Você está na página 1de 23

UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA

FACULDADE DE TEOLOGIA

MESTRADO INTEGRADO EM TEOLOGIA

Amílcar Amaral: o grande catequeta do século


XX da renovação da catequese em Portugal

Trabalho elaborado por:

Licínio Manuel Figueiredo Cardoso

No âmbito do Seminário “Rostos do Presbiterado do


Século XX”, orientado pelo professor Luís Leal
Porto
2019-2020

INDICE

Introdução 2

1. Biografia de uma vida de contínua procura, própria de um espírito insatisfeito 4

2. A obra e o legado de monsenhor Amílcar Amaral 9


2.1 Ação pastoral como pároco 10
2.1.1 – Com os mais pobres e necessitados 10
2.1.2 – Na dinamização de uma liturgia participada de modo consciente 11
2.1.3 – Na dinamização da catequese 12
2.1.4 – Os catecismos do padre Amílcar: catecismo nacional 13
2.1.5 – As reações aos catecismos do padre Amílcar 15

2.2 O renovador e organizador da catequese em Portugal 16

2.3 Retirado mas não aposentado 19

Conclusão: o legado de Monsenhor Amílcar Amaral 21

Bibliografia 22

1
INTRODUCÃO

No contexto da participação num seminário dedicado ao estudo de “Rostos do


Presbiterado no século XX”, resolvi conhecer um pouco melhor a figura de Monsenhor
Amílcar Amaral, insigne presbítero da diocese de Aveiro, conhecido em Portugal e além-
fronteiras sobretudo pelo contributo que deu à renovação da catequese no nosso país.
Quando passam 100 anos do nascimento de Monsenhor Amílcar Amaral (14 de
dezembro de 1919) e nos 29 anos do seu falecimento (13 de dezembro de 1990), é
imperativo que se recupera a vida e a obra deste padre severense, figura maior destas terras
e um dos rostos mais importantes do presbiterado português do século XX. Fazer a sua
biografia é conhecer uma vida contínua procura, própria de um espírito insatisfeito, na
procura de sempre mais e melhor para glória de Deus1.

Nascido em terras de Sever do Vouga, as mesmas onde desenvolvo a minha


atividade pastoral, partilho com Monsenhor Amílcar Amaral o gosto pela catequese e a
vontade de procurar novas formas de evangelizar o povo simples, função pedagógica de
quem ajuda a crescer na fé e no gosto pela vida. Era este o sonho de Monsenhor Amílcar
Amaral, seja como jovem pároco, seja como diretor do Secretariado Nacional de
Catequese, seja como professor, catequeta e divulgador da Palavra de Deus, seja como
empreendedor e dinamizador de iniciativas de caracter social e cultural.

É este perfil de presbítero que me proponho apresentar neste trabalho, correndo o


risco de não assumir aquela distância crítica que uma tarefa desta natureza exige, uma vez
que a minha admiração por Monsenhor Amílcar Amaral advém do facto de ter ‘herdado’
algumas das iniciativas por ele criadas: fui pároco e responsável pelo Centro Cultural do
complexo de São Macário, sou diretor do jornal mensal ‘Terras do Vouga’ de que ele foi o
primeiro diretor, partilho com ele o sentido de uma liturgia participada de modo ativo,
pleno e consciente e dedico uma parte significativa do meu estudo pessoal às questões da
catequese e da iniciação cristã.

A primeira deste trabalho é dedicada a apresentar a biografia deste padre severense


de espírito inquieto, sempre à procura, sempre a inovar, reveladora de um presbítero que
ama a Igreja e procura servir ao jeito de Jesus. Foi essa a marca que deixou enquanto
pároco de Águeda; foi esse o espírito que o levou a estudar em Paris e a participar em
inúmeros eventos formativos em Portugal e no estrangeiro. Foi essa a marca com que
1
Ver o meu trabalho sobre Monsenhor Amílcar Amaral em Licínio CARDOSO, «Editorial», Terras Vouga
(Dezembro 2019), Sever do Vouga, página 3.

2
marcou o destino do Secretariado Nacional da Catequese nos dez anos em que foi o seu
diretor. E foi essa a identidade que ficou na memória dos seus jovens conterrâneos, hoje
adultos (na idade e na fé) graças ao trabalho desenvolvido à volta do complexo de São
Macário na promoção e educação cultural, social e cristã das então crianças e jovens.

A segunda parte é dedicada a acentuar alguns dos aspetos que definem Monsenhor
Amílcar Amaral como presbítero: a sua ação como pároco ao longo de treze anos e que o
catapultou para a ribalta do clero aveirense e português; logo aqui se revelou o seu perfil de
presbítero: um padre ao serviço do Povo de Deus na forma como educou na fé, como
atendeu aos mais necessitados e como desenvolveu um sentido de liturgia participada na
linha do que dez anos mais tarde dirá o concílio Vaticano II. Assim, olharei para o legado
de Monsenhor Amílcar catequeta, sobretudo a marca que deixou na catequese em Portugal;
muitas das suas intuições continuam válidas; darei conta das suas iniciativas a favor dos
mais pobres e ainda da forma como se preocupava com a formação dos mais simples, seja
nas suas obras de divulgação bíblica, seja nas iniciativas de formação litúrgica.

Monsenhor Amílcar deu-se e ainda hoje se dá à Igreja. Ele continua presente, não
apenas no prolongamento dos seus livros e obras, mas no perfil de um presbítero que é
preciso recuperar e recordar, pois sempre viveu na ânsia de construir o Reino de Deus. Esta
é, antecipada e resumidamente, a conclusão a que cheguei na pesquisa, reflexão e
elaboração deste trabalho: um visionário, com uma especial capacidade de comunicar, de
encontrar novas linguagens para a comunicação; um empreendedor que nunca baixou os
braços, um homem de fé, consciente das suas debilidades e das suas capacidades. Um
homem de Deus que consagrou toda a sua vida “Àquele que é o Mestre, de que todos
somos pequenos arautos. E que arauto encontrou o Mestre neste ilustre severense!”2

Quando na diocese de Aveiro se dedica um triénio pastoral à vocação,


concretamente o terceiro ano à vocação para o presbiterado, é uma riqueza e uma
oportunidade revistar a vida e obra deste presbítero notável.

2
Luís Manuel Pereira da SILVA, «Padre Amílcar Amaral - o homem para além do seu tempo», em Igreja
Aveirense, Aveiro 2012, página 219

3
1. BIOGRAFIA DE UMA VIDA DE CONTÍNUA PROCURA, PRÓPRIA DE
UM ESPÍRITO INSATISFEITO3

Amílcar Amaral nasceu no lugar de Paçô, freguesia e concelho de Sever do Vouga


a 14 de dezembro de 1919. À data, este território, pertencendo ao distrito de Aveiro,
integrava a diocese de Viseu. Por isso, o menino Amílcar entra no seminário de Viseu em
outubro de 1932, com a idade de 13 anos. Seus pais, Albano Martins Pereira e Olívia da
Conceição Amaral, numa casa de 11 filhos, não tinham dinheiro para os seu filho ingressar
no seminário, pelo que Amílcar pediu dinheiro emprestado para poder seguir aquilo a que
desde menino aspirava: ser padre, conforme revelou a sua irmã Esmeraldina que o
acompanhou de perto ao longo de toda a sua vida.4

