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❶ PREVALÊNCIA x INCIDÊNCIA
1.1 PREVALÊNCIA
É a fração (proporção ou percentual) de um grupo de pessoas que possui uma condição ou desfecho clínico em
um dado ponto no tempo;
É medida por meio de um levantamento de uma população definida, na qual se averigua quem tem ou não tem
uma condição de interesse.
𝑛º 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛𝑜𝑣𝑜𝑠 + 𝑎𝑛𝑡𝑖𝑔𝑜𝑠
𝑃𝑟𝑒𝑣𝑎𝑙ê𝑛𝑐𝑖𝑎 =
𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜
Tipos de prevalência:
o Prevalência pontual (instantânea ou somente prevalência): medida em um único ponto no tempo para
cada pessoa;
o Prevalência no período: descreve casos que estavam presentes em qualquer momento durante um
período de tempo:
Trata-se da soma dos casos pré-existentes em um determinado momento com os novos casos
ocorridos no período considerado → prevalência pontual + incidência;
Pouco utilizada: ↓satisfatória como indicador de morbidade
- EM RELAÇÃO DO TEMPO:
A prevalência representa a situação naquele ponto do tempo para cada paciente, embora possa ter sido
necessário vários meses para coletar as observações nas diversas pessoas da população → estudo transversal.
- ESTUDOS DE PREVALÊNCIA:
São estudos nos quais as pessoas de uma população são examinadas para que se verifique a presença da
condição de interesse → algumas pessoas apresentam a condição e outras não;
O termo estudo transversal ou inquéritos também podem ser empregados, pois as pessoas são estudadas em
um corte transversal do tempo.
- FATORES QUE INFLUENCIAM A PREVALÊNCIA → RELAÇÃO COM A DURAÇÃO DA DOENÇA:
Aumentam a prevalência:
o Como os casos prevalentes são aqueles que continuam afetados, qualquer fator que aumente a
duração da doença irá aumentar a probabilidade de o paciente ser identificado em um estudo de
prevalência:
A não instituição de tratamentos em doenças curáveis (p.ex.: TB).
o A melhoria do tratamento médico de doenças crônicas, prolongando a vida sem a cura da doença,
também eleva a prevalência:
Hipoglicemiantes, anti-hipertensivos,
o Aprimoramento de técnicas de diagnóstico → ↑sobrevida dos pacientes;
o Imigrações originárias de regiões que apresentam níveis endêmicos elevados;
o ↑Incidência.
Diminuem a prevalência:
o ↑Taxa de letalidade da doença;
o Introdução de fatores que permitam o aumento da proporção de curas de uma nova doença →
introdução de uma nova terapêutica; p.ex.: cura da AIDS;
o Imigrações originárias de áreas que apresentam níveis endêmicos mais baixos;
o Casos que emigram;
o ↓Incidência → prevenção primária; p.ex.: introdução de nova vacina;
o Doenças de curta duração (p.ex.: infectocontagiosas) têm maior probabilidade de passarem
despercebidas em um estudo como esse, enquanto que as de longa duração (p.ex.: crônico-
degenerativas) são mais bem representadas.
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MBE – Problema 01
Ana Carolina Conde Rodrigues
𝑃𝑟𝑒𝑣𝑎𝑙ê𝑛𝑐𝑖𝑎
𝐷𝑢𝑟𝑎çã𝑜 =
𝐼𝑛𝑐𝑖𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎
- USOS DA PREVALÊNCIA:
Útil no planejamento e administração de serviços e de programas;
Indicado quando se pretende colocar à disposição da população um determinado serviço de saúde ou produto →
p.ex.: programa de tratamento antiparasitário de massa; fornecimento de óculos a escolares com deficiências
visuais.
1.2 INCIDÊNCIA
É a fração ou proporção de um grupo de pessoas inicialmente livres do desfecho de interesse e que desenvolvem
durante um determinado período de tempo → se refere a novos casos da doença que ocorrem em uma
população inicialmente livre da doença, ou novos desfechos (como sintomas e complicações) em pacientes com
a doença e que inicialmente não tinham problemas.
