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MBE – Problema 03

Ana Carolina Conde Rodrigues


PROBLEMA 03 – TESTES DIAGNÓSTICOS E DE TRIAGEM, SENSIBILIDADE E
ESPECIFICIDADE, CURVA ROC, PADRÃO-OURO, ACURÁCIA E PRECISÃO

❶ TESTE DE TRIAGEM x TESTE DIAGNÓSTICO


1.1 TESTE DE TRIAGEM
 Objetiva identificar todos os possíveis casos positivos, evitando diminuir os falso-negativos;
 Utilizam-se testes de ↑sensibilidade;
 A confirmação diagnóstica é realizada posteriormente por meio de testes de alta especificidade (testes
diagnósticos);
 Aplicado em programas de saúde;
 Identifica indivíduos assintomáticos que podem ter a doença.
- REQUISITOS E CARACTERÍSTICAS DE TESTE DE TRIAGEM:
 Como os recursos em saúde são escassos e os programas de triagem não estão isentos de riscos aos pacientes, a
sua implantação justifica-se plenamente apenas para doenças graves, que são um problema de saúde pública
e para as quais existem sólidas evidências de que a sua evolução é significativamente alterada pelo início
precoce de tratamento.

1.2 TESTE DIAGNÓSTICO


 Utilizado para confirmar diagnósticos, reduzindo ao máximo o grau de incerteza do diagnóstico;
 Útil para excluir falso-positivos;
 Possui ↑ especificidade;
 Detecta no estágio clínico da doença;
 Comumente refere-se a testes realizados em laboratório, mas também pode se referir a um exame de RX ou
um conjunto de sinais e sintomas de uma doença → p.ex.: hemoptise + perda ponderal em fumante pode ser um
teste diagnóstico para câncer de pulmão;
 Ou seja, o teste diagnóstico pode ser:
o Quantitativo: laboratorial;
o Qualitativo: imagem.
OBS.: Para validar um teste diagnóstico, deve-se formar um grupo experimental e um grupo controle. Também deve-se
comparar os resultados com o padrão-ouro atual e o estudo deve ser cego para evitar viés de mensuração.
PADRÃO-OURO:
 Normalmente os testes diagnósticos são comparados aos testes chamados de padrão-ouro;
 Idealmente, o padrão-ouro deveria ser 100% específico e 100% sensível, considerando negativo todos os não doentes, e
considerando positivo todos os doentes, respectivamente;
 Na prática, não existe, sendo considerado o padrão ouro aquele que apresenta melhor desempenho em especificidade e
sensibilidade.

- CRITÉRIOS DE VALIDADE DE UM TESTE DIAGNÓSTICO:


 Existem diversos tipos de critérios de validade, sendo suas noções, muitas vezes intuitivas; p.ex.:
VALIDADE LÓGICA - Julga um critério ou informação por sua lógica e obviedade;
(CONSENSUAL) - O teste prediz manifestações verificáveis fisicamente do que está sendo medido.
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VALIDADE DE - Inclui todos os aspectos a serem medidos → o teste será válido se for adequado para medir os
CONTEÚDO aspectos que devem ser medidos.
- Se baseia no seguinte princípio básico: se a característica a ser medida correlaciona-se com
uma outra, o teste deve também comportar-se dessa maneira;
VALIDADE DO
- Produz resultados consistentes com a teoria existente → se a prevalência de uma doença
CONSTRUCTO
infecciosa aumenta com a idade, o resultado do teste (para ser válido) deve mostrar tendência
crescente com a idade.

 VALIDADE EM RELAÇÃO A UM PADRÃO: é o tipo de validade mais popular na área da saúde, especialmente na
epidemiologia, farmacologia e patologia clínica:
o Refere-se a quanto, em termos quantitativos ou qualitativos, um teste é útil para diagnosticar um
evento (validade simultânea ou concorrente) ou para predizê-lo (validade preditiva);
o Para determinar a validade, comparam-se os resultados do teste com os de um padrão (padrão ouro):
esse pode ser o verdadeiro estado do paciente, se a informação está disponível, um conjunto de exames
julgados mais adequados, ou uma outra forma de diagnóstico que sirva de referência;
o O teste diagnóstico ideal deveria fornecer, sempre, a resposta correta, ou seja, um resultado positivo
nos indivíduos com a doença e um resultado negativo nos indivíduos sem a doença;
o Além disso, deveria ser um teste rápido de ser executado, seguro, simples, inócuo, confiável e de baixo
custo.