Em 1938 é restaurada a diocese de Aveiro, pela bula do papa Pio XI Omnium


Ecclesiarum, de 24 de agosto e executada a 11 de dezembro de 1938. A diocese tem agora
novos limites territoriais e o concelho de Sever do Vouga passa a fazer parte da nova
diocese.5 É assim que Amílcar Amaral, em 1939 ingressa no seminário dos Olivais como
aluno de Aveiro, onde permanece até 1942.6

Amílcar Amaral é ordenado sacerdote a 9 de agosto de 1942 na capela do Paço


Episcopal de Aveiro por D. João Evangelista de Lima Vidal, o bispo da restauração da
diocese e cantou a Primeira Missa a 15 de agosto na igreja Matriz de Sever do Vouga, festa
da padroeira. Em 6 de novembro é nomeado coadjutor da paróquia de Águeda e pároco de
Castanheira do Vouga. A 30 de agosto de 1943 é nomeada pároco de Águeda, sucedendo a
3
Por ocasião da Missão Jubilar, celebração dos 75 anos da restauração da diocese de Aveiro, o jornal Terras
do Vouga, jornal das paróquias do arciprestado de Sever do Vouga, dedicou algumas páginas a Monsenhor
Amílcar Amaral, ilustre filho destas terras e figura incontornável da história da diocese. Publicámos uma
cronologia de Amílcar Amaral: Filomena SÊCA, «Monsenhor Amílcar Amaral, o severense que renovou a
catequese na diocese e a nível nacional», Terras Vouga (Janeiro 2013), página 13. Ver também um texto
sobre pessoas notáveis da diocese de Aveiro: Luís Manuel Pereira da SILVA, «Padre Amílcar Amaral - o
homem para além do seu tempo», em Igreja Aveirense, Aveiro 2012, 215-219, onde o autor indica que “este
poderia ser o texto de uma homenagem póstuma, devida e merecida”.
4
Muitas das informações sobre Monsenhor Amílcar Amaral foram obtidas junto de Esmeraldina Amaral, sua
irmã, numa entrevista que conduzimos e que serviu de base ao texto publicado no jornal Terras do Vouga em
dezembro de 2015, página 8, por ocasião do 25º aniversário do seu falecimento. Esmeraldina fez questão
sublinhar que o seu irmão, quando vinha a casa ajudava no que fosse necessário, “mesmo a cozinhar”, e
gostava de, como ele dizia, “refrescar as árvores”, ou seja pegar na máquina de sulfatar, encher de água e
borrifar folhas e frutos, designadamente os figos. Amílcar Amaral foi o primeiro diretor deste mensário entre
1982 e 1985.
5
João Gonçalves GASPAR, «Aveiro, diocese de», Dicionário de História Religiosa de Portugal, página 170;
Idem, Diocese de Aveiro. Subsídios para a sua história, Diocese de Aveiro, Aveiro 2014, página 359
6
João Gonçalves GASPAR, Diocese de Aveiro. Subsídios para a sua história., Diocese de Aveiro, Aveiro
2014, página 409. Com Amílcar Amaral seguem para Lisboa seguiram mais quarenta alunos nesse dia de 26
de setembro de 1949.

4
monsenhor José Bernardino Santos Silva, deixando Castanheira do Vouga a 7 de outubro.
Além de professor de História do 4º e 5º ano, durante dois anos, no colégio de São
Bernardo, ainda em Águeda é nomeado professor de Religião e Moral na Escola Industrial
e Comercial, função que assegura até 7 de julho de 1956, ano que deixa a paroquialidade
de Águeda. Foram treze anos de trabalho pastoral notável que o tornam visível na diocese e
no país: catequese, ação social, renovação litúrgica, campanhas de angariação de fundos,
património dos pobres…7

Enquanto foi pároco de Águeda desempenhou funções de caráter diocesano: de 21


de maio de 1944 a 25 de março de 1957 foi membro da Comissão de Interpretação do
Sínodo Diocesano8. A diocese de Aveiro, através do seu primeiro diocesano e sob a
presidência de D. João Evangelista de Lima realizou sentiu a necessidade de organizar este
evento, previsto no Código de Direito Canónico de 1917 (cânone 356) como forma a
diocese tenha “pouco de cor própria, de feição característica, de distinção local (…) para
promover o espírito de fundamental de unidade que é indispensável, pelo menos nas suas
linhas essenciais, para a prudente direção das almas numa igreja” 9. Foi também membro da
Comissão Orientadora do Centro de Ação Pastoral, criado a 25 de novembro de 1952 e
secretário da Comissão Diocesana de Catequese de 1953 a 1955. Foi ainda presidente do
Fundo Permanente para o Secretariado Diocesano de Catequese.

Em 1949 organiza e orienta os trabalhos do 1º Congresso Catequístico Diocesano,


que decorreu de 12 a 16 de outubro. Para melhor o preparar e organizar, desloca-se a Paris
em busca de material de apoio (quadros, ilustrações, filmes, máquinas de projeção) exposto
durante o congresso e que posteriormente esteve ao serviço da catequese, quer a nível
paroquial quer a nível diocesano. Para criar interesse pela realização do deste Congresso,
para sensibilizar e motivar á participação, escreve dois artigos no jornal diocesano
“Correio do Vouga” com os sugestivos títulos: “Porque precisamos do Congresso?” (17 de
setembro de 1949) e “De quem necessita o Congresso?” (24 de setembro de 1949). No
final deste congresso, Amílcar Amaral apresenta para apreciação algumas conclusões: que

7
Cfr. José BELINQUETE, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da renovação
da catequese em Portugal», páginas 3-6. O padre José Belinquete, presbítero da diocese de Aveiro, trabalhou
muito de perto com monsenhor Amílcar Amaral enquanto responsável do secretariado diocesano de
catequese de Aveiro e tem muita documentação para um melhor conhecimento desta grande figura do
presbitério de Aveiro. Alguma dessa documentação já foi dada a conhecer nas duas obras monumentais do
padre Belinquete: História da Catequese (2011) e História do Ensino da Doutrina Cristã a Escola (2017).
8
Sínodo Diocesano de Aveiro. Celebrado em 21 de Maio de 1944, Aveiro 1944, página XXIII
9
Ibidem, página XIII-XIV.

5
se peça ao venerando prelado a sua influência no sentido de ser criado um Secretariado
Nacional da Catequese que seja encarregado de promover a publicação de não só um
Catecismo Nacional, mas também de livros, manuais, folhetos e outros instrumentos de
explicação do mesmo e dar diretivas para o ensino da Moral nas escolas e nos liceus10.

Em 1950 realizou-se em Aveiro um Tríduo Catequístico para o Clero. Aí, Amílcar


Amaral apresenta duas comunicações: Formação para a Primeira Comunhão e O papel da
família na formação cristã das crianças. Qual deve ser a nossa atitude perante uma família
descristianizada? No mesmo ano participa na Semana de Estudos Catequísticos, em
Coimbra, de 24 a 29 de julho, realizada no Seminário Maior de Coimbra, onde apresenta o
tema: Formação para a 1ª Comunhão. Contou com a presença de sessenta sacerdotes de
todo o país e é considerada a iniciativa que marca o processo de renovação da catequese
em Portugal11. Esta semana de estudos foi presidida por monsenhor Domingos da
Apresentação Fernandes, secretário-geral da Junta Central da Ação Católica e futuro bispo
de Aveiro. Ainda em 1950, participa 1º Congresso Internacional de Catequese realizado
em Roma. Faz comunicação sobre “A Primeira Comunhão, a Comunhão Solene e a
Renovação das Promessas do Batismo em Portugal” e uma outra sobre “As funções e as
atividades do Secretariado Diocesano de Catequese”.

