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Valthermo

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA

Projeto Mabella

Análise de Combustão

19 de outubro 2009 Elaborado por : Engo Paulo Pavão


CREA : 5060117250
Combustão – parte I
A forma mais empregada para produção de calor na indústria é a combustão, definida
como a reação entre os elementos químicos de um combustível e o oxigênio.
A oxidação dos combustíveis é uma reação exotérmica, sendo a quantidade de calor
liberada função da composição química do combustível e dos produtos finais de
combustão. Observe as reações:

C+ O2 —»   CO2
Nessa reação, 1 Kg de C irá produzir 8.100 Kcal

2H2 + O2 —»  2H2O

1 Kg de H2 produzirá 34.100 kcal

S+ O2 —»  SO2
1 Kg de S produzirá 2.200 kcal

C+ ½ O2 —»  CO

1 Kg de C produzirá 2.407 Kcal

OBS: Uma queima imperfeita irá produzir o CO e o calor liberado por ele é 3,36 vezes
menor que o calor liberado por uma queima que produz o CO2. Esse caso a caldeira
irá queimar uma quantidade maior de lenha para produzir o vapor.
Os elementos que não participam da combustão se mantém inalterados.
Na combustão o objetivo é obter o máximo possível de calor. Não basta que o
rendimento calorífico atenda às necessidades requeridas, é preciso que isto seja feito
de forma econômica.
Podemos aproveitar o potencial energético do combustível através de alguns fatores
operacionais como;
- Regular a relação ar-combustível;
- Proporcionar uma velocidade de combustão adequada
- Determinar o excesso de ar para a Combustão
Conhecendo-se a composição do combustível e com base na estequiometria da
reação, consegue-se calcular o ar necessário para a queima do combustível.
O ar atmosférico fornece a quantidade de oxigênio teoricamente suficiente para a
combustão completa do combustível. Isto é conhecido como "ar teórico" ou "ar
estequiométrico".
Na prática, sabe-se que é muito difícil obter uma boa combustão apenas com o ar
estequiométrico. Se utilizarmos somente o "ar teórico", há grande probabilidade do
combustível não queimar totalmente (haverá formação de CO ao invés de CO 2) e
conseqüentemente a quantidade de calor liberada será menor.
Para se garantir a combustão completa recorre-se a uma quantidade adicional de ar
além do estequiométrico, garantindo desse modo que as moléculas de combustível
encontrem o número apropriado de moléculas de oxigênio para completar a
combustão. Essa quantidade de ar adicional utilizada é chamada de excesso de ar.
O excesso de ar proporciona uma melhor mistura entre o combustível e o oxidante,
mas deve ser criteriosamente controlado durante o processo de combustão.
Deveremos conhecer a quantidade ideal mínima possível de excesso a ser introduzida
na queima, pois o ar que não participa da combustão tende a esfriar a chama, sem
contribuir para a reação. Quanto maior o excesso de ar, maior o volume de gases nos
produtos de combustão e conseqüentemente maior a perda de calor pela chaminé,
influindo negativamente na eficiência da combustão.
Entretanto as perdas por excesso de ar aumentam em proporção muito menor que as
perdas com combustível não queimado. Assim, nos processos de combustão industrial
sempre se trabalha com excesso de ar.
A figura abaixo apresenta uma relação entre a vazão de ar para a combustão e as
perdas de calor nos gases de exaustão da caldeira. Pode-se observar, caminhando-se
da esquerda para a direita, que iremos passar por uma zona onde as perdas de
energia se dão através do combustível não queimado, para outra onde estas perdas
ocorrem por excesso de ar. Existe uma de transição entre as duas curvas (zona de
máxima eficiência de operação) onde as perdas são mínimas. A largura desta faixa de
perdas mínimas depende das particularidades da instalação, do tipo de queimador e
do combustível.

O teor de excesso de ar a ser utilizado varia de acordo com o tipo de combustível a ser
queimado e também com o equipamento de queima, sendo menor para combustíveis
gasosos e maior para combustíveis líquidos e sólidos.
- Cálculos Estequiométricos
1) Cálculo da necessidade teórica de ar
Nos cálculos estequiométricos é de grande utilidade o emprego de unidades molares.
O mol é a abreviação de molécula-grama (quantidade em gramas igual à massa
molecular da substância considerada)

Durante a combustão, a massa de cada elemento permanece a mesma.


