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Socioterminologia : um itinerário bem-sucecido

Article · January 2014

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Gaudin François
Université de Rouen
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Socioterminologia : um itinerário bem-sucedido1

François Gaudin*

Introdução

Decorridos mais de vinte anos, a disciplina denominada terminologia conheceu


evoluções doutrinais importantes. A influência da teoria que lhe havia dado Eugen Wüster
perdeu a soberania. Podemos até mesmo lastimar, à medida que temos o testemunho de que o
horizonte da terminologia não se inscreve mais na paisagem de iniciativas generosas do início
do século XX. Wüster, engenheiro austríaco, acreditava na terminologia como no esperanto,
numa perspectiva de melhor comunicação nascida de uma vontade deliberada e concertada. A
fé nas línguas internacionais auxiliares passou; nossos conhecimentos progrediram; a
terminologia não é mais, completamente, wüsteriana.
Levou muito tempo para que a linguística geral se preocupasse com a terminologia,
que estava reduzida a uma etiqueta “vocabulários científicos e técnicos”, sobre a qual Guilbert
se debruçou fortemente no início dos anos 70, por meio de estudos pontuais (GUILBERT,
1973 a e b, GUILBERT e PEYTARD, 1973). De sua parte, Georges Mounin se interessava
em 1972 (mas ele retomou um artigo de 1963), pela semântica “artificial” de Wüster e
concluía que essa semântica construía seu léxico, mas não descrevia nenhum, pois sua
operacionalidade estava limitada às “ciências físicas e naturais” (1972, p. 42-44). Foi preciso
esperar a obra de Rostislav Kocourek, publicada em 1982 (KOCOUREK, 1991 [1982]), dez
anos mais tarde, para que dispuséssemos de uma descrição propriamente linguística desses
setores do vocabulário. Depois, foi preciso esperar os anos 90, quando foram redigidas teses
especificamente consagradas aos problemas terminológicos para que aparecessem análises
detalhadas.
As aquisições para integração da terminologia à linguística se aproveitaram dos inícios
da linguística de corpus cujo desenvolvimento acompanha um movimento societário que põe
a linguagem no centro das preocupações econômicas e industriais. A documentação, a
tradução, a redação abriram novos caminhos aos pesquisadores. Isso se traduzia em
programas de pesquisa, em chamadas consagradas à coleta de dados e à informatização das
comunicações. Esses programas, notadamente europeus, respondiam a necessidades
industriais inéditas e permitiam inovações tecnológicas. Suscitaram trabalhos linguísticos de
um tipo novo (CONDAMINES, 2003).

1 O surgimento da socioterminologia

Os trabalhos desse ciclo, que podemos associar à noção de socioterminologia, foram