Participou ainda em outros encontros ligados à catequese e à pastoral: no “Dias


Catequísticos” organizados pelo patriarcado de Lisboa, de 9 a 11 de janeiro de 1951 onde
tratou o tema “A criança e o seu meio” e na primeira Semana de Estudos Pastorais da
diocese de Aveiro, realizada de 6 a 10 de novembro de 1952, onde fez uma comunicação
sobre “Festas cristãs”12.

Entretanto, a pedido da Pia Sociedade de São Paulo (Paulistas), elabora um


catecismo de Primeira Comunhão, apoiado pelo capelão do hospital de Águeda, o padre
José Reinaldo Matos. Esse catecismo é analisado por um grupo de pessoas, entre as quais o
cónego Gregório Neves, professor de catequética no seminário dos Olivais, o padre
Henrique Policarpo Canas e o próprio padre Amílcar Amaral. Após algumas correções é
apresentado ao cardeal patriarca de Lisboa, Gonçalves Cerejeira que julgou fazer dele o
Catecismo Nacional e é publicado o primeiro de quatro volumes a 7 de outubro de 1953.
10
José BELINQUETE, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da renovação da
catequese em Portugal», página 6
11
José BELINQUETE, História da Catequese, Gráfica de Coimbra, Coimbra 2011, páginas 942-946
12
José BELINQUETE, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da renovação da
catequese em Portugal», página 9.

6
Assim, de 1952 a 1956 preparou e elaborou os quatro volumes do 1º Catecismo Nacional,
bem como os quatros Guias de Ensino, por pedido expresso do Cardeal Cerejeira 13. Todo
este trabalho, dedicação e competência leva a que seja escolhido pelo Episcopado
Português, em 1956, para Diretor do, recentemente criado, Secretariado Nacional de
Catequese. Aceita o pedido, na condição14 de se poder preparar no Instituto Católico de
Paris, onde estuda de 1956 a 1959. Por isso deixou de ser professor e 7 de julho de 1956 e
a paróquia de Águeda a 9 de julho do mesmo ano.

Parte para Paris em outubro de 1956 e matricula-se como aluno do Instituto


Católico de Paris. A 28 de junho 1958 diploma-se em Pedagogia Catequética com a
segunda mais alta classificação desse ano e decide ficar mais um ano, tendo-se licenciado
em Teologia Dogmática, em 1959, com a menção “magna cum laude”, a mais alta
conferida nesse ano. Aproveita as férias grandes de 195 para estudar alemão no Instituto
Goethe em Munique e nas de 1958 vai até Londres e frequenta um programa de Inglês para
estrangeiros.

Regressado a Portugal, fixa residência em Lisboa a 2 de janeiro de 1960 e a 1 de


março do mesmo ano inicia as funções de Diretor do Secretariado Nacional de Catequese 15.
Como diretor do Secretariado Nacional de Catequese representou Portugal nas reuniões de
estudo das equipas europeias e nas reuniões de secretários nacionais de Catequese, em
Paris, Milão e Madrid. Para além da organização pastoral, administrativa, editorial,
económica e pedagógica do Secretariado Nacional de Catequese, em 1968 participa no
Congresso Internacional de Catequese em Medellin, Colômbia, por ocasião da ida de Paulo
VI ao Congresso Eucarístico de Bogotá. Entretanto, começam a manifestar-se os
problemas de saúde (três hérnias discais na cervical), sendo sujeito a várias intervenções
cirúrgicas. Fica enfraquecido e limitado nos movimentos de braço e perna direitos, pelo
que em 1970 pede demissão do cargo de Secretario Nacional de Catequese. O pedido viria
a ser aceite pela Conferência Episcopal Portuguesa reunida em Assembleia Plenária em
junho de 1971. A carta com a aceitação do pedido de demissão tem a data de 24 de junho e
é assinada pelo presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, D. Manuel Santos

13
Para conhecer o conturbado processo de elaboração e aprovação de um catecismo nacional, consultar José
BELINQUETE, História da Catequese, páginas 952 e seguintes.
14
Ibídem, página 992
15
A história da catequese deste período está bem documentada, ainda que não plenamente pensada e
refletida. É assombroso o pormenor das fontes publicadas pelo padre Belinquete na sua monumental História
da Catequese a que já fizemos referência.

7
Rocha, bispo com ligações à diocese de Aveiro, pois viveu em Calvão, concelho de Vagos,
até ingressar no seminário de Coimbra em 1915.

Passa então a residir na sua casa em Paçô, Sever do Vouga, diocese de Aveiro. A
sua ação pastoral não para, tendo sido Arcipreste de Sever do Vouga até 1983 e membro
do Secretariado Diocesano da Educação Cristã e da Catequese. Continua a publicar
catecismos, livros de divulgação da Palavra de Deus e colige em “Sinfonia de Poemas” os
melhores textos de Reinaldo Matos16. A par da publicação de obras de formação religiosa
para crianças e adolescentes, guias de educadores e obras de carácter bíblico, em 1982 é
nomeado como primeiro diretor do jornal Terras do Vouga, propriedade das paróquias do
arciprestado de Sever do Vouga que ainda hoje existe17.

Colabora nas obras de restauro e remodelação da Igreja Matriz de Sever do Vouga,


“o maior impulsionador e o primeiro contribuinte” 18. A mesma foi inaugurada em 15 de
agosto de 1967, por ocasião da comemoração dos 25 anos da sua Missa Nova.

Em 1972 inicia a construção da nova capela de S. Mateus no lugar de Paçô, onde


vivia, benzida em 6 de maio de1973 por D. Manuel de Almeida Trindade, para a qual
muito contribuiu com bens pessoais, além de ter orientado todos os trabalhos, seja na
planificação do projeto, seja na angariação de fundos.

Em 1978 inicia os trabalhos para a construção da nova capela de S. Macário e


respetivo Centro Cultural, cuja inauguração e dedicação da capela ocorreu a 6 de junho de
1982, obras que custaram 17.500 contos (17.000.00 de escudos). Já em Águeda, enquanto
pároco, organizou a construção da residência paroquial e deixou orientadas, adjudicadas e
iniciadas a primeiras obras do que hoje se chama ‘CEFAS’- Centro de Formação e
Assistência Social. Os dois projetos são muito semelhantes: o Centro Cultural de S.
Macário e o Cefas, pois têm biblioteca, salas de reuniões e salão de cinema e de
espetáculos. As obras do complexo de S. Macário são inauguradas no dia 6 de junho de
1982. Como preparação deste ato, promove um Curso de Iniciação Bíblica de 24 a 28 de

16
Da sua autoria, Amílcar Amaral publicou 28 títulos, mais 8 em coautoria e inúmeros textos em jornais e
revistas. Creio que algum material ainda não publicado deveria conhecer a luz do dia, sobretudo conferências
e entrevistas, é de extrema importância para conhecer a história da catequese em Portugal na segunda metade
do século XX.
17
Alguns artigos deste mensário, do qual sou o diretor atual desde 2010, estão catalogados e indexados pela
Biblioteca Municipal de Sever do Vouga e podem ser consultados através da internet em http://www.cm-
sever.pt/nyron/Library/Catalog/.
18
José BELINQUETE, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da renovação da
catequese em Portugal», página 14

8
maio, orientado pelo padre José Machado Lopes do Missionários Capuchinhos e um Curso
de Renovação Carismática, de 31 de maio a 4 de junho, orientado pelo padre António
Fernandes do Mosteiro de Singeverga.

