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ANÁLISE COMPUTACIONAL DO EFEITO DA TRANSFERÊNCIA DE

CALOR RADIATIVA NA OXI-COMBUSTÃO DE CARVÃO RUSSO EM


UMA INSTALAÇÃO DE ENSAIO DE COMBUSTÃO DE 0,5 MW

Raul Vanz
Cristiano Vitorino da Silva
Departamento de Engenharia Mecânica – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI – Campus de
Erechim. Av. Sete de Setembro, 1621, Cep 99700-000, Erechim, RS, Brasil.
raul.vanz@yahoo.com.br; cristiano@uricer.edu.br

Resumo. Neste estudo foi realizada uma investigação numérica sobre o comportamento radiativo no processo de
combustão de carvão pulverizado em uma Instalação de Ensaio de Combustão (CTF) de 0,5 MW, equipada com um
queimador IFRF tipo AASB. Este estudo foi realizado considerando o método dos volumes finitos, utilizando como
ferramenta de simulação o software Ansys CFX v.15. Foi implementada uma modelagem de combustão baseada numa
abordagem lagrangeana/Euleriana, em regime permanente, considerando as equações de conservação de massa,
quantidade de movimento, energia e espécies químicas para um escoamento multifásico, reativo e turbulento, a fim de
representar a queima de partículas de carvão no interior da fornalha do reator. Quatro casos foram estudados, um
considerando queima em ambiente com ar atmosférico e outros três em condições de oxi-combustão (RR75%, RR72%
e RR65%). Dois modelos espectrais de radiação foram implementados na modelagem numérica, o modelo de Gás
Cinza (GG – Gray Gas), desconsiderando a presença de fuligem, e o modelo de Soma Ponderada de Gases Cinza
(WSGG – Weighted Sum of Gray Gases), considerando a presença de fuligem. Observou-se que a variação no
ambiente de combustão causa grandes impactos na estrutura da chama e na transferência de calor por radiação.
Verificou-se que para o fluxo de calor radiativo e para a distribuição de temperaturas o Caso III (RR72%) apresentou
distribuições semelhantes ao Caso de Referência (Caso I – queima em ar atmosférico). Os resultados mostraram que o
modelo espectral do WSGG obteve uma discrepância menor do que o GG, quando ambos são comparados com os
dados experimentais, sendo, com isso, mais preciso. Notou-se que a maior temperatura de chama e a maior
intensidade de radiação estão no Caso IV, onde a Relação de Reciclagem (RR) de CO2 é menor, e que os mesmos
dados tendem a aumentar com a diminuição da RR. O mesmo acontece com o comprimento da chama, que aumenta
com a diminuição da RR. Os resultados são validados comparando-se com os dados experimentais de funcionamento
da CTF.
Palavras Chave: Radiação, Gás-cinza, WSGG, Fuligem, Oxi-combustão.
1. INTRODUÇÃO
Pesquisas recentes comprovam que o aquecimento global está em curso. Fica evidente, através de observações,
como os aumentos na temperatura média global do ar e dos oceanos, derretimento generalizado de neve e gelo e
aumento do nível médio dos oceanos, que a situação é muito séria. Com base em dados disponíveis, existe uma
indiscutível concordância de que a causa destes fenômenos se deve ao aumento do nível dos chamados gases de efeito
estufa na atmosfera. O principal suspeito é o CO2, produzido, principalmente, na queima de combustíveis fósseis.
Neste cenário, um motivo que tem atraído muitos estudos é o desenvolvimento de tecnologias para a produção de
energia elétrica com o mínimo impacto ambiental possível, principalmente no que diz respeito às emissões de dióxido
de carbono na atmosfera, como visto, principal causador do efeito estufa. Uma técnica utilizada para isso, chamada de
oxi-combustão, consiste em fazer recircular parte dos gases de combustão no processo e introduzir nesse gás, que no
regime permanente é composto principalmente de dióxido de carbono, uma quantidade de oxigênio puro, necessária
para garantir a queima. Com essa técnica o dióxido de carbono pode ser capturado e armazenado, garantindo níveis de
emissão de poluentes praticamente nulos na atmosfera.
Para o presente trabalho apresenta-se um estudo numérico, utilizando o software comercial Ansys CFX 15, da
combustão de carvão Russo pulverizado, empregando o processo de oxi-combustão, onde a modelagem desenvolvida
pelo Laboratório de Simulação Numérica (LABSIM) é implementada sobre a geometria de uma CTF em escala
laboratorial, apresentada por Smart, et al., (2010b), com capacidade de 0,5 MW, tendo como objetivo avaliar as
mudanças no ambiente de combustão comparando os modelos espectrais de radiação de gás cinza (GG),
desconsiderando a presença de fuligem, e Soma Ponderada de Gases Cinza (WSGG), considerando a presença de
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Análise Computacional do Efeito da Transferência de Calor Radiativa na Oxi-Combustão de Carvão Russo em uma Instalação de Ensaio de
Combustão de 0,5 MW

