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O que é história pública e o que os historiadores públicos fa .zem? Nos LLltimos
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.1 tempos, tcrn havido uma explosão de represenlações populares do passado.
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Tornou-se quase impossível ligar a televisão e não encontrar a. série de grande ·1
audiênàaA history ofBritain, <le Simon Schama, ou o documentário dramatizado
Band of brothers, de Steven Spielberg l , ou ainda Ligar� rádio e não bisbilhotar um
discurso sobre memória e lembrança. O entusiasmo pela história viva domina a
'i· nação. A série The 1940s house, com uma família contemporânea oferecendo-se
para "reviver" o racionamen,o e a blitzkrieg, foi extremamente popular. Tanto
que a exposição J 940s House, do I mp erial War Museum, na qual '17 Braem.1r
�.
't Gardens, West Wickham' foi reconstruída em toda a sua banalida.de suburbana
-para o deleite de hordas de jove,ns estudantes - foi pronogada por duas vez�s. 2
'' Enquanto isso, a revista BBC History, apresentando History togo e HLstory on d1e
[.,,i net, vende mais de 50 mil cópias por mês.
''
1,1! Sim, "o passado é um país estrangeiro"; eles ainda "fa�m as coisas diferen
tes lá" (Hartley, 1958). 3 Mas, de forma crescente, seja na história de Schama ou
V1, '
'
ll., em The trench t;xperience\ do imperial War Museum, o passado·,popli!ar é apre-
Ji 1. Radio Times, 5-11 mai.; 29 set.; 5 out. 2001. 'i
l:1 2. R'adio Times, 6-12 ja.n. 2001.
l
3: Ver também Lowentlia.l (1985, p, 185).
4. Quando estive no Imperial War Musr.um, minha roupa enroscou no a.rame farpado e havia desespero
:•,, 'rea1' na voz do 'Capitão Ne\.',•n1an' das trincheiras.
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32 lntrocuçao � Hrstorl� PutllcJ O qu� é h ,rória p11bllca? 33
sent.ido çomo se estivesse logo ali, dobrando-se a esquina. a um mero estalar de estamos perdendo a chance dP pPnsar sobre o que quert?mos dizer por "públiro" e,
dedos. Não{• preçbo passaporte ou lima longa viagem; você sú Lem que usar o com isso, perdendo a oportunidade de apcrfoiço�r nossa própria prática?
çontrole !'emoto da TV, clicar com seu mouse, navegar pelo History Cliannel 5, e O que quero fazer aqui, portanro, é explorar significados P usos amplos
instant/lneamen,te - muitas ve1.es, prazcrosamente - você estará lcí. de "história pública", feitos tanto por profissionais quanto por acadêmirns, ini
O passado, ou ao menos suas formas populares, está a nos rodear. E pas cialmente aLravés da comparação com a história oral; em seguida, rastrear como
sado significa negócio. Produtores de rádio vasculham seus contatos cm busca estes diferentes significados se desenvolveram - primeiro nos Estados Unidos,
de histotia�lores cap,1zes de resumir o pesquisa atual cm umas poucas senten depois na Austráli.a P., por fim, na Grã.-Bretanha.� Assim, quero invesligar o que
ças. Até as associa�õcs acadêmicas de elite debatem "Os historiadores e seus entendemos pela palavra-chave "público" (em opo:;ição a, digamos, •o povo", "a
públicos".n O pioneiro Ruskin College, cm Oxford, oferece um Mestndo em His sociedade" ou "as massas"), verificando se os teóricos sor.iais e cultura.is podem
tória Pública, enquahto outras instituições dão cursos em história aplicada [c.rp nos ajudar; e, enfim, consicier,1r como essa teoria ajuda historiadores públicos
plied histo,·y) ou eswdos de patrimônio [heritag e swdies] com um componente de em nwaçâo - cilando exemplos de boas práticas q"e atravessaram meu caminho.
hisl ória pública. 7
Então: agora somos todos historiadores públicos? Será que todos os que se
\ HISTÓRIA ORAL, HISTÓRIA PÚBLICA
debruçam sobre o passado com a participnção do público (sejam eles visitantes
de museus, telespectadores ou grupos de estudantes) é um "historiador públi Fale em "histól'ia oral" e muitas pessoas itnaginarao uma entrevista, um gravador
co"? A "história pública" é um guarda-chuva tão acolhedor a ponto de oferecer e talvez uma transcrição: normalmente uma pessoa mais velha irá "relemb 1·ar" e
r,1 abrigo a todas as formas de história "popular" - seja ela a história oral ou a "his essas "memó1ias" serão usadas de várias formas: livretos com as "testemunhas
tória dvs povos", a "história aplicada" ou os "estudos do patrimônio"? A resposta, do ontem", o programa Ard1i-11e Hour da Rádio KHC, ou uma sessão de reminiscên
1:i
provavelmente, é lUTI generoso "sim": deixai quP mil flores desabrochem. Sem cias numa CMlil. de repouso. Hoje em dia as pessoas "entendem" a prálica da his
dúvida, cm conferências recentes, ouve-se uma ampla gama de profissionais tória oral. Contudo, como objeto de estudo no Ensino Superior ela se torna um
'1 historiadores orais, educadores de adultos, arquivistas experientes - alegarem, tanto mais desafiadora. Se considerarmos mn curso de pós-graduação bem esta
-, com um t.lnto de mistificação, que "até ouvir a frase 'historiador público', cu não belec.ido, veremos que ela explora �as questões éticas e epistemológicas colocadas
:!1 tinha percebido que fiz isso a minha vida toda. /\gora eu tenho um rótulo". pela relação entre narrador e pesquisulor. (...) fe] entre memórias, n;rrativas e
Enlret_anto, uhistória pública'' é um conceito escorregadio. E o desafio de identidades".9 Claramente, os esludantes depMJm objetivos mais complexos.