❷ PROPRIEDADES DOS TESTES DIAGNÓSTICOS: Sensibilidade,


Especificidade, Valor Preditivo etc.
2.1 SENSIBILIDADE
 Conceito: capacidade de um teste diagnóstico identificar os verdadeiros positivos, nos indivíduos
verdadeiramente doentes → é a chance de um teste ser positivo quando o indivíduo é doente:
o P.ex.: um teste 100% sensível dá positivo para todos os doentes.
 Aplicação clínica: excluir os doentes;
 Utilidade:
o Utilizados quando as consequências de se deixar passar uma doença são consideráveis, isto pode
acontecer quando houver razão para suspeitar de uma doença perigosa, mas tratável → TB, sífilis,
doença de Hodking, ou em pacientes com suspeita de TVP;
o São usadas para DESCARTAR DOENÇAS COM UM RESULTADO NEGATIVO, ou seja, a importância clínica
de um teste sensível é quando o mesmo é negativo.
 Falsos + e -: Utiliza-se um teste mais sensível possível quando:
o Quando um teste é sensível, raramente deixa de 1) A doença é grave (e não pode passar despercebida);
encontrar pessoas com a doença → ↓índice de 2) A doença é tratável (existe chance de cura);
falso-negativo; 3) Os resultados errados (falsos) não provocam traumas
psicológico, econômico ou social para o indivíduo;
o No entanto, está sujeito a encontrar falso-positivos.
4) Triagem em bancos de sangue;
5) Outras triagens diagnósticas.
2.2 ESPECIFICIDADE
 Conceito: capacidade que o teste tem de detectar os verdadeiros negativos, ou seja, de diagnosticar
corretamente os indivíduos sadios.
o P.ex.: Um teste 100% específico é aquele que apresenta resultado negativo para todos os indivíduos
sadios.
 Aplicação clínica: confirmar a doença;
 Utilidade:
o Úteis para CONFIRMAR DIAGNÓSTICO que tenha sido sugerido por outros dados;
o São necessários quando os resultados falso-positivos possam ser nocivos físico, emocional ou
financeiramente → p.ex.: antes de serem diagnosticados com câncer, os pacientes devem ser
submetidos a um diagnóstico histológico;
Utiliza-se um teste mais específico possível quando:
o Importância clínica quando o resultado do teste for 1) A doença é importante, mas difícil de tratar ou
positivo. incurável;
 Falso + e -: 2) O fato de saber que não se tem a doença possui
o Raramente é positivo na ausência de doença → importância sanitária e psicológica;
↓índice de falso-positivos; 3) Os resultados positivos errados podem provocar
traumas psicológicos, econômicos ou sociais;
o Podem ocorrer falso-negativos.
4) O objetivo é a confirmação do diagnóstico.

OBS.: A sensibilidade e especificidade são propriedades inerentes ao teste e não variam a


não ser por erro técnico → a prevalência não influencia nesses resultados.
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OBS1.: CO-POSITIVIDADE E CO-NEGATIVIDADE
São termos utilizados em substituição, respectivamente, à sensibilidade e especificidade, quando o padrão empregado é
outro teste considerado de referência para a doença em questão e não os diagnósticos de certeza de presença ou
ausência de doença. São também designados sensibilidade relativa e especificidade relativa.

OBS2.: MÉTODOS DE CÁLCULO


- Como se calcula a sensibilidade e a efetividade?
- Para se calcular a sensibilidade e a especificidade, deve-se considerar a tabela de relação do teste diagnóstico e a
ocorrência da doença.
DOENÇA
Presente Ausente
𝑎
Positivo Verdadeiro-positivo (a) Falso-positivo (b) +𝑉𝑃 =
𝑎+𝑏
TESTE
𝑑
Negativo Falso-negativo (c) Verdadeiro-negativo (d) −𝑉𝑃 =
𝑐+𝑑

