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18 28 E LIZ A BET H CA ROL I N E GR EY

O Conde
Esqueleto

E S P E C IA L
D IA D A S
B R U X AS !

1
DAS

BY E D ITO R A WIS H

Tradução:
Karen Alvares

Preparação:
Karine Ribeiro
Revisão:
Pedro Poeira
Capa e projeto gráfico:
Marina Avila

Ilustração de capa:
Ana Milani

2023 ISBN
Copyright 2023 Editora Wish. Este material possui direitos
de tradução e publicação e, ao não divulgá-lo sem prévia
autorização da editora, você está nos ajudando a continuar
publicando raridades para os leitores. Agradecemos por isso.

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82
UMA RELÍQUIA DE

4
Sinopse
Um estremecimento perpassou
o corpo dele contra sua vontade
ao notar os olhos do cadáver se
abrirem devagar, e as pupilas
escuras e dilatadas o encararem
com um olhar estranho e
impassível.

Determinado a viver para sempre,


Conde Rodolph faz um pacto
com o demônio. Não plenamente
satisfeito com o começo de sua
nova existência, o conde passa dia
após dia estudando a origem da

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matéria e da natureza da alma.
Até que decide colocar em prática
as suas teorias de trazer uma bela
jovem de volta à vida.

O Conde Esqueleto: ou a Amante


Vampira é uma controversa
história cuja própria publicação
é envolta de mistério e polêmica,
e chega com exclusividade
na Sociedade das Relíquias
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18 28 E LIZ A BET H CA ROL I N E GR EY