E assim é, a meu ver, com a histórPJ pública - erubora muito menos en
uma abordagem l\CUmênica é, creio eu, que a expressão seja u�ada em tantos
raizada na Grã-Bretanha do que a história ,J1"<1l. Quando se menciona "história
'i'1 i.cntidos - tanto na Grã-Bretanha quanto inl'ernacionalmente, por profissiona_is
·Y, e ac;idêrnicos - a i:,, ,nto de se tomar desconcertante. E se "história pública" é me
pública", as pessoas ainda torcem o na, iz devido à falta de familiari<lade. Quando
1,I recebem uma definição dpida, eles e11t.io acenam positivamente (e te contam
ramente um novo nome para aquilo que nós já estávamos fazendo, será que não
com entusiasmo sol.,re o episódio de Spidberg que acabaram de assistir ou sobre
.1 5 Di.,ponívct rm: vnvw.hislorychannel.,om (l!UA), que indui: This tlay in 1 /isc.•1'\I,
' . Rdive lOI.I )'•"'" Cli,k o museu qut! visitarnm). Assim, par..i manter dara em nossas mentes essa dis
if hm·, e um quadro de Pati·ocinado,·�.• (indu.iri<lo n rede d,; hotfo Holidny lnn).
tinção acadêmico/proí1ssional, podemos considerar a prtfricn da história pública
jÍ I 6. T!tulo da conferencia d� Royal Historical Society (R.HS). abril de 2001 (University of York).
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7. Simon Dilchfie:d: "ft pays to hdp the publlc to meet the .uicestor,". Times Higl,,,r F..durntion Supp/e 8. Hec:r>nht-ço u1na inclinação anetofoní!.; mas espPro �ue 1sto in ide o dcbalu �111 ontrl.iS c,druras.
n,�11t, 20 ahl'C. de 2001.
�- Unive.-sity of Sussex, L,f� Hismry R,•,e,mh: Oro/ Hlstor; and Mass-Obse,vntion (mest1ad oi.
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r 34 lntrodJçàO à Hisr,ó,ia Pública
J a "economia elo patximônio". 10 Mais uma vez, esta.mos 11um terreno bem mais
History. Governo, capitalismo, exército. Nos Est;idos Unidos, 'esta perspcctiv<\
f desaft a<lor do que mn mero clique no History Channel. Assim, o estudo <le his
corporativista .foi logo alvo de ataque - por parte, por exemplg1 d9,- liistoriador
;
oral Ron Grele, que decfarou furiosamente:
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tória pública está ligado a rnmo adquirimos nosso senso de passado - por meio .
ela memória e da paisagem, d. os arquivos e da arqueologia (e por consequência, é A ''história publica" ( ... ) não tem nada de novo. Ela está ocupando campos há
muito ocuparlos por historiadores nào acadêmicos (. ..) [como] ds pr'oj:etos de
claro, do modci como esses passados ;ào apresentados publicamente).
história conmnitária ( ... ). Como o rnovimenlo da história p�blica igngro).1 estes
Fiz estas distinções - que espero que não sejam enfadonhas - porque dis-
1 cussões sobre história pública rapicl'amente se dissolvem em perplexidades do _debates, ele parece ter aceitado uma ideia bem mais limitada,da profissão (...).
i\ Ser um histo1iador parece significar ter um t•mprego, ganh�r a vida, cavar �m re
tipo "mas o que você quer dizer com ... ?''. Isso porque o «significado" de história fúgio seguro (...). [A história pública] nos promete uma sociedade na 9ual um p,t
pública parece variar de acordo com u cenário - profissional ou acadêmico. Em blico �mplo participa na conslrnçáo ele sua própria história (... ) . ! Do �ontrárinl.
todo caso, na Grã-Bretanha esses dois mundos são mai.s separados a cada dia. ela irá ( ...), na pior das hipóteses, desviar nossas energia.< para o oportunismo
1
Neste texto, eu escrevo conscientemente para ambos: para profissionais e tam pelo statm quo. (Grele, J 98), p. 44-8)
bém para acadêmicos da história pública. De Cato, a "história pública'' rapidamente se tomou um território muito con
tes lado nos Eslados Unidos. A geração dos raclicais do Vietnã desafiou as reivin
dkações da velha elite,brahca à posse exclusiva do passado; ela criticou as nos
ÜR1GENS DA HISTORIA PÚBLICA : ESTADOS UN IDOS
tálgicas aldeias-rnuseu [museum vil/ages) financiadas pelo capital privado (como
História pública é "o novo nome para a hist ória mais velha de todas". Aqui, p orém, o Colonial Williamsburg, de Rockfe.Uer, ou o Greenfield Village, de Henry Ford)
Jti em vez de uma genealogia detalhada, precisamos apenas lembrar a nós mesmos que "distorceram o passado, mistificou a forma como o presente emergiu, e aju
�i que se pode remontar as origens da história pública a meados da dêcada de 1970
t dou a inibir a ação política no futuro" (Wa!Jace, 1986, p. 146). Ao imrf's do novq
i' 1
e ao desemprego entre os formados - e, em particuJar, à University of California,
Santa Barbara (Davison, 1 991, p. 4). u O historiador fundador dali declarou: "A
movimento da nova histótia pública, esses historiadores olharn111 par_a trás: para
, as iniciativas do New Deal de Franklin Roosevelt, na dé cada de 1:1. 30 .' Roosevelt,
1,
história pública refere-se ao emprego de historiadores e do método histórico fora lembrando zombeteiramente que as Filhas 'da Revolução A mericao.a eram t<\rn
;, 1 da academia ( ...) . Histori.adores, públicos estão a trabalho sempi-e que, den t.ro de bém descendentes de imigrantes, desafiou as reivindi.caçóes da elite pe.fo passado
,j"1 suas qualificações profissio1}aÍS, são parte do processo público (Kelley apud Da.vi buscando dar ao I:stado federativo "uma abordagem da históúa pública que ex
,.,,:i,;;'I son, 1991).12 A ênfase, aí, recai sobre os profissionais e sua e mpregabilidade no panr-lisse a definição de histórico ( ... ) (e] pudesse competir com o Qapi'tal privado
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1,
10. Univer•ity <of York, f-füt�•-y nnd Heritage (mestrado); www,}'Otk,, r_uk/tlepts/hist. como guardião da memória pública". O Estado provou seu poder. Mais de m.iJ
wV
1
• ' 1
l l. Para cutros cursos de história aplicaC.3., ver também Schulz {1999, p. 31). arquítetos de�empregados foram contratados pela Historie Americ�n .Builcling
1 ,.