fuligem, comparando os dados obtidos pelas simulações com os dados experimentais mensurados por Smart, et al.,
(2010b) a fim validar a modelagem numérica.
2. CONDIÇÕES DE CONTORNO E MÉTODO COMPUTACIONAL
Os dados considerados neste estudo representam a operação de uma Instalação de Ensaio de Combustão (CTF –
Combustion Test Facility) horizontal em escala piloto de 0,5 MW operando com combustão de carvão Russo
pulverizado, sob condição de queima em ar e em oxi-combustão.
Os detalhes da geometria da fornalha em estudo são mostrados na Fig. 1. Consiste em uma fornalha revestida em
cerâmica com seção quadrada de 0,8 m, com 4 m de comprimento, seguida de uma seção convergente com 2,18 m de
comprimento levando a uma seção de saída quadrada de 0,3 m, equipada com uma versão reduzida de um queimador
IFRF (International Flame Research Foundation) tipo AASB (Aerodynamically Air Staged Burner), onde combustível
e oxidante entram no domínio pelas entradas primária e secundária, respectivamente.

Figura 1 - Esquema da CTF (todas as medidas em milímetros) (adaptado de Naser e Bhuiyan, 2015a).
Diferentes Recycled Ratios (RR) foram considerados neste estudo – RR65%, RR72% e RR75%. Na Tab. 1 são
mostradas as condições de entrada para os diferentes casos estudados, onde Caso I corresponde ao Caso Referência,
com uma queima em condições de ar atmosférico, e Caso II, Caso III e Caso IV correspondem a queima em condição
de oxi-combustão com RR75%, RR72% e RR65%, respectivamente. Em todos os casos, o fornecimento total de
combustível foi conservado de forma a manter a carga térmica da CTF constante. O número de swirl tem um efeito
significante na combustão, e foi gerado na entrada secundária, sendo mantido constante e igual a 0,6 para todos os
casos, devido a isso as velocidades na entrada secundária variam de um caso para outro. As paredes da fornalha foram
modeladas como resistências térmicas assumindo emissividade igual a 0,85 para todas as paredes.
Tabela 1 - Condições de contorno para os diferentes casos de combustão (adaptado de Naser e Bhuiyan, 2015a).
Parâmetros Caso I Caso II Caso III Caso IV
Ar RR75% RR72% RR65%
Entrada Primária
Vazão Mássica de Oxidante [kg/h] 110,0 159,0 156,7 153,8
Velocidade Axial [m/s] 15 15 15 15
Temperatura [K] 343 343 343 343
Teor O2 [%] 23,15 16,2 16,2 16,2
Teor CO2 [%] 0,0 83,8 83,8 83,8
Vazão de Carvão [kg/h] 68 68 68 68
Entrada Secundária
Vazão Mássica [kg/h] 620,0 598,1 512,9 423,9
Velocidade Axial [m/s] 39,76 29,0 25,0 21,08
Velocidade Angular [rad/s] 371 273 235 200
Temperatura [K] 543 543 543 543
Teor O2 [%] 23,15 22,8 25,4 34,8
Teor CO2 [%] 0,0 77,2 74,6 65,2
Número de Swirl 0,6 0,6 0,6 0,6