O Conde
Esqueleto
O
conde Rodolph, após selar
um pacto herege com o
príncipe das trevas, cessou
seus estudos de alquimia, ou a busca
pelo elixir da vida, pois não apenas
lhe fora assegurado pelo demônio
o começo de uma nova existência,
como também as autoridades decla-
raram que tais pesquisas eram vãs e
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ilusórias. Contudo, ainda explorava o
ocultismo nas ciências da magia e da
astrologia, e com frequência passava
dia após dia em infrutíferas especu-
lações a respeito da origem da maté-
ria e da natureza da alma. Estudava
os escritos de Aristóteles, Plínio,
Lucrécio, Josefo, Jâmblico, Sprenger,
Cardano e o erudito Miguel Pselo; no
entanto, estava mais distante do que
nunca de alcançar um conhecimento
satisfatório dos fatos que buscava
desvendar acerca dos mistérios que
os envolviam. Os devaneios dos an-
tigos filósofos, dos gnósticos e dos
pneumologistas serviram apenas
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para afundá-lo em dúvidas ainda
mais profundas e, depois de muito
tempo, decidiu passar das especula-
ções aos experimentos e colocar em
prática suas teorias formuladas em
parte.
Após ávidos estudos da ana-
tomia do corpo humano e muitas
operações e experimentos em cadá-
veres de malfeitores que foram en-
forcados por roubo ou assassinato,
os quais havia furtado da forca na
calada da noite e transportado até
o Castelo Ravensburg com o auxílio
de dois miseráveis que aliciara em
11
uma estalagem obscura na cidade
de Heidelberg, decidiu exumar o ca-
dáver de alguém recém-falecido e
tentar reanimá-lo. A fórmula dos ne-
cromantes para ressuscitar os mor-
tos não era suficiente para promover
a restauração da vida, mas apenas
uma revivificação temporária; con-
tudo, em um antigo manuscrito
grego, o qual encontrara na biblioteca
do castelo, havia um relato de como
esta animação restaurada poderia
ser mantida por meio de um líquido
miraculoso, para cuja destilação lhe
fora dada uma receita.
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À meia-noite, o conde Rodolph
reuniu as ervas que o manuscrito
grego prescrevera e delas destilou
um líquido de um tom pálido de dou-
rado e bem pouco sabor, mas de um
odor fragrante, que preservou em
um frasco. Ao descobrir que a filha de
um camponês, uma jovem de beleza
singular de cerca de dezesseis anos
de idade, morrera de repente e seria
sepultada no dia seguinte àquele
em que havia preparado seu esplên-
dido elixir restaurador, o conde par-
tiu naquele mesmo dia em direção
a Heidelberg, a fim de obter a ajuda
dos mesmos sujeitos que o haviam
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auxiliado na remoção do cadáver do
malfeitor da forca, e então retornou
ao Castelo de Ravensburg com o in-
tuito de se preparar para seu peculiar
experimento.
No solene horário da meia-noite,
partiu em segredo do castelo, valen-
do-se de uma porta na torre leste,
cuja chave manteve em sua posse,
e dobrou o passo em direção ao ce-
mitério que ficava na igreja da vila,
nos arredores. Era uma bela noite de
luar, porém todos os simplórios ha-
bitantes encontravam-se nos braços
de Morfeu, o deus do sono de olhos
14
plúmbeos, portanto, o violador da
santidade do túmulo adentrou o
cemitério despercebido. Encontrou
seus associados contratados espe-
rando por ele, ocultos sob as sombras
do muro, o qual foi escalado com fa-
cilidade, providos de pás e um saco
para guardar o corpo. Começaram a
trabalhar de imediato. A terra fresca
revolvida logo foi atirada para longe
da tampa do caixão, a qual fora re-
movida pelos ressurreicionistas por
meio de uma chave de fenda, e então
o cadáver da falecida revelou-se para
eles.
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O corpo da jovem moça foi erguido
de seu estreito local de descanso e
elevado nos braços dos sujeitos mise-
ráveis e profanos que Rodolph havia
contratado. Eles depositaram a car-
caça inanimada à beira do túmulo,
o qual rapidamente preencheram, e
então passaram a colocar no saco os
restos mortais da bela jovem cam-
ponesa. Tendo removido cada traço
do roubo profanador que haviam co-
metido, um deles colocou o saco nos
ombros e, quando se cansou, o cama-
rada aliviou seu fardo, e dessa forma
alcançaram o castelo.
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O conde Rodolph os conduziu pe-
las escadas estreitas que levavam à câ-
mara de estudos, localizada na torre
leste, e, após depositarem o corpo no
chão, receberam o pagamento esti-
pulado, e os dois ressurreicionistas
ficaram satisfeitos em sair depressa
daquele lugar que, segundo rumores
que circulavam entre o povo, come-
çava a ser associado com atos som-
brios e horrendos.
Após acender uma lamparina, que
lançou uma luz fraca e tremeluzente
nos inúmeros objetos estranhos e
misteriosos contidos na câmara e fez
17
o semblante pálido do cadáver pare-
cer ainda mais horrendo e medonho,
o conde Rodolph prosseguiu para o
ato de despir o corpo das vestes com
as quais a jovem fora sepultada, que
guardou com cuidado, com receio
de que a visão delas, quando a moça
retornasse à vida, pudessem atin-
gi-la com repentino horror, o qual
poderia se provar desastroso para o
completo sucesso do experimento
audacioso do conde. Então, depositou
o corpo no centro do círculo mágico
previamente desenhado por ele no
chão para o estudo e cobriu-o com
um lençol. Havia comprado algumas
18
vestimentas femininas pré-fabrica-
das na cidade de Heidelberg e colo-
cou-as na mesa, prontas para o uso
da jovem que esperava ressuscitar.
Bertha havia sido, como eviden-
ciado por seus rígidos e frios restos
mortais, uma jovem de incompará-
vel simetria na silhueta e de beleza
ímpar no semblante; nenhum pintor
ou escultor poderia almejar melhor
modelo, nenhum poeta, musa mais
inspiradora. Deitada ali, no chão,
parecia uma bela escultura em ala-
bastro ou ainda uma estátua de cera
da maior inventividade artística. Os
19
cabelos compridos e escuros tinham
um brilho roxo tal qual a plumagem
do corvo, e suas feições eram da mais
extraordinária proporção e disposi-
ção. Agora, contudo, seu semblante
angelical era lívido com a tonalidade
pálida da morte, a marca pesada de
sua mão gélida visível em cada traço.
O conde Rodolph tomou em suas
mãos uma varinha mágica, cuja
ponta posicionou sobre o peito do ca-
dáver, e então passou a recitar as pala-
vras cabalísticas que os necromantes
usavam para chamar à vida os inqui-
linos adormecidos das sepulturas.
20
Quando concluiu o rito profano, um
silêncio medonho reinava na torre, e
notou que os lençóis eram agitados
de leve por um tremor dos membros,
o que sinalizava o retorno dos movi-
mentos. Então, um estremecimento
perpassou o corpo dele contra sua
vontade ao notar os olhos do cadáver
se abrirem devagar, e as pupilas escu-
ras e dilatadas o encararem com um
olhar estranho e impassível.
Em seguida, os membros se me-
xeram, primeiro de maneira convul-
siva, mas logo em um movimento
mais natural e forte, e então a jovem
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ergueu o corpo a fim de se sentar no
chão da câmara, observando ao re-
dor com agitação e estranhamento,
o que fez Rodolph temer que o objeto
de seu experimento se provasse uma
tola deplorável ou uma lunática deli-
rante.
Porém, de súbito, pensou no xa-
rope restaurador e, agarrando o frasco
da prateleira, verteu na garganta da
moça ressuscitada uma quantidade
expressiva do líquido dourado e fra-
grante ali contido. Em seguida, uma
centelha daquela gloriosa inteligên-
cia que aproxima humanos de anjos
22
pareceu infundir-se na mente dela e
irradiar dos olhos escuros e brilhan-
tes, que pousaram com suavidade
e ternura no belo semblante do jo-
vem conde. Os seios alvos, revelados
após o lençol que os cobrira ter caído
quando ela se erguera de seu estado
reclinado no chão onde jazia, subiam
e desciam com o retorno da vida re-
novada, e o conde de Ravensburg fi-
tou-a com uma mistura de espanto e
deleite.
À medida que o sopro de vida foi
restaurado e passou a correr pelas
veias dela em um formigamento
23
quente, um enrubescimento de re-
cato instintivo cobriu seu semblante
e, puxando o lençol por sobre os seios,
ficou de pé, com o cabelo preto e com-
prido sobre os ombros e os olhos es-
curos fixos no chão. O conde Rodolph
então chamou a atenção dela para
as vestimentas que havia providen-
ciado, entusiasmado por conta do
completo sucesso do ousado expe-
rimento, e então retirou-se do local
enquanto o adorável objeto de seus
cuidados científicos se vestia.
Quando o conde de Ravensburg
retornou à câmara de estudos, Bertha
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estava sentada diante do fogo, en-
volvida nas vestes que havia provi-
denciado para ela, e ele pensou que
jamais contemplara um espécime
mais belo do sexo feminino. Ela le-
vantou-se quando o conde entrou e
beijou a mão dele, como se ele fosse
uma entidade superior, e teria perma-
necido de pé, com a cabeça curvada
sobre os seios, como se na presença
de um ser de outro mundo, se ele não
a tivesse gentilmente forçado a vol-
tar a sentar-se no mesmo assento e
indagado com ternura a respeito de
seus sentimentos ao retornar à vida
de maneira tão peculiar e magnífica.
25
No entanto, descobriu que ela não
guardava memória alguma de sua
existência prévia e que todos seus
sentimentos eram novos e estranhos,
como os de Eva ao irromper para a
vida consciente partindo das mãos
do Todo-Poderoso. Em sua misteriosa
passagem da vida para a morte e da
morte para a vida, havia perdido to-
das as suas ideias e convicções an-
teriores, todas as experiências do
passado, tudo o que adquirira de co-
nhecimento, tornando-se uma filha
da natureza, simplória e singela tal
qual uma habitante da floresta, com a
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percepção aguçada e os instintos não
treinados de selvageria ignorante.
A jovem havia trançado as ma-
deixas esvoaçantes, de um tom tão
escuro no qual era possível se per-
der, e nas bochechas residia uma cor
capaz de testar a habilidade de um
pintor, tão rica e delicada em seu ma-
tiz tal qual o tom de rosa de alguma
concha rara e exótica ou de uma flor
que desabrochara em uma coluna de
alabastro. O jovem conde sentiu-se
atraído pela moça de maneira irresis-
tível, a quem sua ciência havia dotado
com tão misteriosa e sobrenatural
27
existência, e ela, por sua vez, fitou o
belo Rodolph com uma paixão sel-
vagem, embora ainda terna, de uma
fragilidade inerente à humanidade,
misturada com a gratidão e a devo-
ção que julgava adequadas a quem
estava na posição de seu criador.
Assim, os sentimentos em rela-
ção ao único ser do qual tinha algum
conhecimento afloraram depressa
no coração dela, partilhados de uma
natureza de devoção religiosa, em-
bora ainda misturados a sentimen-
tos mais mundanos, como aqueles
que se agitavam nos seios virginais
28
daqueles que fundaram Roma, ou na
virgem de Shen-si, que fora escolhida
entre todas as mulheres do império
celestial para tornar-se a mãe da en-
carnação de Foh.
— És gloriosamente bela, minha
Bertha! — exclamou o conde enamo-
rado, tomando-a nos braços. — Dize
que serás minha, e farás de mim o
mais feliz servo; pois deves ser tão
amorosa quanto és adorável, graciosa
filha do mistério!
— Amo-te! — respondeu Bertha,
com uma expressão suave e terna
residindo nas profundezas claras de
29
seus olhos escuros. — Adoro-te, meu
criador; minha alma rende-se diante
de ti, contudo, meu coração dá um
salto ao teu olhar, embora tema ser
presunção do trabalho de tuas mãos
fitar-te com olhos de amor.
— Doce e ingênua criatura! —
redarguiu o conde de Ravensburg,
beijando os lábios de tom coral e as
bochechas reluzentes dela. — Sou eu
quem deveria devotar-me a ti! Serás
minha, Bertha, agora e para sempre.
Doravante, viverei apenas em nome
de teu sorriso!
— Pa ra sempre! Deverei
30
permanecer contigo para sempre?
Ah, que alegria incomparável. O ídolo
de meu coração, adoro-te!
E a formosa Bertha envolveu seus
braços alvos ao redor do pescoço do
conde, pressionando os lábios contra
os dele, pois, na sua nova existência,
agora desfrutava de seus sentimen-
tos sem restrições e cedia a cada im-
pulso de sua natureza ardente.
— Vem, minha Bertha — disse o
extasiado Rodolph —, esta torre so-
litária não deve ser teu mundo; vem
comigo, teu Rodolph, e torna-te a se-
nhora do Castelo de Ravensburg, tal
31
qual já és dona do coração do senhor
do castelo.

