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TRADIÇÃO DOS GRANDES LIVROS I

Professor Miguel Morgado.


mfmorgado@yahoo.com

SEMANA 1

Class 1:

Testes no final de outubro.

O que é a Ciência Política?

Tem como seus ramos a Política comparada, Relações internacionais, Políticas Públicas,
Teoria/Filosofia Política.

A Teoria/Filosofia Política é considerada a base da Ciência Política

Há quem diga que esta aprendizagem(Teoria/Filosofia Política) é uma ilusão. Por que?

Devido aos Positivistas: A dicotomia entre factos e valores. Ser ou dever ser.

A ciência é objetiva. Trata de fatos. Mas o conteúdo das opiniões, baseada em valores, é
subjetiva.

Devido aos historicistas ou Historicismo: “O Poder das teorias políticas é sutil pois entram
nas nossas consciências sem mesmo termos estudados.”

(Quer dizer que a nossa maneira de pensar muda conforme o tempo histórico. E todos
os que vivem nesse tempo, se submetem a viver a ideia predominante naquele
determinado tempo histórico. Ex: Bons cidadãos alemães no período da 2ª guerra eram
aqueles que denunciavam os seus vizinhos judeus para a Gestapo).

Devido ao Ideologismo:

Mas o que é ideologia? É um sistema doutrinário que reproduz um interesse social.

Não podemos abordar a Política de Platão com as ideias ou ideologias aplicadas aos dias de
hoje. Temos de ser ingênuos e ignorantes de modo a não abordar a Filosofia Política de forma
que a ideologia possa interferir na análise dos livros.
INTRODUÇÃO À REPÚBLICA (POLITEIA).

O regime político afirma os valores intrínsecos de um coletivo de pessoas.

O regime exige ao cidadão diferentes ações de acordo com os valores da sociedade.

Class 2:

Heródoto Livro III:

Otanes - Isonomia ou Democracia (mando dos muitos, igualdade perante a lei), contra os
abusos/insolência da monarquia;

Assumimos então de forma ilusória que é o governo de todos embora as decisões aprovadas
não seja de todos mas sim da maioria (muitos).

Não existe ninguém acima da lei, sejam eles ricos ou pobres, governantes ou governados.

Isegoria: O direito de cada cidadão falar na eclésia.

Megabuzo - Oligarquia ou Aristocracia (governo dos melhores), contra a monarquia e contra


isonomia (enquanto governo dos muitos significa o mando dos piores); Embora os termos
levem para uma ideia puramente económica, a Oligarquia ou Aristocracia não vai de
encontro com a condição económica.

Supomos assim, de acordo com Megabuzo, que um governo dos melhores seja estável.

Aristoi - Os melhores.
Oligoi- Poucos.

Portanto, Megabuzo pega no termo Oligarquia (governo dos poucos) e torna-o mais
apetecível com a Aristocracia (governo dos melhores).

Dario - Monarquia, subscrevendo as críticas de MEGABUZO à isonomia/democracia, mas


opõe-se à oligarquia como um governo de rivalidades e instável. A monarquia é apresentada
como o governo do melhor homem. De resto, a instabilidade da oligarquia e da
isonomia/democracia terminam com a instituição da monarquia, o que demonstra a sua
superioridade.

Classifica-se a cidade construída por Sócrates na República de Platão como a primeira


UTOPIA.
Class 3:

- Contexto dramatúrgico da acção:


Nunca assumir que uma personagem do diálogo é Platão ou personagem principal. Pois todos
têm um papel importante.

Vamos ter a indicação em cada diálogo onde e quando o diálogo se passa.

Tempo: Muitos historiadores colocam esses diálogos a terem ocorrido entre 431 e 410 a.C.

Podemos ter duas concepções de quando se passa o diálogo:

429 a.C, no verão (junho);

Indicações que temos:

- Festival da introdução de uma nova deus trácia no culto oficial de Atenas Bêndis
(354a); duas datas possíveis 429 a.C e 413 a.C o festival da Bendideia, já não seria
“novidade”.

Problemas com esta concepção:

Gláucon seria um recém-nascido? (Gláucon do Banquete teria de ser um outro Gláucon).

Ou

411-410 a.C, na fase final da guerra entre Atenas e Esparta, que esta venceria em 404 a.C

Indicações que temos:


- Participação recente de Gláucon e de Adimanto na batalha de Mégara(teriam à volta
de vinte anos). Em Tucídides, batalha de Mégara em 423 a.C. Mas entre 431 e 424 há
várias invasões de Mégara. Ainda há outras referências a batalhas em Mégara
(Diodoro, 409).

- Lísias regressa a Atenas em 411 a.C

Problemas com esta concepção:


- Céfalo já estaria morto?

Lugar: Pireu, porto de Atenas, Sede do poder comercial e naval-militar da democracia


ateniense.

Personagens da República de Platão

Platão (424/3 a.C - 348/7):

- Irmão de Adimanto, Gláucon, Potonte;

- Sobrinho de Cármides e primo de Crítias, ambos líderes destacados dos Trinta


Tiranos e ambos mortos a combater a facção democrática que os derrotaria ao regime
oligárquico de 404-403 a.C.

- Teria cerca de 20 anos aquando do regime oligárquico dos Trinta Tiranos;

- Teria cerca de 25 anos quando Sócrates foi julgado e condenado à morte;

- Em 384/3, visita a Sicília onde conhece Díon e, por fim o tirano de Siracusa Dionísio
I (Carta VII; Plutarco, Vida de Díon);

- A parrhesia de Platão enfurece Dionísio I, que o vende como escravo. O seu


comprador, porém, viria a libertá-lo;

- Em 383, quando regressa a Atenas, funda a Academia;

- Em 366, regressa a Siracusa, depois da morte de Dionísio I; aparentemente, o seu


descendente teria inclinações filosóficas. A visita salda-se por um novo fracasso, pois
Dionísio II exila Díon e expropria toda a sua riqueza. Os repetidos esforços de Platão
para levar a cabo uma reconciliação, falham todos.

- Em 361, regressa pela última vez à Siracusa, apenas para constatar que Dionísio II
perdera qualquer interesse pela vida filosófica; acaba feito prisioneiro pelo tirano e
com a sua vida em risco. Com ajuda de amigos regressa a Atenas. Anos depois, Díon
é assassinado.

Céfalo (?-428(-415)):

- Céfalo de Siracusa, filho de Lisânias;

- Filhos: Polemarco, Lísias, Eutidemo;


- Péricles persuade Céfalo a vir instalar-se em Atenas na década de 450 a.C. É portanto,
um meteco - estrangeiro residente sem direito de cidadania; e provavelmente um
partidário da democracia pericleana;

- Céfalo viveu em Atenas durante 30 anos;

- Um dos homens mais ricos de Atenas, com uma fábrica de escudos de guerra, que ,
bem depois da sua morte, empregava mais de 100 escravos no ano de 404.

- Com a queda de Atenas, e a instauração do regime oligárquico, toda a fortuna da


família desapareceria.

- O seu filho Polemarco seria executado (decapitado) pelos Trinta Tiranos; Lísias
exilado.

Polemarco - “Senhor da Guerra” (?-421(-415)):

- Polemarco de Tuuri, filho de Céfalo;

- Irmãos: Lísias, Eutidemo;

- Segundo Lísias, Polemarco foi forçado pelos Trinta a beber cicuta sem conhecer as
acusações formais de que era alvo; os Trinta expropriaram toda a riqueza da família
de Céfalo/Polemarco.

Gláucon - “Brilhante” (429-382):

- Gláucon de Colito, filho de Aríston (e de Perictione);

- Irmãos: Platão, Adimanto, Potone;


- Tem uma grande ambição política.

O professor vai disponibilizar no moodle um diálogo de Gláucon e Sócrates.

Adimanto (432-382):

Irmãos: Platão, Gláucon, Potone.

Trasímaco (455-?) :

- Trasímaco de Calcedônia, área colonizada por gregos no mar negro.


- Retor e diplomata;

- Irmãos: Platão, Gláucon, Potone.

Clitfonte (452-404):

- Associado ao partido oligárquico ateniense na sua corrente mais moderada, Clitofonte


era conhecido por ser um vira-casacas político.

- Companheiro de Trasímaco e de Lísias, ansioso por dominar as técnicas da retórica;

Class 4:

Sócrates (463-399)

- Adimanto de alopécia, filho de Sofrosnico ( e de Fenarete);

- Casado com Xantipe; pai de três filhos Lamprocles, sofrosnico e menexeno;

- Serviu Atenas como soldado hoplita em pelo menos três ocasiões: Potideia (430, onde
salvou Alcibíades), délio (424, em cuja retirada a conduta de Sócrates foi
caracterizada como heroica por Laques e por Alcibíades), Anfípolis (422);

- No final da vida, dizia-se que ele só havia abandonado Antenas para combater - e ido
uma vez até ao istmo de Corinto para assistir aos jogos.

