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Ministério da Defesa

Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais


Departamento de Política e Estratégia

S UBSÍDIOS PARA UMA


E STRATÉGIA DE D ESENVOLVIMENTO
DA A MAZÔNIA S ETENTRIONAL

Programa
Calha Norte
Fundação Getulio Vargas - FGV
Instituto Superior de Administração e Economia - ISAE

S UBSÍDIOS PARA UMA E STRATÉGIA DE D ESENVOLVIMENTO


DA A MAZÔNIA S ETENTRIONAL

Brasília - março - 2001


SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO, 6

INTRODUÇÃO – AMAZÔNIA SETENTRIONAL:


OCUPAÇÃO SELETIVA E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL (SÍNTESE), 8

PRIMEIRA PARTE – CONCEPÇÃO ESTRATÉGICA, 14

CAPÍTULO 1 – O desenvolvimento da Amazônia Setentrional, 15

A PAISAGEM E O HOMEM, 16

O DESENVOLVIMENTO RECENTE, 20

CONDICIONANTES, 22
GLOBALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO NACIONAL, 23
VETORES DE INTERNACIONALIZAÇÃO, 23
VETORES DE INTEGRAÇÃO, 24
A ESTRATÉGIA DE INTEGRAÇÃO NACIONAL, 25
A OPÇÃO AMAZÔNICA, 26
DESDOBRAMENTOS ESTRATÉGICOS. 27
MATRIZ INSTITUCIONAL, 28
COMPATIBILIDADE DE VETORES, 29

RESTRIÇÕES E POTENCIALIDADES, 30
RESTRIÇÕES, 30
POTENCIALIDADES, 33

CAPÍTULO 2 – Objetivos da estratégia, 34

SEGUNDA PARTE – DESDOBRAMENTOS ESTRATÉGICOS, 40

CAPÍTULO 3 – Áreas estratégicas e pólos urbanos, 41

ÁREAS ESTRATÉGICAS, 42
RIO NEGRO, 44

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JAPURÁ–SOLIMÕES, 59
MANAUS, 60
ITACOATIARA–PARINTINS, 61
RORAIMA, 62
TROMBETAS, 63
AMAPÁ, 64

SISTEMA DE CIDADES E PÓLOS URBANOS, 65

INTERAÇÕES INTRA-REGIONAIS, 68

A FAIXA DE FRONTEIRA, 80

CAPÍTULO 4 – Competitividade sistêmica, 83

EIXOS DE INTEGRAÇÃO E INSERÇÃO, 85

REDE URBANA PROSPECTIVA, 89

RECURSOS HUMANOS, 91
EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO, 94
REDUÇÃO DA POBREZA, 96

CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 99

MEIO AMBIENTE, 101

CAPÍTULO 5 – Expansão e modernização produtiva, 104

EXTRATIVISMO E AGROPECUÁRIA, 106

AGRIBUSINESS, 108

INDÚSTRIA EXTRATIVO-MINERAL, 110

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO, 110

TURISMO E OUTROS SERVIÇOS, 111

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CONCLUSÃO – A AMAZÔNIA SETENTRIONAL EM 2010


E O PROGRAMA CALHA NORTE, 114

A AMAZÔNIA SETENTRIONAL EM 2010, 115


METODOLOGIA, 116
RESULTADOS, 118
Amazônia Setentrional, 118
Rio Negro, 120
Japurá–Solimões, 121
Manaus, 122
Itacoatiara–Parintins, 123
Roraima, 124
Trombetas, 126
Amapá, 126

O PROGRAMA CALHA NORTE: DESAFIOS, 128

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APRESENTAÇÃO

Criado em 1985, o Programa Calha Norte, PCN, visa a promover a ocupação e o


desenvolvimento sustentável da Amazônia Setentrional brasileira.

Essa imensa região, com 1,4 milhão de km2 (17% do território do país), ocupa parte
do estado do Amazonas, todo o estado de Roraima, parte do Pará e todo o estado do
Amapá. Sua população é de cerca de 2,7 milhões (menos de 2 habitantes por km2) e nela
estão incluídos cerca de 25% dos indígenas do Brasil. Possui 7,4 mil km de fronteiras
(com o Peru, a Colômbia, a Venezuela, a Guiana, o Suriname e a Guiana Francesa).

O PCN tem sido em grande medida responsável pela presença constante e efetiva do
Estado brasileiro na Amazônia Setentrional: através sobretudo da implantação e manu-
tenção da infra-estrutura dos Pelotões Especiais de Fronteira; do apoio aéreo; do atendi-
mento às tribos indígenas; da assistência às comunidades carentes (educação e saúde,
principalmente), da manutenção e melhoria da infra-estrutura de energia elétrica e trans-
portes (construção e manutenção de portos e segurança da navegação fluvial, construção
e manutenção de aeroportos, conservação de rodovias); e do apoio aos governos de seus
72 municípios, 41 deles situados total ou parcialmente na Faixa de Fronteira.

O Governo brasileiro pretende intensificar, na próxima década, sua atuação na Ama-


zônia Setentrional, especialmente nas áreas de fronteira insuficientemente ocupadas: atra-
vés de ações integradas de desenvolvimento sustentável, envolvendo, de um lado, a esfera
pública (União, estados e municípios) e, de outro, a iniciativa privada. Nesse esforço
articulado de desenvolvimento, o Programa Calha Norte atuará como agente catalisador
e aglutinador de decisões e ações, orientadas por diretrizes estratégicas que ensejem uma
visão coerente e compartilhada do futuro regional.

A finalidade deste estudo é propor opções e delineamentos estratégicos capazes de


orientar o desenvolvimento da Amazônia Setentrional nesta década (2001-2010).

Ele foi elaborado pelo professor Roberto Cavalcanti de Albuquerque, do Instituto


Nacional de Altos Estudos (Inae-Fórum Nacional), do Rio de Janeiro, e professor visitan-
te do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas, com

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sede em Manaus. Teve o apoio, na construção da base de dados e na elaboração dos


cenários de desenvolvimento para 2010, do professor José Raimundo Vergolino, da Uni-
versidade Federal de Pernambuco. Os referidos professores, especializados em planeja-
mento estratégico e economia regional, têm vários trabalhos publicados sobre a Amazô-
nia. Contou ainda com a colaboração dos assistentes de pesquisa Alexandre Domingos
Sávio Caldas Jatobá (mestre em economia, Pimes-UFPE) e Antonio Pessoa Nunes Neto
(bacharel em economia, UFPE), além da estagiária Soraya Santana dos Santos (da gra-
duação em economia daquela Universidade) e do programador visual Mário Duarte (arte
final dos mapas e diagrama).

O estudo, após apresentado em seminário realizado com os gestores do Programa


Calha Norte, realizado em Brasília no dia 24 de novembro de 2000, foi revisto e
complementado, inclusive com o objetivo de incorporar as propostas e sugestões de diri-
gentes e técnicos do PCN. É divulgado pelo PCN na expectativa de que possa tornar-se
referência útil para o desenvolvimento regional nos próximos anos, em especial na orien-
tação e direcionamento da atuação promovida pelo Programa.

Essa visão estratégica global da Amazônia Setentrional está sendo complementada


por planos estratégicos de desenvolvimento regional para sub-regiões da Calha Norte (o
primeiro dos quais, já concluído, é o da Região do Alto Solimões, área fronteiriça à
Colômbia e ao Peru), bem como por planos de desenvolvimento local integrado e susten-
tado, de nível municipal, e por proposta de um novo modelo de gestão para o PCN. Esses
estudos foram elaborados simultaneamente e em interação com a concepção estratégica
e visão de futuro contidas neste documento.

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INTRODUÇÃO – Amazônia Setentrional: ocupação seletiva


e desenvolvimento sustentável (Síntese)

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Ocupação seletiva e desenvolvimento sustentável: é este, em síntese, o propósito do


direcionamento estratégico que se formula neste documento para a Amazônia Setentrio-

nal, área de atuação do Programa Calha Norte, PCN.

Ele tem como horizonte a presente década (2001-2010) e visa a três grandes objetivos.

I – A ordenação do processo de ocupação humana regional, que deve ser descontínuo,

pontual, realizando uma desconcentração concentrada da população e das atividades pro-

dutivas. Evitando pressões antrópicas que possam sobrecarregar o meio ambiente. Bus-

cando a preservação e conservação dos recursos naturais, o ecodesenvolvimento.

II – A aceleração do crescimento, de modo economicamente sustentado e

ambientalmente sustentável.

III – O avanço do desenvolvimento humano, com igualdade de oportunidades, mais

bem-estar, menos pobreza e melhor distribuição de renda.

Esses objetivos desdobram-se em três delineamentos estratégicos, fortemente

interdependentes, que estão ilustrados no Diagrama 1.

O primeiro deles volta-se para a organização do território da Amazônia Setentrional

(área: 1.435,2 mil km2; população: 2,7 milhões; PIB: US$ 12 bilhões; PIB per capita: US$

4.477; IDH: 0,669). Reparte-o em sete Áreas Estratégicas, subespaços de intervenção

das ações de desenvolvimento propostas, e identifica nelas os Pólos

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Boa Vista
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
Fonte: v er texto
4:00hs 8:00hs M ENSAL
RO RA
1 ISM A - O bras S ociais de São josé OIMA
p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
Pa rintin s
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
10

9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -


60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
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São as seguintes Áreas Estratégicas delimitadas e os respectivos Pólos (Diagrama


1, I):

1) Rio Negro (área: 333,8 mil km2; população: 69,8 mil; PIB: US$ 108 milhões;
PIB per capita: US$ 1.547; IDH: 0,489), polarizada por São Gabriel da Cachoeira;

2) Japurá–Solimões (área: 322,4 mil km2; população: 273 mil; PIB: US$ 309,3
milhões; PIB per capita: US$ 1.133; IDH: 0,462), polarizada por Tabatinga–Benjamim
Constant;

3) Manaus (área: 52,4 mil km2; população: 1.269,8 mil; PIB: US$ 8.441,1 mi-
lhões; PIB per capita: US$ 6.648; IDH: 0,756), polarizada por Manaus;

4) Itacoatiara–Parintins (área: 75,9 mil km2; população: 186,7 mil; PIB: US$
399,2 milhões; PIB per capita: US$ 2.138; IDH: 0,557), polarizada por Itacoatiara–
Parintins;

5) Roraima (área: 225,1 mil km2; população: 247,1 mil; PIB: US$ 976,1 milhões;
PIB per capita: US$ 3.950; IDH: 0,728), polarizada por Boa Vista;

6) Trombetas (área: 282 mil km2; população: 264,2 mil; PIB: US$ 533 milhões;
PIB per capita: US$ 2.018; IDH: 0,517), polarizada por Óbidos–Oriximiná; e

7) Amapá (área: 143,5 mil km2; população: 379,5 mil; PIB: US$ 1.276,2 milhões;
PIB per capita: US$ 3.363; IDH: 0,687), polarizada por Macapá.

Essas Áreas Estratégicas são caracterizadas através de indicadores demográficos e


econômico-sociais, sendo também examinadas as interações demográficas e econômicas,
entre elas, de modo a esclarecer os fluxos potenciais, bem como as influências que exer-
cem sobre a Calha Norte os dois macropolos de desenvolvimento da Amazônia, Belém e
Manaus.

Com fundamento nessas análises, é proposto o sistema urbano prospectivo para a


região (Diagrama 1, II), identificando-se seus Pólos prioritários para efeito do reforço de
suas infra-estruturas e serviços urbanos e sua promoção, ao longo da década, para hierar-
quia superior na rede urbana norte-amazônica (são eles, essencialmente, São Gabriel da
Cachoeira e Tabatinga–Benjamim Constant, ambos localizados na Faixa de Fronteira).

Caracteriza-se, por fim, a região incluída na Faixa de Fronteira (área: 1.095,5 mil

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km2; população: 703,3 mil; PIB: US$ 1.698,7 milhões; PIB per capita: US$ 2.415; IDH:
0,577), identificando-se nela os Núcleos de Ocupação (Diagrama 1, III), bases para o
esforço de vivificação e desenvolvimento dessas áreas limítrofes com seis países.

O segundo delineamento volta-se para a redução do hiato de competitividade


sistêmica entre a Amazônia Setentrional e o restante do país (Diagrama 1, IV, 1).

Essa redução, condição necessária ao crescimento e desenvolvimento regionais,


poderá ser obtida mediante:

1) expansão e modernização da infra-estrutura, de transportes, energia e comunica-


ções, com ênfase em eixos de integração e inserção, rede básica de transportes fluvial e,
complementarmente, rodoviária, capaz de facilitar os fluxos intra-regionais, inter-regio-
nais e internacionais de pessoas, bens, serviços;

2) grande avanço na formação de recursos humanos, com ênfases na educação


básica, formação tecnológica e qualificação para o trabalho, com focalização na popula-
ção de baixa renda;

3) desenvolvimento urbano, envolvendo mais integração do sistema regional de


cidades e melhoria da infra-estrutura e dos serviços urbanos;

4) montagem de sistema regional de ciência e tecnologia, voltado para a amplia-


ção da fronteira de conhecimento na região e sua disseminação e emprego, com prioridade
para o aproveitamento racional e não-predatório dos recursos naturais, em especial da
biodiversidade;

5) preservação e conservação do meio ambiente, de modo a ter-se assegurada a


conciliação do crescimento e do desenvolvimento com a proteção da natureza.

O terceiro delineamento busca realizar importante transformação produtiva na


região, mediante atuação nos setores-chave de sua economia (Diagrama 1, IV, 2). São
eles:

1) extrativismo e agropecuária, vistos integradamente como atividades comple-


mentares, ambientalmente sustentáveis e econômica e socialmente sustentadas;

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2) agribusiness, compreendido como cadeias produtivas que, partindo dos produ-


tos do extrativismo e da agropecuária, evoluam, articuladamente, para o beneficiamento
industrial e a comercialização nos mercados regional, nacional e mundial;

3) mineração e indústria, contemplando a extração e a industrialização das reser-


vas minerais que se revelem economicamente viáveis, respeitados os constrangimentos
ecoambientais e os direitos das populações indígenas sobre as áreas reservadas, bem como
o desenvolvimento de bioindústrias;

4) turismo, essencialmente o ecoturismo tropical;

5) outros serviços, em especial o comércio e, nas maiores cidades, os chamados


serviços modernos, intensivos em conhecimento.

Na parte final do documento, empreende-se exercício de prospecção econômico-


social para a Amazônia Setentrional na perspectiva desta década, com a construção de
cenários de desenvolvimento para cada uma das Áreas Estratégicas e para a região como
um todo. E se discute a missão do Programa Calha Norte nesse contexto, em particular
sua atuação como agente aglutinador de decisões e ações de desenvolvimento, com ênfase
na Faixa de Fronteira.

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PRIMEIRA PARTE – Concepção estratégica

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CAPÍTULO 1 – O desenvolvimento da Amazônia Setentrional

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A Amazônia Setentrional, parcela da Amazônia brasileira localizada ao norte dos


rios Solimões e Amazonas, estende-se, de oeste para leste, pelo norte do estado do Ama-
zonas, todo o estado de Roraima, a porção norte do Pará e todo o estado do Amapá (Mapa
1). Integra-a 72 municípios, 41 deles limítrofes a outros países (Peru, Colômbia, Venezuela,
Guiana, Suriname e Guiana Francesa1 ) ou com seus territórios total ou parcialmente in-
seridos na Faixa de Fronteira. 2

A região tem 1.435,2 mil km2 (Tabela 1), equivalentes a 16,8% do território brasi-
leiro e a 5,8 vezes o estado de São Paulo.

É a área de atuação do Programa Calha Norte, PCN.

A PAISAGEM E O HOMEM

Na Amazônia Setentrional – como, de resto, em toda a Amazônia – a floresta


domina a paisagem e os rios comandam a vida.

Das alturas do Planalto das Guianas, em seu extremo norte, o relevo granítico
descende, em direção ao sul, por patamares residuais sucessivos e degradados, que desá-
guam nas baixas altitudes da longa planície aluvial, definida pelo Solimões e pelo Ama-
zonas. A imensa floresta ombrófila sob clima tropical úmido alteia-se ao porte das árvo-
res na terra firme, camuflando suas ondulações; assombra as várzeas alagadiças; mas não
encobre dos grandes rios o excesso das águas.

1
Como território ultramar da França, a Guiana Francesa integra o território desse país e, portanto, faz parte da
União Européia.
2
A Faixa de Fronteira é a área, de 150 km de largura, paralela à linha divisória do Brasil com os países
limítrofes (Lei n° 6.634, de 02 de maio de 1979, regulamentada pelo Decreto n° 85.064, de 26 de agosto
de 1980).

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A Amazônia, já observou Euclides da Cunha, é talvez a terra mais nova do mundo.


Nasceu da última convulsão geogênica que sublevou os Andes. Ali ainda se escreve, ma-
ravilhosamente, uma página inédita e contemporânea do Gênesis.

A imensa floresta assusta, insula. Guarda muitos mistérios, esconde desconhecidas


riquezas. Soberba, vive em si mesma. Desatenta a solos nem sempre férteis e profundos,
nutre-se de sóis distantes e de águas em contínua passagem. Sem o labirinto dos rios,
muitos deles ainda cavando seus próprios leitos, não teria tão cedo sido explorada por
gentes intrusas.

A Amazônia Meridional foi rapidamente penetrada, na segunda metade deste sécu-


lo, pela fronteira de ocupação – avançando, em pinças, menos pelos rios do que por estra-
das de engenho humano. A Calha Norte, contudo, ainda é um grande espaço de reserva,
fendido apenas pelo novo eixo de penetração que avança de Manaus até as terras altas de
Roraima.

É para ela, a Amazônia Setentrional, que aqui se dirige o olhar. Ali, a terra e a
floresta foram fundamente rasgadas somente no Médio Amazonas, a partir do baluarte
setecentista de São José do Rio Negro, hoje Manaus. No mais, elas persistem conserva-
das, salvo por umas poucas cicatrizes mais rasas e esparsas.

O olhar que vê, neste estudo, essa região não é flibusteiro, predatório. Tampouco é
inerte, contemplativo. Ninguém em bom juízo defende seja a dilapidação do patrimônio
natural da Amazônia, seja sua preservação em santuário. Ninguém deseja nem exterminar
raças e corromper culturas prístinas, nem purificá-las e imaculá-las em total isolamento.
Essas são alternativas radicais e insensatas.

As intervenções no espaço amazônico devem pautar-se em zelo e prudência. Duas


fronteiras, a do conhecimento e a dos recursos, devem encontrar-se para gerar decisões e
ações de ocupação humana que conciliem uso e conservação da natureza, contato e inter-
relacionamento com as populações indígenas que lhes sejam benéficos e preservem suas
heranças.

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M A PA 1

Amazônia
Setentrional G U IAN A

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


V EN EZ U EL A
F R AN C ES A
S U R IN AM E
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE G UM
IAETA
NA
Bo a V ista 4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de S ão josé O p erá rio do Aleixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - P ró M enor D om B osco RORAIMA 240 2.042,40
AMAPÁ
- 2.042,40
3 CO LÔEu
S ociedade M Bnice
IA W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
M acapá
4 S erviço M issionário do A m a zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,60 3.914,60
6 Inspe toria Laura Vicunã 800 6.808,00 - 6.808,00
B elém
7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II M anaus 200 1.702,00 - 1.702,00
18

8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,20 1.872,20


9 LigaPFem
ER U inina do E stado do Am azonas - LIF EA 30 255,30 -
P A Á
R1.021,20
A M A Z O N A S 60 - 1.267,50
10 A ssociação dos C om panheiro s e Am igos da C om pensa II 200 1.702,00 - 1.702,00
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,60 - 3.063,60
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,40 2.297,70
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H orizon te 1114 9.480,14 -
266 - 4.527,32 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de S ão josé O p erá rio do Aleixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - P ró M enor D om B osco 240 2.042,40 - 2.042,40
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário do A m a zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,60 3.914,60
6 Inspe toria Laura Vicunã 800 6.808,00 - 6.808,00
7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,00 - 1.702,00
19

8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,20 1.872,20


9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIF EA 30 255,30 -
60 - 1.021,20 1.267,50
10 A ssociação dos C om panheiro s e Am igos da C om pensa II 200 1.702,00 - 1.702,00
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,60 - 3.063,60
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,40 2.297,70
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H orizon te 1114 9.480,14 -
266 - 4.527,32 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

O saber sobre a Amazônia avançou muito no século XX. Sobre ela, porém, sabe-se
tanto quanto se ignora. Impõe-se, assim, cautela para que ali não se rompam e feneçam,
em imensurável perda, seus complexos ciclos de vida.

É esse o caminho de prudência que se pretende propor neste documento.

O DESENVOLVIMENTO RECENTE

Com 2.690,1 mil habitantes em 1996 3 , a Amazônia Setentrional teve, entre 1970 e
1996, elevado crescimento populacional: média anual de 4,2% (Tabela 1), superior às da
região Norte (3,9%) e do Brasil (2%)4. Mesmo quando excluído o município de Manaus,
com 43% da população regional e expansão demográfica de 5,2% ao ano, o crescimento se
mantém elevado (foi de 3,6% nesse mesmo período). Com Manaus, ele foi fortemente
decrescente ao longo do tempo: caiu de 5,2% na década de 1970 para 3,9% na de 1980 e
3,1% em 1990-1996; sem Manaus, a queda foi mais suave (de 3,9% para 3,5% e 3,3%,
respectivamente). A participação da população da Amazônia Setentrional na região Norte
é de 24% (inclusive Manaus) e de 13% (exclusive Manaus); no Brasil, de 1,7% e 1%.

Com densidade de 1,9 habitante por km2, comparada com 2,9 habs./km2 na região
Norte e 18,4 habs./km2 no Brasil, a Amazônia Setentrional ainda é um vazio demográfico.
Esse indicador reduz-se para 1,1 hab./km2 quando o município de Manaus (com densidade
de 101 habs./ km2) é excluído.

O grau de urbanização regional, de 78%, bastante elevado, equivale ao brasileiro.


Ele resulta, de um lado, do padrão de ocupação observado na Amazônia nas últimas déca-
das, que tende a ser mais concentrado em núcleos populacionais (considerados urbanos)
em função das dificuldades de dispersão humana impostas pela floresta; e de outro, de
recente intensificação das migrações rurais-urbanas. Mas reflete também o peso do muni-
cípio de Manaus e o elevado crescimento de sua população urbana. Sem Manaus, a taxa de
urbanização cai bastante, embora tenha crescido aceleradamente: de 40% em 1970 para os
atuais 63%.

3
Doravante, quando não expressamente indicado, todos os dados e indicadores apresentados neste Capítulo 1
são relativos a 1996.
4
A região Norte é integrada pelos estados do Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e
Rondônia.

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20
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

O Produto Interno Bruto, PIB, da Amazônia Setentrional, de US$ 12.042,9 mi-


lhões, dólares de 1998 (Tabela 1), corresponde a 32% do PIB da região Norte e a 1,5% do
brasileiro. Seu crescimento foi de 7,5% anuais entre 1970 e 1996, equivalente ao do Norte
e muito superior ao brasileiro (4,6%).

O pólo urbano-industrial de Manaus responde pela maior parte da renda regional.


Sozinho, o município capital do Amazonas tem participação de 68% no PIB norte-amazô-
nico (essa participação já foi maior, tendo alcançado 77% em 1980). Sem Manaus, o PIB
da Amazônia Setentrional cai para US$ 3.808,2 milhões, o que representa 32% do PIB da
Amazônia Setentrional, 10,2% do PIB da região Norte e 0,5% do brasileiro.

O crescimento do PIB norte-amazônico sem Manaus também foi expressivo: de


6,4% no período 1970-1996. Foi inferior ao de Manaus nos anos 1970, a década de ouro
da indústria incentivada da Zona Franca (7,7% comparados com 17,1%). Cresceu, porém,
mais do que Manaus nos anos 1980 (7,2% comparados com 4,4%) e persistiu crescendo
durante a crise manauara dos primeiros anos da década de 1990 (2,8% comparados com
0,2% em 1990-1996).