𝑎 𝑑 𝑎+𝑐
𝑆= 𝐸= 𝑃=
𝑎+𝑐 𝑏+𝑑 𝑎+𝑏+𝑐+𝑑
- Onde:
 S: sensibilidade;
𝑎+𝑑
 E: especificidade; 𝐴𝑐𝑢𝑟á𝑐𝑖𝑎 =
𝑁
 + VP: valor preditivo positivo;
 - VP: valor preditivo negativo;
 P: prevalência.
EXEMPLO 1
Uma amostra de 150 indivíduos foi avaliada quanto ao
diagnóstico de faringite através da cultura, sendo que
38 foram considerados positivos e 112 negativos.
Utilizamos o meio de cultura como teste padrão-ouro
(teste que servirá como referência na avaliação do teste Conclusão: o método de auscultação apresenta bons
diagnóstico sob estudo). Na avaliação feita por exame resultados no diagnóstico de pneumonia ao
clínico, 102 foram considerados positivos e 48 como consideramos o exame de raios-X simples como o
negativos. padrão ouro para diagnóstico.
Qual é a sensibilidade, especificidade, valor preditivo
positivo e negativo e a acurácia do exame clínico? EXEMPLO 3
Para avaliação de 120 pacientes quanto à incidência de
câncer de próstata, foram realizados os métodos de
toque retal e de PSA.

Conclusão: o exame clínico para diagnóstico comparado


ao padrão outro é muito inferior.

EXEMPLO 2
Uma amostra de 200 indivíduos foi diagnosticada para Conclusão: os resultados indicam que o método PSA, no
pneumonia através de 2 métodos diagnósticos: o exame diagnóstico do câncer de próstata, apresenta baixo valor
de raios X simples e a auscultação. de sensibilidade, ou seja, grande quantidade de falso-
negativos. Em relação à especificidade, o seu valor é
bastante elevado. Desta forma, quando o PSA for
positivo, é bastante confiável o seu diagnóstico. Quanto
aos valores preditivos (+) e (-), assim como a precisão,
os resultados foram apenas regulares.
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EXEMPLO 4 EXEMPLO 5
Avaliando-se 80 indivíduos, para diagnóstico de câncer Numa amostra de 90 indivíduos, foram empregados
de laringe, foram utilizados para os métodos da biópsia testes diagnósticos para avaliação de presença de
(padrão) e da punção do linfonodo. enfisema pulmonar. Os testes utilizados foram o exame
de raios X (teste padrão) e o exame clinico.

Conclusão: a sensibilidade, a especificidade, os valores


Conclusão: Quanto aos resultados, verificamos que o preditivos (+) e (-) e a precisão apresentaram baixos
valor preditivo (+) foi o destaque, sendo igual a 0,90. Os valores, indicando que o exame clínico não é um bom
demais, como sensibilidade e especificidade, foram teste diagnóstico para o enfisema pulmonar.
considerados regulares.

2.3 PONTO DE CORTE: o contrabalanço entre sensibilidade e especificidade


 O teste ideal, com 100% de sensibilidade e especificidade, raramente existe na prática, pois estas
PROPRIEDADES SE RELACIONAM DE MANEIRA INVERSA → a tentativa de melhorar a sensibilidade
frequentemente tem o efeito de diminuir a especificidade;
 Em algumas situações clínicas os resultados são obtidos através de variáveis contínuas, não havendo uma
separação clara e inquestionável entre o que é "normal" e "anormal". Por isso, define-se um ponto de corte
dentro do continuum avaliado, acima do qual o resultado é considerado anormal;
 Para a definição do ponto de corte deve-se levar em conta a importância relativa da sensibilidade e
especificidade do teste diagnóstico, ponderando sobre as implicações dos dois possíveis erros:
o Em indicações de procedimentos de risco (certas cirurgias), por exemplo, deve-se evitar resultados falso-
positivos → o ponto de corte deve ser definido de tal forma que aumente a especificidade do teste;
o Em triagens sorológicas em bancos de sangue para prevenção de transmissão de infecções nas quais a
não detecção de casos acarretará risco para a população → o ponto de corte deverá ser estabelecido
tendo como objetivo alcançar 100% de sensibilidade do teste para que não ocorram resultados falso-
negativos.
 Lembrando que: uma característica somente pode ser aumentada à custa da outra:
o Se o ponto de corte for baixo → ↑sensibilidade + ↓especificidade;
o Se o ponto de corte for alto → ↓sensibilidade + ↑especificidade.