- Em Outubro de 406, Sócrates é o prytanis do boulé, ou o Conselho dos 500, quando


seis dos oito generais da batalha das Arginusas foram julgados por não resgatarem os
soldados perdidos no mar depois dos confrontos;

- Alguns queriam julgar os generais em grupo, em violação da lei de Atenas, que exigia
um julgamento separado por acusado quando estava em causa a pena capital. Sócrates
recusa a autorizar essa novidade, mas apenas consegue adiar o julgamento coletivo na
Assembleia a que tem de presidir. Todos os generais são executados.

- Julgado em 399 por 500 cidadãos atenienses escolhidos por sorteio. O libelo de
acusação dizia:

“Esta acusação e depoimento é jurado por meleto, filho de meleto de pito contra Sócrates,
filho de Sofrosnico de alopecia: Sócrates é culpado de recusar reconhecer os deuses
reconhecidos pela cidade, e de introduzir novos deuses. Ele também é culpado de corromper
a juventude. A pena exigida é a morte”.
- "Sócrates fez a filosofia descer dos céus e colocou-a nas cidades dos homens e
trouxe-a também para as suas casas e forçou-a a falar da vida e da moral”. Cícero,
Tusculanarum Disputationum, V.10.

- Ironia. É a capacidade de compreender a superioridade própria em um debate.


Aristófanes (450 - 386)

- Aristófanes de Cidateneu, filho de Filipo.

- Poesia: Epopeia, Comédia; Tragédia;

- Das 44 peças que se diz que concebeu, apenas 11 sobreviveram até hoje.

- Nuvens (423):

Crítica radical à educação sofística. Um pai (Strepsíades) tenta levar seu filho (Fidípiedes)
viciado em cavalos e em apostas para ser educado com Sócrates. Strepsíades ouviu dizer que
Sócrates é capaz de fazer o discurso injusto levar a melhor sobre o discurso justo. Com esse
treino, Fidípiedes poderia enganar os credores de Estrepsíades. Depois de muitas peripécias,
Fidípides torna-se discípulo de Sócrates, mas não se põe ao serviço do ludíbrio dos credores
do pai. Renúncia aos cavalos e acabar por bater no pai. Estrepsíades corre para a Academia
de Sócrates e incendeia-a por completo.

- Assembleia de Mulheres (392 ou 391):

Irritadas com a política de Atenas, com a incompetência dos homens que têm o seu exclusivo,
com a sua corrupção e repugnância pelo bem comum, as mulheres de Atenas decuidem agir
lideradas por Paxágora. Disfarçam-se de homens mesmo antes de o dia nascer e acorrem à
Assembleia. Propõem, como se fossem homens, entregar o poder às mulheres e instituir uma
ginecocracia. Com o poder na mão, as mulheres abolem as instituições democráticas (como
os tribubnais e instituem o comunismo dos bens, as refeições em comum, a abolição da
família. Mais do que a comunidade dos homens e das mulheres, institui-se que as mulheres
velhas e feias têm prioridade no acesso aos homens jovens e bonitos.

Análise do Livro I:

A primeira palavra não é "fui'' mas sim “desci” que representa a descida de Ulisses ao Hades
na Odisseia. Sócrates irá realizar uma representação de Ulisses.
Sócrates desceu ao Pireu para rezar a deusa Bêndis , que vinha da Trácia, pois era a primeira
vez que a festa à essa deusa seria feita. Platão irá reconhecer Sócrates como respeitador
dos deuses.

Temos duas procissões, uma dos Atenienses e dos Trácios. Sócrates diz que é incapaz de
dizer que uma é mais bela que a outra. A posição imparcial de Sócrates é importante
pois nos indica que temos mau juízo e temos dificuldades em julgar a nós próprios.

Polemarco irá forçar Sócrates a ficar no pireu. Sócrates então tenta persuadir Polemarco para
deixá-los ir.

Existem duas formas de comandar alguém. Pela força, ou pela persuasão. Enquanto
Polemarco tenta abordar Sócrates de uma forma bruta e pela força. Sócrates irá tentar
persuadir Polemarco

Precisamos da retórica mas ela não é absoluta. A democracia é o regime político da


retórica. A democracia acredita que nós conseguimos resolver todos os nossos
problemas através da retórica.

Adimanto propõe uma saída. Polemarco propõe que Sócrates então fique para jantar.

Sócrates então fica para agradar a Gláucon. Pois ele está a educar Gláucon.

Sócrates diz logo que Céfalo é respeitador dos Deuses. Pois tinha acabado de fazer um
sacrifício aos deuses. - pag 77.

Céfalo já está velho. E diz que não consegue subir a Atenas. Sócrates irá dizer que ele
também não irá conseguir chegar a outra subida, a intelectual, que irá acontecer dentro do
diálogo.

Céfalo irá dizer que ele está aberto a ter conversas. Mas irá abandonar o diálogo.

O velho tem a ensinar ao filósofo sobre a velhice. Sócrates irá pedir a Céfalo que lhe
ensine sobre a velhice e como é estar perto da morte. Assunto que é interessantíssimo
para Sócrates.

Céfalo irá citar Sófocles e diz que na velhice “Somos libertos de uma hoste de déspotas
furiosos.” De modo a justificar o “fading” dos desejos sexuais e dos desejos que temos
quando estamos nas nossas faculdades mentais e físicas.

Sócrates irá ser mais uma vez embaraçoso pois vai desafiar Céfalo a falar que a velhice de
Céfalo é confortável pois ele é rico.
Céfalo pensa na morte e se pergunta o que irá acontecer a ele após a morte. Céfalo pensa na
morte de acordo com o que foi ensinado pelos poetas. Os poetas são os criadores dos deuses.
Mais uma evidência de que o diálogo irá tentar responder aos poetas e a Aristófanes e as suas
obras. (Assembleia de Mulheres; Nuvens).

Céfalo diz que o justo é aquele que não mente a ninguém, não fica a dever nada a
ninguém e honrar os deuses.

Sócrates deixa cair o conceito de honra aos Deuses da conceção de justiça de Céfalo. Ele
então apresenta um contraponto à concessão de Céfalo e diz que devemos fazer bem a todos
independentemente das consequências e desafia Céfalo a continuar no diálogo. Céfalo não
continuará no diálogo pois refere que tem de fazer mais um sacrifício aos deuses, dando a
entender que ele não tem capacidade para continuar no diálogo. O que acaba por fazer aquilo
que o próprio Sócrates desejava, eliminá-lo do diálogo.

Platão diz que o Céfalo não irá permanecer no diálogo devido ao conflito entre Filosofia e
Política, pois a filosofia é corrosiva dos valores e convicções da política e da cidadania.

Polemarco entrará então no diálogo com um apelo a um poeta Simónides.

Polemarco não tem uma opinião própria pois se apoia em um poeta. Sócrates volta a
fazer a crítica, não se devolve nada a uma pessoa que não está dentro das suas faculdades
mentais. Sócrates então refuta o argumento que Polemarco apresenta.

Tendo em conta que a grande crítica que Sócrates deseja realizar nesse diálogo e
durante a obra inteira é de que os poetas são pessoas pouco sábias, logo não tem nada
para nos ensinar e também a própria exclusão da adoração aos deuses. Sócrates tenta
trazer a todos para a adoração e perspetiva do filósofo, que na sua visão era a melhor
perspetiva de ver o mundo.

Polemarco então diz que justo é fazer bem aos amigos e mal aos inimigos. Polemarco nos
traz a perspetiva do político da cidade da vida política. Que é a perspetiva de amigos e
inimigos. É a perspetiva de conflito.

A perspetiva do político nos leva a analisar as situações do cotidiano, da cidade e da


política de forma parcial. O filósofo analisa tudo de forma externa e imparcial. A
perspetiva filosófica do político permite a análise imparcial do regime e do político.

A conceção de justiça muda para restituir o que é devido mas para restituir o que convém.
Abre então a possibilidade de que a justiça seja boa, mas para tal teremos de abordar mais a
frente o que seria o bem.
Sócrates apela ao conceito ambíguo da arte (TÉCNHÊ em grego), uma certa perícia. Um
saber teórico-prático que exige conhecimento de causa e experiência. A arte é moralmente
ambígua, ou seja, pode ter mais do que um sentido, em relação aos fins.

Sócrates irá comparar as artes à justiça de modo a tornar a justiça um conceito que
possamos ensinar e repetir de modo a abordá-la para o bem humano tal como as
diversas artes.

Sócrates então irá dizer que os poetas são perigosos pois ensinam coisas perigosas.
Portanto a concepção de justiça é facilmente contrariada, pois aqueles que nos parecem
nossos amigos podem ser os nossos inimigos e vice-versa.

Surgirá então a possibilidade de que a justiça pode ser uma arte mas será uma arte
arquitetônica pois coordena outras artes ministeriais.

A justiça será a arte principal pois é a única capaz de atingir o conhecimento de modo a que
possamos reproduzir esse conhecimento para as outras artes.

