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III Contexto religioso babilônico

O Pentateuco é recebido pelo povo em que período da história? Mesmo

narrando a escravidão do povo hebreu, a história de Moisés, as dez pragas do Egito,

a primeira páscoa e a libertação do povo, somente após a chegada na Terra

Prometida que o Pentateuco aparece como documento oficial e testemunho.

Todavia, no que o povo acreditava nessa época, quando saiu do Egito? Que

influências ele recebeu da tradição egípcia? É possível responder essas perguntas

com informações simples, comprovadas pela própria Bíblia. Os hebreus da época

já acreditavam em Iavé (um dos nomes de Deus), mas, ao mesmo tempo, estavam

ligados a inúmeras crenças e superstições. E esse ser humano do Antigo

Testamento, descrito no Pentateuco, é alguém dividido em sua fé, um povo muito

semelhante ao brasileiro, que anda constantemente misturando complexas

informações de vida religiosa. E assim como o brasileiro, o indivíduo daquele

contexto era sincrético, em ideias e sentimentos religiosos muito misturadas.

Observação: Na Bíblia há referências que seguem esta estrutura, “Por ventura, os

demais feitos de (...) estão escritos no livro (...)”. Esses Livros da Guerra do Senhor

(anterior à Torá) não estão relacionados à experiência no Monte Sinai, onde o povo

reunido recebe a lei, e com ela, a identidade para a vida que teriam. A partir daí,

eles são um povo tornando-se nação, que precisa ouvir e seguir a Deus.

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Outra maneira de interpretarmos o Pentateuco é a reflexão sobre os nomes

e os seus significados, que são muito importantes para entender a relação e o

sentido das narrativas e personagens. Obviamente, recebemos um nome no

nascimento, e muitas vezes vemos no texto bíblico alguém sendo nomeado a partir

de uma percepção dos seus atos, caráter ou de sua história, ou ainda, uma

autonomeação baseada nalgum evento:


“Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande

amargura me tem dado o Todo-Poderoso.” (Rute 1: 20)

“E chamou ao menino Icabode, dizendo: De Israel se foi à

glória! Porque a arca de Deus foi tomada, e por causa de seu

sogro e de seu marido. E disse: De Israel a glória é levada

presa; pois é tomada a arca de Deus.” (1 Samuel 4: 21,22)

Temos ainda os sobrenomes que são explicativos. Um caso clássico na Bíblia

é o de João Batista, cujo sobrenome vem do grego “βαπτισμω” (baptismō), que

significa mergulho. João Batista é o João que mergulha as pessoas, e seu

sobrenome é uma expressão de reconhecimento da sociedade. Aprender como

foram concedidos esses nomes ajuda a nos aproximar do personagem, nessa

arqueologia bíblica, de forma a entender o contexto imediato.

Outro personagem é Ninrode, e seu nome aparece poucas vezes na Bíblia.

A palavra Ninrode carrega um significado de preocupação com fama e glória, e

traz a ideia: “O meu nome precisa ser conhecido, e mais importante que os outros”.

É como se fosse uma escalada antiética e imoral rumo ao sucesso e à notoriedade.

E o significado literal da palavra “Ninrode” é rebeldia.

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Tendo em mente o que foi apresentado sobre o processo bíblico de nomear,

obtemos uma definição precisa da identidade e o caráter de Ninrode, assim, tudo

o que ainda será discutido sobre o tema precisa estar à sombra disso. Vimos

Ninrode com o fim de entender a religião babilônica, entender melhor a mente do

povo de Deus nesse período, e assim compreender o Pentateuco. Esse é o nosso

caminho, e influenciará tudo o que será ensinado nas próximas aulas.


Porém, se quisermos saber sobre Ninrode fora do texto bíblico, devemos nos

referir a ele como Sargão de Acádia (ou Sargom). Enfatizamos a atenção sobre

Ninrode, a Bíblia (Gn 10:1-8) nos informa que ele foi bisneto de Noé, vivendo no

período pós-dilúvio, e foi o responsável por construir as principais cidades de toda

região da Babilônia. Existem outros nomes, posições e fontes históricas que

preenchem a identidade de Ninrode:

• O faraó egípcio Amenotepe III (1408-1369 a.C.)

