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O

MODERNISMO
EE AA INERRÂNCIA

BÍBLICA

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O Modernismo e a Inerrância Bíblica

Autor: Brian Schwertley

Primeiro Edição – Junho de 2000

É proibida a reprodução total ou parcial desta publi-


cação, sem autorização por escrito dos editores, exceto
citações em resenhas.

Editor Responsável: Manoel Canuto

Revisão: Emir e Alaíde Bemerguy

Tradução: Denise Meister

Projeto Gráfico: Heraldo F. de Almeida


Prefácio

A inspiração das Escrituras sempre foi questionada.


Os maiores críticos da inspiração bíblica são os liberais.
Os liberais têm uma posição tão diferente da posição
ortodoxa, do verdadeiro cristianismo, que não é de
estranhar que o Dr. Gresham Machen, fundador de
Westminster Seminary, o campeão da interpretação
histórico-gramatical, e que escreveu o famoso livro
“Christianity and Liberalism” (será publicado pela
editora Os Puritanos), chamava o liberalismo de uma
“nova religião”.
Os liberais se opõem fortemente ao pensamento
dogmático da inspiração das Escrituras e defendem o
uso da crítica histórica e a aplicação das descobertas
da ciência que envolvam algo das crenças religiosas.
Os liberais, de maneira oposta aos cristãos verda-
deiros, não aceitam a revelação escrita das Escrituras
e afirmam que, apesar de terem alguma verdade
(encontram alguma revelação), não podem ser consi-
deradas a base de toda a verdade. Muitos subestimam
o poder da revelação de Deus. Assim, não acreditam
que Moisés recebeu uma revelação especial de Deus
para escrever e descrever de forma literal a queda do
homem no Éden. A maioria desacredita nas profecias
bíblicas e acham que os ortodoxos têm uma postura
de idolatria para com a Bíblia.
Além disso são tão críticos e relativistas que acabam
sendo o contrário do que pregam: são intolerantes. A
falsa tolerância tem sido uma das marcas dos liberais.
John MacArthur diz que os erros doutrinários entram
na igreja no lombo da tolerância. Os liberais têm pro-
curado destruir a fé cristã histórica “que uma vez foi
dada aos santos”. Têm marginalizado os ortodoxos
como Hodge, Warfield, Berkhof, Edwards, Machen e
outros, julgando-os como antiquados, bitolados e têm
preferido homens como Barth, Brunner, Bultmann,
Tilich, (neo-ortodoxos) cujos ensinos têm “destruído”
a igreja. Basta ir à Europa e ver o caos da maioria das
igrejas. Nunca se ouviu esta expressão: “Deus usou
estes homens para trazer um grande despertamento
espiritual, uma grande reforma, um grande avivamento
à igreja”. Pelo contrário, com eles a igreja enfraquece
e apostata. Por eles os ortodoxos, piedosos e zelosos
mestres são chamados de anacrônicos, fechados, dog-
máticos e incompetentes para compreender a menta-
lidade moderna. Os liberais são soberbos. Liberalismo
e piedade são antagônicos.
Os liberais defendem a posição de que os princípios
de interpretação das Escrituras são de que a Bíblia foi
escrita para homens, na linguagem dos homens, e que
o seu significado deve ser buscado da mesma forma
que se faz com qualquer outro livro.
Muitos defendem que a Bíblia está cheia de mitos
que nos levam à crença no sobrenatural. Por isso
muitos não crêem no Gênesis, em um Adão literal,
nem em Eva ou numa serpente literal, no fruto proi-
bido, etc, considerando que quando Jesus e Paulo se
referem a estas coisas do Gênesis, estavam nada mais
do que aceitando a crença nos “mitos fundantes”. Ou
seja: o Gênesis e seus mitos estariam para a origem
da Queda, assim como a loba amamentando Rômulo
e Remo estaria para a origem de Roma. Também não
crêem na encarnação de Deus na pessoa de Cristo, na
Sua ressurreição literal, nos milagres de Jesus e dos
apóstolos, e o racionalismo têm permeado suas mentes.
A partir da segunda metade do século XVIII, tendo
o seu grande expoente em Emanuel Kant, a pregação
caiu sob a influência do racionalismo e, por isso, os
ensinos básicos da fé cristã como o pecado original,
a expiação substitutiva de Cristo, a justificação pela
fé, a trindade, as duas naturezas de Cristo, sumiram

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dos púlpitos. Contra essa postura filosófica e teoló-
gica surgiu uma reação sob a liderança de Friedrich
D. E. Schleiermacher da Universidade de Berlim. O
problema é que Schleiermacher tinha uma concepção
errônea das Escrituras: cria na Bíblia não como auto
revelação de Deus aos homens, mas como um registro
da experiência religiosa subjetiva de santos preemi-
nentes. O resultado foi a defesa de que a pregação deve
derivar da consciência do pregador, identificar-se com
a consciência religiosa do povo, apesar de nutrir-se da
Escritura, principalmente do NT. Para Schleiermacher,
pregar não é expor e aplicar a Escritura, mas transmitir
uma consciência religiosa, e o alvo da pregação não é
doutrinária, mas o viver cristão (a experiência). Dessa
forma, ele concordava com o racionalismo em que o
conteúdo da pregação deve ser obtido subjetivamente,
mas tendo como ponto de partida, não o racional, mas
o religioso.
Este teólogo de Berlim, Schleiermacher é conhecido
como o pai do liberalismo teológico e com ele surgiu a
pregação modernista dos nossos dias, onde se substitui
a Palavra objetiva de Deus pela experiência religiosa
subjetiva tão comum nos cultos de hoje. Neste aspecto,
é curioso ver como em alguns pontos os carismáticos
se identificam com os liberais.
Os liberais são contra todos os credos e confissões.
Não se ajustam a qualquer dogma estabelecido. Dão
uma ênfase exagerada na bondade inerente do homem
e em sua racionalidade. Têm enfatizado os movimentos
para o melhoramento econômico-social em lugar da
salvação da alma e a esperança do céu. São soberbos,
considerando que são detentores de mais verdades do
que os ortodoxos aos quais chamam de ultraconserva-
dores. Rejeitam o sobrenatural (não todos).
Alguns pensam que o movimento liberal terminou
com as publicações das obras de Barth que instituiram

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a neo-ortodoxia, mas o liberalismo continuou, apesar
de não ter o mesmo ímpeto. Por outro lado os pensa-
mentos de Rudolf Bultmann e de Paul Tilich deram
continuidade ao pensamento liberal. Estes estiveram
associados à revolução teológica da Karl Barth, ten-
tando evitar certos excessos do liberalismo. Mas as
críticas que podemos fazer contra esses homens são
essencialmente as mesmas que são feitas ao liberalis-
mo mais antigo.
Os liberais não confiam nos credos e confissões, pois
derivam de algo que a igreja inventou sobre Jesus e que
não seriam verdadeiras; seriam fruto dos ensinos de
Paulo, de especulações helenistas e de um superna-
turalismo, geralmente sem sentido. Usualmente não
toleram valores fixos embutidos em sistemas dogmá-
ticos. Por isso são tolerantes, pluralistas, pragmáticos
e relativistas.
Com respeito ao pecado, os liberais são tolerantes
e por demais “compreensivos” para com as falhas dos
homens, pois que seriam devidas à falta de conheci-
mento. A salvação é vista como algo que livra apenas
o homem de uma condição adversa. A doutrina da
expiação de Cristo é vista pelos liberais apenas como
um grande exemplo dado por Jesus que visava exercer
apenas uma influência moral sobre o homem.
Encerro este prefácio citando as palavras de R. B.
Kuiper:
“Por várias décadas os fundamentalistas e os mo-
dernistas andam em rixa discutindo se o Evangelho
é mensagem de salvação individual ou social. Muitos
pregadores fundamentalistas, embora sabedores de
que a sociedade está em chamas, só estão interessados
em resgatar indivíduos das chamas, e não em apagar
o fogo. O pregador modernista, por outro lado tem a
intenção de extinguir o fogo com esperanças de assim
beneficiar o indivíduo que, conforme entende, é em

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geral produto do seu ambiente. Essa diferença também
é visível na evangelização atual.
O fundamentalista está certo em ir até onde vai,
pois, que a salvação é primordialmente pessoal, não
admite dúvida. Contudo, ele não vai longe o bastante.
Ele negligencia os ensinamentos sociais contidos na
Palavra de Deus. Para citar uns poucos exemplos, Jesus
teve muito que dizer sobre casamento e divórcio (Mt
5:27-32; Lc 16:18) e sobre o dever dos ricos para com
os pobres (Lc 16:19-25); e o apóstolo Paulo, em acrés-
cimo àqueles assuntos, tratou da atitude do cidadão
cristão para com o magistrado civil (Rm 13:1-7), das
relações mútuas entre empregadores e empregados
(Ef 6:5-9; Cl 3:22- 4:1), e da escravidão (Filemom).
Na evangelização, o cerne do Evangelho tem que vir
primeiro, é claro, mas as suas implicações sociais não
devem ser ignoradas.
A falta cometida pelo evangelho social do modernis-
mo não está em que pretende curar os males sociais,
mas em que pensa realizar isso de modo diametral-
mente oposto ao cristianismo. Deixando de lado a
verdade óbvia de que nunca a sociedade pode ser me-
lhor do que os indivíduos que a compõem, pretendem
melhorar o indivíduo melhorando a sociedade. Quer
resgatar os homens de conseqüências do pecado tais
como a pobreza e as doenças, em vez de redimi-los do
pecado mesmo, pelo sangue de Cristo. Pretende salvar
o indivíduo por aquilo que é denominado ‘regeneração
da sociedade’, e não pelo novo nascimento produzido
sobrenaturalmente pelo Espírito Santo. Pretende, por
esforços humanos, tirar os homens das favelas, em vez
de tirar as favelas de dentro dos homens, pela graça
de Deus. Negligencia a profunda verdade tão expressa
por aquele grande pregador e evangelista, Charles
Hadddon Spurgeon: ‘Leve um ladrão para o céu, e a pri-
meira coisa que ele fará é bater as carteiras dos anjos’”.

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Sem dúvida o Pr. Brian Schwertley nos trará neste
pequeno livro evidências bíblicas de que as Escrituras
são de fato a Palavra de Deus inspirada e não apenas
contêm a Palavra de Deus. Isto é neo-ortodoxia. Deus
nos livre destes erros.
O editor

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O Modernismo e a Inerrância Bíblica
Brian M. Schwertley

U
m dos maiores inimigos do cristianismo atual
é o modernismo ou liberalismo cristão. Na ver-
dade, poderia se dizer que o liberalismo cristão
tem causado mais danos às denominações e institui-
ções protestantes no séc. XX do que qualquer outro
movimento herético. O que é o liberalismo cristão? O
liberalismo cristão é parte de um movimento religioso,
político e cultural mais amplo na Europa (em primeiro
lugar) e então na América, que tem sua base na visão
de mundo humanista secular. A razão pela qual os his-
toriadores e teólogos referem-se ao liberalismo cristão
como modernismo é o fato de que os liberais cristãos
têm comprado e adotado a visão de mundo secular
moderna. Eles têm adaptado seus ensinamentos para
refletirem o espírito desta era. O que ocorreu com as
denominações que adotaram o modernismo foi uma
erosão séria da fé em Cristo e o emparelhamento da
Bíblia com a nova fé nos pressupostos do progressivis-
mo e naturalismo. Isto envolveu a fé na humanidade. As
“descobertas” do homem na ciência, indústria, ciências
sociais e econômicas introduziriam um milênio huma-
nista. Algumas características comuns do modernismo
são uma crença na evolução darwiniana, estatismo (co-
munismo, socialismo, fascismo do bem-estar social),
alto criticismo negativo, relativismo histórico e ético e
gradualismo subversivo. Porque o modernismo ainda é
a força religiosa mais dominante na academia, governo
civil e na mídia nos dias de hoje, um estudo e refutação
de alguns dos seus ensinamentos mais proeminentes se
torna necessário. Além disso, as lições teológicas que
deveriam ter sido aprendidas das batalhas teológicas
entre modernistas e fundamentalistas (c. 1870-1940)

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não o foram por muitas pessoas, porque novas formas
de modernismo ainda estão destruindo as instituições
cristãs (e.g., Fuller Seminary)1 e denominações (e.g., A
Igreja Reformada Cristã).