Para evitar tratar bem quem realmente não o merece, terá de se examinar quem é
genuinamente bom e apenas quem o aparenta ser. Chega-se à conclusão que em caso
algum é justo fazer mal a quem quer que seja, pois quando se faz mal ao homem este
apenas age de maneira pior e afastamos essa pessoa da ARETÉ ou da excelência humana.
Sendo que Polemarco cede à retórica de Sócrates, não conseguindo acompanhar a capacidade
intelectual de Sócrates, Polemarco é demonstravelmente fácil de cair em falácias.

Sócrates então irá dizer que o homem de excelência é o homem justo e que o homem bom
é aquele que zela pelo seu bom e promove o bem dos outros.

A conceção de justiça então coloca-se como fazer bem a si mesmo e a todos- Conceção
de justiça após o diálogo com Polemarco.

Trasímaco entra no diálogo de forma bastante violenta.

Class 6:

Sócrates desafia Trasímaco a dar a sua conceção de justiça. Para Trasímaco a justiça é a
conveniência do mais forte, o bem do mais forte.

Sócrates então pergunta quem seria o mais forte, sendo que Trasímaco coloca o mais forte
como sendo os membros do governo. A justiça é a conveniência daquele que governa sobre
alguém.

A justiça de Trasímaco é similar ao que designamos de Positivismo Legal, isto é, as leis não
têm fundamento natural, sendo apenas uma convenção criada pelos Homens, não havendo
nenhum ideal de justiça. É também um juízo das ações da atividade política, um Cinismo
Político, onde o político se aproveita da lei para “enganar” os súbditos, zelando unicamente
pelos seus interesses.

A justiça passa então a ser o cumprimento das leis. O homem justo é aquele que cumpre
as leis.

Sócrates coloca então a possibilidade dos governantes serem ignorantes e fazerem leis que
não os beneficiam. O conceito de justiça então muda para ser a conveniência do mais fraco.

Sócrates vai dizer que os governantes não erram relativamente a criação de leis pois, se a
justiça é uma arte, e essa mesma arte é aplicada por um artesão, um artesão não se engana na
aplicação da sua arte de modo a ter benefício próprio que terá impacto para os beneficiados
da sua arte e para si próprio.

Sendo que em cada arte servimos aos outros de modo a beneficiar-nos dos resultados desta
arte, o governante também deverá governar para os seus governados de modo a beneficiar-se.

Trasímaco vai contrapor esse argumento com a arte do pastor de ovelhas. Que defende as
ovelhas que não são suas de modo a que ele possa ter benefício próprio, pois caso não o faça
não terá benefício próprio, logo não terá benefício para os outros.

Trasímaco pinta o quadro vivamente: quem paga é o justo, quem sofre é o justo, e quem
beneficia é o injusto. Mesmo o justo, quando chega ao poder, sofrerá por ser justo. Trasímaco
defende, então, o Imoralismo Político. Trasímaco está ciente que quem é injusto e é
apanhado a sê-lo não é homem feliz, esse é o ladrão pequeno. Pior, afirma, que é o Tirano,
que é feliz praticando a injustiça, e a consegue aplicar livremente, dizendo que a tirania é
atrativa. Só nos queixamos dos tiranos porque tememos ser os súbditos dos mesmos.
Trasímaco é o primeiro personagem do diálogo que traz a perspetiva do regime.

Análise do Livro II

Fase Construtiva da cidade Perfeita (Kalipólis).

Inicia-se o diálogo com Gláucon, que não se conforma com os argumentos dados por
Trasímaco e Sócrates.

Surge a classificação dos diversos tipos de bens:

- Bens que o são só por si (independentemente das suas consequências);


- Bens que o são por si e pelas suas consequências;
- Bens cujos são apenas pelas suas consequências;
A justiça para Gláucon tem como objetivo, proteger-nos contra as injustiças. Surge aqui
uma “tradição contratualista” dado ao facto de que as leis que protegem os cidadãos.

Para justificar a sua conceção, Gláucon conta uma história do grande Homero. Entra então a
história do Anel de Giges com a qual concluímos que o homem é apenas justo por
convenção, pois somos fiscalizados. Deste modo, quando nos é possibilitado, somos todos
injustos, pois é da natureza humana.

O homem perfeitamente injusto é aquele que aparenta ser injusto.

Adimanto, face a estes argumentos por Gláucon, afirma que tal discurso é feito com base
nos críticos da justiça. Como os pais que educam os filhos para que estes vejam a justiça
apenas como um bem externo ou como algo que traz benefícios (“temos de ser justos
para…”) e como tal pede a Sócrates para argumentar de modo a que a justiça possa ser
considerada um bem inerente de modo a ser visto não como algo a praticar em troca de uma
recompensa mas como algo que é bom por si só.

Inicia-se a analogia entre a Psyché (alma) e a Polis (cidade, ou sociedade) que demonstra
como se descobrirá o modo como a justiça funciona numa, para se concluir como funciona
noutra.

Surge então a necessidade da criação do conceito de cidade. O conceito então é formado a


partir da necessidade humana e o facto de nenhum de nós ser autossuficiente, mas de todos
termos diversas necessidades como a alimentação, o vestuário e a habitação.

Para satisfazer essas necessidades, precisamos de certos ofícios/artes que o faça, e estes
ofícios serão desempenhados apenas por uma pessoa ou artesão especializado. Pois
obteremos melhores resultados.

Surge então a divisão do trabalho que será utilizado no século XVIII durante a
revolução industrial.

No entanto, a natureza humana não se contém apenas com o básico e desse modo reclamará o
luxo, que será por sua vez concedido pela classe dos Artesãos (cuja função é gerar e criar
bens para a cidade).

Sendo que os recursos e o território são escassos e os desejos aumentam, surgirá a


necessidade de expandir e consequentemente de fazer guerra. Surge então a classe dos
Guardiões que detêm o poder militar na íntegra que devem ter certas características como a
perspicácia, rapidez, força e docilidade de modo a ter o respeito e apoio da cidade que
defendem.
A educação dos guardiões será baseada em dois elementos: a ginástica e a música
(literatura/poesia). Sendo que os governantes serão recrutados a partir dos guardiões.

Sócrates dirá às pessoas que apenas praticam a ginástica são demasiado brutas e não cultivam
a alma, contudo, as pessoas que praticam apenas a música ficarão moles e demasiado doces.
Portanto, deverá haver um equilíbrio entre ambos.

Será necessário reestruturar e censurar a poesia tradicional pois esta não é adequada à
educação desses guardiões. A poesia deverá representar os deuses como bons e honestos.

As Leis da Poesia:
1. Os deuses são bons
2. Os deuses são honestos.

De acordo com Sócrates mentir apenas é permitido quando estamos em posição de


governo. Aqui os deuses não irão governar, logo, deverão ser sempre honestos e nunca
mentir. Mas os governantes da cidade podem mentir.

As características dos governantes: São os mais velhos e dentro dos mais velhos devem
governar apenas os melhores (ARISTOCRACIA caso governem muitos, MONARQUIA caso
apenas governe um); Devem amar a cidade (Senso de patriotismo); Devem ser sábios.

Chegamos a conclusão que o princípio aristocrático é um princípio desigualitário pois escolhe


os melhores. O princípio democratico parte do princípio igualitário onde ninguém elege
ninguém e todos são selecionados à sorte.

Os auxiliares serão os guardiões que aplicarão as ordens dos governantes aos guardiões.

Para que essa ordem seja justificada, Sócrates dirá que será necessário nos apropriarmos de
uma “mentira” um mito, de modo a que possamos garantir que a ordem é a melhor para a
felicidade de todos na cidade.

A primeira mentira, de modo a garantir a unidade da cidade, será a de que todos somos
iguais, pois somos todos filhos da mesma mãe, logo, somos todos irmãos. Nascemos da
mesma terra criando assim a distinção entre os habitantes de Kallipolis e os habitantes de
outra cidade.

Surge a segunda mentira, o mito dos metais.

Quando alguém nasce, já nasce com a sua alma com uma designação (Ouro, Prata, Bronze e
outros metais).
Esta mentira existe de modo a garantir a ordem caso os filhos não tenham a capacidade de
estar na classe em que nasceu ou para que caso seja superior a classe em que nasceu, possa
evoluir. Sócrates dirá que esta designação foi atribuída pelos Deuses.

Os guardiões não terão acesso a propriedade privada. Pois todos terão de ser transparentes e
não esconder nada. Abolição da propriedade privada e da privacidade. Viverão uma vida
simples sendo que as suas refeições serão fornecidas pelos artesãos.

Para Sócrates a felicidade será na unidade da cidade e não na individualidade de cada classe.

Sócrates recomenda que os guardiões terão de evitar os extremos de riqueza e pobreza na


cidade. Pois o excesso de riqueza irá contrariar a educação dos guardiões. A única forma de
preservarmos a unidade da cidade teremos de controlar a riqueza de modo a não existir uma
divisão entre as diversas classes, a divisão entre ricos e pobres.

As virtudes cardeais:

Sabedoria; Reside na classe dos governantes.