• O deus patrono de Lagash Ninruta (deus sumério da guerra)

• Gilgamesh

Quem foi Ninrode - o primeiro grande líder pós dilúvio, dono de um grande

currículo, fundou Babel, cidade que depois se tornaria Babilônia. Fundou também

Nínive, na antiga Assíria, e outras cidades. Na Bíblia, podemos encontrar citações

como esta:

“Esses consumirão à terra da Assíria à espada, e à terra de

Ninrode nas suas entradas. Assim nos livrará da Assíria,

quando vier à nossa terra, e quando calcar os nossos termos.”

(Miqueias 5:6)

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Se a Bíblia relata que Ninrode foi o primeiro a construir as principais cidades

da Assíria (Gn 10:11-12), os documentos extrabíblicos apontam para Sargom (como

dito anteriormente, considerado ser a mesma pessoa). O texto hebraico em Gênesis

(10:9) chama Ninrode de “tsir”, ou “valente caçador” (literalmente “Campeão do

jogo”). Ao longo da narrativa, Ninrode surge como um grande caçador que

competia diante do Senhor, e podemos entender que caçava homens assim como

caçava animais. Na história da humanidade, Ninrode foi o primeiro homem a


escravizar outra pessoa, e o estudo exegético-histórico da Bíblia sinaliza isso.

Portanto, Ninrode foi o primeiro escravagista.

No hebraico, a expressão “Diante do Senhor” significa que Ninrode estava

contra Deus, visto que suas ações não eram aprovadas pelo Senhor. Documentos

arqueológicos mostram a Estrela de Istar, de Sargom (Ninrode), com sete

prisioneiros envolvidos no manto da figura real, e suas cabeças esmagadas. Em

outro monumento, Sargão é retratado numa campanha militar em que houve um

massacre e escravização dos prisioneiros. O primeiro obelisco da Mesopotâmia

retrata a batalha acadiana, na qual soldados inimigos perfurados por uma lança

são suspensos por seus braços e amarrados com coleira, enquanto abutres e

animais devoram suas carcaças.

Ninrode não era alguém que estava em rendição a Deus, pelo contrário,

como o nome diz, ele era alguém que estava em posição de rebeldia diante de Deus.

Lembre-se que ele é fundador de Babel (Babilônia) e Nínive (Assíria), justamente

dois lugares onde o povo de Deus ficou cativo. Ninrode simboliza carnificina e a

oposição absoluta a Deus e seu povo, seja de forma política, militar ou religiosa,

pois, enquanto Abraão é visto como o pai da fé e ícone de intimidade com o Senhor,

Ninrode é o pai da violência e ícone de prostituição com vários deuses; enquanto

Abraão expressa uma religião saudável, espiritual, que caminha pela terra e agrada

a Deus, Ninrode fica parado em si mesmo, faz do seu ego uma torre, e dessa torre

um altar carnal e idólatra para exaltar a maldade.

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Mercador de escravos e alguém que está enfrentando e competindo contra

Deus. Esse é o histórico de Ninrode, que nos faz enxergar esse personagem com

outro olhar. Alguém com tão poucas referências na Bíblia, mas que é demasiado

importante para entender o contexto do Pentateuco.

Ninrode desejava afastar o ser humano de Deus, e a principal maneira de


fazer isso é destruir o “Temor-do-Senhor” existente nas pessoas, inflamando seus

corações com rebeldia e as intimidando pela violência, pondo-as sob seu poder. Ele

as atraía as com a seguinte ideia: “Seguir a Deus não é bom. Se vocês me servirem,

a vida de vocês vai ser muito mais próspera e muito mais feliz. Vocês vão chegar

no topo.” A venda da felicidade e da autonomia sempre seduziu o ser humano. Ao

invés de estarem debaixo do domínio de Deus, preferiam estar sob o domínio de

Ninrode. Ele seduzia os homens com poder, conquista, as cidades que construiu e

seus feitos militares. Um personagem que demanda compreensão a partir do real

contexto e significado do seu nome, por meio de uma hermenêutica consistente.