O tamanho das partículas de carvão foi modelado por uma distribuição probabilística desenvolvida por Rosin-
Rammler. A distribuição varia de 75 a 300 μm, sendo que cerca de 77,5% do fluxo total de partículas possuem diâmetro
menor de 75 μm, com um fator de dispersão de 5,78. Considerou-se que as partículas sejam esféricas uniformemente
distribuídas no orifício de entrada. Na transferência de calor considerou-se as partículas como sendo corpos opacos e
negros com emissividade unitária (ANSYS, 2013).
O esquema cinético para a pirólise de partículas de carvão utilizado neste trabalho foi proposto por Silva, et al.,
(2010), e assume que a carvão mineral é composto de carvão bruto (raw coal), cinza (ash) e água (umidade). A
devolatilização do carvão é modelada, usando o modelo de taxas de Arrhenius em dois passos (Ubayakar, et al., 1976),
no qual duas diferentes taxas de reação e diferentes rendimentos de desvolatilização competem para produzir a pirólise
do carvão bruto. A primeira reação predomina em partículas de temperatura mais baixa e tem um rendimento inferior ao
rendimento da segunda reação que domina em temperaturas mais altas. Como resultado, o rendimento final de
desvolatilização dependerá do histórico de temperaturas da partícula e aumentará com a temperatura. As cinzas e a água
presentes na partícula de carvão podem ser consideradas como impurezas do carvão pois não produzem energia.
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Para a combustão da fase gasosa, os modelos Eddy Dissipation e Finite Rate Chemistry foram combinados para
prever as reações de combustão, assim, a taxa efetiva de reação é assumida como o valor mínimo de ambos os modelos.
O modelo Eddy Break-Up trata-se de uma combinação dos dois modelos anteriores, sendo a taxa limite o menor valor
entre as taxas de reações químicas calculada por ambos, é baseado em uma análise fenomenológica de combustão
turbulenta assumindo elevados números de Reynolds e Damkohler. O modelo de redução de reações químicas utilizado
neste trabalho assume taxas finitas de reações e um processo de estado estacionário de combustão turbulenta de
voláteis. Além disso, considera-se que a oxidação seja uma combinação de queima difusiva e com pré-mistura,
ocorrendo em duas etapas globais de reações químicas, envolvendo apenas seis espécies principais: O2, CH4, N2, H2O,
CO2 e CO. Uma equação de conservação é necessária para cada espécie química, exceto o nitrogênio.
Para o escoamento reativo turbulento são resolvidas as equações de transporte de Reynolds, juntamente com o
modelo k-, considerando a conservação de massa, quantidade de movimento, energia e espécies químicas.
Utilizou-se o software comercial Ansys CFX 15, baseado no Método de Volumes Finitos (MVF) de Patankar
(1980). O critério de convergência adotado foi o Root Mean Square (RMS), obtendo-se valores abaixo de 10-4 para
todas as variáveis do modelo. A função power-law foi adotada de forma a avaliar os fluxos nas superfícies dos volumes
de controle. O acoplamento entre pressão e velocidade foi resolvido pelo algoritmo SIMPLE (Semi Implicit Method for
Pressure Linked Equations) de Patankar (1980). Para a interpolação foi adotada a função up-wind com o intuito de
reduzir o esforço computacional. Fatores de relaxação foram utilizados, uma vez que as equações de conservação
apresentam comportamento não-linear.
3. MODELAGEM DA RADIAÇÃO
3.1 Modelo de Transferência de Calor por Radiação
Neste trabalho utilizou-se o DTRM (Discrete Transfer Radiation Model – Modelo de Radiação de Transferência
Discreta), ao qual assume que a radiação que deixa a superfície de um elemento em uma determinada gama de ângulos
