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FACULDADE DE TEOLOGIA
INDICE
Introdução 2
Bibliografia 22
1
INTRODUCÃO
2
marcou o destino do Secretariado Nacional da Catequese nos dez anos em que foi o seu
diretor. E foi essa a identidade que ficou na memória dos seus jovens conterrâneos, hoje
adultos (na idade e na fé) graças ao trabalho desenvolvido à volta do complexo de São
Macário na promoção e educação cultural, social e cristã das então crianças e jovens.
A segunda parte é dedicada a acentuar alguns dos aspetos que definem Monsenhor
Amílcar Amaral como presbítero: a sua ação como pároco ao longo de treze anos e que o
catapultou para a ribalta do clero aveirense e português; logo aqui se revelou o seu perfil de
presbítero: um padre ao serviço do Povo de Deus na forma como educou na fé, como
atendeu aos mais necessitados e como desenvolveu um sentido de liturgia participada na
linha do que dez anos mais tarde dirá o concílio Vaticano II. Assim, olharei para o legado
de Monsenhor Amílcar catequeta, sobretudo a marca que deixou na catequese em Portugal;
muitas das suas intuições continuam válidas; darei conta das suas iniciativas a favor dos
mais pobres e ainda da forma como se preocupava com a formação dos mais simples, seja
nas suas obras de divulgação bíblica, seja nas iniciativas de formação litúrgica.
Monsenhor Amílcar deu-se e ainda hoje se dá à Igreja. Ele continua presente, não
apenas no prolongamento dos seus livros e obras, mas no perfil de um presbítero que é
preciso recuperar e recordar, pois sempre viveu na ânsia de construir o Reino de Deus. Esta
é, antecipada e resumidamente, a conclusão a que cheguei na pesquisa, reflexão e
elaboração deste trabalho: um visionário, com uma especial capacidade de comunicar, de
encontrar novas linguagens para a comunicação; um empreendedor que nunca baixou os
braços, um homem de fé, consciente das suas debilidades e das suas capacidades. Um
homem de Deus que consagrou toda a sua vida “Àquele que é o Mestre, de que todos
somos pequenos arautos. E que arauto encontrou o Mestre neste ilustre severense!”2
2
Luís Manuel Pereira da SILVA, «Padre Amílcar Amaral - o homem para além do seu tempo», em Igreja
Aveirense, Aveiro 2012, página 219
3
1. BIOGRAFIA DE UMA VIDA DE CONTÍNUA PROCURA, PRÓPRIA DE
UM ESPÍRITO INSATISFEITO3
4
monsenhor José Bernardino Santos Silva, deixando Castanheira do Vouga a 7 de outubro.
Além de professor de História do 4º e 5º ano, durante dois anos, no colégio de São
Bernardo, ainda em Águeda é nomeado professor de Religião e Moral na Escola Industrial
e Comercial, função que assegura até 7 de julho de 1956, ano que deixa a paroquialidade
de Águeda. Foram treze anos de trabalho pastoral notável que o tornam visível na diocese e
no país: catequese, ação social, renovação litúrgica, campanhas de angariação de fundos,
património dos pobres…7
7
Cfr. José BELINQUETE, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da renovação
da catequese em Portugal», páginas 3-6. O padre José Belinquete, presbítero da diocese de Aveiro, trabalhou
muito de perto com monsenhor Amílcar Amaral enquanto responsável do secretariado diocesano de
catequese de Aveiro e tem muita documentação para um melhor conhecimento desta grande figura do
presbitério de Aveiro. Alguma dessa documentação já foi dada a conhecer nas duas obras monumentais do
padre Belinquete: História da Catequese (2011) e História do Ensino da Doutrina Cristã a Escola (2017).
8
Sínodo Diocesano de Aveiro. Celebrado em 21 de Maio de 1944, Aveiro 1944, página XXIII
9
Ibidem, página XIII-XIV.
