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1.

Máquinas Térmicas

Desde as primeiras máquinas térmicas primitivas, que eram empregadas para impulsionar trens,
navios e até mesmo os primeiros automóveis, até as mais avançadas e sofisticadas, como um
reator termonuclear, todas seguem, em essência, um mesmo princípio de funcionamento (Dias,
2023).

A conservação da energia é um princípio fundamental da Física que assegura que a energia total
de um sistema isolado permanece constante ao longo do tempo. Aplicando esse princípio às
máquinas térmicas, podemos afirmar que a quantidade de calor fornecida à máquina térmica pela
fonte quente, geralmente obtida por meio da combustão de carvão, óleo, madeira ou até mesmo
por fissão nuclear em reatores nucleares modernos, é transferida através de um fluido operante,
como o vapor de água.

Figura 1:Representação esquemática do funcionamento de uma


máquina térmica. Fonte: (Dias, 2023).

Esse fluido transporta a energia térmica da fonte quente e a direcciona para um dispositivo
intermediário, onde parte dessa energia é utilizada para realizar trabalho, enquanto o restante é
transferido para a fonte fria.

Em conformidade com a conservação da energia, a quantidade de calor QA é igual à soma do


trabalho realizado pela máquina térmica ( ) e da quantidade de calor QF liberada para a fonte
fria:
QA= QF+ | | | |

Dessa forma, essa equação representa a transferência de energia entre as fontes térmicas e a
máquina térmica, onde a energia térmica é parcialmente convertida em trabalho e parte é
transferida para a fonte fria.

“O trabalho realizado pela máquina térmica é igual à diferença entre os valores absolutos do
calor recebido da fonte quente e do calor rejeitado para a fonte fria”.

2. A segunda Lei da Termodinâmica

O rendimento de uma máquina térmica é definido como a razão entre o trabalho realizado e o
calor recebido da fonte quente:

| | | |
| | | |

| |

É importante entender que uma máquina térmica ideal teria um rendimento de 100%, indicado
pelo valor de 1. Isso significaria que toda a energia térmica recebida da fonte quente seria
convertida em trabalho, e nenhum calor seria rejeitado para a fonte fria (Qf=0).

No entanto, na prática, alcançar um rendimento de 100% é impossível. Isso ocorre porque a


energia térmica (QA) só flui da fonte quente para a máquina térmica devido à existência da fonte
fria. O calor é uma forma de energia térmica em movimento que se transfere espontaneamente de
uma região de maior temperatura para uma de menor temperatura.

Assim, mesmo em uma máquina térmica ideal, sempre haverá alguma quantidade de calor
rejeitada para a fonte fria. Portanto, é impossível alcançar um rendimento perfeito de 100%
devido à natureza do fluxo de calor e ao princípio da transferência de energia térmica.

Do reconhecimento dessa limitação, surgiu o enunciado de Kelvin-Planck para a Segunda Lei


da Termodinâmica:
“É impossível construir uma máquina que, durante seu ciclo operacional, seja capaz de
converter totalmente a energia térmica recebida de uma fonte quente em trabalho útil”.

Isso significa que, em um sistema fechado, as transformações naturais ocorrem de maneira a


aumentar a entropia total do sistema ou, no máximo, mantê-la constante. Isso implica que certos
processos, como a transferência de calor de um objecto mais quente para um objecto mais frio
(sem trabalho adicional), são irreversíveis.

Essa lei tem implicações significativas para a compreensão dos processos naturais, como a
direcção espontânea de fluxo de calor, a impossibilidade de alcançar 100% de eficiência em
máquinas térmicas e a noção de irreversibilidade dos processos naturais.

Em resumo, a Segunda Lei da Termodinâmica estabelece restrições sobre a direcção dos


processos termodinâmicos e revela a tendência natural para a desordem e a dissipação de energia
no universo.

3. Máquinas Térmicas Ideais

Uma máquina térmica ideal é um modelo teórico que opera com o máximo de eficiência
possível, convertendo toda a energia térmica recebida em trabalho. Essa máquina opera em um
ciclo fechado, realizando trocas de calor com duas fontes de temperatura:

 Fonte quente: fornece energia térmica para a máquina.


 Fonte fria: recebe energia térmica da máquina.

3.1.Ciclo de Carnot:

A descoberta do limite do rendimento de uma máquina térmica foi realizada por Nicolas Léonard
Sadi Carnot, um engenheiro francês, no ano de 1824.