Monsenhor Amílcar Amaral19 vem a falecer no Hospital de Águeda a 13 de


dezembro de 1990, véspera do seu aniversário natalício e o seu funeral realizou-se em
Sever do Vouga.

2. A OBRA E O LEGADO DE MONSENHOR AMÍLCAR AMARAL

Para compreendermos a obra e o legado de Monsenhor Amílcar Amaral, há que


situar a sua ação pastoral no contexto da renovação do catolicismo português no século
XX, nomeadamente o impulso dado pelo Concílio Plenário Português em 1926 e pelo
confronto dos católicos com a modernidade, gerando novos dinamismo eclesiais, assentes
na renovação do clero e num maior envolvimento dos leigos a ação pastoral da Igreja. Uma
pastoral mais atenta às reais necessidades das pessoas e que reclama uma maior formação
catequética e teológica20.

Além disso, o período de formação de Amílcar Amaral no Seminário dos Olivais


marcou-o necessariamente. É de realçar figuras como o cónego Gregório Neves, professor
na área da catequética com Amílcar Amaral trabalhará e monsenhor Pereira dos Reis, reitor
do Seminário dos Olivais entre 1931 e 1945 e figura ilustre do Movimento Litúrgico em
Portugal. Outro marco importante, a meu ver, no desenvolvimento da maturidade pastoral
e teológica de Amílcar Amaral é o facto de em 1943 ter sido publicada a carta encíclica
Divino Afflante Spiritu do papa Pio XII sobre os estudos bíblicos, documento que abriu
novos horizontes ao papel da Bíblia na formação dos cristãos, uma verdadeira ‘Magna
Carta para o progresso bíblico’, expressão muito acertada do biblista Raimond Brown.

É com estas marcas que Amílcar Amaral assume o seu múnus pastoral como
pároco: uma época em que o movimento de renovação bíblica, catequética e litúrgica,
precursores e preparadores do concílio Vaticano II, que ele viverá e estudará já na
qualidade de diretor do Secretariado Nacional de Catequese.

19
Foi nomeado Monsenhor – Camareiro Secreto Supranumerário – pelo papa Paulo VI a 15 de dezembro de
1965.
20
Ver o trabalho de Paulo Fontes em História religiosa de Portugal, vol. 3, páginas 129-315.

9
2.1 AÇÃO PASTORAL COMO PÁROCO

Enquanto pároco, Amílcar Amaral começou a delinear o seu trajeto futuro, pois foi
desenvolvendo uma obra que faz dele um padre preocupado com o Povo de Deus,
sobretudo com os mais simples e os mais “precisados” de ajuda. O padre Amílcar Amaral,
em treze anos de paroquialidade, atuou em diversas frentes, com visão e espírito
empreendedor.

2.1.1 – Com os mais pobres e necessitados

A vila de Águeda, em 1942 era um pequeno aglomerado junto ao rio e em volta da


igreja matriz. Tinha algumas casas senhoriais e pequenos bairros. Apesar de haver algumas
famílias abastadas, a grande maioria eram operários, muitos deles vindos da serra do
Caramulo. Havia muita fome, era o tempo da segunda Guerra Mundial.

O padre Amílcar Amaral criou estruturas organizacionais e materiais para promover


a missão da Igreja em favor do Povo, sobretudo junto dos mais pobres: criou e oficializou a
instituição de caridade chama ‘Sopa dos Pobres’, ” onde a tia Rosa era a cozinheira e lá
iam comer o Pantera, o Chico Tinhoso, o Júlio, o Cheta, o Chantra e mulher e algumas
mulheres iam lá buscar a sopa”21. Mandou construir as primeiras casas do Património dos
pobres, no lugar de Paredes e promoveu durante muitos anos a realização das ‘Festas dos
Pobres’, iniciativa de angariação de fundos indispensáveis à ação socio caritativa da
paróquia.

A ideia da construção das casas para os pobres foi uma proposta do tenente-coronel
Pinho e Freitas, comandante da Escola Central de Sargentos, em carta ao padre Américo
Monteiro de Aguiar, a oferecer uma casa paga pelos oficiais e alunos, mas que tinha que
ser construída em Águeda. O padre Américo concorda e promete doze contos, ao mesmo
tempo que desafia o pároco e o povo Águeda a construírem outra. Num texto publicado no
jornal Soberania do Povo22, Amílcar Amaral dá conta de uma visita que lhe fez o padre
Américo, na companhia de três gaiatos, em 14 de fevereiro de 1953, para saber como vai o
projeto da construção das casas do Património dos Pobres e como conseguia dinheiro para
21
Testemunho de António Gomes de Almeida na sessão de homenagem a Monsenhor Amílcar Amaral
realizada no dia 14 de dezembro de 2019 no CEFAS, em Águeda.
22
António Gomes de Almeida não refere a data ou número de edição do mesmo, mas apresenta uma foto
desse texto. Não foi possível em tempo útil consultar o referido semanário para obter identificação correta do
texto.

10
a Sopa dos Pobres. O padre Amílcar responde-lhe que este trabalho de angariação de
fundos é “como uma fogueira que começa a atear-se: a princípio custa, mas em pegando,
vai… e até a lenha verde acaba por ser queimada como a seca…”. O padre Amílcar sempre
um homem de fé e de esperança.

É nesse encontro que o padre Amílcar apresenta um plano para resolver o


problema dos pobres isolados, “daqueles que não têm ninguém com eles e que nem sabem
cozinhar. Uma casa só, mas com quatro quartos independentes, de porta para a rua e, ao
lado de cada quarto, uma cozinha pequenina, para se aquecerem ou aquecerem a sopa que
lhes derem. Essas quatro cozinhas ficam no centro da casa, de modo que uma única
chaminé serve para todos”. O padre Amílcar era um homem prático. No final do texto, o
padre Amílcar Amaral não deixa de exclamar: que grande alma, este padre Américo!

Ainda do ponto de vista social, o padre Amílcar Amaral cria em 1943, a Liga
Operária, com quota de 10 tostões para adultos e 5 tostões para jovens, para constituir um
fundo de apoio aos operários na saúde. Esta Liga foi extinta em 1944 com a criação da
Caixa de Previdência do Distrito de Aveiro em março de 1944. Adquiriu o terreno onde se
construíram a residência paroquial, onde não chegou a morar, e o Centro de Formação e
Assistência Social (CEFAS). Deixou orientadas, adjudicadas e iniciadas as primeiras obras
do CEFAS. A residência paroquial foi paga em vinte anos, através da cooperativa ‘O
problema da Habitação’23. O padre Amílcar, um homem empreendedor.

2.1.2 – Na dinamização de uma liturgia participada de modo consciente

Ainda como pároco, produziu e publicou materiais para a dinamização da Liturgia,


preocupado com a participação ativa, plena e consciente do povo nas celebrações, no
espírito do que dirá mais tarde o concílio Vaticano II no número 14 doa constituição sobre
a Sagrada Liturgia. Num livrinho que publicou em 1952 intitulado “A nossa Missa”, o
padre Amílcar dá indicações muito precisas sobre o que é preciso para promover a
participação dos fiéis nas missas paroquiais e como conseguir essa participação 24.
Relevante é o seu conselho de “nunca se deve ensinar uma resposta, ou a tomar uma
atitude em comum (de pé, de joelhos, sentados) sem primeiro ter explicado bem o sentido e
o porquê dessa resposta ou desse modo de proceder”. E “se houver quem leia para todos a
Oração, a Epístola, o Evangelho… teremos quase todo o caminho andado e o ambiente das
23
José BELINQUETE, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da renovação da
catequese em Portugal», páginas 4-5.
24
Amílcar AMARAL, A nossa Missa, Gráfica de Coimbra 1952, páginas 3-5.