5
se peça ao venerando prelado a sua influência no sentido de ser criado um Secretariado
Nacional da Catequese que seja encarregado de promover a publicação de não só um
Catecismo Nacional, mas também de livros, manuais, folhetos e outros instrumentos de
explicação do mesmo e dar diretivas para o ensino da Moral nas escolas e nos liceus10.
6
Assim, de 1952 a 1956 preparou e elaborou os quatro volumes do 1º Catecismo Nacional,
bem como os quatros Guias de Ensino, por pedido expresso do Cardeal Cerejeira 13. Todo
este trabalho, dedicação e competência leva a que seja escolhido pelo Episcopado
Português, em 1956, para Diretor do, recentemente criado, Secretariado Nacional de
Catequese. Aceita o pedido, na condição14 de se poder preparar no Instituto Católico de
Paris, onde estuda de 1956 a 1959. Por isso deixou de ser professor e 7 de julho de 1956 e
a paróquia de Águeda a 9 de julho do mesmo ano.
13
Para conhecer o conturbado processo de elaboração e aprovação de um catecismo nacional, consultar José
BELINQUETE, História da Catequese, páginas 952 e seguintes.
14
Ibídem, página 992
15
A história da catequese deste período está bem documentada, ainda que não plenamente pensada e
refletida. É assombroso o pormenor das fontes publicadas pelo padre Belinquete na sua monumental História
da Catequese a que já fizemos referência.
7
Rocha, bispo com ligações à diocese de Aveiro, pois viveu em Calvão, concelho de Vagos,
até ingressar no seminário de Coimbra em 1915.
Passa então a residir na sua casa em Paçô, Sever do Vouga, diocese de Aveiro. A
sua ação pastoral não para, tendo sido Arcipreste de Sever do Vouga até 1983 e membro
do Secretariado Diocesano da Educação Cristã e da Catequese. Continua a publicar
catecismos, livros de divulgação da Palavra de Deus e colige em “Sinfonia de Poemas” os
melhores textos de Reinaldo Matos16. A par da publicação de obras de formação religiosa
para crianças e adolescentes, guias de educadores e obras de carácter bíblico, em 1982 é
nomeado como primeiro diretor do jornal Terras do Vouga, propriedade das paróquias do
arciprestado de Sever do Vouga que ainda hoje existe17.
16
Da sua autoria, Amílcar Amaral publicou 28 títulos, mais 8 em coautoria e inúmeros textos em jornais e
revistas. Creio que algum material ainda não publicado deveria conhecer a luz do dia, sobretudo conferências
e entrevistas, é de extrema importância para conhecer a história da catequese em Portugal na segunda metade
do século XX.
17
Alguns artigos deste mensário, do qual sou o diretor atual desde 2010, estão catalogados e indexados pela
Biblioteca Municipal de Sever do Vouga e podem ser consultados através da internet em http://www.cm-
sever.pt/nyron/Library/Catalog/.
18
José BELINQUETE, «Monsenhor Dr. Amílcar Amaral. O grande catequeta do século XX da renovação da
catequese em Portugal», página 14
8
maio, orientado pelo padre José Machado Lopes do Missionários Capuchinhos e um Curso
de Renovação Carismática, de 31 de maio a 4 de junho, orientado pelo padre António
Fernandes do Mosteiro de Singeverga.
É com estas marcas que Amílcar Amaral assume o seu múnus pastoral como
pároco: uma época em que o movimento de renovação bíblica, catequética e litúrgica,
precursores e preparadores do concílio Vaticano II, que ele viverá e estudará já na
qualidade de diretor do Secretariado Nacional de Catequese.
19
Foi nomeado Monsenhor – Camareiro Secreto Supranumerário – pelo papa Paulo VI a 15 de dezembro de
1965.
20
Ver o trabalho de Paulo Fontes em História religiosa de Portugal, vol. 3, páginas 129-315.
9
2.1 AÇÃO PASTORAL COMO PÁROCO
Enquanto pároco, Amílcar Amaral começou a delinear o seu trajeto futuro, pois foi
desenvolvendo uma obra que faz dele um padre preocupado com o Povo de Deus,
sobretudo com os mais simples e os mais “precisados” de ajuda. O padre Amílcar Amaral,
em treze anos de paroquialidade, atuou em diversas frentes, com visão e espírito
empreendedor.
