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em 1755
do TERRAMOTO
à RECONSTRUÇÃO
FICHA TÉCNICA
ORGANIZAÇÃO Câmara Municipal de Cascais – Departamento de Cultura
(Divisão de Bibliotecas e Arquivos) COORDENAÇÃO António Carvalho (Director
do Departamento de Cultura) CONCEPÇÃO Arquivo Histórico Municipal de
Cascais (ahmc) INVESTIGAÇÃO E TEXTO João Miguel Henriques (Responsável
pelo Arquivo Histórico Municipal) TRANSCRIÇÕES João Miguel Henriques
(ahmc), Cristina Bruno (ahmc), Mafalda Martinho (ahmc), Gabriela Vilar
(ahmc), António Morgado (ahmc) e Isabel Ferrão (Arquivo Histórico da Santa
Casa da Misericórdia de Cascais) COLABORAÇÃO Olga Bettencourt (ahmc),
Elisabete Figueiredo (ahmc), Carlos Silvestre (ahmc) e Carolina Vieira (ahmc)
FOTOGRAFIA Giorgio Bordino [materiais da Academia das Ciências de Lisboa]
AGRADECIMENTOS Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, Direcção
dos Serviços de Engenharia - Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia
Militar, Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Instituto Geográfico
Português e Santa Casa da Misericórdia de Cascais DESIGN, PAGINAÇÃO,
PRÉ-IMPRESSÃO E IMPRESSÃO DPI – Design, Produção Gráfica e Imagem
TIRAGEM 1000 exemplares ISBN 972-637-154-6 DEPÓSITO LEGAL 234176/05
ÍNDICE
PREFÁCIO
5
APRESENTAÇÃO
6
CASCAIS EM 1755: DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
11
FONTES E BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS
45
CURIOSIDADES DE FREI VICENTE SALGADO
49
MEMÓRIAS PAROQUIAIS
119
Questionário
120
Paróquia de Nossa Senhora da Assunção – Cascais
122
Paróquia da Ressurreição de Cristo – Cascais
190
Paróquia de São Vicente de Alcabideche
210
Paróquia de São Domingos de Rana
224
Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios – Carcavelos
228
Paróquia de Nossa Senhora da Purificação – Oeiras
234
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
249
PREFÁCIO
No contexto da comemoração dos 250 anos do Terramoto de 1755, a presente edição representa
mais um momento importante na actividade editorial desta Câmara Municipal. De facto,
estamos perante um esforço exaustivo, concertado e rigoroso de publicação crítica de fontes, um
género muitas vezes apresentado como tendo pouco sucesso comercial, mas que na realidade
representa um produto valiosíssimo do ponto de vista da investigação e do desenvolvimento da
historiografia.
É este um instrumento que permite agora enquadrar a questão a nível nacional, contribuindo
também para o aprofundamento da história mais global do denominado Terramoto de Lisboa,
acontecimento, aliás, de dimensão europeia, em certo sentido da palavra: de Voltaire a Kant,
passando por Rosseau, Goethe, Sade e Casanova foram vários os pensadores, filósofos e artistas
europeus do século XVIII que se debruçaram sobre o significado e implicação de um acontecimento
a que faltavam, então, explicações científicas de ordem geológica.
5
APRESENTAÇÃO
Em Novembro de 2005 assinalam-se os 250 anos do Terramoto de 1755, a maior catástrofe natural
ocorrida em Portugal e a primeira de dimensão europeia nos tempos modernos, ao qual se seguiu
um maremoto que, como se sabe, provocou uma enorme devastação em Lisboa e ao longo da
costa, de Cascais ao Algarve, afectando também o sul de Espanha e o norte de África. Na sequência
do tremor de terra deflagrou igualmente na capital um violento incêndio, pelo que o sismo de
1 de Novembro de 1755, conhecido na Europa pelo seu grau de destruição e pelas suas implicações
políticas e filosóficas, ainda hoje continua a ser um tema de intensa investigação, de que o
trabalho que o Departamento de Cultura da Câmara Municipal de Cascais se orgulha de dar
agora à estampa, é um exemplo.
Assim, nesse Dia de Todos os Santos, o violento terramoto, que se calcula ter atingido os grau IX
e X na escala Mercalli (1911), atingiu Cascais, provocando a morte de mais de duas centenas de
pessoas e arrasando as duas paróquias da vila – a da Ressurreição de Cristo (cuja igreja se situava
onde hoje se encontra o Largo de Estação) e a de Nossa Senhora da Assunção (que tinha como sede
a actual igreja matriz e que entretanto, como se registará, agregou as duas invocações). Produziu,
ainda, avultados estragos nas restantes freguesias: Nossa Senhora dos Remédios (Carcavelos), São
Domingos de Rana e São Vicente de Alcabideche.
De acordo com Frei António do Espírito Santo, do Convento de Nossa Senhora da Piedade, que
descreveu em 1756 os efeitos do cataclismo em Cascais, o tremor de terra começou a fazer-se sentir
pelas nove horas e quinze minutos, transformando a «[...] grande Povoação [em] hum insensível,
e frio cadaver do que havia sido, e huma desfeyta scena do que já não era [...]». Para além das
habitações comuns, muitos edifícios emblemáticos do concelho sofreram com o abalo e nem mesmo
os locais de culto escaparam à hecatombe, que muitos acreditaram ser castigo divino. Na verdade,
recordando as palavras do Cura da Ressurreição de Cristo, de 1758, «De todas as terras foi esta a
que exprimentou mayor Ruina (conforme dizem todos) por cauza do dito Terremotu, pois todos os
edefícios se arruinarão, e quazi todos cahiram, e algum que nam cahio de todo ficou inhabitável [...]».
Ao terramoto seguiu-se o maremoto, chegando o mar, segundo Frei António do Espírito Santo,
a recuar cerca de cinco quilómetros. O número de vítimas mortais foi, por isso, avassalador,
registando-se o falecimento de duzentos e dois habitantes do concelho, número significativo se
pensarmos que a população total no ano de 1736 se estimava em 5 109 indivíduos.
A edição que ora se apresenta resulta de uma investigação conduzida pela equipa do Arquivo Histórico
Municipal de Cascais, que reuniu, transcreveu e procurou reproduzir numa só obra documentos
6
conservados na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, na Torre do Tombo (IAN/TT) e nos
Arquivos Históricos da Santa Casa da Misericórdia de Cascais e da Câmara Municipal de Cascais,
assim como no Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar e no Instituto Geográfico
Português, no intuito de disponibilizar a todos os investigadores e interessados pela história local
documentos fundamentais para a compreensão do concelho no período que medeia entre 1755 e 1758.
7
Destaque-se, ainda, a belíssima planta da vila de Cascais, datável do início do século XIX, pertença
do Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar e, ainda, a Carta dos arredores de
Lisboa, de 1821, da colecção do Instituto Geográfico Português, que igualmente se reproduzem.
Mencione-se, por fim, o recurso ao importante acervo iconográfico do Arquivo Histórico Municipal
de Cascais, em especial às colecções fotográficas ou de bilhetes postais ilustrados e, ainda, à
preciosa Colecção de Monsenhor Elviro dos Santos.
Este livro, bem como a exposição homónima à qual de alguma forma se encontra associado,
coincide com uma etapa importante no movimento de requalificação patrimonial encetado pela
Edilidade, que se tem traduzido não só na aquisição de peças arquitectónicas de reconhecido
valor, como também na recuperação e restauro continuados de outras que há longos anos
são sua propriedade. Um dos momentos deste percurso consistiu na passagem para a Câmara
Municipal de Cascais da denominada Casa Henrique Sommer, peça singular da arquitectura de
veraneio cascalense que se encontrava em considerável estado de degradação. Pelas suas outras
características, como a localização no centro histórico da vila, a proximidade com alguns dos
museus e centros culturais mais emblemáticos de Cascais – já existentes ou em projecto – e
a existência de espaços envolventes que permitem a construção de alas de apoio, este imóvel
foi escolhido para acolher o Arquivo Histórico Municipal e o Centro de História Local. Aí este
serviço será definitivamente dotado do conjunto de meios tecnológicos indispensáveis a uma boa
gestão e prática arquivísticas, como sejam a preservação, tratamento, acessibilização e difusão da
documentação, bem como a prossecução da digitalização dos fundos, no âmbito de programas
nacionais da especialidade, permitindo em simultâneo oferecer aos investigadores condições
adequadas de atendimento e de consulta.
