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Física II

SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA


- Máquinas térmicas
- Refrigeradores
- Bombas térmicas

Jorge Costa
jorge.costa@iseclisboa.pt 1
Segunda lei da termodinâmica

Apesar da primeira lei da termodinâmica ser muito importante, não faz a


distinção entre os processos que ocorrem espontaneamente e os que não
ocorrem. Apenas alguns tipos de transformação de energia e processos de
transferência de energia ocorrem realmente na natureza, pelo que a segunda
lei da termodinâmica estabelece que processos ocorrem e que processos não
ocorrem.

A segunda lei da termodinâmica refere-se, portanto, à possibilidade ou


impossibilidade de se utilizar a energia.

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Segunda lei da termodinâmica

Máquinas térmicas
Uma máquina térmica absorve energia na forma de calor e converte-o
parcialmente em outras formas, tais como energia eléctrica e energia mecânica.
Num processo típico de produção de electricidade numa central térmica (a carvão
ou a outro combustível) a energia interna resultante é utilizada para converter
água em vapor. O vapor é então direcionado para as pás de uma turbina. A energia
mecânica associada à rotação da turbina é utilizada para accionar um gerador
eléctrico.

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Segunda lei da termodinâmica

Numa outra máquina térmica - o motor de combustão interna de um automóvel -


a energia entra no motor quando o combustível é injetado no cilindro e
queimado, e uma fracção dessa energia é convertida em energia mecânica.

De um modo geral, uma máquina térmica transporta uma substância capaz de


realizar trabalho através de um processo cíclico, durante o qual:
1) a energia é transferida pelo calor proveniente de uma fonte a alta
temperatura,
2) o trabalho é realizado pelo motor,
3) a energia é expelida do motor através do calor para uma fonte a baixa
temperatura.

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Segunda lei da termodinâmica

Consideremos a operação de um motor a vapor, no qual a substância capaz de


realizar trabalho é a água. Esta é levada através de um ciclo, no qual é convertida
em vapor numa caldeira e depois expandida contra um pistão. Após a
condensação, a água retorna à caldeira e o processo é repetido.
O motor absorve energia Qh do reservatório quente,
realiza trabalho Weng, e então transfere energia Qc
para o reservatório frio. (Note que é realizado
trabalho negativo no motor, de modo que W = –Weng).
Uma vez que a substância capaz de realizar trabalho
passa por um ciclo, retornando ao seu estado
termodinâmico inicial, as suas energias internas
inicial e final são iguais, então U = 0. A partir da
primeira lei da termodinâmica obtém-se,
U = 0 = Q + W  Qlíquido = –W = Weng 5
Segunda lei da termodinâmica

U = 0 = Q + W  Qlíquido = –W = Weng

A última equação mostra que o trabalho realizado por um motor térmico


equivale à energia líquida absorvida pelo motor. Através da Figura anterior é
possível observar que Qlíquido = |Qh| – |Qc|.
Assim ,
Weng = |Qh| – |Qc|

Se a substância capaz de realizar trabalho for um gás, então o trabalho realizado


pelo motor para um processo cíclico corresponde à área delimitada pela curva
que representa o processo num diagrama PV.
A eficiência térmica, e, de uma máquina térmica é definida como o trabalho
realizado pelo motor, Weng, dividido pela energia absorvida durante um ciclo:

𝑾𝒆𝒏𝒈 𝑸𝒉 − 𝑸𝒄 𝑸𝒄
𝒆= = =𝟏−
𝑸𝒉 𝑸𝒉 𝑸𝒉 6
Segunda lei da termodinâmica

Exercício 69
Durante um ciclo, um motor extrai 2,00x103 J de energia de um reservatório
quente e transfere 1,50x103 J para um reservatório frio. Determine:
a) a eficiência térmica do motor. R: 25%
b) o trabalho realizado pelo motor em cada ciclo. R: 500 J

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Segunda lei da termodinâmica