sólidos pode ser aproximada pelo comportamento de um único raio (ANSYS, 2013). Em função da quantidade de
partículas no domínio, tanto de cinzas como de carvão, onde tem-se a chama propriamente dita (zonas de altas
temperaturas) considera-se o meio como difuso e assim, optou-se por não considerar o efeito do espalhamento para a
radiação térmica. A fonte de energia no fluido devido a radiação é então calculada assumindo-se a mudança da
intensidade ao longo do percurso para cada raio, que é rastreado através do volume de controle. A acurácia deste
modelo é limitada em relação ao número de raios utilizados, sendo que para o presente trabalho 16 raios foram
ajustados no Ansys CFX.
3.2 Modelo Espectral GG – Gray Gas
Este modelo é um dos mais simples e apresenta limitações, já que para uma espécie química gasosa o coeficiente de
absorção sofre grande variação, em função do comprimento de onda. Entretanto trata-se de um modelo muito difundido
que pode ser útil em várias aplicações de engenharia, além de reduzir significativamente o esforço computacional
requerido.
3.3 Modelo Espectral WSGG - Weighted Sum of Gray Gases
No modelo espectral para a contribuição da radiação em meios participantes WSGG, a absorção radiativa e a
emissão a partir dos gases pode ser caracterizada pela emissividade como função da temperatura e do produto da
pressão parcial pelo comprimento do percurso. No caso do presente trabalho, que envolve processo de combustão, os
principais gases responsáveis pela emissão de radiação são o dióxido de carbono e o vapor d’água (ANSYS, 2013).
Os coeficientes de ponderação adotados neste trabalho foram os estipulados por Dorigon, et al., (2013). Assumiu-se
para estes coeficientes, avaliados para queima de metano, para uma razão de pH2O/pCO2 = 2, mesmo que esta razão das
pressões parciais não seja exatamente 2. Para o presente trabalho ainda foi considerado um quinto gás, o qual foi
inserido na modelagem para levar em consideração a janela transparente, ou seja, os comprimentos de onda que não são
afetados pelo meio. Para misturas de gases e fuligem, o número total de gases cinzas é determinado pela combinação de
cada gás cinza original com os gases cinzas da fuligem.
3.4 Radiação da Fuligem
Neste trabalho realizou-se a modelagem dos gases separadamente da fuligem, integrando os coeficientes dentro do
WSGG. Assim o número total de gases será o produto do total de gases cinzas e os gases da fuligem. Os coeficientes
adotados para a fuligem, seguiram os resultados obtidos por Cassol, et al., (2014)
As partículas sólidas de carvão bruto, cinzas e char foram consideradas esféricas, homogêneas, e configuradas como
corpos opacos e negros com emissividade unitária. A correlação de transferência de calor entre o escoamento da mistura
gasosa e as partículas sólidas adotada foi a de Hanz-Marshall (ANSYS, 2013).
4. MALHA COMPUTACIONAL
A malha computacional foi gerada no software ICEM CFD, realizada com a implementação de volumes
tetraédricos e prismáticos, sendo que os prismas foram utilizados somente nas paredes do equipamento. O tipo de malha
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utilizado foi o Delaunay qual garante refinamentos de malha onde necessário e mantém volumes maiores onde for
possível. A malha foi gerada em três dimensões, como mostra a Fig. 2 em um corte axissimétrico, contando com um
número de volumes de controle de aproximadamente 1x10 6. Utilizou-se um maior refinamento destes volumes na
região do queimador e na região aonde se desenvolve a chama. Para gerar o refinamento da malha, adicionou-se nas
regiões citadas uma density, a qual auxilia na criação de volumes de menor tamanho em uma região específica. Na
figura, a, b, c e d representam as regiões com diferentes densidades.