A ideia da construção das casas para os pobres foi uma proposta do tenente-coronel
Pinho e Freitas, comandante da Escola Central de Sargentos, em carta ao padre Américo
Monteiro de Aguiar, a oferecer uma casa paga pelos oficiais e alunos, mas que tinha que
ser construída em Águeda. O padre Américo concorda e promete doze contos, ao mesmo
tempo que desafia o pároco e o povo Águeda a construírem outra. Num texto publicado no
jornal Soberania do Povo22, Amílcar Amaral dá conta de uma visita que lhe fez o padre
Américo, na companhia de três gaiatos, em 14 de fevereiro de 1953, para saber como vai o
projeto da construção das casas do Património dos Pobres e como conseguia dinheiro para
21
Testemunho de António Gomes de Almeida na sessão de homenagem a Monsenhor Amílcar Amaral
realizada no dia 14 de dezembro de 2019 no CEFAS, em Águeda.
22
António Gomes de Almeida não refere a data ou número de edição do mesmo, mas apresenta uma foto
desse texto. Não foi possível em tempo útil consultar o referido semanário para obter identificação correta do
texto.
10
a Sopa dos Pobres. O padre Amílcar responde-lhe que este trabalho de angariação de
fundos é “como uma fogueira que começa a atear-se: a princípio custa, mas em pegando,
vai… e até a lenha verde acaba por ser queimada como a seca…”. O padre Amílcar sempre
um homem de fé e de esperança.
Ainda do ponto de vista social, o padre Amílcar Amaral cria em 1943, a Liga
Operária, com quota de 10 tostões para adultos e 5 tostões para jovens, para constituir um
fundo de apoio aos operários na saúde. Esta Liga foi extinta em 1944 com a criação da
Caixa de Previdência do Distrito de Aveiro em março de 1944. Adquiriu o terreno onde se
construíram a residência paroquial, onde não chegou a morar, e o Centro de Formação e
Assistência Social (CEFAS). Deixou orientadas, adjudicadas e iniciadas as primeiras obras
do CEFAS. A residência paroquial foi paga em vinte anos, através da cooperativa ‘O
problema da Habitação’23. O padre Amílcar, um homem empreendedor.
11
25
nossas missas paroquiais totalmente melhorado. Experimentemos!...” “O padre Amílcar
Amaral era um homem de fé, comunicativo, que procurava integrar as pessoas e sobretudo
um homem de oração”, que me inspirou a seguir o sacerdócio. Era diferente, porque
comunicava connosco, jogava à bola, comunicava com filmes, com imagens Na missa
estava voltado para o povo e eu e o meu irmão liámos em português o evangelho enquanto
ele lia em latim baixinho”26.
25
Ibídem, página 5.
26
Testemunho do padre António da Graça Cruz, do presbitério de Aveiro, nas Jornadas de Catequese a 25 de
outubro de 2019, em Fátima, que era criança quando o padre Amílcar Amaral foi nomeado pároco de
Águeda.
27
Ao falar da instrução catequética das crianças, o Concílio Plenário decretou que dentro de três anos, a
contar da sua promulgação, houvesse um único texto de catecismo em todas as dioceses. Demorou 24 anos a
alcançar este desejo e só foi possível pela mão do padre Amílcar Amaral.
28
Na abordagem ao processo que levou à elaboração do Catecismo Nacional, segui de perto António
MOITEIRO RAMOS, Os Catecismos Portugueses, Paulinas, Lisboa 1998, paginas 119-122. Para uma
informação mais detalhada de todo este processo, consultar José BELINQUETE, História da Catequese,
páginas 964-968
12
Henrique Policarpo Canas, analisou o dito catecismo, modificando o que consideraram
mais necessário, tendo depois sido apresentado ao Cardeal Patriarca, que julgou
conveniente fazer dele o Catecismo Nacional.