𝑛º 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛𝑜𝑣𝑜𝑠
𝐼𝑛𝑐𝑖𝑑ê𝑛𝑐𝑖𝑎 =
𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜
- EM RELAÇÃO AO TEMPO:
Para a incidência, o tempo é o intervalo no qual os indivíduos suscetíveis foram observados quanto ao
surgimento do evento de interesse → inclui o estudo de coorte.
- ESTUDOS DE INCIDÊNCIA:
Também são chamados estudos de coorte, pois sua população de estudo é uma coorte: grupo de pessoas que
tem algo em comum quando são reunidas pela primeira vez e que são, então, acompanhadas por um período de
tempo para que se verifique o desenvolvimento do desfecho;
Os membros da coorte podem ser:
Sadios a princípio e depois acompanhados quanto ao surgimento de uma doença; OU
Todos podem ter uma doença recentemente diagnosticada e depois serem acompanhadas quanto ao
desenvolvimento do desfecho daquela doença, como recidiva ou morte.
- FATORES QUE INFLUENCIAM A INCIDÊNCIA:
Aumentam a incidência:
o ↑Casos novos;
o Casos que imigram.
- USOS DA INCIDÊNCIA:
Preferida em investigações científicas: pesquisas etiológicas, estudos de prognóstico, verificação da eficácia das
ações terapêuticas e preventivas em outros tipos de pesquisa;
Seu conhecimento ou estimativa aproximada é necessário para planejar investigações (como ensaios clínicos)
para determinar o tamanho da amostra.
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MBE – Problema 01
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1.3 HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA
- Refere-se a uma descrição da progressão ininterrupta de uma doença em um indivíduo desde o momento da
exposição aos agentes causais até a recuperação ou a morte;
- Ao mesmo tempo, analisa a inter-relação entre o agente, o suscetível e o meio ambiente (tríade da saúde);
- É um dos principais elementos da epidemiologia descritiva;
- Tem desenvolvimento em dois períodos:
1. Período epidemiológico (pré-patogênese): intimamente relacionada com o meio ambiente, envolvendo fatores
sociais e ambientais:
a. Fatores sociais:
i. Fatores socioeconômicos;
ii. Fatores sociopolíticos;
iii. Fatores socioculturais;
iv. Fatores psicossociais.
b. Fatores ambientais:
i. Fatores genéticos;
ii. Multifatorialidade.
2. Período patológico (patogênese): engloba modificações que se passam no organismo vivo após a sua infecção
a. Interação estímulo-suscetível;
b. Alterações bioquímicas, histológicas e fisiológicas;
c. Sinais e sintomas;
d. Cronicidade.
- Usualmente subdivide-se em 4 fases:
1) FASE INICIAL OU DE SUSCEPTIBILIDADE: nessa fase não há doença propriamente dita, mas já existem condições
que favorecem o seu aparecimento. Contudo, as pessoas não apresentam o menor risco de adoecer;
2) FASE PATOLÓGICA PRÉ-CLÍNICA: nessa fase, do ponto de vista clínico, a doença ainda está no estágio de
ausência de sintomatologia, embora o organismo já apresente alterações patológicas. Esta etapa vai desde o
início do processo patológico até o aparecimento de sintomas ou sinais da doença. Seu curso pode ser subclínico
e evoluir para cura ou progredir para a fase seguinte:
o Tecnologias de rastreio tipo teste do pezinho, os exames periódicos de saúde e a procura de casos, por
agentes da vigilância epidemiológica, entre indivíduos que mantiveram contacto com portadores de
doenças transmissíveis são exemplos adequados de intervenções de diagnóstico precoce ou prevenção
secundária.
3) FASE CLÍNICA: ainda no período da patogênese a fase de manifestação clínica corresponde à expressão
patognomônica em diferentes estágios de dano:
o As medidas profiláticas nessa fase são também denominadas atenção secundária e correspondem ao
tratamento adequado para interromper o processo mórbido e evitar futuras complicações e sequelas.