Passando o braço ao redor da


cintura fina da jovem misteriosa,
Rodolph pegou o lampião e, deixando
a torre leste, os dois seguiram a passos
silenciosos em direção aos aposentos
do conde, onde o primeiro brilho leve
e avermelhado do dia testemunhou
a consumação dos desejos do casal, e
tampouco a tocha de Himeneu1 ardeu
1 Himeneu é o deus grego e romano do casamento, filho
de Apolo e Afrodite. Se sua tocha arder com uma cha-
ma nítida e clara, é sinal de felicidade no casamento, e o
contrário, se a tocha arder com uma chama esfumaçada.
[Nota da Tradutora, ou N.T.]

32
com menos fervor por nenhum padre
haver abençoado o leito de núpcias.
A presença da jovem no Castelo
de Ravensburg, que Rodolph, com
o usual desprezo pela opinião do
mundo que pontuava seus atos, não
se preocupou em esconder, tornou-se
o tema estimulante das conversas no
refeitório dos lacaios durante o dia
e, como Rodolph jamais se deixara
levar por intrigas de qualquer espé-
cie, seja das jovens camponesas da
vila nos arredores ou as cortesãs de
Heidelburg, a circunstância pareceu
menos memorável. Porém, a graciosa
33
Bertha parecia bastante alheia à na-
tureza ambígua de sua situação com
o jovem conde, e embora sua visão da
condição humana se tornasse cada
vez maior à medida que aumentava a
esfera de sua existência, ainda enxer-
gava Rodolph como um ser de caráter
superior.
Quando a noite mais uma vez
derramou seu manto sobre a terra
adormecida, Rodolph e a misteriosa
Bertha procuraram seu leito, e jamais
a lua inconstante brilhara acima
de um par que combinava tanto no
quesito beleza física ou, talvez seja
34
possível acrescentar, no que diz res-
peito ao estranho destino dos dois
— um munido de poderes da mente
quase sobre-humanos, ainda que em
poucos dias viesse a sofrer tão horrí-
vel transformação e ser separado dos
mortais comuns por aquele estranho
destino; a outra dotada de beleza tão
singular, mas condenada à terrível
existência de alguém que ultrapas-
sara os limites da sepultura e retor-
nara à vida!
Com um badalar sonoro e solene
do sino do castelo, o relógio procla-
mou a meia-noite, e então Bertha
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ergueu-se devagar do corpo de seu
amante e, deslizando da cama, vestiu-
-se em um estado de semiconsciência
e deixou o cômodo em silêncio.
Sua face encontrava-se pálida, e
os olhos tinham o mesmo olhar fixo,
selvagem e impassível que Rodolph
havia observado quando ela desper-
tara de seu repouso no túmulo. Ela
deixou o castelo e, após observar ao
redor de si, como se incerta de para
onde ir, seguiu em direção à vila.
Ela parou defronte à casa mais
próxima e então avançou contra a ja-
nela, agitando as venezianas; o fecho
36
não se encontrava seguro, portanto,
abriu com pouco esforço, e um pedaço
quebrado na vidraça foi o suficiente
para permitir que Bertha introdu-
zisse sua mão e removesse o fecho
da janela. Então, com cuidado, ela a
abriu, adentrando o cômodo — subiu
as escadas na ponta dos pés e entrou
em um quarto onde uma menininha
encontrava-se na cama, adormecida.
Por um momento, estremeceu com
violência, como se lutando para re-
primir a terrível vontade provinda da
sombria condição de haver retornado
à vida depois de ter atravessado os
portais da morte, mas então inclinou
37
o rosto sobre a garganta da criança,
com o hálito quente dela roçando sua
face e, no instante seguinte, os dentes
cravaram-se na pele macia, e come-
çou a sugar o sangue a fim de manter
sua existência sobrenatural!
Pois este é o atroz destino da raça
de vampiros, a respeito dos quais
ainda existem mais mistérios e se-
gredos a serem revelados; e foi este o
ser que o conde Rodolph removera do
túmulo e conduzira ao próprio leito!
Logo, a criança acordou com um
grito pavoroso, e o pai dela, saltando
da cama no quarto ao lado, correu em
38
seu socorro, mas Bertha passou de-
pressa por ele na escuridão e escapou
da casa. O camponês encontrou a fi-
lha muito assustada, com a garganta
sangrando; porém, a menina não so-
frera ferimento letal e, tendo-se cer-
tificado deste fato, o pai apanhou seu
mosquete e correu atrás da agressora.
— Uma vampira — exclamou o
camponês, empalidecendo de horror
ao ver, de maneira distinta, sob a luz
da lua, uma mulher jovem correndo
pela vila a passos rápidos.
O homem deu início a uma per-
seguição a veloz Bertha, aos poucos
39
ganhando terreno, ao que sucedeu-se
um tiro do mosquete assim que ela al-
cançou a margem do rio, quando ele
ergueu a arma na altura dos ombros e
disparou. O estampido ecoou através
das margens do Reno, e Bertha gritou
quando a bala penetrou suas costas
e rolou de ponta-cabeça para dentro
da correnteza. O camponês apressou-
-se de volta ao vilarejo, satisfeito pela
criatura não existir mais, e o corpo
da vampira flutuou na superfície do
rio, iluminada pela luz da lua.
A lua estava cheia naquela noite, e
a cena pitoresca no Reno foi inundada
40
com uma luz perolada. Ao longo de
todo seu percurso, o rio é um pano-
rama de beleza paisagística, reve-
lando a cada curva algum elemento
interessante, quer pelas reminiscên-
cias históricas, quer pelas associa-
ções lendárias. Havia o vilarejo, mas
naquele momento o cenário era de
terrível revolta; o castelo, por vezes
coberto pela luz, outras obscurecido
pelas sombras devido à passagem
de grossas nuvens diante da lua; a
cidade de Heidelberg, descendo a
encosta desde o Castelo do Palatino
e atravessando o rio com sua nobre
ponte; e o Reno, encoberto por pedras
41
escuras que se acumulavam na mar-
gem oposta, refletindo a luz prateada
da lua. O corpo da vampira flutuava,
descendo um bom trecho na corren-
teza até ter seu curso interrompido
pela curva do rio, jazendo parcial-
mente para fora d’água na margem
inclinada do rio.
E então iniciou-se outra cena de
estranho e surpreendente interesse
— outra fase na pavorosa existência
da noiva vampira! Pois, os raios da lua
cheia derramaram-se sobre a forma
inanimada daquele ser feito de mis-
tério e medo, e a sensibilidade aos
42
poucos retornou ao seu corpo, como
quando a magia dos feitiços do conde
de Ravensburg a ressuscitara do tú-
mulo; os olhos dela se abriram, seus
seios ergueram-se e caíram com a
pulsação quente do retorno à vida; os
membros moveram-se em espasmos,
e então ela se pôs de pé na margem do
rio e, com um estremecimento após
lembrar-se do que lhe havia aconte-
cido, torceu as vestes encharcadas e
correu em direção ao castelo em um
ritmo acelerado devido ao pânico.
Adentrando o castelo, foi em
busca dos aposentos do conde a passos
43
silenciosos e, após retirar e guardar
as vestes molhadas, retornou à cama
sem que o conde sequer notasse que
ela havia partido. Ele ficou surpreso
ao descobrir que a amante não havia
feito nenhuma refeição durante o
dia, mas foi levado a acreditar nisso
como uma das leis naturais da exis-
tência dela e não deu mais atenção
ao assunto.
Porém, no vilarejo, a comoção
atingiu seu pico quando se tornou
de conhecimento geral que a casa de
Herman Klans fora visitada por uma
vampira durante a noite e que sua
44
filhinha fora mordida por tão horrí-
vel criatura. Ao longo de todo o dia, a
casa que recebera a misteriosa visita
foi cercada por aldeões curiosos, que
se benziam com extrema devoção,
imaginando onde a vampira poderia
ter ido. Os serviços do padre foram
requisitados para impedir que a pe-
quena menina de olhos azuis, Minna,
se tornasse uma vampira após a
morte, como se supõe que seja o caso
com os desafortunados mordidos
por uma dessas pavorosas criaturas,
assim como uma pessoa pode enlou-
quecer após ser mordida por um cão
ou um gato com raiva.
45
De acordo com os termos do pacto
firmado entre o conde Rodolph e o
demônio, as condições não entravam
em vigor até sete dias após a assina-
tura do terrível acordo, e dia após
dia, Rodolph temia a necessidade de
revelar a Bertha a hedionda transfor-
mação a qual ele deveria se submeter
todas as noites. Contudo, sabia ser
impossível manter em segredo da
amada sua horrenda e estarrecedora
metamorfose, e refletiu que, se fizesse
dela sua confidente daquele pavoroso
destino, seria mais provável que esta
permanecesse desconhecida para o
restante do mundo. Ele, portanto,
46
tomou coragem para a chocante reve-
lação que teria de fazer e, no sétimo
dia após o pacto com Lúcifer, revelou
a ela seu medonho segredo.
— Bertha — disse ele, em tom
triste e solene —, estou prestes a con-
fiar-te um terrível segredo; jure para
mim que jamais o divulgarás.
— Eu juro — respondeu ela.
— Sabe, então — continuou o
conde, baixando a voz até um sus-
surro rouco —, que, em virtude de
um pacto com os poderes infernais
do mal e das trevas, sou dotado de
um período de vida e juventude que
47
equivale quase ao benefício da imor-
talidade, porém, a este dom inesti-
mável há uma condição, que se inicia
esta noite e que quase estremeço ao
compartilhar contigo.
— Não temas, meu Rodolph — ex-
clamou sua bela amante, enlaçando
os braços alvos em torno do pescoço
do conde —, tua Bertha jamais po-
deria amar-te menos, e a alma dela
se apega a ti mais intensamente pelo
dom sobrenatural que liga teu des-
tino de maneira mais íntima ao meu.
Pois, também tenho uma estranha e
terrível existência, a qual devo a ti,
48
e, portanto, devo me apegar a ti com
mais carinho por conta da mesma
sina que nos une enquanto nos eleva
muito acima dos mortais comuns.