Coragem; Capacidade dos guardiões de preservar sempre a mesma opinião sobre as coisas a
temer, apresentadas pelos governantes, tal como lhes foi apresentado pela educação.

Temperança; Harmonia nos desejos, regradas pela razão que irá controlar os desejos. “Ser
senhor de si mesmo” - Domínio próprio.

Justiça; Cada um desenhar a sua função de acordo com a sua aptidão natural.

Thumos: Ira.

A Thumos será necessária para que cause um balanceamento entre a razão e os desejos, de
modo a que se haja justiça na administração da cidade.

O diálogo é então interrompido por Adimanto para se tentar compreender o que socrates tem
a dizer sobre a sociedade e comunidade.

Livro V

Sócrates vai dizer que, homens e mulheres são iguais, logo devem desempenhar as mesmas
funções de acordo com a sua natureza, de modo a que a sociedade seja beneficiada no seu
todo. Portanto, devem também fazer ginástica e dedicarem-se à música.
Sócrates vai criar uma dicotomia entre a natureza e o costume. Por norma um poeta faz as
pessoas rirem através dos costumes, o filósofo irá responder a esse "ridículo" através da
natureza.

A primeira vaga do ridículo paradoxal: Os homens são iguais as mulheres. Sócrates irá
responder que a diferença sexual das mulheres não é suficientemente decisiva. Relativizando
assim as partes do corpo e deixando de lado o eros.

A segunda vaga do ridículo paradoxal: As mulheres são comuns a todos, os encontros


sexuais são agendados, os filhos que daí surgirem são retirados dos progenitores e colocados
à parte. É na sua essência, a abolição da família e das relações particulares de modo a que
o caráter comunitário da sociedade seja aprofundado. É desejada a maior unidade possível
entre as classes e que os governantes possam sentir a mesma dor e partilhar do mesmo prazer.

Gláucon questiona como será possível a concretização desta Polis. Sócrates tenta responder a
resposta de Gláucon através da terceira vaga do ridículo paradoxal através das ordens sociais.

A terceira vaga do ridículo paradoxal: Sócrates irá dizer que enquanto os filósofos não
governarem ou os reis não forem filósofos, os males associados à humanidade irão persistir.

Chegamos a conclusão de que o filósofo é um homem completamente justo e completamente


feliz. É o único que consegue alcançar o eros filosófico.

A sociedade irá questionar o filósofo em duas questões: se ele é inútil ou se é perigoso.

Eidos - e o filósofo (A natureza do filósofo).

Ideias - O aspecto, a forma, a figura de uma coisa. Também a classe de um conjunto


de coisas.

Ideias - Ser: o que é sempre e em toda a parte; o que nunca muda, o que não vem à
existência, nem a abandona.

O conhecimento das ideias é o objecto do amor - eros - do filósofo.

- Exemplo: o que é a lei? vs. qual é a lei em Portugal no ano 2021 que proíbe a
evasão fiscal?

A especificação do conhecimento da lei é considerada um conhecimento inferior


por Platão. Para ele, o verdadeiro conhecimento filosófico seria questionar “o
que é a justiça”. Pois são as perguntas orientadas pelo eros filosófico.
Ideia de Justiça: perfeita; só nos aproximamos dela;

- Ideia de cão - absolutamente imutável. Mas um cão situado fora do tempo


ainda é um cão?

- Superioridade pedagógica das ideias respeitantes às qualidades (Ex: justiça.


coragem) face às ideias respeitantes aos seres (Ex: cão e gato).

As ideias são mais fáceis de serem consideradas com ideias imutáveis do que seres
vivos, pois estes podem evoluir ou mudar o seu comportamento.

Analogia Ideia do Bem (agathon) e o Sol (“filho do bem em si” 506d)

- A Ideia do Bem é o princípio de unidade do todo formado pela ordem das


ideias;

- A ideia do Bem é a causa das ideias e da cognição das ideias, tal como o sol
providencia a luz que permite ver e constitui a causa generativa das coisas
vivas que há para ver.

Conflito Polis vs Filosofia

A polis é um perigo para a filosofia:

- Opiniões (doxes) que se tomam pela verdade e que não toleram que as examinem; e
496d. Estas opiniões vão reclamar-se como opiniões verdadeiras e como
conhecimento mesmo não sendo conhecimento, pois foram dogmatizadas pela
comunidade política.

A filosofia é um perigo para a polis:

- A filosofia examina as opiniões, incluindo as que são sagradas e formam o consenso


social.

O filósofo pode ser um bom político?

- Conhecimento das ideias e destreza na experiência/prática concreta - combinação


possível ? Interesses compatíveis?
- Filósofo: ama toda a sabedoria (a raiz de todos os outros elementos); ódio à
falsidade/ignorância; temperante (amor dos prazeres da alma e não dos do corpo);
magnificente (megaloprepeia) e corajoso; justo e dócil (sociável, gentil); bom
estudante; boa memória; amante da medida e da proporção (graciosidade).

- Quem não possui um destes 9 elementos, não pode ser filósofo.

- Justiça é uma condição e um subproduto da filosofia.

Alegoria da Caverna.

Estamos desde crianças, como prisioneiros, a tentar descobrir o que é a verdade e a realidade.
Vemos sombras da realidade. Somos definidos pela criação dos Artesãos (empresários,
professores, educadores) que nos dão a sua interpretação da realidade. Assim que somos
libertos das prisões, reconhecemos a luz da fogueira e somos forçados a ver os artefactos,
passamos ao reconhecimento da nossa ignorância. Os prisioneiros não gostam de ser
forçados, portanto, teremos de forçar os prisioneiros a sair da caverna, que é representada por
um movimento ascendente, através de um processo doloroso de educação e de aquisição de
conhecimento. Quem ascende e sai da caverna consegue ver o Bem. É este fundamento
gnosiológico que possibilita as essências. Permite ser sensato na vida particular e pública,
pois orientaram os desejos para a compreensão do bem.
Quem volta a descer depois de ser libertado, tenta explicar a realidade e vai tornar-se um
pária. Vai parecer excêntrico, louco.
Não se introduz a vista a olhos cegos. A educação é “a arte desse desejo, a maneira mais
fácil e mais eficaz de fazer dar a volta a esse órgão, não a de o fazer obter a visão, pois já a
tem, mas, uma vez que ele não está na posição correta e não olha para onde deve dar-lhe os
meios para isso”.

O melhor político é aquele que não está interessado em governar, a necessidade obriga-o
a voltar, há a dívida da educação por saldar e devem tomar o sacrifício de governar. Aqueles
que governam a cidade com vontade de tal são os piores governantes
A Degeneração dos Regimes/Almas

Com Adimanto:

REGIME JUSTO (Aristocracia; virtude associada: sabedoria - filosofia).

- Com um revezamento dos filósofos, mais do que um pode governar de modo a que os
filósofos possam continuar com a sua vocação, adquirir conhecimento.

- Não poderá haver corrupção geracional, pois caso assim aconteça, levará a
degeneração do regime. Caso uma criança seja escolhida, tenha uma educação
mais focada na ginástica e não na dialética e filosofia poderá levar a degeneração
do regime.

TIMOCRACIA (Timé - honra; timôma - cidadania censitária; Timocrata).

- É o governo que ama ser reconhecido pelos outros e demonstrar a sua superioridade.
Aquele que recusa a educação necessária, e adora ser honrado e reconhecido como
superior, este levará a degeneração novamente do regime. Este é o regime do homem
Thumótico.

OLIGARQUIA (riqueza; Oligarca).

- Só os ricos governam. Os ricos são a minoria e os pobres são a maioria. Temos um


regime dividido em dois. O oligarca é alguém que está obcecado com o acúmulo de
riqueza e por isso deixa os seus desejos superarem o Thumos e como tal perde
controle sobre si mesmo.

- A degeneração ocorre quando existe uma percepção por parte dos mais pobres que os
ricos são pouco corajosos e são covardes perante o mesmo perigo que os pobres
possam enfrentar. Os pobres vão pensar que são mais corajosos que os ricos e a partir
daí a linha que separa os governantes dos governados será extinguida.

DEMOCRACIA (liberdade; Homem democrático).

- Todos têm o direito de falar, intervir publicamente e cada um fará o que deseja. A
liberdade dá a possibilidade de cada um perseguir a sua noção de felicidade. Que vai
completamente contra a concepção de justiça da sociedade justa que é aquela onde
cada um está restringido a uma atividade de modo a garantir a felicidade e a justiça
coletiva da cidade justa.
- Na democracia haverá todo o tipo de alma.

- Na mente do democrata todos os desejos são iguais, como tal não distingue os de luxo
dos de necessidade o que cria instabilidade pois é amante da igualdade, a qual por sua
vez é uma originalidade fictícia.

- A liberdade do regime democratico acarreta a igualdade dos desejos entre todos.

- O homem democrático tem muitos desejos mas não tem um “eros” e por isso não se
consegue concentrar em nada.