4) FASE DE INCAPACIDADE RESIDUAL: na vertente patológica da concepção da evolução clínica essa fase
corresponde à adaptação ao meio ambiente como as sequelas produzidas pela doença e/ou ao controle
(estabilização) das manifestações clínicas das doenças crônicas:
o Tem de recorrer à prevenção terciária nesses casos → serviços de reabilitação, próteses, órteses,
terapia ocupacional e reabilitação psicossocial.
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❷ SURTO x EPIDEMIA x PANDEMIA x ENDEMIA
É a denominação que se usa a epidemia que se limita a um número relativamente pequeno de casos e que
SURTO
se encontra restrita no espaço, em grau maior ou menor;
EPIDÊMICO
P.ex.: surto de caxumba que ocorreu no CESUPA (se tivesse ficado restrito à unidade Almirante Barroso).
É a ocorrência de um agravo dentro de um número esperado de casos para aquela região, naquele
período de tempo, baseado na sua ocorrência em anos anteriores não epidêmicos → quando uma doença é
ENDEMIA relativamente constante em uma área;
O número de casos esperados é conhecido como “frequência endêmica”.
P.ex.: Belém é endêmica para a dengue.
Representa a ocorrência de um agravo acima da média (ou mediana) histórica de sua ocorrência;
É a concentração de casos de uma mesma doença em determinado local e época, claramente em excesso ao
EPIDEMIA
que seria teoricamente esperado;
P.ex.: epidemia de cólera em Belém em 1855.
Quando uma endemia ou uma epidemia atinge grandes proporções, envolvendo extensas áreas e um
número elevado de pessoas;
PANDEMIA
Aplica-se geralmente a uma doença que passa de um continente a outro;
P.ex.: pandemia de gripe de 1918
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Relato de caso
Descritivos
Série de casos
Observacionais Transversal
Caso-controle
Estudos Analíticos
Coorte
Ensaio clínico
randomizado
Experimentais Ecológico
Ensaio
comunitário
- O viés de seleção e o de confusão são relacionados. Entretanto eles são descritos separadamente porque apresentam
problemas em pontos diferentes em um estudo clínico:
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O viés de seleção é debatido principalmente quando os pacientes são escolhidos para a investigação e é
importante no planejamento de um estudo;
Já o viés de confusão precisa ser tratado durante a análise dos dados, após as observações já terem sido feitas.
- Frequentemente em um mesmo estudo, ocorre mais de um tipo de viés;
- O potencial para viés não significa que o viés esteja realmente presente em um estudo, ou se estiver, que teria um
efeito suficientemente grande nos resultados para ter relevância.
OBS1.: ACASO:
As amostras, mesmo se selecionadas sem viés, podem deturpar a situação na população como um todo por
causa do acaso. A divergência entre a observação em uma amostra e o valor verdadeiro na população, devida
exclusivamente ao acaso, chama-se variação aleatória;
O acaso pode afetar todos os estágios envolvidos nas observações
clínicas;
Ao contrário do viés, que tende a distorcer a situação para uma
direção ou outra, a variação aleatória tem tanta probabilidade de
resultar em observações acima do valor verdadeiro quanto abaixo.
Consequentemente a média de muitas observações não-enviesadas
em amostras tende a se aproximar do valor verdadeiro na população,
embora isso possa não ocorrer com os resultados de amostras
pequenas;
A variação aleatória não pode jamais ser totalmente eliminada, de
forma que o acaso sempre precisa ser considerado quando se
avaliam os resultados de observações clínicas.
❺ MEDIDAS DE ASSOCIAÇÃO
1) Trata-se de coeficientes específicos que nos auxiliam a compreender a força da relação estatística entre uma
variável independente (desfecho) e as variáveis dependentes em estudo (fatores de risco ou proteção);
2) Em outras palavras, são grandezas que determinam se existe associação entre exposição e doença, e qual é a
natureza mais provável dessa associação;
3) Exemplos:
o Estudos de coorte → risco relativo (RR);
o Estudos de caso-controle → Razão de Chances ou Razão das Probabilidades (Odds ratio).