— Então, prepara teus ouvidos


para uma pavorosa revelação, Bertha
— respondeu o conde de Ravensburg.
— Todas as noites de minha existên-
cia futura, ao pôr do sol, minha sina
priva-me da forma mortal e torno-
-me um esqueleto até o nascer do sol
da manhã seguinte. Agora que tudo
sabes, minha Bertha, encontra-se
em tuas mãos guardar tal segredo
49
terrível e impedir que se torne de co-
nhecimento geral.
— Assim será, meu bravo Rodolph
— exclamou Bertha, os olhos cinti-
lando com uma expressão peculiar,
enquanto pensava na facilidade que
o estranho destino de seu amante
permitiria suas ausências noturnas
do castelo. — Nenhum olhar além do
meu testemunhará tua transforma-
ção, e vigiar-te-ei até que retornes a
tua forma natural.
— Obrigado, minha Bertha —
d isse Rodolph, abraçando-a. —
Aproxima-se a hora em que devo
50
renunciar à noite minha forma mor-
tal; vem, amor, para nosso quarto, e
vê se nenhum olho curioso contem-
pla a medonha transformação.
Bertha e seu amante então enca-
minharam-se ao aposento e, quando
a luz do sol se pôs no horizonte, dei-
xando traços de seu esplendor no céu
do oeste, o conde Rodolph reduziu-se
um apavorante esqueleto e caiu na
cama. Bertha estremeceu ao teste-
munhar a horrenda transformação,
e os dois deitaram-se na cama até a
meia-noite, a necessidade do segredo
sobrepujando qualquer repulsa que
51
de outra forma pudesse sentir com a
horrível proximidade com o esque-
leto, porém, quando o relógio do cas-
telo anunciou a meia-noite com sua
língua de ferro, ela levantou-se da
cama e, trancando a porta do quarto
que continha tão estranho convi-
dado, furtou-se do castelo a fim de
saciar seu apetite anormal por san-
gue humano.
A lua ia alta no céu daquela noite
de incomensurável mistério e horror,
e seus raios prateados projetaram-se
através da janela do quarto de Theresa
Delmar, uma das jovens mais belas
52
do vilarejo de Ravensburg, revelando
o pescoço tão branco quanto a neve
e a curva do ombro alvo, encoberto
pelos cachos louros e brilhantes que
se espalhavam pelo travesseiro. Os
olhos azuis da moça encontravam-se
ocultos pelos cílios finos e pela franja
comprida e sedosa. Os seios níveos
subiam com suavidade e desciam por
baixo do lençol branco à medida que
os pensamentos que a agitavam du-
rante o dia misturavam-se em seus
sonhos à noite. O silêncio reinava na
casa de palha, interrompido apenas
pelo ocasional latido de algum cão de
guarda ao longo do vilarejo.
53
Porém, logo após a meia-noite, o
silêncio foi rompido por um ruído
sutil na janela do quarto, como se
alguém estivesse tentando entrar, e
a torrente do luar que se derramava
sobre a cama da moça foi obscurecida
pela forma de uma mulher parada no
peitoril. Ainda assim, Theresa per-
maneceu dormindo, sem sonhar com
o perigo tão próximo, pois a mulher
conseguira abrir a janela e, no ins-
tante seguinte, encontrava-se de pé
no quarto.
A passos lentos e cautelosos, apro-
ximou-se com delicadeza da cama
54
onde a jovem repousava tão tran-
quila, sem imaginar que uma visita
tão pavorosa encontrava-se perto de
seu leito. Em seguida, Bertha estre-
meceu de maneira involuntária à me-
dida que se inclinava sobre a garota
adormecida, então seus longos ca-
chos escuros misturaram-se à massa
de cabelos dourados que cobriam o
ombro branco e os seios parcialmente
expostos de Theresa Delmar. Seus
lábios tocaram o pescoço da jovem,
os dentes afiados perfurando a pele
alva, e começou a chupar com vora-
cidade, engolindo o fluido vital que
jorrava quente e rápido das veias da
55
moça, sugando a vida dela para man-
ter a própria!
A inda assim, Theresa não
despertou, pois a perfuração em sua
garganta pelos dentes da horrível
criatura era pouco maior do que a
que seria feita por uma sanguessuga.
A vampira sugou bastante e com avi-
dez, pois a extensa abstinência de
sangue havia aguçado seu apetite
anormal. De súbito, Theresa acordou
com um sobressalto, sem dúvida cau-
sado por alguma mudança desagra-
dável em seus sonhos, mas não gritou
de imediato, pois não sentiu dor e
56
ainda mal se encontrava consciente
do perigo que corria. Contudo, em
poucos segundos, estava totalmente
desperta, e é mais fácil imaginar do
que descrever a surpresa e o horror
que a acometeram quando desco-
briu a horrível criatura que se incli-
nava sobre si, sugando seu sangue, a
mesma que poucas noites antes havia
atacado Minna Klaus e que o pai da
menina pensara ter eliminado.
Enfeitiçada pelos olhos cintilan-
tes da vampira, permaneceu deitada
e sem forças para gritar até que o ter-
rível horror de sua situação tornou-se
57
insuportável; seus nervos trêmulos
foram forçados ao máximo poder
de resistência e um grito agudo des-
controlado emergiu de seus lábios.
Mesmo assim, a pavorosa criatura
não a largou, pelo contrário, conti-
nuou a sugar a corrente carmesim
de sua vida direto das veias pulsan-
tes até que passos fizeram-se ouvir,
aproximando-se do quarto, apressa-
dos, e a adorável Theresa, cujos gritos
pareciam ter rompido o fascínio que
a mantinha cativa, lutou tanto que
Bertha foi obrigada a renunciar a seu
horrendo banquete. Saltando para a
janela, efetuou sua fuga no mesmo
58
instante em que golpes fortes ressoa-
ram na porta do quarto, e sua vítima
aterrorizada afundava, inconsciente,
na cama.
— Qual o problema, Theresa? Abra
a porta! — exclamaram seus pais,
cheios de pavor, mas não obtiveram
nenhuma resposta.
Então, Delmar arrombou a porta,
e ele e a esposa entraram correndo
no cômodo, apenas para encontrar
a filha jazendo inconsciente em seu
leito, com respingos de sangue na
garganta e nos seios, além da janela
escancarada.
59
— A vampira voltou à vida e ata-
cou nossa Theresa! — exclamou a
mãe. — Veja as marcas de sangue
em seu lindo pescoço. Delmar, reúna
os aldeões da vila para perseguir o
monstro!
— Ah, não! Onde estou? Ela já foi,
mãe? — indagou Theresa assim que
se recuperou do desmaio, olhando
aterrorizada ao redor do quarto.
— Sim, ela já foi agora, meu amor
— assegurou a mãe. — Como ela era?
— Isso, como ela era? — insistiu
o velho Delmar. — Talvez não seja a
60
mesma em que o vizinho Klans ati-
rou na outra noite.
— Ah, sim! Era uma mulher jo-
vem e tão parecida com Bertha Kurtel
como uma ervilha é sempre igual à
outra — respondeu a jovem, estreme-
cendo.
— Virgem Maria! — exclamou a
mãe, fazendo o sinal da cruz com um
tremor. — Bertha Kurtel, uma vam-
pira que retornou do túmulo para
caçar nossa Theresa! Que horror!
Delmar vestiu-se com pressa e,
apanhando um machado, correu
para chamar Klans e os outros para
61
ir atrás da vampira, e em poucos
minutos todo o vilarejo estava em
polvorosa. Cerca de vinte homens ar-
maram-se com a primeira coisa que
encontraram e seguiram na direção
que a vampira havia tomado quando
perseguida por Herman Klans em
outra ocasião. Reviraram cada ar-
busto ao redor da vila, para a qual
retornaram ao amanhecer sem en-
contrar qualquer vestígio da criatura
que procuravam. Delmar encontrou
a filha um tanto fraca de medo e por
conta da perda de sangue, mas, fora
isso, sem demais ferimentos após o
ataque da vampira. A maior agitação
62
predominou no vilarejo, que outrora
costumava ser tão sossegado, e por
toda a manhã grupos de homens pos-
taram-se na pequena rua ou aglome-
raram-se ao redor da casa de Delmar,
conversando aos sussurros, cheios
de mistério, sobre a visita horrenda
que, pela segunda vez, a vila havia
recebido.