Com Manaus, a indústria pesa na composição do PIB regional (36%), com a


agropecuária contribuindo com 7% e os serviços, com 57% (Tabela 2). Sem Manaus,
crescem as participações da agropecuária e dos serviços (para 22% e 60%, respectivamen-
te), caindo a da indústria (para 18%).

A densidade econômica regional, com PIB por km2 de US$ 8.391, equivale a 87%
da observada na região Norte e a apenas 9% da brasileira. Excluído o município de Manaus,
ela cai para US$ 2.675 por km2. O mesmo ocorre com a densidade industrial, relativamen-
te elevada em comparação ao Norte (PIBs industriais por km2 de US$ 3.009 e de US$
2.406, respectivamente), mas cinco vezes menor que essa última (US$ 480/km2) quando o
município de Manaus é desconsiderado.

O PIB per capita da Amazônia Setentrional, de US$ 4.477, é superior ao da região


Norte (US$ 3.314), mas inferior ao brasileiro (US$ 5.016) 5 . Excluído o município de
Manaus, ele cai para US$ 2.485, o que equivale a 58% do PIB per capita da região Norte
e a 49% do brasileiro6. O PIB per capita urbano (indústria mais serviços), de US% 5.318,

5
Ele foi superior ao brasileiro em 1990 (Tabela 3), antes da crise que se abateu sobre a indústria incentivada da
Zona Franca de Manaus com a liberalização da economia brasileira a partir desse ano (Tabela 3)
6
Pode-se dizer que o PIB per capita da Amazônia Setentrional sem Manaus está no mesmo nível daquele do
Nordeste, que foi de US$ 2.423 nesse mesmo ano (1996).

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21
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

equivale a 3,7 vezes o PIB rural ou da agropecuária (essa relação é, para o Brasil, de 3);
excluído Manaus, ele se reduz para US$ 3.101, sendo 2,1 vezes mais elevado do que o
rural.

Tanto com Manaus quanto sem Manaus, o PIB per capita da Amazônia Setentrio-
nal cresceu mais, entre 1970 e 1996, que o brasileiro: a taxas médias anuais de 3,1% e
2,6%, respectivamente, comparadas com 2,5% para o Brasil (Tabela 1).

Os indicadores sociais da Amazônia Setentrional (relativos ao ano de 1991) estão


em geral do mesmo nível ou muito próximos dos brasileiros. A esperança de vida ao
nascer é de 63 anos (igual à do país); a taxa de mortalidade infantil, de 46 por mil nascidos
vivos (Brasil: 49); a taxa de analfabetismo da população de 15 anos e mais, de 19% (igual
à do país); o número médio de anos de estudo da população de 25 anos e mais, de 4,7
(Brasil: 4,9). Excluído o município de Manaus, os dois primeiros indicadores mantêm-se
no mesmo nível, com a taxa de analfabetismo elevando-se para 27% e o número médio de
anos de estudo caindo para 3,5.

O Índice de Desenvolvimento Humano, IDH (para 1991), é de 0,669 (Brasil: 0,742).


Sem Manaus, porém, ele decresce para 0,586.

Em síntese, pode-se dizer que a Amazônia Setentrional não é, a rigor, uma região
subdesenvolvida: é, antes, não-desenvolvida, ou seja, escassamente ocupada. Revelou-se,
relativamente ao país, bastante dinâmica, demográfica e economicamente, ao longo das
últimas décadas, apresentando evolução social igualmente satisfatória. Quando, porém,
se exclui dela o município de Manaus, reduz-se sensivelmente seu dinamismo, o PIB per
capita cai para níveis nordestinos (menos da metade do brasileiro) e o IDH, embora tenha
avançado, ainda é baixo.

CONDICIONANTES

Qualquer proposta de estratégia de desenvolvimento para a Amazônia Setentrional


está condicionada seja pela concepção e execução da política nacional de desenvolvimen-
to, em particular a de integração nacional, seja pelo planejamento da Amazônia como um
todo.

O que se segue procura abordar essas restrições, que serão vistas como panos de
fundo na formulação de uma proposta de estratégia de desenvolvimento para a região que
possa servir de referencial básico à atuação, de natureza sub-regional e local, do Programa
Calha Norte.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

GLOBALIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO NACIONAL

A conciliação dos vetores de internacionalização e de integração nacional constitui


hoje um dos maiores desafios a enfrentar na formulação e execução de uma estratégia de
desenvolvimento para o Brasil.

De um lado, o processo de mundialização e seus corolários (reestruturação produ-


tiva, liberalização, inserção competitiva) estão enformando a estratégia econômica nacio-
nal – e eles têm amplas implicações geopolíticas e sócio-culturais.

De outro lado, a dimensão do país (continentalidade, peso demográfico, economia


de grande porte) induz a introversão, orientando os investimentos privados e a produção
para o mercado interno e dificultando inserção global mais ampla e dinâmica. Ademais, as
disparidades internas (inter-regionais e interpessoais) de níveis de desenvolvimento com-
prometem a coesão e a unidade nacionais, podendo vir a produzir fissuras, desagregação,
tensões e rupturas.

Outro desafio, de igual porte, consiste em conciliar estabilidade e crescimento sus-


tentado. Na busca de sua equação desenrolou-se o drama econômico da década de 1980 e
primeira metade dos anos 1990, consumindo as energias nacionais.

A tarefa do país nesta primeira década do século XXI consiste em vencer esses dois
reptos, inserindo o Brasil em trajetória de desenvolvimento com inserção mais exitosa e
autônoma na economia global, redistribuição de renda e redução da pobreza, além de mais
dinâmica e intensa integração nacional.

VETORES DE INTERNACIONALIZAÇÃO

As atuais transformações por que vem passado a economia mundial nos últimos
anos estão induzindo o Brasil a grandes transformações estruturais.

De uma parte, o objetivo de inserção mais intensa e dinâmica no processo de


globalização determinou o fim do protecionismo e do modelo de desenvolvimento orien-
tados pelo nacionalismo, bem como a conseqüente abertura do mercado ao comércio e às
finanças internacionais.

De outra, a adoção do paradigma democrático-liberal, a forma de governo mais


compatível à globalização, vem ocasionando radical revisão dos papéis do Estado na soci-
edade.

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23
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Uma das implicações políticas desses dois movimentos simultâneos, presentes em


escala mundial, é a emergência de uma nova relação de forças que favorece as empresas
transnacionais e o capital globalizado em detrimento do poder dos estados nacionais.

A globalização e o ideário político em que ela se estriba postulam menos governo e


mais mercado na organização da economia. Ou seja, trata-se de substituir, o quanto possí-
vel, o Estado – um gestor econômico-social considerado demasiadamente explícito, buro-
cratizado, voluntarista, pouco eficiente e em crise – por um sujeito oculto, o mercado,
ordenador visto como impessoal, descomplicado, de maior eficácia e mundialmente triun-
fante.

Essa substituição está tendo curso no Brasil desde a década passada. Através da
desregulamentação econômica, da liberalização comercial e, sobretudo, mediante a
privatização em grande escala: seja via desestatização de atividades diretamente produti-
vas, seja através da concessão à iniciativa privada de serviços públicos (em energia, trans-
portes, comunicações) e da gestão do patrimônio que lhes corresponde.

Pelo menos dois preceitos decorrem da ideologia da globalização – e visam a criar,


no âmbito de cada estado nacional, um ambiente propício à aplicação do capital privado,
em suas várias formas, tanto o capital nacional quanto o transnacional.

O primeiro deles determina aos governos rigorosa disciplina macroeconômica: es-


tabilidade de preços e de regras, comerciais, fiscais, financeiras, cambiais; e equilíbrio
das contas públicas e externas. O segundo postula das economias nacionais elevados pa-
drões de eficiência e competitividade.

VETORES DE INTEGRAÇÃO

É improvável que a opção por mais mercado e menos governo resulte no chamado
Estado mínimo, espantalho de que se valem os que combatem o ideário liberal contempo-
râneo. Ela poderia, entretanto, vir a dificultar a amplitude e efetividade das ações públicas
visando a mais eqüidade e maior equilíbrio espacial do desenvolvimento, cruciais em
países que, a exemplo do Brasil, apresentam grandes disparidades sociais e regionais.

É de notar-se, a propósito, que, pelo menos até meados dos anos 1990, esse novo
modelo de desenvolvimento, então ainda emergente no país, relegou a segundo plano os
objetivos de integração do mercado interno, adiando a revisão, que só recentemente co-
meçou a configurar-se, da política de redução das disparidades regionais, necessária para

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

que a inserção da economia nacional no processo de globalização não se faça de forma


espacialmente fragmentada e desigual.

Na verdade, o objetivo de processo de ordenação espacial do desenvolvimento bra-


sileiro compatível à inserção do país na economia global deve ser a redução dos hiatos
competitivos inter-regionais. Essa redução deve procurar evitar a desarticulação do mer-
cado interno e a fratura dos elos econômicos inter-regionais, buscando maior integração
nacional e mais harmonia federativa.

A ESTRATÉGIA DE INTEGRAÇÃO NACIONAL

Estratégia de integração nacional que assuma essa feição deverá voltar suas aten-
ções para o que hoje mais conta na localização das atividades diretamente produtivas: a
existência de um conjunto de condições determinantes da competitividade. Ela deverá
orientar espacialmente os investimentos em infra-estrutura econômica (energia, transpor-
tes, comunicações), recursos humanos (educação e qualificação, combate à pobreza), ci-
ência e tecnologia e meio ambiente, atuando de modo a obter inter-regionalmente (de
forma gradual) condições de relativa isonomia competitiva. E criando fatores de atração
locacional muito mais dinâmicos, estáveis e consentâneos à globalização do que reduções
tributárias, geradoras de guerras fiscais autofágicas, ou financiamentos oficiais favoreci-
dos.

Nesse contexto, a inserção internacional do país – em particular, sua lealdade com


os parceiros de um Mercosul eventualmente ampliado – compatibilizam-se com a atenção
prestada à consolidação e integração do mercado interno, em particular com a prioridade
conferida às regiões menos desenvolvidas.

Trata-se na verdade de adotar para o Brasil visão multidirecional de mercado que


considere o atendimento da demanda interna com produção nacional a base do crescimen-
to e da competitividade, constituindo-se a opção mais segura para obter adequada inser-
ção em um Mercosul de dimensões continentais e, em geral, na economia global. Inserção
compatível com o equilíbrio das finanças internacionais do país e a modernização de sua
economia.

Não se trata, pois, de viabilizar o crescimento apenas pelas exportações, mas de


lastreá-lo na dimensão e impulsioná-lo pelo dinamismo do mercado interno. Promovendo
reestruturação da produção doméstica que lhe assegure o atendimento, em condições com-

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25
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

petitivas, de grande parte da demanda nele gerada. E ampliando ao mesmo tempo o grau
de abertura para o exterior, medido tanto pelas exportações quanto pelas importações, de
modo a maximizar os ganhos obtidos com o comércio internacional.

Nesse contexto, o ordenamento espacial do desenvolvimento deverá voltar-se para


assegurar maior coesão e expansão mais equilibrada do mercado interno, a serem atingi-
das mediante estratégia de localização dos investimentos que dissemine as fontes de ex-
pansão produtiva e amplie os mecanismos de transmissão inter-regional do crescimento.

O êxito dessa estratégia condiciona-se à consideração explícita dela na formulação


e execução das políticas macroeconômica e de organização espacial adotadas pelo país.

A OPÇÃO AMAZÔNICA

A Amazônia deverá ampliar a dupla inserção nas economias nacional e internacio-


nal que já vem buscando viabilizar nos últimos anos, tornando-a, de um lado mais compe-
titiva, e de outro, mais diferenciada, melhor referida a sua base de recursos naturais e
melhor distribuída intra-regionalmente.

Essa inserção deverá ser capaz de introduzir a região, mais ativa, dinâmica e efi-
cazmente, no comércio exterior (inter-regional e internacional), nos fluxos de investimen-
tos externos e, em geral, nas finanças nacionais e internacionais. E de assegurar-lhe parti-
cipação mais ampla, como área receptora, no turismo nacional e internacional.

A inserção econômica da Amazônia difere, em dois aspectos principais, da que


vem sendo buscada pelo Brasil, embora deva ser com ela consistente. De um lado, porque
o mercado interno regional tem pequena densidade e peso relativos muito menores que o
brasileiro, sendo insuficiente para sustentar sozinho o patamar de crescimento desejado, o
que implica maior grau de abertura da economia. E, de outro, porque a dupla orientação de
seu comércio exterior (para dentro e para fora do país), ao buscar diversificar as possibili-
dades de exportação, visa a tornar a região gradualmente menos dependente seja do trata-
mento diferenciado que vem recebendo da União (que continuará, entretanto, sendo ne-
cessário), seja das flutuações da conjuntura econômica brasileira, em especial a do Sudes-
te do país.

Para viabilizar essa inserção, o perfil produtivo regional deve acentuar a tendência
já revelada para a especialização em determinados segmentos produtivos, mas
vocacionando-se para aquelas atividades com maiores vantagens competitivas endógenas,

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

atuais ou potenciais. As importações do restante do país ou do exterior devem servir para


internalizar ganhos com o comércio externo, em benefício tanto do padrão de vida da
população (bens de consumo a preços mais baixos do que os obtidos regional ou nacional-
mente) quanto da competitividade do aparelho produtivo (insumos, principalmente bens
de capital e componentes, tecnologias, serviços intensivos em conhecimento, sobretudo
em tecnologias avançadas).

DESDOBRAMENTOS ESTRATÉGICOS

As opções econômicas básicas, acima propostas, podem desdobrar-se em um con-


junto de delineamentos estratégicos cujo objetivo deve ser expandir e manter, na Amazô-
nia, uma economia moderna, capaz de vencer os desafios dos trópicos úmidos e acelerar,
de forma sustentável, o crescimento e o desenvolvimento.

Em primeiro lugar, torna-se necessário visualizar para a região nova configuração


espacial compatível à orientação conferida a seu desenvolvimento. Configuração essa que
sirva de referência para a localização dos investimentos em infra-estrutura econômica,
capital social e atividades diretamente produtivas e esteja compatível com rede urbana
melhor distribuída e mais interiorizada.

Em segundo lugar, para que possa enfrentar os desafios de sua dupla inserção eco-
nômica, a Amazônia deverá deflagrar processo de continuada transformação produtiva
que lhe assegure vantagens competitivas dinâmicas, associado a esforço para ampliar as
exportações, de modo a obter concomitantemente uma maior abertura econômica e níveis
elevados e sustentados de crescimento. E cabe, a partir da nova configuração espacial, já
referida, bem como de concepção logística integrada, expandir e modernizar a infra-estru-
tura econômica básica: através principalmente de eixos de transporte, voltados para a
integração intra-regional e para a inserção regional no país, no Mercosul ampliado e no
mercado global.

Em terceiro lugar, torna-se crucial a capacitação dos recursos humanos, mediante a


apropriação do conhecimento, entendido como capital humano e se exercendo sob a for-
ma de um vasto e diversificado conjunto de capacidades e habilidades, intelectivas, lin-
güísticas, técnicas, processuais, organizacionais. Sendo de particular importância o domí-
nio e a aplicação na economia de modernas tecnologias e novos métodos de gestão.

Em quarto lugar, a expansão econômica deve voltar-se para o uso produtivo de seu

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

vasto patrimônio natural (biótico, mineral), mediante o encontro de duas fronteiras: a fron-
teira dos recursos e a do conhecimento. Ou seja, trata-se de aplicar a ciência e a tecnologia
para o aproveitamento racional (não predatório) de suas riquezas.

MATRIZ INSTITUCIONAL

A matriz institucional para a condução de uma nova estratégia de integração naci-


onal deve apoiar-se no capital institucional – político-administrativo, empresarial, comu-
nitário – já construído no país e em cada uma de suas regiões – e em intensa interação e
colaboração entre as esferas pública e privada da sociedade. E deve, na esfera pública,
apoiar-se num federalismo de integração, mais cooperativo e menos conflituoso.

No caso da Amazônia, a Sudam deve recuperar, política e operacionalmente, seus


papéis de entidade angular do processo de inserção e integração regional, com forte
legitimação política, funções efetivas de planejamento e orçamentação; responsabilidades
na concepção e coordenação da execução de programas estratégicos e na administração,
compartilhada com o Banco da Amazônia, de incentivos fiscais e financeiros. Além disso,
essas duas entidades devem receber, de modo concertado, outras incumbências: na atra-
ção de investimentos privados, por exemplo, ou na promoção de exportações (atividades
essas que devem ser exercidas em articulação com a iniciativa empresarial privada).

Para deflagrar o processo de reinserção institucional dessas duas agências regio-


nais de desenvolvimento – processo que deve ser permanente – algumas providências de
natureza organizacional são particularmente importantes. Entre elas:

I – o fortalecimento político de seus órgãos colegiados superiores, que podem ser


unificados em um único Conselho Deliberativo da Amazônia;

II – reestruturação administrativa das duas entidades que guarde correspondência e


funcionalidade com a concepção, os objetivos, as ações de desenvolvimento da estratégia
proposta para a Amazônia – pondo-se ênfase nos mecanismos de cooperação com os esta-
dos e, no que couber, com a iniciativa empresarial e organizações da sociedade.

III – a criação ou revitalização de instrumentos de execução da estratégia proposta,


contemplando, principalmente:

1) orçamentos dos dispêndios públicos prioritários regionalizados, de periodicida-


de trienal e compatível aos planos plurianuais estabelecidos pela Constituição (artigo 165,
I), envolvendo, de forma consolidada, os dispêndios federais e estaduais mais relevantes

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

para o desenvolvimento da região (esses orçamentos resultariam de convênios entre a


União e os estados, um dos instrumentos de um novo federalismo: federalismo de
integração);

2) a criação, em parceria com a iniciativa empresarial privada, de agências de atra-


ção de investimentos privados;

3) a criação, em colaboração com bancos de fomento e entidades empresariais, de


mecanismos de estímulo às exportações para o exterior;

4) a revisão dos incentivos fiscais e financeiros e sua compatibilização com a estra-


tégia regional de desenvolvimento.

Nessa nova matriz institucional, o papel da iniciativa privada e das organizações da


sociedade deverá ser crescentemente importante.

Trata-se, por um lado, de assegurar uma maior interação e buscar convergência


entre as decisões da esfera governamental – legitimadas politicamente pela
representatividade política de que ela é investida – e as decisões da iniciativa empresarial,
orientadas pelo mercado. E, por outro lado, de agregar ativamente a essa interação (que se
deseja convergente), a participação da sociedade – através das organizações por ela insti-
tuídas com a finalidade de representar seus variados interesses e contribuir para o desen-
volvimento.

Não se deve permitir, nessa necessária intercomunicação, a apropriação do Estado


pelos interesses empresariais ou corporativos. Eles são legítimos, devem interagir com os
governos. Mas, sendo do âmbito da esfera privada da sociedade, só devem ser recepcionados
pela esfera pública quando considerados de interesse coletivo.

O que, nesse contexto, se deve realmente desejar é a prática de democracia que seja
representativa, mas também participativa. E que procure obter, pela participação, conver-
gência de finalidades, objetivos, metas.

COMPATIBILIDADE DE VETORES

As idéias acima apresentadas buscam conciliar os vetores de internacionalização,


presentes na atual estratégia nacional de desenvolvimento, com os vetores de integração
nacional, que carecem de revalorização.

Não há disjunção necessária entre esses dois vetores. A convergência deles pode
gerar sinergias potencializadores do desenvolvimento do país.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Ela demanda, porém, a concepção e execução concomitantes de estratégias de in-


serção global e de integração nacional consistentes e que se reforcem mutuamente.

A questão é, ao mesmo tempo, de natureza política e estratégica.

Ela é natureza política porque submete todas as decisões relevantes ao desenvolvi-


mento do país a um crivo e dois critérios de valor: o crivo é sua aderência e lealdade aos
fins do desenvolvimento nacional, para a consecução dos quais os dois critérios – a inser-
ção do país na economia global (e em um Mercosul ampliado) e a integração nacional –
são objetivos-meios.

Mas a questão é também de natureza estratégica porque supõe a aplicação judiciosa


do poder nacional (na verdade, um conjunto de recursos: humanos, materiais, financeiros)
na realização conjugada e compatível desses objetivos-meios – que devem estar perma-
nentemente congruentes com as finalidades, para o Brasil, de seu projeto de desenvolvi-
mento.

RESTRIÇÕES E POTENCIALIDADES

Além de condicionado pela realidade mundial e suas tendências e pelas políticas de


desenvolvimento nacional e regional, acima referidas, o êxito de estratégia para a Amazô-
nia Setentrional também estará sujeito a constrangimentos, presentes regionalmente, as-
sociados em particular à necessidade de proteção ambiental e étnico-cultural e aos níveis
atuais de seus processos de ocupação e desenvolvimento. Mas ele poderá, em contrapartida,
beneficiar-se das grandes potencialidades de progresso acelerado e sustentável represen-
tadas por sua imensa base de recursos e sua privilegiada localização entre os Hemisférios
Norte e Sul e entre os Oceanos Atlântico e Pacífico.

RESTRIÇÕES

Pelo menos um terço do território da Amazônia Setentrional, ou seja, cerca de 500


mil km2, é constituído por áreas legalmente preservadas, com limitações total ou parcial
de uso produtivo (Mapa 2). São restrições decorrentes de terras indígenas, de várias uni-
dades de conservação, federais e estaduais (florestas e parques, estações ecológicas), além
de terras militares. Essas limitações são mais intensas (da ordem de 40%) na porção da
região que se encontra nos estados do Amazonas e Roraima; são menos intensas (de cerca
de 25%) em sua parte mais oriental (Pará e Amapá).

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Este bloqueio da fronteira de recursos impõe ônus à ocupação demográfica e eco-


nômica e extremo rigor na sua gestão territorial: decorrentes, de um lado, do objetivo de
conservação dos recursos naturais em geral e, em particular, da floresta tropical úmida; e,
do outro lado, do objetivo de proteção das terras, populações e culturas indígenas.

São eles, porém, ônus e rigor necessários para que não se volte a cometer os muitos
pecados ecológicos e extermínios étnicos perpetrados no passado e que pesam hoje nas
consciências coletivas de tantos estados-nações contemporâneos. A civilizada Europa,
por exemplo, destruiu, da Idade Média ao século 18, todas as suas florestas, consumidas
como combustível. Em dois séculos, os Estados Unidos aniquilaram a maioria de seus
índios. E o Brasil não só derrubou, nos tempos coloniais, quase toda a Mata Atlântica,
escravizando e dizimando os povos autóctones, como persiste revelando, hoje ainda, em-
bora em parte contidos, atávicos ímpetos predatórios.

Não há como negar que os objetivos de conservação dos recursos naturais e prote-
ção étnico-cultural podem conflitar com os de ocupação demográfica e expansão produti-
va – e, sob essa ótica, esse conflito, atualizando-se no curto e médio prazos, pode cons-
tranger o crescimento. Há, porém, conciliações possíveis, que devem, em benefício do
progresso de longo prazo, incorporar-se, no caso da Amazônia Setentrional principalmen-
te, à concepção estratégica de seu desenvolvimento.

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M A PA 2

VENEZUELA G U IANA
FR ANC ESA

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


SUR IN AM E

G U IANA ATENDIM ENTO VALO R


ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de S ão josé O p erá rio do Aleixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A -CO
P ró
LÔ M enor D om B osco
M BIA 240 2.042,40 - 2.042,40
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário do A m a zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,60 3.914,60
6 Inspe toria Laura Vicunã 800 6.808,00 - 6.808,00
7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,00 - 1.702,00
32

8 C lube de M ães Isabel N ogueira


PERU 110 - 1.872,20 1.872,20
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIF EA 30 255,30 -
60 - 1.021,20 1.267,50
10 A ssociação dos C om panheiro s e Am igos da C om pensa II 200 1.702,00 - 1.702,00
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,60 - 3.063,60
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,40 2.297,70
C o n c e n tra ç ã o ( % ) *
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H orizon te 1114 9.480,14 - * % de terra s
0
266 - 4.527,32indígenas ou
14.007,46
0,1 - 10 U nidades de
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
10 - 25 C onservação
TO TAL GERAL 6.380 25 - 50 sobre o 68.845,41
total da
área m unicipal
+ de 50
F o n t e : B e c k e r e F ig u e ire d o , 9 8
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Além das questões ambiental e étnico-cultural, as demais restrições ao desenvolvi-


mento presentes hoje na Amazônia Setentrional dizem respeito principalmente a insufici-
ências de infra-estrutura e serviços de energia, transportes e comunicações; a rede de
cidades pouco articulada e carente de serviços urbanos básicos; à ainda baixa qualidade
dos recursos humanos; e à necessidade de ampliar o domínio do conhecimento científico-
tecnológico e sua aplicação na economia e na sociedade.