Antes desse momento, acreditava-se que uma máquina térmica poderia atingir um rendimento
total (100%) ou algo muito próximo desse valor, ou seja, que toda a energia térmica fornecida a
uma máquina seria totalmente, ou quase totalmente, convertida em trabalho.
No entanto, Carnot demonstrou a impossibilidade desse rendimento perfeito. Ele propôs um
modelo teórico ideal de máquina térmica, que funcionaria seguindo um ciclo específico
conhecido como ciclo de Carnot. Esse dispositivo teórico obedece a dois postulados
estabelecidos por Carnot, que foram formulados antes mesmo do enunciado da Primeira Lei da
Termodinâmica.

1º Postulado de Carnot

“Nenhuma máquina térmica, operando entre duas temperaturas fixas, pode ter um rendimento
maior do que uma máquina térmica ideal de Carnot operando entre essas mesmas
temperaturas”.

Esse princípio é uma consequência directa da Segunda Lei da Termodinâmica e impõe um limite
superior para a eficiência das máquinas térmicas reais. Isso significa que sempre haverá perdas
de energia na forma de calor durante o processo de conversão, e essas perdas limitam o
rendimento máximo que uma máquina térmica pode alcançar (Dias, 2023).

O ciclo de Carnot é um ciclo ideal para máquinas térmicas, composto por quatro etapas:

1. Isoterma de expansão: a máquina absorve calor da fonte quente e se expande.


2. Adiabática de expansão: a máquina se expande sem troca de calor com o ambiente.
3. Isoterma de compressão: a máquina libera calor para a fonte fria e se contrai.
4. Adiabática de compressão: a máquina se contrai sem troca de calor com o ambiente.

2º postulado de Carnot

“Ao operar entre duas temperaturas fixas, a máquina ideal de Carnot tem o mesmo rendimento,
independentemente do tipo de fluido utilizado”.

Isso significa que, para uma diferença de temperatura dada entre a fonte quente e a fonte fria, a
eficiência da máquina de Carnot será a mesma, não importando qual seja o fluido utilizado como
meio de trabalho. Essa característica da máquina de Carnot é única e diferenciada em relação às
máquinas térmicas reais. Essa conclusão é fundamental para entender as limitações intrínsecas
das máquinas térmicas e ressaltar a importância do ciclo de Carnot como uma referência para a
eficiência máxima alcançável.
Esses postulados são de fundamental importância para entender os princípios básicos da
termodinâmica e a limitação intrínseca da conversão total de energia térmica em trabalho útil. A
contribuição de Carnot estabeleceu as bases para o desenvolvimento posterior das leis
termodinâmicas e teve um impacto significativo no campo da engenharia e na compreensão dos
processos energéticos.

É importante observar que esses postulados estabelecem que o rendimento de uma máquina
térmica depende das temperaturas das fontes fria e quente. No entanto, quando mantemos as
temperaturas dessas fontes fixas, a máquina teórica de Carnot é a que alcançaria o rendimento
máximo possível.

No caso específico em que o fluido operante é o gás perfeito, o ciclo de Carnot é composto por
duas transformações isotérmicas (mantendo a temperatura constante) e duas transformações
adiabáticas (sem troca de calor com o ambiente), intercaladas entre as isotermas.

Figura 2: Ciclo de Carnot para gases perfeitos, limitado por


duas isotermas e duas adiabáticas. Fonte: (Dias,2023)

Na etapa de expansão isotérmica BC, o sistema realiza trabalho ao mesmo tempo em que absorve
calor QA da fonte quente. Já na etapa de expansão adiabática CD, o sistema não troca calor com
o ambiente. Nessa etapa, ocorre apenas a realização de trabalho, resultando em uma diminuição
da energia interna e, consequentemente, da temperatura.

Na etapa de compressão isotérmica DA, o sistema rejeita QF de calor para a fonte fria, enquanto
utiliza o trabalho recebido. Na etapa de compressão adiabática AB, o sistema não realiza trocas
de calor com o ambiente. Nessa etapa, o sistema recebe trabalho, o qual é convertido em
aumento de sua energia interna e, consequentemente, de sua temperatura.

No ciclo de Carnot, os calores trocados QA e QF entre as fontes quente e fria, e as temperaturas


absolutas TA e TB dessas fontes estão relacionados de acordo com a seguinte proporção:

| |
| |

Substituindo na equação do rendimento de uma máquina térmica, obtemos, para a máquina de


Carnot:

Considerando a temperatura da fonte fria a TB igual a zero Kelvin (zero absoluto), temos:

Entretanto, esse fato contraria a 2ª Lei da Termodinâmica, que estabelece a impossibilidade de


um rendimento de 100% ( ) em qualquer máquina térmica.