Exercício 70
Uma máquina térmica contém um gás monoatómico ideal confinado num cilindro por um
pistão móvel. O processo começa em A, onde T = 3,00x102 K (ver Figura). O processo B  C
corresponde a uma expansão isotérmica.
a) Determine o número de moles de gás e a temperatura em B. R: 0,203 mol; 901 K
b) Determine U, Q, e W para o processo isovolumétrico A  B. R: 1,52x103 J; 1,52x103 J; 0
c) Repita para o processo isotérmico B  C. R: 0; 1,68x103 J; 1,68x103 J
d) Repita para o processo isobárico C  A. R: –1,52x103 J; –2,53x103 J; –1,013x103 J;
e) Determine U líquida para o ciclo completo. R: 0
f) Determine Qh, Qc, e e Weng líquido realizado pelo motor. R: 3,20x103 J; –2,53x103 J; 0,209;
667 J

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Segunda lei da termodinâmica

Refrigeradores e bombas de calor


As máquinas térmicas também podem funcionar em
sentido inverso. Neste caso, a energia é injetada no
motor, resultando numa extração de energia do
reservatório frio para o reservatório quente.

O sistema opera agora como uma bomba de calor, sendo


um exemplo comum um frigorífico. A energia Qc é extraída
do interior do frigorífico e entregue na forma de energia
Qh ao ar quente da cozinha. O trabalho é feito na unidade
compressora do frigorífico através da compressão de um
gás refrigerante, fazendo com que a sua temperatura
aumente.

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Segunda lei da termodinâmica

Um aparelho de ar condicionado é outro exemplo de uma bomba de calor.


Algumas casas são aquecidas e arrefecidas por bombas de calor. No Inverno, a
bomba de calor extrai energia Qc do ar frio externo e fornece energia Qh para o ar
mais quente no interior. No Verão, a energia Qc é removida do ar frio interno,
ejectando a energia Qh para o ar quente, do lado de fora.
O refrigerador ou o ar condicionado mais eficiente é aquele que consegue retirar a
maior quantidade de energia do reservatório frio, realizando a menor quantidade
de trabalho.

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Segunda lei da termodinâmica

O coeficiente de performance (COP) para um refrigerador ou aparelho de ar


condicionado corresponde à magnitude da energia extraída do reservatório frio,
|Qc|, dividido pelo trabalho W realizado pelo dispositivo:

𝑸𝒄
𝑪𝑶𝑷 𝒎𝒐𝒅𝒐 𝒅𝒆 𝒂𝒓𝒓𝒆𝒇𝒆𝒄𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 =
𝑾

O coeficiente de performance de uma bomba de calor a operar no modo de


aquecimento corresponde à magnitude da energia rejeitada para o reservatório
quente, |Qh|, dividido pelo trabalho W realizado pela bomba:

𝑸𝒉
𝑪𝑶𝑷 𝒎𝒐𝒅𝒐 𝒅𝒆 𝒂𝒒𝒖𝒆𝒄𝒊𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 =
𝑾

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Segunda lei da termodinâmica

Exercício 71
Um recipiente de 2,00 L de sopa a uma temperatura de 323 K é colocado no
frigorífico, que a arrefece até 283 K. Admitindo que o calor específico da sopa é o
mesmo que o da água, que a sua densidade é de 1,25x103 kg/m3 e que o COP do
frigorífico é de 5,00, determine a energia necessária, na forma de trabalho, para
refrigerar a sopa. R: 8,38x104 J

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Segunda lei da termodinâmica

A segunda lei da termodinâmica


Existem limites para a eficiência das máquinas térmicas. A máquina ideal converteria toda a
energia de entrada em trabalho útil, mas acontece que tal máquina é impossível de
construir. A formulação de Kelvin-Planck da segunda lei da termodinâmica diz que:
• Nenhuma máquina térmica a operar em processo ciclo pode absorver energia de um
reservatório e usá-lo inteiramente para o desempenho de uma quantidade igual de
trabalho.
Por outras palavras, é teoricamente impossível construir uma máquina térmica com
eficiência de 100%.
Assim, a primeira lei diz que não podemos extrair uma quantidade de energia de um
processo cíclico superior à que fornecemos, e a segunda lei diz que não podemos utilizar
toda essa energia. Independentemente da máquina térmica que se utilize, alguma energia
será sempre transferida pelo calor para o reservatório frio, ou seja, |Qc| é sempre maior
que zero.
Há outra afirmação equivalente da segunda lei: Se dois sistemas estão em contato térmico,
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a energia térmica líquida é transferida espontaneamente pelo calor do sistema mais quente
Segunda lei da termodinâmica

Há outra afirmação equivalente da segunda lei: Se dois sistemas estão em


contacto térmico, a energia térmica líquida é transferida espontaneamente pelo
calor do sistema mais quente para o sistema mais frio.
Aqui, espontâneo significa que a transferência de energia ocorre naturalmente,
sem realizar trabalho.