POTENCIALIDADES

Em contrapartida, são amplas as potencialidades do crescimento e desenvolvimen-


to da Amazônia Setentrional.

Elas serão apresentadas, com mais detalhes, no Capítulo 6. Cabe aqui apenas res-
saltar a importância da fronteira de recursos, ainda pouco explorada e escassamente ava-
liada: sua importante base mineral; a grande disponibilidade de solos, de várzeas e terra
firme; sua formidável dotação de recursos hídricos; e uma flora e fauna imensas e de
grande diversidade.

Nenhuma região do Brasil ou do Mundo dispõe hoje de patrimônio natural equiva-


lente. É este o grande capital de que a região dispõe para sobre ele construir o seu itinerá-
rio de progresso. Conciliando, com o emprego do conhecimento – ciência, técnica e ges-
tão inovando-se permanentemente – seu uso produtivo e sua preservação e conservação.

Os rigores de clima quente e úmido, a intensidade das chuvas, a insalubridade das


terras baixas e inundáveis, ameaças e espantalhos aos desbravadores do passado, não cons-
tituem hoje obstáculos relevantes a esse intento.

Releva ainda considerar a localização estratégica da região, já referida, que lhe


proporciona acesso potencialmente competitivo aos grandes mercados de um Mercosul
continentalmente ampliado e da economia globalizada.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

CAPÍTULO 2 – Objetivos da estratégia

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

A proposta de estratégia contida neste documento visa à ocupação seletiva e ao


desenvolvimento sustentável da Amazônia Setentrional.

Ela se volta nesta década (2001-2010) para três objetivos, intimamente inter-rela-
cionados.

O primeiro deles é a ordenação do processo de ocupação humana. Ela deve ser


seletiva, descontínua, pontual. Deve evitar dispersão demográfica que possa comprome-
ter a preservação, conservação e manutenção sustentável dos recursos naturais, bem como
a proteção das terras e comunidades indígenas. Resguardando-se de pressões antrópicas
excessivas, deve realizar desconcentração concentrada do povoamento, em benefício dos
centros e núcleos urbanos interiorizados, ou daqueles localizados nas áreas de fronteira –
inclusive como forma de reduzir as migrações para as maiores cidades.

O segundo objetivo consiste na aceleração do crescimento regional em relação ao


verificado nas últimas duas décadas. Crescimento – compreendido, stricto sensu, como
expansão da produção de bens e serviços – que seja economicamente sustentado e
ambientalmente sustentável. Isto é, assegurado, de uma parte, por processo continuado de
investimento; e compatibilizado, de outra, à conservação dos recursos naturais, necessá-
ria a sua própria manutenção no longo prazo

O terceiro objetivo é o avanço do desenvolvimento. Ele incorpora, na verdade, o


crescimento, como objetivo-meio. E, no caso da Amazônia Setentrional, também a ocu-

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35
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

pação populacional ordenada e seletiva de seu ecúmeno. Vai muito além deles, porém.
Pois o desenvolvimento é o processo global – econômico, social, político, em síntese, o
processo cultural – de evolução da sociedade, voltado para o atendimento das necessida-
des básicas e o bem-estar coletivo. Processo finalístico, visa concomitantemente a vários
objetivos: econômicos (mais eficiência, mais produção, ou seja mais crescimento); soci-
ais (mais bem-estar, mais eqüidade, a partir da igualação de oportunidades); políticos
(mais liberdade, cidadania plena). A dimensão ambiental, já explicitada no que respeita
ao crescimento, transmite ao desenvolvimento a conotação de eco-sustentável, que lhe é
essencial. Mas o desenvolvimento, sendo processo global, pede conceito ampliado de
sustentabilidade: não apenas ambiental, mas também, econômica, social, política. Con-
ceito esse que equivale ao de desenvolvimento humano, amplamente humano. Ou para
sublinhar também a dimensão ambiental, à noção de ecodesenvolvimento humano.

Esses objetivos, complexamente implicados entre si, são considerados os objeti-


vos-fins da estratégia proposta. Devem ser vistos como norteadores da evolução de qual-
quer sociedade, nacional ou subnacional – e, nesse entendimento, assumem validade uni-
versal. O que há neles de diferenciado são as ênfases dadas, decorrentes das especificidades
de cada espaço de referência, no caso o da Amazônia Setentrional. Que não é, a rigor, uma
região subdesenvolvida, mas não desenvolvida: no sentido de ser ainda insuficientemente
ocupada, demográfica e produtivamente. E que não deve ser povoada de modo disperso e
desorganizado, sob risco de comprometer a riqueza e diversidade de seus recursos natu-
rais, em muitos casos ainda desconhecidos. Nem crescer em ameaça às terras, populações
e culturas autóctones, mantidas sob a proteção do Estado. Ou desenvolver-se desatenta à
necessidade de vivificar, pontuando-as, as áreas virgens de fronteira: para garantia da
integridade do território nacional e também de interação mais intensa, econômica, social,
cultural, com os países vizinhos

Na consecução desses três objetivos-fins, a estratégia proposta desdobra-se em um


conjunto de objetivos de natureza instrumental, agrupados em três grandes blocos.

O primeiro bloco volta-se para a organização do território regional. Contempla a

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36
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

regionalização do espaço da Amazônia Setentrional – que não é uniforme, fisiográfica ou


ecologicamente, e, nos três séculos de ocupação européia e brasileira, motivada por im-
pulsos diversos, tornou-se bastante heterogêneo, econômica e socialmente. Ele é reparti-
do em Áreas Estratégicas (compreendidas como espaços mais uniformes e homogêneos,
em relação à região em seu todo), que são delimitadas e caracterizadas. São identificados
nelas Pólos (cidades com funções atual ou potencialmente relevantes na organização do
espaço, na produção e emprego, na circulação pessoas, bens e serviços e na geração e
distribuição da renda e da riqueza). Sendo considerada a dinâmica das interações
demográficas e econômicas, seja entre as Áreas e Pólos Estratégicos, seja entre os muni-
cípios. E selecionados os Núcleos de Fronteira vistos como importantes a sua ocupação
seletiva, vigilância e proteção, bem como visualizada a configuração desejável para o
sistema urbano regional como um todo.

No segundo bloco, persegue-se o objetivo de redução do hiato de competitividade


sistêmica da região vis à vis o restante do país. Com esse propósito, a partir de um concei-
to ampliado de competitividade sistêmica, serão propostas as estratégias nas áreas de infra-
estrutura básica, sistema de cidades e serviços urbanos, recursos humanos, ciência e
tecnologia e meio ambiente.

Considera-se a redução desse hiato competitivo essencial ao crescimento e desen-


volvimento regionais. Ela será obtida mediante:

I - a expansão e modernização da infra-estrutura de transportes, energia e co-


municações e dos serviços correspondentes, dando-se especial relevo a logística integrada
de transportes a partir de eixos de integração e inserção;

II - maiores integração e fortalecimento do sistema regional de cidades e melhoria


da infra-estrutura e serviços urbanos essenciais (inclusive aqueles de apoio ao processo de
expansão e transformação produtiva);

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37
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

III - grande avanço na formação de recursos humanos, com ênfases na


universalização da educação básica, na educação tecnológica e na qualificação profissio-
nal, além de focalização dessas ações nas populações de baixa renda (redução da pobreza)
e indígena (melhoria de suas condições de vida e bem-estar, preservação cultural e
integração diferenciada e autônoma à sociedade envolvente);

IV - montagem de sistema regional de desenvolvimento científico-tecnológico e


inovação, voltado para o avanço da fronteira do conhecimento na região e sua dissemina-
ção e emprego. Esse sistema, apoiado por centros de pesquisa e desenvolvimento de fora
da região, deverá conferir ênfase ao aproveitamento racional e não predatório dos recur-
sos naturais da região, em particular sua biodiversidade;

V - montagem de rede de monitoramento, preservação e conservação ambiental,


visando a assegurar a conciliação do crescimento e do desenvolvimento com proteção da
natureza. Seu objetivo básico deve ser assegurar sustentabilidade ambiental ao desenvol-
vimento, inclusive mediante zoneamento ecológico que contemple medidas efetivas de
proteção, conservação e preservação da natureza. Ressalte-se que, em sua concepção ori-
ginal, o desenvolvimento sustentável tem como objetivo a conciliação do crescimento e
da conservação da natureza. Não se trata, portanto, de frear o crescimento. Trata-se de
assegurar-lhe permanência, na medida em que esse objetivo estriba-se numa visão
intertemporal do progresso humano, com significado tanto pragmático como altruísta: o
de garantir às atuais e futuras gerações a base de recursos naturais necessária ao atendi-
mento de suas necessidades e a seu bem-estar. Mas é fora de dúvida que essa dimensão
geoambiental da sustentabilidade, mais freqüentemente associada à idéia que hoje se tem
do que é desenvolvimento sustentável, deve ser ingrediente essencial da estratégia pro-
posta para a Amazônia Setentrional.

No terceiro bloco, busca-se a realização de grande esforço de expansão e trans-


formação produtivas voltadas para a competitividade (no nível da produção de bens e
serviços propriamente dita), mediante a absorção do novo paradigma tecnológico e dos
novos métodos de gestão e incorporando outros avanços do conhecimento, referidos à

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38
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Amazônia.

Esse esforço deverá concentrar-se em setores-chave da economia regional, tais como:

I - o extrativismo e a agropecuária, atividades que devem ser vistas como com-


plementares, reforçando-se mutuamente;

I – o agribusiness, considerando-se as cadeias produtivas construídas a partir da


agricultura-pecuária-extração vegetal – caminhando para trás, na direção dos insumos, e
para frente, em direção ao beneficiamento-industrialização-mercado; e procedendo-se a
avaliação de potencialidades e indicação de novas oportunidades produtivas consideradas
viáveis;

II – indústria extrativa mineral, com identificação das ocorrências minerais e


indicação de suas potencialidades, bem como segmentos da indústria de transformação
nos quais a região detenha, ou possa vir a adquirir, vantagens competitivas e mercado
local, regional ou nacional de vulto, além de especialização exportadora;

III – turismo, formulando-se as bases de política e de estratégia de expansão do


ecoturismo receptivo (inter-regional e internacional) e de expansão da infra-estrutura e
rede de serviços necessários; e

IV – serviços, inclusive comércio, com a preocupação de reforçar essas atividades


em pólos urbanos selecionados.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

SEGUNDA PARTE - Desdobramentos estratégicos

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

CAPÍTULO 3 – Áreas estratégicas e pólos urbanos

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

A estratégia proposta neste documento assenta-se em espacialização regional


que reparte a Amazônia Setentrional em sete Áreas Estratégicas, compreendidas como
espaços de intervenção dos agentes, públicos e privados, envolvidos no processo de seu
desenvolvimento.

Não se trata evidentemente de nova divisão político-administrativa regional, mas


apenas de configuração espacial que, respeitando os limites municipais e estaduais, atenta
para as características físico-ambientais, as atuais formas de ocupação humana e produ-
tiva e a natureza das ações de desenvolvimento sugeridas para a próxima década, em
especial as relativas à expansão e modernização da infra-estrutura e ao reforço da base
econômica da região de atuação do Programa Calha Norte.

Para as Áreas Estratégicas são identificados os Pólos urbanos considerados mais


importantes, ou seja, que desempenhem, ou tenham condições de vir a desempenhar,
funções de comando ou grande influência em seu processo de desenvolvimento, bem
como Núcleos de ocupação, localizados na Faixa de Fronteira.

ÁREAS ESTRATÉGICAS

São as seguintes Áreas Estratégicas delimitadas (Mapa 3):

I – Rio Negro;

II – Japurá–Solimões;

III – Manaus;

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M A PA 3

VENEZUELA
G U IANA

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


B oa Vis ta FR ANC ESA
SUR IN AM E

G U IANA
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM São G abriel ENTIDADE M ETA
da C ach oeira 4:00hs 8:00hs M ENSAL
R O R A IM A
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 A M A-PÁ 13.616,00
CO LÔ M BIA
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana Rus 95 TR O M B E TA S
808,45 - 808,45
IO N EG R O
M acap á
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
M A NA U S
5 U nião das M ães Espíritas MJAPURÁ
arília - Barbosa
SO LIM ÕES
230
ITA CO AT IA RA - - 3.914,6 0 3.914,6 0
PA RINT INS
6 Inspe toria Laura Vicu nã
Tab atinga
800 6.808,0
Ó bidos 0 - 6.808,0 0
43

O rix im iná
7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200Parintins 1.702,0 0 - 1.702,0 0
PERU M an aus
8 C lube de M ães Isabel N ogueira Ita co atiara
110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
B e njam in
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C omCpanheiro
on sta nt s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

IV – Iacoatiara–Parintins;

V – Roraima;

VI – Trombetas; e

VII – Amapá.

As quatro primeiras Áreas Estratégicas situam-se no estado do Amazonas (que


responde por 55% da área da Amazônia Setentrional), a quinta corresponde ao estado de
Roraima (com 16% da área regional), a sexta Área, à porção do estado do Pará ao norte do
rio Amazonas (19%), e a sétima, ao estado do Amapá (10%). As Tabelas 2 a 9 e os Mapas
4 a 8 apresentam dados e indicadores que retratam suas características físico-territoriais,
demográficas e econômico-sociais básicas.

RIO NEGRO

A Área Estratégica Rio Negro compreende a porção norte-ocidental do estado do


Amazonas formada pela bacia do rio Negro, sendo integrada por quatro municípios: São
Gabriel da Cachoeira (fronteiriço com a Colômbia e a Venezuela, formando a famosa
Cabeça do Cachorro), Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos (ambos com fronteiras com a
Venezuela), além de Novo Airão, limítrofe a Roraima e ao município de Manaus. A Área
é quase inteiramente ocupada por florestas ombrófilas densas, apresenta baixa pressão
antrópica e abriga vastas terras indígenas e muitas unidades de conservação.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
45

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
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7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
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7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
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7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
49

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
50

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
51

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
52

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
M A PA 4

V E N EZ U E LA G U IA N A

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


F R AN C E SA
SU R IN A M E

B oa Vista G UM
IAETA
NA ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco RORAIMA 240 2.042,4 0 AMAPÁ
- 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 -
M acapá 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
B elém
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
M anaus
53

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
Densidade Dem ográfica
120 - H ab/km 2 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 Alta (>10)
-
266 - 4.527,3(2,5-10
M édia-Alta 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 M édia (1-2,5)
15.232,90 15.232,90
M édia-Baixa (0,5-1)
TO TAL GERAL 6.380 Baixa (<0,5) 68.845,41
F on te : IBG E
FGV/ISAE
M A PA 5

V E N EZ U E LA G U IA N A

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


F R AN C E SA
SU R IN A M E

G UM
IAETA
NA ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
B elém
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
54

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
Taxa de Urbanização (% )
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
A lta (> 82 )
266 - M4.527,3 2 (6 414.007,46
é dia -A lta - 82 )
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90
M é dia (46 - 6415.232,90
)
TO TAL GERAL 6.380 M é dia -B aixa (968.845,41
- 4 6)
B aixa (29 )
F on te : IB G E
FGV/ISAE
M A PA 6

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


F R AN C E SA
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G U IA N ATENDIM ENTO VALO R


ORDEM ENTIDADE MAETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
M anaus
55

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 -
Densidade2.042,4 Econôm 0
ica2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 (P IB /K m 2, e m U S $)
9.480,1 4 -
266 - A lta (> 10 .00 0) 2
4.527,3 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 M é dia15.232,90
-A lta (2 .0 00 - 10 .0 00 )
15.232,90
M é dia (1.2 50 - 2 .00 0)
TO TAL GERAL 6.380 M é dia -B aixa (75 0 - 168.845,41
.2 50 )
B aixa (< 75 0)
F onte : IB G E , Ipe a
FGV/ISAE
M A PA 7

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


F R AN C E SA
SU R IN A M E

GM
U IA NA ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
56

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 -
PIB Per2.042,4
Capita 0 (
U S2.297,7
$) 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 A lto (>
- 5.0 00 )
266 - M é dio -A lto 2(3 .0 0014.007,46
4.527,3 -5 .0 00 )
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 M é15.232,90
dio (2.0 00 -3.015.232,90
00 )
M é dio -B aixo (1.0 00 -2.0 00 )
TO TAL GERAL 6.380 B aixo (< 1.00 0) 68.845,41
F onte : IB G E , Ipe a
FGV/ISAE
M A PA 8

V E N EZ U E LA G U IA N A

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


F R AN C E SA
SU R IN A M E

G UM
IA N A ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
57

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - ID H 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 A lto (>-0,6 50 )
M é dio -A lto (0 ,5 50 -0 ,6 50 )
266 - 4.527,3 2 14.007,46
M é dio (0,5 00 -0,5 50 )
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90
M é dio -B aixo (0,4 50 15.232,90
-0,5 00 )
TO TAL GERAL 6.380 B aixo (< 0,45 0) 68.845,41
...
Fo nte: IB G E, Ipe a/Pnud
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Com 333,9 mil km2 (23% da Amazônia Setentrional) e população de 69,8 mil habi-
tantes (1996 7 ), correspondendo a apenas 2,6% da norte-amazônica, a Área Estratégica Rio
Negro tem baixíssima densidade demográfica (apenas 2 habitantes por cada 10 km2) e
baixa taxa de urbanização (41%).
O crescimento demográfico, lento nos anos 1970 (1,7% anual), acelerou significa-
tivamente na década de 1980 (5,3%), mas declinou entre 1990 e 1996 (para 1,8%). O PIB
da Área é de US$ 107,9 milhões (dólares de 1998), gerado dominantemente por atividades
extrativo-vegetais, com o PIB da agropecuária representando 74% do PIB total.
A Área Rio Negro tem densidade econômica muito baixa (PIB por km2 de US$
323), baixo PIB per capita (US$ 1.547) e baixo dinamismo econômico relativamente à
Amazônia Setentrional (crescimento do PIB de 4,4% anuais em 1970-1996, comparado
com 7,4%). Houve, entretanto, aceleração no ritmo da expansão econômica entre 1990 e
1996, devida a desempenho mais intenso das atividades extrativistas e à emergência de
comércio de bens de consumo com a Colômbia.
Os indicadores sociais dessa Área Estratégica são em geral baixos, especialmente
os educacionais. A esperança de vida ao nascer é de 62 anos, próxima da brasileira (63
anos), o que ocorre, em geral, em toda a Amazônia; a taxa de mortalidade infantil, de 46
por mil nascidos vivos, equivale à da Amazônia Setentrional; mas a taxa de analfabetismo
da população de 15 anos e mais, de 36% é elevada (a da região é de 19%); e o número
médio de anos de estudo da população de 25 anos e mais, de 2,5 (região: 4,7).
O Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, é de 0,489 (Brasil: 0,742; região:
0,669).
O Rio Negro é um virtual vazio demográfico e econômico. A população e o PIB
cresceram mais lentamente nas últimas décadas do que os da Amazônia Setentrional, mes-
mo que dela se exclua Manaus. Seu PIB per capita é um terço do brasileiro e é insuficiente
seu nível de desenvolvimento humano.

7
Doravante, quando não referido, o ano de referência dos dados e indicadores demográficos e econômicos
utilizados neste Capítulo 4 é 1996; o dos indicadores sociais, 1991.

FGV/ISAE
58
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

JAPURÁ–SOLIMÕES
A Área Estratégica Japurá–Solimões ocupa a porção centro-ocidental do estado do
Amazonas e avança, de oeste para leste, pelo interflúvio Japurá–Solimões, seguindo, a
partir Coari, a calha do rio Solimões até o município de Anamã, localizado nas proximida-
des da foz do rio Negro. Ocupada também pela floresta ombrófila densa e exibindo baixa
pressão antrópica, abriga extensas terras indígenas e diversas unidades de conservação.
Oito dos dezesseis municípios da Área encontram-se na Faixa de Fronteira: Japurá,
Tonantins, Santo Antônio do Içá, Amaturá, São Paulo de Olivença, Tabatinga, Benjamim
Constant e Atalaia do Norte. Japurá, Santo Antônio do Iça e Tabatinga são fronteiriços à
Colômbia; Benjamim Constant e Atalaia do Norte, ao Peru.
Com área de 322,4 mil km2, a segunda maior dentre as Áreas Estratégicas (22% da
Amazônia Setentrional), e população de 273 mil habitantes (10% da regional), tem baixa
densidade populacional (8 habitantes por cada 10 km 2) e taxa de urbanização de 46%. O
crescimento demográfico, relativamente modesto nas décadas de 1970 e 1980 (2,6% e
2,8% anuais), elevou-se para 4,5% ao ano em 1990-1996, tendo sido, no período 1970-
1996, de 3,1% ao ano, inferior ao observado na região como um todo (4,2%).
O PIB, de US$ 309,3 milhões, é o segundo menor dentre as Áreas Estratégicas, e
cresceu, no período 1970-1996, a 4,3% anuais, desempenho inferior tanto ao da Amazô-
nia Setentrional quanto ao do Brasil.
Japurá–Solimões tem o menor PIB per capita da região: US$ 1.133, com cresci-
mento anual de 1,1% em 1970-1996 (mais elevado nos anos 1970 e virtualmente estagna-
do no período 1980-1996). Diferentemente do que ocorre no Rio Negro, o PIB urbano
(indústria mais serviços), embora em regressão, supera o PIB rural (agropecuária).
Os indicadores sociais de Japurá–Solimões também são em geral baixos. A espe-
rança de vida ao nascer é de 64 anos, melhor que a brasileira, o mesmo ocorrendo com a
taxa de mortalidade infantil, de 39 por mil nascidos vivos, revelando, mais uma vez, a
higidez relativa da população do interior amazonense. Mas a taxa de analfabetismo da
população de 15 anos e mais, de 46%, é elevada (região: 19%); e o número médio de anos
de estudo da população de 25 anos e mais, de somente 2 (região: 4,7).
O Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, é de 0,462, o mais baixo da região
norte-amazônica.

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59
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Japurá–Solimões também é quase um virtual vazio demográfico e econômico. A


população e o PIB cresceram menos nas últimas décadas do que os da Amazônia Setentri-
onal, mesmo que dela se exclua Manaus, e o PIB per capita tendeu para a estagnação nos
dois decênios mais recentes. Tem sido relativamente lento o ritmo de seu desenvolvimen-
to humano.