11
25
nossas missas paroquiais totalmente melhorado. Experimentemos!...” “O padre Amílcar
Amaral era um homem de fé, comunicativo, que procurava integrar as pessoas e sobretudo
um homem de oração”, que me inspirou a seguir o sacerdócio. Era diferente, porque
comunicava connosco, jogava à bola, comunicava com filmes, com imagens Na missa
estava voltado para o povo e eu e o meu irmão liámos em português o evangelho enquanto
ele lia em latim baixinho”26.

2.1.3 – Na dinamização da catequese

Também como pároco dinamizou a catequese paroquial com espírito inovador,


criando catecismos e materiais de apoio. A grande preocupação do padre Amílcar Amaral
era que as crianças aprendessem e experimentassem o que é viver com cristão. Após o 1º
Congresso Catequístico Diocesano de Aveiro, foi pedido que o bispo Lima Vidal exercesse
influência junto dos outros bispos para se criar um catecismo nacional e que o mesmo não
se ficasse pelas perguntas e respostas. O desejo de um catecismo nacional já vinha desde o
Concílio Plenário Português, celebrado em 192627.

Na diocese de Aveiro, o tema do Catecismo N acional era objeto de todas as


reuniões do clero. O padre Amílcar Amaral28, ainda prior de Águeda, desejava
ardentemente ver publicado um catecismo nacional. Para realizar este sonho pensou pedir
ao cónego Boyer autorização para traduzir e publicar o seu Catecismo da Primeira
Comunhão. Nesta altura, a Pia Sociedade de São Paulo pediu ao padre Amílcar para
preparar um Catecismo da Primeira Comunhão e para isso enviou-lhe alguns catecismos
italianos, cujos desenhos ficavam à sua disposição. O catecismo foi preparado, tendo sido
preciosa a ajuda do capelão do hospital de Águeda, padre José Reinaldo Matos.

Em 1952 um pequeno grupo de pessoas, padre Amílcar Amaral, secundado pelo


cónego Gregório Neves, professor de Catequética no seminário dos Olivais, e pelo padre

25
Ibídem, página 5.
26
Testemunho do padre António da Graça Cruz, do presbitério de Aveiro, nas Jornadas de Catequese a 25 de
outubro de 2019, em Fátima, que era criança quando o padre Amílcar Amaral foi nomeado pároco de
Águeda.
27
Ao falar da instrução catequética das crianças, o Concílio Plenário decretou que dentro de três anos, a
contar da sua promulgação, houvesse um único texto de catecismo em todas as dioceses. Demorou 24 anos a
alcançar este desejo e só foi possível pela mão do padre Amílcar Amaral.
28
Na abordagem ao processo que levou à elaboração do Catecismo Nacional, segui de perto António
MOITEIRO RAMOS, Os Catecismos Portugueses, Paulinas, Lisboa 1998, paginas 119-122. Para uma
informação mais detalhada de todo este processo, consultar José BELINQUETE, História da Catequese,
páginas 964-968

12
Henrique Policarpo Canas, analisou o dito catecismo, modificando o que consideraram
mais necessário, tendo depois sido apresentado ao Cardeal Patriarca, que julgou
conveniente fazer dele o Catecismo Nacional.

Sentida a necessidade de haver um catecismo para cada ano de escolaridade,


rapidamente se dedicou à elaboração dos outros três volumes do Catecismo Nacional
ficando o programa de catequese em quatro volumes. Estes contaram sempre com a
aprovação do Cardeal Cerejeira e foram publicados entre 1953 e 1956.

Ao padre Amílcar Amaral, ainda como pároco de Águeda, pertence-lhe a redação


dos mesmos e os retoques finais aos outros membros da equipa, contando ainda com a
ajuda de D. Policarpo da Costa Vaz (então bispo auxiliar de Lisboa e, mais tarde, bispo da
Guarda) e do Cardeal Cerejeira assistida por um teólogo por si nomeado, o Padre Francisco
Wakers, ex professor do seminário dos Olivais e pároco da Penha de França, em Lisboa.
Enquanto os catecismos eram assim elaborados, o Caderno de Trabalhos Práticos e o Guia
de Ensino do educador que acompanhavam o catecismo eram feitos e redigidos
diretamente pelo padre Amílcar Amaral. Ele que era pároco de Águeda, com todos os
afazeres e ao mesmo tempo professor de Religião, escreveu tudo isto durante quatro anos
seguidos, aproveitando para tal o tempo de férias.

2.1.4 – Os catecismos do padre Amílcar: catecismo nacional

O primeiro volume era destinado a todas as crianças de Portugal que deviam fazer a
sua primeira comunhão por volta dos 7 anos, a fim de despertar já nos corações infantis
uma autêntica vida cristã, conforme está escrito no prefácio do mesmo escrito pelo cardeal
Cerejeira. Era orientado para facilitar o trabalho educativo nas famílias, nas catequeses e
nas escolas a quantos são responsáveis pela alta missão de fazer desabrochar na alma
infantil a virtude e a santidade. “Ensinando-se, cuide se da formação cristã da criança
atenda se às condições várias da sua preparação cristã e desenvolvimento faça se com que
ela compreenda toda a doutrina, a ame e aplique à sua vida procure-se que retenha de
memória o que deve reter e consequentemente se prepare de modo a poder já confessar se e
comungar pelo Tempo Pascal”29.

O segundo volume, publicado em 1 de novembro de 1954, tem como objetivo


desenvolver e aprofundar a vida cristã, sobretudo os sacramentos. Fala na participação da
vida divina e trata, de um modo particular, os sacramentos, aprofundando a figura de
29
Amílcar AMARAL, Doutrina Cristã. Catecismo Nacional. Volume I (Primeira Comunhão)., Lisboa 1953,

13
Cristo. Este volume dá muita atenção às condições necessárias para se receber o
sacramento da Confirmação. Apesar ser um catecismo feito especialmente para crianças, o
padre Amílcar acredita que “tal como foi concebido, será um auxiliar valioso para o
párocos colocarem nas mãos dos adultos em geral e, de um modo especial, nas mãos
daqueles que chegam ao Casamento sem qualquer formação religiosa”30.

O terceiro catecismo versa sobre as normas de perfeição moral aprovadas ou


propostas por Jesus Cristo. Há nesta catecismo a preocupação de estudar a vida moral
cristã sob um ângulo positivo e não como uma série de proibições, mas chamando à
perfeição e à imitação de Jesus. “Foi este o ideal que procurámos atingir”31

O quarto volume, publicado em 15 de agosto de 1956, destinava-se às crianças que


se preparavam para a Profissão de Fé. Anda, todo ele, à volta do Ano Litúrgico, apesar de
já nos volumes anteriores se tentar fazer coincidir o ensino das verdades da fé com os
momentos mais importantes do Ano Litúrgico. Apresenta todas as suas lições de catequese
“na moldura impressionante e sempre atraente dos domingos e principais festas do Ano
Litúrgico para que as crianças – adultos de amanhã - se habituem a conhecer e saborear,
desde já, a vida litúrgica da Santa Igreja, nossa Mãe”32.