2.4 CURVA ROC


 Trata-se de um gráfico que ajuda a decidir qual o ponto de corte de uma distribuição, de modo a definir os
níveis de sensibilidade e especificidade mais adequados;
 Escolhe-se os valores cut off point conforme o interesse em aumentar a sensibilidade ou a especificidade;
 A construção da curva:
o A curva é construída por meio da representação gráfica da taxa de verdadeiro-positivo (sensibilidade)
contra a taxa de falso-positivo (1-especificidade) ao longo de uma faixa de valores de pontos de corte;
o Os valores nos eixos vão de uma probabilidade de 0 a 1 (0 a 100%).
 Como interpretar a curva:
o Geralmente, o melhor ponto de corte fica próximo ao “ombro” da curva;
o As curvas ROC permitem quantificar a acurácia de um teste diagnóstico, já que esta é proporcional à
área sob a curva ROC → quanto maior for a área sob a curva, mais acurado (melhor) será o teste;
o A curva será útil, também, na comparação de testes diagnósticos, tendo um teste uma exatidão um
tanto maior quando maior for a área sob a curva de ROC → a visualização de 2 testes na curva permite
escolher qual deles é o melhor.

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 O Teste A tem maior acurácia do que o Teste B, pois


possibilita no ponto 1 (cut off point) o maior valor de
sensibilidade para o maior valor de especificidade.
 No ponto 2, poderíamos alcançar um maior valor de
sensibilidade, porém prejudicaríamos a especificidade
com um valor menor.
 No ponto 3, teremos um valor para o Teste A que
aumentará a especificidade, com diminuição da
sensibilidade.

2.5 VALOR PREDITIVO (DIAGNÓSTICO) DO TESTE


- Conceito: trata-se da probabilidade de ter a doença após o teste. Também chamado de probabilidade posterior, ou
probabilidade pós-teste da doença:
 Capacidade do teste de predizer a doença ou a ausência dela, a partir de seus resultados positivos e negativos
respectivamente → a probabilidade de ter a doença dados os resultados de um teste diagnóstico;
 Os valores preditivos respondem à pergunta: “SE O RESULTADO DO TESTE FOR MEU PACIENTE FOR POSITIVO
(OU NEGATIVO), QUAL A PROBABILIDADE DO MEU PACIENTE TER OU NÃO A DOENÇA?”.

VALOR PREDITIVO POSITIVO (VPP) VALOR PREDITIVO NEGATIVO (VPN)


- É a probabilidade de ter a doença em um paciente - É a probabilidade de NÃO ter a doença em um
Conceito
com o teste positivo (anormal). paciente com o teste negativo (normal).
- É alto na especificidade → quanto mais específico o - É alto na sensibilidade → quanto mais sensível o teste,
teste, maior será o seu VPP: mais confiante o clínico fica maior será o seu VPN: mais confiante o clínico fica de
de que o teste positivo confirma o diagnóstico; que o resultado negativo do teste descarta a doença;
- Prevalência → quando a prevalência da doença for - Prevalência → quando a prevalência da doença for
baixa, o VPP será baixo e vice-versa; p.ex.: baixa, o VPN será alto e vice-versa; p.ex.:
Determinantes
 Em uma população em que ninguém tenha a  Em uma população em que todos os indivíduos
do valor*
doença, todos os testes positivos (mesmo os possuem a doença a ser testada, todos os
mais específicos) serão falso-positivos; resultados negativos serão falso-negativos
 Portanto, à medida que a prevalência cai, o (mesmo os mais sensíveis);
VPP cai também.  Portanto, à medida que a prevalência se
aproxima de 100%, o VPN se aproxima de zero.
*ENTENDIMENTO DOS DETERMINANTES DO VALOR PREDITIVO NO CÁLCULO:
PREVALÊNCIA: 𝑎
 Observe que a prevalência nada mais é que (a+c) 𝑆=
𝑎+𝑐
dividido pelo total da população em estudo
(a+b+c+d); 𝑑
𝐸=
 Quanto ↑prevalência: 𝑏+𝑑
o ↑a → ↑VPP; 𝑎+𝑐
o ↑c → ↓VPN. 𝑃=
𝑎+𝑏+𝑐+𝑑
SENSIBILIDADE:
𝑎
 Quanto ↑sensibilidade o teste → ↓c → ↑VPN → +𝑉𝑃 =
𝑎+𝑏
maior capacidade de afirmar que um paciente com
resultado negativo realmente não tem a doença. 𝑑
ESPECIFICIDADE: −𝑉𝑃 =
𝑐+𝑑
 Quanto ↑especificidade do teste → ↓falso-
positivos; ↓b → maior capacidade de afirmar que um resultado positivo realmente está presente em um
paciente doente.

