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CISTO DENTÍGERO ASSOCIADO COM A RETENÇÃO DE CANINO COM SEU REPOSICIONAMENTO


RELATO DE CASO CLÍNICO CIRÚRGICO

CISTO DENTÍGERO ASSOCIADO COM A RETENÇÃO


DE CANINO COM SEU REPOSICIONAMENTO -
RELATO DE CASO CLÍNICO CIRÚRGICO

DENTIGEROUS CYST ASSOCIATED WITH THE


CANINE RETENTION WITH YOUR REPOSITION -
CLINIC SURGICAL CASE RELATE

Guillermo E. BLANCO BALLESTEROS *


Clóvis MARZOLA**

_____________________________________
*Cirurgião Dentista. Univ. Metropolitana. Clínica Codes. Aguachica – Cesar – Colômbia.
**Professor Titular de Cirurgia da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP, aposentado.
Professor dos Cursos de Especialização e Residência em Cirurgia e Traumatología
Buco Maxilo Facial da APCD Regional de Bauru e do Colégio Brasileiro de Cirurgia e
Traumatologia BMF e Hospital de Base da Associação Hospitalar de Bauru.
Presidente da Academia Tiradentes de Odontologia e Diretor da Revista de
Odontologia da ATO.
Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 13, n. 2, p. 110-118, fev., 2013.
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RELATO DE CASO CLÍNICO CIRÚRGICO

RESUMO

O cistodentígeroéo segundo mais comum dos cistos


odontogênicos associados com caninos superiores e terceiros molares retidos.
Apresenta-se caso de cisto dentígero com canino retido, tratado cirurgicamente
com sua enucleaçãoe seu reposicionamento na região adequada, além de não
ser tratado endodonticamente.

ABSTRAC

The dentigerous cyst is the second most common odontogenic


cyst associated with maxillary canines and third molars. Presents a case of
dentigerous cyst with canine retained, treated surgically by enucleation and its
repositioning in the appropriate region, and not to be treated endodontically.

Unitermos: Cisto dentígero; Retido, Reposicionamento dental.

Uniterms: Dentigerous cyst; Impacted; dental repositioning.

INTRODUÇÃO

O cisto dentígero é o cisto odontogênico mais comum estando


comumente associado aos maxilares e, ainda com a retenção do canino
originário do seu folículo (MARZOLA, 2008 e REGEZI; SCIUBBA; JORDAN,
2008),
Origina-se a partir do epitélio reduzido do esmalte não sendo
determinado como estimulo do epitélio reduzido para separar-se de sua coroa
com o desenvolvimento de espaço para o acúmulo de fluido em torno da coroa
dental. A coroa do dente está na luz do cisto e qualquer que seja a sua
dimensão permanece na margem cervical do dente (SAPP; EVERSOLE;
WYSOCKI, 1998; MARZOLA, 2008 e VOSOUGH; MORADZADEH; LOTFI et
al., 2011).
Normalmente, esta descoberta é realizada em uma rotina de
radiografias e, geralmente permanece assintomática, podendo ter alguma
expansão ou dor, especialmente se for grande e inflamado além da ausência
clinicamente observada de um dente. Radiograficamente existe uma
radioluscência bem circunscrita em torno da coroa do dente.
Histologicamente é um epitélio escamoso estratificado não
queratinizado, tendo uma espessura variável.
Seu tratamento é a enucleação cirúrgica e, em casos variados,
geralmente o canino superior é trazido para sua posição com a ajuda de um
aparelho ortodôntico, pois recorrência cirúrgica é muito difícil. Pode ainda
causar outros tipos de alterações, como ameloblastoma, carcinoma
epidermóide, carcinoma de células planas, que neste caso seria necessário
outro tratamento agressivo para uma gestão adequada.
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O transplante é um procedimento cirúrgico em que o dente a ser


transplantado é submetido a uma avulsão do local de origem para colocá-lo em
outro lugar natural ou cirurgicamente preparado (CUFFARI; PALUMBO,1998;
MARZOLA, 2008 e MARQUES; RABAÇA; CARVALHO et al., 2011). Uma
das alternativas deste procedimento é a realização de tratamento endodôntico
devido às alterações apicais que possam surgir a partir deste procedimento,
evitando a reabsorção radicular, assim como impedir o fracasso da manobra
(MARZOLA, 2008; GIANCRISTÓFARO; PAULESINI; RIBEIRO et al., 2009 e
MARQUES; RABAÇA; CARVALHO et al., 2011). Casos de transplantes de
dentes quando não era realizado tratamento endodôntico, pode gerar grandes
conflitos entre os partidários daqueles que fazem o tratamento endodôntico.

RELATO DO CASO

Paciente do gênero feminino com 14 anos de idade, raça branca é


apresentada à clínica para consulta ortodôntica e, ao exame clínico inicial
mostra o dente 63, numa radiografia panorâmica para determinar sua ausência
ou sua retenção.
O exame radiográfico mostra uma área radiolúicida em torno da
coroa do canino, considerando-se que há espaço para acomodar dente no arco
dental (Fig. 1).

Fig. 1 – Aspecto radiográfico da presença do canino retido que provavelmente tenha sido o
causador do cisto dentígero.

A mãe da paciente sugeriu que fosse feita a extração do dente


com a enucleação cirúrgica da patologia e sua substituição por uma prótese.