Vista da vila de Cascais na primeira metade do século XIX, da autoria de Carlos Ribeiro, com destaque para o Convento de Nossa Senhora
da Piedade (à esquerda) e as ruínas do Palácio dos Marqueses de Cascais
8
A criação do Arquivo Histórico Municipal de Cascais remonta a 1987, tendo então sido instalado
no Museu Condes de Castro Guimarães, onde na época se concentravam quase todos os serviços
afectos à área da cultura. O acervo inicial integrava parte dos fundos da edilidade resultantes da
sua actividade administrativa, sendo progressivamente complementado e enriquecido por meio
da aquisição de arquivos familiares e fotográficos ou de colecções documentais e do incremento
do depósito de núcleos pertencentes a instituições ou particulares. Este crescimento conduziu à
transferência do serviço em 1995 para um outro edifício: a Escola Monumento D. Luís I, espaço
que, pese embora o seu encanto arquitectónico, se viria a revelar também exíguo e necessitado
de intervenções de conservação e restauro. Este impasse acabaria por ser ultrapassado aquando
da passagem para a Edilidade da referida Casa Sommer e da decisão de associar o edifício à
natureza e exercício de um serviço: o Arquivo Histórico Municipal, reconhecendo-se, assim, a sua
importância como um dos pilares fundamentais da estratégia cultural autárquica no sector.
Enquanto se recupera a Casa Sommer procedeu-se à transferência desta instituição cultural para
o Complexo Multiserviços da Câmara Municipal na Adroana, onde se encontra em funcionamento
pleno desde meados de 2003. Evitou-se, assim, o encerramento temporário ao público.
Uma última palavra para o género editorial em que o presente livro se insere. Se é unanimemente
conhecido que o sector editorial da Câmara Municipal de Cascais se reveste de um grande
dinamismo e dedicação aos estudos de história local, não será demais sublinhar a importância
da edição de fontes, como é agora o caso, esforço essencial para a renovação da historiografia
concelhia, tantas vezes ainda baseada em transcrições antigas e perpetuando erros involuntários.
Novos projectos estão em curso, como a edição de uma compilação de posturas municipais ou
de uma nova transcrição do foral de Cascais. Esperamos, assim, ir ao encontro das aspirações de
todos os investigadores e do público em geral interessado por estas matérias.
9
CASCAIS EM 1755
DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
«[...] por toda a parte está a villa huma informe, e continuada Ruina,
huma incapas habitação, e hum aborrecido sepulchro, mais para mortos
que para vivos; ou nem ainda com a decencia para os mortos.»1
«[...] acabou-se Cascaes, tudo he estrágo; naquelle fatal dia aziago [...]»2
1
Frei António do Espírito Santo, “Papel sobre o[s] Terremotos, e sobre o de 1755 feito no convento de Nossa Senhora da Piedade de
Cascaes em 20 de Maio de 1756 por Frei António do Espirito Santo Natural de Cascaes com muitos versos de sonetos á villa de Cascaes”,
Curiosidades de Frei Vicente Salgado da Congregação da Terceira Ordem de São Francisco de Portugal, fl. 53.
2
Idem, Ibidem, fl. 95.
3
A primeira edição parece remontar a 1956, sob a forma de artigo intitulado A vila de Cascais e o terremoto de 1755 e publicado em
Cascais e seus lugares: Revista cultural da Junta de Turismo de Cascais, n.º 9, Agosto de 1956, pp. 29-63. Já a segunda, agora enquanto livro,
ocorre em 1964, no âmbito das Comemorações do VI Centenário da Vila de Cascais, a expensas da Câmara Municipal de Cascais.
4
Manuscritos conservados na IAN/TT que são aqui reproduzidos em fac-símile acompanhado de transcrição. O mesmo sucede com
as respostas dos párocos das outras freguesias do concelho: São Vicente de Alcabideche, São Domingos de Rana e Nossa Senhora dos
Remédios de Carcavelos. Reproduzimos e transcrevemos ainda a memória paroquial de Oeiras, por se referir à vila de Bucicos, que em
1759 será anexada por Carcavelos. Estas memórias já haviam sido publicadas na Monografia de Cascais, obra dirigida por Ferreira de
Andrade e publicada pela Câmara Municipal de Cascais no ano de 1969.
5
Integrado na colecção da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa.
6
Cf. Frei António do Espírito Santo, Op. cit., fls. 41-89. A poesia inicia no fl. 73 v. e também é integralmente fac-similada e transcrita nesta
colectânea. Registe-se que o original possui uma folha não numerada entre os fls. 46 e 47.
11
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Este relativamente extenso e minucioso trabalho, dedicado a São Filipe Nery, constitui um
instrumento privilegiado para o estudo dos efeitos do terramoto de 1755 na vila e arrabaldes, uma
vez que foi produzido em Cascais poucos meses após a hecatombe por uma testemunha ocular
com grande poder de observação e vasta cultura enquanto resposta às treze questões do célebre
inquérito promovido pelo Marquês de Pombal logo depois da catástrofe, a fim de avaliar os seus
efeitos nos diferentes pontos do País7. Na verdade, nessa ocasião distribuiu-se por todas as dioceses
um questionário, cujas respostas parecem remontar a 1756, como sucede no caso de Cascais.
Note-se, porém, que se desconhece a razão pela qual se incumbiu este religioso de responder ao
interrogatório, ao invés dos párocos do concelho8.
De acordo com Frei António do Espírito Santo, o terramoto iniciou-se às nove horas e quinze
da manhã, fazendo-se sentir por nove minutos e transformando a «[...] grande Povoação [em] hum
insensível, e frio cadaver do que havia sido, e huma desfeyta scena do que já não era [...]»9. Pensa-se
que teve o seu epicentro a sul, porque «[...] se vio no tempo daquelle Ruidoso fragôr, hir pelo ár
correndo do Sul para o Norte, e do már para a serra, hum nebuloso turbilhão de poeyra; que ou erão
vapores, e exhalaçoes que com o tremor sahião dos hiátos da terra, ou subtil pó, que das caliças e
Ruinas, ao mesmo tempo que cahião, se levantavão ao ar.»10.
Segundo este documento, a destruição foi quase total, pois «[...] por toda a parte cahirão [casas],
e tudo cahio. cahio a villa do Levante áo Poente, cahio do Sul até ao Norte [...]»11. Todos os edifícios do
concelho sofreram, assim, com o abalo, como o Convento de Santo António, no Estoril; as Igrejas da
7
Francisco Luís Pereira de Sousa descobriu o interrogatório entre a documentação do Ministério do Reino referente ao bispado de
Coimbra, pois juntamente com uma das respostas conserva-se um exemplar impresso datado de 11 de Fevereiro de 1756. Cf. Francisco
Luís Pereira de Sousa, Ideia geral dos effeitos do megasismo de 1755 em Portugal, Lisboa, Tipografia do Comércio, 1914, pp. 6-7. Na
verdade, o documento assinado pelo Bispo D. Miguel da Anunciação é do seguinte teor: «1.º - A que horas principiou o Terremoto do
primeiro de Novembro, e que tempo durou? 2.º - Se se percebeu, que fosse mayor impulSo de huma parte, que de outra, vg. do Norte para
o Sul, ou pello contrário, e se parece que cahirão mais ruinas, para huma do que para outra parte? 3.º - Que numero de cazas arruinaria
em cada Freguezia, se havia nella edificios notaveis, e o estado em que ficarão? 4.º - Que Pessoas morrerão, se algumas erão distintas?