conduzidos, principalmente, em duas perspectivas; numa abordagem teórica, na Finlândia
com Yves Gambier, e, na França, com Louis Guespin, no laboratório de Sociolinguística onde
1
Tradução e adaptação para o português de Enilde Faulstich, Universidade de Brasília, Brasil. Este artigo contém idéias
resumidas do artigo « La socioterminologie », publicado na Langages, n°157, 2005, e ideias da conferência La
socioterminologie, entre sociolinguistique et sémantique, apresentada no I Encontro Internacional de Dialetologia e
Sociolinguística, em São Luís-Ma, Brasil, em outubro de 2010; texto inédito.
* Université de Rouen. LDI, UMR CNRS 7187, francois.gaudin.@univ-rouen.fr
Yves Gambier fez sua tese2, e numa abordagem prática, principalmente em Quebeque.
Depois, a palavra emigrou para as línguas latinas. Com o desenvolvimento e a implantação do
termo na metade dos anos 90, podemos, nesse período, em linhas gerais, marcar o
aparecimento e a difusão da Socioterminologia. Retornaremos à década anterior para
demonstrar um itinerário de forma mais clara.
O termo socioterminologia aparece no início dos anos 80, de modo pontual, nos
registros de Jean-Claude Boulanger3, de Pierre Lerat4 e de Monique Slodzian5. É preciso ficar
atento para uma comunicação de Yves Gambier, apresentada em 1986 no Colóquio sobre a
fertilização nas línguas romanas, pois ali o conteúdo começa a ser construído de maneira
programática (GAMBIER, 1987). O conceito de socioterminologia cujos delineamentos
foram esboçados estava em seu início; somente nos anos 90, o conceito se firmara e tornou-se
preciso no quadro dos trabalhos universitários. A utilização do termo precede, portanto, a
elaboração da noção que nasce de um questionamento centrado principalmente na
harmonização linguística. As posições teóricas desenvolvidas durante esse período foram
apresentadas em textos acessíveis que nós não apresentaremos em detalhe aqui 6.
Relembremos que os postulados da biunivocidade da significação do termo, de uma
monossemia ligada ao pertencimento de um domínio e de conceito ligado a um método
onomasiólogico foram postos em questão. Ao mesmo tempo, uma abordagem interacionista e
sociolinguística permitiu reconsiderar os discursos institucionais, técnicos e científicos com
acentuado conteúdo terminológico.
Esse desenvolvimento teórico foi conduzido, de forma clara e precisa, principalmente,
no início dos anos 1990 e foi marcado por publicações individuais e coletivas. Deste período,
recordemos três números de revistas publicadas na França7, na Bélgica8 e em Quebeque9,
respectivamente, Terminologie et sociolinguistique - Cahiers de linguistique sociale, n°18;
Socioterminologie, le langage et l’homme, vol. XXVIII e Usages sociaux des termes:théories
et terrains, Meta, vol. 40. Os anos 90 foram igualmente marcados por colóquios durante os
quais se puderam observar a retomada da implantação do termo e, depois, sua difusão para
outras línguas romanas. Entre estes, citemos duas manifestações de 1993, a primeira em
Quebeque, num colóquio consagrado à “Problématique de l'aménagement linguistique (enjeux
théoriques et pratiques)”10 e a segunda, na França, em “Implantation des termes
officiels”11. Nessa época, os responsáveis e os membros de instituições terminológicas, na
condição de pesquisadores quebequenses, franceses ou francófonos, passam a demonstrar
interesse pelas iniciativas inspiradas na Sociolinguística.
A convergência da terminologia para a sociolinguística se explicava, principalmente,
pelo fato de que a prática dos pesquisadores quebequenses, confrontados com as realidades do
local e com imperativos da política linguística que lhes servia, havia-lhes permitido inteirar-se
das realidades do uso que não se deixa modificar por decisão. Isso permitia a Jean-Claude

2
Laboratório associado ao CNRS, então denominado “Sociolinguistique, usage et devenir de la langue” e intitulado
atualmente “Dynamiques sociolangagières”.
3
Ver Jean-Claude Boulanger, 1981.
4
Ver Pierre Lerat, 1984 e 1985.
5
“Apresentação” em Slodzian, (dir), 1986.
6
Gambier, 1991a e b, 1993; Gambier e Gaudin (dir) 1993; Gaudin (dir) 1995, Gaudin, 1996. Outros trabalhos apenas
apresentam a noção, ilustram-na ou a enriquecem (Auger, 1994a e b, 1999; Boutet et al, 1995; Cabré, 1992; Célestin, 1994;
Cholette, 1994; Condamines,1994; Coutier, 1996; Loubier, 1993; 1994b; Martin 1992; 1993; 1994a e b; Otman, 1993; 1995;
etc.).
7
Em 1991, Terminologie et sociolinguistique, Cahiers de linguistique sociale, n°18, URA CNRS 1164-Université de Rouen,
213 p.
8
Em 1993, número especial Socioterminologie, Le langage et l’homme, vol. XXVIII, n°4, éd. DeBoeck Université.
9
Em 1995, Usages sociaux des termes:théories et terrains, Meta, vol. 40, n°2, juin 1995, éd. Presses de l'Université de
Montréal.
10
Assembleia, 1994.
11
Delavigne e Gaudin (éds), 1994.
Boulanger dizer precisamente que na Bela Província “a socioterminologia chega, depois de
longo tempo, em filigrana” (BOULANGER, 1995, p. 15). De fato, as enquetes terminológicas
que ali foram conduzidas a partir do início dos anos 70 haviam permitido aos especialistas da
organização terminológica capitalizar uma soma de experiências, de observações e de
reflexões que as afastavam progressivamente da metodologia do leste europeu.
A contribuição da sociolinguística já aparecia, notadamente, nos anos 80, em trabalhos
pioneiros, como os de Monica Heller et ali (1982), considerados ainda hoje exemplares.
Postas em destaque as redes de comunicação num ambiente de trabalho, a análise dos fatores
de resistência e de sua importância na modificação de práticas lexicais abriram a via para
trabalhos inovadores. É necessário igualmente citar os pesquisadores Jacques Maurais (1984)
e Denise Daoust (1987) que, nos anos 80, introduziram entre os pesquisadores a dimensão
diacrônica e insistiram no estudo de mudança nas terminologias, frequentemente consideradas
intangíveis. Observemos que essas inovações, sustentadas pela vontade coletiva de toda a
população, eram um fato sociolinguístico. Compreendemos, a partir de então, a convergência
entre os terminólogos quebequenses e os trabalhos conduzidos sob o nome de
socioterminologia.

