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FICHAMENTO

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em Língua Materna: A Sociolinguística na sala de


aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004

De: Patrícia de Fátima Souza Costa

“Por uma Sociolinguística militante (Marcos Bagno)

“(...) a autora tenta conscientizar o leitor de que, em todo esse caos, estamos diante de diferenças e não de
‘erros’. A noção de erro nada tem de linguística – é um (pseudo) conceito estritamente sociocultural,
decorrente dos critérios de avaliação (isto é, dos preconceitos) que os cidadãos pertencentes à minoria
privilegiada lançam sobre todas as outras classes sociais.” (p. 8) O PRECONCEITO SOCIAL EMBUTIDO
NA IDEOLOGIA NORMATIVO-PRESCRITIVA

“ (...) Bortoni-Ricardo é a proposta de um instrumental de análise das variedades linguísticas brasileiras


composto por três contínuos: o contínuo rural-urbano, o contínuo de oralidade-letramento e o contínuo de
monitoração estilística.” (p. 9)

Cap. 1: A sociedade brasileira: características sociolinguísticas

(Objetivo: identificar as principais características sociolinguísticas da sociedade brasileira e suas implicações


para a educação.)

Texto: Rememórias Dois (Carmo Bernardes: escritor regionalista)

“Outras, além de pertencerem ao léxico regional, também são arcaicas, isto é, já não são preservadas com
frequência, tendo sido preservadas na cultura de grupos sociais mais isolados, como é o como é o caso das
comunidades rurais.” (p. 15)

O equívoco censitário ao considerar o que é urbano e rural.

A autora trata dos índices relativos ao espaço em que se concentra maior número de analfabetismo: em
comunidades rurais. (p. 20)

Proposta de atividade dada pela autora: Descobrir quais grupos sociais mais sofrem com a falta de
escolarização: na variável localização (rural – urbano) ou variável gênero (homem-mulher). (p. 20)

“(...) Em 1958 a UNESCO definia como analfabeto um indivíduo que não sabe ler ou escrever algo simples.
Duas décadas depois substituiu esse conceito pelo de analfabeto funcional, que é um indivíduo que, mesmo
sabendo ler e escrever frases simples, não possui as habilidades necessárias para satisfazer as demandas do
seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente.” (p. 21)

Cap. 2: Diversidade Linguística e pluralidade cultural no Brasil

(Objetivo: facilitar conscientização sobre variação linguística)


“Esses são os três ambientes onde uma criança começa a desenvolver o seu processo de sociabilização: a
família, os amigos e a escola. Podemos chamar esses ambientes, usando uma terminologia que vem da
tradição sociológica, de domínios sociais.

Um domínio social é um espaço físico onde as pessoas interagem assumindo certos papéis sociais. Os papéis
sociais são um conjunto de obrigações e de direitos definidos por normas socioculturais (...) no processo de
interação humana. Quando usamos a linguagem para nos comunicar, também estamos construindo e
reforçando papéis sociais próprios de cada domínio.” (p. 23)

A criação de “grande temor e insegurança sociolinguística” pelo ensino tradicional da gramática prescritiva.
(p. 24)

“Vamos nos deter na variação que se observa na escola. Para começar, há as diferenças relacionadas aos
papéis sociais: professores, diretores, coordenadores etc. desempenham função de autoridade que lhes
confere direitos especiais e também obrigações: entre elas a de usar uma linguagem mais cuidadosa – que
podemos chamar também de monitorada (...)” (p. 25-26)

Proposta de atividade: pedir a alguém que assistam á aula (sua) e anotar os momentos em que o grau de
monitoração linguística (estilística) varia e isso pode ser um “recurso espontâneo para obter um melhor
relacionamento com seus alunos” (p. 26-27)

Recurso comunicativo: conhecimento (letramento) sobre estrutura da língua, esforço de monitoração que os
falantes empreendem, quando precisam.

“(...) o grau de monitoração que um falante pode conferir a sua fala vai depender dos recursos comunicativos
que ele já adquiriu, no contato com a língua escrita e com eventos monitorados de linguagem oral.” (p. 29)

Proposta de atividade: realizar pequeno censo na escola indicando origem geográfica dos funcionários,
professores e alunos ligados à escola. (p. 32)

“Será que existe algum estado brasileiro que use melhor a língua portuguesa?” (p. 33)

“Toda variedade regional ou falar é, antes de tudo, um instrumento identitário, isto é, um recurso que confere
identidade a um grupo social.” (p. 33)

“Em toda comunidade de fala onde convivem falantes de diversas variedades regionais, como é o caso das
grandes metrópoles brasileiras, os falantes que são detentores de maior poder – e por isso gozam de mais
prestígio – transferem esse prestígio para a variedade linguística que falam. Assim, as variedades faladas
pelos grupos de maior prestígio político e econômico passam a ser vistas como variedades mais bonitas e até
mais corretas.” (p. 34)

“(...) até 1960, a capital do Brasil se situava no litoral: primeiro Salvador, desde o início da colonização, e
depois Rio de Janeiro, no período de 1763 até a fundação de Brasília em 1960. É natural que a cidade sede do
governo tenha mais poder político e prestígio, e esse prestígio, como vimos, acaba por se transferir ao dialeto
da região.” (p. 34)

Cap. 3: A variação linguística em sala de aula

(Objetivo: refletir sobre a variação linguística no repertório dos professores e dos alunos de ensino
fundamental.)