Observe a descrição sucinta, porém fiel:

“E este foi poderoso caçador diante da face do Senhor; por

isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do

Senhor.” (Gn 10: 9)

Sem tantas referências bíblicas, precisaremos de referências extrabíblicas

para entender um pouco mais desse personagem. O livro citado será Antiguidades

Judaicas, um dos livros mais antigos tratando dessa história, escrito por Flávio

Josefo, por volta do primeiro século, a datação desse livro se aproxima do texto

bíblico do Novo Testamento, sendo a única fonte extrabíblica que temos sobre

muitos temas históricos importantes à nossa tradição. Josefo traz uma informação

muito curiosa, vinda da tradição oral judaica, na época de Jesus costumava-se

dizer que Ninrode havia construído a torre de Babel para ficar imune ao dilúvio.

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É uma informação instigante, que não está no texto bíblico, mas traz uma referência

preciosa aos nossos estudos. Josefo, contemporâneo de Paulo e Pedro, descreveu

in loco a destruição do templo, por volta do ano 70 d.C., e o que ele escreve sobre
Ninrode reflete o pensamento judeu do período apostólico sobre esse personagem.

Ninrode fez com que as pessoas acreditassem que se submeter a Deus era

escravidão. Mas escravizava pessoas e as usava na construção de uma obra inútil

e estéril (Torre de Babel), também se utilizava de suas conquistas militares para as

impressionar. Ele afirmava que Deus escravizava as pessoas e se elas o servissem,

Ninrode então ensinaria o que é ser livre de verdade. Assim construíram Babel: um

projeto de liberdade que não foi baseado em Deus, Babel é um projeto de fama,

sucesso e rebeldia, e sem base em Deus, chegar aos céus:

“Depois disseram: "Vamos construir uma cidade, com uma

torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e

não seremos espalhados pela face da terra." (Gn 11: 4)

Na história da grande torre está presente a ideia de oposição a Deus, ela foi

um plano de fazer história e deixar um legado descartando a Deus. Conquistas,

sonhos e desejos são desejáveis e até justificados, mas, se usados em oposição ao

que Deus fala, tornam-se incoerentes, injustos e desnecessários. Ninrode convocou

o povo para permanecer junto e tornar seus nomes conhecidos, porém a ordem de

Deus era que o povo se multiplicasse e se espalhasse. Se não percebemos a sutileza

desta oposição ficamos vulneráveis à uma falsa autonomia e para criar e aderir a

religiões que apenas são um eco de rebeldia.

“Assim abençoou Deus a Noé e aos seus filhos, e disse-lhes:

sede fecundos e multiplicai-vos e enchei à terra.” (Gn 9:1)

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“E Cuxe gerou a Ninrode; este começou a ser poderoso na

terra. E este foi poderoso caçador diante da face do Senhor;


por isso se diz: Como Ninrode, poderoso caçador diante do

Senhor.” (Gn 10: 8,9)

Entender o que significa ser “um caçador diante do Senhor” é fundamental,

a oposição é visível, e a construção de Babel, descrita em Gênesis 11, é o símbolo da

resistência e desobediência a Deus, pois Ele nos manda fazer o Seu nome ser

conhecido. Essa é a vontade dEle, mas a vontade de Ninrode é que seu próprio

nome seja conhecido. Deus mandou se espalhar, mas Ninrode mandou ficar.

“E o princípio do seu reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné,

na terra de Sinar. Desta mesma terra saiu à Assíria e edificou

a Nínive [...].” (Gênesis 10: 10,11)

O historiador Douglas Petrovich é um dos estudiosos que afirma que

Ninrode é também Sargom. Já Lutero escreve em “Do cativeiro babilônico da

Igreja”, fazendo uma crítica ao papado:

“Agora estou certo de que o papado é o reino babilônico e o governo de

Ninrode, o poderoso caçador (...). O papado é a caçada selvagem do

Bispo de Roma”.

Se, no tempo dos apóstolos, coube a Josefo revelar o que os judeus

pensavam sobre Ninrode, Lutero também revela o que as pessoas do seu tempo

pensavam sobre esse personagem. Ninrode fundou Babel, que dará origem à

Babilônia, e também criou Nínive, que originou a Assíria. E justamente todas as

cidades a partir daí se tornarão pedra de tropeço para o povo de Deus.