2.5 PROBABILIDADE PRÉ-TESTE: como estimar a prevalência


 Conceito: a probabilidade pré-teste é definida como a probabilidade de um paciente ter a doença antes que o
resultado do teste diagnóstico seja conhecido;
 Utilidade: é especialmente útil para:
o Interpretar os resultados de um teste diagnóstico;
o Selecionar um ou mais testes diagnósticos;
o Definir o início ou não da terapia (sem exames adicionais ou enquanto aguarda novos testes);

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o Decidir se vale a pena testar.
 Pode-se estimar a probabilidade pré-teste por meio da PREVALÊNCIA:
𝑎+𝑐
𝑃=
𝑎+𝑏+𝑐+𝑑
 Exemplo:
o Pesquisadores norte-americanos estudaram as doenças subjacentes encontradas em pacientes adultos
que procuraram o pronto-socorro com queixa de cefaleia. O número total de participantes foi de 5198,
dos quais 3208 receberam o diagnóstico de enxaqueca. Então, a estimativa da probabilidade de
enxaqueca para esse estudo é de aproximadamente 60% (3208/5198) → na minha prática, se eu atendo
um paciente adulto na emergência com queixa de cefaleia, já parto de uma probabilidade pré-teste de
60% de que seja enxaqueca.
 A probabilidade pré-teste é obtida por meio de grandes bancos de dados clínicos informatizados que são
constantemente atualizados os quais estimam a probabilidade da doença, de acordo com várias combinações
de achados clínicos;
 Apesar de ser um método baseado em estimativas, o mesmo certamente possui maior acurácia do que apenas o
julgamento implícito baseado em observações clínicas.
- COMO AUMENTAR A PROBABILIDADE PRÉ-TESTE:
 Especificidades da situação clínica:
o Algumas especificidades como sinais, sintomas, e fatores de risco podem aumentar a probabilidade de
se encontrar a doença;
o P.ex.: uma mulher jovem com dor torácica tem maior probabilidade de ter doença coronariana se ela
tiver também angina típica, HAS e for fumante → uma anormalidade no ECG tem maior probabilidade
de representar doença coronariana nessa mulher do que em alguém com dor torácica não específica.
 Grupos demográficos selecionados:
o Pode-se aumentar o rendimento de testes diagnósticos ao aplica-los a grupos demográficos
reconhecidamente de alto risco da doença;
o P.ex.: um teste de anemia falciforme terá obviamente um VPP maior entre afro-americanos do que entre
pessoas brancas de ascendência norueguesa.
 Processo de encaminhamento:
o O encaminhamento a hospitais ou centros de referência aumenta a probabilidade do paciente ter a
doença, pois normalmente mais exames específicos são solicitados;
o Na atenção primária, e especialmente entre pacientes que não relatam a queixa, a chance de encontrar
a doença é consideravelmente menor.