— Seria chocante se uma moça


tão bonita como Theresa Delmar se
tornasse uma vampira ao morrer —
observou um deles. — E quem sabe
o que pode acontecer agora que ela
63
foi mordida por uma dessas terríveis
criaturas?
— E coitadinha da pequena Minna
Klaus — comentou outro.
— Ah, e não sabemos quão longa
será a lista se não colocarmos um
fim nisso — acrescentou mais um
do grupo. — Ouvi falar que o padre
Ambrose disse que essas criaturas
costumam atacar mulheres e crian-
ças.
— Quem poderá ser? É isso que
quero descobrir — disse o velho Klaus.
— Ora essa, Theresa disse que
ela era igualzinha a Bertha Kurtel
64
— retrucou outro, reduzindo a voz a
um sussurro.
— Bertha Kurtel! — repetiu um
jovem que um dia havia amado a
dona daquele nome. — Bertha, uma
vampira? Impossível!
— Isso é fácil de descobrir — ob-
servou o ferreiro da vila, com sua voz
rouca. — Temos apenas que abrir o
caixão e ver se ela está dentro dele,
como deveria. Se não a encontrar-
mos, descobriremos na hora.
— Se não fosse pelos pais dela, eu
ficaria muito satisfeito em descobrir
65
se é mesmo Bertha — pontuou o ve-
lho Delmar.
— Os pais dela? — repetiu o fer-
reiro em tom rabugento. — E quanto
a nós? Vamos deixar nossas espo-
sas e crianças serem atacadas dessa
forma, todas se transformando em
vampiras, e permitir que a simpatia
por essa boa gente nos impeça de ter
essa satisfação?
— É um bom ponto — observou
Delmar, coçando a cabeça, com um
ar de perplexidade.
— Eu irei se ninguém mais quiser
66
— afirmou Herman Klaus após um
instante de silêncio.
— E eu também — exclamou o
ferreiro, olhando ao redor. — E agora,
quem mais irá dar uma espiada no
cemitério para ver se o caixão está
vazio?
Muitos deles disseram que esta-
vam prontos, ao que outros segui-
ram o exemplo, e o ferreiro avançou
até o cemitério, acompanhado por
cerca de vinte dos homens mais co-
rajosos da vila, a fim de reencenar a
cena que tomara lugar ali apenas al-
gumas noites antes. Ao chegarem ao
67
cemitério, o ferreiro e os outros logo
se puseram a trabalhar para remover
a terra do túmulo, o que conseguiram
sem demora, e, em meio ao silêncio
sem fôlego, o ferreiro procedeu com
a remoção da tampa do caixão.
— Olhem só isso, vizinhos — disse
ele, ficando pálido contra sua von-
tade. — A tampa foi removida e o cai-
xão está vazio!
— É isso! — exclamou Herman
Klaus.
— Então não é óbvio que Bertha
é a vampira? A terrível criatura que
sugou o sangue de Theresa Delmar
68
e da pequena Minna Klans? — inda-
gou o ferreiro, olhando ao redor para
a multidão que havia se avolumado
durante o trabalho de exumação, re-
pleta de pessoas do vilarejo que não
se ocuparam com a tarefa.
— Mas onde está ela agora? Esta é
a questão — observou Herman Klans.
— Isto deve ser investigado — res-
pondeu o ferreiro. — Devemos man-
ter uma vigia para pegar a vampira;
depois, devemos queimá-la ou enfiar
uma estaca no corpo da criatura, pois
dizem que são os únicos métodos que
de fato acabam com um vampiro.
69
O curioso grupo de campone-
ses retornou à vila, e foi grande o
desgosto dos Kurtels ante a terrível
descoberta de que sua filha havia se
tornado uma vampira. O jovem rapaz
que amava Bertha em sua forma hu-
mana ficou desvairado ao ouvir a con-
firmação da suspeita de que Theresa
havia levantado em primeiro lugar.
As tarefas comuns dos aldeões foram
negligenciadas por completo durante
o dia, e o assunto não foi outro além
de vampiros e lobisomens, além de
outras transformações humanas
ainda mais terríveis e aterrorizantes
que já haviam sido registradas em
70
“As Metamorfoses”, do poeta Ovídio.
Perto do anoitecer, o respeitável se-
nescal do conde de Ravensburg che-
gou ao vilarejo e conversou com os
Delmars, após visitar a residência de
Herman Klans, e um vago rumor es-
palhou-se como fogo de casa em casa,
que dizia que a vampira era uma pri-
sioneira no Castelo de Ravensburg.
O comunicado feito pelo senescal
a Delmar e Klans fora no sentido de
que, na manhã que se seguiu ao se-
pultamento de Bertha Kurtel, uma
mulher jovem, que se parecia com
ela de corpo, feições, voz e cada uma
71
de suas características únicas, ha-
via aparecido de forma misteriosa
no castelo e desde então lá residia no
papel de amante do conde. Ninguém
sabia quem era ela, de onde vinha ou
como havia entrado no castelo; e os
acontecimentos na vila chegaram
aos ouvidos dos lacaios e empregados
do conde, acompanhados pela sus-
peita de que a vampira fosse Bertha
Kurtel revivida, ao que o senescal
correu para o vilarejo para relatar
suas observações. O fato de que a
amante do conde não se alimentava
foi considerada uma corroboração da
suspeita de que ela era uma vampira,
72
e o relato do senescal causou grande
agitação entre os moradores da vila.
Sinais de intenções hostis tornaram-
-se aparentes e, em menos de meia
hora, mais de cem homens seguiam
de maneira desordenada em direção
ao castelo, equipados com quaisquer
armas imagináveis, jurando pôr fim
à vampira.
O conde Rodolph e sua bela amante
encontravam-se sentados à janela,
que lhes dava uma visão da estrada
por alguma distância. A pequenina
mão branca de Bertha estava se-
gura na de seu amado, sussurrando
73
palavras de ternura e amor, quando a
atenção do casal fora atraída por uma
turba desordenada aproximando-se,
vinda do vilarejo.
— O que pode significar isso? —
indagou Rodolph, pondo-se de pé.
— Oh, é isso que eu temia — excla-
mou Bertha, empalidecendo e unindo
as mãos em um gesto apavorado. —
Seus estudos tornaram-no suspeito
de necromancia, meu Rodolph, e vie-
ram para atacar o castelo.
— Receio que tenha razão, meu
amor — disse o conde —, mas dare-
mos a eles uma recepção calorosa.
74
Ah! Uma turba desordenada ameaça
o castelo: desçam depressa os portões,
bloqueiem cada porta e ordenem aos
lacaios que cuidem das ameias a fim
de repelir o ataque.
— E o pôr do sol se aproxima —
exclamou Bertha, com um olhar sig-
nificativo para o amante.
— Retira-te para teus aposentos,