A Inspiração e a Autoridade da Bíblia


A grande linha divisória entre o modernismo e
o cristianismo bíblico está no tema fundamental da
inerrância bíblica e autoridade final. A posição cristã
ortodoxa histórica tem sido sempre a de que Deus
fala ao seu povo através da Bíblia, que é inspirada por
Deus e, por essa razão, é infalível (ou inerrante) de
capa a capa. Toda a Escritura tem origem divina; con-
seqüentemente, ela é a Palavra de Deus. “Cada palavra
da Bíblia é, por seu próprio testemunho a si mesma,
infalivelmente verdadeira [cf. Mt 5.18; Is 45.19; Sl
119.160; Jo 17.17]... [Assim], a Bíblia é ‘absolutamente
sem erros’ em qualquer um dos assuntos que menciona
em seu ensino - seja declarações sobre história, história
natural, etnologia, arqueologia, geografia, ciência na-
tural, fato histórico ou físico, princípio psicológico ou
filosófico ou doutrina espiritual e deveres”2 . Porque a
Bíblia é a revelação especial de Deus de Si mesmo ao
homem e é infalível (i.e., verdade objetiva), é a fonte
final e última de autoridade em todos os assuntos de
adoração, doutrina e disciplina.
A base do liberalismo cristão não é a Bíblia, mas
a humanidade ou, mais especificamente, o estudio-
so modernista, líder cristão ou burocrata. O grande
pressuposto do modernismo é uma Bíblia falível. Uma
vez que o liberalismo cristão engloba uma grande
variedade de pontos de vista heréticos com relação à
Escritura, o que se segue são os ensinamentos típicos,
gerais dos estudiosos modernistas com relação à Bíblia.
Os modernistas argumentam (em acordo com os seus
pressupostos anti-sobrenaturais) que a Bíblia é um

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registro humano da evolução religiosa do politeísmo
para o monoteísmo das tribos do Oriente Médio. Estas
tribos eventualmente se tornaram conhecidas como
israelitas. De acordo com os estudiosos liberais cris-
tãos, a Bíblia é cheia de mitos e lendas. Por esta razão,
a Bíblia não nos diz a palavra de Deus, antes revela os
ensinamentos religiosos de uma comunidade religiosa
antiga. Slogans comuns entre os modernistas são: 1.) A
Bíblia não é a própria verdade, mas contém a verdade.
2.) A Bíblia não é um livro texto com relação à ciência.
Conseqüentemente, não se deve esperar que ela reflita
acuradamente o que realmente aconteceu durante a
criação, etc. 3.) O Pentateuco, os Evangelhos e outros
livros históricos nunca tiveram a intenção de serem
considerados relatos históricos. 4.) A Bíblia é cheia de
contradições. 5.) A Bíblia reproduz erros científicos,
visões éticas e preconceitos sociais do período em que
foi escrita. Assim, muitas das leis do Antigo Testamen-
to são injustas, bárbaras e não éticas. 6.) Os milagres
registrados na Bíblia não deveriam ser considerados
verdadeiros porque violam as leis da natureza. A lista
prossegue mas os pontos enumerados acima são su-
ficientes para uma pessoa entender o modernismo.

Algumas Considerações Filosóficas


Uma pessoa em uma igreja modernista e alguém
que lê um artigo na revista Time com relação à Bíblia
ou que assiste à “televisão pública” ouvirá que a posi-
ção cristã liberal sobre a Bíblia é simplesmente a da
evidência relativa aos fatos. A verdade, no entanto, é
que os estudiosos modernistas sempre ignoram as
evidências bíblicas, históricas e arqueológicas que
não se enquadram nos seus pressupostos humanistas
seculares. Se os pontos de partida de uma pessoa são:
Deus não é soberano; Ele não pode revelar-se de forma
infalível à humanidade de uma forma proposicional;

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milagres são impossíveis; a doutrina do inferno não
pode ser verdadeira; o domínio da fé é não racional e
não histórico; o homem é o determinador autônomo
da verdade, da realidade, etc.; então, naturalmente, ele
não irá considerar a Bíblia como fundamentalmente
digna de confiança e sim meramente como outro livro
religioso antigo. As conclusões do alto criticismo com
relação à Bíblia são o resultado inevitável de um axioma
apóstata incrédulo. A metodologia “científica” secular
moderna diz que a Bíblia não pode ser recebida como
auto-autenticada porque isto seria dogmatismo. Isto
seria submissão cega à autoridade. Assim, a fim de ser
realmente científica e objetiva, uma pessoa deve sujei-
tar a Bíblia aos métodos literários e históricos autoriza-
dos dos seminários e universidades liberais. Mas tudo
o que este chamado processo científico tem feito tem
sido transferir a fé das pessoas da autoridade bíblica
para a autoridade dos chamados experts bíblicos. As
pessoas não estão mais seguindo o dogmatismo das
Escrituras mas o dogmatismo dos teólogos incrédulos.
Lembre-se, quando uma pessoa sustenta um ponto
de vista particular com relação à Bíblia, seu ponto de
vista não ocorre e não pode ocorrer em um vácuo. Ele
é necessariamente parte de uma visão de mundo geral.
Ele envolve uma visão da ontologia (teoria do ser),
epistemologia (teoria do conhecimento), história, Deus
(e.g., Deus é soberano? Ele pode se comunicar de uma
forma proposicional com a humanidade? etc.), homem,
criação e até mesmo salvação. Conseqüentemente, o
tema não é um daqueles de mera efetividade, mas a
visão de mundo que uma pessoa usa para formular,
filtrar e analisar os fatos. O verdadeiro evangélico faz
o melhor que pode para derivar seus pressupostos
da própria Palavra de Deus. Seu ponto de partida é
a trindade ontológica independente que se revela
infalivelmente ao homem na Bíblia. Ao derivar sua

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visão de mundo geral e doutrina a partir da Escritura,
ele aborda a Bíblia com reverência. Ele sabe que ela
é auto-autenticada, inerrante, perspícua (i.e., clara) e
suficiente. Ele sabe que a fé salvadora em Jesus Cristo
não pode ser separada da fé nas palavras de Cristo. O
modernista (por outro lado) aproxima-se da Bíblia com
pressupostos que são antitéticos à autoridade bíblica.
Ele começa com a hipótese de que a verdade é apenas
aquela que o homem determina como verdadeira. Deus
é colocado no banco dos réus para ser julgado pelos
homens finitos, pecadores e arrogantes. Em segundo
lugar, ele assume o relativismo histórico. A mensagem
da Bíblia não pode ter significado para a era moderna
porque é um livro muito velho. Ela deve ser provada,
analisada e reformada pelos estudiosos modernos a
fim de ser relevante na era moderna. Se uma doutrina
ou estipulação ética parece distante da modernidade,
o estudioso modernista simplesmente a reduz a um
mito ou a uma redação, ou à opinião de uma pessoa
antiga com conhecimento limitado.
O que é irônico com relação à posição modernista
é que ela não é apenas tão dogmática quanto o cris-
tianismo bíblico, é também irracional. O modernista
se apresenta como o campeão da objetividade e da
razão. Porém, ele abandona a Bíblia enquanto se
proclama o campeão de Jesus e do cristianismo. Mas,
como uma pessoa pode racionalmente declarar-se
campeã de uma religião que é baseada na verdade
divina enquanto nega que tal verdade exista? É neste
ponto que o modernista tira a máscara do raciona-
lismo e da objetividade e a substitui pela máscara do
misticismo, irracionalidade e subjetivismo. O moder-
nista procura agarrar-se ao título de cristão com uma
superficialidade tão bizarra como: “A verdade divina
não é encontrada nas proposições escritas mas na
consciência autêntica pessoal de Deus”, ou “O poder

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da Escritura não é derivado da inspiração objetiva ou
verdade mas do seu efeito espiritual maravilhoso sobre
o homem”, ou “Embora a Bíblia não seja inspirada por
Deus e não seja uma fonte confiável para as afirmações
dogmáticas, ela tem uma autoridade poderosa na ex-
periência religiosa com a qual mexe nos corações dos
seus estudantes.” O modernista, ao puxar o tapete de
sob a verdade objetiva, é deixado com uma religião an-
tropológica. Ao fazer do homem o ponto de referência
final para a verdade, o liberal cristão é deixado com
um subjetivismo grosseiro e slogans místicos tolos.
Logo que uma pessoa entende a posição modernista
geral no seu contexto de visão de mundo, nunca mais
deveria deixar-se enganar pelo argumento de que os
liberais cristãos são racionais, objetivos e científicos
enquanto que os ortodoxos cristãos são seguidores
fideístas cegos da autoridade. O cristianismo bíblico
que repousa na infalibilidade bíblica é a única posição
racional defensível. É a única posição que evita o sub-
jetivismo, relativismo e misticismo.

Algumas Considerações Preliminares


Ao investigar a doutrina da inspiração e infalibilida-
de da Escritura, o lugar mais lógico para se começar é
a própria Bíblia. Se a Bíblia não alega ser inspirada por
Deus; se não alega ser inerrante ou sem erro em tudo o
que ensina, incluindo assuntos de ciência e história; se
ela meramente alega ser um registro falível e uma expe-
riência religiosa de um povo antigo, então, obviamente,
não há razão para se insistir na sua infalibilidade e total
autoridade sobre a igreja e toda a humanidade. No
entanto, se a Bíblia ensina a inerrância bíblica, então
devemos defender as alegações da Escritura com cada
fibra do nosso ser.
Um argumento baseado nas Escrituras será conside-
rado por muitos como raciocínio circular não científico

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e inadequado. No entanto, devemos nos lembrar que a
Bíblia é única. Porque é a Palavra de Deus, ela deve ser
auto-autenticada porque não pode haver autoridade
acima do próprio Deus. A Bíblia deve ser crida porque
ela é a Palavra de Deus. O autor do livro de Hebreus diz
“visto que não tinha ninguém superior por quem jurar,
jurou por si mesmo” (Hb 6.13). Este ponto, contudo,
não significa que a crença de um cristão na Bíblia seja
irracional ou um salto cego no escuro (fideísmo). A
crença nas Escrituras é suportada por abundantes
evidências. Como a Confissão de Westminster diz: “a ex-
celência do assunto, a eficácia da doutrina, a majestade
do estilo, o consentimento de todas as partes, o alvo do
todo (que é dar toda a glória a Deus)...e toda a perfeição
disso são argumentos através dos quais há evidência
abundantemente como sendo a Palavra de Deus....”3
A isto poderia ser adicionado às surpreendentes
descobertas de arqueologia, profecias perfeitamente
cumpridas, sinais e maravilhas e assim por diante.
Enquanto todas estas evidências testificam a verdade
da Escritura, não devemos nunca nos esquecer de que
a Bíblia repousa definitivamente na própria autoridade
de Deus. “Deus ‘testifica a Si mesmo’ porque não há
nada mais epistemologicamente autoritário ou moral-
mente final que poderia autorizar o que Ele revela.”4
Antes de examinarmos as muitas passagens bíblicas
e doutrinas que ensinam claramente que a Bíblia é a
Palavra infalível, inspirada de Deus, deveria ser notado
que o cristianismo se ergue ou cai na inerrância bíblica.
Por que? Porque a Bíblia é a base de cada doutrina da
fé cristã. O cristianismo é uma religião baseada no
espaço e tempo reais, eventos históricos e na própria
interpretação de Deus destes eventos. A fim de se tor-
nar um cristão, uma pessoa deve crer em Cristo como
ele é revelado nas Escrituras. A Bíblia é virtualmente a
única fonte de informação com relação a estes eventos