MANAUS
A Área Estratégica Manaus, que abriga o município da capital amazonense, maior
pólo urbano-industrial da Amazônia, ocupa território de 52,4 mil km2, correspondendo a
4% do norte-amazônico. Sua densidade demográfica, de 24 habitantes por km2, é superior
à brasileira. A população, de 1.269,8 mil, cresceu aceleradamente no período 1970-1996
(taxa média anual de 5%, superior à regional), embora essa expansão venha decrescendo
(de 6,6% ao ano na década de 1970 para 2,9% em 1990-1996). Esse aumento da popula-
ção ocorreu pari passu a rápida urbanização, cuja taxa se elevou de 81% em 1970 para
96% em 1990, desempenho que reflete essencialmente o verificado no município de
Manaus, que detém 91% da população da Área.
O PIB dessa Área Estratégica, de US$ 8.441,1 milhões, gera densidade econômica
de US$ 161 mil, concentra-se na indústria (44%) e nos serviços (55%) e explica PIB per
capita de US$ 6.648, 32% maior que o brasileiro. O IDH, de 0,756 também supera o
nacional, a esperança de vida é de 63 anos, a taxa de mortalidade infantil, de 45 por mil
nascidos vivos, a taxa de analfabetismo, de 10%, e o número médio de anos de estudo, de
6, sendo todos esses indicadores superiores aos brasileiros. Desnecessário é observar que
o município de Manaus apresenta indicadores ainda melhores do que os da Área que pola-
riza e comanda.
O crescimento e desenvolvimento recentes dessa Área Estratégica deveram-se es-
sencialmente ao surto de industrialização incentivado pela Superintendência da Zona Franca
de Manaus. A capital amazonense viveu, nos anos 1970, grande surto de progresso, com a
instalação de indústrias sofisticadas, beneficiadas com o estímulo da isenção do imposto
de importação para seus componentes, além de outros incentivos. Tornou-se enclave in-
dustrial moderno, voltado em particular para a eletrônica de consumo e orientado para o
mercado nacional. Seu crescimento econômico, contudo, de 17% ao ano na década de
1970, caiu para 4,4% nos anos 1980, em virtude da crise brasileira da chamada década

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60
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

perdida, e sofreu duro golpe no início do decênio passado com a abrupta liberalização,
pelo Brasil, das importações do exterior.
Relativamente à região, o município de Manaus é uma ilha no que respeita ao nível
alcançado por seu desenvolvimento, que sequer se transmite para os outros quatro municí-
pios da Área (dentre eles, apenas Presidente Figueiredo e Iranduba têm PIB per capita
superior ao da Amazônia Setentrional, se dela excluído Manaus).

ITACOATIARA–PARINTINS
Itacoatiara–Parintins ocupa a porção nordeste do estado do Amazonas, situando-se
às margens do rio Amazonas. Depois de Manaus e do Amapá, é a região de maior pressão
antrópica relativa, atual e potencial, que se faz mais intensa em Itacoatiara e na foz do rio
Uatumã. Dois de seus municípios, Urucará e Nhamundá, têm partes de seus territórios na
Faixa de Fronteira.
É a segunda menor das Áreas Estratégicas da Amazônia Setentrional (depois de
Manaus), com 75,9 mil km2. Tem 186,7 mil habitantes, densidade demográfica de 2,5
hab./km2, superior à da região, e taxa de urbanização de 63%. Seu crescimento demográfico,
relativamente baixo no período 1970-1996 (2,2% anuais), elevou-se significativamente
em 1990-1996 (para 3,4% anuais), refletindo a aceleração populacional ocorrida, concen-
trada em Parintins e Iacoatiara.
O PIB da Área, de US$ 399,2 milhões, cresceu, no período 1970-1996, a 5,1%
anuais, ritmo inferior ao regional. As atividades econômicas primárias respondem por
45% do PIB, os serviços, por 36% e a indústria, por 19%. São de nível médio a densidade
econômica (PIB de US$ 5,3 mil por km2) e a densidade industrial relativas (PIB industrial
de US$ 988/km2).
O PIB per capita de Itacoatiara–Parintins é de US$ 2.138, e seu crescimento médio
anual, em 1970-1996, foi de 2,7%. O PIB per capita rural, menor do que o urbano em 1970
(US$ 728, comparados com US$ 1.670), superou o urbano em 1996 (eles foram de US$
2.614 e de US$ 1.858, respectivamente), sugerindo a ocorrência de grandes migrações
rurais-urbanas, fenômeno que também ocorreu na Área Estratégica Rio Negro.
Os indicadores sociais dessa Área Estratégica estão em geral em torno daqueles
alcançados pela região quando dela se exclui o município de Manaus (salvo no caso da
alfabetização, que lhe é superior). A esperança de vida ao nascer é de 62 anos; a taxa de

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61
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

mortalidade infantil, de 47 por mil nascidos vivos. A taxa de analfabetismo da população


de 15 anos e mais, de 18%, é relativamente baixa (a da região, sem Manaus, é de 27%); e
o número médio de anos de estudo da população de 25 anos e mais é de 3,6 (região, sem
Manaus: 3,5).
O Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, é de 0,557 (região, sem Manaus:
0,586).

RORAIMA
O estado de Roraima forma a quinta Área Estratégica proposta. Ocupa o extremo
norte do país, estando parcialmente encravado entre a Venezuela e a Guiana. Todos os
seus quinze municípios são fronteiriços ou têm partes de seus territórios na Faixa de Fron-
teira.
O quadro fitoecológico da Área é variado. Em suas porções norte-ocidental e sul-
oriental, predomina a floresta ombrófila densa; na parte norte-oriental, as savanas estépicas
e o cerrado, também presentes no centro de seu território, de permeio a espaços de tensão
ecológica. Somente o sudoeste de Roraima e sua parte centro-oriental (onde se encontra a
capital, Boa Vista) são espaços livres para a ocupação demográfica e produtiva, pois as
demais subáreas estão legalmente preservadas, sendo constituídas principalmente por ter-
ras indígenas.
Com 225 mil km 2 e população de 247,1 mil, Roraima tem baixa densidade
populacional (1,1 hab./km2) e taxa de urbanização de 70%. O crescimento demográfico,
elevado e crescente nos anos 1970 e 1980 (taxas anuais de 6,8% e 10,4%, respectivamen-
te), decresceu para 2,6% ao ano em 1990-1996. Foi, porém intenso (de 7,2% ao ano), se
tomado todo o período 1970-1996.
O PIB do Estado, de 976,1 milhões, cresceu a 10% ao ano no período 1970-1996, o
que se deve ao desempenho obtido nas décadas de 1970 (crescimento de 11,2% anuais) e
de 1980 (14,4%), explicado sobretudo pela expansão, desordenada, do garimpo, contida
por medidas governamentais no começo da presente década. Entre 1990 e 1996, Roraima
cresceu a apenas 1,2% anuais. A performance econômica de Boa Vista, que responde por
82% do PIB do Estado, comandou essa evolução e também explica a elevada participação
dos serviços na formação da renda estadual, que é de 76%, seguida pela da indústria, de
22%. São de nível médio a densidade econômica relativa (PIB de US$ 4.337/km2) e a

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62
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

densidade industrial (US$ 955/ km2) dessa Área Estratégica.


O PIB per capita de Roraima, de US$ 3.950, cresceu a taxas médias anuais de 4,1%
na década de 1970 e 3,7% na década de 1980, mas decresceu em 1990-1996 (1,3% ao
ano). No período 1970-1996, sua expansão deu-se a 2,7% ao ano. O PIB urbano é de US$
5.510 e apresentou tendência crescente no período 1970-1996, mas o PIB rural, de apenas
US$ 217, involuiu nesse período (-6,3% ao ano), mais uma vez devido ao efeito Boa
Vista.
Os indicadores sociais dessa Área Estratégica atestam novamente o peso do muni-
cípio de Boa Vista. O IDH é de 0,728, sendo o de Boa Vista 0,752 e o dos demais municí-
pios, 0,586. A esperança de vida (62 anos) e a taxa de mortalidade infantil (51 por mil
nascidos vivos) são equivalentes nos três casos. Mas a taxa de analfabetismo, de 14% em
Boa Vista e 37% nos demais municípios (22% no total da Área) e o número médio de anos
de estudo (5,2 anos em Boa Vista, 2,5 nos demais municípios e 4,3 no total da Área)
refletem os desequilíbrios interestaduais de desenvolvimento humano.
Roraima é uma nova fronteira da Amazônia. Com o segundo PIB per capita da
região norte-amazônica, parece estar caminhando, nos últimos anos, para nova fase de
progresso. Mesmo que grandes parcelas de seu território estejam bloqueadas à ocupação
(seja por abrigar terras indígenas, seja por constituir áreas de conservação) há, ao longo da
BR-174 e na parte central e centro-norte do Estado, espaço suficiente para sustentar essa
nova expansão.

TROMBETAS
A Área Estratégica Trombetas é integrada pelos nove municípios do estado do Pará
situados ao norte do rio Amazonas, quatro deles – Faro, Oriximiná, Óbidos e Almeirim –
situados na Faixa de Fronteira (com a Guiana e o Suriname). Trombetas é ocupada domi-
nantemente pela floresta ombrófila úmida (além de área de savanas), estando em grande
parte ocupada seja por unidades de conservação, seja por terras indígenas (Mapa 2).
Com 282 mil km2 e população de 264,2 mil, a Área tem baixa densidade demográfica
(menos de 1 hab./km2) e grau de urbanização de 46%. O crescimento demográfico, eleva-
do no decênio 1970 (5,4% anuais), decresceu no período 1980-1996, quando foi inferior a
1% ao ano. Entre 1970 e 1996, foi, em média, de 2,4% ao ano, o mais baixo registrado
entre as Áreas Estratégicas da Amazônia Setentrional.

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63
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

O PIB de Trombetas, de US$ 533 milhões, cresceu a taxas elevadas nos anos 1970
(devido a dois grandes projetos, então em implantação, um deles de extração de bauxita
no vale do rio Trombetas e o outro, o Projeto Jari, de produção de celulose, exploração de
caulim e bauxita e de cultivo do arroz), estagnou nos anos 1980, mas apresentou alguma
recuperação em 1990-1996. No período 1970-1996, contudo, seu crescimento foi eleva-
do: de 6,3% anuais. As atividades agropecuárias representam 46% do PIB, a indústria,
7%, e os serviços, 47%. São baixas tanto a densidade econômica da Área (PIB de US$
1.890/km2) quanto a densidade industrial (PIB industrial de US$ 142/km 2).
O PIB per capita, de US$ 2.018, cresceu a 3,9% anuais no período 1970-1996 (ex-
pansão devida essencialmente à verificada no decênio de 1970), com o PIB per capita
urbano, de US$ 2.387, superando o rural (US$ 1.704).
Trombetas apresenta IDH relativamente baixo, de 0,517, que reflete PIB per capita
e níveis educacionais inferiores aos regionais. A esperança de vida é de 63 anos, a morta-
lidade infantil, de 43 por mil nascidos vivos. Mas o analfabetismo, alcançando 25% da
população de 15 anos e mais, é mais elevado do que o da Amazônia Setentrional; e o
número médio de 3 anos de estudo é menor do que o da região, mesmo quando dela se
exclui Manaus.
Embora com bom potencial de desenvolvimento, inclusive em decorrência de sua
localização, a Área Estratégica Trombetas ainda não se recuperou da crise vivida na déca-
da de 1980. Apresenta, depois do Japurá–Solimões e Rio Negro, os níveis mais baixos de
desenvolvimento.

AMAPÁ
O estado do Amapá tem dezesseis municípios, dos quais oito se encontram total ou
parcialmente na Faixa de Fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname (Oiapoque,
Calçoene, Amapá, Pracuúba, Ferreira Gomes, Serra do Navio, Pedra Branca do Amapari e
Vitória do Jari). A floresta ombrófila úmida densa domina a parte ocidental do Estado,
com áreas de transição, cerrados, campos e várzeas sendo mais freqüentes ao longo da foz
do rio Amazonas e do litoral atlântico. A pressão antrópica é mais intensa a sudeste e na
parte central da Área.
Com 143,5 mil km2 e população de 379,5 mil, o Amapá tem densidade demográfica
de 2,6 habs./km2 e taxa de urbanização de 87%, superada somente pela Área Estratégica

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64
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Manaus. Nas últimas décadas (1970-1996), o crescimento demográfico foi, em média, de


4,7% ao ano, com tendência ascendente até 1990.
O PIB da Área Estratégica, de US$ 1.276,2 milhões, o segundo maior da Amazônia
Setentrional, cresceu à taxa média anual de 6,1% no período 1970-1996 (5,2% em 1970-
1980, 9,4% em 1980-1990 e 2,1% em 1990-1996) e reflete em muito o desempenho do
município de Macapá, responsável por 76% da renda do Estado. Por essa mesma razão,
predominam, na formação do PIB, os serviços (70%) e a indústria (21%), com a
agropecuária respondendo por 9%. São relativamente elevadas tanto a densidade econô-
mica (PIB total/km2 de US$ 8.896) quanto a densidade industrial (PIB industrial/km2 de
US$ 1.845).
O PIB per capita, de US$ 3.363, inferior ao da Amazônia Setentrional, cresceu a
apenas 1,3% no período 1970-1996, desempenho que se explica pelo alto crescimento
demográfico. Em decorrência do elevado crescimento da população urbana resultante de
migrações para as cidades, o PIB urbano per capita teve, ao longo das últimas décadas,
desempenho negativo (de 0,5% anuais entre 1970 e 1996), enquanto que o PIB rural apre-
sentou elevado desempenho (de 6,6% ao ano no mesmo período).
O Amapá, com IDH de 0,687, apresenta nível relativamente alto de desenvolvi-
mento humano, o que se deve ao peso demográfico e econômico Macapá no Estado. A
esperança de vida é de 62 anos e a mortalidade infantil, de 51 por mil nascidos vivos. Os
índices educacionais (analfabetismo de 19% e número médio de 4,8 anos de estudo) são
equivalentes aos norte-amazônicos.
Juntamente com Roraima, essa Área tem boas potencialidades de desenvolvimen-
to. Vem recebendo grande fluxo migratório. Sua economia sofreu com o esgotamento das
reservas de manganês e o fracasso do projeto Jari, mas estão despontando novas e muito
promissoras alternativas de crescimento.

SISTEMA DE CIDADES E PÓLOS URBANOS


O Mapa 9 apresenta a rede de cidades da Amazônia Setentrional, que integra os
dois subsistemas urbanos do Norte do país, encabeçados por Manaus e Belém. Nele, as
cidades estão hierarquizadas segundo a dimensão da população urbana (1996). A região
metropolitana de Belém e a cidade de Santarém, PA, não estão incluídas na Amazônia
Setentrional, mas exercem importante influência sobre a região: Belém sobre toda sua

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

porção oriental; Santarém sobre as Áreas Estratégicas Trombetas e Itacoatiara–Parintins.


Ressaltem-se ainda a grande concentração populacional nos dois macropolos regionais e a
trama urbana rala, fragmentária e fracamente articulada, além de dispersa em imenso ter-
ritório.
É justamente esse quadro que se deve procurar modificar gradativamente, median-
te ações de desenvolvimento urbano atentas aos objetivos de integração e inserção com-
petitiva, de desconcentração urbana e de fortalecimento da ocupação pontual, com priori-
dade para as áreas de fronteira.
Com o objetivo de formular estratégia urbana consistente a esses objetivos, já fo-
ram identificados, em cada Área Estratégica, os pólos urbanos considerados mais relevan-
tes. São eles:
I – Manaus (Área Estratégica Manaus), metrópole regional e moderno pólo urbano-
industrial, estrategicamente localizado no epicentro do eixo natural da Amazônia, traçado
pelos rios Solimões-Amazonas;
II – Boa Vista (Área Estratégica Roraima), localizado ao norte de Manaus (na Fai-
xa de Fronteira com a Venezuela e a Guiana), pólo de segundo grau que combina funções
comerciais e de governo;
III – Macapá (Área Estratégica Amapá), a leste de Manaus e também pólo de se-
gundo grau, com vocações para o agribusiness (pesca, principalmente), a indústria e os
serviços, entre eles comércio;
IV – Itacoatiara–Parintins (Área Estratégica de mesmo nome), estrutura urbana
bipolar de terceiro grau localizada no Médio Amazonas e com funções comercial-portuá-
rias e de serviços, inclusive o turismo sazonal;
V – Óbidos–Oriximiná (Área Estratégica Trombetas), estrutura bipolar de quarto
grau localizada no noroeste do Pará (sob influência de Santarém), orientada para ativida-
des extrativas, comerciais e industriais;8

8
Santarém é, na verdade, o pólo dessa Área, detendo o segundo grau na hierarquia urbana regional. Seria de se
examinar sua inclusão na área de atuação do Programa Calha Norte dada sua grande influência sobre essa Área
Estratégica e sobre a vizinha Itacoatiara–Parintins.

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66
M A PA 9

V E N EZ U E LA G U IA N A

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


F R AN C E SA
SU R IN A M E

G UM
IA N A ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE B oa V ista
ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
Am apá
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
Serra do N avio
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
C O LÔ M B IA Barcelos
3 S ociedade Eu nice W eaver de MSãoana usda Cachoeira
Gabriel 95 808,45 M acapá- 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 Orixim iná
- 3.914,6
Laranjal
0 3.914,6
Belém
0
Ób id os
do Jari
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
67

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0


Santarém 0 - 1.702,0 0
8 C lube de M ães Isabel N ogueira M anaus
110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado
Tabatinga
do Am azonas - LIFEA
Coari 30 255,30 -
Benjam im
Con stant
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1S4ubsistem
- as U rb anos
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41

F on te : IBG E, IP E A
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

VI – Tabatinga–Benjamim Constant (Área Estratégica Japurá–Solimões), a oeste


de Manaus, considerada estrutura urbana bipolar, hoje de quarto grau (na Faixa de Fron-
teira com a Colômbia e o Peru), voltado mais para o extrativismo, a agropecuária e o
comércio; e

VII – São Gabriel da Cachoeira (Área Estratégica Rio Negro), a noroeste de Manaus
e hoje pólo também de quarto grau (na Faixa de Fronteira com a Colômbia e a Venezuela),
vocacionado para as atividades extrativas e comerciais.

Esses pólos estão articulados pelos Eixos de Integração e Inserção identificados e


propostos no Capítulo 4.

INTERAÇÕES INTRA-REGIONAIS

As regiões definem-se e se estruturam pelo porte e intensidade dos fluxos, de pes-


soas, bens, serviços, informações, que interconectam suas diversas partes, criando laços
de interdependência e reciprocidade.

As estatísticas sobre esses fluxos – de transporte de pessoas e mercadorias, em


suas várias modalidades: rodoviária, ferroviária, aérea; de comunicações: postais, de voz,
de dados –, se podem ser mais facilmente obtidas para países ou grandes regiões, dificil-
mente estão disponíveis nos níveis mesorregionais, microrregionais e municipais, que
são as escalas relevantes neste estudo.

Nessas circunstâncias, costuma-se utilizar como indicadores alternativos os gera-


dos pelos modelos de interação de massas, capazes de indicar, a partir de base empírica
limitada mas com razoável precisão, a dimensão relativa dos fluxos passíveis de ocorrer
em determinado espaço regional.

Os modelos de interação de massas estribam-se em dois conceitos apropriados da


Física newtoniana: os de massa e distância.

Por massas, no caso da Amazônia Setentrional, suas Áreas Estratégicas e municí-


pios (além da região metropolitana de Belém, incluída no modelo pela importância que
exerce sobre a região), estar-se-ão considerando alternativamente a população total e o
PIB. Essas massas são consideradas agrupadas em um ponto definido no espaço: a sede

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68
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

do município(s) ou a(s) aglomeração(ções) urbana(s) mais relevante(s) da Área Estratégi-


ca. Essas massas configuram, portanto, pólos, mensurados seja em sentido demográfico,
seja econômico.

A distância (entre duas massas, ou pólos) está medida, em km, seja em linha reta,
seja pelo percurso rodofluvial considerado melhor e mais confiável.

A lógica dos modelos de interação de massas reza que os pólos geram e captam
energias de outros pólos em função direta de suas massas e inversa das distâncias que os
separam. E que essa energia é determinante dos fluxos potenciais (de pessoas, bens, servi-
ços, comunicações) entre eles. Esses fluxos potenciais, se superiores aos fluxos reais efe-
tivamente mensurados, podem indicar, por exemplo, que há, entre dois ou mais pólos,
obstáculos à fluidez nos sistemas e serviços de transportes ou de comunicações que os
interligam. Ou ainda que insuficiências ou desigualdades de renda estão inibindo o movi-
mento das pessoas ou a expansão do comércio interpolos. Nesses casos, os fluxos poten-
ciais poderiam ser atualizados mediante, por exemplo, maior disponibilidade de infra-
estrutura e serviços de transportes e comunicações, ou mais crescimento com melhor dis-
tribuição de renda.

Vê-se, portanto, que os modelos de interação de massas podem ser um instrumento


útil para orientar ações específicas de desenvolvimento, ou para servir de espelhos na
simulação dos impactos de estratégias alternativas de intervenção espacial.

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69
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
70

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
M A PA 10

V E N EZ U E LA SU R IN A M E G U IA N A

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


F R AN C E SA

G UM
IAETA
NA ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
R io N e g ro Tro m b e ta s
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6
B e lé m
0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
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7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
Interações
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
Dem og ráficas
266 - 4.527,3
F o rte2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90
M é dia 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 F ra ca 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Na aplicação, inicialmente feita neste estudo, dos modelos de interação de massas


(também chamados de modelos de gravidade), aplicou-se a seguinte fórmula, muito sim-
ples, que corresponde ao conceito de força gravitacional:

F = PiPj /dij2,

onde F é a força gravitacional (demográfica ou econômica), P i e Pj são as massas de


dois pólos quaisquer (ou seja, a população ou o PIB, conforme o caso), e dij é a distância
entre eles (em linha reta ou rodofluvial).

A Tabela 10 apresenta a matriz de interações demográficas potenciais entre as sete


Áreas Estratégicas da Amazônia Setentrional.

Nela, são consideradas massas as populações (1996) de cada uma das Áreas, com
as distâncias entre os seus Pólos sendo medidas em linha reta. Os dados obtidos estão
normalizados, considerando-se o valor verificado para a interação entre Manaus e Belém
igual a 1.000. Eles indicam, portanto, a importância relativa dos fluxos potenciais passí-
veis de ser gerados, entre as Áreas, pelas pessoas (viagens, chamadas telefônicas, dentre
outros). O Mapa 10 retrata essas interações, classificadas por faixas de intensidade.

O exame conjunto da Tabela 10 e do Mapa 10 permite concluir:

I – que são fortes (índice maior do que 500) as interações entre a região metropoli-
tana de Belém e a Área Amapá, Manaus e Itacoatiara–Parintins, Belém e Manaus, Manaus
e Trombetas, Itacoatiara–Parintins e Trombetas, Belém e Trombetas e Manaus e Roraima,
mencionadas em ordem decrescente de intensidade;

II – que são médias (com índices entre 500 e 50) as interações entre as Áreas Manaus
e Amapá, Amapá e Trombetas, Manaus e Japurá–Solimões, Belém e Itacoatiara–Parintins,
Belém e Roraima, Manaus e Rio Negro, Amapá e Itacoatiara–Parintins, Roraima–Trom-
betas, Roraima–Itacoatiara–Parintins, Belém–Japurá–Solimões e Roraima–Amapá, tam-
bém apresentadas em ordem decrescente.

As demais interações são baixas (índice inferior a 50).

FGV/ISAE
72
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Note-se que, pelo critério demográfico, avultam as forças polarizadoras, sobre o


espaço da Amazônia Setentrional, de Belém (em virtude principalmente de suas interações
com o Amapá e Manaus) e de Manaus (por força sobretudo de suas interações com
Itacoatiara–Parintins e Belém). Dentro do espaço da Amazônia Setentrional, ou seja, ex-
cluída Belém, Manaus determina 37% das interações totais.

A Tabela 11 e o Mapa 11 apresentam as interações econômicas potenciais entre as


sete Áreas Estratégicas, mais a região metropolitana de Belém. Manaus apresenta interações
mais fortes do que Belém, ou seja, dominância, com todas as Áreas Estratégicas, exceto
Amapá.

No cálculo dessas interações, as massas correspondem aos PIBs para 1996 de cada
uma das Áreas, com as distâncias entre seus pólos sendo medidas em km, pela ligação
rodofluvial mais viável. Os dados estão normalizados segundo o mesmo critério da Tabe-
la 10 (interação entre Belém e Manaus igualada a 1.000).

Com base nesses dados, pode-se dizer que:

I – são fortes (índices maiores do que 200) as interações econômicas potenciais


entre Belém e Amapá, Manaus e Belém, Manaus e Itacoatiara–Parintins, Manaus e Trom-
betas, e Manaus e Amapá;

II – são médias (índices entre 200 e 25) as interações entre Belém e Trombetas,
Manaus e Roraima, Belém e Itacoatiara–Parintins, Amapá e Trombetas, Itacoatiara–
Parintins e Trombetas e Belém e Roraima, com as demais interações sendo fracas (índices
menores do que 25).

