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Gaudin François
Université de Rouen
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All content following this page was uploaded by Gaudin François on 28 June 2021.
François Gaudin*
Introdução
1 O surgimento da socioterminologia
2
Laboratório associado ao CNRS, então denominado “Sociolinguistique, usage et devenir de la langue” e intitulado
atualmente “Dynamiques sociolangagières”.
3
Ver Jean-Claude Boulanger, 1981.
4
Ver Pierre Lerat, 1984 e 1985.
5
“Apresentação” em Slodzian, (dir), 1986.
6
Gambier, 1991a e b, 1993; Gambier e Gaudin (dir) 1993; Gaudin (dir) 1995, Gaudin, 1996. Outros trabalhos apenas
apresentam a noção, ilustram-na ou a enriquecem (Auger, 1994a e b, 1999; Boutet et al, 1995; Cabré, 1992; Célestin, 1994;
Cholette, 1994; Condamines,1994; Coutier, 1996; Loubier, 1993; 1994b; Martin 1992; 1993; 1994a e b; Otman, 1993; 1995;
etc.).
7
Em 1991, Terminologie et sociolinguistique, Cahiers de linguistique sociale, n°18, URA CNRS 1164-Université de Rouen,
213 p.
8
Em 1993, número especial Socioterminologie, Le langage et l’homme, vol. XXVIII, n°4, éd. DeBoeck Université.
9
Em 1995, Usages sociaux des termes:théories et terrains, Meta, vol. 40, n°2, juin 1995, éd. Presses de l'Université de
Montréal.
10
Assembleia, 1994.
11
Delavigne e Gaudin (éds), 1994.
Boulanger dizer precisamente que na Bela Província “a socioterminologia chega, depois de
longo tempo, em filigrana” (BOULANGER, 1995, p. 15). De fato, as enquetes terminológicas
que ali foram conduzidas a partir do início dos anos 70 haviam permitido aos especialistas da
organização terminológica capitalizar uma soma de experiências, de observações e de
reflexões que as afastavam progressivamente da metodologia do leste europeu.
A contribuição da sociolinguística já aparecia, notadamente, nos anos 80, em trabalhos
pioneiros, como os de Monica Heller et ali (1982), considerados ainda hoje exemplares.
Postas em destaque as redes de comunicação num ambiente de trabalho, a análise dos fatores
de resistência e de sua importância na modificação de práticas lexicais abriram a via para
trabalhos inovadores. É necessário igualmente citar os pesquisadores Jacques Maurais (1984)
e Denise Daoust (1987) que, nos anos 80, introduziram entre os pesquisadores a dimensão
diacrônica e insistiram no estudo de mudança nas terminologias, frequentemente consideradas
intangíveis. Observemos que essas inovações, sustentadas pela vontade coletiva de toda a
população, eram um fato sociolinguístico. Compreendemos, a partir de então, a convergência
entre os terminólogos quebequenses e os trabalhos conduzidos sob o nome de
socioterminologia.
2 Difusão de um neologismo
O uso de uma nova denominação atraiu o interesse de todos para a seguinte questão: é
útil a expressão socioterminologia? De fato, não é raro que, nos discursos científicos, o
emprego de um novo nome seja de uma pertinência discutível, quer seja pela origem de um
efeito de sinalização ou de captação, quer seja pela delimitação de uma noção imprecisa; a
nova denominação pode servir de bandeira, mas pode também revelar-se mais eficaz como
significante do que como significado, na falta de uma elaboração nocional mais suficiente.
Por fim, a utilidade de um novo recorte conceitual pode ser irrelevante.
Em relação ao campo terminológico, constatamos que, em cerca de 20 anos, as
posições teóricas evoluíram claramente, o suficiente para que pudéssemos, eventualmente,
pensar que, na socioterminologia, o formante socio- fosse redundante. De fato, a aceitação das
questões terminológicas é um acontecimento hoje entre numerosos linguistas. Além disso, o
desenvolvimento dos trabalhos de análise textual automática e os encontros da terminologia
com a inteligência artificial possibilitaram emergir, pelo viés da análise de corpus, tentativas
próximas dos analistas de discurso. As consequências de estudos empíricos inovadores
caminharam com as evoluções ligadas aos estudos teóricos. Esta integração em um corpus de
conhecimentos é traduzido pela inscrição do termo socioterminologia nas nomenclaturas do
Dictionnaire de linguistique et des sciences du langage (DUBOIS et ali, 1994) e do
Dictionnaire d’analyse du discours (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU (org.) 2002).