- Da liberdade decorre uma embriaguez, que é causada pelos demagogos (políticos


profissionais) e por isso o povo começa a acusar os seus governantes de oligarcas e
daí os governantes passam a ser tratados como governados e alguns governados como
governantes. Portanto, o povo, ameaçado por uma grande desordem, escolhe um
homem forte para trazer novamente a ordem, causando assim a tirania.

TIRANIA (licenciosidade? Tirano).

- O protetor do povo, o tirano, vai começar por perceber que a multidão o obedece, e
exerce sobre a cidade inteira o seu poder. Ele mantém essa obediência da multidão
através de promessas demagógicas (expropriação de terras e a diminuição dos
impostos para os mais pobres).

- O Tirano

- A alma do tirano é uma alma de desejos selvagens e animalescos, que podem emergir
a qualquer momento.
A POLÍTICA , Aristóteles

De acordo com Eliano, Aristóteles acusado de asebeia foge de Atenas para que a
cidade não cometesse mais um crime contra a filosofia como fez Sócrates.

Amicus Plato, sed magis amica veritas - “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo
da verdade”.

A ética para Aristóteles é um ramo da política. Um subordinado da política. A ética


significa o treino e o estudo do caráter. - Ética a Nicómaco, Aristóteles.

Não tem de se procurar o mesmo grau de rigor para todas as perícias - Ética a
Nicómaco, Aristóteles.

Se vamos estudar política temos de estar preparados para entender que este
saber vai ser diferente que o saber das plantas.

LIVRO I: A NATUREZA DA CIDADE E ELEMENTOS


FUNDAMENTAIS DA VIDA SOCIAL.

Existe um domínio específico do ser humano que é a política e o político. E o que é “o


político”?

POLITIKON - Aquilo que é próprio da Polis, ou aquilo que é público.

A pergunta de partida então será, “o que é a Polis”.

As premissas fundamentais para a criação da Polis:

1ª- A Polis é uma Comunidade - Koinonia;

2ª - A comunidade é um bem.

Toda a atividade humana tem uma finalidade (Telos). Nós seres humanos agimos para
alcançar um bem. Como tal, a Polis tem uma finalidade, a de alcançar um bem comum, ou
seja, o bem de todos. Algo que vai de encontro com a Teleologia Aristotélica. Portanto,
apenas conhecendo o fim para o qual a Polis foi criada é que vamos poder responder a
pergunta “O que é a Polis”.
A Polis comparada com outras comunidades tem um regime político, uma matéria, que para
Aristóteles significa elementos primários de uma cidade ou seja, população (quantidade e
qualidade/ética), território (extensão, qualidade),

3ª - A Comunidade superior visa um bem superior

Aristóteles diz então que se a polis é uma comunidade superior comparado com as
outras, devido aos fatores anteriores, essa engloba todas as outras formas de
comunidade (Oikos/Família, Aldeia).

- O cidadão torna-se uma qualidade política da Polis.

- A política para Aristóteles existe em um plano completamente diferente do


Oikos. A distinção entre o Público ( Politikos/Político) e o Privado (Oikos). Ele
faz essa distinção para encolher a esfera do privado e aumentar a esfera do
público em nobreza e dignidade.

O que é a Polis? Para Aristóteles temos de definir a cidade através da definição da sua
existência, ou seja, como ela surgiu , como veio a existência.

Sobre as Comunidades:

Oikos /Oikonomikos/ Despotikos; Aldeia - Todas essas comunidades estão incluídas


na comunidade superior, a Polis, auto suficiente para que possa cumprir o seu telos
superior que é viver bem (excelência).

O telos do homem é viver bem, de acordo com as virtudes da alma.

Essas comunidades procuram a vivência confortável, enquanto que a polis procura a


vivência de excelência.

O Oikonomikos tem 3 relações, (Senhorial, Parental e Conjugal).

A relação SENHORIAL entre o escravo e o despotikos depende da condição pela qual


ele se tornou escravo, por convenção ou por natureza. O escravo é um ser humano que
possui razão, mas não tem capacidade de a usar por si, mas apenas de aprender aquilo
que dizem a ele, portanto são racionais até certo ponto e logo a relação entre o senhor
e o escravo é justa.
A relação por natureza/Phusis é justificada pelo facto de dizer que se o escravo não
consegue governar a si mesmo, é justo escravizá-lo. Para saber quem é escravo
temos de olhar para a alma. A alma de quem é escravo, de acordo com
Aristóteles, é inferior a do seu senhor, dada a capacidade de deliberação do
senhor.

Os escravos não têm capacidade de deliberação, ou seja, não têm a capacidade de


realizar um processo racional que leva à decisão e encontrar os meios adequados para
a promoção/obtenção dos seus fins específicos, tendo de se associar a alguém que
delibere por eles.

A outra relação despótica por convenção vem através da cultura e do acordo. Ex: os
prisioneiros de guerra. Essa relação era injusta, de acordo com Aristóteles.

O senhor então é servido e beneficia de uma “extensão animada do seu corpo”,


enquanto o escravo tem proteção face à sua incapacidade deliberativa.

ALDEIAS/POLIS:
A família é uma comunidade formada de acordo com a natureza para satisfazer as
necessidades quotidianas, ou seja, o bem da família.

A ALDEIA é formada por famílias e por sua vez satisfaz carências mais amplas
para além das necessidades diárias, como por exemplo a de autoproteção. A
forma de autoridade existente é régia, exercida pelo membro mais velho.

A POLIS é uma comunidade completa, formada por várias aldeias que atingem a
autossuficiência, isto é, a comunidade da POLIS tem todos os meios necessários para
a satisfação de todas as necessidades e para a obtenção de todos os fins.

É a única KOINONIA perfeita, pois todas as outras comunidades só existem dentro


da cidade, tendo de já estar integradas dentro desta.

Não compete à cidade tornar os indivíduos felizes, apenas dar-lhes os meios para tal.
O homem sem cidade não encontra as condições para a sua realização, logo, a sua
natureza (virtude).

Portanto, o homem apenas encontra a sua verdadeira natureza quando está em uma
Polis. A POLIS é uma construção humana, mas que existe em função da natureza.
Logo a comunidade política é algo natural e artificial ao mesmo tempo.
Estas considerações evidenciam que uma cidade existe por natureza e que o homem, é
por natureza, um Zoon Politikon - “O homem é um animal político”; Somos animais
que fomos criados para viver em uma Polis. Apenas nos realizamos como seres
humanos e viver a excelência quando vivermos na Koinonia da Polis. Os seres
humanos baseiam-se no logos (palavra) enquanto que os outros animais políticos
baseiam-se na Phoné (voz).

Os humanos são seres políticos que conseguem distinguir o justo do injusto, e


devido a isto as pessoas vão se dividir pois tem diferentes conceções do que é
justo e injusto.

A polis de acordo com aristóteles é anterior à família pois o telos individual da família
é inferior ao da polis. O TODO (POLIS) É NECESSARIAMENTE ANTERIOR
À PARTE (OIKOS).

O quão coesa e unitária deve ser a cidade? Todas as coisas são definidas pela sua
função, quando integradas num todo. Quando alguém não exerce a sua função
devemos afirmar que já não são aquilo que eram.

“Um homem está para a cidade como a mão está para um corpo”. - Aristóteles

Nomos: É a Lei escrita (positiva, escrita), e a Lei não escrita (costume, hábitos onde alguns
desses hábitos vinham dos deuses).
Nomos vs Phusis (Natureza): O nomos é mutável pois vem de uma convenção, enquanto
que a Phusis não é mutável.
A boa Nomos (LEI) diz respeito às virtudes e aos vícios, pois é a finalidade da polis é
assegurar a boa vida, logo a boa nomos (LEI) respeita e favorece a finalidade do melhor
regime.
Uma koinonia que não atinge o telos de alcançar a vida boa não pode ser considerada
polis pois apenas tem a sua potência e não chega ao objetivo final.
A polis não é verdadeiramente polis "cujo fim seja apenas evitar a injustiça mútua e
facilitar trocas comerciais”. A polis verdadeira é a que tem como fim alcançar a virtude. O
processo de início da polis procura assegurar a “vida nua”, ou seja, os bens básicos da
vida tais como a segurança, vestuário, alimento, etc, contudo, apenas terá o seu fim e só
poderá ser considerada polis quando alcançar o fim da virtude.
Para o bem da koinonia é bom que haja alguém que faça boas ações, ao chegar neste
patamar é a consumação do processo de construção dessa koinonia para polis.
LIVRO II: CRÍTICA À COMUNIDADE DA REPÚBLICA DE PLATÃO.

A análise da República de Platão começa com a análise do que é partilhado ou o que é


comum à comunidade política. Para haver comunidade temos de partilhar algo. O bem
que partilhamos dentro da comunidade (Koinonia) é o território. O ponto essencial
desta crítica é que há uma contradição na maneira que Sócrates interpreta o que é a
cidade.

Para Aristóteles e Sócrates o telos da cidade é a autossuficiência com a diferença


de que Aristóteles apenas deseja a autossuficiência mas Sócrates deseja também
a “máxima unidade possível”.