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL
ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
74

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
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M A PA 11

SU R IN A M E G U IA N A
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


G U IA N A

ATENDIM ENTO VALO R


ORDEM ENTIDADE M ETA
R o ra im a 4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
Am apá
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 Tro m b e ta s
808,45 - 808,45
R io N e g ro
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6
B e lé m
0
6 Inspe toria Laura Vicu nã J a p u rá - S o lim õ e s 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
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7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 Interação
- Econômica
266 - 4.527,3 2
F o rte 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90
M é dia 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 F ra ca 68.845,41
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Os resultados obtidos na Tabela 11 exibem padrão semelhante ao revelado na Ta-


bela 10, com os valores absolutos dos índices sendo atenuados pelas grandes distâncias
rodofluviais entre os Pólos da maior parte das Áreas. Acentuam-se porém, na determina-
ção dos fluxos econômicos, tanto o peso de Manaus relativamente ao de Belém quanto seu
papel na geração, dentro da Amazônia Setentrional, das interações produtivas (44% do
total).

Na Tabela 12 são apresentadas as interações demográfico-econômicas potenciais,


com o município de Manaus e a região metropolitana de Belém, dos demais municípios e
das sete Áreas Estratégicas da Amazônia Setentrional. As massas dos municípios são as
médias simples das populações e dos PIBs totais (1996), normalizados; as distâncias são
medidas em linhas retas e expressas em km.

No cálculo dessas interações, em lugar do conceito de força gravitacional, utilizou-


se o de energia gravitacional, que lhe é similar, podendo ser expresso na seguinte fórmu-
la:

E = PiPj /dij,

onde E é a energia gravitacional (demográfica ou econômica), P i e Pj são as popula-


ções ou os PIBs totais de dois pólos quaisquer, e dij é a distância entre eles.

O exame dos dados da Tabela 12 (normalizados, com a interação encontrada entre


Belém e Manaus sendo igual a 1.000) revela a grande força polarizadora de Manaus sobre
a Amazônia Setentrional, que vai além de sua porção ocidental, pois Belém exerce influ-
ência maior do que Manaus apenas sobre o Amapá e três dos nove municípios de Trombe-
tas (Pará).

O Mapa 12, que retrata as dominâncias dos dois macropolos amazônicos sobre os
municípios da região, exprime bem essa energia gravitacional manauara, que se deve mais
a sua localização central do que propriamente a sua massa média (ou seja, demográfico-
econômica), inferior à da região metropolitana de Belém.

FGV/ISAE
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FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

FGV/ISAE
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M A PA 12

SU R IN A M E G U IA N A
V E N EZ U E LA
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


G U IA N A

ATENDIM ENTO VALO R


ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 A m a p -á 2.042,4 0
C O LÔ M B IA
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
R io N e g ro Tro m b e ta s
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6
B e lé m
0
6 Inspe toria Laura Vicu nã J a p u rá - S o lim õ e s 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
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7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
PE R U
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - P ólo s2.042,4
D om in0 ante/ 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4D om in-âncias
266 - F orte14.007,46
B elém 4.527,3 2M éd ia
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90F raca15.232,90
F orte
TO TAL GERAL 6.380 M anaus 68.845,41
M éd ia
F raca
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

A FAIXA DE FRONTEIRA

A Tabela 13 e o Mapa 13 permitem que se considerem, especificamente aqueles


municípios9 da Amazônia Setentrional com seus territórios total ou parcialmente incluí-
dos na Faixa de Fronteira.

Note-se que sua área total, de 1.095,5 mil km2, corresponde a 76% da Amazônia
Setentrional, mas sua população total (1996), de 703,3 mil, equivale a apenas 46%, se
excluído Manaus e a 26%, incluído Manaus. O PIB, de US$ 1.698,7 milhões (dado de
1996, a dólares de 1998), equivale a 45% do regional sem Manaus e a 14%, com Manaus.
Ou seja, a Faixa de Fronteira apresenta, relativamente ao conjunto da região, tanto densi-
dade demográfica quanto densidade econômica relativamente baixas, porém elas estão
muito próximas das da Amazônia Setentrional, se excluído Manaus.

Ademais, o PIB per capita, de US$ 2.415, equivale a 97% do da Amazônia Setentri-
onal sem Manaus e a 53% com Manaus, sendo menos de metade do brasileiro.

O nível relativamente baixo de desenvolvimento da Faixa de Fronteira confirma-se


com os dados relativos ao Índice de Desenvolvimento Humano, IDH. Ele é de 0,577 em
1991, comparado com 0,586 para a Amazônia Setentrional sem Manaus, 0,669 para esta
região com Manaus e 0,742 para o Brasil.

Boa Vista é o maior pólo urbano da Faixa de Fronteira, com população de 165,5 mil
(23% do total dos municípios da Faixa) e PIB de US$ 802,4 milhões (47%). Seu PIB per
capita, de US$ 4.848, aproxima-se do brasileiro, e o IDH, de 0,752, lhe é superior (Tabela
13). Porém, embora localizada na porção centro-norte da região, Boa Vista, incrustada,
como o estado que comanda, entre a Venezuela e o Suriname, interliga-se pobremente seja
com a banda ocidental, seja com a banda oriental da Amazônia Setentrional. Por essa
razão, sua influência tende a circunscrever-se a Roraima.

9
Municípios existentes em 1991, último ano para o qual se dispõe do cálculo do IDH (Tabela 13).

FGV/ISAE
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FGV/ISAE
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ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
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7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

CAPÍTULO 4 – Competitividade sistêmica

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83
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Em seu conceito ampliado, adotado neste documento, a competitividade sistêmica


está associada a todo um conjunto de atributos do sistema econômico, externos às ativi-
dades das unidades diretamente produtivas que o integram, mas também responsáveis por
sua eficiência e produtividade. Esses atributos são de natureza econômico-financeira, social
e político-institucional, envolvendo ainda aspectos relacionados à qualidade de vida e ao
meio ambiente.

Entre os atributos de ordem econômico-financeira, incluem-se a disciplina


macroeconômica, traduzida principalmente: na estabilidade dos preços e normas comer-
ciais, fiscais, financeiras e cambiais, bem como no equilíbrio das contas nacionais, públi-
cas e externas; nos ônus fiscal e parafiscal incidentes sobre a produção, o consumo, a
renda e a circulação, interna ou externa, de pessoas, bens, serviços, bem como sobre os
movimentos financeiros; e o que se pode chamar de clima ou ambiente favorável aos
investimentos privados, que exprime a confiança, segurança e credibilidade que a econo-
mia de um país inspira, bem como as expectativas de crescimento e desenvolvimento que
ela transmite. São também relevantes a segurança e eficiência da infra-estrutura de trans-
portes, energia e comunicações e dos serviços correspondentes, ademais daqueles presta-
dos às empresas (serviços financeiros e corporativos, em especial os intensivos em co-
nhecimento, como as consultorias e pesquisa e desenvolvimento).

Entre os atributos de natureza social estão a qualidade e disponibilidade dos recur-


sos humanos e os custos da mão-de-obra (neles incluídos os encargos sociais); mercado
de trabalho flexível e dinâmico, baixa incidência de pobreza crítica, além de toda uma
gama de serviços, principalmente urbanos, associados à qualidade de vida: educação,
saúde e saneamento, segurança, limpeza urbana, cultura, lazer.

São atributos de natureza político-institucional o respeito às liberdades e aos direi-

FGV/ISAE
84
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

tos humanos fundamentais, individuais e coletivos, a estabilidade política sob o império


da lei e da ordem e a segurança pública.

Ganham crescente importância no conceito ampliado de competitividade sistêmica


fatores de natureza ecoambiental, entre eles a pureza do ar e das águas, a preservação da
paisagem, a conservação dos recursos florestais e faunianos, a baixa incidência de cata-
clismos (inundações, terremotos), o próprio clima.

Muitos desses atributos escapam, no Brasil, às esferas municipal, estadual e regio-


nal por envolverem, total ou parcialmente, decisões e políticas de competência e âmbito
federais – embora essas decisões e políticas possam ser demandadas ou influenciadas por
forças econômicas, sociais e políticas subnacionais.

Serão considerados neste documento apenas os atributos da competitividade


sistêmica considerados mais relevantes e estratégicos para o desenvolvimento da Amazô-
nia Setentrional: seja por refletirem carências que a região hoje revela, relativamente ao
país; seja por terem um papel decisivo no êxito da estratégia proposta; seja finalmente por
poderem ser objeto, total ou parcialmente, de decisões, políticas, programas ou projetos
regionais, estaduais ou municipais.

EIXOS DE INTEGRAÇÃO E INSERÇÃO

Os Eixos de Integração e Inserção abaixo propostos são vetores espaciais, constitu-


ídos por vias de transporte aquaviário e rodoviário e pelos serviços correspondentes (in-
clusive portuários), com o objetivo de tornar mais eficiente a movimentação superficial
de pessoas e bens, atuando como fator de integração da Amazônia Setentrional e de sua
inserção no país e no exterior.

Quatro dos cinco Eixos principais conformam uma cruz infletida com vértice em
Manaus, o pólo regional hegemônico. O quinto Eixo principal encontra-se no Amapá. São
eles (Mapa 14):

I – a Hidrovia do Amazonas (Manaus–Foz, 1.488 km), que interconecta toda a


região ao Oceano Atlântico, integrando os Pólos de Itacoatira–Parintins, Óbidos e Macapá
(porto de Santana) e inserindo a região nos fluxos de transporte marítimo de cabotagem e
de longo curso;

FGV/ISAE
85
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

II – a Rodovia Manaus-Boa Vista (BR-174, 785 km), asfaltada, que permite a in-
serção, via rodoviária, de Manaus à Venezuela, através de seu trecho (de 216 km) Boa-
Vista–Paracaíma, na fronteira com esse país (a partir de Caracas, La Guaira, ou de Puerto
Cruz, esse importante Eixo enseja a inserção da região, via marítima, ao Caribe e às Amé-
ricas Central e do Norte);

III – A Hidrovia do Solimões (Manaus–Benjamim Constant, 1.620 km), que inter-


liga Manaus ao Pólo Tabatinga–Benjamim Constant, na fronteira com a Colômbia e o
Peru, daí demandando Iquitos, nesse último país. Existe a possibilidade de melhor inser-
ção da região com os países andinos, em particular, e com as rotas de transporte do Ocea-
no Pacífico, em geral, através de saída marítima pelo porto de Paita, na costa norte-peru-
ana. Essa possibilidade poderia ser objeto de estudo de pré-viabilidade, pois demanda
alguns investimentos de vulto no Peru, tanto portuários (em Puerto América) quanto ro-
doviários (trecho de cerca de 50 km entre Puerto América e Sarameriza, principalmente);

IV – a Hidrovia do Madeira (Foz desse rio no Amazonas–Porto Velho, 1.100 km),


rota de inserção de Manaus no Centro-Oeste (via BR-364, Porto Velho–Cuiabá) e no Su-
deste e Sul do país (e, a partir daí, nos países do Cone Sul);

V – A Rodovia Macapá-Oiapoque (BRs–210-156, 532 km, em vias de ser asfalta-


da), que corta o Estado do Amapá na direção sul-norte, até a fronteira com a Guiana Fran-
cesa.

Os rios navegáveis principais, que complementam esse sistema viário básico como
Eixos secundários, são:

I – o Rio Negro (Foz no Amazonas–Cucuí, 1.160 km), que interliga Manaus ao


Pólo São Gabriel da Cachoeira (com transbordo rodoviário antes dessa cidade, entre São
Pedro e Camamaús), prosseguindo navegável até Cucuí, em área fronteiriça com a Co-
lômbia e a Venezuela;

II – o Rio Japurá, com 721 km (no trecho Foz no Solimões–Vila Bittencourt, Nú-
cleo de Fronteira situado no município de Japurá, nos limites com a Colômbia);

FGV/ISAE
86
Américas do Norte C aribe
M A PA 14 e Central
GUIANA
FRANCESA

Venezue la SURINAM E
C olôm bia
GUIANA E uropa

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


R odovia
M acapá -
R odovia O iapoque
M anaus -
Boa Vista ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
R io Negro 4:00hs R io Jari 8:00hs M ENSAL
C osta
B rasileira
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 RTrom
io
13.616,00
betas - 13.616,00
R io Japurá R io Santarém
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240
N ham undá 2.042,4 0 - 2.042,4 0
P eru H idrovia do
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45Am azonas - 808,45
B elém
4 S erviço M issionário d o A ma zona s H idrovia do
Solim ões
30 - 510,60 510,60
O ceano
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa
P acífico Manaus 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
87

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II H idrovia do M adeira


200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
R odovia Santarém - C uiabá
8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 P orto
Liga Fem inina do E stado do Am azonas Velho
- LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 C uiabá 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE

S ud e ste
S ul
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

III – o Rio Nhamundá (Foz no Amazonas–Confluência com o rio Piracutu, 155


km), que liga a cidade de mesmo nome à Hidrovia do Amazonas;

IV – o rio Trombetas (Foz no Amazonas–Cahoeira Porteira, 260 km), que acessa o


Pólo de Oriximiná;

V – o rio Jari (Foz-Cachoeira de Santo Antônio, 150 km), limítrofe entre os esta-
dos do Pará e Amapá.

A rodovia Santarém–Cuiabá (BR-163), que está atualmente sendo asfaltada, será


via de inserção importante da porção central da Amazônia Setentrional no Centro-Oeste e
Sudeste do país.

Os quatro primeiros Eixos principais foram propostos, em 1994, pelo Governo do


Amazonas, no documento Plano estratégico de desenvolvimento do Amazonas,
Planamazonas. As Hidrovias do Amazonas e do Madeira, bem como as Rodovias Manaus–
Boa Vista e Macapá–Oiapoque integram os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvi-
mento (conformando os Eixos Madeira–Amazonas e o Arco Norte, respectivamente), ten-
do-lhes sido destinados recursos nos programas Brasil em Ação e Avança Brasil, à conta
dos Orçamentos Plurianuais da União.

Será necessário obter financiamentos para melhorias na navegabilidade da Hidrovia


do Solimões, bem como nos cinco Eixos secundários, todos vias fluviais navegáveis (al-
gumas delas, como a do Rio Negro, necessitando de operações eficientes de transbordo
rodoviário para vencer trechos encachoeirados, além de outras obras de menor porte).
Como será também preciso tornar mais eficientes e confiáveis os serviços de transporte
na região, sobretudo o fluvial, buscando-se inclusive reduzir o tempo e o custo das distân-
cias, se possível mediante a adoção de meios de transporte mais rápidos e que não causem
danos à fauna aquática.

Essa rede básica de transportes, dominantemente fluvial, deverá ser complementada


e reforçada:

I – mediante melhorias na trama rodoviária já existente: em torno de Manaus


(interligação com Itacoatiara, por exemplo), em Roraima (BR-401, ligando Boa Vista à
fronteira com a Guiana), no Pará (PA-254–BR-163, conectando Oriximiná e Óbidos a
Alenquer e Santarém, com travessia do rio Amazonas para alcançar essa última cidade);

FGV/ISAE
88
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

II – mediante melhorias na rede de aeroportos regional, bem como na infra-estrutu-


ra portuária dos principais centros urbanos com acesso aos cursos d’água navegáveis;

III – pelo desenvolvimento das comunicações (telefonia fixa e móvel interurbana,


principalmente);

IV – pela ampliação da oferta de energia elétrica para consumo residencial e uso


produtivo no agribusiness, na mineração, na indústria, no turismo, comércio e outros ser-
viços;

No que respeita à energia elétrica, cabe observar que essa restrição ao desenvolvi-
mento norte-amazônico pode ser superada mediante a revisão, já em curso, da matriz
energética regional, o que envolve reorientação das fontes de geração de energia. No caso
da energia de origem hidráulica, não convindo, por constrangimentos de ordem ambiental,
novos grandes projetos, cabe utilizar plenamente o potencial de geração da Usina Hidrelé-
trica de Cachoeira Porteira (700 MW) e explorar a produção de energia gerada por peque-
nas unidades hidrelétricas, com sistemas de distribuição isolados, beneficiando um ou
mais municípios. O gás natural de Urucu (rio Tefé), conduzido por duto até Coari e ali
liquefeito, poderá ser utilizado em novas unidades termelétricas em Manaus e nas maiores
cidades da região, pela indústria e por veículos automotores. Outras fontes energéticas
alternativas são: (1) a importação de energia da usina hidrelétrica de Guri, Venezuela (15
mil MW), não apenas para Boa Vista, mas mediante linha de transmissão que, interligan-
do aquela usina à de Balbina, permita sua utilização na Área Estratégica Manaus; e (2) o
aproveitamento da biomassa (a partir de culturas perenes, complementadas por extrativismo
racional e não-predatório) para a produção de metanol, álcool, óleos vegetais, tortas, ba-
gaços e cascas, combustíveis substitutos da gasolina e dos óleos diesel e combustível.

REDE URBANA PROSPECTIVA

Os Eixos de Integração e Inserção acima apresentados não só estruturam e inte-


gram as sete Áreas Estratégicas propostas para a Amazônia Setentrional como interligam
os Pólos urbanos selecionados em cada uma delas, pontos nodais do subsistema urbano
regional.

Essa interligação apenas de transporte superficial deve ser complementada seja por
serviços privados (empresas de porte médio) de transporte aéreo interurbano que enseje o

FGV/ISAE
89
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

rápido e regular deslocamento de passageiros e cargas mais nobres – quase sempre envol-
vendo grandes distâncias –, seja por serviços, igualmente privados e eficientes, de comu-
nicações interurbanas. Dotar a região desses serviços, reduzindo o hiato competitivo exis-
tente entre ela e o restante do país, deve ser o objetivo principal de estratégia para as
cidades, considerada sua vertente interurbana.

Na dimensão intra-urbana, impõe-se a melhoria dos serviços de energia elétrica, de


água e saneamento, das vias urbanas, da coleta de lixo e dos demais serviços sociais urba-
nos (saúde e educação, principalmente), bem como o ordenamento da expansão urbana e a
modernização da gestão municipal das finanças, dos serviços locais e da promoção do
desenvolvimento.

Dois Pólos, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga–Benjamim Constant, localiza-


dos na Faixa de Fronteira e cabeças das Áreas Estratégicas Rio Negro e Japurá–Solimões,
centros urbanos de dimensões modestas e pouco dinâmicos, merecem, a esse propósito,
prioridade. Eles são hoje cidades de quarto nível na hierarquia do subsistema urbano regi-
onal, devendo caminhar rapidamente para o terceiro nível, pelo menos (o caso do Pólo
Itacoatiara–Parintins, no Médio Amazonas, por exemplo). Para que se viabilize o reforço
de sua base econômica, é preciso dotá-los de todos esses serviços (e das infra-estruturas
que lhes correspondem), assegurados custos competitivos.

Além desses Pólos estratégicos, considerados nós do subsistema urbano da Ama-


zônia Setentrional, uma política urbana para a região deve ainda considerar prioritários
alguns Núcleos de Fronteira que possam ir estruturando e organizando sua ocupação, res-
peitados os constrangimentos ambientais e decorrentes da necessidade de proteção às ter-
ras e comunidades indígenas. Entre eles, cabe referir:

I – Visconde do Rio Branco, localizado às margens do rio Içá, município de Santo


Antônio do Içá, e Vila Bittencourt, localizado às margens do rio Japurá, município de
mesmo nome, ambos na fronteira com a Colômbia e referidos ao Pólo Tabatinga–Benjamim
Constant;

II – Iauretê, no rio Uapés, Vista Alegre, no rio Içana, e Cucuí, no rio Negro, todos
eles localizados no município de São Gabriel da Cachoeira e referidos a esse Pólo, os dois
primeiros na fronteira com a Colômbia e o último, com a Venezuela;

III – Paracaíma, na fronteira com a Venezuela, Uiramutá, Normandia e Bonfim, na

FGV/ISAE
90
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

fronteira com a Guiana, referidos ao Pólo de Boa Vista;

IV – Oiapoque, no Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa, referido ao Pólo de


Macapá.

O Mapa 15 apresenta o sistema urbano da Amazônia em visão prospectiva (para o


ano 2010). Nele ganham mais relevo os dois pólos mais ocidentais da Faixa de Fronteira
(São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga–Benjamim Constant), bem como os Núcleos de
Fronteira acima mencionados, cuja base econômica e infra-estrutura urbana e interurbana
devem ser fortalecidas – de forma consistente com a estratégia de ocupação pontual pro-
posta neste documento.

RECURSOS HUMANOS

A despeito dos progressos obtidos nas últimas décadas, ainda é baixo o nível de
desenvolvimento humano alcançado pela Amazônia Setentrional.

Já se observou que, embora seu Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, de 0,669


(1991), esteja próximo do brasileiro (equivale a 94% dele, que foi de 0,742 nesse mesmo
ano), reduz-se para 0,586 (79% do nacional), quando excluído o município de Manaus. E
note-se que, entre 1970 e 1991, o IDH da região, com Manaus ou sem Manaus, cresceu
menos que o brasileiro (156% e 159%, respectivamente, comparados com 161%).

FGV/ISAE
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M A PA 1 5

SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL


ATENDIM ENTO VALO R
ORDEM ENTIDADE M ETA
4:00hs 8:00hs M ENSAL
1 ISM A - O bras S ociais de São josé O p erá rio do A leixo 1600 13.616,00 - 13.616,00
2 ISM A - Pró M enor D om B osco 240 2.042,4 0 - 2.042,4 0
3 S ociedade Eu nice W eaver de M ana us 95 808,45 - 808,45
4 S erviço M issionário d o A ma zona s 30 - 510,60 510,60
5 U nião das M ães Espíritas M arília Barbosa 230 - 3.914,6 0 3.914,6 0
6 Inspe toria Laura Vicu nã 800 6.808,0 0 - 6.808,0 0
92

7 A ssociação dos M oradores da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0


8 C lube de M ães Isabel N ogueira 110 - 1.872,2 0 1.872,2 0
9 Liga Fem inina do E stado do Am azonas - LIFEA 30 255,30 -
60 - 1.021,2 0 1.267,5 0
10 A ssociação dos C om panheiro s e A m igos da C om pensa II 200 1.702,0 0 - 1.702,0 0
11 C entro de Form ação Vid a A legre 360 3.063,6 0 - 3.063,6 0
12 P olícia M ilitar do A m azonas 30 255,30 -
120 - 2.042,4 0 2.297,7 0
13 A ssoc. de O bras S ociais de S ão José de B elo H o rizon te 1114 9.480,1 4 -
266 - 4.527,3 2 14.007,46
14 S ecretaria M un icipal de A ssistência S ocial - S EM AS 895 15.232,90 15.232,90
TO TAL GERAL 6.380 68.845,41
FGV/ISAE
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

O que, porém os indicadores sociais revelam é que os dois maiores problemas soci-
ais da região são a qualidade de seus recursos humanos e a incidência de pobreza, ambos
intimamente associados aos níveis educacionais e de qualificação da população.

Eles se comparam desfavoravelmente aos brasileiros, sabidamente muitos baixos,


dado o nível de renda per capita alcançado pelo país.

Já se viu que, sem Manaus, a Amazônia Setentrional apresenta taxa de analfabetis-


mo elevada (de 27% da população de 15 anos e mais em 1991, comparada com 19,4% para
o país), e número médio de anos de estudo (considerada a população de 25 anos e mais) de
3,5, confrontado com 4,9 anos para o Brasil.

Outros indicadores educacionais, disponíveis apenas para a região Norte ou seus


estados, também são baixos. A taxa de distorção série–idade no ensino fundamental, por
exemplo, foi de 62% em 1997 (47% no Brasil), indicando mais repetências e matrículas
iniciais após a idade adequada naquela região; o percentual de docentes do ensino médio
com qualificação apenas média ou inferior, foi de 69% (47% no Brasil); e o de docentes no
meio rural com no máximo o primeiro grau completo, de 50% (31% no Brasil). Ademais,
avaliação da qualidade do ensino médio realizada em todo o país pelo Governo federal em
1995 revelou que, no Norte, as proficiências dos alunos em Matemática e Português são
significativamente inferiores (em cerca de 10%) às brasileiras, estas últimas já alarmante-
mente distantes dos padrões internacionais. E que os primeiros quatro anos do ensino
fundamental agregam mais conhecimento (13% mais) no país do que região. Avaliação do
ensino superior nacional, também de 1997, revela que no Norte apenas 2,9% dos cursos
são considerados ótimos (Brasil: 12%) e que 42,8% deles são considerados insuficientes
(Brasil: 29%). É bem provável que, sem Manaus, a Amazônia Setentrional exiba indica-
dores de menor qualidade do que os acima apresentados para o Norte.