2 Difusão de um neologismo

O uso de uma nova denominação atraiu o interesse de todos para a seguinte questão: é
útil a expressão socioterminologia? De fato, não é raro que, nos discursos científicos, o
emprego de um novo nome seja de uma pertinência discutível, quer seja pela origem de um
efeito de sinalização ou de captação, quer seja pela delimitação de uma noção imprecisa; a
nova denominação pode servir de bandeira, mas pode também revelar-se mais eficaz como
significante do que como significado, na falta de uma elaboração nocional mais suficiente.
Por fim, a utilidade de um novo recorte conceitual pode ser irrelevante.
Em relação ao campo terminológico, constatamos que, em cerca de 20 anos, as
posições teóricas evoluíram claramente, o suficiente para que pudéssemos, eventualmente,
pensar que, na socioterminologia, o formante socio- fosse redundante. De fato, a aceitação das
questões terminológicas é um acontecimento hoje entre numerosos linguistas. Além disso, o
desenvolvimento dos trabalhos de análise textual automática e os encontros da terminologia
com a inteligência artificial possibilitaram emergir, pelo viés da análise de corpus, tentativas
próximas dos analistas de discurso. As consequências de estudos empíricos inovadores
caminharam com as evoluções ligadas aos estudos teóricos. Esta integração em um corpus de
conhecimentos é traduzido pela inscrição do termo socioterminologia nas nomenclaturas do
Dictionnaire de linguistique et des sciences du langage (DUBOIS et ali, 1994) e do
Dictionnaire d’analyse du discours (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU (org.) 2002).
Outros trabalhos surgiram para propor modelos alternativos, tais como, a teoria de portas
(CABRÉ, 2000) ou o sociocognitivismo (TEMMERMAN, 2000), em que os princípios
teóricos são, senão convergentes, pelo menos compatíveis com a abordagem sociolinguística.

3 Um torneio sociolinguístico

Por diversas razões, as necessidades sociolinguísticas estudadas em diferentes partes


do mundo conduziram os pesquisadores a retomar a noção de socioterminologia. Assim
ocorreu na América do Sul, por exemplo, na Argentina, na problemática ligada à tradução
(GENTILE, 2003). No dicionário eletrônico de Mario Barite, professor de uma universidade
no Uruguai, aparece o termo traduzido e assim definido: “Socioterminologia. Rama de la
Terminología que se ocupa del análisis de los términos (surgimiento, formación,
consolidación e interrelaciones), considerándolos desde una perspectiva lingüística en la
interacción social. // 2. Disciplina eminentemente práctica del trabajo terminológico, que se
fundamenta en el análisis de las condiciones sociales y lingüísticas de circulación de los
términos” (BARITE, 2000). No Brasil, o aspecto maior, que é o da circulação dos termos, já
havia sido apresentado por Enilde Faulstich, da Universidade de Brasília, quando afirma:
“socioterminologia, como prática do trabalho terminológico, fundamenta-se na análise das
condições de circulação do termo no funcionamento da linguagem.” (FAULSTICH, 1995, p.
282)12; em relação ao movimento do termo, noção menos precisa, a autora apresenta a
vantagem de incluir as mutações semânticas: “la socioterminologie est une discipline qui
s’intéresse au mouvement du terme dans les langages de spécialités” (FAULSTICH,
1998/1999, p. 95).
Citamos igualmente os países nórdicos onde, ainda que a influência da terminologia
tradicional se mantivesse forte, Johan Myking interrogava-se sobre o interesse do modelo
socioterminológico para a Noruega (2000), enquanto Yves Gambier dirigia pesquisas nesta
orientação13.