O Catecismo Nacional foi significativo, teve uma difusão enorme e foi sinal de
amadurecimento da catequese portuguesa; provocou um novo esforço de organização das
catequeses paroquiais e principalmente de formação de catequistas, no domínio espiritual,
doutrinal, bíblico e psicopedagógico. A catequese proposta nestes catecismos pretendia ser
uma catequese de anúncio e comunicação da Palavra de Deus adaptada aos destinatários,
envolvente e ativa, orientada para o compromisso, a mudança de atitudes. “A publicação
dos quatro catecismos supõe a generalização, a todo o país, da pedagogia ativa na
catequese, através de materiais próprios para a criança (catecismo e caderno de trabalhos
práticos) e para o catequista (guia de ensino e material didático para a catequese) ” 33.

2.1.5 – As reações aos catecismos do padre Amílcar

30
Amílcar AMARAL, Guia de Ensino. Catecismo Nacional., vol. II, Lisboa , 4a 1958, página 7.
31
Amílcar AMARAL, Guia de Ensino. Catecismo Nacional., vol. III, Lisboa , 4a 1958, página 5.
32
Amílcar AMARAL, Guia de ensino. Catecismo Nacional, vol. IV, Lisboa , 2a 1960, página 5.
33
António MOITEIRO RAMOS, Os Catecismos Portugueses, página 122

14
Mais tarde, o Padre Amílcar recordará que “trabalhei sempre para poder ajudar a
resolver um grande problema da catequese em Portugal, e, aliás, no mundo inteiro, que era
a falta de instrumentos de trabalho adequados e como havia apenas catecismos de
perguntas e respostas achei que era altura de por mão à formação, à preparação dum
catecismo que não fosse só perguntas e respostas34.

“A necessidade que sentia de modificar, de alterar até a maneira como se dava


catequese às crianças, não apenas perguntas e respostas que as crianças decoravam como
quem decorava a tabuada, mas que não tinha influência nenhuma na vida prática, mas para
ser uma assimilação cada vez mais profunda das verdades religiosas e uma vivência cristã
também cada vez mais profunda daquilo que se ia ensinado35”.

Estes catecismos foram concebidos tendo em conta as orientações preconizadas


Escola Nova aplicadas à educação religiosa e na linha do que vinha desenvolvendo Joseph
Colomb na Escola Catequética de Lyon, França. A linha seguida nos cadernos de trabalhos
práticos seguia de perto o que preconizaram autores como a pedagoga Marie Fargues e que
já constavam dos trabalhos pelas escolas de Paris (Instituto Católico), Bélgica (Lumen
Vitae) e a Escola de Munique36.

Todo este trabalho e empenhamento do padre Amílcar Amaral não passou


despercebido e por isso é convidado para diretor o Secretariado Nacional de Catequese.
Apesar disso, e à conta de um artigo publicado no jornal diocesano Correio do
Vouga de 31 de outubro de 1953, alguns dos seus colegas não lhe perdoam a ousadia de ter
conseguido em pouco tempo o que se andava a fazer há vinte e quatro anos: “apraz-nos
registar que é uma honra para todo o clero e para toda a diocese de Aveiro que a disposição
do Catecismo, o número de lições, o número e a espécie de desenhos – tudo isto ficou,
praticamente, como estava no Catecismo apresentado pelo senhor Padre Amílcar Amaral,
sofrendo apenas, aqui ou ali, algumas ligeiras alterações.” 37 A reação do padre Gregório
Neves através de uma carta é publicada no Correio do Vouga de 7 de novembro de 1953,
cuja preocupação maior é dizer os esforços feitos até então na elaboração do Catecismo

34
Entrevista gravada mas não transmitida, à rádio Botaréu, a 17 de junho de 1989, feita por António Breda,
citada por José BELINQUETE, História da Catequese, página 968
35
Comunicação apresentada em 31 de julho de 1981 na Semana Nacional de Pastoral Catequética realizada
em Mira e a pedido do Padre António Cavaco Carrilho, diretor do SNEC, citada por José BELINQUETE,
História da Catequese, página 966.
36
Ibídem, página 963
37
Ibídem, página 965

15
nacional, ao mesmo tempo que não deixa de apoucar o trabalho do Padre Amílcar,
considerado um simples projeto e da autoria dos bispos.

Por isso, o padre Amílcar mais tarde recorda que “se estivéssemos à espera de só
publicar as obras quando elas já não têm defeito nenhum, nunca chegaríamos a publicá-las,
e quando só queremos fazer coisas perfeitas, acabamos por não fazer coisa nenhuma; de
maneira que sujeitei-me a todas imperfeições que tem um trabalho de experiência… Achei
que valia a pena arriscar”38.

2.2 O RENOVADOR E ORGANIZADOR DA CATEQUESE EM


PORTUGAL

No dia 1 de Março de 1960 toma posse como Diretor do Secretariado Nacional de


catequese. Serão dez anos de trabalho de excelência de um catequeta que dinamizou a
renovação da catequese em Portugal na segunda metade do século XX39.

Começou por organizar o secretariado, solicitando que o mesmo não esteja


dependente da Ação Católica, mas dependa diretamente do Episcopado Português, o que
foi aceite. O Secretariado Nacional de Catequese passa a ter autonomia administrativa,
económica e pedagógica, prestando contas da sua atividade e da sua administração
diretamente ao Episcopado através da Comissão Episcopal da Educação Cristã.

É de realçar a sua forma de organizar o Secretariado Nacional, tratando da sua


independência e capacidade editorial; a nível comercial garante que as tipografias enviem
os catecismos diretamente para os secretariados diocesanos de catequese, evitando ter
despesas de armazenamento; garantiu a sustentabilidade do Secretariado Nacional e ajudou
os secretariados diocesanos a terem capacidade financeira ao dar-lhes percentagem da
venda de catecismos, que eram quem tinha exclusivo da venda de catecismos.

Amílcar Amaral continuou a produzir e a publicar textos e material de apoio à


catequese, bem como para as aulas de Moral e Religião para os vários ciclos escolares.

Um aspeto bastante relevante e que merece ser sublinhado é o facto de ter


implementado todo um processo renovação e inovação da conceção de catequese e dos
38
Ibídem, página 968
39
O trabalho desenvolvido pelo padre Amílcar Amaral no Secretariado Nacional de Catequese está muito
bem documentado em José BELINQUETE, História da Catequese, páginas 992-1086, que aqui seguimos de
perto.

16
seus métodos, que partilhava nas reuniões anuais de no trabalho com os secretariados
diocesanos e publicava no Boletim de Informação Pastoral (BIP) e nas revistas de
catequese que se publicavam. A reunião anual com todos os secretariados diocesanos 40
permitia avaliar os trabalhos programados e planificar os projetos a desenvolver, quer a
nível nacional, quer a nível diocesano. Fazia-se, não só o levantamento dos maiores
problemas e necessidades mais urgentes, como também se procuravam as melhores
soluções para implementar a nível e a nível diocesano, contando com a colaboração do
padre Amílcar, que se deslocava às várias dioceses sempre necessário.

Sobre o papel das reuniões anuais dos secretariados, Monsenhor Amílcar recorda:
“foi o início de um novo e decisivo arranque para a revitalização da catequese em Portugal,
especialmente através do incremento da formação de catequistas e da adoção de novas
técnicas pedagógicas na ministração da catequese às crianças. (..) Foi a partir daqui que se
realizaram em todas as dioceses do País reuniões e cursos de atualização catequética, quer
para religiosos e leigos, quer para sacerdotes”41.