Aristóteles vai abandonar a radicalização do extremo da partilha. Não vai apoiar


nem a dispersão total das coisas nem o comunismo total. O que difere totalmente
do conceito de “comunidade máxima” que foi apresentado em Sócrates na obra A
República.

Aristóteles questiona se a cidade será mais perfeita quanto mais unitária/uniformizada


for, tal como é na República.

Se quisermos transformar a cidade mais unitária, acabamos por deixar a cidade


completamente uniforme e isso não é uma cidade. Dado ao fato de que uma
cidade detém diversidade.

A alternativa é a igualdade na reciprocidade. Enquanto que Platão diz na república


que a maior unidade possível é o maior dos bens, Aristóteles vai afirmar que a
cidade é plural por natureza, logo, uma maior unidade da cidade significaria a
desfragmentação da mesma.

“Os elementos que constituem uma cidade têm que diferir em espécie, pelo que a
igualdade na reciprocidade é a salvaguarda das cidades (...)”

“(…)Quanto mais uma coisa é comum a um maior número, menos cuidado


recebe”. - Aristóteles.

A crítica então continua:

Existe uma disparidade entre a classe dos governantes e a classe dos artesãos na
República, o que demonstra a não uniformidade da cidade.
Não existe cidadania sem a pessoa mandar politicamente. Aristóteles, portanto,
defende o modelo democrático republicano ateniense.

“(...) Já que isto tem que ocorrer entre indivíduos livres e iguais: não é possível
que todos governem simultaneamente, mas apenas por períodos anuais, ou
conforme qualquer outra ordenação ou sucessão”.

Aristóteles quer uma Polis sedimentada na amizade civil (Philia).

O sentimento de Philia (amizade) para Aristóteles é uma relação dentro de uma


comunidade humana que representa sempre um fenômeno de partilha. Aquilo que
reúne as pessoas e aquilo que junta as pessoas dentro da Polis é a amizade e
natureza cívica de alcançar o bem comum do viver bem juntos.

Portanto a unidade da Polis será sedimentada na Philia e não na comunidade dos


bens ou no comunitarismo familiar.

Aristóteles vai defender os laços humanos e criticar o comunismo da família, algo


que Sócrates ignora na República com a justificação de manter a cidade unida.
Critica o conceito de mobilidade social dado por Sócrates na República, inferindo
o facto da possibilidade de incesto dado ao facto de que não existe família.

A crítica de Aristóteles referente aos bens tem início na teoria da propriedade segundo
Sócrates que diz respeito a coisas e pessoas.

Aristóteles diz que os cidadãos não devem cuidar da terra ou estarem envolvidos com
a produção dos bens. Se aqueles que trabalham muito recebem pouco irá causar
um problema. Se partilhamos tudo da produção agrícola haverá alguns
indivíduos que irão trabalhar menos à espera do trabalho daqueles que
trabalham muito. O exemplo das partilhas durante uma viagem.

“Com efeito, a propriedade deve ser, até certo ponto, comum, mas de um modo
geral privada. Assim a separação dos interesses não conduzirá a reclamações
recíprocas e alcançará melhores resultados, por que cada um se dedicará ao que
lhe é próprio”. p.117

Portanto, a separação dos interesses gera menos conflitos e a administração do que se


tem é mais ordenada.
Aristóteles separa a propriedade privada de acordo com o seu uso. Existe sim a
propriedade privada mas as relações de Philia através da educação tornará a
propriedade privada comum, não através da imposição leis mas sim através do
seu uso. As pessoas que têm a propriedade vão colocá-las ao uso dos outros.

Existe um prazer em ter os nossos amigos a utilizar os nossos bens. Através da


educação da Philia as virtudes serão destacadas de modo a destacar as virtudes do ser
humano de modo a que isto possa ser possível.

A propriedade privada será um prazer. Algo que Sócrates esmaga completamente na


República. O prazer vem da Philia que temos com nós próprios. A propriedade
será uma extensão de nós próprios e como nós temos prazer em nós próprios, o
prazer da propriedade privada não é uma perversão.

O egoísmo é o excesso de uma coisa boa, que acaba por se tornar um vício. Amar a
nós próprios é bom mas alguém que é obcecado consigo mesmo é egoísta. A
liberalidade de ser generoso só resultará quando temos posses.

Quando as coisas são possuídas em comunidade surgem mais conflitos. Isso


porque a posse de bens em comum, mesmo dentro de comunidades como família ou
amigos gera conflitos, colocando em risco a paz pública, logo, a paz pública é melhor
conservada se a propriedade for privada.

Por isso, o melhor regime de posse de bens é o privado, mas com um regime de
administração comum.

Existem duas alternativas para saber quem manda, ou a alternativa ao governo é


sempre a mesma, oligarquia (um governo perigoso porque as pessoas não se
conformam ficar sempre em um plano preciso de obediência), ou todos governam e
obedecem através da democracia direta.

LIVRO III : CIDADE E CIDADANIA; REGIMES, JUSTIÇA E


VIRTUDE.

TEORIA DA CIDADANIA:

O que é a cidadania?
É a capacidade de participar na administração da justiça e do governo e diretamente
nos assuntos políticos.
Cidadão é aquele que tem a capacidade de exercer uma magistratura judicial ou
governativa seja esta qual for; aquele que tem o direito de participar em cargos
deliberativos e judiciais da cidade; aquele que exerce efetivamente um cargo público.
Aquele que tem de trabalhar para viver, idealmente, não é cidadão pois tem a mente
presa e degradada.
Aristóteles argumenta que apenas aqueles que se podem dispensar do trabalho podem ser
considerados cidadãos, uma vez que quem trabalha para viver, não tem capacidade de
desempenhar uma atividade em vista da vida boa.
Ter de trabalhar para viver é indigno. “É por isso que chamamos aviltantes os ofícios que
debilitam o corpo, tais como as actividades assalariadas que mantêm a mente presa e
degradada” - Aristóteles. pag.563
O que é o regime político?
É um modo de ordenar cidadãos na cidade; Também é um modo de ordenar cargos
públicos que estabelece a repartição dos cargos pelos cidadãos e, dentro dos vários
cargos, qual a autoridade suprema da cidade.

“Um regime, é uma ordenação de magistraturas nas cidades, e que estabelece a


repartição respectiva, qual a autoridade suprema, e qual o fim da comunidade para
cada caso”.

A definição de cidadão é condicionada pelo regime político vigente. Aristóteles então


procura uma definição de cidadão comum a todos os tipos de regime.

O critério de habitação não é suficiente, uma vez que até os estrangeiros residem no
mesmo lugar que cidadãos e não são considerados cidadãos.

A posse dos mesmos direitos cívicos não é suficiente, pois mesmo os estrangeiros possuem
alguns direitos comuns aos cidadãos, nomeadamente a justiça.

O cidadão então é aquele que tem capacidade de desempenhar um cargo público, seja
ele judicial, legislativo ou executivo.

A cidadania de um regime não será igual, será diferente de acordo com os vários regimes
políticos.

O mau cidadão é aquele que executa mal a sua função. A questão que Aristóteles coloca é se
o bom cidadão é aquele que faz bem a sua função. Ex. Alemanha Nacional Socialista,
contraste com a União Europeia.

Um bom cidadão nunca é um homem bom devido ao regime político. Ele apenas será
um homem bom dentro do melhor regime político.
O critério para definir qual é o melhor regime político é o fato de que qual regime
poderá garantir ao homem uma melhor excelência da alma.

O bom cidadão é aquele que é definido pelo regime. Portanto teremos várias definições
do que é um bom cidadão.

A pessoa que sabe tomar decisões é um bom governante em todos os regimes. O Governante
tem de ser prudente, virtude específica de quem governa.

O que caracteriza uma cidade e a define de outras é a sua política. E o elemento mais
incisivo da política é o governo.

Em democracia o demos é preponderante, ou seja, todos pertencem ao regime. Nas


oligarquias apenas um grupo restrito de cidadãos é que mandam. Na Aristocracia, apenas os
aristoi são cidadãos e tanto na Realeza quanto na tirania apenas temos um cidadão, o rei ou o
tirano.

A virtude específica do governante e do governado.

O exemplo do tocador de flautas. Em democracia esse problema fica resolvido pois todos
governam e todos são governados. Contudo, nem todas as pessoas são excelentes (prudência),
portanto nem todos vão poder governar.

OS REGIMES POLÍTICOS (POLITEIAI)

Melhor para pior regime: realeza> aristocracia> politeia> democracia> oligarquia> tirania.
Chamamos realeza à forma de governo que visa o interesse comum.
Os três desvios correspondentes aos diversos regimes, são a tirania em relação à realeza, a
oligarquia em relação à aristocracia e a democracia em relação à politeia.