4 Alguns trabalhos de pesquisa

À extensão geográfica corresponde um fator de aprofundamento dos conhecimentos,


ancorado na reflexão sociolinguística, dentro de um quadro ligado à pesquisa fundamental.
Esse processo possibilitou desenvolver ideias práticas mais independentes na tradução, na
documentação ou na organização de termos. Assim, entre as publicações, aparecem algumas
teses universitárias, orientadas em diferentes direções, na França e em Quebeque
notadamente, mas também na Ásia (Vietnam, Laus, sobretudo), que atestam a presença de um
corpus de reconhecimento e de instrumentos metodológicos.
As diferenças de contexto sociolinguístico e de dinamismo institucional fizeram com
que a dimensão organizacional fosse mais desenvolvida na América do Norte. Em Quebeque,
coube essencialmente às atividades desenvolvidas no Office de la langue française (OLF)14
com trabalhos orientados para uma “terminologia planificada”. Entre os numerosos trabalhos
publicados pelo OLF, mencionamos Pierre Auger (1999) e Christine Loubier (1994a e b) que
assumem a renovação dessa problemática; assinalamos que alguns trabalhos foram
empreendidos em um quadro universitário. Por exemplo, os depoimentos de implantação que
permitiam avaliar os efeitos de uma política terminológica foram estudados por Jean Quirion,
que apresentou uma imponente síntese acerca das metodologias postas em prática em
diferentes espaços políticos (QUIRION, 2000; 2003). Essa sinergia, durável e fértil, uniria
instâncias de política linguística e instituições de pesquisa, fato que deixaria qualquer pessoa
perplexa.
No conjunto desses trabalhos que serviram de ilustração, a orientação
socioterminológica afirmativa permitiu produzir conhecimentos relativos ao funcionamento
discursivo e social dos termos, que uma abordagem tradicional ignorou. Não se tratava de
somente fundar uma “análise crítica do discurso da terminologia”, como registraram
Charaudeau e Maingueneau (2002), nem de desenvolver, ao lado da terminologia wüsteriana,
outro modo de fazer a terminologia. Tratava-se de ampliar o campo, de ultrapassar certo
idealismo, voluntarismo e logicismo15 para atingir uma perspectiva que levasse em conta
diversas aquisições, a partir da recuperação automática e das implicações no plano da
descrição linguística16 até os avanços da história das ciências e da epistemologia17.
12
Ver também Faulstich (2006).
13
Ver referências bibliográficas em Gambier (2001).
14
Atualmente Office Québecois de la langue française (OQLF)
15
Sobre os laços entre terminologia e positivismo lógico, consultar Slodzian (1993).
16
Cf. Bourigault e Jacquemin (2000).
17
Ver, por exemplo, Lévy-Leblond (1996).
5 A difusão social dos termos
Outro aporte teórico importante, que vale a pena destacar, foi o da linguística da
interação, que impunha considerar os termos não somente como signos linguísticos, mas
como formas extraídas de trocas reais, na linguagem, e ligadas a tipos de interações definidas.
O sonho da ortonímia é, pois, posto no seu lugar de utopia eficaz – utopia, por ser contrário ao
funcionamento habitual da linguagem; eficaz, porque orienta os usos da língua e permite
torná-los mais precisos. No entanto põe-se aí o problema da estabilidade do sentido.
De fato, o ideal da monossemia não pode constituir-se num objetivo, a não ser em um
espaço idioletal. Depois que a circulação dessas formas linguísticas se ampliou, a significação
dos termos foi submetida a novas negociações. Expliquemo-nos. Hoje, convém-nos, depois
que a semântica se impôs, que o termo se caracterize pela sua significação, de acordo com
uma norma, do ponto de vista social. Trata-se de um controle social do sentido, que se exerce
de maneira concertada, mais ou menos espontânea, de modo planificado ou conforme a
significação que venha a ser fixada 18. É com esse espírito que podemos definir, de modo útil,
a noção de conceito, central em terminologia, como um significado “normé”, de acordo com
François Rastier19. Porém uma definição dessa natureza, que apresenta o benefício científico
de repatriar a noção no seio da linguística, evidencia que a noção de norma é eminentemente
sociolinguística, se assim o entendemos.
Com efeito, se os trabalhos de inspiração sociolinguística acompanharam uma
reposição dos métodos herdados de Wüster, igualmente encontraram as consequências, de
forma empírica, dessa renovação metodológica, provocada pelos instrumentos de análise
automática cujo desenvolvimento acentuou também as noções de termo, de domínio, de
biunivocidade, etc. É muito interessante notar, também, que uma atitude empírica, motivada
pela satisfação das necessidades sociais, das indústrias da língua, das atitudes teóricas, da
sociolinguística puderam se desenvolver e chegar a resultados convergentes na sua
inquietação de renovar o campo terminológico (cf. BOURIGAULT; SLODZIAN, 1999).