PENTATEUCO - O Nascimento do Paganismo no Antigo

Testamento (Parte 2)

I Cosmovisão do Pentateuco

A cultura e a religião babilônica marcaram profundamente o cotidiano das

civilizações da antiguidade bíblica, afetando a história do povo de Deus. É

extremamente necessário entender o ambiente cultural babilônico, presente em

todo o Antigo Testamento, para entender as ações de Deus, cujo objetivo é resgatar

seus filhos da idolatria. Nesse sentido, o Livro de Gênesis também tem o propósito

de confrontar a idolatria e incredulidade dos hebreus, que foi a causadora dos dois

grandes cativeiros de Israel. Essa influência babilônica foi presente não só na

história bíblica, mas em outros povos e continua até hoje.

Lembrando que Ninrode é peça-chave para desvendar a religião babilônica,

por sua vez, a religião babilônica vai ajudar a desvendar o cenário do Pentateuco.

É improvável que Ninrode seja um nome próprio, já que significa “Rebelde ou

rebeldia”, e como já mencionado, o nome dele é Sargom. Ao se analisar os

documentos históricos, vemos que as relações de Ninrode eram bastante

conflituosas, os historiadores suspeitam que Semíramis, sua mulher, também seria

sua mãe, vale ressaltar que a essa altura Babel e Nínive já haviam sido construídas.

Segundo a tradição, Sem, filho de Noé e tio-avô de Ninrode, foi quem o

matou, e seguindo a História, Semíramis, esposa de Ninrode, surge grávida após

seu assassinato pelas mãos de Sem. Caçador, escravagista e conquistador violento,

Ninrode é o símbolo duma sociedade que se rebela contra a vontade de Deus, tendo

papel central em sua organização. A fim de manter a popularidade e dominância

de Ninrode, sua esposa difunde as ideias de permanência e legado: “Lembre-se que

ele é o príncipe dos céus, o deus sol. Ele não morreu. Enquanto o sol nascer, ele

estará conosco e aquecerá nossos corações.”

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II Nascimento do mito

A partir do momento em que a esposa de Ninrode faz essas declarações,

uma história comum se torna em uma colcha de retalhos de lendas e assim nasce

um mito. As pessoas começam a acreditar que ela está grávida, não de um simples

homem, mas do deus-sol, e cria-se a ideia de que a gravidez foi gerada pelo espírito

do deus-sol. Este mito é o fundamento da tradição cultural babilônica, e de acordo

com esse mito:

• Ninrode é o deus-sol.

• Semíramis, sua esposa, é a deusa-lua.

• O “filho” de Ninrode e sua esposa é o príncipe dos céus.

Note que saímos da história bíblica e entramos na mitologia babilônica para

entender alguns aspectos do ambiente bíblico, pois a mitologia do deus-sol/deusa-

lua permeia o pensamento de Israel por toda sua existência. A narrativa do Antigo

Testamento é uma pregação contra a mitologia babilônica e seu tipo de

religiosidade, fruto desse pensamento. No Pentateuco, assistimos a fé judaica

brigando contra a mitologia babilônica e perdendo muitas vezes, porque o mito

babilônico se tornou uma estrutura enraizada na mentalidade do povo judeu.

III Importância do conhecimento do mito

É importante estudar o mito babilônico, pois a Bíblia enfatiza que é dessa

Babilônia que todas as falsas religiões procedem. O mito babilônico é o inimigo

oculto do judaísmo, que a revelação bíblica combate. As páginas do Pentateuco

desvendam essa batalha, e o Livro de Apocalipse chega a dizer que Babilônia é a

grande meretriz, por considerá-la a mãe de todas as falsas religiões:

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“A mulher estava vestida de azul e vermelho, e adornada de

ouro, pedras preciosas e pérolas. Segurava um cálice de

ouro, cheio de coisas repugnantes e da impureza da sua

prostituição. Em sua testa havia esta inscrição: MISTÉRIO:

BABILÔNIA, A GRANDE; A MÃE DAS PROSTITUTAS E DAS

PRÁTICAS REPUGNANTES DA TERRA.” (Ap 17:4,5)

IV A deusa-mulher: mito, religião e cultura

O nome “Semíramis” é traduzido em algumas outras línguas como “Ishtar”

que significa “estrela” (o nome “Ester” vem desta etimologia). Na Bíblia, todas as

referências à rainha dos céus estão relacionadas a Semíramis (esposa de Ninrode).