Todavia, é necessário realizar trabalho para


transferir energia térmica de um sistema mais frio
para um sistema mais quente. Um exemplo é o
frigorífico, que transfere energia térmica do seu
interior para a cozinha, mais quente.

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Segunda lei da termodinâmica

Processos reversíveis e irreversíveis


Nenhum motor pode operar a 100% de eficiência, mas diferentes abordagens
geram eficiências diferentes, e acontece que um projeto em particular oferece a
máxima eficiência possível, como é o caso do ciclo de Carnot.
Num processo reversível, cada estado ao longo do percurso é um estado de
equilíbrio, para que o sistema possa retornar às condições iniciais seguindo o
mesmo caminho na direção inversa. Um processo que não satisfaça este requisito
é irreversível.
A maioria dos processos naturais é irreversível; o processo reversível é uma
idealização. Embora os processos reais sejam sempre irreversíveis, alguns são
quase reversíveis.
Se um processo real ocorre tão lentamente que o sistema está virtualmente
sempre em equilíbrio, o processo pode ser considerado reversível. Imagine-se
comprimindo um gás muito lentamente, deixando grãos de areia sobre um pistão
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Segunda lei da termodinâmica

Se um processo real ocorrer tão lentamente de modo que o sistema permaneça


virtualmente sempre em equilíbrio, o processo pode ser considerado reversível.
Imagine-se comprimindo um gás muito lentamente, deixando grãos de areia sobre
um pistão sem atrito. A temperatura pode ser mantida constante colocando o gás
em contacto térmico com um reservatório de energia.

A pressão, o volume e a temperatura do gás são bem


definidos durante esta compressão isotérmica. Cada
grão de areia adicionado representa uma mudança
para um novo estado de equilíbrio. O processo pode
ser revertido removendo lentamente grãos de areia
do pistão.

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Segunda lei da termodinâmica

O Ciclo de Carnot
Num ciclo de Carnot, um gás ideal está contido num cilindro com um pistão móvel
numa extremidade. A temperatura do gás varia entre Tc e Th. As paredes do
cilindro e o pistão são termicamente não-condutoras. O ciclo consiste em dois
processos adiabáticos e dois isotérmicos, todos reversíveis.
Para o ciclo de Carnot, a razão entre as transferências de energia térmica e as
temperaturas absolutas é
𝑸𝒄 𝑻𝒄 𝑻𝒄
= ∴ 𝒆𝒄 = 𝟏 −
𝑸𝒉 𝑻𝒉 𝑻𝒉

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Segunda lei da termodinâmica

Exercício 72
Um motor a vapor tem uma caldeira que opera a 5,00x102 K. A energia da caldeira
converte a água em vapor, o que impulsiona o pistão. O reservatório frio é o ar
atmosférico, que está à temperatura de 3,00x102 K.
a) Determine a eficiência do motor se considerarmos que é um motor ideal.
R: 40%
b) Se for fornecida pela caldeira uma energia de 3,50x103 J, determine a energia
transferida para o reservatório frio e o trabalho realizado pelo motor.
R: 2,10x103 J; 1,40x103 J

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Segunda lei da termodinâmica

Exercício 73
A maior eficiência teórica de um motor a gasolina baseado no ciclo de Carnot é
30,0%.
a) Se este motor expelir os seus gases para a atmosfera, cujo ar apresenta uma
temperatura de 3,00x102 K, determine a temperatura no cilindro
imediatamente após a combustão. R: 429 K
b) Se o motor térmico absorver 837 J de energia do reservatório quente durante
cada ciclo, determine o trabalho que ele realiza em cada ciclo. R: 252 J

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