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e é a única fonte que nos dá a interpretação de Deus
destes fatos. Conseqüentemente, toda a teologia deve
ser baseada na Bíblia. Enquanto é verdade que certas
coisas sobre Deus são aprendidas a partir da revelação
geral (i.e., revelação de Deus de Si mesmo na natureza;
cf. Sl 19.1; Rm 1.18ss.), o apóstolo Paulo diz que esta in-
formação é suficiente apenas para condenar o homem
natural (cf. Rm 1.20ss.). Se uma pessoa diz ter fé em
Jesus Cristo, ela deve ter fé na Bíblia que nos diz quem
Jesus é. A fé em Cristo como uma pessoa não pode ser
separada da fé nas Escrituras que definem Cristo e sua
obra. À parte da revelação especial de Deus, a imagem
do homem ou interpretação de Cristo de uma pessoa é
tão boa quanto a de outra, porque são todas invenções
da imaginação do homem. Todas elas são obras de
suposição subjetiva. Sem a Bíblia, os modernistas são
homens cegos tateando no escuro. Sua religião nada
mais é do que uma forma intelectualmente sofisticada
de idolatria.
Se, como os modernistas afirmam, a Bíblia é uma
mistura de verdade e erro, então nada da Bíblia pode
ser confiado em sua própria autoridade. Mas o que é
esta autoridade maior? Ela mesma é infalível, objetiva
e totalmente confiável? Não. A autoridade maior é
meramente a mais recente teoria popular ensinada nas
instituições modernistas. O alto criticismo não é uma
ciência severa. Um arqueólogo pode descobrir uma
pedra de pavimentação ou um monumento antigo e
dizer que Pôncio Pilatos realmente existiu e governava
quando a Bíblia diz que ele governava. O estudioso
modernista, no entanto, diz coisas como: “Baseado em
minha análise da gramática hebraica, há dois autores
diferentes do livro de Isaías”. O estudioso modernista
realmente sabe se dois homens diferentes escreveram
o livro de Isaías? Não. Ele tem uma teoria. Ele tem
uma opinião instruída, baseada nos seus próprios

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pressupostos modernistas. O cristão professo em uma
igreja modernista não pode colocar sua confiança em
qualquer porção da Escritura sem primeiro consultar
as mais recentes autoridades modernistas para ter
certeza de que não está crendo em algum mito tolo ou
em uma edição de um poderoso sacerdote faminto, ou
em uma lenda de uma comunidade cristã do segundo
século inclinada a moldar o Jesus humano à sua própria
imagem. Quando uma base segura da Bíblia infalível
é substituída por opiniões pervertidas de humanistas
seculares disfarçados de mestres cristãos, então (de
acordo com o seu próprio ensino) não se pode confiar
em um único ponto da Bíblia.
Os modernistas não são diferentes dos romanistas
porque a base da teologia de ambos não é apenas a
Escritura mas, antes, a tradição humana. Os católicos
romanos olham para os pais da igreja e para as inven-
ções teológicas da Idade Média (e.g., purgatório, Mario-
latria, transubstanciação, celibato para os sacerdotes
e freiras, papado, etc.) enquanto os liberais cristãos
seguem as tradições dos filósofos seculares (e.g., Hob-
bes, Spinoza, Hume, Kant, etc.) e dos teólogos apóstatas
(e.g., Schleiermacher, Ritschl, Bushnell, Bultmann, etc.).
Para romanistas e modernistas, a autoridade final não é
a Bíblia, mas a igreja. No catolicismo romano, o Papa e
a hierarquia da igreja determinam a doutrina enquanto
entre os liberais cristãos ela é determinada pelos pro-
fessores de seminário e pela burocracia da igreja. Nas
denominações modernistas, basicamente, quem quer
que tenha o poder, esse determina a doutrina. O único
fator limitador nas denominações modernistas é a
opinião pública. Aqueles que têm o poder refreiam as
visões mais radicais até que as pessoas nos bancos das
igrejas, que pagam seus salários, sejam conquistadas
quanto a estas novas visões. A repreensão de Jesus
aos escribas e fariseus aplica-se igualmente a todos

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os modernistas: “E, assim, invalidastes a palavra de
Deus, por causa da vossa tradição...são cegos, guias de
cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos
no barranco” (Mt 15.6, 14). Paulo nos admoesta quanto
a tais homens maus: “Cuidado que ninguém vos venha
a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme
a tradição dos homens, conforme os rudimentos do
mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8). Isaías adverte: “À
lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira,
jamais verão a alva” (Is 8.20).

Argumentos Bíblicos e Teológicos


De capa a capa, a Bíblia se apresenta como a Palavra
de Deus. Ela é a revelação registrada de Deus de Si
mesmo à humanidade. A Bíblia é um registro infalível
da história da redenção e nos diz tudo o que Deus quer
que saibamos com relação à fé e à vida. Como sabemos
que ela é a palavra inspirada infalível de Deus? Porque
ela nos diz isso claramente. Há muitos argumentos
escriturísticos para a inerrância bíblica.
1. Há centenas de passagens no Antigo Testamento
que identificam as palavras dos profetas como vindo di-
retamente de Jeová. Frases como “Assim diz o SENHOR,”
“diz o Deus de Israel,” “diz o SENHOR dos exércitos,”
“diz o SENHOR Deus,” “diz o Santo,” “diz o SENHOR,”
“diz o Santo de Israel,” “o Deus de Israel diz,” “o SENHOR
diz,” “o Altíssimo diz,” “diz o Rei,” etc. ocorrem 864 ve-
zes. Há inúmeros exemplos de frases como “o SENHOR
falou,” “Deus falou,” “o SENHOR disse,” “Eu falei,” “Eu, o
SENHOR, disse,” “Eu disse,” etc. A Bíblia diz que Deus
falou verbalmente com Adão e Eva, Noé, os patriarcas,
Moisés e com os profetas e apóstolos. O próprio Cristo
é a revelação final de Deus ao homem. “Havendo Deus
outrora falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos
pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo
Filho” (Hb 1.1-2).

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2. Há fórmulas introdutórias na Bíblia que afirmam
claramente que os profetas falaram as próprias pala-
vras de Deus. Há frases como: “a palavra do SENHOR
veio até...”, “palavra do SENHOR ao profeta...”, “palavra
que o SENHOR falou a...”, “palavra que o SENHOR me
mostrou”, “palavra do SENHOR através de”, (cf. Gn
15.1,4; 1 Re 6.11; 12.22; 13.20; 16.1; 17.2; 18.1; 19.9;
21.17, 18; Is 38.4; Jr 1.2, 4, 11, 13; Os 1.1, 4; Jl 1.1; Am
3.1; Jn 1.1; 3.1; Sf 1.1; Ag 1.1; Zc 1.1, 7; 4.8; 6.9; 7.8; etc.).
Os profetas estavam cientes de que falavam a pa-
lavra de Deus ao povo. Eles introduziam a mensagem
de Deus com frases como: “ouvi a palavra do SENHOR”
e “ouvi esta palavra que o SENHOR falou”. Bromiley
escreve: “O profeta é o homem a quem a palavra do
SENHOR (Iavé) vem e que, então, a declara ao povo...
Não é palavra do próprio profeta...O profeta não pro-
duz a palavra de dentro de si mesmo. Ela é uma mera
questão de discernimento religioso; a palavra é de
Deus. O que o profeta diz é verdade porque é o que
Deus diz.”5 Depois de examinar as muitas passagens
apontadas acima, uma pessoa não deveria concluir
que apenas visões e declarações diretas de Deus são
inspiradas. Porque a Bíblia também identifica os regis-
tros históricos dos escritores bíblicos, poesia, canções
de adoração e assim por diante como divinamente
inspirados. O rei Davi, o grande compositor, disse: “O
Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a sua
palavra está na minha língua” (2 Sm 23.2). Isaías disse:
“Buscai no livro do SENHOR e lede” (Is 34.16). Young
escreve: “Ele [Isaías] está, em efeito, referindo-se a esta
profecia como uma parte do todo. Ela é parte de uma
Escritura real, de um livro escrito para que os homens
possam voltar-se a ele e encontrar nele a referência a
esta profecia. Isaías apela para as palavras escritas de
Deus como a autoridade pela qual os homens devem
julgar a confiabilidade de sua mensagem. Quando uma

19
pessoa encontra a profecia na Escritura, deve ler e, atra-
vés da leitura, será capaz de verificar a confiabilidade
do que Isaías predisse” (Edward J. Young, The Book of
Isaiah [Grand Rapids: Eerdmans, 1969], 2:442). Paulo
disse, “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm
3.16; cf. 2 Pe 1.21). Há muitas outras passagens que
confirmam este ensinamento. Aqui estão alguns exem-
plos. “Respondeu-lhe o SENHOR [a Moisés]: Quem fez
a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo,
ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o SENHOR? Vai,
pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o
que hás de falar” (Ex 4.11-12). “O Espírito do SENHOR
fala por meu intermédio, e a sua palavra está na minha
língua” (2 Sm 23.2). “Depois, estendeu o SENHOR a
mão, tocou-me na boca e o SENHOR me disse: Eis que
ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr 1.9).
3. A Bíblia declara sua própria pureza, perfeição e
verdade. Assim, qualquer idéia que a Escritura contém
impurezas, imperfeições ou enganos deve ser rejeitada.
“As palavras do SENHOR são palavras puras” (Sl 12.6).
“A lei do SENHOR é perfeita... O mandamento do SE-
NHOR é puro” (Sl 19.7, 8). “Puríssima é a tua palavra...
As tuas palavras são em tudo verdade” (Sl 119.140,
160). “Toda palavra de Deus é pura” (Pv 30.5). Jesus dis-
se, “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”
(Jo 17.7). O mundo não cristão e todos os modernistas
rejeitam estas passagens. Ao contrário de todos os
apóstatas modernistas, declaramos como Paulo: “Seja
Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem” (Rm 3.4).
4. Os autores inspirados do Novo Testamento con-
sideravam os escritos do Antigo Testamento como a
palavra de Deus. Eles repetidamente recorreram ao
Antigo Testamento como palavra vinda diretamente de
Jeová. Não há dúvida de que todos os apóstolos susten-
tavam a visão estrita da inspiração plena verbal. Este
fato é demonstrado no modo como os autores do Novo

20
Testamento referem-se ao Antigo Testamento quando
o citam. Há passagens em que se diz que foram faladas
por Deus e até mesmo passagens que substituem a
palavra Deus por Escritura.
Exemplos de autores do Novo Testamento que
atribuem passagens do Antigo Testamento a Deus
estão a seguir. Mateus refere-se à profecia de Isaías
do nascimento virginal de Cristo (Is 7.14) como “o
que fora dito pelo Senhor” (Mt 1.22; cf. 2.15). Quando
o apóstolo Pedro referiu-se aos Salmos 69.25 e 109.8,
ele os introduziu dizendo: “convinha que se cumprisse
a Escritura que o Espírito Santo proferiu anterior-
mente por boca de Davi” (At 1.16). Antes de referir-se
ao Sl 2.1-2, também disse: “Tu, Soberano Senhor, que
fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; que
disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de
Davi, nossa pai, teu servo: Por que se enfureceram os
gentios...?” (At 4.24-25). “Por isso, também diz [Deus]
em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja
corrupção” (At 13.35). Antes de citar Isaías 55.3 (que
os modernistas não acreditam nem mesmo ter sido
escrito por Isaías), Paulo disse, “Desta maneira o dis-
se [Deus]: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis
promessas feitas a Davi” (At 13.34). Quando o autor
de Hebreus citou o Sl 2.7; Dt 32.43; Sl 97.7 e Sl 104.4,
ele disse: “Pois a qual dos anjos [Deus] disse jamais”
(Hb 1.5), “E, novamente, ao introduzir o Primogênito
no mundo, [Deus] diz” (Hb 1.6); “Ainda, quanto aos
anjos, [Deus] diz” (Hb 1.7). Quando o mesmo autor
introduziu o Salmo 95.7-11, disse, “Assim, pois, como
diz o Espírito Santo” (Hb 3.7).
B. B. Warfield cita muitos outros exemplos. Ele es-
creve: “Alinhadas a estas passagens, algumas outras são
comumente classificadas nas quais a Escritura parece
ser mencionada com sujeito oculto legei ou phasi, o
sujeito dominante — seja a Palavra divinamente dada

21
ou o próprio Deus — sendo aceito como verdadeiro.
Entre estas têm sido contadas passagens, por exem-
plo, como as se seguem: Rm 9.15, “Respondeu-lhe,
terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me
compadecerei de quem eu me compadecer” (Ex 33.19);
Rm 15.10, “Louvai, ó nações, o seu povo” (Dt 32.43); e
novamente, “Louvai ao SENHOR, vós todos os gentios,
louvai-o todos os povos” (Sl 117.1); Gl 3.16, “Ora, as
promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente.
Não diz: E aos descendentes, como se falando de mui-
tos, porém como de um só: E ao teu descendente (Gn
13.15), que é Cristo”; Ef 4.8, “Por isso, diz: Quando ele
subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu
dons aos homens”. (Sl 68.18); Ef 5.14, “Pelo que diz:
Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mor-
tos, e Cristo te iluminará” (Is 60.1); 1 Co 6.16, “Porque,
como se diz, serão os dois uma só carne” (Gn 2.24); 1
Co 15.27, “E, quando diz que todas as coisas lhe estão
sujeitas” (Sl 8.7); 2 Co 6.2, “porque ele diz: Eu te ouvi no
tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação”
(Is 49.8); Hb 8.5, “pois diz ele: Vê que faças todas as
coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no
monte” (Ex 25.40); Tg 4.6; “pelo que diz: Deus resiste
aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Pv 3.34).6
O fato dos apóstolos repetidamente dizerem “ele diz”
(o que obviamente refere-se a Deus) quando citam as
Escrituras do Antigo Testamento é evidência irrefu-
tável de que o consideravam divinamente inspirado.
Os apóstolos não apenas dizem “Deus diz,” “Ele diz,”
“O Senhor diz” ou “o Espírito Santo diz” quando se re-
ferem ao Antigo Testamento, mas também substituem
a palavra Deus por Escritura. Em Gálatas 3.8, Paulo
escreveu: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus
justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho
a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos” [cf.
Gn 12.1-3]. Em Romanos 9.17, Paulo escreveu: “Porque