O primeiro volume era destinado a todas as crianças de Portugal que deviam fazer a
sua primeira comunhão por volta dos 7 anos, a fim de despertar já nos corações infantis
uma autêntica vida cristã, conforme está escrito no prefácio do mesmo escrito pelo cardeal
Cerejeira. Era orientado para facilitar o trabalho educativo nas famílias, nas catequeses e
nas escolas a quantos são responsáveis pela alta missão de fazer desabrochar na alma
infantil a virtude e a santidade. “Ensinando-se, cuide se da formação cristã da criança
atenda se às condições várias da sua preparação cristã e desenvolvimento faça se com que
ela compreenda toda a doutrina, a ame e aplique à sua vida procure-se que retenha de
memória o que deve reter e consequentemente se prepare de modo a poder já confessar se e
comungar pelo Tempo Pascal”29.
13
Cristo. Este volume dá muita atenção às condições necessárias para se receber o
sacramento da Confirmação. Apesar ser um catecismo feito especialmente para crianças, o
padre Amílcar acredita que “tal como foi concebido, será um auxiliar valioso para o
párocos colocarem nas mãos dos adultos em geral e, de um modo especial, nas mãos
daqueles que chegam ao Casamento sem qualquer formação religiosa”30.
O Catecismo Nacional foi significativo, teve uma difusão enorme e foi sinal de
amadurecimento da catequese portuguesa; provocou um novo esforço de organização das
catequeses paroquiais e principalmente de formação de catequistas, no domínio espiritual,
doutrinal, bíblico e psicopedagógico. A catequese proposta nestes catecismos pretendia ser
uma catequese de anúncio e comunicação da Palavra de Deus adaptada aos destinatários,
envolvente e ativa, orientada para o compromisso, a mudança de atitudes. “A publicação
dos quatro catecismos supõe a generalização, a todo o país, da pedagogia ativa na
catequese, através de materiais próprios para a criança (catecismo e caderno de trabalhos
práticos) e para o catequista (guia de ensino e material didático para a catequese) ” 33.
30
Amílcar AMARAL, Guia de Ensino. Catecismo Nacional., vol. II, Lisboa , 4a 1958, página 7.
31
Amílcar AMARAL, Guia de Ensino. Catecismo Nacional., vol. III, Lisboa , 4a 1958, página 5.
32
Amílcar AMARAL, Guia de ensino. Catecismo Nacional, vol. IV, Lisboa , 2a 1960, página 5.
33
António MOITEIRO RAMOS, Os Catecismos Portugueses, página 122
14
Mais tarde, o Padre Amílcar recordará que “trabalhei sempre para poder ajudar a
resolver um grande problema da catequese em Portugal, e, aliás, no mundo inteiro, que era
a falta de instrumentos de trabalho adequados e como havia apenas catecismos de
perguntas e respostas achei que era altura de por mão à formação, à preparação dum
catecismo que não fosse só perguntas e respostas34.
34
Entrevista gravada mas não transmitida, à rádio Botaréu, a 17 de junho de 1989, feita por António Breda,
citada por José BELINQUETE, História da Catequese, página 968
35
Comunicação apresentada em 31 de julho de 1981 na Semana Nacional de Pastoral Catequética realizada
em Mira e a pedido do Padre António Cavaco Carrilho, diretor do SNEC, citada por José BELINQUETE,
História da Catequese, página 966.
36
Ibídem, página 963
37
Ibídem, página 965
15
nacional, ao mesmo tempo que não deixa de apoucar o trabalho do Padre Amílcar,
considerado um simples projeto e da autoria dos bispos.
Por isso, o padre Amílcar mais tarde recorda que “se estivéssemos à espera de só
publicar as obras quando elas já não têm defeito nenhum, nunca chegaríamos a publicá-las,
e quando só queremos fazer coisas perfeitas, acabamos por não fazer coisa nenhuma; de
maneira que sujeitei-me a todas imperfeições que tem um trabalho de experiência… Achei
que valia a pena arriscar”38.