5.º - Que novidade se vio no mar, nas fontes, e nos rios? 6.º - Se a maré vazou primeiro, ou encheu? Quantos palmos cresceu mais do
ordinario? Quantas vezes se percebeu o fluxo, e refluxo extraordin[a]rio? Se se reparou, que tempo gastava em baxar a agoa, e quanto em
tornar a encher? 7.º - Se abrio a Terra algumas boccas, o que nellas se notou, e se rebentou alguma fonte de novo? 8.º - Que providencias
se derão immediatamente em cada lugar pelo Ecclesiastico, pelos Militares, e pelos Ministros? 9.º - Que Terremotos tem repetido depois
do primeiro de Novembro, em que tempo, e que danno tem feito? 10.º - Se há memoria de que em algum tempo houvesse Terremoto, e
que damno fez em cada lugar? 11.º - Que numero de Pessoas tem cada huma Freguezia declarando, se poder ser, quantas há de diferente
Sexo? 12.º - Se se experimentou alguma falta de mantimentos? 13.º - Se houve incendio, que tempo durou, e que damno fes?». IAN-TT/
Ministério do Reino/Mç. 638, Cx. 742. Refira-se que João Duarte Fonseca considera este interrogatório, de que se desconhecem muitas
respostas, «[...] o primeiro questionário sismológico elaborado em moldes científicos [...]». João Duarte Fonseca, 1755: O terramoto de
Lisboa, 2.ª ed., [Lisboa], Argumentum, imp. 2005, p. 123.
8
De acordo com Maria do Rosário Themudo Barata, os interrogatórios foram remetidos por ordem de 20 de Janeiro de 1756,
enviada pelo Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, Sebastião José de Carvalho e Mello, aos responsáveis
pelas dioceses. Estes deviam, por sua vez, encaminhar o interrogatório para os párocos das freguesias da sua jurisdição. Cf. Maria
do Rosário Themudo Barata, et al., Sismicidade de Portugal: Estudo da documentação dos séculos XVII e XVIII, vol. I - Heurística, crítica
e interpretação, Lisboa, Ministério do Planeamento e da Administração do Território - Gabinete de Protecção e Segurança Nuclear,
[1988], pp. 44-45.
9
Frei António do Espírito Santo, Op. cit., fl. 48.
10
Idem, Op. cit., fl. 50 v.
11
Idem, Op. cit., fl. 52.
12
Original conservado na Biblioteca
da Academia das Ciências de Lisboa
12
Recorde-se, neste sentido, que o terramoto ocorreu na manhã de 1 de Novembro, dia de Todos os Santos. Muitos daqueles que
acabariam por sucumbir encontravam-se a assistir aos ofícios divinos nos templos, que entretanto ruíram, sepultando-os nos
escombros. Os efeitos do cataclismo fizeram-se igualmente sentir em Lisboa e, com intensidade desigual, noutras regiões do País e do
estrangeiro. Neste contexto importa anotar que, apesar de o cataclismo ter passado para a posteridade com a designação de Terramoto
de Lisboa, a devastação da capital não foi, por exemplo, superior à do Algarve, ou de localidades como Cascais, vila para a qual os
párocos reclamaram o estatuto de mais afectada, como se verá em seguida.
13
Idem, Op. cit., fls. 52-52 v.
13
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
inclinada toda para o Norte, esperando com brevidade o occazo.»14 e ainda a uma torre com relógio
ao Norte da actual Cidadela, cuja queda provocou vinte e duas mortes15. Em resumo: «[...] nenhuma
[casa] deyxou de padecer destroção, maiz e menos, ou do terramoto, ou quando o mar sahio fora.
As mais interiores da villa, o movimento as demolio; as da borda do mar, este az soçobrou com
quanto nellas havia. Até a Fortaleza, parecendo incontrastavel a mayores assédios; seus quarteis
estão todos abalados, suas gôritas truncadas, o magnifico Palacio do governador destelhado, parte
de alguma muralha offendida; e sendo insensivel ás balas, ficou tudo sentimento que o estalou, e hum
aborrecimento de quanto se póde sentir.»16.
14
Idem, Op. cit., fl. 53 v.
15
«Há Castello antiquissimo que está munto aruinado e tinha uma torre munto alta, em que estava o signo do Relógio da Camera, porem
esta Cahio na ocazião do Terremoto.». IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Ressurreição de Cristo, resposta n.º 25.
16
Frei António do Espírito Santo, Op. cit., fl. 53 v.
17
Idem, Op. cit., fl. 52 v.
14
Relogio dizem estar 22. pessoas. Falta ainda por descobrir hum Reverendo Sacerdote, e muita gente
maiz. Alguns que se acharão são pessoas desconhecidas, que ou chegavão de Lixboa, ou do termo da
villa: que como era dia tão solemne vinhão a confessar[-]se. Porem dos conhecidos falta muita gente
ainda. Bem se póde affirmar, são 514. pessoas mortas, as finadas naquelle dia, e já descubertas.»18.
No livro de registo de óbitos da paróquia de Nossa Senhora da Assunção, o Reitor António
Peres Coelho de Castro não confirmou estes números, ainda que registe que «[...] não ficou, Caza,
nem edificio que não ficase arruinado e postrado por terra, e no mesmo tempo entrou o mar pella
Villa dentro, e chegou athe o poço Velho, e Sancta Clara o qual fes grave estrago pellas Ruas por
onde passou, e na Ribeyra fes espedaçar todas as embarcaçoens e barcos de pescas, que passavão de
sincoenta e tantos […]»19. Na verdade, ao assentar o nome das vítimas enterradas no adro da igreja
e daquelas a que não foram dadas sepulturas não apontou mais do que noventa e nove nomes20,
cômputo que questiona a referência a quatrocentos e vinte e seis cadáveres, anotada por Frei
António do Espírito Santo.
18
Idem, Op. cit., fls. 55 v.-56.
19
IAN-TT/Registos paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora da Assunção/Óbitos, Lv. 2, fl. 131 v.
20
«Conforme a averiguação que Se pode fazer quando Se fez o Rol dos Confeçados deste anno de mil e Setecentos, Sincoenta, e Seis
[...]», são estes os nomes: Caetano de Almada; Manuel Gomes Capucho e Maria Rosa (sua escrava); Domingas dos Santos Bonita;
Francisco Tavares (escravo de António da Silva Tavares que não consta ter sido sepultado); Luísa Inácia e seu filho José; Joana Rosa
Margarida (filha do ajudante Manuel Fernandes); Josefa Maria e seu filho Joaquim Simões; Maria do Espírito Santo (filha do ajudante
de artilharia Ricardo Ribeiro); outra Josefa Maria; António Francisco Nexo; Teresa Maria; Manuel (filho de Francisco Machado, que
não consta ter sido sepultado); Laureana Rita; Teresa Rosa e Luísa Teresa (filhas de Filipe Ribeiro, ainda não sepultadas); Rosa Maria
(filha de Diogo de Lima); João Ribeiro Trabuca e quatro filhos: Joaquina, Manuel, Inácio e António; Maria Vitória (que não consta
ter sido sepultada); José (filho de Agostinho Rodrigues, que não consta ter sido sepultado); Felícia Maria (que não consta ter sido
sepultada); Teresa de Jesus e sua filha Maria da Conceição; João Martins (escravo de João Martins Figueira, que não consta ter sido
sepultado); Luzia dos Anjos e sua filha Teresa; Teresa Maria; Francisco Martins, sua mulher e dois filhos (que não consta terem sido
sepultados); Manuel Pedroso (o Bexiga, do lugar da Charneca); D. Francisca Inácia Falcoa (filha do Capitão Bernardo Gomes Falcão);
Agostinho Coelho (cabo de esquadra do regimento da Praça de Cascais, filho de António Jorge); Maria Francisca (moradora no lugar
de Charneca); António (filho do soldado Manuel Domingues, que não consta ter sido sepultado); Maria (filha de Leonardo Antunes);
Angélica (filha de Manuel Duarte, soldado do regimento da Praça); António e Francisco (filhos de Patrício da Silva, que não consta
terem sido sepultados); Maria (filha do soldado António Luís, que não consta ter sido sepultada); D. Ana (filha do Dr. Alexandre de Rey
Coutinho) e sua criada, Angélica Maria; Miguel Coelho (que não consta ter sido sepultado); Joaquim (filho de José Martins); José (filho
de Domingos Jorge) e sua criada, Eugénia; Mariana Joaquina (filha de José Martins Marcos); José Lourenço (artilheiro reformado);
José Orlando Porto (tio do Padre Manuel Rodrigues, que não consta ter sido sepultado); José (filho de Simão de Brito); Rita (filha
de Mateus de Andrade) e sua criada, Maria; José de Almeida; Manuel (filho de António Domingos Relvas, soldado do regimento da
Praça); Ana Teresa (filha de Eugénia Machado, que não consta ter sido sepultada); Maria de Jesus (que não consta ter sido sepultada);
Joaquim (filho de António dos Santos, soldado do Regimento da Praça); Jacinto Mendes; José Gomes Maré e sua irmã Teodora Maria;
Padre Isidoro Pires Negrão (Presbítero do Cabido de São Pedro); Delfina e Maria (filhas de Martinho José, que não consta terem sido
sepultadas); Maria (criada de Francisco Gomes); Manuel Rodrigues; Luísa e Ana (filhas de João Jorge, Cabo de esquadra do regimento
da Praça); Genoveva, Jacinta, Luísa, Eleutério e Violante (filhos de Francisco Xavier Pinto de Siqueira); Cândida (filha de Eleutério José
Caria) e seus escravos, João e Maria (que não consta terem sido sepultados); Efigénia Maria e Francisco dos Santos (escravos do Dr.