, 12. Kelley era 1un historiado, do meio ar.obiente e G, Wesley Johnson, um histotíador da África. iuteres Suxvey para medir e fotografar edifícios·· - "enraizados em tradições e memórias
s,.do em história local.
1
:1,.1
36 I ntrodu ção � História Pcl>l,ca
0 Que é lmtórlõ p úblicz· , �7
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piradores de historiadores trabalhando pLLblicamentc.
da Vidq e da Histó ria Afro-Ameücanasl, ao pass o gue a Midclle Tennessee State
University, próxima a Nashville, oferece a Country Music Foundation e também
!: Graceland, Memphis. As c olocações (empregos obtidos por graduado s t reinados) HISTÓRIA PÚBLICA EM ESTILO AUSTRALIANO
li
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,i incluem os gj. gantcs Na tional Park Servi� (NPS) e o Smlthsonian InstiLution, u
A "hist6ria pública em estilo ausl ra.liano", de inspiração radical e pensamento
1, US Senat,e Historical Of6ce, e tan1bém o Wells Fargo Banl<, o Gene Autq Mu- .
l semn. e o Lower Êast Side Tcnement Museum em Nova York (NCPl:--l, 1996) .J 3 E
revigorante, desenvolveu-se ligeiramente mais tarde do que o m ovimento da
história pública n os Estados Un.idos20 e, em parte, como crítica a eele (embora
recentemente os alunos empreendedores da Univers ity uf Maryland criaram o
compartiihando sua preocup ação com questões empregatícias e vocacionais). Ela
websile do Public History Resource Center. l<
atuou co m ene rgia, por vezes com uma c.rítiça mo.rdaz aos h istoriadores univer-
Alguns académicos americanos permanecem cínicos dianle da história pú-
blica, considerando-a infrutífe ra ou op o rtunista. '5 Mas o inovirnento da história 16.Disponive.l em: www.n.nps.gov/history, e no Dirn.- 1 01· ;,of
NatiM.J.l Pa.rk Serviçc Histmians, ?00. l .
Agradeço a Constmcc Schulz por me apresentar a f1wight Pitcalthl y
iif.., pública oferece excel f'ntes exemplos de colaboração cri a tiva entre acadêmicos e
grata a º"�ght e !.,aura Fell•.r pela disCl.lSSiio tWuhlngtou,
e , historiador-d,efo da NPS. Sou
maia de 2(101 ) .
1 :r
: 1 profissionais. O NPS gerencia tanto paisagens (o Grand Canyon, por exemp lo) , 17. Confira em: www.ncph.org.
quanto edifícios históricos (coino a Casa Branca), e desenvolveu maneiras d e tra- 18. Ent.revisca com Mike W.Uace: Radical Hisrory Revie:v, v 79
, 2001, p. í,B. Disponiv�I em: chnm.gmu.
I\, �r
eduhhrirhr.htm. A RHIÚniciou su� seção ele hísi&ia pública
cm l.987. Ap,radéç<J a Dave !Gnkcla por ístó
13. .l\gradeço a Lam·a f.eiler, historiadora do NPS. Ver também Ritchi� (2001). 19. "Torne-· se. um membro da Colonial WiUiamsburg Foundati
.• on o aj ude- 110s a i:ompart.ill·,•r as lições do
14, Col\fira em: w�s. pi1blichis tnry.org. Concebido profissionalrnenle, o site inclui resenhas e di<:as sabre nosso pa�sado 1..om as jovS'ns mentes �fo- ho j t:!'"1 Jiz o folheto com inc�ntivo
:'k) , s a.os coaLribuidoti:s.
,, vagas de emprego, e oferece esthnulos pao "'se[ ofid,1hnente reconh�cido como um EdHor J\ssodado". 20. Sobre "" acei ta.çlio ii-refletjda do credo pmhssio1ml baseada
num modelo co11,;e11Sllal liberal de socieda
15. Con:o amavelmente defende Cantdon (1999).
· l .{ de" pelos Escadas Unidos, ver Rickan:'. e Spe;mit. t (1 991, p.
3) e Davison (1991, p . 14).
tj + ;
38 lntrocluçiio.:, \\i�•.c',ria Pul1lica o que & histón� póbtlc�? 39
ilidade empregatíçiaj. "A his indagou brilhantemente (embora muitas vezes idiossincratic.arne1�te)' a respeito
sitários, refestelados no langclr de seu tenure [estab
o. f)'.istoria dores autônomo s de como sabemos s obre o passad o. "A resposta simples é", -respohde;1 provocati-
tória enb:ou no merrndo como nunca h avia ocorrid • 1
1:
1
GRA-8RETANHA: PATRIMÔNIO E MEMÓRIA histórico-naci onal, simplesmente cochila" (Wright, 1985, p. 53, 55). �inda mais
uírjco e controverso foi o pe s simista The heritage industry: Britain in a clim(lte
Os debates mais ruidosos na Grã-Bretanha acerca do nosso senso sobre o p assado
j' of decline, de Robert Hewison (1987): "conforme o passado começa a se erguer·
não se deram em torno da "histó ria pública", mas do património e da memória
i nacionais. Eles foram liderados por \tm novo ramo de /andscape hist01ians [histo
s obre o presente e obscw·ecer os caminhos para o futuro, um� palávra pani.cula1·
li sugere a imagem em torno da qual se aglomeram outras ideias �obre o passa
.' riadores da paisagem], geógrafos históricos e teóricos culturais. 171e p ast is a fo
do: patrimônio [heritage.]". H.ev,,rfson também atac ou o NationaJ Tru.st, há muito
1, reig11 country (1985), de David Lowe.n thal, um historiado dgeógrafo proustiano,
1 1 temp o "o feudo" dos "condes das amenidades", e desferiu llm ataque valente ao
1
1
11 21. Ver também :Phame (1991 ); Kass e Liston m)91). desvendar a entrelaçada "p olítica. de c!Jentelismo" da "indústria" do patrimônio e
'1 1 22. Ver Aslnon e Harnilton ( 1996-7, p.1 './-3 ). Agradeço a Paul pelas cop ias .