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Depois de todas as explicações feitas foi aceita a conduta


apresentada e o procedimento cirúrgico foi realizado. Efetuada
etuada a antissepsia
extra-oral com Isodine® e a intra-oral com clorexidina 0,12%,
0,12% paciente foi
anestesiada com lidocaína a 2% com adrenalina por bloqueio regional dos
nervos alveolares superiores anterior e médio e e, do nervo incisivo. Foi
realizada uma incisão oblíqua na região de incisivo lateral e, das papilas
gengivais até o segundo pré-molar
pré molar para maior facilidade do descolamento da
região, efetuado com um periostomo.
A região do cisto foi encontrada, sendo feita fei a ostectomia
vestibular em uma protuberância,
protuberância deparando-sese com uma lâmina óssea
extremamente delgada, sendo removida com o alveolótomo e, regularizada com
uma broca cirúrgica montada numa da peça de mão.. Toda a peça foi removida,
a cavidade perfeitamente
perfeitamente curetada, completamente limpa, sendo irrigada com
soluto fisiológico. Todo o tecido em volta da coroa do canino foi removido,
permitindo a colocação do dente em seu novo local (Fig. 2).

Fig. 2 – Abertura e localização do cisto dentígero e do canino retido.

O alvéolo foi devidamente preparado para receber o canino


devidamente esplintado com fio de aço 0,22 e resina. O local foi devidamente
suturado com seda 4,0 e, e analgésico formulado Dolex® em comprimidos
500mg, 1 comprimido a cada 8 horas por 4 dias, Apronax® 275 mg, 1
comprimido a cada 8 horas durante 4 dias e, a área com fisioterapia com gelo, a
intervalos de 15 minutos em conjunto tempo (Fig. 3).

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Fig. 3 – O canino retido reposicionado em seu local correto no arco dental.

Amostra da peça foi enviada para análise para o laboratório de


patologia para confirmação
confirma do diagnóstico (Fig. 4).

Fig. 4 – O epitélio do cisto odontogênico que foi encaminhado para o exame microscópico.

O paciente foi alertado para os controles pós-operatórios,


pós
observando-se discreto edema sem dor, aos 7 dias, sendo removidos
remov os pontos
depois de 10 dias e, realizados os controles radiográficos.
radiográficos
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Após 4 semanas foi retirarada a esplintagem com controle


radiográfico para seguimento do dente e,e aguardando para uma avaliação
endodôntica
ôntica de sua necessidade ou não. Testes de vitalidade positiva foram
acompanhados por 8 meses e, área radiolúcida que foi deixada como padrão
não foi mais observada,
observad sugerindo uma formação óssea. Paciente foi
encaminhada para tratamento ortodôntico (Figs. 5 e 6).

Fig. 5 – Radiografia panorâmica mostrando o reposicionamento do canino já após alguns


meses de acompanhamento.

Fig.6- Paciente com tratamento de ortodontia para corrigir o problema de oclusão.

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O estudo patológico confirmado, isto é, epitélio escamoso


estratificado não queratinizado,
queratinizado, compatível com um cisto dentígero (Fig. 7).

Fig. 7 – epitélio escamoso estratificado não queratinizado,, compatível com um cisto dentígero.
dentígero

DISCUSSÃO

No tratamento dos cistos dentigeros associados com dentes


retidos e o tratamento cirúrgico especialmente na área dos terceiros molares
pelo deslocamento do elemento dentário,, no caso dos caninos associados com
estas lesões é necessário estudar detidamente para evitar fazer a exodontia.
Evita-se assim o colapso do arco, sendo importante ter todos os dados
coletados para levar com sucesso o procedimento,
procedimento, seja este por tração
ortodôntica ou transplante. Muitos relatos de caso apresentados
presentados reportam uma
incidência
ência maior em as mulheres de 1,6: 1, na segunda e terceira década da
vida (NEVILLE; DAMM; ALLEN et al., 2008; ZHANG; YANG; ZHANG et al.,
2009) e, para ZHANG; YANG; ZHANG et al., 2009, isto pode ser devido ao
pequeno tamanho dos maxilares.
Às vezes este tratamento pode trazer conflito entre as diferentes
especialidades, pelas diferentes opiniões sobre o tratamento adequado.
adequado Alguns
autores sugerem que todo
t do transplante de dente há que fazer o tratamento de
canal para prevenir complicações como reabsorção interna ou externa da raiz,
anquilose e, por tanto evitar a falha do procedimento
procedimento,, entretanto, nem sempre
isso é verdadeiro, não havendo necessidade de tal procedimento (HILLERUP;
DAHL; SCHWARTZ Z et al.,1987; HERRERA; HERRERA; LEONARDO et al.,
2006 e MARZOLA, 2008).
2008

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Pode ainda haver a possibilidade de regeneração do ligamento


periodontal em dentes com ápice aberto (NETHANDER; SKOGLUND;
KAHNBERG et al., 2003 e MARZOLA, 2008) não sendo necessário o
tratamento endodôntico especialmente em pacientes novos. Em pacientes
acima de 20 anos, é necessário fazer o tratamento porque a raiz está formada,
tendo o risco de que não ocorrer uma regeneração do ligamento periodontal
(MARZOLA, 2008).

CONCLUSÕES

1. O resultado do procedimento é satisfatório e, o cisto foi retirado


e o dente reposicionado no arco dental, estando a paciente em tratamento
ortodôntico para alinhar o dente no espaço certo.
2. O sucesso do tratamento depende de um bom estudo do caso,
uma boa técnica cirúrgica, manuseio mínimo para evitar danos no ligamento
periodontal e preferivelmente que o dente tenha formação incompleta da raíz,
para evitar uma anquilose ou reabsorção.

REFERÊNCIAS *
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