Joaquim Rodrigues Maia); Maria dos Prazeres (filha de António Gaspar) e seu escravo, João dos Santos; Mariana (irmã de Tomé Luís
Mega); Mariana Rosa (filha de Inácio Gomes Alfama, que não consta ter sido sepultada); Leonardo dos Santos (alferes do Regimento
de Praça, filho do Capitão Belchior Mendes); Ana Maria e Rosa (criadas do Capitão Bernardo Gomes Falcão); Gregório dos Santos; D.
Francisca Leonarda Xavier, sua filha, D. Ana Zeferina, e um filho menor; Maria Antónia; uma filha de António Leal (que não consta ter
sido sepultada); e Tereza de Jesus e sua irmã Paula Tereza, «[…] molheres pardas [...]», que não consta terem sido sepultadas. Cf. Ibidem,
fls. 131 v.-141 v. A estes nomes importava associar os dos falecidos após o terramoto, em consequência de ferimentos. Não dispomos,
no entanto, de elementos para o efeito. Ao finalizar esta descrição urge anotar que no assento de óbito de Agostinho Coelho o pároco
Manuel Marçal da Silveira registou que «[...] o sepultarão sem a minha acistencia ou do meu Cura pela Confusão do dito dia, e por se
não poder acodir a todos ao mesmo tempo por acistir taobem aos freguezes da outra freguezia da Ressurreiçei [sic] desta villa pelo seu
Parracho Se auzentar della no mesmo Terremoto, que administrei os Sacramentos por largo tempo [...]». Ibidem, fls. 136-136 v.
15
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
21
Na realidade, eliminada a repetição que em seguida se apresenta, conclui-se que faleceram oitenta e nove habitantes da freguesia: Ana
das Chagas Negaia (da Rua do Passo, junto à Misericórdia), José Corcob (maltês); Maria dos Anjos e sua filha Teresa (moradores no Rossio);
Mariana Teresa e sua filha, Teresa Maria (moradoras junto à Ermida de Nossa Senhora da Conceição dos Inocentes); Domingos Luís Ramos
(soldado) e sua filha, Inocência (moradores junto à Igreja); Andreza Gomes e sua filha, Antónia Xavier (da Travessa do Adro); Isidora Maria
(tia do Padre António Coelho de Avelar) e escravo, Miguel (da Rua da Cruz dos Inocentes). Seguem-se os nomes dos falecidos que residiam na
Rua Direita: Domingos (filho do tenente Henrique Nunes Leal, que não consta ter sido sepultado); Manuel Gomes Alfama, sua mulher, Teresa
de Jesus, e filha, Rita; Domingos Luís (o Pega) e seu filho, José Luís; Joana de Jesus e Ermelinda, «[...] que asistia na mesma casa [...]» (filha
do sacristão Jacinto Rodrigues Candeias); Isabel dos Anjos e sua filha, Rosa; Mariana dos Santos e sua escrava, Luísa (que não consta terem
sido sepultadas); o Capitão Bernardino Gomes de Gouveia (que morreu em Carcavelos e não consta ter sido sepultado, tendo igualmente
assento no livro de registo de óbitos da paróquia de Nossa Senhora dos Remédios); Francisca Josefa; Ana Margarida (filha do Sargento
Bernardino de Oliveira, que não consta ter sido sepultada); Jacinta Josefa de São José; José (filho de António Rodrigues Leiria, que não consta
ter sido sepultado) e Francisca da Costa. Seguem-se Francisca Nunes (da Rua do Passo); Jorge, (escravo do Padre Álvaro Lopes Atalaia
Pereira) e Casimiro da Costa (da Rua dos Penedos) e os finados da Rua das Parreiras: Ana, Manuel e Silvestre (filhos de José Dias Mariante);
Luísa Maria da Conceição (cujos ossos foram enterrados) e seus filhos, Joaquim e Silvestre; Ana, criada do Capitão António Rodrigues e
uma sua irmã (que não consta ter sido sepultada); e Antónia Maria (que não consta ter sido sepultada). Regista-se igualmente o óbito de
uma «Molher do Monte que se nam conheceu [e] foi achada à porta de Joseph da Cunha Broxado […]», Guiomar (filha de João da Silva, que
não consta ter sido sepultada) e Josefa das Chagas (da Rua da Misericórdia, que não consta ter sido sepultada). Sucedem-se os falecidos da
Travessa da Ponte: Manuel Vieira Pereira (que não consta ter sido sepultado); Jerónima Domingues, «[…] molher parda […]»; o Sargento-
mor reformado João Nunes Leal e Domingas (escrava de Teresa Maria Romoa [?], que não consta ter sido sepultada). A descrição prossegue,
depois, para aqueles que habitavam junto aos Passadouros: Sebastião Jorge (que não consta ter sido sepultado); Ana (filha de Francisco
Lopes Morgalho); José (filho de Manuel dos Anjos, que não consta ter sido sepultado); Félix (filho de Domingos Luís, que não consta ter sido
sepultado); Francisco da Costa; Luísa Maria e suas filhas, Águeda e Maria (que não consta terem sido sepultadas); e António (escravo do
Capitão Francisco Pereira), avançando, então, até à Rua do Castelete que perde José Gomes (filho de Luís Gomes, que não consta ter sido
sepultado); Ana (filha de Francisco dos Santos, que não consta ter sido sepultada); Caetano (escravo de Vitorino Correia, que não consta ter
sido sepultado); Guilherme (filho de João Pedroso que não consta ter sido sepultado); Maria (filha de Francisco Gonçalves Maré, que não
consta ter sido sepultada); Sebastiana dos Santos e seu filho, Rufino (que não consta terem sido sepultados); António Martins Marra; Ângela
Maria e seus filhos, Nuno e Maria (que não consta terem sido sepultados) e Diogo da Mata (filho de José da Mata). O mesmo destino tiveram
José Gomes Maré (morador na freguesia); Teresa Maria (moradora junto à ponte) e sua cunhada Josefa Ferreira e, na Rua do Norte, Teresa
Maria (enterrada no adro da Igreja da Assunção); Teresa Lopes; Teodora de Freitas e suas filhas, Ana Teresa e Eufrásia Joaquina (que não
consta terem sido sepultadas); António Pereira (enterrado no adro da Igreja da Assunção); Domingas Ribeira e seus filhos, Francisco Nunes,
Joaquim Nunes, Credência e Joaquina (que não consta terem sido sepultados); Domingas Pereira e ainda Agostinho (filho do Sargento-mor
José Falcão de Gouveia, que não consta ter sido sepultado). Registam-se, por fim, os nomes dos finados da Aldeia Nova: Manuel (filho de
Lourenço de Sousa, que não consta ter sido sepultado); Maria dos Anjos; Tomásia (filha de Fernando Duarte que «[...] foi sepultada na Ermida
de Santo Izidoro do lugar de Birre [...]»), concluindo a descrição com o assento de óbito da Joana Gomes (escrava de D. Leonarda Maria Josefa
Xavier), da Rua dos Penedos, sepultada na Igreja de São Vicente de Alcabideche). Cf. Ibidem/Paróquia da Ressurreição de Cristo/Óbitos, Lv. 1,
fls. 23 v.-27. No caso desta paróquia tememos que o pároco possa não ter registado alguns enterramentos, pois, ao contrário do seu congénere
da paróquia de Nossa Senhora da Assunção, não produziu assentos individuais. Não obstante, como identifica alguns dos sepultados, no
intuito de homogeneizar as listagens, decidimos identificar os restantes com a indicação de que não consta terem sido enterrados.
22
Ibidem, Paróquia de Nossa Senhora da Assunção/Óbitos, Lv. 1, fl. 23 v.