22
a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei”
[cf. Ex 9.16]. Em ambos os exemplos, Deus é quem fala.
Deus falou diretamente a Abraão e falou a Faraó através
de Moisés. Para o apóstolo Paulo, não havia distinção
alguma entre a Escritura falando e Deus falando. A Bí-
blia tem a mesma infalibilidade, fidelidade e autoridade
como o próprio Deus falando. O apóstolo identificava
“o texto da Escritura como Deus falando de forma tão
habitual que o uso do termo “a Escritura diz” se tornou
natural quando o que se pretendia realmente era “Deus
disse como registrado na Escritura”7
5. Um exame nos evangelhos revela que Cristo
acreditava e ensinava que as Escrituras do Antigo
Testamento eram divinamente inspiradas e comple-
tamente autoritativas em todas as questões de fé e
prática. O que é de interesse particular é o fato de Cristo
ter crido e ensinado que todas as narrativas históricas
do Antigo Testamento eram verdadeiras, confiáveis e
relatos reais do que aconteceu de fato. Jesus até mesmo
sustentou a historicidade literal de eventos que todos
os modernistas virtualmente negam. Ele apontou para
a criação de Adão e Eva por Deus como uma resposta
definitiva à questão dos fariseus com relação ao divór-
cio (Mt 19.4; Mc 10.6-8). Ele referiu-se ao assassinato
de Abel, filho de Adão e Eva (Lc 11.51). Nosso Senhor
usou Noé e o dilúvio para ilustrar o que irá acontecer
na segunda vinda (Mt 24.37-39; Lc 17.26,27). Ele
também se referiu a Ló (Lc 17.28-32) e à destruição
de Sodoma pelo fogo e enxofre (Mt 10.15l 11.23,24; Lc
10.12). Se estes eventos nunca aconteceram de fato,
então não poderiam ter sido usados por Cristo como
paradigmas históricos dos eventos que envolvem a
segunda vinda (a não ser que se creia que a segunda
vinda é um mito e que Cristo é um mentiroso). Jesus
usou o relato histórico de Jonas e do grande peixe para
ilustrar a sua ressurreição (Mt 12.39-41; Lc 11.29, 30,

23
32). Novamente, se Cristo estava errado ao considerar
a estada de Jonas no ventre do peixe, então por que
deveríamos confiar nele com relação ao dogma central
da fé cristã — a ressurreição?
Jesus ensinou a historicidade dos patriarcas: Abraão
(Jo 8.56), Isaque e Jacó (Mt 8.11; Lc 13.28). Diferente
dos modernistas, ele ensinou que Moisés escreveu o
Pentateuco. Foi Moisés quem entregou a lei (Mt 8.4;
19.8; Mc 1.44; 7.10; 10.5; 12.26; Lc 5.14; 20.37; Jo
5.46; 7.19). Cristo repetidamente referiu-se à lei mo-
ral do Antigo Testamento como o padrão absoluto de
ética (e.g., Mt 18.16; 19.4-6, 18-19; 22.37; Mc 10.19;
12.29-31). Ele chamava a lei do Antigo Testamento
de mandamento de Deus (Mt 15.3-4). Jesus ensinou
que Davi foi um escritor de salmos que escrevia por
inspiração divina: “O próprio Davi falou, pelo Espírito
Santo” (Mc 12.36; cf., Mt 22.43-44; Lc 20.42-43). Ele
repetidamente citou o livro de Salmos como um guia
profético infalível no seu próprio ministério e para
resolver questões de doutrina e ética (e.g., Sl 8.2-Mt
21.16; Sl 22.1-Mc 15.34; Sl 31.5-Lc 23.46; Sl 41.9-Jo
13.18; Sl 69.4-Jo 15.25 [note a frase de Jesus, “para que
se cumpra a palavra escrita na sua lei”]; Sl 118.22,23-
Mc 12.10; Lc 20.17; Sl 118.26-Mt 23.39, Lc 13.35; Sl
110.1-Mt 22.43-44, Mc 12.36; Lc 20.42-43).
Jesus ensinou que os escritos proféticos do Antigo
Testamento foram inspirados por Deus e eram abso-
lutamente verdadeiros. Ele citou Isaías (Is 6.9,10-Mt
13.14, Mc 4.12; Is 29.13-Mt 15.7-9, Mc 7.6-7, Lc 8.10;
Is 53.12-Lc 22.37; Is 54.13-Jo 6.45; Is 56.7-Mt 21.23,
Lc 19.46, Mc 11.17; Is 61.1,2-Lc 4.19; Is 66.24-Mc 9.48)
diferentemente dos modernistas que não crêem ou
ensinam que houve 2 ou 3 autores diferentes para o
livro. Ele citou Jeremias (Jr 7.11-Mt 21.13, Lc 19.46, Mc
11.17), Daniel (Dn 11.31, 12.11-Mt 24.15, Mc 13.14),
Oséias (Os 6.6-Mt 12.7; Os 10.8- Lc 23.30); Miquéias

24
(Mq 7.6-Mt 10.36); Zacarias (Za 13.7-Mt 26.31, Mc
14.27), e Malaquias (Ml 3.1-Mt 11.10). Quando Cristo
discutiu o elemento profético do Antigo Testamento,
Ele ensinou sem equívoco que tudo o que estava escrito
a seu respeito deveria acontecer. “São estas as palavras
que eu vos falei, estando ainda convosco: importava
se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44). Para
Cristo, a Escritura tem uma fidelidade absoluta. “Assim
está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar
dentre os mortos no terceiro dia” (Lc 24.46). Quando a
Bíblia diz que algo irá acontecer, há uma necessidade
absoluta de que isto aconteça. Além disso, Jesus não
estendeu a autoridade bíblica para apenas uma parte
da Bíblia ou só para os pensamentos dos autores, mas
para as próprias letras. “Porque em verdade vos digo:
até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til ja-
mais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5.18).
Uma passagem onde Cristo ensina a inspiração
plena e a autoridade divina de cada palavra nos manus-
critos originais das Escrituras do Antigo Testamento é
João 10.34-35: “Replicou-lhes Jesus: Não está escrito
na vossa lei: Eu disse: sois deuses? Se ele chamou
deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus,
e a Escritura não pode falhar...” Nesta passagem Jesus:
1.Baseia todo o seu argumento em uma palavra do
texto hebraico.
2.Diz que o Antigo Testamento (a palavra lei é usada
em um sentido mais amplo para incluir os escritos e os
profetas) é a Palavra de Deus.
3. Diz que a Escritura não pode falhar. Isto é, não pode
ser privada de sua autoridade obrigatória.

“A Escritura não pode falhar. Ela é absolutamente


indestrutível, não importa como o homem a considere.
O Antigo Testamento, na forma escrita em que se en-

25
contra! é inspirado, infalível e munido de autoridade”8
escreve Pink: “Note o modo como no v. 35 o Salvador
disse, ‘A Escritura não pode falhar.’ Que grande honra
ele colocou na Palavra escrita! Ao fazer uso deste
versículo do salmista contra os seus inimigos, todo o
ponto do seu argumento foi baseado em uma única
palavra – ‘deuses’ – e o fato de que ela ocorreu no livro
divinamente inspirado. A Escritura foi a corte final de
apelação, e aqui o Senhor insiste na sua autoridade
absoluta e inerrância verbal”.9 “Que ‘a Escritura não
pode falhar’ pressupõe a inspiração da mesma é, para
quem quiser ver, perfeitamente claro”10 .
J. C. Ryles escreve: “A Escritura não pode falhar. As
teorias daqueles que dizem que os escritores da Bíblia
foram inspirados, mas não todos os seus escritos, – ou
que as idéias da Bíblia foram inspiradas, mas não toda
a linguagem em que estas idéias foram transmitidas,–
parecem ser totalmente irreconciliáveis com o uso da
sentença por nosso Senhor diante de nós. Não há outra
posição a ser mantida sobre a inspiração, creio, exceto
o princípio de que ela é plena e alcança cada sílaba.
Uma vez abandonada esta posição, somos mergulhados
em um mar de incertezas. Como uma cuidadosamente
composta linguagem de vontades, declarações e comu-
nicações, cada palavra da Bíblia dever ser considerada
sagrada, sem a admissão de uma única falha ou deslize
da caneta” (Expository Thoughts on the Gospels [Cam-
bridge, Inglaterra: James Clark and Co., 1976] 2:251).
Quando Jesus foi confrontado por Satanás no de-
serto, Ele respondeu a cada tentação com uma citação
do Antigo Testamento. Cada citação é introduzida por
nosso Senhor com a fórmula autoritária “Está escri-
to” (Mt 4.4, 7, 10; Lc 4.4, 8). Esta frase, “está escrito”
(gegraptai), indica que as passagens da Escritura de
Deuteronômio citadas por Cristo foram escritas ou
dadas no passado por Deus mas continuam a ter efeito

26
duradouro. Elas continuam a ter a autoridade de Deus
por trás. Ainda estão em vigor e devem ser obedeci-
das. Uma boa tradução de gegraptai seria “permanece
escrito”. Nosso Senhor poderia ter falado sobre a sua
própria autoridade, ou até mesmo ter dado uma nova
revelação, mas escolheu dizer, “Está escrito”. Ele colo-
cou-se honestamente sob a autoridade das Escrituras
do Antigo Testamento. Ele confiou na espada do Espí-
rito. “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes” (Hb
4.12). “Cristo usa a Escritura como seu escudo; porque
este é o modo adequado de lutar se quisermos ter cer-
teza da vitória”.11 A fórmula “está escrito” ocorre pelo
menos setenta vezes no Novo Testamento. Warfield
escreve: “Quando um escritor do NT diz, ‘Está escrito’,
não pode surgir dúvida quanto ao lugar onde deve
ser encontrado o que ele assim alega como possuindo
autoridade absoluta sobre o pensamento e consciência
dos homens. A simples adjunção, neste modo solene e
decisivo, de uma autoridade escrita, carrega a impli-
cação de que o apelo é feito à autoridade indefectível
da Escritura de Deus, a qual, em todas as suas partes
e em cada uma das suas declarações, é coberta com a
autoridade do próprio Deus”.12
A atitude de Jesus com relação à Escritura também
pode ser observada nos seus confrontos com seus
principais oponentes, os escribas e fariseus. Cristo
constantemente os repreendia por não crerem nas
Escrituras e não se submeterem a elas. “Porque, se,
de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim;
porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém,
não credes nos seus escritos, como crereis nas mi-
nhas palavras?” (Jo 5.46-47). (Alguns modernistas
não crêem em Moisés ou nos seus escritos; então, de
acordo com Cristo, como podem crer nele?) Nosso
Senhor repreendeu os fariseus por adicionarem as