Note-se finalmente que, embora os dados sobre pobreza crítica para a Amazônia
sejam muito precários, sabe-se que, no meio urbano, as incidências de pobres, em 1997,
foram de 43% na região Norte, 47% no estado do Pará, 41% no estado do Amapá, 40% no
Amazonas, 36% na região metropolitana de Belém e 21% em Roraima. Essas incidências
são quase sempre muito mais elevadas do que as do Brasil metropolitano (21%) e urbano
(19%) e, na maioria dos casos, superiores às do Nordeste (Nordeste metropolitano: 30%,
Nordeste urbano: 31%).

FGV/ISAE
93
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO

Na formação de recursos humanos da Amazônia Setentrional, o objetivo de longo


prazo deve ser a universalização da educação média (primeiro e segundo graus), acompa-
nhada de qualificação para o trabalho.

Para alcançá-lo, cabe, a curto e médio prazos, elevar a qualidade do ensino funda-
mental (primeiro grau) e universalizá-lo, criando condições objetivas para a aquisição das
competências a partir das quais se torne possível desenvolver habilidades técnico-profis-
sionais mínimas.

Este último objetivo na verdade transcende a escola, tal como ela está instituída.

De uma parte, porque a grande maioria das famílias – sobretudo aquelas cujos pais
têm baixo nível educacional e as mais pobres – não dispõe dos meios para exercer, em sua
plenitude, o papel de socialização dos filhos, que se transfere para a escola. E porque a
sociedade regional como um todo incorporou, de modo incompleto, desigual e
desestruturado, os chamados valores da modernidade, seja na organização do trabalho,
seja na vida cotidiana.

De outra parte, porque as expectativas sociais com relação ao ensino e aprendizado


se frustram ante os pobres resultados do processo educativo, decorrentes, em grande me-
dida, de ineficiências da própria escola. E porque, no sistema dual adotado no país, a
escola, que provê a educação geral, de primeiro ou segundo graus, está quase totalmente
dissociada das entidades incumbidas da qualificação: umas poucas escolas técnicas, o
Senai, o Senac e assemelhados, o Sebrae, serviços de extensão rural e muitíssimos cursos
avulsos, a maioria deles com fins meramente comerciais – sem deixar de mencionar a
qualificação obtida no trabalho (on the job training), nas empresas, no campo.

Não se trata, portanto, de continuar a reproduzir a escola que se tem hoje. Nem de
dotá-la de mais recursos financeiros, obtendo, com eles, melhorias apenas marginais, além
de lentas, nas qualidades do ensino e do produto educacional.

Trata-se de aproximar a educação geral do mundo do trabalho, rompendo a


dissociação entre a escola e a oficina, a empresa, em geral as tarefas da produção – sem,
com isso descaracterizá-la ou pretender unificar institucionalmente educação básica e
qualificação.

FGV/ISAE
94
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Ressalte-se que o paradigma técnico e gerencial compatível a economia moderna,


aberta e competitiva não pode prescindir de educação geral de bom nível. Esta é a missão
precípua da escola – mas de uma nova escola.

Essa nova escola deve propiciar, no primeiro grau, formação que assegure rápido
desenvolvimento cognitivo, racionalidade instrumental, autonomia individual balizada
pelos valores da coesão social, capacidade de empreendimento e inovação. Deve estar
dotada dos requisitos básicos da oferta educacional: instalações, equipamentos, material
didático, capacidade docente. Deve ser gerida eficientemente, de forma descentralizada,
com a participação da comunidade. Deve adotar processo contínuo de atualização peda-
gógica e curricular, avaliar permanentemente resultados, estimular o melhor desempenho
e a sadia emulação entre professores e entre alunos.

No segundo grau, a nova escola deve inovar curricularmente, enveredando, sem


prejuízo de seus conteúdos básicos, gerais, pela educação aplicada, específica, de nature-
za técnico-gerencial, compreendida como o processo pelo qual o conhecimento é
referenciado ao trabalho (qualquer trabalho, sendo portanto de uso polivalente). São mé-
todos e técnicas: de organização, racionalização de decisões e procedimentos, planeja-
mento e gestão eficazes; e são linguagens: os chamados códigos da modernidade (comu-
nicação oral, escrita e numérica; lógica; informática).

Nessa nova escola, o jovem educando, concluída sua educação básica, estará
instrumentalizado seja para continuar sua formação nas universidades, seja para adquirir
no sistema de qualificação, mais eficaz e rapidamente, o treinamento profissionalizante
complementar de nível médio que escolher. Ele terá, sobretudo, a capacidade de auto-
aprendizado; as habilidades para inserir-se em organizações produtivas complexas que
exijam dele decisão, iniciativa, organização, interação criativa, inovação; e a autonomia
para conduzir-se com responsabilidade na vida em sociedade.

Em curto prazo, o esforço para superar o hiato educacional das atuais gerações
deve ter como público-alvo a população subeducada mais jovem (entre 14 e 35 anos) e
orientar-se pragmaticamente pelas demandas do mercado de trabalho.

O conteúdo dessa tarefa deve associar, com flexibilidade, a suplementação da edu-


cação geral minimamente necessária com qualificação profissional específica, mas que
permita avanços posteriores nos níveis de especialização.

FGV/ISAE
95
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Ela pressupõe arranjo institucional novo, concebido na forma de compactos paco-


tes educacionais com finalidades profissionalizantes, empregando técnicas multimídia,
monitorados por instrutores adredemente treinados e tendo em vista postos de trabalho
potenciais, previamente identificados.

Manaus, Belém dispõem de instituições capazes de elaborar esses pacotes e treinar


o pessoal para aplicá-los: universidades, centros de tecnologia, o Senai-Senac, o Sebrae,
as próprias empresas potencialmente interessadas.

REDUÇÃO DA POBREZA

O combate à pobreza deve procurar viabilizar, através de intervenção governamen-


tal, inserção dos pobres no trabalho que lhes capacite a superar os níveis de subrenda
familiar e a situação de exclusão econômica e social em que eles se encontram.

Para tanto, faz-se mister considerar a pobreza no contexto da sociedade envolvente,


procurando compreendê-la a partir das variáveis que determinam a expansão da renda e da
riqueza e sua distribuição entre pobres e não pobres.

Essas variáveis são o crescimento econômico, o capital humano e o trabalho.

Pelo crescimento, gera-se renda e se acumula riqueza, que são apropriadas social-
mente. Ampliar a destinação aos pobres de parcela crescente do fluxo de renda regional
anualmente gerada e do estoque de riqueza por ela acumulada é estratégia de combate à
pobreza que altera na margem a distribuição dos resultados do crescimento. Ou seja, é
menos radical e mais factível politicamente porque não intenta redistribuir a riqueza ante-
riormente formada.

Esse caminho é também potencialmente eficaz. Basta observar que expansão da


renda familiar per capita total (de pobres e não pobres) do Norte urbano de apenas 5% que
fosse hipoteticamente toda apropriada pelos pobres seria suficiente para elevar sua renda
média acima da linha regional de pobreza.

Isto não é certamente viável, entre outros motivos porque há relações de dependên-
cia funcional e complementaridade econômica entre pobres e não pobres, com amplos
efeitos na determinação da renda dos primeiros pela dos segundos. Porém uma maior
participação dos pobres nos resultados do crescimento é estratégia que se deve eleger por

FGV/ISAE
96
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

ser possível e de reconhecida eficácia.

Por outro lado, dada a alta incidência da pobreza regional, qualquer estratégia eco-
nômica deve ter, como um de seus componentes essenciais, a incorporação dos pobres à
produção e ao consumo, que é condição de viabilidade de crescimento que pretenda, ao
menos em parte, apoiar-se na expansão do mercado interno.

A gradativa inclusão dos pobres na economia regional, porém, depende crucialmente


da capacitação dos recursos humanos e da criação de oportunidades de sua efetiva utiliza-
ção produtiva.

Capacitar os pobres a maior participação no produto da região equivale a elevar


seus níveis de educação geral e de qualificação para o trabalho, de modo a habilitá-los a
inserção na economia que assegure renda suficiente à satisfação das necessidades básicas.

Por essa razão, os pacotes educacionais propostos acima devem dirigir-se com pri-
oridade para a força de trabalho pobre – com o objetivo de formá-la para a vida em socie-
dade crescentemente complexa e para o trabalho mais produtivo em atividades tão diver-
sas como o extrativismo combinado à pequena agricultura de base familiar, o artesanato,
a prestação de serviços urbanos menos exigentes em conhecimento mais especializado.
Treinamento esse que pode ser remunerado por bolsas oferecidas pelos poderes públicos.

O trabalho, em sentido amplo (isto é, não apenas o emprego, compreendido como


relação contratual de trabalho), deve operacionalizar o enlace entre a qualificação e seu
uso produtivo, de que deverá resultar, para o pobre, elevação de renda e mais bem-estar.

As precondições necessárias desse encaixe são, de um lado, a capacidade da econo-


mia de gerar suficientes oportunidades de inserção produtiva. De outro, atuação governa-
mental, através de agenciamento no mercado de emprego ou do estímulo às atividades por
conta própria, individuais ou consorciadas, a qual deve viabilizar a apropriação dessas
oportunidades de trabalho e renda pelos pobres. Inclusive mediante o aumento do número
de pessoas da família com atividades remuneradas.

Nas cidades, os investimentos públicos em infra-estrutura urbana (saneamento, dre-


nagem, sistema viário e outros) e o turismo constituem, nesse contexto, opções relevan-
tes.

No meio rural e menores núcleos urbanos, deve-se procurar reduzir o grau de de-
pendência das famílias pobres do extrativismo tradicional, seja transformando-o em ativi-

FGV/ISAE
97
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

dade economicamente mais sustentável, seja através de programas de colonização e as-


sentamento em áreas destinadas à agricultura e à pecuária, executados, por exemplo, pelo
Incra. O acesso dessas famílias a terras agricultáveis e de dimensões adequadas (seja me-
diante sua aquisição, seja mediante arrendamento de longo prazo); à eletrificação; ao cré-
dito; à assistência técnica e a formas não espoliativas de comercialização é muito impor-
tante como forma de elevar a renda por elas retida.

Em síntese, portanto, considera-se:

I – que a opção básica da ação pública voltada para a redução da pobreza é a pro-
moção dos pobres a sujeitos de sua própria ascensão social;

II – que essa opção deve materializar-se na capacitação dos pobres a inserção eco-
nômica minimamente capaz de superar a subrenda e em sua integração na sociedade
envolvente como beneficiários de serviços públicos de qualidade e das redes de proteção
social e segurança individual e coletiva.

Com esses objetivos, cabem ações gerais de governo (em todos os níveis: federal,
estadual, municipal) focalizadas nos pobres, atentas essencialmente para a educação e
qualificação e para a inserção produtiva, que estão intimamente associadas entre si. E
cabem ações específicas, direcionadas a públicos-alvo delimitados e diferenciados, ou
seja, a subconjuntos da população pobre, tais como:

I – o treinamento remunerado (isto é, realizado concomitantemente a suplementação


de renda, através de bolsas), visando a prover, aos adolescentes e adultos jovens pobres, a
complementação educacional e a qualificação necessárias a adequada profissionalização,
de modo a ampliar o campo de suas possibilidades de inserção econômica;

II – a criação de ocupações mediante iniciativas produtivas geradores de trabalho


de menor de menor qualificação (não apenas empregos, mas atividades por conta própria,
inclusive informais e domésticas, desde que remuneradas), intimamente associada às ações
voltadas para a capacitação, de modo a ensejar a inserção produtiva dos beneficiados pelo
esforço concentrado de suplementação educacional e qualificação;

III – programas de bolsa-escola, já amplamente conhecidos, que visam a assegurar


a permanência, em escola de qualidade (até a conclusão do ensino fundamental), de crian-
ças de 7 a 14 anos, constituindo-se também uma forma de suplementação da renda famili-
ar.

FGV/ISAE
98
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O domínio e a aplicação da ciência e da tecnologia na economia e na sociedade,


determinando processo permanente de inovação técnico-gerencial, é hoje um dos requisi-
tos mais importantes de qualquer estratégia de desenvolvimento, nacional ou regional.

Na primeira década deste século XXI, a Amazônia Setentrional deve criar, sob a
forma de sistema regional de ciência e tecnologia, as condições suficientes para viabilizar,
de forma sustentada, esse objetivo: através das universidades e outros institutos de ensino
e pesquisa, existentes principalmente nos macropolos urbanos de Manaus e Belém, em
articulação com centros mais avançados de investigação científico-tecnológica, brasilei-
ros e estrangeiros.

Três fatores favorecem essa iniciativa e seu desenvolvimento: o fato de Manaus e


Belém já disporem de certa massa crítica em áreas avançadas do conhecimento; o interes-
se nacional e mundial pela Amazônia, em especial com relação à imensa diversidade de
seu patrimônio biótico; e a capacidade, atual e potencial, de entidades de promoção do
desenvolvimento regional, como a Superintendência da Zona Franca de Manaus, Suframa,
e a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, Sudam, de coordenarem esforço
conjunto, de entidades públicas e privadas, com vistas a consolidar, na região, importante
base de conhecimento científico-tecnológico.

Essa base de conhecimento deve preponderantemente:

I – aprofundar o inventário científico dos recursos naturais e do patrimônio cultural


indígena, pré-investimento que se reveste não só de grande importância como é requisito
essencial a processo racional e construtivo de desenvolvimento;

II – ampliar o esforço de pesquisa da biodiversidade e das ocorrências minerais da


região, que importam tanto ao avanço da ciência quanto à identificação de oportunidades
produtivas referidas à dotação dos recursos norte-amazônicos;

III – promover estudos e pesquisas em biotecnologia e minerotecnologia, orienta-


dos para atividades produtivas envolvendo, no primeiro caso, o extrativismo, a silvicultu-
ra, a piscicultura, o agribusiness (inclusive as bioindústrias), a indústria de transforma-
ção, a saúde humana, animal e vegetal e a própria conservação ambiental; e no caso da
minerotecnologia, os novos materiais, metálicos ou não metálicos;

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99
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

IV – utilizar as modernas tecnologias da informação (a televisão e outros recursos


audiovisuais, bem como a informática-telemática) na educação e qualificação da força de
trabalho, na saúde, no combate à pobreza, complementados por mecanismos eficientes de
coordenação, acompanhamento e avaliação de resultados;

V – desenvolver o conhecimento e a aplicação na economia e em geral na socieda-


de das novas técnicas de gestão, pública e privada – entre elas o planejamento estratégico
com visões de curto médio e longo prazos –, bem como a capacidade de empreendimento
e inovação, ferramentas básicas para que os investimentos em capital material e humano e
o próprio esforço de preservação e conservação ambiental logrem os resultados deseja-
dos.

Uma área, dentre as citadas, merece tratamento especial, em nível de elevada prio-
ridade: a utilização da biotecnologia como meio para a expansão, em bases competitivas,
de atividades produtivas referidas à dotação regional de recursos naturais. Esse emprego
produtivo tem grandes potencialidades, de que são exemplos:

I – na silvicultura, o manejo e adensamento florestal, a extração e refino de óleos,


essências e aromáticos empregados como alimento, fonte de energia, bem como nas in-
dústrias farmacêutica, de cosméticos e perfumes; e o beneficiamento de madeiras secun-
dárias e preservação das biodeterioráveis;

II – na extração animal e pecuária, a ampliação controlada da pesca e caça; a cria-


ção de mamíferos, quelônios e jacarés; o cultivo de peixes ainda não introduzidos na pis-
cicultura; o aproveitamento do potencial lipídico dos fígados e outros tecidos residuais de
peixes;

III – no agribusiness, o cultivo e industrialização de frutas tropicais e peixes regi-


onais; a produção de cultivares de maior resistência fitossintética ou pouco propensos a
enfermidades; o desenvolvimento de fertilizantes alternativos;

IV – na saúde humana, animal e vegetal, a produção de extratos e substâncias ati-


vas, de efeitos terapêuticos, provenientes da flora e fauna amazônicas; o desenvolvimento
de fitomedicamentos, inseticidas naturais, antibióticos, aminoácidos, enzimas, proteínas,
vitaminas;

V – na preservação e conservação do meio ambiente, a biointervenção em solos; a

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

biorreciclagem de lixo e resíduos agroindustriais; o emprego de bioindicadores no contro-


le da poluição.

Todo isso depende crucialmente do desenvolvimento e integração, na Amazônia


como um todo, de sua base científico-tecnológica, e do reforço dos elos de integração com
as matrizes nacional e internacional geradoras de conhecimento. E depende também, para
a transformação do conhecimento acumulado em inovações produtivas e organizacionais,
de eficaz interação entre essa base e os agentes econômicos, sociais e políticos. Daí a
necessidade de uma coordenação, em nível regional, dessa base de conhecimento,
estruturada em sistema de grande efetividade gerencial e capaz de inserir-se de forma
criativa e eficaz no processo do desenvolvimento norte-amazônico.

MEIO AMBIENTE

Uma estratégia de crescimento e desenvolvimento sustentáveis para a Amazônia


Setentrional – considerada como região que deve permanecer, no horizonte de tempo
antevisto neste documento, uma área de reserva, sem prejuízo de vivenciar processo dinâ-
mico de crescimento e melhoria dos níveis de vida e bem-estar de sua população – deve
assentar-se nos seguintes pressupostos:

I – na distinção, que é de grau, entre áreas preservadas, aquelas onde devem ser
vedadas novas ocupações e utilizações produtivas de seus recursos de terra, flora e fauna
(parques nacionais e outras áreas legalmente protegidas), e áreas conservadas, aquelas
onde o processo de ocupação demográfica e econômica deve manter-se compatível à re-
novação sustentável dos recursos naturais;

II – no controle das pressões antrópicas exercidas sobre os espaços, de preferência


descontínuos, onde exista ou venha a ocorrer, mais intenso povoamento e expansão con-
centrada de atividades produtivas;

III – em concepção e execução de ordenamento territorial de toda a Amazônia Se-


tentrional.

Em decorrência desses pressupostos, é mais que necessário dispor, para a região


como um todo e, com mais detalhe, para cada Área Estratégica, de um zoneamento ecoló-
gico que mapeie as áreas de preservação, identifique os espaços onde já existem pressões
antrópicas, escalonando-as por seus graus de intensidade, bem como aquelas áreas que,

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101
SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

em decorrência da estratégia proposta, devem ter sua ocupação intensificada ou ampliada,


mensurando-se seus possíveis impactos.

O zoneamento ecológico aqui proposto difere daquele concebido no passado, de-


masiadamente complexo, exigindo levantamentos minuciosos e envolvendo altos custos.
Ele deve tomar como base os dados e informações já disponíveis, sendo concebido como
um processo contínuo de produção e análise de informações, em constante ampliação e
aperfeiçoamento. Ou seja, é uma atividade permanente, que orienta decisões e se auto-
alimenta pelos resultados delas decorrentes. Assim corrigindo rumos, submetendo ao cri-
vo de análises de impacto ambiental (também menos complicadas e menos custosas, em
tempo e recursos), fatos e tendências emergentes.

Em síntese, o zoneamento ecológico é uma ferramenta do processo de planejamen-


to estratégico. Ele incorpora, como uma de suas etapas, a própria execução. É, portanto,
atividade permanentemente realimentada pelo próprio evoluir da realidade sobre a qual se
deve exercer, também em permanência, o pensar e o agir estratégicos.

É evidente que, assim concebida, estratégia de preservação e conservação ambiental


não pode prescindir de mecanismos eficientes de acompanhamento e monitoração, bem
como de ação de polícia eficaz e meios efetivos de cominação de penas. Um sistema de
órgãos e entidades de meio ambiente, federais, estaduais, municipais e comunitárias, atu-
ando com fundamento em rede informacional em contínua atualização, pode ser o modelo
institucional adequado a essa tarefa – modelo que na verdade já existe ou está previsto,
necessitando apenas ampliação e de ajustes programáticos e operacionais.

O projeto Sipam-Sivam (Sistema de Proteção da Amazônia e Sistema de Vigilân-


cia da Amazônia), em implantação na região, será certamente instrumento importante de
vigilância também ambiental. Outros meios disponíveis de produção tempestiva de infor-
mações sobre os a evolução dos vários processos antrópicos (imagens orbitais de
sensoriamento remoto, por exemplo) continuam tendo grande utilidade.

Com sua atuante presença em toda a região, o Programa Calha Norte já vem desen-
volvendo atuação importante para o objetivo de preservação-conservação ecoambiental
da Amazônia Setentrional. O PCN poderá desenvolver atuação complementar ao Sivam,
tanto na coleta de informações quanto na disseminação do conhecimento produzido pelo
Sistema.

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

O avanço do conhecimento (da ciência e da tecnologia, difundidos e aplicados na


região), bem como consciência ecológica compartilhada por toda a sociedade, a par de
grande esforço de educação ambiental, são instrumentos igualmente importantes para o
constante aperfeiçoamento de processo de desenvolvimento norte-amazônico verdadei-
ramente sustentável.

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

CAPÍTULO 5 – Expansão e modernização produtiva

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Se a redução do hiato competitivo da Amazônia Setentrional com relação ao res-


tante do país irá facilitar a atração de investimentos para a região, a produtividade e renta-
bilidade deles dependem crucialmente de sua modernização, em especial da absorção dos
novos paradigmas tecnológico e gerencial.

Nas últimas décadas, o boom econômico regional, com seu ápice na década de
1970, foi impulsionado essencialmente pela indústria incentivada da Zona Franca de
Manaus, principalmente a eletroeletrônica de consumo, voltada para o mercado interno
nacional, então protegido por barreiras às importações. Foi grande sua relevância para o
crescimento e o desenvolvimento da Amazônia Ocidental, importante sua contribuição
para a formação de recursos humanos, o estímulo à capacidade de empreendimento, a
expansão do comércio, em suma, o processo de modernização. Essas atividades, porém,
relacionam-se pobremente com a base de recursos naturais da região. E as chamadas in-
dústrias tradicionais, voltadas para a essa base de recursos, cresceram em geral menos
nesses anos – e foi mais lento, a partir da abertura econômica de 1990, seu processo de
transformação produtiva.

De outra parte, há hoje pouca dúvida de que o futuro produtivo da Amazônia é a


utilização de suas potencialidades de solo, flora e fauna. De nenhum modo, porém, uma
utilização predatória, degradadora do meio ambiente. O tempo do uso extensivo dos re-
cursos naturais, o da segunda fase da Revolução Industrial, viveu seus últimos momentos
nos anos 1970, quando se implantaram no Brasil e na Amazônia grandes complexos
minerometalúrgicos, energéticos, florestais, agropecuários, causadores de cicatrizes na
floresta e na paisagem. Isto ocorreu em muito maior escala, é certo, na Amazônia Meridi-
onal, com a Amazônia do Norte tendo sido apenas marginalmente afetada em seu patrimônio
natural, a fonte e a reserva de seu desenvolvimento. O terceiro estágio da Revolução In-

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

dustrial, que vivenciamos desde fins dos anos 1980, não mais impõe pressões desordenadas
e maciças sobre a Amazônia. Pressões que a emergência, no país e em escala global, de
forte consciência ecológica não vai mais permitir. A utilização de seus recursos poderá e
deverá, pois, ser racional e seletiva.

Já se referiu que a trajetória de desenvolvimento que se propõe neste documento


para a Amazônia Setentrional deve ter essas características. Ela deve, ademais, ser bifronte:
harmonizando, no tempo, a fronteira dos recursos e a fronteira do conhecimento.

Desse encontro, pode gerar-se novo padrão de expansão e transformação produti-


vas que, pondo a ciência e a técnica a serviço do ecodesenvolvimento, altere os modos de
ocupação do espaço regional ao incorporar a necessidade de sua conservação e reprodu-
ção sustentadas. Que comande uma forma mais intensiva e descontínua de uso do territó-
rio, dando mais valor à diversidade e à qualidade do que à homogeneidade e à quantidade.