minha doce amada — recomendou
Rodolph — não temas por mim; levo
uma vida enfeitiçada, e de nada
adiantarão espada ou disparo contra
mim. Se essa turba desordenada não
for dispersa quando chegar a terrível
75
hora, toda a esperança será perdida,
e eles deverão contemplar a pavorosa
transformação. Talvez fiquem para-
lisados com súbito pavor, e então po-
deremos correr para outro reino.
Bertha retirou-se após abraçar
o conde e trancou-se em seus apo-
sentos. Preparações foram feitas de
imediato para resistir ao ataque dos
aldeões amotinados, que continua-
ram a avançar em direção ao castelo,
berrando como selvagens e insti-
gando a vingança contra a amante
vampira do conde Rodolph.
— Abaixo a vampira!
76
Foi este o grito rouco e obstinado
que, tal qual um trovão distante,
emergiu de centenas de gargantas.
Em seguida, a turba passou a empur-
rar os portões do castelo, e o ferreiro
golpeou-os com força com a ajuda de
seu poderoso martelo.
O conde apanhou um arcabuz e
atirou na turba, já que bem poucos
deles encontravam-se providos de
armas de fogo; um dos camponeses
foi ferido e, com um grito de raiva e
resistência, uma saraivada de tiros,
flechas e pedras foi atirada contra o
castelo sitiado. O ferreiro continuou a
77
golpear o portão, auxiliado por com-
panheiros leais com seus machados, e
embora muitos da turba tenham sido
mortos pelo fogo do homem armado,
aqueles que se empenhavam em for-
çar o portão foram protegidos pela
ameia suspensa e continuaram seus
esforços com incansável energia.
O conde Rodolph empalideceu e
estremeceu ao ouvir os gritos bár-
baros dos invasores, não por medo,
pois, além de sua invulnerabilidade,
era inacessível a tal sentimento, mas
pelas ideias terríveis engendradas
por tais berros, maquinações contra
78
a bela Bertha Kurtel. Teria sua rea-
nimação do túmulo dotado-a com a
horrenda natureza de uma vampira?
Seria possível que aquela adorável
criatura mantivesse renovada sua
existência com o sangue de suas an-
tigas companhias? Pavoroso! Porém,
não tinha ela sugerido algo nesse
sentido quando ele revelou-lhe os
horrores da própria sina? Deveria
ser isso, então; e o conde estremeceu
violentamente frente à estarrecedora
conjectura.
— Abaixo a vampira! — Prosseguiu
o berro ameaçador que emergia dos
79
invasores, que, naquele momento,
tiveram sucesso ao derrubar os por-
tões e correram em desordem para
o pátio, gritando e brandindo suas
armas.
Sem serem desencorajados pelos
tiros nas ameias, iniciaram um ata-
que às portas e janelas do castelo, e
agora encontravam-se todos aglo-
merados no pátio, ao que o conde
Rodolph considerou o momento fa-
vorável para uma investida. Puxando
a espada e comandando um grupo
de lacaios armados para segui-lo, o
conde de súbito abriu uma porta que
80
conduzia ao pátio e lançou-se com
fúria no flanco dos invasores. Por um
instante, ficaram todos confusos, po-
rém logo se reagruparam, e então o
conde Rodolph e seu pequeno grupo
foram cercados e compelidos a agir
na defensiva. Os raios róseos do sol
que se punha já rebuscavam as coli-
nas distantes quando os camponeses
marcharam em direção ao castelo e,
assim que seu largo disco afundou
no horizonte, a aparência do conde de
Ravensburg de repente foi submetida
a uma transformação assombrosa,
e embora os invasores tenham visto
as flechas caírem de seu corpo e as
81
espadas ricochetearem como se atin-
gissem um enorme carvalho, ainda
maior foi o assombro deles ao teste-
munharem a súbita transformação
do conde em um esqueleto!
— É alguma maquinação de Satã!
Ele é um feiticeiro! — gritou o vigo-
roso ferreiro, brandindo seu enorme
martelo. — Vamos, companheiros;
abaixo a vampira!
— Abaixo a vampira! — ecoou a
turba, ao que os lacaios do conde ce-
deram por todos os lados, tão assom-
brados quanto os camponeses em
vista de tão horrenda metamorfose.
82
Os invasores adentraram o cas-
telo através da porta aberta e mar-
charam de aposento em aposento,
procurando em cada armário e de-
baixo de cada cama, enquanto a
atemorizada Bertha fugia de um cô-
modo para outro até que procurou
refúgio no aposento mais alto na
torre leste, a mesma câmara que tes-
temunhara seu retorno dos mortos
àquele estado renovado de estranha
e horrível existência. Ela trancou e
aferrolhou a porta do lugar, porém,
de que adiantavam tais obstáculos
diante de uma turba furiosa, inci-
tada pelo próprio sucesso ao invadir
83
o castelo e determinada a destruir
e vingar-se? A porta rachou, gemeu
e foi arrombada, e então vários ho-
mens adentraram a pequena câmara.
— Aqui está ela! Aqui está a vam-
pira! — gritou o que se encontrava
mais à frente.
E, apesar de seus gritos agudos e
sinceras súplicas por misericórdia, a
malfadada Bertha foi arrastada para
fora do aposento, com seus cabelos
escuros e compridos pairando em
desordem e a esmo sobre os ombros e
seu belo semblante pálido devido ao
terror esmagador.
84
— Misericórdia, deveras! Que mi-
sericórdia podemos sentir por uma
vampira? — gritaram os camponeses,
e a aterrorizada criatura foi arras-
tada pelas escadas da torre por um ou
dois dos mais corajosos, pois poucos
aventuravam-se a tocar aquele ser
maldito.
Assim que alcançaram a base das
escadas, uma nuvem de fumaça rolou
pela passagem, e o estalar de madeira
queimando informou-lhes de que al-
guns de seus companheiros haviam
posto fogo no castelo.
— E agora, o que devemos fazer
85
com a vampira? — perguntou um de
seus implacáveis captores.
— Vamos atirá-la no Reno! — su-
geriu um deles.
— Amarrá-la e atirar nela! — re-
bateu outro.
— E de que isso adiantará? —
opôs-se um terceiro. — Nada além do
fogo ou de uma estaca afiada vão des-
truir uma vampira. Vamos trancá-la
no castelo e queimá-la até restarem
apenas cinzas!
— Isso! Isso! Queimem a vampira!
— gritou um coro de vozes.
— Não, não! Digo que não! — berrou
86
o ferreiro. — Vamos carregá-la até o
cemitério, colocá-la de volta em seu
caixão e prendê-la com uma estaca,
assim jamais poderá levantar-se de
novo.