A tirania é o governo de um com o interesse particular, a oligarquia visa o interesse dos


ricos, a democracia visa o interesse do pobre, nenhum destes regimes visa o interesse do
comum. Aristóteles está a desenvolver muito pouco o significado de se visar o interesse
particular da classe que governa. O quadro não nos está a dar qualquer tipo de avaliação
valorativa, só está a dizer que existe um grupo de bem constituídos, retos ou mal constituídos,
degenerados.
FIM INTERESSE COMUM INTERESSE
PARTICULAR

UM REALEZA TIRANIA

ALGUNS ARISTOCRACIA OLIGARQUIA

MUITOS POLITEIA (REG. DEMOCRACIA


CONSTITUCIONAL)

CLASSIFICAÇÃO RETOS DEGENERADOS

Aristóteles está a analisar duas formas de monarquia que têm aspetos de realeza e de tirania.

SOBRE A TIRANIA: governo de um só (despotikos) que exerce um poder


despótico sobre a comunidade política - o poder despótico só é justo quando ambas as
partes são desiguais, quando isso acontece temos uma realeza e não uma tirania.

Autoridade e poder exercidos de forma arbitrária - vai contra a natureza - homens


semelhantes não podem ser governados por um regime despótico, pois vai contra a
natureza e a ordem natural, o que não é tolerável.

A tirania é o mais distante dos regimes, dificilmente é uma ordenação de cidadãos e de


magistraturas, é a inversão da ordem.

SOBRE A REALEZA: em que condições pode existir?


É preferível ser governado por homens ou por leis?
É preferível ser governado por um número extenso ou reduzido de homens?

Se se der o caso de surgir um indivíduo com uma virtude tão acima de todos os outros, e
superior também em capacidade política, que se torne tão desigual em relação aos outros,
o que é que se faz neste caso?

Um homem assim torna-se um Deus entre os homens. Se se der este caso qualquer outra
solução a não ser dar-lhe o poder absoluto será sempre uma injustiça. Fazer justiça seria
entregar o poder absoluto ao mesmo.

Tal originaria uma autoridade régia e não despótica, pois o naturalmente superior é
naturalmente superior em todas as virtudes. Quando surge esta personalidade excecional, este
indivíduo distancia-se tanto do ser humano, que o naturalmente superior não pode estar
submetido ao poder dos outros, não temos qualquer alternativa sem ser instituir uma realeza.
A realeza não é nem pode ser hereditária sendo que o critério para surgir a realeza é a
virtude excecional do governante.

O REI NÃO ESTÁ ACIMA DA LEI, ELE ENCARNA A LEI. Dado a sua virtude e
capacidade política superiores, o rei encarna a lei e se torna a lei. O governante acaba por ser
uma espécie de personificação viva daquilo que são as exigências da lei, estando alinhado
com ela e não tendo que estar submetido à força coerciva da lei por que a cumpre
espontaneamente.

A finalidade da realeza é a manutenção da ordem natural das coisas.


O reconhecimento da realeza dá-se através do consentimento do povo.

Por fim, o significado de cidadão sofre mutações conforme o regime e aquela mencionada na
teoria da cidadania já não é totalmente aplicável porque admitimos que se tratava da
participação efetiva de todos os cidadãos nas magistraturas e uma subjacente alternância do
poder. Nesta cidade existiria apenas um cidadão, o Rei.

A aristocracia como melhor regime

Aristóteles afirma que é melhor ser governado por leis e por um maior número de
homens sendo que a lei é a razão liberta de desejos visto que a lei em si não governa. O
ideal são homens inspirados pela lei que possam deliberar e decidir bem em casos concretos e
sendo que muitos homens significam uma maior contribuição para o governo da cidade,logo,
é mais difícil corromper um grande número de pessoas.

Aristóteles então afirma que a Aristocracia seria mais benéfica, contudo, é importante
termos a soberania da lei para que os desejos dos Aristoi ou o interesse dos Basileu não
interfiram com o bem estar da cidade. Dado ao facto de que tanto na Aristocracia
quanto na Realeza não existe supremacia da lei pois os governantes encarnam a própria
lei, o melhor regime dentro das circunstâncias seria um POLITEIA ou regime
constitucional.

PORTANTO, QUEM DEVE GOVERNAR?


- Quando a democracia prevalece há sempre a tentação para que os pobres
desapropriem os ricos das suas riquezas. A quantificação (o número de pessoas
pobres) é uma expressão de força, portanto não é justo chegar a essa conclusão pois
não temos um caráter qualitativo necessário para tomar as decisões apenas o caráter
quantitativo da força. A virtude é que guia a nossa natureza de modo a
aplicarmos a justiça absoluta juntamente com o caráter qualitativo.
- Os oligarcas são assimétricos à democracia, expropriam os pobres para obter mais
riqueza. O argumento da basileia (realeza como melhor regime político) não é
suficiente para chegar à conclusão do melhor regime. Um homem a governar será
sempre um homem com desejos, contudo, caso governe sobre o governo da lei, o
rei governa sob a razão sem desejos através da lei.

- Porém, a lei por vezes é demasiado abstrata e não consegue chegar a uma certa
conclusão. Neste caso regressamos à vontade de 1 a vontade do rei.

Aristóteles não se conforma com o argumento tecnocrático. Aristóteles vê a governação


através do método de especialista, argumento do médico, contudo, se somarmos toda a
população e se essa população não estiver aviltada, essa população pode realizar o mesmo
trabalho que o especialista, neste caso o governante.
O povo como agente político é quem julga quem governa, e este povo não precisa ser um
especialista para realizar a escolha das magistraturas executivas, contudo, não podemos
presumir que a população tenha prudência ao escolher os magistrados, logo, não
podemos dizer que a multidão escolherá pior o magistrado do que um especialista.
A discricionariedade dos magistrados. No regime constitucional a lei tem supremacia, na
democracia degenerada o demos tem a supremacia, contudo, no regime da lei (Politeia)
temos de ter alguma discricionariedade, pois a lei é abstrata, logo, em circunstâncias em que a
lei não consegue dar resposta os magistrados devem agir de acordo.
Uma lei de acordo com o regime correto (regime constitucional/Politeia) é boa e justa
pois a lei é boa ou má de acordo com o seu regime (reto ou degenerado).
Os regimes que predominavam na Grécia antiga eram a democracia e a oligarquia.
A Politeia é o regime mais estável e mais provável de acontecer comparado com a
aristocracia e a realeza, contudo, ainda é um regime inferior, pois não se preocupa com
a natureza (virtude,excelência e viver bem) mas preocupa-se com a estabilidade.
Um indivíduo que se destaca em maior virtude, tem de ser tratado de forma desigual pelo
princípio de justiça baseado na natureza, esse indivíduo é deus entre os homens.
Na Aristocracia, os notáveis são a própria lei, agem de acordo com a sua vontade. Não
há supremacia da lei. Contudo, se uma lei é abstrata e não consegue dar resposta a todas as
coisas, logo os notáveis também não vão conseguir realizar esse julgamento.
“A lei, é, pois, a razão liberta do desejo” - Aristóteles.
Quais são as condições materiais que é necessária para que haja conformidade com a
forma política mais desejada?
Realeza: Um chefe virtuoso que tem o poder político.
Aristocracia: Virtuosos, população que obedece espontaneamente aos virtuosos.
Politeia: Capacidade militar, lealdade cívica, povo que esteja disponível para governar e
serem governados, supremacia da lei e capacidade de escolherem os magistrados entre os
cidadãos mais abastados e segundo as suas virtudes.

COMO IMPLEMENTAR O MELHOR REGIME:

Depois de classificar os diferentes regimes, Aristóteles vai procurar definir as condições


necessárias à implementação do melhor regime. Os políticos e legisladores também
precisam de meios para atingir os fins e entre esses meios estão a população ou o
território e a sua extensão e natureza.

A investigação trata-se mesmo de que condições têm de existir para se estabelecer o melhor
tipo de regime e à medida que as analisamos, Aristóteles dá a entender que está a falar da
aristocracia.

É importante que a população tenha o número adequado de habitantes para que a cidade
possa atingir o seu propósito de máxima virtude. Deste modo, não deverá ser muito extensa
devido à dificuldade de legislar bem com uma população numerosa dado que a lei perde
eficácia e é difícil de manter a coesão na comunidade política. Aristóteles acredita que só
quando uma força divina governa a cidade é que é possível manter a ordem num corpo
extenso de cidadãos.

Assim, no melhor regime, a cidade terá de possuir um grupo suficientemente grande de


cidadãos para assegurar a autossuficiência, mas não tão excessivo que não permita um
regime, ou seja, se não for governável. Por outro lado, como o critério de atribuição de
cargos públicos é o mérito (caraterística da aristocracia) de cada um, a população não pode
ser excessivamente numerosa, pois os cidadãos têm de conhecer-se entre si e também porque
é difícil criar uma ordem fazendo com que a lei perca eficácia.

Já o território deverá ser autossuficiente de modo a permitir a vida boa e uma vida
despreocupada, com liberdade e moderação. Não deve ser muito extenso nem muito
diminuto, nem ser muito rico ou muito pobre. Se for muito grande ou rico isso leva a que
os homens possam ser conduzidos a uma vida de dissipação e de luxo excessivo o que não é
bom para a cidade. Por outro lado, se for pequeno não será eficaz na sua tarefa de permitir a
autossuficiência.