Assim podemos fazer a conexão com o ambiente bíblico, a própria Ester é um

indicativo da presença babilônica na realidade do povo judeu, e do mesmo modo

que temos no Brasil nomes como João ou José, que são inspirados na tradição

bíblica, há uma personagem bíblica que segue o caminho oposto; recebeu o nome

Ester baseado numa tradição babilônica. Do ponto de vista do povo de Deus, isso

é muito relevante pois influenciou diretamente o judaísmo, sendo impossível

desassociar as duas culturas.

Esse cenário imemorial criou a figura de Semíramis, uma mulher símbolo de

empoderamento. Atualmente, a própria imagem de mulheres com os seios de fora,

dando a ideia de liberdade, poder e independência, vem de Semíramis. Tentam

expressar inovação, controle e autonomia, mas usam um antigo símbolo religioso

pagão de coerção e misticismo. Todavia a liberdade real tem outro caminho:

“Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou

mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gl 3:28)

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Deve-se questionar a suposta voz da liberdade de Semíramis, cada vez mais

atraente em nossos dias, que se traveste de novidade, mas destila engano. A

religião babilônica se impregnou em nossa cultura, raptando o imaginário

brasileiro, e um exemplo é o filme chamado “O Auto da Compadecida” (2000), no

ápice do filme, quando um dos personagens é acusado por Satanás e será

condenado, quem resolve a questão, absolvendo o personagem, não é o Pai nem o

Filho, quem resolve é a mãe, a rainha, ela quem tem a palavra final.

V A tríade divina babilônica, as civilizações e a História

Semíramis e Ninrode têm um filho chamado Tamuz, fechando a trinca

babilônica, uma visível oposição e imitação da trindade bíblica Deus Pai, Deus Filho

e Deus Espírito Santo. E curiosamente, a imagem de uma mãe com uma criança no

colo não nasce no catolicismo, onde a vemos com frequência, ela tem origem na

Babilônia, e desde a Antiguidade até hoje, houveram várias versões de uma mulher

com uma criança no colo, e essas variações vistas em muitas partes do mundo são

um eco de Semíramis e de uma religião muito mais antiga, retratada lá no início de

Gênesis – diz a lenda que Tamuz foi atacado por um animal feroz, e Semíramis

convocou todas as suas sacerdotisas a um jejum de 40 dias, para que Ninrode

concedesse a benção de ressuscitar o seu filho.

É justamente nesse período que surge a ideia da árvore com presentes,

utilizada no Natal. A primeira referência que temos na história desta árvore

representava uma oração, uma prece para que o deus-sol revivesse Tamuz. Com o

passar dos anos, cada cultura acrescentou elementos e significados, de forma que

hoje a árvore de Natal possui inúmeras referências, num verdadeiro caldeirão de

misturas culturais. E por conta das preces e do poder do deus-sol a criança reviveu.

O mistério de uma mãe com uma criança, que por sua força, fé e abnegação mudam

os rumos da história passa por toda antiguidade, muitos anos antes de Cristo.
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O nome Tamuz, codinome do deus-sol, e a alcunha de rainha dos céus

aparecem na Bíblia, denunciando o fato grave: o povo de Deus prestava culto a

esses personagens. Enfim, a religião babilônica nasce da astúcia de Semíramis,

atuando ao lado da violência e rebeldia de Ninrode. Essa tríade babilônica continua

influenciando e precisamos ter cautela:

“A mãe que através da sua intercessão conseguiu ressuscitar o seu filho,

e fazer dele alguém que pudesse comprovar a veracidade dessa

religião.” 1

VI Uma provocação à nossa profissão de fé

Ao invés de falar sobre anticatolicismo ou antievangelicalismo, volte-se para

si mesmo, vá mais fundo e se pergunte: O quanto da religião babilônica existe na

minha fé? O quanto de misticismo tem na sua prática religiosa? E a relação entre

homem-mulher-filho, cada um está em seu lugar ou há distorções e manipulação?

Quão impregnada de tradição babilônica anda a sua fé?

Antes de criticar qualquer religião, reflita se a sua fé já foi atacada por isso

(e lembre-se que o apóstolo já nos alertou que “um pouco de fermento leveda toda

a massa.”). Assim, temos a deformação das relações familiares – traição, abuso,

violência, manipulação –, fruto do declínio moral e baseado na tríade babilônica:

• A figura do homem ausente.

• Uma mulher centralizadora/dominadora.

• Uma criança usada para manipular emocionalmente.