Outros trabalhos surgiram para propor modelos alternativos, tais como, a teoria de portas
(CABRÉ, 2000) ou o sociocognitivismo (TEMMERMAN, 2000), em que os princípios
teóricos são, senão convergentes, pelo menos compatíveis com a abordagem sociolinguística.
3 Um torneio sociolinguístico
6 O modelo glotopolítico
Tardaram também as explorações na área da glotopolítica, com vistas a retomar o
conceito desenvolvido nos anos 8020 (GUESPIN, 1985; GUESPIN et MARCELLESI, 1986) e
que enriqueceu as reflexões sobre a circulação social dos termos e a organização linguística
(DEPECKER, 2000).
Falamos de glotopolítica para neutralizar as oposições entre língua e fala, pois,
quando falamos de política linguística, consideramos apenas as ações mais visíveis. Ora, no
circuito que liga a fala e a língua, interveem diversas decisões: pode ser o banimento, em casa,
de uma língua de imigração, pode ser anglicizar a comunicação de uma empresa; o registro de
formas novas por um lexicógrafo; a possibilidade de assegurar-se da participação de
intérpretes em um congresso21, por exemplo. E isso não exclui as decisões políticas, nem a
falta22 de decisões dessa natureza. Ao falar de glotopolítica, insistimos, consideramos a
pluralidade dos níveis de decisões que vão do indivíduo ao Estado, que participam dessa
gestão e da evolução e gênese contínua de línguas. Trata-se de um modelo dinâmico, mesmo
18
Sobre este tema, ver Baggioni e Larcher (1997).
19
“Um conceito é um semema construído cuja definição é estabilizada por normas de uma disciplina, de tal maneira que suas
ocorrências sejam idênticas a seu tipo” (RASTIER, 1991, p. 126).
20
As publicações coletivas mais marcantes são as Atas de um colóquio (WINTHER A. (éd.), 1985) e um número da revista
Langages (MARCELLESI (org.), 1986) consagrados a esse conceito.
21
O Fórum Social Europeu de novembro 2003 tinha 1000 intérpretes para assegurar às numerosas minorias a possibilidade de
exprimir-se em sua própria língua.
22
A decisão da Universidade de Montreal de dotar-se de uma política linguística é uma decisão glotopolítica significativa.
dialético, que permite pensar a língua e a fala como dois polos, uma vez que é a língua que
permite as interações de linguagem, por meio das quais a língua se recria e se renova. Não
existe língua sem práticas de linguagem; não existem práticas de linguagem sem língua.
Esse modelo dinâmico permite, também, integrar a dimensão da mudança numa
apresentação estática e incluir uma noção central: o tempo.
Língua
1Práticas
(5)
linguagem
de
2 (6) 4 Práticas
(8)
linguage
3
Práticas
(7) de
Práticas de linguagem
23
Ver Sophie Ballarin, 2009, Approche sociolinguistique de la production terminologique au Québec. Application du modèle
glottopolitique, Universidades de Rouen e de Montréal.
assegurar, numa língua, as tarefas de produção, de transmissão e de apropriação dos
conhecimentos.
Ora, se negligenciarmos nossa atenção, a desordem terminológica será um caminho
para a denominação linguística, um recurso ao empréstimo e para a perda de domínio.
Línguas são como ondas em turbulência quando o propósito é técnico ou científico. Serve de
ilustração a aprendizagem da medicina na Suécia, país rico e desenvolvido, que se faz
massivamente em inglês, língua na qual são redigidas todas as teses de doutorado. A
Alemanha conhece problemas análogos24. Nesse conjunto de reflexões, cabe questionar:
poderá alguém tornar-se bilíngue, de uma hora para outra, durante um tratamento de saúde, ou
mesmo no momento de consertar seu computador? O bilinguismo é um belo recurso, porém a
questão posta em discussão é a língua como fator de coesão social.
Conclusão
Referências
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d'une socioterminologie de la langue au travail, Terminologies nouvelles, n° 12, 1994a, p. 47-
57.
24
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