O território ser bem situado para que o transporte de bens seja fácil, mas também deve
ser de difícil acesso aos inimigos, de fácil fuga para a população e fácil de socorrer sendo
que o auxílio deverá chegar a todos os seus pontos de forma igual (equidistante do mar e
da terra) e em termos comerciais facilitar o comércio. Apesar de uma cidade no litoral
poder parecer bem situada, acaba por trazer alguns inconvenientes como a afluência de
estrangeiros com padrões jurídicos diferentes que desestabilizam e diminuem a coesão na
cidade e aumentos de flutuação de população devido à migração.

Em relação ao comércio, este deve ser praticado visando sempre o interesse da cidade
(proporcionar as condições necessárias a uma vida boa) e não o lucro (as áreas de comércio
apesar de necessárias não podem/devem ser as únicas áreas(profissões) em uma cidade. O
lucro é algo prejudicial e anti-natural (o lucro denegrida e deslegitima a função principal da
cidade).

Aristóteles defende que a riqueza é o conjunto de meios úteis à vida familiar e política,
no entanto, uma outra forma de riqueza, esta prejudicial, é a acumulação de riqueza
sem limites nos quais os bens são fins em si e não meios para a concretização do objetivo
da cidade. Isto é visto como sendo irracional porque o fim que devia servir a vida
humana é substituído por meios que passam a ser vistos como fins. Isto deve-se àqueles
que desejam uma vida de prazeres ilimitados sem moderação. Tais pessoas e espaços
não devem ser permitidos na cidade.

Os povos das regiões frias têm brio, mas não têm inteligência necessária e por isso vivem em
liberdade, mas sem qualquer tipo de organização política, numa espécie de estado anárquico.
Enquanto isso, os povos asiáticos, segundo Aristóteles, possuem a inteligência, mas não tem
brio o que os leva a viver num estado de sujeição e servidão.

O caráter ideal de um cidadão é possuído pela raça helénica que é um intermédio dos dois
povos referidos anteriormente o que lhe permite uma existência livre sendo a raça que melhor
se governa e a mais fácil de ser conduzida para o caminho da virtude. Torna-se, portanto, a
mais apta a governar todos os povos. Este povo que é simultaneamente inteligente e brioso
torna possível o exercício dos cargos em alternância nomeadamente na existência de
governantes zelosos, competentes e governados dóceis que aceitam a sua condição, não
corroendo a unidade do corpo político. O autor acredita que este povo se deixará conduzir
pelo legislador à virtude, através do mérito.

Uma cidade para subsistir necessita de recursos essenciais como a alimentação, ofícios,
armamento, zelo para com as divindades e uma autoridade que saiba discernir o conveniente
e justo para os cidadãos. Assim, as diferentes partes da cidade visam diferentes fins.

Aristóteles divide então a cidade em 5 partes: agricultores que se ocupam da


alimentação, artesãos ocupados dos ofícios, guerreiros com a tarefa do armamento,
sacerdotes que zelam pelo culto das divindades e autoridade assegurada pelos
governantes e juízes.

Os artesãos e os agricultores visam a autossuficiência material e não constituem elementos


plenos ou essenciais da polis. Estes são os homens que precisam de trabalhar para viver e que
Aristóteles não considerara fazer parte do corpo dos cidadãos por não terem tempo livre.
Resta, portanto, o corpo de cidadãos propriamente dito que podem fazer uso da virtude,
aquele que é parte essencial da cidade porque procura a vida boa e não apenas a vida
intrinsecamente. É desta classe com recursos- próspera e cidadã- que se recrutam os
guerreiros que pegam em armas para defender a cidade, a classe governante dotada de
autoridade para discernir o que é justo e conveniente e os sacerdotes apenas responsáveis pelo
culto dos deuses.

Aristóteles, porém, tem noção que não pode, por motivos de segurança, afastar a classe
militar do poder e de que a defesa armada implica destreza e vigor físicos. Por outro lado,
também sabe que a política é a arte do concreto e por isso é necessário experiência e
maturidade.

Com isto em consideração, Aristóteles define a estrutura ideal de sociedade:

Os mesmos cidadãos recrutados da classe com recursos devem educar-se para a virtude-
uma vez que a riqueza apesar de necessária, não é suficiente para o exercício de poder,
que deve se basear no mérito- e passar a juventude entre as fileiras do exército, a
maturidade no exercício do poder e depois transitar para o sacerdócio tendo a seu cargo
o culto dos deuses, dotando-se de uma dimensão emérita própria de quem atingiu uma
idade mais avançada. Resumindo, como militares são cidadãos imperfeitos, como
governantes cidadãos e como sacerdotes cidadãos eméritos. Em certa medida é se
governado, governa-se e volta-se a ser governado.

Daqui decorre a questão da cidadania. Como é natural agricultores e artesãos não são
considerados cidadãos pois ao trabalhar para viver, não podem despender tempo para o ócio
nem têm posse de recursos, condições que permitem o cultivo da mente e em consequência
deliberar, no caminho da virtude e no exercício das magistraturas. Por outro lado, Aristóteles
considera que o trabalho manual humilha a alma e torna a mente presa e degradada. Os
únicos que são cidadãos completos são os governantes e juízes que desempenham
efetivamente os cargos públicos na cidade, ascendendo pelo mérito.

LIVRO IV
O que faz uma ciência política? Pensa no melhor regime político absoluto. É da capacidade
do legislador perceber que não deve ignorar o melhor regime dentro das circunstâncias de
modo a alcançar uma aristocracia. Cabe à ciência política e ao legislador reformar ou tornar
menos mal o regime degenerado. Nem todas as democracias e oligarquias são más.
Cabe à ciência política analisar os regimes de modo a buscar o melhor regime político
absoluto e cabe também à esta ajudar os regimes a não se degenerarem caso estes já seja
degenerados.
Podemos diferenciar diferentes tipos de oligarquia e democracia.
TIPOS DE DEMOCRACIA:

- Democracia de igualdade (Regime Constitucional); A soberania da lei existe e existe


lei de igualdade. É o tipo de democracia menos desviada. É um tipo de democracia
que não dá a supremacia dos pobres sobre os ricos de modo a que os pobres possa
desapropriar os ricos da sua riqueza, logo não há conflito, portanto é a melhor forma
de democracia.

- Democracia de Liberdade; O homem vive a vida como quer. O indivíduo faz o que
deseja sem uma lei específica para julgar as suas ações.

- Democracia das magistraturas; Os titulares das magistraturas são escolhidos de acordo


com a quantidade de impostos que pagam e caso tenham pais atenienses. Os mais
pobres que não tinham a capacidade de pagar impostos não podiam alcançar as
magistraturas.

- Democracia onde todos são cidadãos e todos tem acesso às magistraturas; Aqui a
soberania da lei ainda existe.

- Democracia onde a supremacia da lei não existe e a vontade do povo assume esse
papel; A FORMA MAIS DEGENERADA. A maioria (os pobres) vão obedecer o
seu instinto de desapropriação dos ricos. Não há a estabilidade da lei. Com a lei
poderíamos obter algo parecido com o tipo de governo perfeito, pois a lei serve como
uma balança e retira o desejo. Aristóteles cita o demagogo como um mentiroso que
manipula os desejos do povo para conseguir o que quer. Esta forma de democracia é
tão degenerada quanto a tirania face à realeza.

Existe uma inversão da balança democrática, ou seja, os demagogos passam a ser mais
respeitados que os cidadãos de bem. Quando existe uma inversão da balança democrática
onde a supremacia da lei não existe, podemos considerar esse regime como sendo o mais
degenerado.

TIPOS DE OLIGARQUIAS:

1ª - Só os ricos têm a capacidade de aceder às magistraturas, pois pagam mais impostos.


2ª - Outra diz que o acesso às magistraturas apenas é feito nos mais ricos, mas os magistrados
escolhem-se a si próprios para ocupar essas magistraturas, ou seja, os mais ricos escolhem os
magistrados entre si, este método ou aproxima a oligarquia de uma aristocracia ou pode
degenerar ainda mais a oligarquia.

3ª - Introdução do caráter hereditário; Os filhos assumem as magistraturas dos pais. Este


caráter causa uma maior degeneração do regime oligárquico.

4ª - Com o desaparecimento da supremacia da lei, e o caráter hereditário acabam por tornar a


quarta fase da oligarquia a mais degenerada.

MELHORAS PARA O TESTE:


1ª PERGUNTA: COLOCAR O INTERLOCUTOR DO DIÁLOGO E FALAR SOBRE O
MITO DOS METAIS E O MITO DA TERRA. LOCALIZAR NA OBRA ONDE ESTÁ
PRESENTE A RESPOSTA.

2ª PERGUNTA: TER ATENÇÃO AO ESCREVER AS RESPOSTAS. SIMPLIFICAR O


DISCURSO MAS NÃO ESQUECER O CONTEÚDO. COLOCAR AS INTERPOLAÇÕES
DE SÓCRATES.

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