Isso ocorre devido à necessidade de haver transferência de energia para a fonte fria, o que
impede que todo o calor seja convertido em trabalho. Portanto, concluímos que nenhum sistema
físico pode atingir o zero absoluto de temperatura.

De qualquer forma, podemos afirmar que:

“A temperatura da fonte fria de uma máquina ideal de Carnot, operando com rendimento de
100%, seria o zero absoluto”.
3.2.Eficiência da Máquina Térmica Ideal

A eficiência de uma máquina térmica ideal é dada pela seguinte fórmula:

η = 1 - (Tf/TQ)

Onde:

 η: eficiência da máquina.
 T₁: temperatura da fonte quente.
 T₂: temperatura da fonte fria.

4. Máquinas Térmicas Reais

Na prática, as máquinas térmicas reais não operam com a mesma eficiência que as máquinas
térmicas ideais (Dias, 2023). Isso ocorre devido a diversos fatores, como:

 Atrito: o atrito entre as partes móveis da máquina gera perda de energia.


 Perda de calor: o calor é perdido para o ambiente durante o processo.
 Irreversibilidade dos processos: os processos reais não são completamente reversíveis,
o que diminui a eficiência da máquina.

4.1.Eficiência da Máquina Térmica Real

A eficiência de uma máquina térmica real é sempre menor que a eficiência de uma máquina
térmica ideal. A eficiência real depende de diversos factores, como o tipo de máquina, o material
utilizado e as condições de operação.

4.2.Factores que Afectam a Eficiência:

 Tipo de máquina: diferentes tipos de máquinas térmicas possuem diferentes níveis de


eficiência.
 Material utilizado: o material utilizado na construção da máquina pode afectar a perda
de calor.
 Condições de operação: a temperatura e a pressão das fontes de calor e frio podem
afectar a eficiência da máquina.
5. Melhorar a Eficiência das Máquinas Térmicas

Existem diversas maneiras de melhorar a eficiência das máquinas térmicas, como:

 Reduzir o atrito: utilizar materiais com baixo coeficiente de atrito e lubrificantes


adequados.
 Minimizar a perda de calor: utilizar materiais isolantes térmicos e melhorar a vedação
da máquina.
 Utilizar tecnologias avançadas: existem diversas tecnologias avançadas que podem ser
utilizadas para melhorar a eficiência das máquinas térmicas.

6. Exemplos de Máquinas Térmicas

 Motor a combustão: converte energia química em energia térmica e, posteriormente, em


energia mecânica.
 Motor a vapor: converte energia térmica em energia mecânica.
 Usina termelétrica: converte energia térmica em energia eléctrica.
 Geladeira: converte energia eléctrica em energia térmica, removendo calor do interior do
refrigerador.

7. Exemplo matematico

Uma máquina térmica de Carnot tem sua fonte quente a uma temperatura de 227 ºC, enquanto a
sua fonte fria opera a 27 ºC. O rendimento dessa máquina é igual a:

a) 16%
b) 88%
c) 40%
d) 25%
e) 50%
Resolução:

Podemos utilizar a equação do rendimento de uma máquina de Carnot:

As temperaturas devem estar na escala Kelvin. A temperatura mais alta é a da fonte quente e a
mais baixa é a da fonte fria. Vamos então converter essas temperaturas para a escala Kelvin

TA = 227 + 273 = 500K

TB = 27 + 273 = 300K

Assim, substituindo esses valores na equação de rendimento, obtemos

ηCarnot = 1 – (300/500)

ηCarnot = 1 – 0,6

ηCarnot = 0,4

Em porcentagem esse valor é 40%.

RESPOSTA: b)

8. Vantagens e desvantagens das máquinas térmicas

Assim como diversos aparelhos, as máquinas térmicas também têm vantagens e desvantagens
(Tanaka, 2014). Assim sendo, as vantagens e desvantagens das máquinas térmicas são:

8.1.Vantagens

 Aumento da produção;
 Revolução nos meios de transporte;
 Conservação de alimentos;
 Climatização de ambientes;
 Produção de energia elétrica.
8.2.Desvantagens

 Diminuição da oferta de emprego;


 Aumento da busca por mão de obra barata;
 Poluição;
 Uso de fontes energéticas não-renováveis;
 Produção de resíduos nucleares

Referencias

Dias, A. (2023). Máquinas Térmicas e a Segunda Lei da Termodinâmica.

Tanaka, H., S. (2014). Máquinas térmicas. Todo Estudo. Disponível em:


https://www.todoestudo.com.br/fisica/maquinas-termicas. Acesso em: 19 de March de 2024.

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