6 O modelo glotopolítico
Tardaram também as explorações na área da glotopolítica, com vistas a retomar o
conceito desenvolvido nos anos 8020 (GUESPIN, 1985; GUESPIN et MARCELLESI, 1986) e
que enriqueceu as reflexões sobre a circulação social dos termos e a organização linguística
(DEPECKER, 2000).
Falamos de glotopolítica para neutralizar as oposições entre língua e fala, pois,
quando falamos de política linguística, consideramos apenas as ações mais visíveis. Ora, no
circuito que liga a fala e a língua, interveem diversas decisões: pode ser o banimento, em casa,
de uma língua de imigração, pode ser anglicizar a comunicação de uma empresa; o registro de
formas novas por um lexicógrafo; a possibilidade de assegurar-se da participação de
intérpretes em um congresso21, por exemplo. E isso não exclui as decisões políticas, nem a
falta22 de decisões dessa natureza. Ao falar de glotopolítica, insistimos, consideramos a
pluralidade dos níveis de decisões que vão do indivíduo ao Estado, que participam dessa
gestão e da evolução e gênese contínua de línguas. Trata-se de um modelo dinâmico, mesmo
18
Sobre este tema, ver Baggioni e Larcher (1997).
19
“Um conceito é um semema construído cuja definição é estabilizada por normas de uma disciplina, de tal maneira que suas
ocorrências sejam idênticas a seu tipo” (RASTIER, 1991, p. 126).
20
As publicações coletivas mais marcantes são as Atas de um colóquio (WINTHER A. (éd.), 1985) e um número da revista
Langages (MARCELLESI (org.), 1986) consagrados a esse conceito.
21
O Fórum Social Europeu de novembro 2003 tinha 1000 intérpretes para assegurar às numerosas minorias a possibilidade de
exprimir-se em sua própria língua.
22
A decisão da Universidade de Montreal de dotar-se de uma política linguística é uma decisão glotopolítica significativa.
dialético, que permite pensar a língua e a fala como dois polos, uma vez que é a língua que
permite as interações de linguagem, por meio das quais a língua se recria e se renova. Não
existe língua sem práticas de linguagem; não existem práticas de linguagem sem língua.
Esse modelo dinâmico permite, também, integrar a dimensão da mudança numa
apresentação estática e incluir uma noção central: o tempo.