Nesse contexto, é imperioso reexaminar criticamente a experiência passada, de for-


ma a evitar equívocos históricos e valorizar a ciência disponível para desenhar novos
caminhos de expansão, diversificação e desconcentração concentrada das atividades eco-
nômicas: em áreas onde a região revele claras vantagens competitivas, tais como no
extrativismo, no agribusiness, na mineração, na própria indústria de transformação, no
turismo, nos outros serviços.

EXTRATIVISMO E AGROPECUÁRIA

O extrativismo tradicional, em sua forma mais amena, a de coleta, pode ter sua
sustentabilidade agronômica e ecológica. Sua sustentação econômico-social de longo pra-
zo, no entanto, é muito precária, seja por ser lento o processo de reprodução natural de que
ele depende, seja pela produtividade decrescente da mão-de-obra, associada quer à exten-
são crescente das áreas de extração, cada vez mais distantes ou rarefeitas, quer à repetição
rotineira dos métodos e meios de trabalho. Ademais, ele não resiste a expansão rápida,
homogênea e compacta da fronteira agropecuária, onde a terra, e não a floresta, é o fator
de produção certa ou erradamente cobiçado.

Não é à toa, portanto, que o extrativismo tradicional vem perdendo sua importância
na Amazônia Setentrional, ou está determinando situações de virtual estagnação econô-
mica e lento progresso social.

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Impõe-se, assim, sua reestruturação, tirando-se proveito tanto de experiências


exitosas em curso na própria região, quanto da própria evolução histórica, multimilenar,
do relacionamento do homem com a natureza.

Para propor as bases dessa reestruturação, cabe primeiro considerar o extrativismo


predatório (casos da madeira, palmito, pau-rosa, pesca, caça). Nele, se o ritmo da extração
for maior do que o da regeneração biótica natural, caminha-se, cedo ou tarde, para o ani-
quilamento da espécie. Trata-se portanto de controlar dois fluxos, definidos os limites
mínimos de preservação dos estoques conhecidos, além de manter intocadas as áreas de
preservação (parques, reservas). As técnicas, os métodos para tanto são sobejamente co-
nhecidos e estão disponíveis (abate apenas dos espécimes vegetais adultos, espaçamento,
tempos próprios de caça e pesca, e muitos outros), sendo entretanto difícil sua
implementação e controle. Mas há outra alternativa, que deve ser logo buscada: a combi-
nação da extração e do cultivo, agroflorestal ou agropecuário: seja em suas formas combi-
nadas (o adensamento de espécies vegetais plantadas na floresta, ou o repovoamento de
áreas excessivamente exploradas), seja em suas formas puras: a migração do extrativismo
para o cultivo, que já ocorre nos casos do pau-rosa, da piscicultura.

No extrativismo de coleta (látex da seringueira, castanha-do-pará), ou na forma


mista (de coleta e aniquilamento: caso do açaí, de que se colhe o fruto e se extrai o palmi-
to, com o sacrifício do vegetal), cabe promover extração racional, pois também há práti-
cas desnecessariamente predatórias em uso. Mas a grande procura de alguns produtos,
aliada à busca de melhor produtividade, recomendam o cultivo: casos do guaraná, hoje
praticado em larga escala, e do cupuaçu, castanha-do-pará, açaí, além de outros.

Nos dois casos o objetivo de sustentação econômico-social impõe sistemas extrativo-


produtivos consorciados: extrativismo e cultivo, ambos envolvendo espécies de ciclos
produtivos diferentes. Ou seja, poliextrativismos e policulturas: açaí, bananeira e serin-
gueira, por exemplo; ou castanha-do-pará, cupuaçu e pupunha; e muitos outros. Existe
vasta literatura a respeito, repetidos e abundantes experimentos. O que vem avançando
mais lentamente é seu emprego produtivo.

Os arranjos organizacionais para sua utilização em maior escala podem envolver


micro e pequenas empresas, cooperativadas para a comercialização em escalas condizen-
tes a mercados mais amplos, como os nacional e mundial, ou com o objetivo de forneci-
mento de matérias-primas para beneficiamento industrial na região.

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Na Amazônia Setentrional, a geografia, atual ou potencial, do extrativismo está


disseminada por todas as Áreas Estratégicas. São mais importantes: no Rio Negro, o açaí,
o dendê, a pupunha e a pesca; em Japurá–Solimões, o açaí, a madeira e a pesca; em Manaus,
o açaí, a fruticultura e a pesca; em Itacoatiara–Parintins, a madeira, o guaraná e a pesca;
em Trombetas, a castanha-do-pará, a madeira e a pesca; no Amapá, a pesca, o açaí e a
castanha-do-pará; e em Roraima, a madeira.

Essa mera exemplificação já sugere, como possível (além de necessária) a


consorciação, em níveis sub-regional e local.

AGRIBUSINESS

Em sentido amplo, a cadeia produtiva do agronegócio inclui o extrativismo e a


agricultura. Dada, porém, a importância das atividades extrativo-vegetais e animais na
Amazônia Setentrional, decidiu-se tratá-las à parte neste documento (junto com a
agropecuária que lhes é correlata e complementar) – excluindo-se delas, porém, tanto as
demais atividades agropecuárias quanto o processamento industrial em geral.

São vastíssimas as potencialidades do agribusiness regional.

Primeiro, no beneficiamento da própria produção extrativo-vegetal e animal: ma-


deiras (laminados, móveis), pescado (enlatados, fatiados, peixes secos, farinha de peixe,
entre outros), frutas (sucos, poupas, doces, sorvetes), óleos vegetais, essências, produtos
farmacêuticos e muito mais. Essas atividades são em princípio viáveis em todas as Áreas
Estratégicas, com vocações específicas indicadas na geografia do extrativismo norte-ama-
zônico, delineada acima.

Em segundo lugar, no beneficiamento de produtos da agropecuária: seja ela consi-


derada isoladamente, seja articulada ao extrativismo: o dendê, a pupunha (palmito) e a
piscicultura na Área Estratégica Rio Negro; a fruticultura, a mandioca, o dendê e a pisci-
cultura em Japurá–Solimões; as frutas, hortaliças, mandioca, guaraná, plantas medicinais
e cosméticas e a pecuária bovina em Manaus; as frutas cítricas, a mandioca e a carne
bovina em Itacoatiara–Parintins; o dendê, o guaraná e a pecuária em Trombetas; a soja, o
café, o arroz, a mandioca e a pecuária bovina em Roraima; a piscicultura de águas doce e
salgada, os crustáceos, o dendê e a pupunha no Amapá.

Cabe ainda referir a possibilidade de se implantar em Itacoatiara pólo de

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

beneficiamento de parcela da soja que, oriunda do Centro-Oeste, por lá transitar rumo aos
mercados externos, associado ao beneficiamento de grãos ou tubérculos (soja, arroz, man-
dioca), provenientes da própria Amazônia Setentrional.

Para viabilizar o agribusiness na região em escalas adequadas e com orientação


para os mercados nacional e global, há que adotar-se, em sua estruturação, o enfoque de
cadeias produtivas integradas, de elevadas eficiência e produtividade, envolvendo desde
os insumos necessários ao extrativismo, ao cultivo e ao criatório até a comercialização e o
financiamento, cabendo conceber projeto específico com esse objetivo e prover-lhe o apoio
técnico e as linhas especiais de crédito necessárias.

INDÚSTRIA EXTRATIVO-MINERAL

As ocorrências minerais de aproveitamento potencialmente mais relevante da Ama-


zônia Setentrional, considerado o horizonte da presente década, são o gás natural, o petró-
leo, o ferro-manganês, o estanho metálico e os minerais não metálicos (oleiro-cerâmicos,
principalmente).

As reservas de gás natural localizam-se às margens dos rios Urucu e Juruá, na


Amazônia Meridional, mas o escoamento da produção tem sua base na cidade de Coari,
Amazonas (Área Estratégica Japurá–Solimões), que recebe o produto proveniente de Urucu
por gasoduto. O gás natural deverá suprir as deficiências de fontes de energia elétrica de
Manaus, Itacoatiara, Parintins e, possivelmente, de outros Pólos identificados neste estu-
do (como Tabatinga–Benjamim Constant).

Em Coari poderá vir a localizar-se usina de processamento dos minérios de ferro e


manganês, existentes em importantes jazimentos no estado do Amazonas. Nesse mesmo
município estão sendo exploradas reservas de petróleo suficientes ao abastecimento de
toda a Amazônia, devendo o produto ser processado pela refinaria da Petrobrás localizada
em Manaus, o que abre possibilidades da criação, no futuro, de um pólo petroquímico
naquela cidade.

A mina de Pitinga, localizada no município de Presidente Figueiredo (a 265 km de


Manaus, pela BR-174), possui o maior depósito de cassiterita hoje existente no país, pro-
duzindo 10 mil toneladas de estanho contido por ano, que é assim exportado. A instalação
de usina para a produção do estanho metálico é investimento que se reveste de

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

economicidade, em especial se vier a utilizar energia proveniente do gás natural, de mais


baixo custo relativo.

As atividades oleiro-cerâmicas têm potencialidades de desenvolvimento nas Áreas


Estratégicas Rio Negro (para o abastecimento de Manaus, principalmente), Roraima e
Amapá (também para empregos locais). Deve-se procurar avançar em direção à produção
de novos materiais cerâmicos, de alta resistência.

Constrangimentos ambientais ou de étnico-culturais impedem ou limitam a explo-


ração do ouro e do diamante em Roraima e no norte do Estado do Amazonas (Área Estra-
tégica Rio Negro). É possível que, no futuro, esses jazimentos venham a ser explorados:
racionalmente, com o emprego de técnicas modernas, e mediante cuidadosos arranjos
institucionais que resguardem os interesses legítimos das populações indígenas e assegu-
rem a preservação ambiental.

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO

Os objetivos desta proposta estratégica, voltada essencialmente para servir de refe-


rência à atuação do Programa Calha Norte, exime-a de abordar a nova indústria incentiva-
da da Zona Franca de Manaus, embora se reconheça sua importância para o desenvolvi-
mento regional. Mas cabe certamente considerar segmento industrial de ponta, a
bioindústria, pelos elos que pode gerar com a rica base de recursos da flora e da fauna da
Amazônia Setentrional como um todo.

São importantes as perspectivas do emprego da biotecnologia, em especial dos avan-


ços da engenharia genética, nos complexos processos industriais que utilizam como maté-
rias-primas os recursos bióticos, em especial a biomassa. Importa, nesse campo, tanto
progredir no conhecimento da biodiversidade regional quanto procurar assegurar direitos
de propriedade sobre o uso de espécies naturais de elevado valor econômico. E também
evoluir no inventário das biotecnologias referidas à base de recursos identificada, bem
como em seu emprego no desenvolvimento de novos produtos, intensivos em conheci-
mento e com múltiplas aplicações: na agropecuária, no agribusiness, nas indústrias quí-
mica, farmacêutica e de cosméticos, na petroquímica, no controle do meio ambiente.

Para tornar realidade um pólo de bioindústrias na Amazônia Setentrional, localiza-


do, por exemplo, em Manaus, ou no eixo Manaus–Itacoatiara, é importante que o Centro

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

de Biotecnologia da Amazônia, CBA, em implantação pela Suframa, tenha condições de


ir preenchendo o hiato tecnológico existente entre a região e os centros nacionais e mun-
diais mais avançados em biotecnologias economicamente promissoras, o que envolve gran-
de capacitação científica e técnica. É também crucial que sejam estabelecidas parcerias
com os grandes grupos transnacionais que se encontram na fronteira do processo de gera-
ção e aplicação desses conhecimentos, com o objetivo de atraí-las para a região.

TURISMO E OUTROS SERVIÇOS

O turismo na Amazônia Setentrional concentra-se nas Áreas Estratégicas de Manaus


e Itacotiara–Parintins, que recebem anualmente cerca de 300 mil visitantes, atraídos prin-
cipalmente pelo turismo ecológico, em especial pelo fascínio da floresta e seu labirinto de
rios. Mas há boas possibilidades de expansão do ecoturismo nas Áreas Estratégicas do
Amapá, Roraima e Rio Negro.

Manaus, por seu porte urbano, facilidade de acesso aéreo e os atrativos naturais
circunvizinhos, é a Meca do ecoturismo norte-amazônico. O Teatro Amazonas (1896), o
Mercado Municipal (1883), a Alfândega (1912) são as atrações arquitetônicas da cidade,
tombadas pelo Patrimônio Histórico Nacional. O encontro das águas do rio Negro com as
do Solimões, os passeios à montante do rio Negro, com seus hotéis de selva, as caminha-
das na floresta são atrações ecológicas. Há projetos para instalar, em Manaus e proximi-
dades, o Complexo Turístico de Ponta Negra e o Parque Ecoturístico do Rio Negro.

Parintins, situada em grande ilha no meio do rio Amazonas, atrai, em junho, milha-
res de turistas com seu Festival Folclórico, desfile (e disputa) entre dois bois-bumbás,
Garantido e Caprichoso, agremiações carnavalescas rivais. Silves, Amazonas, também
situada em ilha – próxima ao encontro do rio Urubu com o Amazonas, uma região de
lagos –, é um berço do turismo de selva. Em Presidente Figueiredo há muitas corredeiras
e cachoeiras, passeios na floresta com trilhas demarcadas, além do lago da Hidrelétrica de
Balbina, onde a atração é a pesca do tucunaré.

Outras atrações norte-amazonenses, possivelmente de igual ou maior impacto


ecoturístico, porém de difícil acesso e quase total carência de infra-estrutura de apoio, são
o Arquipélago de Anavilhanas e o Parque Nacional do Pico da Neblina (Área Estratégica
Rio Negro).

FGV/ISAE
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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Roraima, onde o turismo é virtualmente inexplorado, tem grande e variada riqueza


paisagística: montanhas, rios, corredeiras e lagos; campos naturais e savanas, rica floresta
tropical; culturas primitivas (entre elas, a ianomâmi).

O Amapá, relativamente mais acessível, tem várias atrações: o Forte de São José
do Macapá (1782), o passeio de trem pela floresta até a Serra do Navio, a pororoca no rio
Araguari e na vizinha Ilha de Marajó – a maior ilha fluviomarinha do Mundo que é, em si,
uma grande atração 10 , com sua vasta e variada costa fluviomarítima e a rica cultura
marajoara.

Uma estratégia de promoção do turismo receptivo para a Amazônia Setentrional


deve aprofundar a ênfase conferida a duas idéias-força. A primeira delas está contida no
próprio nome Amazônia, com sua carga de mito e mistério, trazendo à mente um amálgama
de percepções díspares, ou mesmo contraditórias, como o estigma do Inferno Verde ou a
apologética Visão do Paraíso. A segunda, no enlevo contemporâneo pelo Retorno à Natu-
reza, responsável pelo crescente vigor, em escala mundial, do ecoturismo – no caso, o
ecoturismo tropical. Pois a Amazônia é o Trópico Anfíbio, mistura incerta, ainda por
concluir-se, de terra e água. É o sol e é a floresta. E ali persistem culturas primitivas, em
estados puros ou quase puros: elas respondem à imagem do Bom Selvagem, representação
mental, ainda vigente, do Ocidente moderno.

O futuro do ecoturismo tropical amazônico depende, porém, de uma grande cam-


panha de marketing junto aos grandes mercados potenciais: os dos Estados Unidos e Eu-
ropa, da Ásia (Japão e Coréia, principalmente) e do Sudeste brasileiro. E de grande refor-
ço da infra-estrutura e dos serviços turísticos: de transportes, aéreo e fluvial (para e região
e dentro dela), de hotelaria, agências de viagem. Da capacitação dos recursos humanos
locais para apoio mais eficiente, diversificado, personalizado ao turista. Da valorização
de suas manifestações culturais (inclusive da culinária e do artesanato, bem como dos
produtos da floresta). Da maior acessibilidade aos sítios ecoturísticos mais distantes das
maiores cidades. De conforto, previsibilidade e segurança. Tudo isto envolve iniciativas,
algumas em curso (através do Poecotur, por exemplo, com o apoio do BID, programa que
carece de mais dinamismo), das esferas pública e privada, em trabalho conjugado e coor-

10
Marajó não está incluída na área de atuação do PCN. Cabe examinar a possibilidade de sua inclusão nela.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

denado.

Os demais serviços têm grande importância na formação do PIB norte-amazônico,


conforme já observado. Destacam-se o comércio, local, intra-regional e externo, com ba-
ses e potencialidades relevantes nas áreas de livre comércio (Manaus, Macapá e Tabatinga)
e em geral nas médias cidades, bem como os serviços bancários.

Os chamados serviços modernos (informática-telemática, consultorias, propagan-


da e marketing, educação superior, pesquisa e desenvolvimento, atendimentos médicos de
complexidade, além de outros) tenderão a concentrar-se nas maiores cidades. Manaus já
é, nessa área, pólo de nível médio, onde essas atividades intensivas em conhecimento
tenderão naturalmente a expandirem-se.

Continuam tendo grande importância na Amazônia Setentrional as atividades de


governo, em particular da União, bem como as transferências de receitas públicas da União
para os estados e municípios, e dos estados para os municípios. Elas são forma de elevar a
renda apropriada regional ou localmente, sendo mecanismos de complementação
interespacial da renda que devem ser mantidos e mesmo ampliados, dada sua importância
para o financiamento do desenvolvimento norte-amazônico. O papel do Programa Calha
Norte nesse contexto já vem sendo significativo e poderá ser intensificado mediante nego-
ciações, com os órgãos e entidades federais e estaduais – e também com a iniciativa priva-
da – de que resultem novos investimentos na região, tanto na infra-estrutura e nos serviços
básicos quanto nas atividades diretamente produtivas.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

CONCLUSÃO – A AMAZÔNIA SETENTRIONAL EM 2010 E


o Programa Calha Norte

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

A AMAZÔNIA SETENTRIONAL EM 2010

Intenta-se nesta primeira parte deste capítulo conclusivo uma investigação sobre o
futuro: o futuro possível da Amazônia Setentrional e suas Áreas Estratégicas, visualizado
no final desta década.

Nos últimos tempos, os mais respeitados centros de altos estudos e universidades


de todo o Mundo vêm dedicando grande atenção à análise prospectiva aplicada aos mais
variados campos do conhecimento e da atividade humana.

A finalidade desse empreendimento intelectual, que mobiliza mentes poderosas e


as várias ciências, integradas em perspectiva multidisciplinar, não é desvendar os mistéri-
os do porvir, sempre imperscrutáveis. É reduzir o grau de incerteza, dos indivíduos e das
organizações sociais, quando colocados diante de decisões de que resultam cursos de ação
que se desdobram, necessariamente, por longos períodos de tempo. Seu objetivo tem,
portanto, significado essencialmente pragmático.

Muitas pessoas, contudo, comumente reagem aos estudos sobre o futuro com uma
ponta de riso e um ar de desconfiança. Ao analisá-los, as representações mentais que logo
lhes assaltam o pensamento os associam mais à esotérica bola-de-cristal do que a esforço
sério e sistemático de reflexão, que muitas vezes emprega metodologias complexas e se
apóia em tecnologias avançadas.

Esse ceticismo tem muito do bom senso, sintetizado pela experiência da vida, que
a cada dia comprova ser o futuro imprevisível. Tem muito a ver, também, com a atitude
pouco prudente de alguns pesquisadores que, depois de formular a sua imagem do futuro,
passam a tratá-la com indisfarçável segurança em seu certo acontecer.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Este exercício procura evitar esse e outros percalços da futurologia de inclinações


ideativas. Situa a análise prospectiva como instrumento de planejamento estratégico — e,
portanto, no âmbito da ação de desenvolvimento. E apresenta uma trajetória possível de
evolução econômico-social para a Amazônia Setentrional e suas Áreas Estratégicas no
horizonte do ano 2010, condicionada a decisões e ações que especifica.

A metodologia adotada, que se caracteriza pela simplicidade, debruça-se inicial-


mente sobre o passado regional para, em seguida, partir para identificar as tendências
portadoras de futuro, articuladas ao novo modelo de desenvolvimento, emergente no país.

As configurações flutuantes da economia, da sociedade e da política mundiais, na-


cionais e regionais, em sua grande labilidade, determinarão, para cada presente, uma ante-
cipação diferente dos tempos por vir. Por essa razão – e sobram muitas razões para isso –
, a análise prospectiva, tanto quanto o planejamento estratégico, devem ser processos per-
manentes, em constante atualização.

METODOLOGIA

Os cenários de desenvolvimento construídos para este estudo adotaram procedi-


mento que se desdobrou em três etapas:

Foram considerados, num primeiro momento, como unidades de análise os municí-


pios da Amazônia Setentrional, agrupados, num segundo momento, por Áreas Estratégi-
cas e, afinal, na região como um todo.

Em segundo lugar, foi selecionado um conjunto de variáveis, demográficas, econô-


micas e sociais, as quais foram incorporadas a modelo para o cálculo de elasticidades
parciais, fundamentais na construção dos cenários.

Em terceiro lugar, a construção dos cenários para 2010 tomou como ano-base 1996
(o último para o qual se dispõe de razoável base de dados municipalizada).

Na formalização dos cenários, foi utilizado modelo econométrico de uma só equa-


ção, em que a variável endógena é dada pela população do município, função de um con-
junto de variáveis exógenas. Os cenários refletem, portanto, a influência de determinadas
variáveis sobre a evolução demográfica do município. A aplicação desse modelo à Ama-
zônia brasileira (e, em decorrência, à Amazônia Setentrional) justifica-se por ter a história

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

regional resultado do próprio processo de seu povoamento, objetivo estratégico sempre


presente no processo de integração dessa imensa região tropical-úmida à economia e à
sociedade nacionais.

O modelo, que é essencialmente de natureza tendencial, foi testado através de duas


especificações, uma linear e outra duplo-logarítmica. Foram feitas seis especificações e,
para efeito de cenarização, se utilizaram os coeficientes da Equação 6 (Tabela 14), relati-
vos às variáveis PIB per capita e número médio de anos de estudo (considerada a popula-
ção com 25 anos e mais).

Para o comportamento, no tempo, da variável população total, adotou-se taxa mé-


dia de crescimento anual para o período 2000-2010 estimada com base na tendência ob-
servada nos períodos 1970-1980 e 1980-1990 – procurando-se entretanto calibrar essas
taxas projetadas pelos impactos prováveis gerados pelas ações de desenvolvimento em
cada uma das sete Áreas Estratégicas.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Com relação à variável IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), a mensuração


de seu crescimento nos períodos 1970-1980 e 1980-1991 (anos para os quais se dispõe
desse indicador por municípios) ensejou a estimativa de taxas padronizadas para os anos
1996 e 2010. Procedimento semelhante foi adotado em relação à taxa de urbanização. A
Tabela 14 apresenta os resultados das regressões obtidas e testadas, com aqueles relativos
à Equação 6 constantes da última coluna.

RESULTADOS

Os resultados do exercício de cenarização constam das Tabelas 15 a 17, que apre-


sentam as seis variáveis selecionadas: a população total, o grau de urbanização, o PIB
total, o PIB per capita, o IDH e o número de anos de estudo (da população com 25 anos e
mais). Eles serão examinados a seguir, tanto para a Amazônia Setentrional, com e sem o
município de Manaus, quanto para cada uma das Áreas Estratégicas.

Amazônia Setentrional

Pelas tendências reveladas no modelo de prospectiva, a Amazônia Setentrional terá,


em 2010, população de 3.970,3 mil habitantes, decorrente de crescimento médio anual de
2,8% entre 1996 e 2010. Esse crescimento, embora bastante inferior verificado em 1970-
1996 (4,2%), é muito superior ao projetado, no mesmo período para o Brasil (1,1%) e
determinará crescimento absoluto da população regional de 1.280,3 mil pessoas, além de
elevação da participação da população regional na brasileira de 1,7% (1996) para 2,2%
(2010)11 . Essa expansão dar-se-á pari passu a intenso processo de urbanização, que am-
pliará o percentual da população vivendo nas cidades para 93%, afigurando-se assim com-
patível ao objetivo de ocupação seletiva e descontínua do espaço regional. Sem Manaus, o
crescimento demográfico da região eleva-se para 2,9% ao ano, confirmando a tendência
para desconcentração espacial (desconcentração concentrada em centros urbanos
interiorizados); o grau de urbanização cai para 76%.