Figura 2 - Malha computacional em corte axissimétrico.


5. RESULTADOS
O modelo espectral de GG é o mais simples entre os modelos espectrais existentes, e, por apresentar grande
economia quanto ao esforço computacional, este modelo tem sido utilizado em diversos estudos de casos reais de
engenharia. Por este motivo, resolveu-se comparar este modelo com o WSGG, ao qual é um modelo mais complexo e
que, portanto, exige um maior esforço computacional.
Quatro ambientes de combustão diferentes foram investigados neste estudo: combustão em condição de ar
atmosférico (Caso I), mostrado como Caso de Referência, e três casos em condições de oxi-combustão, RR75%,
RR72% e RR65% (Caso II, Caso III e Caso IV, respectivamente). Em todos os casos a carga térmica da CTF foi
mantida constante, e as condições de contorno nas entradas primárias e secundárias são mostradas na Tab. 1.
5.1 Distribuição de Temperatura
A mudança de transferência de calor radiativo está ligada à variação de temperatura no interior da fornalha. Uma
vez que a radiação é proporcional à quarta potência da temperatura, uma resolução correta do campo de temperaturas é
importante na resolução da transferência de calor radiativa.
A mudança nos meios de combustão da queima em ar atmosférico para a oxi-combustão tem impacto significativo
nas características e estrutura da chama. A Fig. 3 apresenta uma comparação da distribuição de temperaturas ao longo
da linha central da fornalha, para os quatro casos deste estudo, do modelo espectral de GG e do WSGG.
Verifica-se que, apesar da semelhança, o modelo espectral GG teve temperaturas de chama mais altas, comparado
ao WSGG, e que ao longo da fornalha as temperaturas de ambos os modelos tendem a se aproximar. Um perfil de
distribuição de temperatura semelhante ao Caso Referência (queima em ar atmosférico) é obtido em uma RR de 72%.

Figura 3 - Distribuição de temperatura ao longo da linha central da CTF.


5.2 Transferência de Calor por Radiação
A Fig. 4 mostra um comparativo, para os quatro casos em estudo, da interferência dos modelos espectrais, modelo
de radiação GG (sem considerar a fuligem) e o modelo WSGG (considerando a fuligem) sobre o comportamento da
chama, fazendo-se comparativo com dados da intensidade da radiação em um plano vertical ao eixo central da fornalha.
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Como esperado, observa-se que em todos os casos no modelo espectral de radiação GG a intensidade da radiação foi
aproximadamente 12% maior que no WSGG. A diferença justifica-se devido ao fato de que no modelo espectral WSGG
a absorção radiativa e a emissão a partir dos gases é caracterizada pela emissividade como função da temperatura e do
produto da pressão parcial pelo comprimento do percurso, já no modelo GG, considera-se que o coeficiente de absorção
seja independente do número de onda, podendo assumir com isso, um valor constante, aqui 0,5 m -1. Isso torna o modelo
espectral GG mais simples, porém impõe limitações, uma vez que o coeficiente de absorção experimenta grande
variação para uma espécie química, o que o faz menos preciso que o WSGG.

Figura 4 – Intensidade da radiação em um plano vertical ao eixo central da fornalha.


Os resultados do fluxo de calor radiativo na parede da CTF são mostrados na Fig. 5. Na imagem é comparado os
resultados obtidos no presente trabalho para o modelo espectral GG com o WSGG. Além disso, a fim de validar o
modelo os resultados são comparados também com dados experimentais mensurados por Smart, et al., (2010b) e com
os resultados obtidos através de simulações numéricas por Naser e Bhuiyan (2015a).

Figura 5 – Distribuição do fluxo de calor radiativo na parede da CTF.


Os resultados mostram que o fluxo de calor radiativo é significativamente afetado pela RR. É visto para esses casos,
que à medida que a RR aumenta o fluxo de calor radiativo é reduzido. A variação no fluxo de calor radiativo pode ser
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explicada com base no ambiente enriquecido em O2, ou seja, quando a concentração de O2 é aumentada, reduzindo a
RR, a radiação também aumenta, melhorando a combustão. Além do mais, a capacidade calorífica do CO 2 contribui
para as propriedades emissivas da chama, ou seja, quando a RR diminui, o calor específico do gás de combustão
também reduz (devido ao fato de o calor específico do CO 2 ser maior), resultando em uma temperatura maior, o que
amplia a intensidade da radiação no interior da fornalha. Os resultados para o fluxo de calor radiativo mostram que se
obtém uma distribuição equivalente ao Caso de Referência para uma RR de 72%.
O fluxo de calor radiativo encontrado para o modelo gás cinza foi 12%, 23%, 19%, 25% maior que o encontrado
para o WSGG, para os Casos I, II, III e IV, respectivamente. Através disso, fica evidente, para todos os casos, que o
modelo espectral WSGG obteve melhores resultados, mais próximos aos experimentais, tendo com isso maior precisão
comparado ao modelo de gás cinza, GG, fato que pode ser conferido na Tab. 2, que mostra a discrepância média entre
os resultados obtidos por Naser e Bhuiyan (2015a) e no presente trabalho para o modelo espectral de GG (GG sem
Soot) e o WSGG (WSGG com Soot) comparados aos dados experimentais mensurados por Smart, et al., (2010b).
Constata-se que a discrepância média, considerando o modelo WSGG, foi 152%, 89%, 65% e 73% menor, para os
Casos I, II, III e IV, respectivamente, do que os resultados obtidos por Naser e Bhuiyan (2015a), o que comprova a
eficácia da modelagem numérica utilizada nesse trabalho para descrever o processo de combustão estudado. Portanto, as
previsões de CFD são consideradas como fornecendo uma boa representação da transferência de calor radiativa na
fornalha.
Tabela 2 – Discrepância média dos resultados em comparação com os dados experimentais de Smart, et al., (2010b).
Naser e Bhuiyan Presente Trabalho Presente Trabalho
Caso
(2015a) GG sem Soot WSGG com Soot
Caso I – Ar 10,27% 7,94% 4,08%
Caso II – RR75% 11,00% 16,62% 5,82%
Caso III – RR72% 12,08% 14,76% 7,34%
Caso IV – RR65% 10,60% 24,52% 6,14%