27
tradições humanas à palavra de Deus. “Ele, porém, lhes
respondeu: Por que transgredis vós também o manda-
mento de Deus, por causa da vossa tradição?... assim,
invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa
tradição” (Mt 15.3, 6). A declaração de Cristo pressupõe
claramente que a Escritura é o padrão final, único da
doutrina e da ética. Jesus ensinou que as opiniões dos
homens estavam sujeitas ao erro mas que a Escritura
guardava uma autoridade incontestável. Diferente dos
modernistas, nosso Senhor ensinou que os homens não
devem submeter a Escritura às suas opiniões falíveis,
mas sim, submeterem-se à autoridade dada por Deus
à Escritura inerrante. Os modernistas têm anulado a
Escritura, substituindo-a por suas próprias crenças e
opiniões iníquas e até blasfemas. A denúncia de Cristo
aos saduceus se aplica a todos os modernistas: “Errais,
não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”
(Mt 22.29). A resposta de Jesus à falsa doutrina foi “não
tendes lido o que Deus vos declarou” (Mt 22.31; cf. Mc
12.26; Lc 20.37).
Como os modernistas respondem ao fato de que
Jesus cria e ensinava a inspiração e inerrância das Es-
crituras do Antigo Testamento? Os modernistas mais
radicais diriam que Cristo era meramente humano e
estava simplesmente errado com relação à Bíblia. Em
outras palavras, Ele era finito, limitado no conhecimen-
to e sujeito a erros de julgamento, assim como o resto
de nós. Esta visão é grosseiramente não cristã e iníqua.
Outros modernistas, mais preocupados em parecerem
cristãos, argumentam que Ele se acomodou à cultura
e sociedade nas quais vivia. Em outras palavras, Ele
sabia que a Escritura era cheia de erros, mentiras e
mitos, mas Ele simulava que era inerrante porque não
queria preocupar seus ouvintes do primeiro século.
Eles afirmam que se Jesus tivesse vindo no século XX,
seria um modernista e admitiria abertamente que a

28
Bíblia é cheia de erros, lendas e estórias mitológicas.
É esta a resposta modernista para o ensino de Cristo
com relação às Escrituras bíblicas do Antigo Testamen-
to? Ela é racional? A própria idéia de Jesus Cristo (que
é Deus [Mt 1.23; Jo 1.1-3, 14; Rm 9.5], que não pode
mentir [Tt 1.2; Hb 6.18], que é onisciente [Hb 4.13; Rm
11.2]) apelar para uma mentira, ou mito ou para uma
redação de sacerdotes inescrupulosos iníquos para
estabelecer uma doutrina ou ensino ético e apresen-
tar este ensino como palavra de Deus, absolutamente
verdadeira, é uma negação explícita do cristianismo.
Ensinar, como os modernistas fazem, que ainda que
Cristo fosse inconsciente da natureza mitológica do
relato da criação, de Noé e o dilúvio, de Sodoma e
Gomorra e de Jonas e o grande peixe; que Ele propo-
sitadamente mentiu ao povo (atendendo aos ensinos
judaicos errôneos, populares em seus dias, com relação
às Escrituras) é uma negação do Cristo da Bíblia. Um
Jesus que não era Deus, que era pecador, não ético, que
era um mentiroso podre, não pode ser a expiação pelos
pecados dos eleitos. O Cristo modernista não é mais
ético do que um líder de seita aproveitador ou o típico
político democrata (mentiroso habitual). A doutrina da
inerrância bíblica é tão tecida com a doutrina de Cristo
que negar o último logicamente conduz à negação do
primeiro. A inspiração plena e a inerrância bíblica dos
autógrafos é uma questão de céu e inferno.
Além disso, a idéia de que Jesus mentiu proposi-
tadamente ao povo porque não queria ofender seus
equívocos de primeiro século com relação às Escrituras
é ridícula quando observamos o modo como Cristo
ofendeu o povo judeu por todo o seu ministério. Ele
referiu-se aos líderes judeus como guias cegos de cegos
(Mt 15.14), hipócritas (Mt 23.13), filhos do diabo (Jo
8.44) e sepulcros caiados (Mt 23.27). Ele referiu-se ao
povo judeu como raça de víboras (Mt 3.7; 12.34; 23.33;

29
Lc 3.7), e como geração perversa e adúltera (Mt 12.45;
16.4). Ele ensinou uma visão de divórcio muito restri-
tiva e não popular (Mt 19.9). Recusou-se a acomodar
sua própria visão de reino à concepção judaica carnal
do Messias como um ditador e conquistador militar
terreno para transformá-lo em rei (Jo 6.15). Ele parece
ter ofendido propositadamente à multidão quando lhes
disse sobre a necessidade de comerem a sua carne e
beberem o seu sangue (Jo 6.51-56). Quando disse aos
judeus que Ele era igual ao Pai, eles se enfureceram
de tal modo que apanharam pedras para matá-lo (Jo
10.28-39). Sempre que encontrava um falso ensino
entre os judeus, Ele o refutava sem qualquer consi-
deração com a inimizade que isto lhe acarretaria (Mt
5.20ss.; 12.3-8; 15.3-20, etc.). A principal preocupação
de Cristo nunca foi com a popularidade mas com o
estabelecimento da verdade com relação a Si mesmo
e à Escritura. Ele fielmente entregou a mensagem dada
a Ele pelo Pai para o povo. “aquele que me enviou é
verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho ou-
vido, essas digo ao mundo... Eu falo das coisas que vi
junto de meu Pai” (Jo 8.26, 38). Jesus é “o caminho, a
verdade e a vida” (Jo 14.6; cf. Jo 1.14). Ele é “o Amém,
a testemunha fiel e verdadeira” (Ap 3.14; cf. Is 65.16).
Ele não é o falso profeta, mentiroso e fraudulento que
os modernistas apresentam. Você crê no Cristo da Es-
critura ou no falso Cristo dos modernistas?13
6. Um exame do ofício profético revela que Deus
exigiu 100% de exatidão de todos os profetas genuínos.
Qualquer índice menor era uma ofensa passível de
morte. “Porém o profeta que presumir de falar alguma
palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou
o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será
morto. Se disseres no teu coração: Como conhecerei a
palavra que o SENHOR não falou? Sabe que, quando
esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele

30
se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é
palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou
o tal profeta; não tenhas temor dele” (Dt 18.20-22). Se
Deus requeria 100% de exatidão do profeta para que o
profeta fosse um verdadeiro profeta de Jeová, então, de
acordo com a visão modernista do Antigo Testamen-
to, as Escrituras são primariamente a obra de falsos
profetas. Por que então lemos a Escritura, ou temos a
exposição da mesma ou até mesmo vamos à igreja se a
Bíblia não é verdade, se a Bíblia nem mesmo satisfaz o
teste de Deuteronômio 18.20-22? Uma pessoa estaria
numa situação melhor se ficasse na cama do que se
estivesse presente em uma igreja modernista apóstata
incrédula. Além disso, a Bíblia diz que um profeta que
ensina o povo a adorar um deus falso deve ser morto
(Dt 13.1-5). Visto que os modernistas ensinam o povo a
adorar um falso Cristo e um falso deus, eles se colocam
sob uma maldição especial de Deus. Em uma nação
verdadeiramente cristã, eles seriam executados e seus
seminários fechados ou entregues aos verdadeiros
mestres da palavra de Deus.
7. A Bíblia contém muitos mandamentos para não se
adicionar nem retirar coisa alguma da palavra de Deus.
Estes mandamentos pressupõem que a palavra de Deus
é única; que só a palavra de Deus é infalível e munida
de autoridade. A palavra de Deus ensina explicitamente
a Sola Scriptura. “Nada acrescentareis à palavra que
vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis
os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos
mando” (Dt 4.2). “Tudo o que eu te ordeno observarás;
nada lhe acrescentarás, nem diminuirás”(Dt 12.32).
“Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os
que nele confiam. Nada acrescentes às suas palavras,
para que não te repreenda, e sejas achado mentiroso”
(Pv 30.5-6). “Eu, a todo aquele que ouve as palavras
da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer

31
qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos
escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa
das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua
parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas
que se acham escritas neste livro” (Ap 22.18-19).
Se, como os modernistas afirmam, a Bíblia é cheia
de mentiras, mitos e lendas, então, por que a Bíblia
contém tantas advertências severas contra alterações
no texto da palavra de Deus? Se a Bíblia é falível, se
ela é uma mistura de verdade e erro, se contém o
erro e até as alterações manipulatórias desonestas
dos homens (e.g., a teoria J, D, E e P), então as muitas
advertências fortes para não misturar a palavra de
Deus são palavras de tolos iludidos. Mas se a Bíblia é
o que alega ser (a própria palavra de Deus, inerrante
e inspirada), então, ai dos modernistas que zombam
das alegações da Bíblia. Estes falsos mestres “...nuvens
sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena
estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente
mortas, desarraigadas; ondas bravias do mar, que es-
pumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes,
para as quais tem sido guardada a negridão das trevas,
para sempre” (Jd 12-13). Devemos prestar atenção às
palavras do profeta Isaías: “À lei e ao testemunho! Se
eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a
alva” (8.20-RC).
8. A Bíblia contém algumas declarações muito es-
pecíficas de que as Escrituras são inspiradas por Deus.
Duas passagens clássicas sobre o assunto da inspiração
são 2 Timóteo 3.16 e 2 Pedro 1.21.
Em sua segunda epístola a Timóteo (e a última carta
que escreveu), Paulo insiste com Timóteo para que este
mantenha “o padrão das sãs palavras” (2 Tm 1.13) nas
quais havia sido instruído pelo apóstolo. Paulo quer
que Timóteo “transmita a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2). Timóteo

32
deveria se preocupar em “manejar bem a palavra da
verdade” (2 Tm 2.15) e com a sua santificação pessoal
(cf. 2 Tm 2.21-22) porque há muitos que se extraviam
da verdade; que estão envolvidos em “falatórios inúteis
e profanos” (2 Tm 2.16). Timóteo também deveria estar
preparado para o futuro de ilegalidade e perseguição.
Em contraste aos homens maus e falsos mestres que
“irão de mal a pior” (2 Tm 3.13), Timóteo deveria conti-
nuar: 1.) nos ensinos inspirados do apóstolo Paulo (cf. 2
Tm 2.2; 3.10; 3.14) e 2.) nas Sagradas Escrituras (i.e., no
Antigo Testamento). Por quê? Porque “toda Escritura é
inspirada por Deus”. A passagem no contexto imediato
diz: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e
de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste
e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que
podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo
Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para
o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça a fim de que o homem de Deus
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra”.(2 Tm 3.14-17).
Paulo diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus”
(2 Tm 3.16). Este versículo levanta duas questões. O
que Paulo quer dizer com a frase “toda a Escritura” e
com “inspirada por Deus”? O termo Escritura (graphe),
que ocorre mais de cinqüenta vezes no Novo Testamen-
to (no singular ou plural), sempre se refere a todo o
Antigo Testamento (as sagradas Escrituras) ou a uma
passagem do Antigo Testamento (e.g., Mc 12.10). A
palavra grega pasa pode ser traduzida por “toda” (KJV,
NKJV, NASB, NIV, RSV, JB) ou como “cada” (ASV, NEB).
A maioria dos tradutores e comentaristas (pelo menos
os conservadores) preferem traduzir pasa como “toda”
pelas seguintes razões: primeira, a gramática grega
permite (cf. Rm 11.26) e alguns dos maiores estudio-
sos gregos (e.g., C. F. D. Moule) preferem a tradução

33
toda. Segunda, o contexto decididamente favorece a
tradução toda. Paulo havia acabado de dizer a Timó-
teo no versículo 15 que as Sagradas Escrituras (i.e.,
todo o Antigo Testamento) eram capazes de torna-lo
“sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”. Paulo
então prossegue dizendo a Timóteo a razão pela qual
a Escritura era capaz de fazer isto. É porque “toda a
Escritura”, ou todo o Antigo Testamento, é inspirado.
Terceiro, a tradução “cada Escritura” é facilmente inter-
pretada de uma forma que viola o contexto imediato e
a analogia da Escritura. Um modernista poderia dizer
que “cada Escritura inspirada” (NEB) é eficaz, mas
que as Escrituras não inspiradas não são eficazes. Esta
tradução contradiz o versículo 15 (como mencionado
acima) onde Paulo diz que todo o Antigo Testamento
é capaz de tornar uma pessoa sábia para a salvação
e centenas de passagens que ensinam ou indicam a
inspiração do Antigo Testamento. Muitos estudiosos
conservadores (e.g., William Hendriksen, George W.
Knight III, Fairbairn) argumentam que a tradução “cada
Escritura” ainda ensina a inspiração de todo o Antigo
Testamento porque significaria que cada passagem
do Antigo Testamento, ou cada parte componente da
sagrada Escritura é inspirada. O que é importante notar
é que Paulo ensina explicitamente que todo o Antigo
Testamento é inspirado por Deus. Esta única passagem
refuta todo o lixo tolo que emana das instituições de
ensino superior e seminários modernistas (i.e,. centros
de treinamento de Satanás).
A segunda questão é: o que “inspirada por Deus”
significa? Significa que os autores da Escritura ti-
nham um dom especial de inspiração humana como
Shakespeare ou Milton? Significa que a Bíblia tem a
habilidade de inspirar seu leitor? Em 2 Timóteo, não
significa nenhum destes dois. Ambas as visões erram
completamente o alvo. A palavra grega traduzida por