,!· 1,
25. Ainda a.ssi!n. Da11iJ Glassberg (1996 ) estimulou wna me,a.-re,fonda que indufa, r..o,yct\thal e PrLsc:h.
.1 ,, ! 23. Ver Mo,garc (1991, p. 78 cm diante}.
, } 24. Parn apresentaç.ões de museus. ver Ora/Hi,tc1,,. \'. 29, n. 2, 2001, p .. 21-2. Ver 11w Public HiitPrian, v. 19, n. 2, 1997.
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4() tnuoduciio à H,srór,a Púbt,c� O ql!e é h,;tória p0bt, ca? 41
a polit.izaçâo thatcherista do escablishment d a cultura após 1979 (Bewison, 1987, -Bretanha e m meados d a décnda d e l !190. A revista Om/ Hislor)' lançou, e m 1 997,
p. 31, 55, 1 11, 118).� uma nova seç.ão de história pública, focada em ''usos e representações públicas
Sa:htaudo "o patrimônio das pessoas" destes "destruidores de patrimônio", de hislória oral em uma grande va1;edade _de mídias", oferecendo novidades dos
RaphaeL Samuel surgiu como um inesperado defensor. Seu afeLUosamente ecléti Estados Unidos e da Austrália e enfatizando qliestões globais, como migração e
co T11e(ltres o( memory (1991) celebrava o "conhecimento não oficial" e a memória novas tecnologias, corno web siws (embora os Leitores perma necessem confusos
poplllar,' corítra Wi-ight, o "reacionário chie", e Hewison, o "àristocrata conspira a respeito do que "história pública", de fato, ef�).w Outro dos pioneiros foi, sem
1
dor". Sal.n11el traçou as raízes de "patrimônio" até os desfiles da "Marcha pela His dúvida, o Ruskin College do próprio Raplrnel Samuel, urna escola para alunos
tória''. socialis_ta dos anos 1930 e os parques nacionais do governo Attlee (Samuel, adultos, que oferece desde 1996 um Me�t.rado em História Pública em tempo
1 99•1. p. 207, 210, 242, 297). Patrimônio, ele afirmou, teria menos a ver com parcial. Seu programa inclui o estudo de memória popular e história visual - jun
casas de campo e mais corn humildes casebres provincianos, com a preservaç- ão tamente com um grupo de discussões . ;;obre história públic.a com o objefrvo de
de anti. gas técniças artesanais (como as associações de ferrovias a vapor) e ativi "atravessar o abismo entre o estudo acadêmico e o mundo real":Y.i Desde '..W00,
da des plebeias (como os vendedores de barraquinhas "retro-chie"). Ele atacava o Rusldn College também tem organizado congressos bem sucedidos sobre his
a condescendência dos heritage•baiters, chamando-os de esnobes literá1ios rni tória piiblica, baseados em oficinas participativas que atraíram alunos adultos
\ sôginos, e procurava, ainda que brevemente, nos Estados Unidos e na Austrália e family hi.çtorians, curadores de patrimônio e professores universitáiius. Com
inspiração para a história púl>lica (Samuel, 1 994, p . 265, 267, 274, A�envord; certeza, isto foi o que me trowce à bjstó'íia pública.
Man<ller, 19"97, p. 474). Meu trabalho original era como pesquisadora da BBC. Foi só após deixar o
jornalismo para t..rás e me mudar para o Norte, em 1974, que me envolvi pela
t, primeira vez com a Oral History Society - quando Paul T hompson e Raphael
H t sTúRIA PÚBLICA NA GRA-8RETANHA: ÀUTOBlOGRAFlA
Samuel encorajaram JiU Norris e a mim em nossa experi�ncia com o sufrágío
(Liddington, 1977). Desde eutâo, traballiandc> na educação ele adultos por toda
Contudo, em vez da ''história pública", o que emergiu na Grã-Bretanha foi o En
WcsL Yorkshire, me envolvi com proj l:'tos de história comunitária - escrevendo
gLsh Heritage (um quango'1 com fundos governamentais criado em 1983).7" As
lj, livretos com aprendizes mais velhos, organizando exposições locais, trabalhando
tentativas de introduzir a "hist6ria pública'' vinda da América nunca deram cer
j
em colaboração com museus e bibliotecas. •·
�½ to. O History Works hop Jou mal, com um antigo interesse na história em fi.lrnes,
1 Então, em 1999, fui convidada pelo Labour Women's Coundl local, com o
por exemplo, "tinha inaugurado uma seção, em 1995, destacando museus, tiri
qual eu tinha uma vaga ligação, para ajudar a cel�brar seu centenário. E:m 1 950,
rl nhas cômicas e história online - mas a c:hamo\l de Histor.y at large (Históiia como
1 seu meio- centenário foi marcado por uma cerimônia pública. Será que eu idea
um todo] . ·
j 1
fv"lais pexsuasiva foi a energia poderosa vinda da Austrália, que atingiu a Grã-
lizaria mais uma cerimônia pública? Depois de objetar que "eu não faço diálogo,
l eu não sei fazer cerimônias públicas", em algu m momento sugeri organizar uma
1
·i, ?,6. flmbora esta obr.a seja útil p:1ra as hipocrisias (o fed.am�nto de bililiotecas públicas, por exemplo).