Língua

1Práticas
(5)
linguagem
de

2 (6) 4 Práticas
(8)
linguage

3
Práticas
(7) de

Práticas de linguagem

Distinguimos quatro tempos neste circuito. O tempo 1 é o da língua em incessante


formação, é uma abstração, mas uma abstração que permite uma individualidade de modo
coletivo. O tempo 2 é o da influência das práticas da linguagem em conformidade com a
língua, abstração e referência, registrada nas gramáticas e nos dicionários. O tempo 3 é o da
fala, para Saussure, da existência concreta das línguas. O tempo 4 é o da gênese perpétua das
línguas, formadas por escolha e seleção, a partir dos acontecimentos, das interações e de todas
as pequenas modificações porque passa uma língua.
Assim, se questionamos os conhecimentos em matéria de gestão de terminologias,
trabalhamos no tempo 1, o da elaboração de terminologias oficiais; o tempo 2 é o da recepção
de terminologias; no tempo 3, reside a criação de termos no uso, assunto de que sabemos
pouco; no tempo 4, situa-se a seleção dos termos de acordo com o uso coletivo.
Ora, estudamos, muitas vezes, o papel dos agentes, das instituições, das academias,
dos meios de comunicação, dos órgãos de normalização, dos serviços linguísticos, da escola
etc., mas conhecemos mal os agentes, os vetores, os diferentes intermediários que asseguram
o sucesso – ou o fracasso – das decisões em matéria de terminologia. E mais, ainda são
insuficientes as previsões sobre o fracasso ou o sucesso de termos que são lançados no uso.
Desse modo, uma abordagem glotopolítica deve esforçar-se para pensar e para analisar os
diferentes níveis que vão da decisão teórica ao uso, da mesma forma como a abordagem deve
pesquisar os instrumentos metodológicos que permitem uma descrição pertinente desse uso23.
Convém discriminar, por sua vez, que termos possuem um papel regulamentar aos
quais uma norma deve ser imposta, como, por exemplo, acidente nuclear, neurolépticos, que
devem ser claros e precisos por medida de segurança. Existe um setor de denominações
regulamentares que não pode dar-se a variações, como seguridade, direito, proteção aos
consumidores, entre outros. O espaço que ocupa uma norma técnica é vasto, no entanto é a
necessidade dos falantes, que, de modo geral, minimiza a confusão terminológica. Há termos
que favorecem certa variação linguística, portanto alguma flexibilidade é necessária para

23
Ver Sophie Ballarin, 2009, Approche sociolinguistique de la production terminologique au Québec. Application du modèle
glottopolitique, Universidades de Rouen e de Montréal.
assegurar, numa língua, as tarefas de produção, de transmissão e de apropriação dos
conhecimentos.
Ora, se negligenciarmos nossa atenção, a desordem terminológica será um caminho
para a denominação linguística, um recurso ao empréstimo e para a perda de domínio.
Línguas são como ondas em turbulência quando o propósito é técnico ou científico. Serve de
ilustração a aprendizagem da medicina na Suécia, país rico e desenvolvido, que se faz
massivamente em inglês, língua na qual são redigidas todas as teses de doutorado. A
Alemanha conhece problemas análogos24. Nesse conjunto de reflexões, cabe questionar:
poderá alguém tornar-se bilíngue, de uma hora para outra, durante um tratamento de saúde, ou
mesmo no momento de consertar seu computador? O bilinguismo é um belo recurso, porém a
questão posta em discussão é a língua como fator de coesão social.

Conclusão

Nós constatamos que a dimensão social da socioterminologia se mescla com as


preocupações de política linguística. Por sua vez, o estudo da circulação social dos termos
implica um melhor conhecimento da evolução das práticas de linguagem e da sociogênese dos
termos. Ainda são insuficientes discussões dessa natureza. Vimos que a socioterminologia
fixa como objeto de estudo da circulação dos termos em sincronia e em diacronia, o que inclui
a análise e a modalização de significações e de conceptualizações. A Socioterminologia tem
uma dimensão sociocrítica, como toda semântica do discurso, à medida que liga a produção
de sentido às condições de sua origem. A circulação dos termos é projetada sob o ângulo da
diversidade dos usos sociais, o que engloba o estudo das condições de circulação e da
apropriação dos termos, considerados como signos linguísticos, e não como etiquetas de
conceitos.
Os termos são usados coletivamente pelos falantes e servem de denominações oficias
e de marcadores identitários; circulam nos setores da experiência humana, no âmbito de
esferas da atividade, limitados, algumas vezes, a domínios circunscritos. Estas são as
múltiplas facetas dos discursos reais e desconhecidos, ligados à produção de conhecimentos,
às regras e a objetos manufaturados. A nova geração de pesquisadores inclina-se para essa
direção, na continuidade dos avanços da Socioterminologia.

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