6. CONCLUSÃO
Contatou-se que a mudança no ambiente de combustão causa grande impactos na estrutura da chama e na
transferência de calor radiativa para as paredes da câmara do CTF. Os resultados indicam que, para o fluxo de calor
radiativo e a distribuição de temperaturas, o Caso III apresentou distribuições semelhantes ao Caso I. O Caso IV teve a
maior temperatura de chama, assim como a maior intensidade de radiação, consequentemente, maior fluxo de calor
radiativo. Verificou-se que o modelo espectral de WSGG descreveu mais eficientemente a transferência de calor por
radiação nas paredes da fornalha, e que a discrepância média, encontrada foi 152%, 89%, 65% e 73% menor, para os
Casos I, II, III e IV, respectivamente, quando comparada aos resultados obtidos por Naser e Bhuiyan (2015a), o que
comprova a eficácia da modelagem numérica utilizada nesse trabalho para descrever o processo de combustão estudado.
7. BIBLIOGRAFIA
ANSYS, 2013. “Inc. User's guide - CFX Solver Theory”.
Cassol, F.; Brittes, R.; França, F. H. R.; Ofodike, A.; Ezekoye, A., 2014. “Application of the weighted-sum-of-gray-
gases model for media composed of arbitrary concentrations of H 2O, CO2 and soot”. International Journal of Heat
and Mass Transfer, Vol. 79, p. 796-806.
Dorigon, L. J.; Duciak, G.; Brittes, R.; Cassol, F.; Galarça, M.; França, F. H. R., 2013 “WSGG correlations based on
HITEMP2010 for computation of thermal radiation in non-isothermal, non-homogeneous H2O/CO2 mixtures”.
International Journal of Heat and Mass Transfer. Vol. 64, p. 863-873.
Naser, J.; Bhuiyan, A.A., 2015a. “Numerical modelling of oxy fuel combustion, the effect of radiative and convective
heat transfer and burnout”. Fuel. Vol. 139, p. 268–284.
Silva, C. V.; Indrusiak, M. L. S.; Beskow, A. B., 2010. “CFD analysis of the pulverized coal combustion processes in a
160 MWe tangentially-fired-boiler of a thermal power plant”. Journal of the Brazilian Soc. Mechanical Sciences. &
Eng. Vol. XXXII, n. 4, p. 328-336.
Smart, J.P.; Patel, R.; Riley, G.S., 2010b. “Oxy-fuel combustion of coal and biomass, the effect on radiative and
convective heat transfer and burnout”. Combustion and Flame. Vol. 157(12), p. 2230–40.
Ubhayakar, S. W.; Stickler, D. B.; Rosenberg J. R.; Gannon, R. E., 1976. “Rapid Devolatilization of Pulverized Coal in
Hot Combustion Gases”. Proceedings of the Combustion Institute. p. 427-436.
8. NOTA DE RESPONSABILIDADE
Os autores são os únicos responsáveis pelo material impresso neste paper.

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