23
Ibidem, Paróquia da Ressurreição/Casamentos, Lv. 2, fl. 42. Recorde-se, neste contexto, a história da Ermida de Nossa Senhora da
16
continuaram a ser ministrados na Igreja da Ressurreição até Abril e Maio de 1782, respectivamente,
passando, desde então, a realizar-se na Igreja da Misericórdia24, onde se mantiveram até 17 de
Maio de 1840, data em que se registou o termo de encerramento da freguesia25.
Para além das vítimas mortais importa também registar o elevado número de feridos, porque
«[…] muitos forão os que ficarão feridos e estropeados.»26 que «Segundo huns dicerão, serião por
Ruínas da Igreja da Ressurreição, em Cascais (actual Largo da Estação), no final do século XIX
[ahmc/fot-cam/p388]
Conceição dos Inocentes, anotando que «Os habitantes, cheios de maior terror, fizeram voto a Nossa Senhora dos Innocentes, para
que os livrasse d’aquelle maior perigo, e não tendo o mar chegado a entrar na ermida da dita invocação, parando próximo d’ella, o que
se attribuiu o milagre, ainda alli se cumpre o voto, fazendo-se annualmente uma festa de missa e sermão.». Pedro Lourenço de Seixas
Borges Barruncho, Apontamentos para a história da vila e concelho de Cascais, Lisboa, Tipografia Universal, 1873, p. 85.
24
Entretanto reedificada, com excepção das torres sineiras. Desta forma, «Em trez dias do mes de Junho de mil setecentos e oitenta
e dois de manhã em a Igreja da Santa Caza da Mizericordia, que esta servindo de freguesia da Ressurreição por estar arruinada [...]»
realizou-se o primeiro casamento. IAN-TT/Registos paroquiais/Paróquia da Ressurreição/Casamentos, Lv. 3, fl. 8 v. Monsenhor Elviro
dos Santos adianta a este propósito alguns pormenores interessantes: «O serviço da freguesia era feito na egreja da Misericordia; a pia
de baptismo, que existe na Misericordia, era talvez a pia de baptismo da egreja da freguesia. Como a egreja ficasse incapaz para o culto
destinaram n’a para cemiterio, até que a Camara Municipal em 1876 fundou um cemiterio no Alto do Lombo [...] para elle foram levadas
as ossadas, que existiam no Cemiterio da Egreja da Ressurreição, ou Egreja Nova; esta tinha ao centro um campanario e à porta existiam
duas lapides grandes [a que adiante nos referiremos]; consegui com auctorização da Camara Municipal, que fossem levadas para o
Museu do Carmo em Lisboa, onde se conservam.». AHMC/PES-CMES/Mç. 17.
25
Associando-se à de Nossa Senhora da Assunção, por ordem régia de 17 de Maio de 1840, o que originou o aparecimento de uma só paróquia
na vila com a denominação de Nossa Senhora da Assunção e Ressurreição de Cristo, como se depreende da leitura do livro de registo de
casamentos desta última paróquia, em que após um assento datado de 20 de Novembro de 1839 se regista: «Aqui finalizarão os assentos
dos recebimentos da freguesia da Ressurreição de Christo desta villa de Cascaes pela reunião da dita á de Nossa Senhora da Assumpção da
mesma Villa, effectuada por Ordem Regia em o dia dezasete do corrente mez de Maio do prezente anno de mil oitocentos e quarenta, ficando
ambas d’ora avante fazendo huma só debaixo da denominação de Nossa Senhora da Assumpção e Ressurreição de Christo, cujos assentos dos
recebimentos começão em o Livro um digo em o Livro [espaço em branco] da Freguezia da Assumpção a folhas setenta verso; e para constar
lavrei este assento, que assignei. O Prior Encomendado João Apolinário Sobrinho.». IAN-TT/Registos paroquiais/Paróquia da Ressurreição/
Casamentos, Lv. 3, fl. 135. Cf., ainda, Ibidem/Casamentos, Lv. 5, fl. 87 v. A este propósito Monsenhor Elviro dos Santos anota: «A ultima creança
que foi baptizada na egreja da Misericordia como parochiana da freguesia da Ressurreição foi minha irmã Delfina, a qual nasceu em 2 de
Agosto de 1839 e foi baptizada em cinco de setembro do mesmo ano. Livro 9 a folhas 83.». AHMC/PES-CMES/Mç. 61.
26
Cf. Frei António do Espírito Santo, Op. cit., fl. 56 v.
17
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
todos os [...] 110. porem outros assevérão que passarão de 150. [...]»27. Foi manifesta a carência de
pessoal habilitado para prestação de assistência, assim como de boticas, problema apenas mitigado
pelo empenho do Dr. Alexandre de Abreu Coutinho, do boticário do Convento da Piedade e do
Padre Casimiro Manço, que cooperou no tratamento dos doentes, recolhendo remédios na botica
e aplicando-os aos necessitados. Destaque-se, ainda, a actividade da Santa Casa da Misericórdia de
Cascais, pois «Não faltou logo aqui a Real Casa da Misericórdia, e seu meretíssimo Padre Provedor,
com tudo o necessario de medicamentos, e sustento para os pobres feridos [...]»28. Em suma: «[...]
a Santa Caza por huma parte e a Botica do Convento graciosamente por outra, não deyxárão de
empregar bem sua charidade para com os pobres feridos, e sua grande profusão no sustento de
muitos desemparados.»29.
Ainda assim, a situação dos sobreviventes era desoladora, pois «Á poucos ficarão posses para
poder levantar cazas, porque sendo os lucros desta terra a Pésca, ate nos barcos fez o terremoto o que
nas cazas, pois mais de 40. ou os comeu o mar, ou se abrirão na terra. Dois varárão por cima dos muros
deste Convento, e ficarão dentro da sua cerca arrombados. Outros por cima da Ponte atraveçárão a villa
e aparecerão em Santa Clara despedaçados. quaes vierão á parar na Praça Reduzidos á miudos pedaços,
e quais forão pello mar fora, sem já mais serem vistos.»30. Conclui-se, então, que a catástrofe atingiu
duramente a estrutura económica da vila, roubando aos pescadores o seu sustento. Na realidade, se
equacionarmos que o porto tinha lotação para cerca de sessenta embarcações, concluímos que quase
dois terços dos efectivos foram afectados. Mais dramático é ainda o cômputo obtido da comparação
deste valor com a informação avançada pelo prior da Ressurreição de Cristo, a que mais tarde nos
referiremos, que anotou serem cerca de trinta os barcos que frequentavam Cascais.
Mas analisemos de forma mais detalhada a história do terramoto na vila, cuja descrição é
de uma riqueza extraordinária, sobretudo no que concerne à área do convento, onde se encontrava
Frei António do Espírito Santo. Desta forma, «[…] começou (o mar) com a força do terremoto que o
tinha impelido primeiro para baixo, á intumescer[-]se pelo Convento para cima, e a fazer huma tal
efervescencia, e furibunda ebulição para o ceo, que sem formar as cristalinas ondas, que custuma,
se não só soberbas fervuras desuzadas; nenhumas por vencidas descahião áo centro, todas crespas,
e triunfantes escalavão o Empyreo. Não fazia o mar fluxo algum, nem Refluxo; fervia em medonhos,
e impulsivos cachóens, Refervia em tumerozos godilhoens, e bramia em circulares Redemoinhos,
espirrando tormentozas empôlas para o ar [...]»31.
Ao terramoto sucedeu, pois, o maremoto, avançando o oceano terra adentro: «Entrou logo
sem demóra pela villa o mar, derrubando sua fortissima Ponte, e absorvendo as cazas mais visinhas,
27
Idem, Op. cit., fl. 56 v.
28
Idem, Op. cit., fl. 56 v.
29
«Em mais de 15. dias, se deu de comer a mais de Cêm pessoas, fóra a Communidade; e depois ainda passavão de 40. á quem socorria
necessitados.». Idem, Op. cit., fl. 57. Havia, contudo, que saciar a fome dos desalojados, destacando Frei António do Espírito Santo o
apoio prestado aos pobres pelo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Cascais. O cuidado da Santa Casa é ainda extensível ao
fornecimento de mortalhas a algumas vítimas e à abertura de valas para enterramento.
30
Idem, Op. cit., fl. 54.
31
Idem, Op. cit., fl. 58.