34
“inspirada por Deus” (theopneustos) é uma palavra
composta que contém a palavra para Deus (theos) e o
verbo para respirar (pneo). O verbo tem uma raiz ao-
risto (pneus) com o adjetivo verbal terminando- tos.14
Assim, ela literalmente significa “respirado por Deus.”
A razão pela qual virtualmente todas as traduções em
inglês usam a frase “inspirada por Deus” é porque os
primeiros tradutores para o inglês seguiram a Vul-
gata Latina (inspiratus a Deo) e esta tradição ainda
permanece. O grande estudioso bíblico B. B. Warfield
demonstrou (um tanto conclusivamente) em um artigo
de cinqüenta páginas sobre a palavra theopneustos que
ela deveria ser considerada como uma forma verbal
passiva. Isto significa que a fonte da Escritura é a respi-
ração de Deus. Warfield escreve: “O que é theopneustos
é ‘Deus respirou,’ produzido pela respiração criativa do
Todo Poderoso. E a Escritura é chamada theopneustos
a fim de designá-la como ‘Deus respirou’, o produto
da inspiração divina, a criação do Espírito que está
em todas as esferas da atividade divina, o executivo
da Divindade. A tradução tradicional da palavra pelo
latim inspiratus a Deo é, sem dúvida, desacreditada, se
formos considerá-la ao pé da letra. Ela não expressa
uma respiração por Deus para o interior das Escritu-
ras. Mas a concepção ordinária presa a ela, enquanto
entre os pais e dogmáticos, é, em geral, vindicada. O
que ela afirma é que a Escritura deve sua origem a uma
atividade de Deus, o Espírito Santo, e é no sentido mais
elevado e verdadeiro, sua criação. É nesta base da ori-
gem divina que todos os altos atributos da Escritura são
edificados.”15 A respiração divina refere-se ao Espírito
de Deus que guiou os autores humanos da Escritura de
tal forma que eles escreveram exatamente o que Deus
queria. Paulo escreve: “Mas Deus no-lo revelou pelo
Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta,
até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos

35
homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio
espírito, que nele está? Assim, também as coisas de
Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”
(1 Co 2.10-11). Dizer que toda a Escritura é respiração
de Deus é o mesmo que dizer que toda a Escritura é
palavra de Deus.
O apóstolo Pedro também ensina que a Escritura
é o resultado de uma obra especial do Espírito Santo.
“Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra pro-
fética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia
que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie
e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo,
primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escri-
tura provém de particular elucidação; porque nunca
jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens santos falaram da parte de Deus,
movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.19-21).
A fim de entendermos o versículo 21, devemos
primeiramente considerar o contexto da passagem. O
versículo 21 chega ao fim e é o ponto culminante de
uma seção que lida com o testemunho apostólico com
relação a Jesus Cristo e à natureza da sagrada Escritura
que confirma aquele testemunho (2 Pe 1.16-21). Esta
seção se encontra em uma posição crucial entre: pri-
meiro, uma seção onde Pedro diz aos recebedores da
letra que ele está prestes a morrer e quer lembra-los a
estarem certos da “da verdade já presente convosco” (2
Pe 1.12); e segundo, uma longa seção na qual os rece-
bedores são advertidos com relação aos falsos profetas
e falsos mestre (2 Pe 2.1-22). Pedro então retorna ao
tema da terceira seção com uma discussão sobre os
escarnecedores (2 Pe 3.3ss.). É interessante que duas
passagens clássicas com relação à inspiração e origem
divina da Escritura estejam inseridas no contexto da
necessidade de se continuar na doutrina correta e na
advertência com relação aos falsos mestres. Tanto

36
para Paulo quanto para Pedro, a palavra de Deus é
o único modo de manter a sã doutrina e eliminar os
falsos mestres.
Na seção que contém a discussão de Pedro quanto
à inspiração, ele apresenta sua apologética para a
verdade da fé cristã. Primeiramente, ele apresenta seu
testemunho apostólico. Os apóstolos, ao pregarem o
Evangelho, não estavam seguindo “fábulas engenho-
samente inventadas” (2 Pe 1.16) ou mitos,16 ou men-
tiras humanas. Eles foram testemunhas oculares dos
eventos históricos reais. Pedro destaca a transfiguração
onde ele, Tiago e João foram praticamente cegados
pela glória de Cristo e onde ouviram a voz de Deus, o
Pai, testificando sobre seu Filho amado. Em segundo
lugar, ele volta sua atenção para a natureza da sagrada
Escritura. A Escritura é absolutamente confiável; con-
seqüentemente, ela deve ser obedecida.
Nos versículos 19 a 21, Pedro identifica três coisas
sobre a natureza da Escritura. Primeiramente ele diz,
“Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra proféti-
ca” (2 Pe 1.19). Esta declaração pode ser legitimamente
interpretada de duas formas diferentes. Ela pode sig-
nificar que as predições do Antigo Testamento foram
confirmadas e, assim, tornaram-se certas pelo relato
testemunhal apostólico do cumprimento perfeito da
profecia com relação a Cristo e ao seu reino. Ou pode
significar que a palavra escrita de Deus é ainda mais
certa do que ser uma testemunha ocular de um evento
milagroso. Nisbet escreve: “Ele a chama de uma palavra
mais segura, comparando-a à voz do Céu, mas porque
é maior ter previsto e profetizado as coisas futuras do
que ter visto e relatado as maiores coisas presentes. E
porque uma voz transitória é mais facilmente passível
de erro ou esquecida do que um registro autêntico
permanente, assim a palavra escrita é uma base mais
segura para o pecador colocar a sua fé do que uma voz

37
do céu poderia ser”.17
Em segundo lugar, Pedro diz: “nenhuma profecia
da Escritura provém de particular elucidação” (2 Pe
1.20). Esta declaração é interpretada de várias formas
diferentes. Em nome da brevidade, iremos considerar
duas das melhores interpretações.
A primeira, que é parcialmente refletida na maio-
ria das traduções inglesas, considera a palavra grega
epilyseos como interpretação. A palavra tem o signi-
ficado básico de desligar, libertar ou desatar algo e,
neste contexto, carrega o significado metafórico de
explicar ou interpretar a Escritura. Por esta razão, o
ponto de Pedro é que ninguém deve impor sua própria
imaginação ou fantasias sobre a Escritura mas deve
deixar que a Escritura interprete a Escritura “porque
o Espírito, que falou através dos profetas, é o único e
verdadeiro intérprete de si mesmo”.18 De acordo com
esta interpretação, Pedro repreende os falsos mestres
que se precipitam na Escritura com todos os tipos de
idéias fantásticas. A Escritura é única. Como livro divi-
namente inspirado, ela deve ser tratada com reverência
e cuidado especiais.
A segunda interpretação considera a palavra epi-
lyseos como se referindo à origem ou fonte. Assim, o
significado é que “nenhuma profecia da Escritura é
resultado de revelação privada”,19 ou “origina-se ou
surge como o resultado de qualquer determinação
privada”.20 Esta interpretação encaixa-se belamente
no versículo 21. Pedro está dizendo que a profecia não
é algo que os profetas inventaram ou sugeriram. Pelo
contrário, estes homens falaram porque foram movidos
ou levados pelo Espírito Santo (o versículo 21 explica
o versículo 20).
Pedro completa sua consideração sobre a Escritura
com uma explicação da inspiração divina. “porque
nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade

38
humana; entretanto, homens santos falaram da parte
de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21). O
apóstolo refuta explicitamente a visão modernista
de inspiração. Pedro diz que a profecia ou revelação
divina nunca foi dada, brotou ou originou-se como
resultado da vontade do homem. Contrário em muito
do pensamento religioso moderno, a Bíblia não é ape-
nas uma coleção de escritos de homens que tiveram
experiências religiosas maravilhosas e encontros com
Deus. Ela não é um registro da sabedoria, perspicácia
e discernimento humano. Não é um registro do que
homens sábios pensaram que iria acontecer. Não é
uma redação de sacerdotes corruptos, famintos por
poder ou oficiais da igreja dos séculos II e III inclinados
a moldarem Cristo às suas próprias imagens. A única
profecia que surge como resultado da vontade humana
é a falsa profecia. “Assim diz o SENHOR dos Exércitos:
Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre
vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam
as visões do seu coração, não o que vem da boca do
SENHOR” (Jr 23.16; cf. 14.14). “Filho do homem, pro-
fetiza contra os profetas de Israel que, profetizando,
exprimem, como dizes, o que lhes vem do coração. Ouvi
a palavra do SENHOR! Assim diz o SENHOR Deus: Ai
dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito
sem nada ter visto!” (Ez 13.2-3).
Pedro diz que a profecia genuína veio porque “ho-
mens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo
Espírito Santo”. O que Pedro quer dizer com homens
movidos pelo Espírito Santo? A palavra traduzida por
movidos (pheromenoi) significa ser carregado ou
dirigido. É a mesma palavra usada para descrever um
navio arrastado pelo vento em Atos (cf. 27.15, 17). O
Espírito de Deus veio sobre os profetas e apóstolos e
os arrastou. O Espírito Santo lhes deu uma revelação
especial e os controlou de tal forma para garantir que

39
aquilo que iriam dizer ou escrever era a própria palavra
de Deus. “Os autores humanos foram poderosamente
guiados e dirigidos pelo Espírito Santo. Como resulta-
do, o que escreveram não é apenas sem erro mas de
valor supremo para o homem. É tudo o que Deus queria
que fosse. Constitui a regra infalível de fé e prática para
a humanidade”21 . Smeaton escreve: “Eles permane-
ceram silenciosos até receberem a comunicação do
Espírito, ou o impulso claro do Espírito (Jr 1.17); em
outras palavras, eles não começaram até os portões
serem abertos e serem ordenados a correr. O Espírito
não lhes deu o dom como um hábito permanente, ou
como uma riqueza tão preservada que poderiam sacar
de acordo com a própria sabedoria. Ele lhes deu luz
e comunicações divinas para o propósito oficial no
qual toda inspiração foi útil apenas em determinadas
épocas; e Ele assim os moveu para que não pudessem
falar ou escrever senão o que o Espírito queria que
declarassem”.22 Dr. Martin Lloyd-Jones nos fala do sig-
nificado da declaração de Pedro. Ele escreve: “Fomos
preparados por Pedro nesta forma explícita quanto à
grande doutrina do Antigo e do Novo Testamentos, a
doutrina da revelação. A alegação feita aqui é a de que
Deus se agradou em sua infinita compaixão e conden-
sação em falar aos homens. A alegação feita para este
livro é a de que ele é absolutamente único, que não há
outro livro no mundo como ele. Todos os outros livros
são produções de homem; eles são o resultado da von-
tade, do entendimento, do discernimento do homem.
Mas aqui está um Livro que alega ser o registro de Deus
falando. E ele alega isto com relação à mensagem–re-
velação — e também com relação ao modo como esta
mensagem foi registrada — inspiração”.23
Embora a doutrina da inspiração da Escritura seja
claramente ensinada na Bíblia, há alguns tópicos que
precisam ser discutidos a fim de apurarmos o nosso

40
entendimento desta doutrina. Em primeiro lugar, a
inspiração se aplica à Bíblia como um todo e não apenas
às revelações dadas aos profetas por visões, sonhos
ou linguagem. As seções históricas, poesia, provér-
bios, epístolas, etc. são inspirados. Uma passagem da
Escritura não tem que ser ditada por Deus para ser
inspirada e munida de autoridade. Conseqüentemen-
te, estas seções da Escritura que não são o resultado
de uma visão direta ou voz de Deus, vieram através
de uma superintendência especial do Espírito Santo.
(Isto nos leva ao nosso próximo ponto). Em segundo
lugar, a Bíblia não ensina o que tem sido chamado de
teoria ditada da inspiração. Isto é, os escritores da
Escritura não foram usados como robôs, nem foram
meros amanuenses (escrivãs). As Igrejas Reformadas
sempre sustentaram (justamente) o que é chamado de
visão orgânica da inspiração bíblica. Isto significa que o
Espírito Santo operou sobre os escritores da Bíblia de
tal forma a preservar o exercício natural de suas facul-
dades. Assim, todas as peculiaridades da cada autor são
preservadas. Cada autor tem sua própria experiência
de vida, personalidade, e estilo de escrita que estão
refletidos nas suas obras escritas. A Bíblia é o produto
tanto da agência de Deus quanto da do homem; no en-
tanto, o Espírito Santo trabalhou ao mesmo tempo nos
autores e através deles para produzir soberanamente
um resultado perfeito, infalível. Hendriksen faz uma
descrição excelente deste processo: “Ao faze-lo nascer
em um determinado tempo e lugar, concedendo-lhe
dons específicos, equipando-o com um tipo definido de
educação, causando-o a passar por experiências pre-
determinadas, e fazendo-o lembrar-se de certos fatos e
suas implicações, o Espírito preparou sua consciência
humana. Depois, o mesmo Espírito o moveu a escrever.
Finalmente, durante o processo de escrita, o mesmo
Autor Primeiro, em uma conexão orgânica perfeita com