A sugestão do ferreiro foi apro-


vada, e a infeliz Bertha foi meio arras-
tada, meio carregada, mais morta do
que viva, em direção à igreja da vila.
As chamas irrompiam de todas as
partes do castelo quando os saquea-
dores sem lei o deixaram, e um brilho
vermelho pairava sobre as antigas
torres; a destruição foi rápida, e em
87
poucas horas nada além de paredes
nuas e enegrecidas restavam de pé.
Quando os destruidores do Castelo
de Ravensburg chegaram ao cemi-
tério, a forma já quase sem vida de
Bertha Kurtel foi arrastada para a
sepultura, que fora deixada aberta,
e lançada de forma brusca dentro do
caixão. Então, uma estaca com uma
ponta afiada foi produzida, a qual já
vinha sendo preparada ao longo do
caminho, e o ferreiro enfiou-a com
toda a força de seus braços muscu-
losos no abdômen da vampira con-
denada. Um grito agudo emergiu de
88
seus lábios pálidos quando o terrível
golpe a despertou para a consciência.
À medida que suas roupas tornavam-
-se pinceladas com a corrente carme-
sim da vida e o ferreiro erguia seu
pesado martelo e afundava a estaca
em seu corpo trêmulo, a miserável
transpassada revirou-se de maneira
convulsiva, e a contorção de suas
feições era pavorosa de se contem-
plar. Deste modo, empalaram-na em
seu caixão, e enquanto seus braços
e pernas ainda estremeciam com os
últimos espasmos da desintegração,
a terra foi substituída e esmagada
pela espezinhar de muitos pés.
89
Contudo, aquelas estranhas e ter-
ríveis cenas ainda não haviam termi-
nado. Pois, um jovem camponês, de
igual curiosidade e ousadia, e que es-
tivera envolvido no ataque ao castelo
e na horrível tragédia que se seguiu,
encontrava-se ansioso para descobrir
mais sobre o estranho caso do esque-
leto, que fora deixado para trás no
pátio onde caíra, com nenhum dos
aldeões preocupados em se envolver
com algo tão medonho. Portanto, es-
capou pouco antes da meia-noite e
seguiu em direção ao castelo, onde
o fogo morria, embora um brilho in-
candescente ainda fosse refletido nas
90
brasas das vigas e caibros. Ele avan-
çou com cautela através dos portões
derrubados do castelo e estremeceu
de leve ao discernir o esqueleto do
conde de Ravensburg, o qual ainda
jazia no chão do pátio.
Estava determinado a manter a
vigia até o amanhecer e ver o que
restara dos medonhos vestígios de
mortalidade, que poucas horas an-
tes foram o jovem e belo conde de
Ravensburg. As horas passaram de-
vagar desde a meia-noite até o ama-
nhecer do outro dia, e quando o sol
nascente tingiu o céu a leste com
91
carmesim e dourado, o observador
solitário foi testemunha de um estra-
nho espetáculo no pátio do Castelo de
Ravensburg.
O esqueleto ergueu-se devagar
do chão e assumiu a forma do conde
Rodolph, com a mesma aparência que
tinha nos momentos que precederam
sua transformação na noite anterior.
Uma transpiração fria orvalhou a
testa do camponês, e seu cabelo ficou
de pé devido ao horror de testemu-
nhar aquela súbita metamorfose. O
conde olhou para as paredes e torres
destruídas do castelo e estremeceu
92
violentamente, atravessando em se-
guida o pátio e os destroços dos por-
tões.
O camponês correu para a vila
e relatou sua visão, o que se tornou
fonte de grande assombro para os
simplórios moradores. A história
do conde esqueleto e sua amante
vampira logo se espalhou por toda
a Alemanha; no entanto, os aldeões
não foram mais incomodados por
vampiros, pois Bertha Kurtel estava
firmemente presa em seu caixão e
não houve nenhuma consequência
calamitosa após os ataques contra
93
Theresa Delmar e a pequena Minna
Klans.