exposição. Após alguns encontros, ficou claro que eu teria que cumprir a maior
ela se torna 1.:.m pouco infl an1a da na medid a em que se apro:dm;i d.o presente. Par:i.l uma dc:serição roais
ponderada'., sob u""' puspectiva difere.nte, ver Mancilet (1997, Epifogue). 29. Agr;,deço a Alistail Thomson, pela conver,a na Oral Hi.srnry Sociely wníe.rence (2001): e tam
, 1.ia.si 1ion.., gov�.n:m1ew
27. N. T...; A.exprnssáo qmmgo, mu.ito- utilizada no Reino Unido, é um acrónimo pàta 7
''] hfm a Stephen Hnss�y, por seu c-r.,ail honesto (20Cf1f" S� n 1'évista Oral Híswry n;i,, tive�se 11m editor
! 1 tal c;rganisa:tion, aostralfano t,eria esra inovação acoptt:1ddo't
!�1 Ji
28. Ver o c!osslé The de b::r�fpubHt historyiri "/311rop• ('füd'uhlic His1;oriar1, v. 6, n. 4, 1981) e, espeualrn.mte, 30. Ver <•.�1/w.rnskin.ac.uk/prospecl us/hlst- ns.htn ;. Agradtço muito a Mi]da Kean pelas wnversás. Ver
1
j
(
1;
l1eck (1984). Kean et ai. (2000).
• ,1
1 -,
.
1 .
42 lntrooução ii História Públíta O que é história públ,ca? 43
parte das demandas no meu tempo livre - pois um projeto desse tipo não se cativa - a Royal HistoriGtl Society (RHS), que talvez seja amai� t.radicionalis�.a das
coadunava c.om as exigências do Research Asse:;sment Exercise (RJ\T I) das mü �ssociações pro6ssionais de historiadores.31 Jordanova deu o tom d,\ discnss�o.
versi.dades. A exposição The vanishing ce11tury foi lançada corn suc.esso na Ha.li argumentando que a história pública deveria ser motivo de preocupação de todos
fax Librar-y, no Dia Internacional da Mulher de 2000 e, em segui.da, excursionou os historiadores (e que suas diferentes definições eram apropriadas par.a seus di
pdas bibliotecas do distrito. Contudo, com os constantes ataques sofridos pelo ferentes contextos). Também participavam Jan Kershawe Laurence Rees, da BBC,
movimento sindical, o processo era muito desafiador: como oferecer à nova gera que trabalharam junto,5 no b<>m sucedido Nazis: A wamingfrom history (1997).
ç.ão o acesso a este mundo evanescente, de inten"sa.s identidades locais e reuniões Jord,mova e a Royal Historical So�iety sugerem outro tipo de 1:1rátka, por
laboriosas em saguões mal aquecidos. meio da qual uma elile profissional - intelectuais não apenas' "treinados", ma�
r::oi exatamente neste momento que encontrei um cartaz anunciando o con com alto grau dé rigor, dialogando regularmente entre si por .meio de publicações
gresso sobre história pública do Rus1<ln College ("atravessando o abismo entre a e conferências - estaria capacitada (em colaboração com empresas de radiodifu
torre de marfim e o mundo real"). lsso foi muito oportuno para mim. A "história são, editoras, museus) a al'cançar um público amplo, bem mais amplo que aquele
pública" parecia oferecer wn ç:enário receptivo (da maneira que o "pat1imônio" que lê suas monogratia.s acadernicas encadernadas. Dessa forma, I<ershaw falou
\
não fazia) para os mu.itos prnjetJ1s com os quaís, há muito tempo, eu eslava en em alcançar de 30 a 35 milhões de espectadores pelo mundo com sua série Nazis.
( HISTORIADORES E SEUS PÚBLICOS dente que nâo há uma resposta única para a questão "o que é histótia pública?",
\i
1
32. Outros palestrantes foram l'atTick Wright, Mattbew Evan., (chair of resuurce), Coru:tal]Ce Schulz e
31. 'lhe va11ishir1g cemu,y: Living. losin&, ,·,rrie,,ed. di.<playeii - maio de 2000, the First National 'Pub.lic His D.ive Peacock, quf: com Sim on Dítchfielcl, ela Yor� University, uforeceu um H'efitage Strjdies a.� npplied
1
j/ 1 1
1 Í
44 nuodução ,1 His1óriJ Publica O <;ue é história pública' , �S
velt. De fato, os porte americanos envnlvem a palavra "público" de significados pi'1hlic.a - com a vefüa esfera p(tblica liberal sendo "substituída pelo mundo pseu
especiais, que qascf:!m de um ideal de cidadania incorporado em sua Constituição dop1íblico ou falsamente-privado da culttLYa de consumo", um "p(iblico ma�sivo
e em sua Carra <le Direitos.33 de consumidores culturais" (Habermas, 198!), p. 164-8). Hal>ermas d escreve isto
Será que poder.íamos voltar aos teóricos cu/tumis em busca de uma ajuda? de forma conrundente:
Em Ke ywords, Raymond Williams deu mais atenção às "massas" do que ao "plJ· A nova midia cerceia as reações de seus de.,IJnatarios de um modo peculiar(...).