41
toda a atividade precedente, sugeriu à mente do autor
humano a linguagem (as próprias palavras!) e o estilo,
o qual seria o veículo mais apropriado para a interpre-
tação das idéias divinas para as pessoas de cada nível
e posição, idade e raça. Daí, embora cada palavra seja
verdadeiramente palavra do autor humano, é ainda
mais verdadeiramente a Palavra de Deus”.24
Em terceiro lugar, a inspiração de Deus estende-se
não apenas aos pensamentos dos autores bíblicos mas
também às próprias palavras. Os teólogos referem-se
a isto como inspiração verbal. 1.) Os escritores do
Novo Testamento e o próprio Jesus fizeram distin-
ções teológicas e argumentos baseados em uma única
palavra. Como notado anteriormente, Jesus baseou
todo um argumento em uma única palavra “deuses”
(Jo 10.34,35). Em Gálatas 3.16, Paulo baseia todo um
argumento teológico no fato de uma palavra estar no
singular (semente) e não no plural (sementes). Cristo
e os apóstolos criam na exatidão da Escritura até nos
mínimos detalhes. 2.) A Bíblia diz especificamente
que as próprias palavras da Escritura são do Espírito
de Deus. “Disto também falamos, não em palavras en-
sinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo
Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais”
(1 Co 2.13; cf. 1 Ts 2.13). Jesus disse, “Passará o céu e
a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mc
13.31). “Assim diz o SENHOR: Põe-te no átrio da Casa
do SENHOR e dize a todas as cidades de Judá, que vêm
adorar à Casa do SENHOR, todas as palavras que eu te
mando lhes digas; não omitas nem uma palavra sequer”
(Jr 26.2). 3.) A idéia (comum entre aqueles que susten-
tam a teoria da inspiração parcial) de que os pensa-
mentos dos escritores bíblicos foram inspirados mas
que as próprias palavras não eram inspiradas é ilógica.
Como pensamentos infalivelmente verdadeiros podem
ser expressos com palavras inexatas, não verdadeiras?

42
Pensamentos são compostos de palavras individuais.
Pensamentos inerrantes só podem ser assegurados e
preservados por palavras inspiradas, infalíveis.
9. O Novo Testamento não apenas prova a inspira-
ção e autoridade do Antigo Testamento mas também
testifica quanto à sua própria inspiração. Este ponto
precisa ser dito porque zombadores modernistas
algumas vezes admitem que a evidência bíblica para
a inspiração e infalibilidade do Antigo Testamento é
muito forte. (No entanto, ainda não crêem nela ou não
se submetem à sua autoridade). Mas eles argumentam
que não há evidência para a inspiração e autoridade
do Novo Testamento.
Há muitas razões pelas quais devemos aceitar a
autoridade e inspiração completa do Novo Testa-
mento. Em primeiro lugar, os apóstolos tinham um
chamado único, missão e autoridade vindos de Cristo
(Mt 10.40-41; At 1.21-22; 1 Co 9.1; 15.7-8), através do
qual receberam revelações especiais do Espírito (Ef
3.3-5) e dons especiais de sinais (At 14.3; Hb 2.3-4).
Jesus prometeu aos apóstolos que eles seriam guiados
de forma sobrenatural pelo Espírito Santo durante os
momentos mais difíceis e cruciais de seus ministérios
(cf. Mt 10.19; Lc 12.12; Jo 14.16; 15.26; 16.7, 14). Os
apóstolos tinham a responsabilidade única de estabe-
lecer as primeiras igrejas e de colocar os fundamentos
da instrução para todas as gerações subsequentes (Ef
2.20ss.). Os apóstolos e seus associados próximos (que
eram os profetas) receberam inspiração total: para
contarem perfeitamente a história do ministério de
Cristo; para darem a interpretação de Deus da pessoa
e obra de Cristo; para apresentarem novas leis com
relação ao governo, disciplina da igreja, etc.
Em segundo lugar, há passagens específicas que pro-
vam que o Novo Testamento é divinamente inspirado
e totalmente dotado de autoridade. Paulo disse aos

43
efésios, “Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de
Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes
ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus
a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma
revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme
escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando
ledes, podeis compreender o meu discernimento do
mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi
dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora,
foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no
Espírito” (Ef 3.1-5). Deus, pelo seu Espírito, comuni-
cou diretamente a Paulo as verdades que antes eram
desconhecidas aos homens. Paulo recomendou a igreja
de Tessalônica dizendo: “Outra razão ainda temos
nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que,
tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que
é de Deus, acolhestes não como palavra de homens,
e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual,
com efeito, está operando eficazmente em vós, os que
credes” (1 Ts 2.13). Assim como os profetas do Antigo
Testamento que falaram as palavras de Jeová, Paulo
podia dizer que Cristo estava falando nele (2 Co 13.3).
As coisas que Paulo ensinava não eram originárias da
sabedoria humana mas eram ensinamentos do Espírito
Santo (1 Co 2.14).
Uma passagem (escrita aproximadamente 30 anos
depois do Pentecostes) que coloca o então (ainda em
formação) embrionário cânon do Novo Testamento no
mesmo nível das Escrituras do Antigo Testamento é 2
Pe 3.15-16: “como igualmente o nosso amado irmão
Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi
dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato,
costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há
certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e
instáveis deturpam, como também deturpam as demais
Escrituras”. Esta é uma alegação surpreendente. “Pedro

44
coloca aqui os escritos do apóstolo Paulo, e conseqüen-
temente seus próprios escritos, em igualdade com as
Escrituras do Antigo Testamento.”25
Anteriormente, Pedro havia ensinado que os após-
tolos tinham a mesma autoridade que os escritores do
Antigo Testamento. “Amados, esta é, agora, a segunda
epístola que vos escrevo; em ambas, procuro despertar
com lembranças a vossa mente esclarecida, para que
vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram
ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento
do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos”
(2 Pe 3.1-2). Por que os escritos apostólicos do Novo
Testamento têm a mesma autoridade sobre a igreja dos
escritos sagrados do Antigo Testamento? A resposta é
que ambos foram inspirados ou respirados por Deus
e, assim, são igualmente palavra de Deus. Afirmar
algo contrário é argumentar que os mandamentos dos
apóstolos foram arbitrários e que o cristianismo é um
blefe, uma mera invenção humana.
Só a inspiração total pode responsabilizar-se pelas
declarações de autoridade absoluta nas epístolas.
Paulo disse, “retendes as tradições assim como vo-las
entreguei” (1 Co 11.2). Note, a autoridade divina por
trás da declaração do apóstolo: “É assim que ordeno
em todas as igrejas” (1 Co 7.17). Note também o modo
como Paulo apresenta a lei absolutamente munida de
autoridade com relação ao divórcio: “Aos mais digo eu,
não o Senhor [i.e., Jesus durante seu ministério terreno
de ensino, cf. 1 Co 7.10-11]: se algum irmão tem mulher
incrédula, e esta consente em morar com ele, não a
abandone... Mas, se o descrente quiser apartar-se, que
se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem
o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz”
(1 Co 7.12, 15). Paulo deu ordens a todas as igrejas:
“Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como
ordenei às igrejas da Galácia” (1 Co 16.1). Exemplos

45
poderiam ser multiplicados, no entanto o ponto já foi
estabelecido. As epístolas têm uma autoridade “Assim
diz o Senhor”. Então, a advertência de Paulo à igreja
de Tessalônica se aplica a todos os modernistas que
rejeitam os ensinos da Bíblia como palavras de homens.
“Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o ho-
mem, e sim a Deus, que também vos dá o seu Espírito
Santo” (1 Ts 4.8).
10. A doutrina da inspiração, inerrância e autorida-
de da Bíblia repousa na doutrina de Deus. Se Deus é
absolutamente soberano (Gn 14.19; Ex 18.11; Dt 10.14,
17; Jr 27.5; Ap 19.6, etc.), conhece todas as coisas (Hb
4.13; Rm 11.33) e não pode mentir (Hb 6.18) ou mudar
(Sl 102.27; Tg 1.17), então tudo o que Ele diz deve ser
absolutamente verdadeiro. A idéia de que Deus existe
mas não pode se revelar à humanidade de forma pro-
posicional; ou que Deus não tem a capacidade para
controlar o elemento humano da escrita das Escrituras
de tal forma a produzir autógrafos inerrantes, é sim-
plesmente uma negação de que o Deus da Bíblia existe.
A posição modernista (logicamente) tem apenas
duas visões alternativas de Deus que se encaixam
na sua posição de Escritura. Eles podem argumentar
que Deus nunca pretendeu soberanamente produzir
uma Bíblia inspirada, inerrante. Esta posição retém o
ensino bíblico de que Deus é soberano mas não pode
manter a veracidade de Deus. Por quê? Porque o Deus
modernista não usa o seu poder soberano para parar
os profetas e apóstolos quando dizem que a Bíblia é
inspirada e inerrante. Esta posição afirma que Deus
enganou propositadamente seu próprio povo pactual.
Tal Deus é um mentiroso e não pode ser confiado. A
outra posição que os modernistas podem defender é
a de que Deus não pode mentir, mas não é soberano
e, então, não pode ser considerado responsável pelas
alegações da Escritura com relação a Si mesmo. Tal

46
Deus, no entanto, é finito. O dilema modernista é que
sua posição com relação à inerrância bíblica não pode
ser divorciada da idolatria. Eles têm que criar falsos
deuses para manter sua posição. Querido leitor, você
deve rejeitar as especulações idólatras modernistas e
seguir a Cristo que disse: “a tua palavra é a verdade”
(Jo 17.17).

Conclusão
Desta breve consideração do modernismo e da
inspiração e autoridade das sagradas Escrituras,
aprendemos duas coisas importantes. Primeiramente,
o modernismo foi exposto como uma versão falsificada
do cristianismo. Os modernistas têm seguido seu pai,
o demônio, ao desafiarem a veracidade e autoridade
da palavra de Deus. Quando Satanás quis que Adão e
Eva pecassem contra Deus, a primeira coisa que ele
fez foi atacar a palavra de Deus. Sua semente sutil de
dúvida- “É assim que Deus disse: Não comereis de
toda árvore do jardim?” (Gn 3.1) levou rapidamente a
uma negação direta – “É certo que não morrereis” (Gn
3.4). A principal tática de Satanás ao buscar destruir
o cristianismo tem sido atacar a Bíblia. Isto tem sido
feito através de um ataque aberto e perseguição onde
Bíblias são confiscadas e destruídas. Tem sido feito por
hereges e líderes de seitas que adicionam e subtraem
da Escritura. Tem sido feito por religiosos importantes
que colocam a Bíblia de lado em favor de tradições
humanas. O modernismo é a pedra superior, a maior
e mais sutil realização de Satanás em seu ataque às
sagradas Escrituras, porque o modernismo destrói a
Bíblia em nome da ciência, objetividade, sabedoria e
verdade. Satanás tem dissimulado o modernismo de
forma bem sucedida o qual é subjetivo, irracional, mís-
tico, apóstata, incrédulo e condenável como um cam-
peão do cristianismo. Infelizmente, muitas pessoas que