18
com morte de muitos habitantes. Aqui destroçou barcos [...] derrubou os muros da cerca do convento
metendo dentro dois barcos e fazendo[-]a toda mar. Escapando milagrosamente hum Religioso que
hia encaminhadosse para fóra à buscar a communidade, que já então andava á monte pelos montes,
ocupada em confissoens, e em prégar penitencia áo afligidissimo Povo. Neste instante, em que nos
vimos cercados das agoas, vinha o Reverendo Padre Reytor da nossa Freguesia com o Santíssimo
debayxo do Palio, que á toda pressa pôde tirar do sacrario; e com o sagrado vazo, assim como estava,
começou á benzer os impolados mares, gritando todo o Povo á Deos, misericordia.»32.
Cascais no final do século XIX. Destaque-se a Ribeira das Vinhas (actual Alameda dos Combatentes da Grande Guerra) e,
ao fundo, as ruínas do palácio dos Marqueses de Cascais e a Igreja de Nossa Senhora da Assunção
[ahmc/fot-cam/p382]
32
Idem, Op. cit., fl. 58 v.
33
Idem, Op. cit., fl. 59.
34
Idem, Op. cit., fl. 60
35
Medida equivalente a 5 quilómetros.
19
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
«Tem o muro deste Convento, por cima do qual correo o mar antes que o lançasse em terra, 23.
palmos de altura. E muito mais em alto veyo o mar fervendo, quando meteu dentro os barcos. Tem
a Ponte mayor elevação, pois tem boas quatro braças. E por cima della entrou o mar em mayor
altura. Entrou pellas janelas de algumas cazas, que ficavão sobranceyras á Ponte; e destruio muita
preciosidade da India em humas sobre o már; afogando muita gente em outras, e levando quanto
dentro achou.»36. Foi, pois, de vulto a destruição de todo o género de bens, importando realçar a
interessante alusão à relação da vila com o comércio da Índia.
Não obstante, o episódio mais dramático narrado pelo religioso consiste na história de uma
família destroçada. Assim, «[...] andava um triste Pay para socorrer 6 filhas, que tinha, depois de ver
já a sua mulher morta, e tudo arruinado em casa. E tiradas já das Ruinas algumas, dizia-lhe huma
innocentinha, e a mais pequenina assim: S[enh]or Pay tire[-]me a mim primeyro, q[u]e sou a mais
pequenina. Não posso ter as lagrimas. Porem queria Deos este Anjinho para o Ceo e veyo outra Ruina
das paredes, e ella, e as que faltavão ficarão enterradas.»37.
De entre os factos mais relevantes registados importa referir que a fonte da vila, quase sempre
seca, brotou em Fevereiro com aspecto lácteo, tornando, depois, a secar. Já na Areia «[...] abrio-se a
terra em bocas, saltando muita arêa para o ár, sahindo lavaredas de fogo [...]»38. Todavia, não achando
materiais combustíveis, apagou-se. O mesmo sucedeu no Rosário e no claustro do Convento, enquanto
na Torre do Salgado, situada na Aldeia Nova, se abriu o solo em boqueirões, à semelhança do que
sucedeu no Mexilhoeiro, sobre o qual se apontou: «Parece que dahi se descobre o Inferno [...]. Bem póde
ser no Inferno, que perto lhe fica outra antiga cova chamada a boca do inferno nesta terra.»39. Noticiou-
-se, também, a existência de fogo no ar, apesar de se referir que deflagraram poucos incêndios.
As providências tomadas pelas autoridades da terra não foram consideradas adequadas,
escrevendo Frei António do Espírito Santo que «Não he o meu intento o culpar alguem; mas não
faltárão desordens, que não tem desculpa.»40. Ainda assim, realçou a actividade dos eclesiásticos,
nomeadamente do «[...] Reverendo Padre Reytor desta nossa Freguezia, e o seu Reverendo Padre Cura;
o Reverendo Padre António do Valle, o Reverendo Padre Provedor da Misericórdia, o Reverendo Padre
Casimiro Manço e os Religiosos todos deste Convento, com o seu Prelado. Não faltou o Reverendo
Vigário da vára em as funções publicas, dando todos exemplo, segundo o pedia o aperto.»41. Quanto aos
militares limitou-se a anotar: «O Militar, que podia fazer? Não he hum terremoto inimigo, em que sirvão
as armas.»42. Já quanto às autoridades civis do concelho a crítica foi evidente, visto que «Ultimamente
no que tóca aos Ministros da Republica, houve mui pouca providencia, ou hum total descuido.»43.
36
Idem, Op. cit., fl. 61 v.
37
Idem, Op. cit., fl. 73. Anota, ao lado: «Morrerão 4 filhas e hum filho […]».
38
Idem, Op. cit., fl. 62.
39
Idem, Op. cit., fl. 62 v.
40
Idem, Op. cit., fl. 63.
41
Idem, Op. cit., fl. 63.
42
Idem, Op. cit., fl. 65.
43
Idem, Op. cit., fl. 66.
20
Após a hecatombe o fervor religioso robusteceu-se visivelmente, pelo que «[...] todos [os
religiosos] se empregárão naquelle dia, e noyte nas confissoens do Povo. E o mesmo o Padre Reytor,
e o Padre Cura, depois que se fabricou huma barraquinha á pressa, em que se pôz o Santíssimo com
a decencia possivel.»44. Não houve, mesmo, possibilidade de se alimentarem de forma apropriada,
pelo que os frades se mantiveram em jejum até à noite, altura em que regressaram à cerca para
comer maçãs e melões. Voltaram depois para junto da população, registando-se que «Em todos foy
a cama igual, que erão os penedos; todos a mesma cubertura, que era o ár frio; todos a mesma Meza,
porque o Povo a não teve, nem comeu nada [...]»45.
Actual Largo da Estação, em Cascais. O muro circundava o terreno onde outrora se erguera a Igreja
da Ressurreição
[ahmc/fot-cam/701]
No Domingo seguinte, num altar portátil montado «[...] no meyo do campo [...]»46, o Reverendo
Padre Reitor deu a Sagrada Comunhão a uma multidão composta por indivíduos da vila e também do
termo, de onde haviam fugido. Iniciou-se, então, a construção de barracas, de entre as quais importa
destacar a dos religiosos, junto à do Santíssimo, que já mencionámos. Todavia, «[...] foy tanto o Povo, que
se lhe meteu dentro [...]»47 que cedo estes se sentiram «[...] desacomodados [...]»48. Na verdade, «Todos
querião ter áoz Padres em sua companhia, e o temor os não deyxava largar [...]»49.
44
Idem, Op. cit., fl. 63 v.
45
Idem, Op. cit., fl. 63 v.
46
Idem, Op. cit., fl. 63 v.
47
Idem, Op. cit., fl. 63 v.
48
Idem, Op. cit., fl. 63 v.
49
Idem, Op. cit., fl. 64.
21
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
A liturgia viu-se, pois, comprometida, registando-se que «Na 2.ª feira ficárão as Almas do
Purgatorio sem as suas tres Missas; porque até ao Purgatório chegou o terremoto.»50. Deste modo,
«Por todos estes dias se ocuparão os Religiosos em enterrar os mortos; com elles hia o Padre Cura,
e o Padre António do Valle, para dar[-]lhe sepultura. Este trazendo à muitos em seus hombros para
o lugar destinado [...]»51. Da mesma forma, na sequência do colapso da igreja, «Desta freguesia
[da Assunção] foy muitas vezes o Senhor á outra, acompanhado de todos os Religiosos e do Povo,
que podia. Porque como a outra Igreja estava posta por terra, não havia quem se atrevesse á poder
tira-lo do Sacrario.»52. No Convento da Piedade como, à semelhança da fachada, a cozinha e o
refeitório ameaçavam ruína, decidiu-se montar uma barraca no meio da cerca, erigindo-se altares
numa casa de destilação da botica, onde se colocou o Santíssimo.53
Era, pois, evidente a falta de locais de culto, escrevendo-se: «[...] não tinhamos Igreja, nem
capás para nada. Não podia haver coro; Rezavasse em particular; porque em qualquer Templo era
certo o perigo. Busca[-]los de emprestimo, era hum impossivel. [...]»54. Neste contexto, a situação
da paróquia da Ressurreição, que já referimos, parecia a menos favorável. Na verdade, «A outra
Freguesia, e a nossa vizinha, nem capazes de entrar, quanto mais dizer Missas.»55.