b.lico" (1976, p. 192-7); os historiadores de gênero escreveram longamente sobre Ela o� priva da oport1midadc de fulRr alguma roi.sa e de discordar. A disrnssiio
a "esfera pública" masculina e a "esfera privada" feminina - mas com foco no rdtica de um público l.eitor tende a dar luga.r a "intercámb10:. de gostos e prefe
rénci;as• �ntr<' consumidores. (1989, 1'· 171)
debate sobre a "separação das esferds", e não na história pública.3{
Assim, voltei-me ao sociólogo frankfurtiano Jürgen Habermas - embora ele Para ele, "a grande massa dos consumiclores cuja receptividacie [à cultura de
mal seja menlionado na literatura sobre história pública. 3
; Seu texto fundamen massa] é públka, mas acrftica" (p. 175, grifo meu), é relegada a displays imôveis,
tal nesse âmbito, The structural transformaLion of the public sphere, foi publicado com a "publicidade representativa", aos quais o público só pode reagir pela dcla
na Alemanha em 1962, mas não esteve disponível em inglês até 1989, donde de mação ou pela negação <la aclamação uma democrac-ia cultural plebiscitária, em
corre a leve sensação de distância ern relação a ele. Contudo, foi escrito de modo lugar do discurso crítico ativo que caracteriza a velha esfera púbUca (Calhoun,
\ 1991, p. 11-2, 26-7).
sucinto e bem traduzido - resistindo às provações do tempo. Habermas é um dos
poucos leóricos sociais que discutem os sentidos mutáveis da palavra "púbUco" Escrevendo no contexto d(\ fim-da-ideologia de 40 anos atrás, Habermas
- e, assim, ainda é útil para avaliar o consumo popular (muitas vezes passivo) do per.mancccu aberto a criticas - embora recentemente tenha revisto algumas
q
das suas afirmações mais rígidas e pessimistas sobre "degeneração . Ele agora
passado nos dias de hoje.
reconhece a "agência" da classe trabalhadora, a 11at1.u:eza genderizacla da esfera
llabermas começa pela clássica "esfera pública" da cidade-estado grega, ele
pública e a capacidade de resistência dos públicos m ais pluralistas (Habermas,
cidadãos homens livres - depcnciente, é claro, da "esfera privada" doméstica, na
1991, p. 440 em diante). Não surpreende, então, que Hahermas continue sendo
qual as mu ll1eres reprociuziam e serviam aos homens e os escravos trabalhavam
um escritor-chave para urna anfüse mais sutil •<la democracia participativa, quP,
(H�bermas, 1989, p. 3). Na Grã-Bretanha do século XVHI, os burgueses, i.nfor•
.t
.,/
ele diz, possui o potencial emancipatório para redimir o consumo passivo das
,11 mados pelas páginas dos jorn_ais e encontrando-se convivialmente nos cafés, pu
"exposições" de massa.�➔ 6
deram form,1r, e de fato formaram, a "opini:\o pública", conduzindo debates cri·
Ele nos ajuda a reavaliar o que "história púbHca" pode significar - em termos
tico11 racionais sobre questões públicas, tanto políticas quanto literárias. Porém,
de como o senso do público a respeito de seus próprios
. passados pode ser consu
argu'ment·ou Rabermas, a ampliação democrática da "esfera pública" no século
1-1 mido ativamente e debatido criticamente. Ele nos ajuda a pensar se os milhões
XIX para abarcar grupos sociais previamente excluídos (nota.damente homens
de nós, sentados em salas escuras assistindo passivamenl·e à televisão às últi
da classe tr.1bà.lhadora e mulheres) ni:io levou a um acréscimo no discurso público
mas batalhas a c.avalo de Schama, ou a uma viagem do tipo J love 1978 através
clitico, racional. Na verdade, o desenvolvimento da mídia e da cultur.i de massas
de imagens de arquivo - fazem parte de um público ativo ou simplesmi::ntc um
(especi:i]mente a televisão americana e as indústrias de relações públicas e de
"pscudopúblico" plebiscitário: participantes reais ou apenas consumidores de
,i11 propaganda, que ele observou por volta de 1960) levou à degeneração d:i. esfera
história privatizados.
33. Ver Davi.,on (J 991. p. 6). que .unda é um dos analist.u mais lúcidos da história rúh!ic... Os comentadores t�m evitado fortemente tocar no oposto implicado de his
J
.t •.
3,1. Ver J,.,ndes (1998).
tória pública: a "história privada". E por quê? Qualquer pessoa que <li! aulas no
35. E,c,eto por Tony Dennert (1 !'J9S) e, muito b,-evemente,.por Jord:ino,11 (2000). De toda fo,·ma, Haber·
JI, ma• ó, hoje em dfa, cultuado entre os historiadores mod,nnos. 36. Ver, por exemplo. Be11habib (1998, p. 82).
},
.i
tl 11
'
per lo de "relações públicas" do que de "lústória públir::a"?38 E (mais controverti práticas induem a revista Oral Hist:ory - a despeito c1e todas as p_res�1es do RAE,
damente) poderia a "história p�ivada" incluir genealogistas e tarnbém historia- ' ela a.inda recebe "uma variedade de abordagens
•
de pessoas (.'..)
·,
�om
1 '
repertórios
1
dores locais e de família, cujo trabalho não somente começa de uJn inkresse pes- diferentes" - e a BBC History Magazine, que coi11bLna um jórnalis1�10 descarada-
soal, mas emerge exatamente d�í - a história privada de um membro do público, mente populista com, digamos, um debate informado sobre a shie de Sc:hama.1:
11! ainda pouco consciente das necessidades de uma audiência ou de um contexto Os historiadores públicos, muitas vezes, também querem t�jihalhar cola
borativamente. /lssim, um historiador americano, que trabalhou numa
'
série da
maiores? (Este terreno ainda é contencioso. Quem seriam os historiadores mais .