TH E E N D

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O Conde Esqueleto

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95
E X TR A: BIOGR AFIA

Elizabeth
Caroline Grey
Fofocas literárias, autoria fantasma
e mistérios históricos. Elizabeth
96
Caroline Grey e sua ligação com as
narrativas pelas quais ficou famosa
poderia ter saído de uma ficção tão
intrigante quanto os nossos enre-
dos favoritos. Como várias autoras
ao longo do tempo, a história de
Elizabeth Caroline Grey perma-
nece, em grande parte, um misté-
rio. Enquanto alguns nomes foram
quase apagados da história, outros
podem ter sido inventados para es-
conder algo a mais.
Acredita-se que Elizabeth Grey
tenha nascido na Inglaterra e, ao
pesquisar sobre quem foi, é comum
97
encontrá-la sendo referenciada como
uma prolífica autora de penny dread-
fuls da era vitoriana. Entretanto, é
difícil afirmar com total certeza se
todas as informações disponíveis
creditadas a ela são verídicas.
Após a Revolução Industrial e
com o aumento dos índices de alfa-
betização na Inglaterra, surgiu a ne-
cessidade de se criar uma literatura
de entretenimento para as massas.
As histórias de horror para adultos,
passadas nos grandes centros urba-
nos, cheios de crimes e sangue, to-
maram conta do gosto popular. As
98
penny dreadfuls e penny bloods eram
novelas periódicas de terror que to-
maram conta da literatura da época
e algumas, como Sweeney Todd, por
exemplo, são lembradas e lidas até
hoje.
O fascínio por essas histórias e
os nomes que as escreveram se man-
teve ao longo dos séculos, o que con-
tribui para que muitos entusiastas,
inclusive, tenham se aproveitado
da curiosidade pelo antigo e sobre-
natural para falsamente creditar
histórias modernas a autores vito-
rianos. As intenções por trás disso
99
variam e, com o aumento do resgate
de tesouros literários, acadêmicos e
estudiosos estão debatendo cada vez
mais a respeito.
Apesar de seu nome ser referen-
ciado como a primeira mulher a es-
crever uma história de vampiros,
pouco se pode afirmar com certeza a
respeito de quem foi ou se a história
de fato é de sua autoria. Algumas fon-
tes dizem que existiu uma Elizabeth
Grey que era sobrinha de uma atriz
famosa, que teria se casado com um
repórter da época, lecionado em uma
escola para meninas em Londres e
100
mergulhado na escrita de ficção nas
suas horas vagas. Um perfil que se
encaixa bem no contexto da época e
se assemelha a outras autoras.
Entretanto, existem diversas
teorias a respeito de sua vida, da
hipótese de que seu nome era um
pseudônimo usado por outro autor
de penny dreadfuls da época, até a
ideia de que ela na verdade nunca
tenha existido da forma como é
conhecida. Suspeita-se, inclusive,
que muitas das obras atribuídas a
Elizabeth Caroline Grey não tenham
sequer sido escritas por ela.
101
Atualmente acadêmicos buscam
entender melhor as fontes primá-
rias que ligam o nome de Elizabeth
Caroline Grey ao conto O Conde
Esqueleto: ou a Amante Vampira.
Em The Many Mrs Grey: Confusion
and Lies about Elizabeth Caroline
Grey, Catherine Maria Grey, Maria
Georgina Grey and Others, o autor
Patrick Spedding tenta diminuir
um pouco a confusão em torno de
tantas autoras creditadas como Mrs
Grey e o que pode existir por trás de
informações falsas ou inconclusivas
relacionadas a elas.
102
Infelizmente a história da lite-
ratura é cheia de manuscritos que
foram perdidos e originais que pas-
saram de mão em mão até virarem
fragmentos. Originais de diversos
contos podem na verdade nunca ter
existido ou estão escondidos nas bi-
bliotecas de antepassados e baús que
talvez nunca tenhamos acesso. Do
lado de cá, a gente acredita que essa,
também, é uma das belezas da lite-
ratura: nos presenteia com histórias
para além das páginas que leremos
ao longo da vida.
Teria sido Elizabeth Caroline
103
Grey a verdadeira autora de uma his-
tória tão controversa? Ou teria sido
seu nome apenas mais um fantasma
literário sobre o qual talvez nunca
tenhamos certeza?
O que se sabe é que o nome
Elizabeth Caroline Grey, de uma
forma ou de outra, deixou sua marca
na literatura. O Conde Esqueleto: ou a
Amante Vampira é uma das primei-
ras histórias de vampiros creditada
a uma mulher e chega com exclu-
sividade à Sociedade das Relíquias
Literárias.

104
Fontes:
https://pt.scribd.com/author/590655796/Elizabeth-
Caroline-Grey
https://onlinebooks.library.upenn.edu/webbin/
book/lookupname?key=Grey%2C%20Mrs%2E%20
%28Elizabeth%20Caroline%29%2C%20
1798%2D1869
https://researchmgt.monash.edu/ws/portalfiles/
portal/27184900/1907563.pdf
http://john-adcock.blogspot.com/2010/06/
elizabeth-caroline-grey.html?m=1
http://taliesinttlg.blogspot.com/2014/08/
interesting-shorts-skeleton-count-or.html
https://www.magersandquinn.com/product/
SKELETON-COUNT/25496380

105
Falando em
mistério...
No Reino da Wish, a busca pelos
mascotes metamorfos continua.
Áureo e Máureo foram vistos pela
última vez no início deste ano,
navegando em águas misteriosas.

No dia 10/10, descobriremos


o que está por trás deste
desaparecimento!

Siga as Redes: @editorawish


106
Profissionais
que trabalharam
neste conto

Karen Alvares
TR A DUÇÃO

Karen Alvares é escritora e trabalha com


preparação de textos e diagramação há
quase dez anos.
Twitter: @karen_alvares

107
Karine Ribeiro
PRE PA R AÇÃO

Escritora premiada,
tradutora e revisora,
graduanda em Tradução
pela UFMG. @karineescreve

Pedro Poeira
RE V ISÃO

Pedro Poeira é escritor,


revisor, preparador
de texto e tradutor. É
formado em letras pra
USP e vive em São Paulo.
@pedropoeira

108
Ana Milani
ILUSTR AÇÃO

Artista, ilustradora
e influenciada por
literatura, ela se
expressa através do
etéreo e do estranho
Insta: @omnifantasmicdraws

Marina Avila
PROJE TO G R Á FICO

Produtora editorial e
fundadora da Wish. Mãe
de gatos e de livros.
@marinalivros
Valquíria Vlad
COMUNICAÇÃO E
COMUNIDA DE

Escritora, pesquisadora
e publicitária formada
pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
@valquiriavlad

Laura Brand
ME DIAÇÃO E
PA R ATE X TOS

Editora, coordenadora
editorial, jornalista e
criadora de conteúdo.
Formada pela PUC-MG
e Columbia Journalism
School. @nostalgiacinza
110
Muito obrigada
por apoiar este
financiamento
coletivo!
Neste mês foi possível viabilizar a cura-
doria, tradução, revisão e ilustração do
conto The Skeleton Count! A cada mês de
assinatura, a Wish continuará resgatando
os tesouros do passado em novas edições
para os caçadores das Relíquias Literárias.

Vamos resgatar estes contos raros juntos?

Relíquia 043/Out 2023

111
N O P R ÓX I M O M Ê S

Uma história
sensível sobre
ciúmes, inveja e
morte
Da mesma autora de
Mulherzinhas, Louisa May Alcott

112

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