Em nome do episcopado português, enquanto este participava nas sessões do


concílio Vaticano II, negociou com o governo português, com o ministério da educação, a
legislação que permitiu concretizar o ensino religioso nas escolas do ensino primário, ciclo
preparatório e escolas do Magistério Primário, previsto na Concordata com a Santa Sé 42,
pois era necessário dar suporte às condições que dela decorriam43.

Em 1961, por proposta sua, a Conferência Episcopal Portuguesa aprovada as


“Bases da Catequese Elementar em Portugal”, que ele mesmo elaborou. As mesmas
passarão a ser obrigatórias na elaboração dos Regulamentos Diocesanos de Catequese. A
catequese em Portugal para a ser constituída pela ‘catequese maternal’, a começar nas
famílias e destina-se a crianças com menos de seis anos e pela ‘catequese elementar’ que
abrangerá as crianças dos seis anos até à Profissão de Fé, a ser feita por volta dos doze
anos44. Para além de dar indicações precisas sobre as condições para a celebração da
Primeira Comunhão e Profissão de Fé (Bases V a XI), define as várias categorias de

40
Para ver as datas, locais e assuntos tratados nessas reuniões, ver José BELINQUETE, História da Catequese,
páginas 996 e seguintes.
41
Ibídem, página 1010
42
A Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português foi assinada em 7 de maio de 1940.
43
Luís Manuel Pereira da SILVA, «Padre Amílcar Amaral - o homem para além do seu tempo», página 217.
44
Conforme consta na Base IV

17
catequistas: auxiliar de catequista, catequista aspirante, catequista, catequista responsável,
indicando as condições para integrar cada uma dessas categorias45.

Amílcar Amaral sugere na reunião anual de 192 a criação do Instituto Superior de


Catequética ligado à Universidade Católica e, pelo menos, no imediato, a criação duma
Escola Normal de Educadores da Fé.

Organiza no ano pastoral 1962-1963 o Inquérito Catequístico Nacional, cujos dados


foram publicados no Boletim de Informação Pastoral 46 nº 37-38 de 1965 e na revista Voz
da Catequese. O inquérito, dirigido a todas as paróquias e dioceses do Continente, obteve a
respostas de 3390 paróquias das 3806 existentes e que permitiu ter um retrato do que era a
catequese em Portugal.

Já em 1961, o padre Amílcar publicava um texto no Boletim de Informação


Pastoral onde partilha que “aproximadamente 50% das crianças portuguesas não recebem
qualquer formação religiosa ou recebem-na muitíssimo deficiente. Quer dizer que, em cada
ano, passam para a adolescência e para a idade adulta uns 100.000 portugueses sem fé
alguma ou apenas com uns rudimentos absolutamente insuficientes de formação cristã.
[…] E mesmo destas que seguem a catequese paroquial durante dois, três ou quatro anos,
já pensámos que a maior parte delas recebem esta formação cristã em termos ultra
deficientes, o que a torna pouco eficaz? A triste dramática realidade é esta: só 15 a 20%
das crianças portuguesas recebem uma formação cristã relativamente sólida! E não nos
deixemos iludir pelas que frequentam as nossas catequeses.”47

O padre Amílcar Amaral sentiu a necessidade de difundir por escrito, através do


Boletim de Informação Pastoral, o modelo ou novo paradigma de catequese que
preconizava. Trata-se de um verdadeiro manual de Catequética. Começa logo em 1960 e o
primeiro artigo tem o sugestivo título: “miséria duma catequese que se limita a explicar e
fazer decorar.” Nessas publicações, apresenta uma história da catequese desde o século
XVI, define as características da pedagogia catequística, o necessário clima religiosa, como
devem ser organizadas as salas de catequese (dimensões, aspeto, decoração, dá indicações

45
Ver com pormenor as Bases XIV e XV.
46
O Boletim de Informação Pastoral publicou-se de 1955 a 1970 e teve como principal mentor o padre
Manuel Franco Falcão, futuro bispo de Beja. Trata-se de uma fonte imprescindível para conhecer a história
da igreja e da pastoral em Portugal no antes e pós concílio Vaticano II.
47
Citado em UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA – CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA RELIGIOSA –
Carlos A. Moreira AZEVEDO, História religiosa de Portugal, vol. 3, Círculo de Leitores, Lisboa 2000, página
215.

18
precisas sobre como deve ser o mobiliário e alternativas na sua ausência.…) e a disposição
das cadeiras; indica as atividades que se podem realizar e o valor pedagógico das mesmas;
realça a importância dos gestos, da liturgia, a mímica, do canto, da modelagem, do desenho
livre; explica em pormenor como se deve organizar uma sessão de catequese48.

Como diretor do Secretariado Nacional de catequese, o padre Amílcar Amaral


promoveu a vinda a Portugal de grandes especialistas em catequese: Anne Marie Agnard
François Coudrau, F. Derkenne e Soeur Jeane d’Arc, todos professores no Instituto
Superior de Pastoral Catequética do Instituto Católico de Paris onde ele mesmo estudou.

Revelador do seu espírito e da sua permanente e incansável atitude de procurar o


melhor para a catequese, logo que terminou a elaboração dos textos de Religião e Moral da
escola primária, liceu e escolas técnicas, voltou-se para a remodelação dos textos
destinados à catequese paroquial pois os mesmos já estavam em uso há 12 anos. Impunha-
se a sua revisão completa, recordará mais tarde 49. Surgem assim os catecismos: ‘Deus
chama-nos’ (1969), ‘Quem sois vós, Senhor?’ (1970), ‘Que quereis de nós, Senhor?’
(1970) e ‘Vivemos no Senhor’ (1970).

2.3 RETIRADO MAS NÃO APOSENTADO

Após deixar a direção do Secretariado Nacional de Catequese, regressa à sua casa


no lugar e Paçô, na freguesia e concelho de Sever do Vouga. Começa uma vida de dor e
limitação física, vividas com um sorriso e uma fé inabaláveis, continuando a formar e a
ajudar os “precisados”50

A partir da sua casa em Paçô, Monsenhor Amílcar Amaral continua a publicar, a


construir, a ajudar. No Centro Cultural de São Macário, que ele contruiu, desenvolve
intensa atividade com crianças e jovens. Dinamiza a biblioteca (uma biblioteca com mais
de mil títulos de literatura, ciência, cultura geral e… poucos de religião). Promove o
convívio entre as pessoas através do bar, do salão de teatro e da projeção de filmes. Está
com as crianças, os jovens e eles querem estar com o Monsenhor. O Centro Cultural de S.
Macário tem um impacto fortíssimo na formação de crianças, adolescentes, jovens e

48
O texto é apresentado na íntegra em José BELINQUETE, História da Catequese, páginas 1011-1056
49
Ibídem, página 1067
50
Licínio CARDOSO, «Recordar o padre Amílcar Amaral (1919-1990), um severense com projeção na Igreja
nacional», Terras Vouga (Dezembro 2015), Sever do Vouga,

19
adultos, conforme testemunho de quem usufruiu dessa dinâmica pastoral 51. Este êxito
pastoral não agradou ao pároco de Sever do Vouga e Monsenhor Amílcar Amaral é
“convidado” a não celebrar nessa comunidade. Resta-lhe a pequena capela de Paçô.
Humildemente aceita, considerando que a sua saúde lhe limita mais a autonomia e a
mobilidade.

