizado para outros
médicos que buscam aprimoramento técnico na área.
Autores
Heloisa Batista Teza; CRM-SP 211.343; CPF 076.245.219-62
Jackeline Neves Pereira; CRM-SP 209.315; CPF 091.206.346-76
Pedro dos Santos Perez; CRM-SP 200.425; CPF 433.001.868-38
Referências
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