47
preferem ser amadas pelo mundo antes de por Deus,
que tem prazer na hipocrisia, que estão apaixonadas
pelos seus pecados, abraçam este cristianismo falsifi-
cado. O liberalismo cristão, no entanto, traz consigo, o
seu próprio julgamento, porque sua visão da Escritura
deixa os homens sem esperança, nenhuma segurança
e nenhuma boa nova. “Não havendo profecia, o povo
se corrompe” (Pv 29.18). Os modernistas adoram um
Deus desconhecido e incognoscível. A salvação ofereci-
da pelo modernismo é uma especulação vaga baseada
no pensamento desejado. Nossa única esperança é
Jesus Cristo e o único caminho no qual aprendemos,
cremos e confiamos no precioso Salvador é aprender
primeiramente e crer nas palavras de Cristo — a Bíblia.
Em segundo lugar, aprendemos que a Bíblia é ins-
pirada (respiração de Deus), infalível (i.e., inerrante)
e munida de autoridade. A Bíblia é absolutamente
verdadeira em tudo o que fala (espiritual, histórica,
cientificamente, etc.). “Porque a Bíblia é a Palavra de
Deus, ela é a corte final de apelação em todas as coisas
pertinentes à doutrina, obrigação e comportamento
[conduta]”26 . A Escritura perfeita, infalível, inspirada
é o resultado da bondade e misericórdia perfeitas de
Deus. Jeová não deu ao seu povo um livro defeituoso,
fraudulento. Ele nos deu um livro que merece toda a
nossa confiança. “ela é a ‘semente’ na qual nascemos
de novo (1 Pe 1.23), a ‘luz’ pela qual somos dirigidos
(Sl 119.105), o ‘alimento’ no qual somos alimentados
(Hb 5.13,14) e a ‘base’ na qual somos edificados (Ef
2.20)”.27 Porque a Bíblia é o que é, ela é absolutamente
necessária para a salvação, porque nela o filho de Deus
é infalivelmente revelado à humanidade. Ela é abso-
lutamente necessária para a santificação porque nela
estão os preceitos morais de Deus. Porque a Bíblia é o
que é, ela tem autoridade absoluta sobre nós. Ignorar
a palavra de Deus é ignorar o próprio Deus. A Bíblia

48
deveria ser nossa companhia constante. Deveríamos
estudá-la diligentemente e prestar atenção em todos
os seus preceitos. “A Bíblia é o Livro pelo qual devemos
viver e morrer. Assim, leia a Bíblia para ser sábio, creia
nela para ser salvo, pratique-a para ser santo”.28 “Seca-
-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus
permanece eternamente” (Is 40.8).

49
NOTAS:

1 “A batalha pela Bíblia neste século XX (juntamente


com a década anterior) pode ser esquematizada em
três períodos. Primeiro (1893) foi a condenação e
suspensão pela Igreja Presbiteriana nos E.U.A. de
Charles Augustus Briggs por manter que a Bíblia
afirma falsidades. Segundo foi a Afirmação Auburn [a
Afirmação Auburn foi escrita em 1923 primeiramente
por Henry Sloane Coffin e Robert Hastings Nichols. Ela
foi assinada por 149 ministros modernistas na PCUSA.
Em 1924 foi publicada e eventualmente assinada por
mais de 1200 ministros modernistas. Este documento
negava explicitamente a inerrância da Escritura]. O
terceiro é a renovação destas posições no livro agora
sob consideração [Biblical Authority, 1977]. Este livro
foi estimulado pela publicação de Harold Lindsell, The
Battle for the Bible (Zondervan, 1976). Mas o presente
ataque à Bíblia começou com a reorganização do
Fuller Seminary e a reorganização de todos ou da
maioria do seu corpo docente ortodoxo” (Gordon H.
Clark, The Concept of Biblical Authority [Philipsburg,
NJ: Presbyterian and Reformed, 1980], p.1).
2 Greg L. Bahnsen, “The Inerrancy of the Autographa”
em Norman L. Geisler, ed., Inerrancy,(Grand Rapids,
MI: Zondervan, 1980), pp. 152-153.
3 Capítulo I, Seção V.
4 Greg L. Bahnsen, Van Til’s Apologetic: Readings and
Analysis (Philipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed,
1988), pp. 201-202.
5 G. W. Bromiley, “Word, Word of the Lord” em Merrill C.
Tenney, ed., The Zondervan Pictorial Encyclopedia of
the Bible (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1975), 5:957.
6 B. B. Warfield, The Inspiration and Authority Of The
Bible (Philipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed,
1948), p. 301. Warfield, em um estudo prolongado so-

50
bre a frase do Novo Testamento “os oráculos de Deus”,
argumenta decisivamente que tal frase quis dizer que
os escritores do N.T. consideravam toda a Escritura do
Antigo Testamento como “a própria palavra de Deus.”
Ele escreve: “Provavelmente parecerá razoável para a
maioria, interpretar Rm 3.2 como certo, Hb v.12 como
provável e At 7.38 como provavelmente uma referência
às Escrituras escritas; e como testemunho prestado
à concepção deles por parte dos escritores do Novo
Testamento como “os oráculos de Deus”. Isto é, temos
evidência discreta e convincente aqui de que a Escritu-
ra do Antigo Testamento, como tal, foi estimada pelos
escritores do Novo Testamento como um livro oracular,
o qual não meramente contém, mas é a “expressão”,
a própria Palavra de Deus, e devemos recorrer a ela
como tal, e como tal submetermo-nos a ela, porque
nada é além da palavra cristalizada de Deus” (The
Inspiration and Authority of the Bible, p. 406).
7 Ibid. pp. 299-300.
8 William Hendriksen, The Gospel of John (Grand Ra-
pids, MI: Baker, 1953), p. 128.
9 A. W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Grand
Rapids, MI: Zondervan, 1975 [1954]), 2:149.
10 E. W. Hengstenberg, Commentary on the Gospel
of John (Minneapolis, MN: Klock and Klock, 1980
[1865]), 1:542.
11 João Calvino, Commentary on a Harmony of the
Evangelists (Grand Rapids, MI: Baker, 1981), 16.214.
12 B. B. Warfield, The Inspiration and Authority of the
Bible, p. 240.
13 A posição modernista é também a negação da
realeza ou reinado mediador de Cristo. Depois da
ressurreição, Jesus, o Messias teantrópico, se tornou
o rei exaltado sobre todas as coisas no céu e na terra
(Mt 28.18; At 2.24-36; Rm 1.4). Antes da ascensão,
ele mandou seus discípulos fazerem discípulos das

51
nações “ensinando-os a guardar todas as coisas que
vos tenho ordenado” (Mt 28.20). Visto que Jesus é o
autor de toda a Escritura através do Espírito Santo, e
Ele mesmo ensinou a inspiração e inerrância da Bíblia,
então a Bíblia é um livro para ser usado no discipulado
das nações. Cristo é o rei que governa pelo Espírito
Santo e pela palavra de Deus. A Bíblia é a lei em
palavras de nosso rei sobre as nações. No entanto,
os modernistas apresentam um rei sem lei real. Se a
Bíblia é cheia de mentiras, mitos e lendas e não pode
ser confiada, então ela não pode servir como nosso
projeto para o domínio religioso. Assim, ninguém de-
veria se surpreender ao descobrir que os modernistas
buscam o domínio através do poder do estado. Eles
têm abraçado a religião do homem - o humanismo
secular. Como resultado, virtualmente em cada tema
maior, sustentam uma posição diametralmente opos-
ta à Bíblia (e.g., apóiam o aborto por exigência, o
socialismo, o infanticídio, a eutanásia, os direitos de
sodomitas e lésbicas, o feminismo radical, a adoração
à terra, o ambientalismo, a oposição à pena de morte,
etc.). Não há neutralidade. À parte de Deus falando
infalível e autoritariamente à humanidade através da
Bíblia, as pessoas são abandonadas no misticismo, no
existencialismo e estadismo. North escreve: “a religião
poderosa é uma religião da autonomia do homem. Ela
procura poder ou riqueza a fim de tornar esta alegação
crível. Na hierarquia da autoridade cósmica, não pode
haver apelo judicial eficaz, significativo além da huma-
nidade na história” (Crossed Fingers: How the Liberals
Captured the Presbyterian Church [Tyler, TX: Institute
for Christian Economics, 1996], p. 47). Ao destruir a
autoridade bíblica, os modernistas cortaram toda a
comunicação com Deus. Eles não podem assassinar
os verdadeiros profetas de Deus como seus predeces-
sores apóstatas fizeram em Israel, assim eles matam

52
a Bíblia e a sua autoridade.
14 George W. Knight, The Pastoral Epistles (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1992), p. 446.
15 B. B. Warfield, The Inspiration and Authority of the
Bible, p. 296.
16 “A palavra fábulas (muthoi) carrega um sentido pejo-
rativo na linguagem religiosa de tempo; ela sustenta
estórias imaginárias sobre deuses, a criação do mun-
do, acontecimentos miraculosos, etc.” (J. N. D. Kelly,
The Epistles of Peter and of Jude [Peabody, MA: Hen-
driksen, 1969], p. 316. Pedro, ao refutar os incrédulos,
zombadores e céticos de seus dias, também refuta os
modernistas de nossos dias. Os modernistas ensinam
exatamente o oposto do que Pedro diz. Eles afirmam
que a igreja primitiva seguiu dissimuladamente os
mitos inventados sobre a criação, dilúvio, Jonas e o
peixe, destruição de Sodoma, nascimento virginal de
Cristo, milagres de nosso Senhor e ressurreição cor-
poral de Cristo. Todo o ponto de Pedro no versículo 16
é que os apóstolos estavam pregando fatos históricos
— eventos reais. A tática modernista comum de argu-
mentar que “se os eventos miraculosos do Evangelho
realmente aconteceram não é importante porque o que
importa é o efeito existencial religioso destas histórias”
é sempre dissipada (desfeita) pelo apelo de Pedro à
efetividade histórica de espaço e tempo.
17 Alexander Nisbet, 1 and 2 Peter (Carlisle, PA: The
Banner of Truth Trust, 1982 [1658]), p. 239.
18 João Calvino, Commentary on the Second Epistle of
Peter (Grand Rapids, MI: Baker, 1981), 22:389.
19 A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament
(Grand Rapids, MI: Baker, n.d. [1993]), 6:158.
20 D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter
(Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1983 [1948-
1950]), p. 95. “Consequentemente, 1.20 deveria ser
traduzido por, ‘Nenhuma profecia escrita veio a existir

53
por qualquer libertação da mesma pelo indivíduo [ou,
de forma mais literal], por libertação privada. Porque...,’
etc. Pedro está afirmando a ausência completa de
iniciativa humana na revelação. A revelação é iniciada
por Deus. Assim, visto que Deus revelou a mensagem
a Moisés ou Isaías, ela deve ser verdadeira e, por
essa razão, munida de autoridade” (Gordon H. Clark,
The Holy Spirit [Jefferson, MD: The Trinity Foundation,
1993], p. 30).
21 William Hendriksen, Thessalonians, Timothy and Titus
(Grand Rapids, MI: Baker, 1979), 2:302.
22 George Smeaton, The Doctrine of the Holy Spirit
(Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 1974 [1881]),
p 149.
23 D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter,
p. 98.
24 William Hendriksen, Thessalonians, Timothy and
Titus, 2:302.
25 D. M. Lloyd-Jones, Expository Sermons on 2 Peter,
p. 212.
26 A. W. Pink, The Divine Inspiration of the Bible (Grand
Rapids, MI: Baker, 1996 [1976]), p. 104.
27 Francis Turretin, Institutes of Elentic Theology
(Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1992
[1696]), 1:55.
28 A. W. Pink, The Divine Inspiration of the Bible, p. 108.

54
O
MODERNISMO
A INERRÂNCIA
EE A

BÍBLICA
O Pastor Brian Shwertley analisa o liberalismo teológico e
nos adverte quanto à sua gravidade ainda nos nossos
dias:

“Um dos maiores inimigos do cristianismo atual é o


modernismo ou liberalismo cristão. Na verdade, poderia
se dizer que o liberalismo cristão tem causado mais
danos às denominações e instituições protestantes no
séc. XX do que qualquer outro movimento herético. O
que é o liberalismo cristão? O liberalismo cristão é parte
de um movimento religioso, político e cultural mais
amplo na Europa (em primeiro lugar) e então na América,
que tem sua base na visão de mundo humanista secular.
A razão pela qual os historiadores e teólogos referem-se
ao liberalismo cristão como modernismo é o fato de que
os liberais cristãos têm comprado e adotado a visão de
mundo secular moderna. Eles têm adaptado seus
ensinamentos para refletirem o espírito desta era. O que
ocorreu com as denominações que adotaram o
modernismo foi uma erosão séria da fé em Cristo e o
emparelhamento da Bíblia com a nova fé nos
pressupostos do progressivismo e naturalismo. Isto
envolveu a fé na humanidade... novas formas de
modernismo ainda estão destruindo as instituições
cristãs... e denominações”.

56

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