As suas homilias eram atuais e incisivas. Um dos seus sobrinhos, no tempo de


PREC não deixou de as gravar para enviar aos militares dos setores da esquerda radical e
anti Igreja. Além dos catecismos que publica em colaboração com o padre Belinquete,
prepara e publica obras de formação religiosa para crianças e adolescentes, guias de
educadores, obras de divulgação bíblica. É o caso de ‘Os maiores tesouros da Palavra de
Deus em três volumes, ‘Genesis’, ‘A mensagem dos Profetas’. Estas obras de carácter
bíblico vêm na linha de outras que já tinha publicado, como é o caso de ‘A nossa história
divina’, texto para as aulas de Religião e Moral, de 1964-1965; ‘Bíblia das criancinhas’
(1956), ‘Deus e os homens’ de 1960 e ‘Jesus, nosso salvador’ de 1961.

A obra mais interessante e original nesta área bíblica é o seu ‘Evangelho de Jesus
Cristo’, uma obra que procura construir uma vida de Jesus, com “as cenas da vida de Jesus
e os seus ensinamentos pela ordem mais provável da sua sucessão no decorrer de três anos
da vida pública do mesmo Jesus” 52. Uma das suas preocupações, desde os tempos de
pároco em Águeda era a formação do povo, publicando material em linguagem que as
pessoas entendessem. Assim se entende este pormenor curioso quando, ao apresentar a
parábola do Bom Samaritano, comenta e explica o gesto do samaritano que pegou em dois
denários e os deu ao estalajadeiro, “ou seja, 800$00 de 1982”53

CONCLUSÃO: O LEGADO DE MONSENHOR AMÍLCAR AMARAL

Que rosto fica do presbítero Amílcar Amaral? Considero-o um visionário, com uma
especial capacidade de comunicar, de encontrar novas linguagens para a comunicação. Ao

51
Muitos dos catequistas e agentes de pastoral com quem trabalhei em Sever do Vouga, Silva Escura e
Dornelas eram crianças e adolescentes dos grupos acompanhados por Monsenhor Amílcar Amaral.
52
Amílcar AMARAL, O Evangelho de Jesus Cristo, Gráfica de Coimbra 1982, página 13. Na introdução trata
de explicar com pormenor “a razão de ser desta obra”
53
Ibídem, página 259.

20
longo deste trabalho descobrimos um empreendedor que nunca baixou os braços, um
homem de fé, consciente das suas debilidades e das suas capacidades

Como pároco, Amílcar Amaral teve esta grande preocupação com o povo,
procurando que este entendesse a sua fé, a celebrasse de modo consciente. Era um padre
imbuído do espírito do movimento de renovação litúrgica que culmina no Vaticano II.

Quem o conheceu e foi seu paroquiano, testemunha que o padre Amílcar Amaral
era um homem de fé, comunicativo, que procurava integrar com as pessoas, um padre que
inspirava. Um visionário, com uma especial capacidade de comunicar, de encontrar novas
linguagens para a comunicação. Por isso viajou, estudou no estrangeiro, procurou aprender
mais línguas, inglês de alemão, que também sabia francês, latim…

Como pároco, foi um padre preocupado com os mais simples e os mais pobres,
dinamizando a “Sopa dos Pobres”, a construção das primeiras casas do Património dos
Pobres, não se coibindo de apontar soluções e tipologias de construção. Um homem
prático!

Monsenhor Amílcar Amaral distinguiu-se sobretudo como o homem da catequese,


é assim que ele é reconhecido. Como homem de fé, consciente das suas debilidades e das
suas capacidades, não deixou de ser um visionário. A propósito da publicação dos
primeiros catecismos, disse anos mais tarde: “se estivéssemos à espera de só publicar as
obras quando elas já não têm defeito nenhum, nunca chegaríamos a publicá-las, e quando
só queremos fazer coisas perfeitas, acabamos por não fazer coisa nenhuma; de maneira que
sujeitei-me a todas imperfeições que tem um trabalho de experiência… Achei que valia a
pena arriscar”.

Desde cedo o padre Amílcar sentiu necessidade “de modificar, de alterar até a
maneira como se dava catequese às crianças, não apenas perguntas e respostas que as
crianças decoravam como quem decorava a tabuada, mas que não tinha influência
nenhuma na vida prática, mas para ser uma assimilação cada vez mais profunda das
verdades religiosas e uma vivência cristã também cada vez mais profunda daquilo que se ia
ensinado”.

O padre Amílcar Amaral foi um empreendedor que nunca baixou os braços, como
se vê pelo projeto sonhado e concretizado do Centro e Igreja de São Macário, herança que
após a sua morte não teve devida continuidade. Aliás, o padre Amílcar não teve vida fácil,

21
mas também não se calava e por isso também foi dos que teve homilias gravadas no verão
quente de 1975, gravações feitas por quem era da família… O fim da sua vida foi de dor e
limitação, vivido com um sorriso e uma fé inabaláveis, continuando a formar e a ajudar os
“precisados” de ajuda. Já perto da sua morte, bastante debilitado, escreve a sua assinatura
no prefácio da tese de doutoramento do padre Georgino Rocha dizendo-lhe: “Não assino à
mão por já não poder.”

Monsenhor Amílcar deu-se e ainda hoje se dá à Igreja. Ele continua presente, não
apenas na perenidade dos seus livros e das obras que edificou, mas no perfil de um
presbítero que é preciso recuperar e recordar, pois sempre viveu na ânsia de construir o
Reino de Deus.

BIBLIOGRAFIA

AMARAL, Amílcar, A nossa Missa, Gráfica de Coimbra 1952.


–——, Doutrina Cristã. Catecismo Nacional. Volume I (Primeira Comunhão)., Lisboa 1953.
–——, Guia de Ensino. Catecismo Nacional., vol. II, Lisboa , 4a 1958.
–——, Guia de Ensino. Catecismo Nacional., vol. III, Lisboa , 4a 1958.
–——, Guia de ensino. Catecismo Nacional, vol. IV, Lisboa , 2a 1960.
–——, O Evangelho de Jesus Cristo, , Gráfica de Coimbra 1982.

BELINQUETE, José, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da


renovação da catequese em Portugal».
–——, História da Catequese, Gráfica de Coimbra, Coimbra 2011.

CARDOSO, Licínio, «Editorial», Terras Vouga (Dezembro 2019), Sever do Vouga 3.


–——, «Recordar o padre Amílcar Amaral (1919-1990), um severense com projeção na Igreja
nacional», Terras Vouga (Dezembro 2015), Sever do Vouga 8-9.

GASPAR, João Gonçalves, «Aveiro, diocese de», Dicionário de História Religiosa de Portugal.
–——, Diocese de Aveiro. Subsídios para a sua história., Diocese de Aveiro, Aveiro 2014.

MOITEIRO RAMOS, António, Os Catecismos Portugueses, Paulinas, Lisboa 1998.

ROCHA, Georgino – SÊCA, Filomena, «Monsenhor Amílcar Amaral, o severense que renovou a
catequese na diocese e a nível nacional», Terras Vouga (Janeiro 2013) 13.

SILVA, Luís Manuel Pereira da, «Padre Amílcar Amaral - o homem para além do seu tempo», em
Igreja Aveirense, Aveiro 2012, 215-219.

UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA – CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA RELIGIOSA –


AZEVEDO, Carlos A. Moreira, História religiosa de Portugal, vol. 3, Círculo de Leitores,
Lisboa 2000.

Sínodo Diocesano de Aveiro. Celebrado em 21 de Maio de 1944, Aveiro 1944.

22

Você também pode gostar