Os professores não sabem como trabalhar os “erros de português”.

Padrões na conduta do professor:

“. O professor identifica erros de leitura, isto é, erros na decodificação do material que está sendo lido, mas
não faz distinção entre diferenças dialetais e erros de decodificação na leitura, tratando-os todos da mesma
forma;
. o professor não percebe o uso de regras não padrão (...) ou o professor não está atento ou o professor não
identifica naquela regra uma transgressão porque ele próprio a tem em seu repertório. A regra é, pois,
invisível para ele;
. o professor percebe o uso de regras não padrão e prefere não intervir para não constranger o aluno;
. o professor percebe o uso de regras não padrão, não intervém, e apresenta, logo em seguida, o modelo da
variedade não padrão.” (p. 42)

“Da perspectiva de uma pedagogia puramente sensível aos saberes dos alunos, podemos dizer que, diante da
realização de uma regra não padrão pelo aluno, a estratégia da professora deve incluir dois componentes: a
identificação da diferença e a conscientização da diferença. (...) É preciso conscientizar o aluno quanto às
diferenças para que ele possa monitorar seu próprio estilo, mas essa conscientização tem de dar-se sem
prejuízo do processo de ensino/aprendizagem, isto é, sem causar interrupções inoportunas.” (p. 42) (VER
EXEMPLO DO LIVRO p. 43)

(1) P- Reinaldo + por que você não vei ontem?

(2) A – Num deu tempo.

(3) P – Num deu tempo por quê?

(4) A- Tava trabaianu.

(5) P – O Reinaldo estava trabalhando ontem e por isso não veio à aula . Vejam esta palavrinha,
“trabalhando”. Ela é uma daquelas palavrinhas que podemos usar de dois jeitos. Quando falamos com
nossos amigos, podemos dizer “trabaianu”; quando falamos com pessoas que não conhecemos bem,
empregamos a palavrinha como escrevemos, assim: “trabalhando”. Peguem o seu caderno e vamos
escrever uma frase que começa assim: “Ontem eu estava trabalhando..."

Cap. 4: A comunidade de fala brasileira


(Objetivo: levar o aluno a aprofundar sua conscientização sobre a variação linguística e a educação de língua
materna.)

“(...) qualquer comunidade, seja pequena, como um distrito semirrural pertencente a um município, ou
grande, como uma capital, um estado ou um país, sempre apresentará variação linguística, que decorre de
vários fatores como:” (p. 47)

- Grupos Etários: diferenças linguísticas intergeracionais (um neto e um avô). “No vocabulário dos campos
semânticos relacionados a sexo e excreção, que geralmente contêm muitas palavras tabu, encontramos
palavras que variam ao longo de gerações.” (p. 47)
Senhora em estado interessante, incomodada ou com regras.
- Gênero: Diferenças entre homens e mulheres. “No caso dos marcadores que são mais usados pelas
mulheres, eles têm principalmente a função de obter aquiescência e concordância do interlocutor.” (p.
47).Mas a autora alerta para as mudanças que também acontecem em decorrências de papéis sociais
assumidos em diversos domínios sociais.

- Status socioeconômico: “(...) representam desigualdades na distribuição de bens materiais e de bens


culturais o que se reflete em diferenças sociolinguísticas.” (p. 48) Exclusão digital: quem tem acesso tem
status.

- Grau de escolarização: os anos em que frequentou e a qualidade das escolas.

- Mercado de Trabalho: as atividades profissionais representam fator condicionar para monitoração


linguística.

-Rede social: adotamos comportamentos semelhantes ao das pessoas com quem convivemos em nossa rede
social.
Cap. 5: O português brasileiro

(Objetivo: sistematizar as informações sobre a variação linguística no Brasil)

A autora propõe essa reflexão a partir de contínuos: contínuo de urbanização, contínuo de oralidade-
letramento, contínuo de monitoração estilística.