11
As projeções demográficas, econômicas e sociais para o Brasil em 2010 foram realizadas especialmente para
este estudo. Admitiu-se que a economia brasileira crescerá, em média, 4% ao ano entre 1996 e 2010.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

O PIB total norte-amazônico, por sua vez, crescerá a 7,8% anualmente, elevando a
participação regional no PIB brasileiro de 1,5% em 1996 para 2,5% em 2010. Esse desem-
penho situa-se um pouco abaixo da performance espetacular da região (inclusive Manaus)
nos anos 1970, que explica o elevado crescimento no período 1970-1996 (7,5%). Sem
Manaus, contudo o crescimento regional projetado, de 8,7%, supera tanto o desse período
(6,4%, Tabela 4) quanto o da região em seu todo, indicando gradual mas significativa
interiorização do desenvolvimento. Essa tendência pode ser reforçada com a execução da
estratégia proposta neste estudo. Comportamento semelhante se verifica com o PIB per
capita regional (Tabela 16), que avança de US$ 4.477 em 1996 para US$ 8.722 em 2010,
superando o valor esperado para o Brasil nesse último ano (US$ 7.448). Sem Manaus, o
PIB per capita, de US$ 5.437, embora inferior ao brasileiro, dele aproxima-se rapidamen-
te.

No que respeita aos indicadores sociais, o IDH deverá evoluir de 0,669 em 1996
(90% do brasileiro) para 0,808 em 2010 (95% do brasileiro). Sem Manaus, esse indicador
cai para 0,586 e 0,721, correspondendo, respectivamente, a 79% e 84% do nacional. O
número médio de anos de estudo na Amazônia Setentrional como um todo, por seu turno,
crescerá de 4,7 anos (96% do brasileiro) para 6,2 anos (98%) no mesmo período (Tabela
17). Sem Manaus, a evolução projetada é de 3,5 para 4,5 anos, mantendo-se a participação
de 71% em relação ao brasileiro.

Rio Negro

O desempenho econômico-social revelado pela Área Estratégica Rio Negro, embo-


ra elevado quando comparado ao padrão de desenvolvimento esperado para o país, é infe-
rior ao da Amazônia Setentrional (Tabelas 15 a 17). Ele é contudo superior ao observado
historicamente (Tabelas 2 a 9).

Como esta é área prioritária na proposta de estratégia apresentada, cabe esforço


especial de dinamização, concentrado especialmente em seu Pólo, São Gabriel da Cacho-
eira, e nos Núcleos de Fronteira.

Trata-se de Área que apresenta algumas singularidades. Demograficamente, carac-


teriza-se, de um lado, pela rarefação demográfica e, de outro, pela elevada presença de
população indígena e seus descendentes que, de acordo com o Censo de 1991, equivalia a

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

75% dos residentes no município de São Gabriel da Cachoeira. Seu desenvolvimento hu-
mano foi impulsionado nas últimas décadas pela ação de governo, com relevante partici-
pação das Forças Armadas, que dotou a região de razoável oferta de equipamentos soci-
ais, voltados precipuamente para as áreas de saúde e educação fundamental. Entretanto, a
base econômica do Rio Negro ainda é pouco expressiva, com as atividades primárias
gravitando em torno de extrativismo e de agropecuária incipientes e rotineiros. Há, é cer-
to, alguns projetos recentes de piscicultura em operação em São Gabriel da Cachoeira,
além de umas poucas indústrias de produtos alimentares e madeireiras, mas suas escalas
de produção são reduzidas. Os serviços, por sua vez, refletem a escassa demanda gerada
localmente, além de algum comércio com a Colômbia. Faz-se portanto necessário um
grande esforço para atrair atividades diretamente produtivas privadas para essa Área Es-
tratégica, cuja importância geopolítica já foi destacada. Esse esforço será grandemente
facilitado com a execução das medidas propostas neste documento, em especial as que
envolvem a ampliação da oferta de energia elétrica, a melhoria dos transportes e comuni-
cações, a educação e a qualificação da força de trabalho e a identificação de oportunidades
produtivas no agribusiness, no turismo e em outros serviços. Seus reflexos podem ser
importantes, seja sobre a ampliação da renda retida localmente pela população, seja sobre
a melhoria do padrão de vida. É de antever-se a acentuação das migrações campo-cidade,
especialmente para São Gabriel da Cachoeira, desejáveis se acompanhadas de melhores
empregos, mais bem-estar para os migrantes, avanço do desenvolvimento humano e con-
dições mais favoráveis de conservação dos recursos naturais. A concentração da popula-
ção nas cidades da Área, que já é uma realidade, deverá elevar a taxa de urbanização para
mais de 90% em 2010, pelas projeções elaboradas (Tabela 15).

Japurá–Solimões

Com tendência para apresentar nesta década elevado crescimento demográfico, de


3,8% anuais, embora com mais lenta urbanização (alcançando 60% em 2010), projeta-se
para a Área Estratégica Japurá–Solimões grande dinamismo econômico. O crescimento
médio anual do PIB, de quase 11% ao ano, e a expansão do PIB per capita, de 6,5%, serão
facilitados seja pelo fato de ser a Área a de mais baixo PIB per capita, seja por abrigar, em
sua porção central, investimentos importantes, que decorrem principalmente do aprovei-

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

tamento das reservas de gás natural de Urucu. Seus padrões médios de desenvolvimento
humano, contudo, quando aferidos pelo IDH e pelos níveis educacionais (Tabela 17), ten-
derão a crescer lentamente, em parte talvez devido aos limitados efeitos multiplicadores
das atividades extrativo-minerais que já exibe.

Na verdade, não fossem os propósitos de vivificação da Faixa de Fronteira, com


objetivos tanto de estímulo à interação comercial e econômico-social com o Peru e a Co-
lômbia, quanto de afirmação da soberania nacional, o centro dinâmico de Japurá–Solimões
bem que poderia ser Coari–Tefé – e não, conforme proposto, Tabatinga–Benjamim
Constant.

A base produtiva desses dois municípios-pólos, com efeito, é modesta. Cerca da


metade de PIB é gerado pela agropecuária – e basicamente pelas atividades pesqueira e
extrativa vegetal, além da agricultura de subsistência. As atividades industriais concen-
tram-se no beneficiamento da madeira e em bens de consumo local. No terciário, há boas
perspectivas de expansão do comércio com a dinamização da Zona de Livre Comércio de
Tabatinga, alternativa de abastecimento inclusive para os consumidores locais, que hoje
adquirem muitos produtos industrializados, a melhores preços, nas cidades vizinhas dos
dois países limítrofes, em especial em Letícia (Colômbia).

No que respeita aos indicadores sociais, Japurá–Solimões, que hoje apresenta os


níveis de desenvolvimento mais baixos dentre as Áreas Estratégicas, projeta para 2010
evolução comparativamente modesta (Tabela 17). Elevar essa performance deve ser um
dos objetivos para essa Área, que se ressente de escassez de mão-de-obra qualificada e de
investimentos em capital social básico, fatores que, juntamente com a insuficiente e pre-
cária oferta de energia elétrica nas cidades e outros serviços urbanos, estão limitando seu
progresso econômico-social.

Manaus

A expansão demográfica da Área Estratégica Manaus, que já vinha caindo consis-


tentemente ao longo do período 1970-1996, está projetada para evoluir a 2,7% entre 1996
e 2010, com seu grau de urbanização mantendo-se virtualmente nos níveis atuais (94%).
Seu PIB total crescerá, nesse último período, a 7,5% ao ano, um pouco abaixo dos 8%
verificados em 1970-1996, porém muito acima do projetado para o Brasil (4%). O mesmo

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

deverá ocorrer com o PIB per capita, que alcançará US$ 12,5 mil em 2010 (Brasil: US$
7,4 mil). O IDH se elevará de 0,756 em 1991 para 0,871 em 2010, permanecendo no
mesmo nível do brasileiro, e a taxa de escolaridade (anos médios de estudo) se ampliará
de 6 para 9,8 anos, aumentando sua dianteira com respeito à nacional (Tabela 17).

Como sabido, a dinâmica econômica da região gravita em torno da Zona Franca de


Manaus, enclave onde está concentrado o maior parque eletroeletrônico de consumo do
país e a principal base industrial amazônica. O vigoroso processo de industrialização ocor-
rido a partir da primeira metade dos anos 1970 engendrou forte desequilíbrio intersetorial
e interespacial na produtividade do trabalho e gerou grandes migrações campo-cidade,
agravando a desruralização da Área em velocidade sem precedentes.

Esse movimento convergente de capital e trabalho em direção à capital amazonense


se deu concomitantemente a importante ampliação do estoque de capital social básico –
educação, saúde, habitação, saneamento básico –, financiado essencialmente com recur-
sos públicos, acentuando ainda mais o já intenso fluxo migratório.

A redução do grau de insulamento de Manaus com investimentos como a pavimen-


tação da BR-174 e a Hidrovia do Madeira (Mapa 14) abre grandes possibilidades de esco-
amento mais eficaz seja da produção industrial manauara, seja de mais expedito abasteci-
mento de seu mercado consumidor – isto é, de uma melhor articulação (integração, inser-
ção) às economias nacional e global. Esses novos eixos deverão engendrar processo de
desconcentração demográfica e produtiva tanto dentro da Área Estratégica (na direção
norte, principalmente), quanto, mais amplamente, em direção a Boa Vista e Porto Velho,
tendência que poderá ser reforçada por políticas públicas de incentivo atentas aos objeti-
vos de maior equilíbrio espacial do desenvolvimento e de preservação ambiental.

Itacoatiara–Parintins

O modelo em que se fundamentou esse exercício prospectivo prevê aceleração do


crescimento demográfico da Área Estratégica Itacoatiara–Parintins da média anual de 2,3%
(1970-1996) para 3% (1996-2010), com ligeiro avanço no grau de urbanização (de 63%
para 68%), tendências que já se manifestam nos últimos anos. O PIB dessa Área também
deverá intensificar sua expansão, alcançando 8,3% anuais, com o PIB per capita elevan-
do-se de US$ 2.138 em 1996 para US$ 4.313 em 2010 (crescimento anual de 5,1%, supe-

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

rior ao regional e ao brasileiro, Tabela 16). O IDH, porém, evoluirá em ritmo menor que o
brasileiro (sendo de 0,612 em 2010), mas haverá um avanço importante na escolaridade
média (de 3,6 anos para 6,2 anos).

As duas cidades que polarizam essa Área, Itacoatiara e Parintins, estão localizadas
às margens do rio Amazonas, com Itacoatiara estando interligada a Manaus também por
rodovia.

Em Itacoatiara está instalado moderno terminal portuário fluvial, que recebe e dis-
tribui parte da produção de soja e derivados, oriunda de Mato Grosso, mediante a utiliza-
ção do eixo bimodal de transporte formado pela BR-364 e Hidrovia do Madeira. Por essa
razão, abrem-se para a cidade significativas oportunidades de investimentos produtivos
privados (pesca, beneficiamento da soja, agroindústrias e bioindústrias – principalmente,
estas últimas, integrando um pólo bioindustrial secundário ao que poderá emergir em
Manaus, e a ele articulado). A cidade porém carece de oferta adequada de energia, de
recursos humanos qualificados, inclusive com capacidade gerencial, bem como de servi-
ços sociais básicos.

Parintins também detém boas oportunidades de desenvolvimento, mas padece de


carências em tudo semelhantes. Destaca-se, como já referido, por sediar uma das mais
importantes manifestações culturais da região e mesmo do país – o Festival Folclórico de
Parintins. Os efeitos multiplicadores desse evento sobre a renda e o emprego poderiam ser
ainda mais significativos do que vêm sendo (sobre o turismo e as atividades correlatas,
por exemplo, e até no desenvolvimento de outras atividades produtivas, como o agribusiness
e o artesanato) se o município vier e contar com melhor infra-estrutura básica e mais
capital humano.

Roraima

O crescimento demográfico antevisto para a Área Estratégica Roraima é de 2,7%


anuais entre 1996 e 2010, um pouco superior ao dos seis primeiros anos da década passa-
da, com o grau de urbanização continuando a avançar mais aceleradamente até alcançar
94% da população em 2010. O PIB total voltará a crescer com mais vigor do que nos
últimos anos, evoluindo 7,4% ao ano no período (Tabela 15), com o PIB per capita cres-
cendo de US$ 3.950 em 1996 para US$ 7.434 em 2010 (crescimento de 4,6% anuais). A

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

evolução do IDH será mais lenta, porém com os níveis educacionais médios se elevando
proporcionalmente mais do que os regionais e os brasileiros.

Roraima é estado de considerável importância geopolítica, parcialmente encravado


entre a Venezuela e a Guiana. Singulariza-se por apresentar uma fronteira de recursos
naturais quase fechada à exploração econômica, em decorrência da grande extensão de
terras indígenas e de parques nacionais.

A região ainda apresenta uma matriz produtiva pouco avançada e diversificada.


Até inícios dos anos 1990, a economia estadual gravitava em torno da extração mineral,
com destaque para os garimpos de ouro, quase totalmente localizados, de forma ilegal, em
terras indígenas. A demarcação e melhor vigilância dessas terras levaram à expulsão dos
garimpeiros, que determinou abrupta redução da atividade econômica estadual, com for-
tes repercussões em Boa Vista, onde a quase totalidade do ouro era comercializada. Esse
declínio da produção mineral provocou queda da atividade econômica que se prolongou
por quase toda a década de 1990, com fortes repercussões sobre o nível de emprego e
renda.

Os dispêndios públicos, especialmente federais, continuaram respondendo por gran-


de parcela da formação da renda rondoniense, mesmo após a transformação do território
em estado e até pelo menos meados do decênio passado. Foi quando começaram a
viabilizarem-se novas oportunidades produtivas privadas, com destaque para a produção
de grãos – de soja, principalmente, que já ocupa grandes áreas de savanas, percorridas
pela BR-174. Os grãos produzidos nessa região podem dirigir-se a mercados internacio-
nais, quer através do porto de Itacoatiara, quer sobretudo através da Venezuela: escoando
pelo Mar do Caribe em direção à Europa ou ao Japão (pelo Canal do Panamá). A forragem
derivada da soja poderá dar novo impulso à pecuária intensiva e moderna, base para a
exportação de carne e o beneficiamento industrial local.

O desempenho econômico e social dessa Área Estratégica dependerá da maturação


e dos desdobramentos dessas iniciativas, bem como da implantação de infra-estrutura bá-
sica que lhes assegure melhores condições de competitividade.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

Trombetas

De acordo com as projeções tendenciais, o crescimento populacional da Área Es-


tratégica Trombetas continuará sendo baixo, de apenas 0,3% ao ano entre 1996 e 2010,
reflexo de comportamento passado igualmente medíocre (provavelmente explicado por
emigrações, inclusive para Santarém, logo ao sul do talvegue do Amazonas). Será lento
também o evoluir de sua urbanização, com as cidades abrigando somente 56% da popula-
ção em 2010. No mesmo compasso, o PIB crescerá 0,8% ao ano, e o PIB per capita, a
0,5%, alcançando US$ 2173 em 2010, o mais baixo dentre as Áreas Estratégicas da Ama-
zônia Setentrional. O IDH (0,537) também será o menor, assim como o grau de escolari-
dade (3,2 anos médios de estudo).

Esse horizonte de estagnação, contudo, pode e deve ser revertido.

Na década de 1970, realizaram-se em Trombetas investimentos produtivos priva-


dos de porte, voltados para a exploração de suas minas de bauxita, localizadas no municí-
pio de Oriximiná, com o minério sendo encaminhado para o complexo da Albrás-Alunorte,
localizado em Barcarena, a 50 km de Belém, para ser ali transformado em alumina e alu-
mínio. Seus efeitos sobre a região, contudo, só foram relevantes em sua fase de implanta-
ção. No mais, as atividades econômicas restringem-se ao extrativismo tradicional, domi-
nantemente de coleta, rudimentar e rotineiro.

Houve, é certo, razoável mas apenas parcial recuperação do nível de atividade eco-
nômica na Área na década passada. Porém, para que se desenhe trajetória de desenvolvi-
mento mais auspiciosa, serão necessários importantes investimentos públicos em infra-
estrutura de energia e transportes, principalmente, além de saneamento básico, saúde, edu-
cação, qualificação e capacidades gerencial e de empreendimento. E inversões privadas
em atividades diretamente produtivas, voltadas para a diversificação da base econômica.

Amapá

A Área estratégica Amapá foi a que revelou maiores dinamismo demográfico e


econômico no exercício de prospectiva realizado para este estudo. Seu crescimento
demográfico, estimado em 4% entre 1996 e 2010, elevará sua população de 379,5 mil para
657,1 mil habitantes no período, com o grau de urbanização alcançando 93%. O PIB do
estado se expandirá a 11% ao ano e o PIB per capita, a 6,8%, atingindo US$ 8.503 no fim

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

da presente década. O IDH, de 0,687 em 1996, alcançará 0,929 em 2010, com o nível de
escolaridade se elevando de 4,8 para 9,9 anos médios de estudo no mesmo período.

É que o Amapá vem firmando um conjunto de características que podem contribuir


para demarrar processo de crescimento e desenvolvimento virtuoso.

Em primeiro lugar, trata-se de uma região já com um dos maiores índices de urba-
nização da Amazônia (87%) e com um mercado consumidor concentrado em torno da
cidade de Macapá e capaz de gerar externalidades positivas no uso dos fatores produtivos
regionais. Em segundo lugar, detém um dos melhor preservados ecossistemas do Norte do
país, o que lhe confere indiscutíveis vantagens numa trajetória de progresso que contem-
ple o ecoturismo como um de seus componentes principais. Em terceiro lugar, tem locali-
zação privilegiada, pois está a poucas horas do maior mercado consumidor da Amazônia –
a região metropolitana de Belém – e vai articular-se, por rodovia que em breve estará
pavimentada, à Guiana Francesa, território ultramar francês e, em conseqüência, integran-
te da União Européia.

Além disso, o estado já dispõe de infra-estrutura portuária de qualidade para os


padrões da Amazônia e da única grande estrada de ferro da região, hoje ociosa. E tem uma
vasta costa atlântica, de elevado potencial econômico – graças ao grande número de prai-
as, restingas e áreas de mangue, o que lhe confere amplas condições para o desenvolvi-
mento das atividades turísticas e da exploração da indústria pesqueira, especialmente a
partir da aqüicultura e da carcinicultura.

Destaque-se finalmente o fato de a Zona de Livre Comércio de Macapá-Santana


encontrar-se em pleno funcionamento, conferindo ao Amapá vantagem competitiva de
natureza institucional e comercial em relação à demais Áreas Estratégicas da Amazônia
Setentrional, exceto Manaus.

A trajetória de progresso antevista não parece assim desprovida de viabilidade. Ela


deverá ter caráter mais urbano que rural em virtude da natureza dos investimentos em
infra-estrutura e diretamente produtivos programados, que põem ênfase no comércio, no
turismo e em outros serviços. A elevação do grau de urbanização e a concentração litorâ-
nea (fluvial e marítima) da população e das atividades produtivas, polarizadas por Macapá-
Santana, são decorrências quase necessárias desse itinerário de desenvolvimento.

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

O PROGRAMA CALHA NORTE: DESAFIOS

Este documento repita-se que é um direcionamento estratégico para o crescimento


e o desenvolvimento da Amazônia Setentrional. Enquanto tal, pretende-se que ele seja
uma referência para as decisões e ações, públicas e privadas, voltadas para o progresso
regional. Progresso que incorpora, como componente que lhe é inerente, a sustentabilidade
ambiental.

Ele foi adredemente elaborado para servir de farol para a atuação, naquela imensa
região, do Programa Calha Norte. Reflete, portanto, preocupações específicas do PCN: a
prioridade conferida à Faixa de Fronteira; o cuidado para que, ao longo daqueles 7.423
km de limites com seis países, se assegurem a incolumidade do território nacional e a
preservação ou conservação de suas muitas riquezas, inclusive seu vastíssimo patrimônio
natural; e, não menos importante, se viabilize o propósito de estabelecer relações cada vez
mais intensas de comércio e, em geral, de cooperação, com nações com as quais o Brasil
mantém estreitos laços de amizade. Vivificando, fertilizando a fronteira.

Estes são os grandes desafios do Programa Calha Norte. Desafios do Brasil.

Enquanto estudo de planejamento estratégico, este documento apresenta uma visão


do crescimento e do desenvolvimento regional que se considera consistente seja com as
políticas governamentais em curso, em especial as de inserção competitiva e de integração
nacional, seja com a estratégia que dessas políticas se depreende para a Amazônia brasi-
leira como um todo. Espera-se, portanto, que essa visão venha a ser amplamente compar-
tilhada, tanto em nível federal, quanto pelos estados total ou parcialmente incluídos na
Amazônia Setentrional e pelos municípios. Como também se almeja que a iniciativa pri-
vada presente na região, ou interessada em contribuir para o seu progresso, bem como a
sociedade organizada, tomem os delineamentos estratégicos aqui propostos como pano de
fundo para suas ações de investimento e de desenvolvimento.

É pertinente ressaltar que o Programa Calha Norte, embora disponha de recursos


próprios para financiar programas e projetos em sua área de atuação, é essencialmente
uma instância de articulação de órgãos e entidades públicas – federais, regionais, estadu-
ais, municipais – e um agente catalisador das empresas privadas e organizações comunitá-
rias, na medida em que busca implementar decisões e canalizar recursos de múltiplas
fontes para programas e projetos do interesse do desenvolvimento norte-amazônico. Nes-

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SUBSÍDIOS PARA UMA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA SETENTRIONAL

se contexto, uma visão compartilhada e convergente do futuro regional – em especial de


suas potencialidades, mas também de suas atuais insuficiências – pode ser de grande va-
lia.

Cabe ainda referir que esta proposta, contendo apenas os delineamentos estratégi-
cos para a Amazônia Setentrional no horizonte desta década, embora identifique, caracte-
rize e priorize ações de desenvolvimento, não envereda, por sua própria feição, no
detalhamento de programas e projetos. Ela está sendo complementada por outros instru-
mentos de planejamento, estes sim, de natureza programática e operacional. São eles:

I – os planos estratégicos de desenvolvimento regional para as Áreas Estratégicas


aqui propostas, ou partes mais relevantes ou prioritárias dessas Áreas – o primeiro deles,
o da região do Alto Solimões, integrante da Área Estratégica Japurá–Solimões, já elabora-
do concomitantemente a este documento e com ele consistente. Esses planos vão identifi-
car, em nível mesorregional, programas e projetos, estimando seus custos e sugerindo
alternativas de financiamento;

II - os planos de desenvolvimento local integrado sustentável, de nível municipal,


alguns deles também já elaborados, em estreita cooperação com os governos estaduais e
municipais e as comunidades envolvidas. Esses planos também elencam, no nível
microrregional ou local, projetos prioritários, detalham seus perfis, apropriam seus dis-
pêndios e listam as possíveis fontes de custeio, tendo, pois, caráter eminentemente
operativo.

Por último – e não menos importante – acompanha estes Subsídios para uma Es-
tratégia de Desenvolvimento da Amazônia Setentrional proposta de um novo modelo de
gestão para o Programa Calha Norte. Ele pretende tornar ainda mais eficiente, eficaz e
efetiva a atuação do PCN, em particular sua mais expedita inserção na complexa matriz de
instituições, das esferas pública e privada, com responsabilidades relevantes na condução
do processo de modernização da Amazônia do Norte brasileira. Modernização que se ori-
enta para ocupação, demográfica e econômica, seletiva e ambientalmente sustentável. E
que busca a realização do desenvolvimento humano, amplamente humano – em uma só
palavra, o ecodesenvolvimento.

FGV/ISAE
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Ministério da Defesa
Secretaria de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais
Departamento de Política e Estratégia

Programa
Calha Norte

Coordenadoria de Estudos e Programas Estratégicos

Rio de Janeiro - março - 2001

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