2.6 RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA (RV)


 Conceito: a razão de verossimilhança (ou razão de probabilidades) é uma forma alternativa de se descrever os
testes diagnósticos:
o Resumem o mesmo tipo de informação que a sensibilidade e a especificidade fornecem;
o Podem ser usadas para calcular a probabilidade de doença depois de um teste positivo ou negativo.
 Vantagens:
o É menos suscetível a mudanças em função da prevalência da doença; E
o Permite descrever a acurácia de um teste com resultados numéricos (p.ex.: exames hormonais e
bioquímicos) em diversos pontos de corte de resultado, indo além da classificação simplória do teste
como normal e anormal (feito quando se descreve a acurácia pela sensibilidade e especificidade);
o Podem ser usadas em múltiplos níveis de resultados do teste, resultando em informações em diversos
níveis também.
 Seu resultado é dado em CHANCES, e expressa QUANTAS VEZES MAIS (OU MENOS) É PROVÁVEL ENCONTRAR
UM RESULTADO X DE UM TESTE DIAGNÓSTICO EM PESSOAS DOENTES, EM COMPARAÇÃO COM NÃO
DOENTES.
CHANCE x PROBABILIDADE
 Contêm a mesma informação, mas a expressam de maneira diferente;
 Probabilidade: é a proporção de pessoas nas quais uma determinada característica (ex.: teste positivo) está presente. É
usada para expressar a sensibilidade, especificidade e os valores preditivos;
 Chance: trata-se da razão entre duas probabilidades complementares, a probabilidade de um evento ocorrer pela
probabilidade do evento não ocorrer:
𝑃𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐶ℎ𝑎𝑛𝑐𝑒
𝐶ℎ𝑎𝑛𝑐𝑒 = 𝑃𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 =
1 − 𝑃𝑟𝑜𝑏𝑎𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 1 − 𝐶ℎ𝑎𝑛𝑐𝑒
 P.ex.: as chances de um time ganhar são de 4:1. Isso é o mesmo que dizer que esse time tem 80% de probabilidade de vencer.

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- Como calcular a RV:
 Calculada da mesma maneira que se calcula uma chance: a probabilidade de tal resultado em pessoa com a
doença dividida pela probabilidade do resultado em pessoas sem a doença.
 Podem-se descrever dois tipos de RV;
 RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA POSITIVA (RV+): associada ao teste positivo. Expressa quantas vezes é mais
provável encontrar um resultado positivo em pessoas doentes quando comparado a não doentes →
proporção de pessoas doentes com resultado positivo (sensibilidade) dividido pela proporção de pessoas sem a
doença com resultado positivo (1-especificidade):
o Quanto maior a RV+, melhor o teste;
o Quanto mais perto de 0 (zero), melhor será o teste;
o Para ser um bom teste, a RVP deve ser muito maior que 1;
o Um resultado positivo é mais provável de ser verdadeiro positivo (sensibilidade) do que falso-positivo (1
- especificidade).
 RAZÃO DE VEROSSIMILHANÇA NEGATIVA (RV-): calculada quando o resultado do teste é negativo. Expressa
quantas vezes é mais provável encontrar um resultado negativo em uma pessoa doente quando comparado a
probabilidade dos não doentes → proporção de pessoas doentes com resultado negativo (1-sensibilidade)
dividido pela proporção de pessoas sem a doença com resultado negativo (especificidade):
o Quanto menor a RV-, melhor o teste;
o Quanto mais perto de 0 (zero), melhor será o teste;
o Um resultado negativo é mais provável de ser um verdadeiro resultado negativo (especificidade) do que
um falso-negativo (1 - sensibilidade).
𝑎
𝑆𝑒𝑛𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎 + 𝑐
𝑅𝑉+ = 𝑅𝑉+ =
1 − 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑐𝑖𝑓𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑏
𝑏+𝑑
𝑐
1 − 𝑆𝑒𝑛𝑠𝑖𝑏𝑖𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎 + 𝑐
𝑅𝑉− = 𝑅𝑉− =
𝐸𝑠𝑝𝑒𝑐𝑖𝑓𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑
𝑏+𝑑
EXEMPLO 1
DOENÇA
TVP de acordo com padrão-ouro (USG com
compressão e/ou seguimento de 3 meses)
Presente Ausente
TESTE 55
Positivo 55 198 +𝑉𝑃 = = 22%
Teste do D- 55 + 198
dímero para
diagnóstico de 302
Negativo 1 302 −𝑉𝑃 = = 100%
TVP 1 + 302