Considere inicialmente a reação:
C+ O2 CO2
Nesta equação, 1 Kmol de carbono reage com 1 Kmol de oxigênio formando 1 Kmol
de dióxido de carbono, ou então, 12 Kg de carbono reagem com 32 Kg de oxigênio
para formar 44 Kg de dióxido de carbono:
C+ O2 CO2
1 Kmol 1 Kmol 1 Kmol

12 Kg 32 Kg 44 Kg
Logo,

1 Kg de C necessita de 2,66 Kg de O 2 (32/12)


Para os outros constituintes do combustível, teremos:
H2 + ½ O2 H20
2 Kg 16 Kg 18 Kg

Logo,
1 Kg de H2 necessita de 8 Kg de O2
S+
32 Kg

Logo, O2 SO2
1 Kg de S 32 Kg 64 Kg
necessita de 1
Kg de O2

Assim, a massa de oxigênio teórica necessária para a combustão completa do


combustível será calculada pela seguinte expressão:
mO2 = 2,66 x (%C) + 8 x (%H) + 1 x (%S) (kg O2/Kg comb.)
onde:
% C = porcentagem de carbono existente na composição do combustível;
%H2= porcentagem de hidrogênio existente na composição do combustível;
% S = porcentagem de enxofre existente na composição do combustível.
Caso existia O2 na composição do combustível, deveremos descontar essa quantidade
da massa total acima calculada. Assim:
mO2 = 2,66 (%C) + 8 (%H) + 1 (%S) - 1 (%O 2) (kg O2/Kg comb.)
onde:
%O2 = porcentagem de oxigênio existente na composição do combustível.
Na maioria dos processos de combustão, o oxigênio é fornecido pelo ar atmosférico. A
composição do ar em peso é aproximadamente: 23% de oxigênio e 77% de nitrogênio.
Logo, a quantidade teórica de ar para a combustão completa será:
moar = 11,5 (%C) + 34,8 (%H) + 4,35 (%S) – 4,35 (%O 2) (kg ar/Kg comb.)
onde:
Se temos uma mO2 = 2,66 e sabemos que isso corresponde a 23% da composição em
peso da ar, então a massa total de ar irá equivaler a:
2,66 – 23%
x – 100% x = 11,5 Kg ar
8 – 23%
x – 100% x = 34,8 Kg ar
1 – 23%
x – 100% x = 4,35 Kg ar
Obs.:
Para obter o número de moles (n) estequiométrico do ar de combustão, basta utilizar a
fórmula:
n=
Logo, teremos:
n O2 = m O2 / 32
n N2 = m N2 / 28
Logo:
nº moles ar estequiométrico = n 02 + n N2
Considerando a massa específica do ar a P = 1 atm e T = 0º C, r (ar) igual a 1,2928
Kg/m3, teremos que o volume teórico de ar para a combustão completa será:
V o ar = 8,89 (%C) + 26,9 (%H) + 3,36 (%S) - 3,36 (%O2) (m 3 ar/ Kg comb.)
Onde:
1,2928 = 11,5 / Var -> Var = 8,89
1,2928 = 34,8 / Var -> Var = 26,9
1,2928 = 4,35 / Var -> Var = 3,36
Como este volume se refere a condições de P = 1atm e T = 0ºC (273 K), devemos
convertê-lo para condições de trabalho normais utilizando a seguinte expressão:
Nesses cálculos não será levado em conta a formação de CO, uma vez que a priori,
não se pode determinar quanto de carbono irá formar CO 2 e quanto irá formar CO.
Também admite-se que o nitrogênio não participe da reação.
Caso não se disponha da composição elementar exata do combustível usado em
determinado processo de queima, poderão ser utilizados os valores médios abaixo
mostrados:

Exemplo composição média de %C %H2 %S %O2 %N2


um combustível

Lenha 47-52 6-9 - 40-44 -

Óleo combustível 83-87 11-16 Até 5 Até 7

Gás natural 73-77 23-26 - 1,5-2 1-2

Bagaço cana 46-47 6-7 - 43-45

2) Cálculo da necessidade real de ar


Como dito anteriormente para conseguirmos uma queima completa do combustível há
necessidade de se introduzir um excesso de ar.

Combustível Excesso ar utilizado - a (%)

Lenha 40 – 50

Óleo combustível 15 – 20

Gás natural 5 -10

Logo, a massa e volume reais de ar a ser introduzida para queima do combustível


será:
m ar = m o ar . a (Kg ar / Kg comb.)
V ar = V o ar . a (m3 ar / Kg comb.)
Pode-se também considerar a água presente no ar e para isso devemos fazer uso de
uma carta psicrométrica, onde dependendo da umidade relativa do ar encontraremos a
quantidade de água presente no ar:
mtotal ar = mar + (mar . x)
onde:
x = quantidade de água no ar (kg água/kg ar seco) de acordo com a umidade relativa
COMBUSTÃO - Parte II - Avaliação da Combustão
Para obtermos uma alta eficiência da combustão será muito importante minimizar as
perdas de calor. Um dos meios de se controlar a combustão é através da análise dos
gases da chaminé, utilizando-se aparelhos medidores de :
- Porcentual de CO2
- Porcentual de O2
- Porcentual de CO
- Temperatura dos gases da chaminé
- Quantidade de fuligem
- Tiragem

1) Teores de CO2 e O2 


Para termos poucas perdas de calor, o teor de CO 2 deve ser alto. Mas nem sempre um
teor de CO2 alto significa bom rendimento, portanto o ideal é fazer a análise do
percentual de um outro gás.
Devemos também analisar a característica da cor da fumaça da chaminé e da chama.
Após a obtenção dos valores medidos devemos compará-los com os considerados
ideais e proceder as conclusões. 