I - Contínuo de urbanização: estão presentes neste contínuo a monitoração linguística que advém de um
processo sócio-históricos. As comunidades urbanas sofrem influência mais latente de agências
padronizadoras da língua como a imprensa, as obras literárias e, principalmente, a escola, desenvolvimento
de comércios, instalação de indústrias, segmentos religiosos etc. Não há aqui fronteiras rígidas que separem
os falares urbanos e rurais, elas são fluidas, por isso contínuo.
Atividade proposta: Pedir a alguém que se mudou de uma comunidade rural que escreva ou fale sua
autobiografia focalizando a transição rural-urbano.
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Variedades rurais isoladas área rurbana variedades urbanas padronizadas

Quadro de exemplos: a autora marca as variedades comuns entre rural e urbano e a mais específica do rural.
Exemplos de variedades (explicação sobre variação)
- Formações analógicas: acontece na conjugação de verbos em que falante tenta imitar a conjugação de um
outro verbo (regular/irregular). Ponhei (como em cantei,falei usando como base a primeira pessoa, ponho.
Então se segue a conjugação como em verbos regulares).
- L pós vocálico, tendência a muda-lo pelo R. Sol = sor; altura = artura.
- Redução dos ditongos em sílabas átona pretônicas: deixei = dexei; limoeiro = limoero. Isso não
acontece, por exemplo, em sílabas tônicas como em cantei, contudo este é um caso de cantou = cantô; falou
= falô.
- Variação Sintática: uso do pronome relativo acompanhado de preposição. Esta é a casa em que moro
(padrão escrita); Esta é a casa que moro; Esta é a casa que eu moro nela (duas últimas variantes não
padrão)
- Exemplos de rotacismo: redução do plural em sintagmas nominais.

II - O contínuo de oralidade-letramento: letramento- eventos mediados pela língua escrita (evento religioso,
palestra); oralidade – conversa de bar, contudo se começarem a declamar uma poesia é um evento de
letramento.
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Oralidade letramento
III- O contínuo de monitoração estilística: desde interações totalmente espontâneas até as previamente
planejadas e que exigem muita atenção do falante.
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- monitoração + monitoração
Fatores que levam à monitoração do estilo: o ambiente, o interlocutor, o tópico da conversa.

Capítulo 6: Competência comunicativa

(Objetivo: introduzir os conceitos de competência linguística e competência comunicativa e suas implicações


para a comunicação.)

A autora relembra os conceitos trabalhados por Sausurre (propôs distinção entre língua e fala, em que a
língua é um sistema abstrato, partilhado por uma comunidade de falantes, que ganha realidade concreta na
fala. E sobre os conceitos de Noam Chomsky (retomou distinção entre fala e língua propondo dicotomia
entre competência – língua - e desempenho – fala.) “De com a teoria desenvolvida por Chomsky, conhecida
como gramática gerativa, a competência consiste no conhecimento que o falante tem de um conjunto de
regras que lhe permite produzir e compreender um número infinito de sentenças, reconhecendo aquelas que
são bem formadas de acordo com o sistema de regras da língua.” (p. 71)

Ex.: “Aí num vô percisá mais mi percupá cocê, né, limoero?” (Ela é bem formada de acordo com Chomsky
visto que foi produzida por um falante nativo). Já um estrangeiro pode não ter esta competência ou por
crianças que ainda estão formando a competência linguística “Os homens cheguei com eles amanhã”.
Reformulações na teoria de Chomsky: “(...) o sociolinguista norte-americano Dell Hymes, em 1966. Para
Hymes, o maior problema com o conceito de competência linguística reside no fato de que esse conceito não
dá conta das questões de variação da língua, seja essa variação interindividual- entre pessoas –, ou
intraindividual – no repertório de uma mesma pessoa (...) então propôs um novo conceito – o de
competências comunicativa que é bastante amplo para incluir não só as regras que presidem à formação das
sentenças, mas também as normas sociais e culturais que definem a adequação da fala.” (p. 73)

“(...) a competência comunicativa de um falante lhe permite saber o que falar e como falar com quaisquer
interlocutores em qualquer circunstâncias.” (p. 73)

Ex.: Gerente – Gerência do Banco XXX. Em que posso ajudá-lo?


Cliente – Estou interessado em financiamento para compra de veículo. Gostaria de saber quais as
modalidades de crédito que o banco oferece.
Gerente- Nós dispomos de várias modalidades. O senhor é nosso cliente? Com quem eu estou falando, por
favor?
Cliente – Eu sou o Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.
Gerente – Julinho, é você cara? Aqui é Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você ainda estivesse na
agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversa com calma. E vamu vê seu financiamento.”
(BORTONI-RICARDO, p . 74)

Cap. 7: A variação linguística no português brasileiro

(Objetivo: sistematizar informações sobre regras de variação na fonologia e morfossintaxe.)

“As principais regras fonológicas de variação no português brasileiro ocorrem na posição pós-vocálica na
sílaba.” (p. 79)

“(...) a vogal é núcleo silábico. A vogal silábica pode ser precedida e seguida de consoantes. É justamente a
consoante que segue o núcleo silábico – posição chamada pós vocálica o de travamento da sílaba – que está
sujeita a grande incidência de variação.”

Os diferentes sons da vogais: nasais e orais.

Pronúncia das vogais átonas.

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