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BIOESTATÍSTICA:
ARMADILHAS E COMO EVITÁ-LAS
Carlos Alberto Mourão Júnior*
Neste artigo procuramos enfocar alguns pontos crí- É a variável que permite predizer uma resposta
ticos referentes à bioestatística que devem ser levados em (exemplo: no caso da variável resposta ser a ocorrência de
consideração na elaboração de trabalhos científicos visan- câncer, uma variável preditora poderia ser tabagismo). É
do a obtenção de resultados mais consistentes. importante ressaltar que, dentro do possível, o ideal é a
Inicialmente é importante se ter em mente que a es- existência de uma única variável preditora, uma vez que
tatística abrange os seguintes domínios: planejamento do es- em muitos casos, em estudos com mais de uma variável
tudo, coleta e apresentação dos dados, análise inferencial dos deste tipo, uma pode ter influência sobre a outra gerando
resultados e discussão dos achados do estudo. O primeiro uma situação conhecida como covariância.
equívoco que se pode cometer é procurar assessoria estatística Quando ocorre covariância, muitas vezes os méto-
somente quando já se têm os resultados do trabalho. dos estatísticos não se mostram suficientemente seguros
Como veremos, é justamente na fase de elabora- para permitir inferências, e isso pode comprometer seria-
ção do projeto que alguns erros passam desapercebidos, mente os resultados da análise e a conclusão dos achados.
podendo tomar dimensões que venham a comprometer Assim sendo, por mais tentador que seja incluir variáveis
todo o estudo. Assim sendo, um planejamento adequado preditoras em um primeiro momento, isso deve ser evita-
é condição indispensável para a obtenção de resultados do a fim de aumentar a validade da pesquisa.
confiáveis. A seguir passaremos a discutir alguns pontos-
chave a serem levados em conta quando se pensa em ini- Variável de confusão
ciar algum tipo de pesquisa.
Este tipo de variável, também conhecida como
A pergunta do estudo variável interveniente, se caracteriza por estar associa-
da à variável resposta ou à variável preditora, interfe-
Toda pesquisa deve nascer de uma questão ainda rindo na relação de causa e efeito entre elas. Vejamos
não respondida, entretanto, por mais estranho que possa um exemplo: há alguns anos um pesquisador afirmou
parecer, em muitos casos não é possível identificar com que o consumo de café aumentava o risco de câncer
clareza qual é a questão a ser respondida. Na verdade a de pâncreas e que a análise estatística mostrava uma
viga mestra que sustenta toda a pesquisa é justamente a associação significante (este estudo foi publicado no
pergunta do estudo colocada de forma clara, concisa e New England Journal of Medicine em 1981). Quando
precisa, pois a partir dela poderemos classificar as variá- o trabalho foi re-analisado, concluiu-se que na verdade
veis de forma adequada permitindo uma análise posterior o fator de risco era o fumo. O que ocorreu foi que os
consistente. De acordo com a questão do estudo podemos fumantes tomavam mais café. Assim, o café era uma
classificar as variáveis da forma a seguir. variável de confusão, ou seja, estava associada tanto ao
fator de risco verdadeiro (fumantes tomam mais café)
Variável resposta como à doença (o consumo de café entre os portado-
res de câncer de pâncreas era maior que na população
É o evento que se pretende estudar (exemplo: ocorrên- geral); no entanto não havia relação causa-efeito entre
cia de câncer), sendo dependente das variáveis preditoras. consumo de café e câncer de pâncreas.
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Bol. Cent. Biol. Reprod.�������������������
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, Juiz de Fora. v. 26,
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n. 1/2, p. 73-76, jan./dez., 2007
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• Definir com clareza o evento a ser pesquisado • Defina com clareza a pergunta do estudo;
ou verificado e o modo de coletar os dados; • Identifique as possíveis variáveis de confusão;
• Padronizar os questionários e as escalas de men- • Tenha sempre em mente a possibilidade de exis-
suração; tir algum viés (tríade SAC).
• Estabelecer parâmetros fidedignos para a inclu-
são e exclusão de casos no estudo. REFERÊNCIAS
Conclusão
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