Combustível Teor CO2 (%) Teor O2 (%)


Óleo combustível 13-14 3-3,5
Lenha 12-13 6-7
Gás Natural 10,5-11 1-2
  
Valores baixos de CO2 significam:
1. Excesso exagerado de ar no processo de combustão
2. Atomização imperfeita
3. Tiragem excessiva
4. Entrada falsa de ar na fornalha.  

A avaliação da combustão também pode ser feita através da diferenciação da


coloração da chama e da fumaça da chaminé. Apesar de não ser um controle muito
preciso e que apresenta variações nas colorações dependendo do tipo de combustível
queimado ele poderá fornecer indicações do tipo de queima apresentada. De um
modo geral essas colorações são as seguintes:
  Óleo combustível Gás natural
Fumaça Chama Fumaça Chama
Ideal Leve névoa Laranja- Azulada, Azul celeste
cinza clara amarelada quase
invisível
Excesso exagerado ar Branca, Amarela- Branca Azul clara
volumosa brilhante
Falta ar Escura, Amarela Escura, Azul-
preta avermelhada preta amarelada
  
2) Fuligem  
Outro indicador utilizado para avaliar a combustão é a medição do índice de fuligem.
Fuligem são partículas de combustível não completamente queimadas nos gases de
exaustão. 
A presença da fuligem acumulada em superfícies de troca de calor diminui a troca
térmica e provoca o aumento no consumo de combustível, além de aumentar a
poluição do ar quando descarregada pela chaminé. 
O método mais empregado para verificar a quantidade de fuligem em uma combustão
é através do “Teste de Fumaça” ou “Smoke Test” onde se utiliza uma bomba de
amostragem para captar uma amostra gasosa que irá atravessar um papel filtro que
posteriormente será comparado com uma escala padrão. 
A escala de comparação do índice de fuligem possui 10 manchas (que correspondem
ao nível de material particulado), indo do branco (excesso de ar) ao negro (falta de ar).
Esse método é padronizado pelas normas ASTM e DIN para controle da combustão de
óleos combustíveis e carvões. O índice de fuligem não deve ultrapassar a 3. 
Uma fuligem excessiva pode ter como causas:
1. Atomização imperfeita
2. Combustível em excesso
3. Tiragem insuficiente
4. Exaustor inadequado
5. Defeitos na fornalha
 
  3) Temperatura dos Gases da Chaminé 
A fim de obtermos informação sobre a forma pela qual a transferência de calor se
processa no interior de um equipamento térmico, medimos a temperatura dos gases
na chaminé com um termômetro situado em sua base.
Temperaturas muito altas são indicativas de perdas de calor e combustível

1. Queimador super dimensionado


2. Superfície de calor suja ou sub dimensionadas
3. Tiragem excessiva
4. Fornalha pequena e inadequada
Procedimentos para determinar a eficiência de combustão
1. Medir a temperatura dos gases de queima através de um orifício feito o mais
próximo possível da câmara de combustão.
2. Medir a temperatura ambiente da área próxima a tomada do ar de combustão
3. Medir o volume porcentual de CO e O2 a fim de calcular o porcentual de CO2
nos gases de queima.
4. Calcular o porcentual de perda e rendimento da combustão
5. Medir o excesso de ar

Análise de gás na caldeira 1 - lenha


Resultado da análise: Ideal
O2 9% 6%
CO2 19,1% 13%
Exc. Ar 85% 50%
Temp. gás 235 oC 170 oC
Temp. amb. 34,5 oC
CO 12 ppm
Pressão -8 mm H2O

A caldeira está com uma tiragem alta para suprir sua deficiência de troca térmica,
podemos observar pela temperatura de saída da chanimé, porém o índice de emissão
de CO é muito o que significa que está com um rendimento bom e não está poluindo.

Análise de gás na caldeira 2


Resultado da análise: Ideal
O2 4,7% 1,5%
CO2 9,1% 10%
Exc. Ar 25% 15%
Temp. gás 204 oC 170 oC
Temp. amb. 33,3 oC
CO 0 ppm
Rendimento 90%

OBS: O alto índice de O2 é dado pela característica da caldeira, que precisa de uma
tiragem forçada para obter rendimento, porém a emissão de CO foi 0 ppm ou seja a
caldeira não está poluindo.

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