A vila parecia encontrar-se bem fornecida de mantimentos, apesar de inicialmente a
caridade das senhoras da terra, que cozinhavam panelas de galinha para repartir, ser bem-vinda56.
Ainda assim, os roubos de alimentos multiplicaram-se, frisando Frei António do Espírito Santo
que «D’agoa não tratárão muito, porque a sua sede era de vinhos.»57. Também se verificou uma
inflação dos preços, anotando-se, então: «[...] que importou o virem ordens régias, para que se não
augmentassem os preços das coizas; se ellas se não observárão, e se tudo sobio de preço?»58.
O narrador registou igualmente a existência de roubos, assinalando que «[…] forão notaveis os
furtos, e desaforos, que se commeterão. Roubarão-se loges, desaparecerão adégas, faltárão farinhas,
e trigos, furtarãosse Pórcos, e galinhas, despregarãosse gavetas para tirar dinheyros, despejarãosse
sacos de legumes; e quantos trastes havia, levou máo caminho. Até as telhas, e pedras, e madeyras
do destroço, se alienavão fossem de quem fossem, e se hião vender por dinheyro em carros, para
formar barracas.»59. Não obstante, de entre os furtos mais lamentáveis destacou os assaltos ao
convento, visto que «Não se perdoou áo Sagrado, commetendo-se sacrilegios.»60 ao subtrair-se as
caixas de esmola por quatro vezes, apesar das medidas de segurança entretanto implementadas.
50
Idem, Op. cit., fl. 64.
51
Idem, Op. cit., fl. 64.
52
Idem, Op. cit., fl. 64.
53
Ainda assim refere-se que «Havia dois altares e outro em Santo Aleixo; se bem que esta Capellinha quasi ficou em terra.». Idem,
Op. cit., fl. 64 v.
54
Idem, Op. cit., fl. 64 v.
55
Idem, Op. cit., fl. 64 v.
56
Cf. Idem, Op. cit., fl. 64.
57
Idem, Op. cit., fl. 69 v.
58
Idem, Op. cit., fl. 69 v.
59
Idem, Op. cit., fl. 66.
60
Idem, Op. cit., fl. 66.
22
Igreja de Nossa Senhora da Assunção, em Cascais, no primeiro quartel do século XX
[ahmc/ico-bpi/24]
A visibilidade dos roubos era, mesmo, assustadora. Na realidade, «Hia o roubo em augmento,
sem ninguem o atalhar [...]. Mulher que mál tinha huma saya, já se achava com seis. Pessoa, que
não tinha hum colchão, tinha cama de quatro. E quem apenas comia huma sardinha, não passava
sem galinhas, e não ficava sem doces.»61. Sintetizando: «[...] se no terremoto saltavão os moveis,
e adornos das cazas para o ár, e pellas janellas fóra; depois do Terremoto saltavão para a as mãos
dos que os furtavão, que merecião cortadas.»62.
Ao terramoto seguiram-se réplicas, também provenientes do sul, com novas derrocadas
de edifícios63. A violência da experiência vivida e o clima de permanente insegurança estiveram
indubitavelmente na origem da produção de trinta sonetos e de uma redondilha sobre o
terramoto em Cascais por Frei António do Espírito Santo64, de entre os quais importa recordar
que «Quem em Cascaes buscar quem foy Cascaes, na mesma terra a terra não diviza [...]»65, pois
«[...] foy tão grande aquelle movimento, que sendo tu Cascáes, ficas cascálho.»66. Assim, «Na terra
que ficou? Saudade brava. que fica lá que vêr? Nenhuma couza. só fica que chorar a crueldade.»67.
Em síntese:
61
Idem, Op. cit., fl. 66.
62
Idem, Op. cit., fl. 66 v.
63
«Despois do do 1.º de Novembro de 1755 tem havido 75 tremores de terra grandes, não falando em alguns pequenos que não tem
numero que lembre por muntos, porem nelles ahinda que houve muntas Ruinas de muntas Cazas abaladas, não houve desgraças de
mortes como no primejro.». IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, resposta n.º 27.
64
«Eu que em Proza já faley, // quanto dicta hum Prégador; // veyo o Poetico ardôr, // por isso eu me não caley.». Frei António do Espírito
Santo, Op. cit., fl. 89.
65
Idem, Op. cit., fl. 73 v.
66
Idem, Op. cit., fl. 73 v.
67
Idem, Op. cit., fl. 81 v.
23
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Urge, todavia, recorrer a outros documentos para o estudo dos efeitos do terramoto no
concelho de Cascais. Neste sentido, servir-nos-emos das Memórias paroquiais, de 1758, a fim de
apreciar a realidade das freguesias de Nossa Senhora dos Remédios (Carcavelos), São Domingos de
Rana e São Vicente de Alcabideche69 e registar novas informações acerca das suas congéneres de Nossa
Senhora da Assunção e da Ressurreição de Cristo, sobre as quais nos temos vindo a debruçar. Esta
documentação, ainda que não se revista da riqueza informativa do relato de Frei António do Espírito
Santo sobre o terramoto, disponibiliza dados fundamentais para a compreensão da(s) vivência(s) do
concelho, a que associaremos elementos extraídos de documentos conservados no Arquivo Histórico
Municipal de Cascais e no Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Cascais.
As Memórias paroquiais surgem pela insistência do Padre Luís Cardoso, académico de número
da Academia Real da História, que querendo suprir as faltas e emendar os erros da Corografia
Portuguesa, do Padre António Carvalho da Costa, conseguiu de D. João V que fossem remetidos
aos bispos e cabidos três interrogatórios no intuito de os enviarem a todas as paróquias. Porém,
apenas conseguiu publicar os dois primeiros volumes da obra70, perdendo-se o resto do trabalho
aquando do terramoto. Não desistindo do seu intento, já no reinado de D. José fez distribuir novos
interrogatórios, que completou com outras perguntas, de entre as quais importa destacar «Se
padeceo alguma Ruina no Terremoto de 1755, e em qu[ê]: e se está ja reparada?»71.
68
Idem, Op. cit., fl. 86 v.
69
Inserindo igualmente notícias da paróquia de Nossa Senhora da Purificação de Oeiras, pelas razões referidas.
70
Cf. Padre Luís Cardoso, Diccionario geografico, ou noticia historica de todas as cidades, villas, lugares, e aldeas, rios, ribeiras, e serras
dos reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontrão, assim antigas, como modernas, 2 vols., Lisboa, Regia
Officina Sylviana e da Academia Real, 1747-1751. O primeiro volume abarca as localidades de A a AZU, enquanto o segundo se desenrola
de BAB a CUV, tendo sido as perguntas distribuídas aos párocos no ano de 1732. No que concerne ao concelho de Cascais deparamo-
nos com várias entradas: Abobeda (vol. I, pp. 13-14), cuja Ermida de Nossa Senhora da Conceição atraía muitos romeiros, sobretudo em
Agosto; Abuxarda (vol. I, p. 42), com 7 fogos; Alapraya (vol. I, p. 114), com catorze vizinhos; Alcabideche (vol. I, pp. 124-126), localidade
com quarenta vizinhos e sede de freguesia composta por vinte e oito lugares; Alcoutam (vol. I, pp. 189-190), com vinte e sete vizinhos
e fonte aconselhada para «[...] o achaque da pedra [...]»; Aldea de Juzo (vol. I, pp. 215-216); Almoinhas Velhas (vol. I, p. 349), com doze
vizinhos; Amoreira (vol. I, p. 456), com oito vizinhos; Area (vol. I, p. 539), com doze vizinhos e a Ermida de São Brás; Arneiro (vol. I, p. 572),
com Ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição; Assamaça (vol. I, p. 634), com seis vizinhos; Bicese (vol. II, p. 181), com 19 vizinhos
e «[...] huma Ermida de S. Christovão, em huma quinta dos Senhores da Casa de Cascaes.»; Birra (vol. II, p. 185), com oito moradores e a
Capela de Santo Isidoro; Cabreiro (vol. II, p. 338), com sete fogos; Caparide (vol. II, p. 428); Carcavellos (vol. II, p. 440), com setenta fogos;
Cascaes (vol. II, pp. 500-502), vila que possuía duzentos e quarenta e cinco fogos; e Cheirinhos (vol. II, p. 636). Os dados compilados acerca
de Alcabideche, Carcavelos e Cascais serão apresentados ao longo do texto.