16
seus métodos, que partilhava nas reuniões anuais de no trabalho com os secretariados
diocesanos e publicava no Boletim de Informação Pastoral (BIP) e nas revistas de
catequese que se publicavam. A reunião anual com todos os secretariados diocesanos 40
permitia avaliar os trabalhos programados e planificar os projetos a desenvolver, quer a
nível nacional, quer a nível diocesano. Fazia-se, não só o levantamento dos maiores
problemas e necessidades mais urgentes, como também se procuravam as melhores
soluções para implementar a nível e a nível diocesano, contando com a colaboração do
padre Amílcar, que se deslocava às várias dioceses sempre necessário.
Sobre o papel das reuniões anuais dos secretariados, Monsenhor Amílcar recorda:
“foi o início de um novo e decisivo arranque para a revitalização da catequese em Portugal,
especialmente através do incremento da formação de catequistas e da adoção de novas
técnicas pedagógicas na ministração da catequese às crianças. (..) Foi a partir daqui que se
realizaram em todas as dioceses do País reuniões e cursos de atualização catequética, quer
para religiosos e leigos, quer para sacerdotes”41.
40
Para ver as datas, locais e assuntos tratados nessas reuniões, ver José BELINQUETE, História da Catequese,
páginas 996 e seguintes.
41
Ibídem, página 1010
42
A Concordata entre a Santa Sé e o Estado Português foi assinada em 7 de maio de 1940.
43
Luís Manuel Pereira da SILVA, «Padre Amílcar Amaral - o homem para além do seu tempo», página 217.
44
Conforme consta na Base IV
17
catequistas: auxiliar de catequista, catequista aspirante, catequista, catequista responsável,
indicando as condições para integrar cada uma dessas categorias45.
45
Ver com pormenor as Bases XIV e XV.
46
O Boletim de Informação Pastoral publicou-se de 1955 a 1970 e teve como principal mentor o padre
Manuel Franco Falcão, futuro bispo de Beja. Trata-se de uma fonte imprescindível para conhecer a história
da igreja e da pastoral em Portugal no antes e pós concílio Vaticano II.
47
Citado em UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA – CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA RELIGIOSA –
Carlos A. Moreira AZEVEDO, História religiosa de Portugal, vol. 3, Círculo de Leitores, Lisboa 2000, página
215.
18
precisas sobre como deve ser o mobiliário e alternativas na sua ausência.…) e a disposição
das cadeiras; indica as atividades que se podem realizar e o valor pedagógico das mesmas;
realça a importância dos gestos, da liturgia, a mímica, do canto, da modelagem, do desenho
livre; explica em pormenor como se deve organizar uma sessão de catequese48.
48
O texto é apresentado na íntegra em José BELINQUETE, História da Catequese, páginas 1011-1056
49
Ibídem, página 1067
50
Licínio CARDOSO, «Recordar o padre Amílcar Amaral (1919-1990), um severense com projeção na Igreja
nacional», Terras Vouga (Dezembro 2015), Sever do Vouga,
19
adultos, conforme testemunho de quem usufruiu dessa dinâmica pastoral 51. Este êxito
pastoral não agradou ao pároco de Sever do Vouga e Monsenhor Amílcar Amaral é
“convidado” a não celebrar nessa comunidade. Resta-lhe a pequena capela de Paçô.
Humildemente aceita, considerando que a sua saúde lhe limita mais a autonomia e a
mobilidade.
A obra mais interessante e original nesta área bíblica é o seu ‘Evangelho de Jesus
Cristo’, uma obra que procura construir uma vida de Jesus, com “as cenas da vida de Jesus
e os seus ensinamentos pela ordem mais provável da sua sucessão no decorrer de três anos
da vida pública do mesmo Jesus” 52. Uma das suas preocupações, desde os tempos de
pároco em Águeda era a formação do povo, publicando material em linguagem que as
pessoas entendessem. Assim se entende este pormenor curioso quando, ao apresentar a
parábola do Bom Samaritano, comenta e explica o gesto do samaritano que pegou em dois
denários e os deu ao estalajadeiro, “ou seja, 800$00 de 1982”53
Que rosto fica do presbítero Amílcar Amaral? Considero-o um visionário, com uma
especial capacidade de comunicar, de encontrar novas linguagens para a comunicação. Ao
51
Muitos dos catequistas e agentes de pastoral com quem trabalhei em Sever do Vouga, Silva Escura e
Dornelas eram crianças e adolescentes dos grupos acompanhados por Monsenhor Amílcar Amaral.