E esse trio babilônio pode ser visto ao longo da Bíblia e da história, até

mesmo sob outros nomes, veja o caso de Semíramis e seus outros nomes:
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“O nome Astaroth é derivado da deusa fenícia Astarte, um equivalente

da babilônica Ishtar e da suméria Inana. Ele é mencionado na Bíblia

Hebraica nas formas Ashtoreth (singular) e Ashtaroth. “2

“Salomão seguiu a Astarote, deusa dos Sidônios, e a Milcom,

abominação dos amonitas.” (1 Reis 11:5)

“Os filhos de Israel lançaram fora as baalins e as astarotes e

serviram só a Jeová”. (1 Samuel 7:4)

“Puseram as armas de Saul no templo de Astarote, e

penduraram o seu corpo no muro de Bete-Seã.” (1 Sm 31:10)

“Clamaram a Jeová e disseram: Pecamos, pois deixamos a

Jeová e servimos aos baalins e às astarotes: mas agora livra-

nos da mão dos inimigos, e te serviremos.” (1 Sm 12:10)

“Tornaram os filhos de Israel a fazer o mal à vista de Jeová,

e serviram aos baalins e às astarotes e aos deuses da Síria,

de Sidom, de Moabe, dos filhos de Amom e dos filisteus;

deixaram a Jeová, e não o serviram.” (Juízes 10:6)

“O rei também profanou os altos que estavam defronte de

Jerusalém, à direita do monte de corrupção, que Salomão, rei

de Israel, tinha edificado para Astarote, abominação dos


sidônios, e para Camos, abominação de Moabe, e para

Milcom, abominação dos filhos de Amom.” (2 Reis 23:13)

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“Falou Samuel a toda a casa de Israel: Se de todo o vosso

coração voltais a Jeová, lançai dentre vós os deuses

estrangeiros e as astarotes, preparai os vossos corações

para com Jeová e servi a ele só; ele vos livrará da mão dos

filisteus.” (1 Samuel 7:3)

“Isto farei, porque me deixaram a mim, e adoraram a

Astarote, deusa dos Sidônios, a Camos, deus de Moabe, e a

Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andaram nos meus

caminhos, para fazer o que é reto aos meus olhos, e para

guardar os meus estatutos e os meus juízos, como fez Davi

seu pai.” (1 Reis 11:33)

“Abandonaram a Jeová, e serviram a Baal e a Astarote”.

(Juízes, 2:13)

Os cananeus, povo pagão que habitava Canaã e cuja terra foi conquistada

por Israel, beberam da tradição babilônica e multiplicaram os falsos deuses. Os

nomes e símbolos variam de tempo em tempo, cultura e lugar. E a simbologia, em

cada caso, transmite a mensagem e os valores da religião babilônica, de forma que

distorça a relação homem/mulher, assim como a de Deus com o ser humano.

Abaixo, vemos os diferentes nomes dados à tríade babilônica, de acordo com

algumas regiões:

• FENINCIA: BAAL(NINRODE ) ASTAROTE (SEMIRAMIS)


• ASSIRIA: SHTAR(SEMIRAMIS)

• Egito: Osíris (Ninrode), Isis (Semiramis) e Hórus (Tamus).

• Grécia: Zeus (Ninrode), Afrodite (Semíramis) e Eros (Tamus).

• Roma: Saturno (Ninrode), Vênus (Semíramis) e Cupido (Tamus).

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E agora, observe os textos bíblicos para notar o pano de fundo cultural:

“E levou-me à entrada da porta da casa do Senhor, que está

do lado norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas

chorando a Tamuz.” (Ezequiel 8: 14)

Perceba que essas mulheres, que faziam parte do povo de Deus, estavam

orando para Tamus. Esse é o pano de fundo que precisamos enxergar.

“E disse-me: Vês isto, filho do homem? Ainda tornarás a ver

abominações maiores do que estas. Elevou-me para o átrio

interior da casa do Senhor, e eis que estavam à entrada do

templo do Senhor, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte e

cinco homens, de costas para o templo do Senhor, e com os

rostos para o oriente; e eles, virados para o oriente adoravam

o sol.” (Ezequiel 8:15-18)

Ezequiel está falando de mulheres que estavam chorando por Tamuz, e de

homens dentro do Templo de costas viradas. A figura e a linguagem usadas são

poderosas. Note que eles estão de costas viradas para Deus, adorando o deus-sol,

e já sabemos que, dentro da religião babilônica, o deus-sol é Ninrode.