55 198 55 + 1
𝑆= = 98% 𝐸= = 60% 𝑃= = 10%
55 + 1 198 + 302 55 + 198 + 1 + 302

55 1
𝑅𝑉+ = 55 +1 = 2,5 55 +1
198 𝑅𝑉− = = 0,03
302
198 + 302 198 + 302
EXEMPLO 2
Para avaliar a acurácia diagnóstica do teste rápido para detecção de
antígeno estreptocócico, foram estudados 182 pacientes com faringite aguda.
A prevalência de faringite estreptocócica, diagnosticada pelo teste padrão, a
cultura da orofaringe, era de 12% (22 pacientes). O teste rápido foi capaz de
diagnosticar 21 desses casos e afastar a probabilidade de ocorrência da
doença em 154 dos 160 com cultura negativa.
Conclusão: o teste rápido foi capaz de detectar quase todos os casos
de faringite estreptocócica (sensibilidade de 95,45%). Diante de um resultado
positivo, mais de 3/4 dos pacientes são verdadeiros positivos (Valor preditivo
positivo de 77,78%). O resultado positivo aumenta em 25 vezes a chance da
doença (RV positiva = 25,3). Conclui-se, portanto, que o uso do teste rápido
permite um diagnóstico preciso, rápido, e uma conduta terapêutica imediata.
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❸ TESTES DIAGNÓSTICOS MÚLTIPLOS
 Utilizados quando o resultado de um único teste resulta em uma probabilidade de doença que não é alta nem
baixa o suficiente para tratar o paciente (algo entre 10 e 90%, por exemplo);
 Nestas situações, testes múltiplos aumentam ou reduzem de modo substancial a probabilidade da doença;
 Minimiza os resultados falso-positivos e falso-negativos

3.1 TESTES EM PARALELO


 Conceito: é quando se realiza vários testes ao mesmo tempo, e um resultado positivo é considerado evidência
da doença;
 Utilidade: os testes em paralelo são geralmente solicitados quando é necessária uma avaliação rápida →
pacientes hospitalizados ou de emergência; casos de pacientes ambulatoriais que não podem voltar com
facilidade (não se locomovem sozinhos ou vêm de longe);
 Características dos testes em paralelo:
o Aumenta a sensibilidade e, portanto, o valor preditivo
negativo (VPN) → existe maior probabilidade de Menor probabilidade da doença passar
diagnósticos falso-positivos; despercebida.
o Especificidade e valor preditivo positivo (VPP) são mais
baixos do que para cada um dos testes isolados.

3.2 TESTES EM SÉRIE


 Conceito: é quando são realizados vários testes consecutivos, com a decisão de solicitar o próximo teste da
série se baseando no resultado do teste anterior. Nesse caso, todos os testes precisam ter um valor positivo
para que o diagnóstico seja feito (o processo diagnóstico é interrompido com um resultado negativo);
 Utilidade: são utilizados em situações clínicas em que não há necessidade de uma rápida avaliação →
consultórios médicos; clínicas em que os pacientes são acompanhados a algum tempo;
 Também são usados quando alguns dos testes são caros ou arriscados, que são utilizados apenas após os mais
simples e seguros sugerirem a doença, p.ex.:
1º. Na gravidez, idade materna, exames de sangue e USG são utilizados para identificar as gestações de
↑risco para bebês com síndrome de Down;
2º. Somente após os exames sugerirem ↑risco, é realizada biópsia de vilosidade coriônica ou amniocentese,
que são exames que trazem risco de aborto.
 Características dos testes em série:
Aumentam a segurança de que os resultados positivos
o Aumentam a especificidade e o VPP;
representam a doença, mas aumentam o risco de que a
o Reduzem a sensibilidade e o VPN.
doença passe despercebida.

❹ ACURÁCIA ≠ PRECISÃO
4.1 ACURÁCIA
 Conceito:
o A acurácia é a proporção de acertos, ou seja, o total de verdadeiramente positivos e verdadeiramente
negativos, em relação à amostra estudada;
o Medidas acuradas são aquelas que se aproximam do valor verdadeiro → ao se realizar um teste
diagnóstico, deseja-se que ele tenha uma ↑acurácia, ou seja, que ele seja capaz de identificar a doença
corretamente.
 Desejaremos uma elevada acurácia do teste quando:
o A doença é importante, mas curável;
o Há possibilidade de consequências graves na
identificação de falso-positivos e falso-negativos.

4.2 PRECISÃO
 Conceito: relacionado ao grau de variação de um conjunto
de medições → toda vez que se realiza um teste, os valores
obtidos pela repetição se encontram dentro de um intervalo
pequeno, mas não necessariamente o teste se encontraria
correto.

Accuracy is telling the truth . . . Precision is telling the same story over and over again.
Yiding Wang

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❺ NÍVEL DE EVIDÊNCIA DA OPINIÃO DO ESPECIALISTA
 Nível de evidência: 5;
 Grau de recomendação: D.

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