O RR, por sua vez, responde a seguinte questão: quantas vezes a probabilidade dos indivíduos expostos
desenvolverem a doença é maior em relação aos não-expostos?
𝐼𝑒
𝑅𝑅 =
𝐼𝑛𝑒
O valor do RR nos dirá se existe, de fato, associação entre fator de exposição e desfecho, e o que este fator
representa para a doença: risco ou proteção. Interpretamos o risco relativo da seguinte forma:
o Se RR = 1 → não existe associação entre o fator de exposição e o desfecho, pois não houve diferença
nas incidências cumulativas entre indivíduos expostos e não expostos. Em outras palavras, a exposição
não interferiu na ocorrência da doença;
o Se RR > 1 → existe a possibilidade de o fator ser de risco, visto que a exposição aumentou a incidência
da doença;
o Se RR < 1 → existe a possibilidade de o fator ser de proteção, já que a exposição reduziu a incidência da
doença.
Observe que acima falamos da possibilidade de ser um fator de risco ou de proteção. Contudo, para haver
confirmação deve-se lançar mão do intervalo de confiança (IC) padrão de 95%, que dará os valores possíveis
verdadeiros:
o De forma simplificada, o IC nos diz que, se repetirmos o mesmo estudo por cem vezes, em noventa e
cinco vezes (95%), o valor verdadeiro estará dentro de um intervalo determinado e, quanto mais
estreito esse intervalo, maior a precisão;
o P.ex.: estudo com RR 18 e IC 95% (1,4 – 59,4) e outro com IC 95% (16,7 – 21,4) o segundo é mais
confiável.
2) Risco atribuível ao fator (RAf) ou Risco absoluto (RA):
Responde a seguinte questão: qual é o risco (incidência cumulativa) adicional de vir a desenvolver a doença
devido a exposição do fator em causa?
É a diferença de riscos (ou incidência cumulativas), entre indivíduos expostos e não expostos ao fator em estudo.
𝑅𝐴 = 𝐼𝑒 − 𝐼𝑛𝑒
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3) Risco atribuível na população (RAp%):
É uma medida de impacto → mede o excesso de incidência da doença em uma comunidade que está associada a
um fator de risco. É a estimativa da quantidade de doença que é atribuível unicamente a exposição;
Representa também a proporção de doença que poderia ser eliminada se fosse removida a exposição;
É o produto do risco atribuível (RA) pela prevalência da exposição ao fator de risco em uma população (P):
𝐼𝑛 −𝐼𝑛𝑒
𝑅𝐴𝑝 = 𝑅𝐴 𝑥 𝑃𝑒 OU 𝑅𝐴𝑝 =
𝐼𝑛
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DIFERENÇA ENTRE FATORES DE RISCO E FATORES PROGNÓSTICOS
CARACTERÍSTICAS FATORES DE RISCO FATORES PROGNÓSTICOS
Os pacientes são Estudos sobre fatores de risco geralmente tratam Estudos sobre fatores prognósticos englobam
diferentes pessoas saudáveis os desfechos de pessoas doentes
O evento sob consideração é geralmente o início da As consequências da doença são
Os desfechos são
doença consideradas, incluindo morte, complicações,
diferentes
deficiência funcional e sofrimento
Fatores de risco geralmente são para eventos de Descreve eventos relativamente frequentes;
↓probabilidade; P.ex.: uma fração apreciável dos pacientes
As taxas são diferentes
As taxas anuais para o início de muitas doenças são da com IAM morre após deixar o hospital
ordem de 1/1.000 a 1/100.000 ou menos
- Variáveis associadas com um risco aumentado não são necessariamente as mesmas que marcam um
Os fatores podem ser prognóstico ruim. Com frequência, elas são consideravelmente diferentes;
diferentes - P.ex.: o nº de fatores de risco para DCV é inversamente relacionado com o risco de morrer no hospital
após um primeiro IAM.
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