Seguimos, agora com a leitura de Jeremias 44:14:


“De maneira que da parte remanescente de Judá, que entrou na terra

do Egito, para lá habitar, não haverá quem escape e fique para tornar à

terra de Judá, à qual eles suspiram voltar para nela morar; porém, não

tornarão senão uns fugitivos. Então responderam a Jeremias todos os

homens que sabiam que suas mulheres [...]

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[...] queimavam incenso a deuses estranhos, e todas as mulheres que

estavam presentes em grande multidão, e também todo o povo que

habitava o Egito, dizendo: Quanto à palavra que nos anunciaste em

nome do Senhor, não obedeceremos a ti; mas certamente cumpriremos

toda a palavra que saiu da nossa boca, queimando incenso à rainha dos

céus, e oferecendo-lhe libações, como nós e nossos pais, nossos reis e

nossos príncipes, temos feito, nas cidades de Judá, e nas ruas de

Jerusalém; e então tínhamos fartura de pão, e andávamos alegres, e não

víamos mal algum. Mas desde que cessamos de queimar incenso à

rainha dos céus, e de lhe oferecer libações, tivemos falta de tudo, e fomos

consumidos pela espada e pela fome. E quando nós queimávamos

incenso à rainha dos céus, e lhe oferecíamos libações, acaso lhe fizemos

bolos, para adorá-la, e oferecemos-lhe libações sem nossos maridos?”

Esse texto é incrivelmente revelador em relação à idolatria, e revela o cerne

da história que estamos estudando. Jeremias traz uma palavra sobre o cativeiro e

o juízo de Deus, que estava vindo sobre o povo. Ele denuncia o quanto o povo estava

mergulhado em idolatria e longe de Deus. Primeiramente, Jeremias endereça a

palavra profética às mulheres, e surpreendentemente, com o coração cheio de

rebeldia, elas responderam que continuariam (como visto na citação acima), elas
estão dizendo que preferem adorar a Semíramis, a rainha dos céus, do que ouvir a

voz do Senhor, e ainda ironizam dizendo que os seus maridos também preferem

Semíramis, pois estavam eles estavam junto delas no culto à rainha do céu.

Casais idólatras, cúmplices no pecado e na dureza de coração, diziam que

todo o caos que recaiu sobre o povo foi porque eles pararam de adorar à

Semíramis. Um povo tão confuso e tão cego que não percebia que o cativeiro

aconteceu justamente porque foram engolidos pela religião babilônica. Um povo

que não conseguia mais ouvir.

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“Ouve, oh Israel, seu Deus é o único Senhor.” (Dt 6:4)

Corre-se o risco de ficar cego para as práticas de idolatria e rebeldia quando

não se entende a cultura babilônica presente na Bíblia, e essa matriz religiosa não

está presente somente no Pentateuco, mas ao longo de todo o Antigo Testamento.

Vemos a batalha entre a fé verdadeira e o paganismo idólatra, e também podemos

ver de onde vêm esses ídolos:

“E fez mal aos olhos do Senhor porque voltaram as suas faces

para religião da Babilônia e toda vez que eles se voltavam a

religião da Babilônia eles faziam o que era mal aos olhos do

Senhor. Porém, os filhos de Israel fizeram o que parecia mal

aos olhos do Senhor; e o Senhor os deu na mão dos

midianitas por sete anos.” (Juízes 6:1)

“E fez o que era mal aos olhos do Senhor, conforme as

abominações dos gentios que o Senhor desterrara de suas

possessões de diante dos filhos de Israel.” (2 Reis 21:2)


“Tinha Manassés doze anos quando começou a reinar e

cinquenta e cinco anos reinou em Jerusalém. E fez o que era

mal aos olhos do Senhor, conforme as abominações dos

gentios que o Senhor lançara de diante dos filhos de Israel.”

(2 Crônicas 33:1-2)

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Precisamos compreender que o Livro de Gênesis é escrito com intuito de

confrontar a incredulidade e a idolatria existentes no coração da nação, cuja fonte

era a religião babilônica. E nesse momento pode-se pensar na influência da religião

egípcia, porém ela é uma cópia, derivada da Babilônia.

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