1' ' BBC/APB sobre a Primeira Guerra Mundial, foi tão longe a ponto de proclamar:
públicos: os financiados publica.mente, os acadêmicos comprometidos publica-
11 ' '
"A história pública é quase sempre coletiva, no sentido de que ela lida'tom i:iues-
mente, ou os entusiasmados praticant.es
,, ' comuns?) 4º 1
1
1 • '
tões grandes demais para que um único estudioso possa dominar, expressar ou
explicar" - em contraste com os historiadores académicos, para quem a "voz au
HISTORIADORES PÚBLICOS, BOAS PRÁTICAS toral" é o cerne de seu empreendimento (Winter, 1996). Talvez isto ieja um tanto
dogmático, conveniente para uma série sobre guerra mundial no horário nobre -
1
'1
A essa altura, provavelmente temos uma boa. ideia sobre o que poderia ser ensi mas muitos rle nós estamos envolvidos em projetos regionais ou locais bem mais
1,1
l nado num CUJ'SO de história ·pública: património, museus, memória. Mas creio
que o nosso entendimento da história pública enquanto prática permanece
modestos. No entanto, consídero muito valioso que "s historiadores, ,sempre que
pos:,ível, trabalhem em parceria com outros profissionais: biblLotecários ou ar
quivistas de estu<los locais, jornalistas ou web designers. Estes gànham acesso a
1 i�
;·•, "·,1I
vago. A história pública certa1111;. nte é (e deve continuar sendo) wn templo de
tolerânda. Contudo, quero cncerr-ar trat·ando de como estes debates teóricos uma expe1;ência acadêmica crucial: em um tema ou em um P,eríod�. E o ganho
' i •
n
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, ..
'ii', lnuoduçao à 1-istona Pubt,ca O que ê tustorb públ1ca·1 4C.
<lifere9tes t em me mostr�tdo a importância de respeita, as habilidades profissio cer tamente continuam sendo importantcs.,Se ;;, ccitarmos os argumentos de his
,
nais de outras pessoas (diferentes das minhas de um modo revigorante) e tam toriadores como Jordanova - de que a prática da história é uma disciplina com
bém de manter o foco (paciência e discussões, é cl a ro, mas pode haver um ponto convenções a ca dêmicas da argumentação crítka, evidência e citação -. então os
no qual "p(tblico" se torna ''popularização", que se torna distorção). 4� profissionais que trabalham (em museus, em rarliodifusão, em qtmngos de palri
Em terceiro lugar, os historiadores públicos provavelmente querem as segu mônio) apresentando o passaclo para o público certamente precisam de historia
d rar que seus trabalhos
'
possam ser consumid os ativa e participativamente. Ha dores. O Na. t ionaJ Park Service, nos Estados Ur,idos, oferece um exemplo de boa
'
bennas .l_en1,bra-nos da cidadania critica, "o público" nao é meramente reduzido a prática colaborativa. Contudo, na Grã-Bi:E\tanba parece que ainda não estamos
consumidor passivo da cultura de massa. Então, qual o lugar de séries populares fazendo a coisa certa. Os historiadore.� estão nótadamente au sentes - Power of
como A history of Britairt? "Quase nenhum", sugere pelo menos um lústoriador place: The fr,iture ofrhe historie environment, pi:ójeto do English Heritage, foi supe
público: a ssistir à história na televi são não substitui fa:i:er história, sobretudo se vis.ionado por organizações como a assoçiação dos proprietários de tena45 , em
Sc.hama nos mostra pouco de suas fontes ("Alan Titmarsh, ao menos, conta de vez de historiadores.
onde vieram suas plan ta s "). Canais de televisão podem programar f love 1978, Por fim, os historiadores públicos precisam provavelmente conhecer o es
seguidp por Top ten: 1977, pa ra que, no fim das contas, o telPspectador s aiba i:tm tado, nacion al , regional e, é dat'O, localmenle. As razões são muitas. O Estado
\ nadinha a mais sobre o pass ado recentt:-43 Ou tros acham impraticável rep resar o é um provedor legal <le serviços cultur a is - especialmente bibliútec:as públicas
dique da informação eletrônica da história-como-entretenimento, e veem a tele locais. Ele ta mbém é uma fonte de financiamLi rlto direta e i ndireta - at ravés, por
visão como um maravilhoso ponto de partlda. 1'' exemplo, do Heritage Lottery Fund-4" Preencher formulários de editai s consome
f;
Em quarto htg�, os historiadores públicos podem até estar conscientes das tempo e, é claro, há sempre o perigo de que o tom desses editais produza uma
,t questões comerciais, mas provavelmente não querem sin1.plesmente agarrar' tuua uniformidade crescente e uma visào li111itadorn. ' 17 No entanto, o financiamento
ire
1
grande fatia do público leitor ou espectador de um contexto de economia <lo mer público ajuda, por exemplo, a equilibrar desigualdades regionais flagrantes, e até
cado moldado por anunci antes t? acionistas. Há muitos exemplos. Um deles é He o projeto mais modesto pode ple'itear financiamentos especiai s , talvez em parce
ritage, revista que tem o simpático subtíLLLlo Britain's Hi�lory Countryside, e: des ria com outrns patrocinadores - o que pode significar a diferença entre alcançar
ta ca ca banas de pal h a em St.ratford, com uma escassa alusão à industrializaçao, poucos sem eficácia e alcançar a maioria de fonua satisfatória.48 O Estado tam
e anúnr.ios dassiúcados para a aquisição de titul.os de nobreza. Sim, é um amp lo bém oferece um quadro político - muita_� vezes diretamente, atravé; do Deparl
t!
:' ! público .leitor; ma s , se isto não diz respeito ,t consumidores completamente pas · ment of Culture, Media tmd Spm·t (DCMS) - para, digamos, combater a exclusão
1;1 sivos, também dificilmente significa acesso público ou democr acia participativa.