52
Amílcar AMARAL, O Evangelho de Jesus Cristo, Gráfica de Coimbra 1982, página 13. Na introdução trata
de explicar com pormenor “a razão de ser desta obra”
53
Ibídem, página 259.
20
longo deste trabalho descobrimos um empreendedor que nunca baixou os braços, um
homem de fé, consciente das suas debilidades e das suas capacidades
Como pároco, Amílcar Amaral teve esta grande preocupação com o povo,
procurando que este entendesse a sua fé, a celebrasse de modo consciente. Era um padre
imbuído do espírito do movimento de renovação litúrgica que culmina no Vaticano II.
Quem o conheceu e foi seu paroquiano, testemunha que o padre Amílcar Amaral
era um homem de fé, comunicativo, que procurava integrar com as pessoas, um padre que
inspirava. Um visionário, com uma especial capacidade de comunicar, de encontrar novas
linguagens para a comunicação. Por isso viajou, estudou no estrangeiro, procurou aprender
mais línguas, inglês de alemão, que também sabia francês, latim…
Como pároco, foi um padre preocupado com os mais simples e os mais pobres,
dinamizando a “Sopa dos Pobres”, a construção das primeiras casas do Património dos
Pobres, não se coibindo de apontar soluções e tipologias de construção. Um homem
prático!
Desde cedo o padre Amílcar sentiu necessidade “de modificar, de alterar até a
maneira como se dava catequese às crianças, não apenas perguntas e respostas que as
crianças decoravam como quem decorava a tabuada, mas que não tinha influência
nenhuma na vida prática, mas para ser uma assimilação cada vez mais profunda das
verdades religiosas e uma vivência cristã também cada vez mais profunda daquilo que se ia
ensinado”.
O padre Amílcar Amaral foi um empreendedor que nunca baixou os braços, como
se vê pelo projeto sonhado e concretizado do Centro e Igreja de São Macário, herança que
após a sua morte não teve devida continuidade. Aliás, o padre Amílcar não teve vida fácil,
21
mas também não se calava e por isso também foi dos que teve homilias gravadas no verão
quente de 1975, gravações feitas por quem era da família… O fim da sua vida foi de dor e
limitação, vivido com um sorriso e uma fé inabaláveis, continuando a formar e a ajudar os
“precisados” de ajuda. Já perto da sua morte, bastante debilitado, escreve a sua assinatura
no prefácio da tese de doutoramento do padre Georgino Rocha dizendo-lhe: “Não assino à
mão por já não poder.”
Monsenhor Amílcar deu-se e ainda hoje se dá à Igreja. Ele continua presente, não
apenas na perenidade dos seus livros e das obras que edificou, mas no perfil de um
presbítero que é preciso recuperar e recordar, pois sempre viveu na ânsia de construir o
Reino de Deus.
BIBLIOGRAFIA
GASPAR, João Gonçalves, «Aveiro, diocese de», Dicionário de História Religiosa de Portugal.
–——, Diocese de Aveiro. Subsídios para a sua história., Diocese de Aveiro, Aveiro 2014.
ROCHA, Georgino – SÊCA, Filomena, «Monsenhor Amílcar Amaral, o severense que renovou a
catequese na diocese e a nível nacional», Terras Vouga (Janeiro 2013) 13.
SILVA, Luís Manuel Pereira da, «Padre Amílcar Amaral - o homem para além do seu tempo», em
Igreja Aveirense, Aveiro 2012, 215-219.
22