45.Membros díriger>tes do projeto Powr,.r of plaet. i\ ,mira.e,,ceçau � a professor.i lola Young, diretora d,
) Em quinto lugar, creio eu, os historiadores públicos querem manter os mais
altos padrões de rigor cdtico. Às vezes, isto não é exequível - ou, pelo menos,
prQjet.os n� àrea de histórin e cultura negras. O rcl&tóri<,, li11irn cabt::\alhos (omo "Antes de q1.1.:ilquer ..:o isa,
precís.1mos do e-onhedn1Emto", o.s quui.s, pl'ovavelmcntr::, nao foram t!s.cril:os por- historiado1es. Haviá, é:
daro. urn arqueólvgo no grupo; � a arqueologia é geràlmentc (oloca<la em um lu1;«n dHe:a:�nte em relaçâll
:l. é o que dizem seus colaboradores. Mas intPgridade e transparência acadêmicas
ao património inglês. Agr,1deç.<> a Const>nce Schu!z por est.a disêttSsáo.
42. Ver 'E<,tTcvi.lta com Mike Wallace''. ílmiiu,/ Hiswry Re:•icw, v. 79, 2001, p. 67. Di�ponívcl em: du,m. 46. N. T., F,u1do que distribui o dinheiro arrecadarln .:nm a Lo\eri:. Nàdoual. A fawcect Library. funda,la
.1' em )926, retebeu um'lina.ndamento d.e 4,2 milhões de libras rln HLF. e foi r.eaberta como Women', Li
gmu.edu/thr/;·hr.htm.
1 hrar y em um novo edilicio.
43. Ver ftadit, Times, 21 j·.11. 2001.
44, Ver "·Past is perfelt" ("We're the new rock'n'roll"). G11ardia11, 29 ottt. 2001. "Esqueça o clichê de que a 47.Stephen Hu.9sey: ·'Wbat principies?". Co,úerénda d:a OHS. 'l'a/king wm,mmity hí,· Luri<>, jun, 2001 .
história é o novo rock'n'roU (...): é a boa história que está ganha.ndo popu!arida.de". BBC Jii,tor1 Mt1gmine, 48.Para a t'lossa exposiçi\o 77,e »arlíshi11g cenwry, recebe.ínós 450 libras rle. umà pequen� obra de caridade,
·I
lJooks ofthe year, winter 20()l. Ver também: www.bbc.eo.uk/history. o que p�r111iLiu que us nossos painé)s tivessem um a.caba111cnto pl'ofissinna.l.
'.ti
''
50 lmrodw;ào à Histór ia Pública O que é h1stóriil pública"? 51
social. 4� Contudo, alguns podem se tornar cínicos face às inconsistências: não bermas". ln; LANDES, J, B. (org.) Feminism: The pnblic and the priva�e·. Oxford/New
apenas porque certos serviços locais tenham sido reduzidos, mas porque outras York: Oxford University Press, 1.9 98. p. 65-99.
instâ.ncins governamentais vêm desencorajcmdo o acesso popuJar. por exem1:1lo, BENNETT, T. The birth of the museum: History, theory & politics, London/New York:
1, Routledge. 1995.
compelindo os acadêmicos '_a escreverem somente para revistas "de referência"
CALHOUN, C. Habei:-m.as and the public sphere. Cambridge: MLT Press, 1991.
(pressão particularmente intensa sobre os historiadores mais j ovens). Os histo ' .... .
ÚU.,'TF.LON, P. L. "As a bnsiness: Hired. not boueht''. ln: GARDNER , J.; L,APAGLlA
, P. (org. )
riadores públicos precisam não so'n1ente de um governo gue colabore - o Estado Public history: Essays from the field. [1:lalabar: Krieger·Publishing Côni.pany
, 1999.
que estimula os historiadores a p.eixarem suas torres de marfim para, de vez em p. 385-95.
.
quando, trabalharem em colabo:raçãÔ com suas bibliotecas locais, emissoras de r
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the past? Publk histories. Parkvilic: MeU,ourne lJn!versity Press l 9�1 p -1 .
g
televisão ou lugares de patrimônio - mas também de uma escrita colaborativa.
:;º 1• , . _ ,i l .. 4 5
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A história pública, provavelmente, continuará preservando seu amplo escopo Presenting the past: l!ssays on histol'y and the public. Pbilad.elphia: Temple
' ' !� Uni-
de significados e usos - variando de acordo com a cultura nacional e com o con versity Press, 1986. p. 5-20. ...
:
texto, se é o da prática ou o da academia. Aqui. guiei-me entre clareza e tolerância, GLASSBERG, D. "Pnblk history & the study of memory". The Public Historiim, v. 18, n. 2,
\ entre precisàu e pluralismo. Tentei P.vitar afirmações dogmáticas (''história pú 1996.
GREl-E, R. J. ''Whose public? Whose hisl.ory? What is the goal of a publk histp..'i;n?''. The
blica é x, porque é isso o qu� �u faço").· Em vez disso, para mim a história pública
Public: Historian, v. 3, n. 1 , 1981, p. 44-8.
é menos sobre "quem" ou "d que", e muito mais sobre "como". Nem tanto um
HABBRMAS, J. "Further ReHections of che Public Sphere". ln: C,\LHO.t:N, C. Hltbermas and
substantivo, principalmente um v'e rbo. À história pública tem importância real e the publíc: sphere. C;irubridge: MIT Press , 1991.. p . 421 - 61.
urgente, dada a crescente pdpularidade da.s representações do passado nos dias l'fAilERMAS, .l. The structural transformation of the publk sphere: · À� inq�ry into a
de hoje. Em um contexto d� segmentação acadêmica e profi.ssionalização restrita, caiegory ofbourgeois society (1962 ] . Cambridge: MTT Press, 1989.
HARTLEV, L. P. The go-between 1 1953 ] . Lond. o n: Penguin, 1958,
os historiadores públicos pode.m f�rnecer uma mediaç.ão necessária, inspiradora
Hll\\lJSON , R. The beritage industry: Britain in a climate of decline. Lond6 n: Metbuen,
e revigorante entre o passaao e seus públicos. Os fornecedores do passado para as
1987,
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