71
Relativamente às alterações urge destacar a introdução dos quesitos número 20 (se a freguesia tinha serviço de correio), 21 (quanto distava
da sede do bispado e da capital do Reino), 22 (se tinha privilégios, antiguidades ou outras coisas de memória) e 26, a que já nos referimos.
As memórias não foram publicadas, sendo reunidas em quarenta e três volumes, aos quais se acrescentou um outro de índice com prólogo,
datado de 1832 e produzido já depois do falecimento do Padre Luís Cardoso, em que se recorda o seu esforço, anotando-se: «[…] Com este fim
pedio novamente, instou, e conseguio da Secretaria do grande e Respeitavel Sebastião Joze de Carvalho ordem para que todos os Parochos
do Reino enviassem novas Descripsoes das Suas Freguezias com aquellas escruplosas e circunstancias miudezas, que mais abaixo constárão
da Copia dos Interrogatorios que, impressos, lhe forão enviados, com Preceito de Responderem Preceito que a maior parte dos Parochos
24
Os impressos com os quesitos devem ter seguido em Fevereiro de 1758, pensando-se que a
ordem régia remonte a Janeiro ou ao ano anterior. No caso do concelho de Cascais apenas dois dos
interrogados registaram a data da elaboração das suas respostas. Assim, a memória paroquial da
Assunção terá sido concluída em 6 de Abril de 1758 e a de São Domingos de Rana dois dias depois.
Já a de Oeiras, que igualmente nos interessa, remonta ao dia 10 desse mesmo mês.
Iniciemos, então, a nossa ronda pelas freguesias, recorrendo às respostas aos
interrogatórios produzidas pelos párocos, supostamente em 175872, no âmbito do Dicionário
geográfico. Ao questionário principal, de vinte e sete questões73, há que associar outros dois
versando sobre serras e rios, com treze74 e vinte perguntas75 respectivamente, que no caso
cumprirão no mesmo anno de 1758. em que lhes foi intimado [...]». “Prólogo”, Índice geográphico das cidades, villas & parochias de Portugal
Conteudas nos 43 volumes manuscriptos do Dicionário Geographico: Existente na Bibliotheca da Senhora das Necessidades, Lisboa, 1832. Cf. IAN-
-TT/Memórias paroquiais/Índice. Cf., ainda, a este propósito, Fernando Portugal e Alfredo de Matos, Lisboa em 1758: Memórias paroquiais
de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974, pp. 5-19 e Eduardo Costa, “Os inquéritos paroquiais do século XVIII e algumas das
freguesias do distrito de Aveiro”, Arquivo do distrito de Aveiro, n.º 81, Janeiro-Março de 1955, pp. 130-148.
72
Como se referiu, as respostas relativas às freguesias da Ressurreição, São Vicente de Alcabideche e Nossa Senhora dos Remédios
(Carcavelos) não se encontram datadas.
73
Que se transcrevem antes dos fac-símiles.
74
«§2.º O que se procura saber d’essa Serra he, o seguinte: 1.º Como se chama? 2.º Quantas leguas tem de cuprimento; e quantos de Largura
aonde principia, e acaba? 3.º Os nomes dos principaes braços d’ella? 4.º Que rios nascem d’entro do seo sitio, e algumas propriedades
mais notaveis d’elles: as partes para onde correm; e onde fenecem? 5.º Que Villas, e lugares estão asim na Serra, como ao longo d’ella? 6.º
Se ha no seo destrito algumas fontes de propriedade raras? 7.º Se ha na Serra minas de metaes, ou canteiras de pedras ou de materiaes de
estimação? 8.º De que Plantas, ou hervas medicinaes he a Serra povoada e se se cultiva em algumas partes; e de que genero de fructos he
mais abundante? 9.º Se ha na Serra alguns mosteiros, Igrejas de Romajem, ou Imajens milagrosas? 10.º A qualidade do seo temperamento?
11.º Se ha n’ella creações de gados, ou de outros animaes, ou caça. 12.º Se tem alguma Lagoa, ou fójos notaveis? 13.º E tudo o mais, que
houver digno de memoria.». Cf. IAN-TT/Memórias paroquiais/Índice.
75
«§ 3.º O que se procura saber do Rio d’essa terra he o seguinte: 1.º Como se chama assim o Rio, como o sitio onde nasce? 2.º Se nasce
logo caudaloso, e se corre todo o anno? 3.º Que outros rios entrão nelle, e em que sitio? 4.º Se he navegavel, e de que embarcaçoes he
capás? 5.º Se he de curso arrebatado, ou quieto em toda a sua distancia, ou em alguma parte d’ella. 6.º Se corre de Norte a Sul; se de
25
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Poente a Nascente: se de Sul ao Norte; ou de Nascente a Poente. 7.º Se cria peixes; e de que espece são os que trás em maior abundancia?
8.º Se ha nelle pescarias; e em que tempo do anno? 9.º Se as pescarias são livres, ou de algum Senhor particular em todo o rio, ou em
alguma parte d’elle? 10.º Se se cultivarão as suas margens; e se tem muito arvoredo de fructo, ou silvestre? 11.º Se tem alguma virtude
particular as suas águas? 12.º Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter differente em algumas partes; e como se chamão
estas; ou se ha memoria, de que, em outro tempo, tivesse outro nome? 13.º Se morre no mar, ou em outro rio; e como se chama este, e
o sitio em que entra nelle? 14.º Se tem alguma cachoeira, repreza, levada, ou açúdes, que lhe embarassem o ser navegavel? 15.º Se tem
pontes de cantaria, ou de páo; quantas, e em que sitio. 16.º Se tem moinhos, lagares de azeite, pizoes, noras, ou outro algum engenho?
17.º Se em algum tempo, ou no presente se tirou, ou tira ouro das suas areás? 18.º Se os povos usão livremente das suas aguas, para a
cultura dos campos, ou com alguma pensão? 19.º Quantas leguas tem o Rio; e as povoações por onde passa desde o seo nascimento até
onde acaba? 20.º E qualquer outra causa notavel, que não vá neste Interrogatorio.». Ibidem.
76
O Reitor da paróquia da Assunção escreve que «[…] pelo que toca a Cerra, e ao Rjo não digo nada porque nesta freguezia de Nossa
Senhora da Assumpção Matris desta Villa de Cascaes, não há huma, nem outra Couza.». IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de
Nossa Senhora da Assunção, resposta n.º 27. Já o Cura da Ressurreição aponta que «No destrito desta vila, e seu termo, não há serra de
que se possa dar noticia. Nem ha Ryo de que se possa dar noticia conforme ao que se procura saber.». Ibidem/Paróquia de Ressurreição
de Cristo, resposta n.º 27.
77
«[…] e descobre[-]se delle quatro lugares [1] a Rebelba 2 São Domingos de Ranna 3 Sasueyros 4 Oeyras: quazi todos distantes hum tiro
de pessa.». Ibidem/Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, resposta n.º 4.
78
«Tem a Parroquia dentro no mesmo lugar, e não tem mais lugares a dita Freguezia.». Ibidem, resposta n.º 6. Refira-se que na época
Carcavelos ainda fazia parte do concelho de Cascais, visto que se escreve que «O lugar de Carcavellos he pretencente ao Patriarcado, e
termo da Villa de Cascais, e Freguezia de Nossa Senhora dos Remedios.». Ibidem, resposta n.º 1.
79
Ibidem, resposta n.º 3.
80
Ibidem, resposta n.º 7.
81
Ibidem, resposta n.º 26. Em 1751 existia apenas a Irmandade do Santíssimo. Cf. Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. II, p. 440.
82
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, resposta n.º 15. Em 1751 o Padre Luís Cardoso escreve: «He
o Lugar cercado de quintas, que constão de pomares de laranja, limão, e vinhas, que he o fruto de mayor utilidade: os vinhos deste sitio
são muy generosos, principalmente os brancos, por cuja causa os levão daqui os Estrangeiros para o Norte.». Padre Luís Cardoso, Op.
cit., vol. II, p. 440.
83
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, resposta n.º 13. «Hé o ditto Lugar Sercado todo de quintas
que por todas são doze huma do[s] Reverendos Padres da Companhia do Maraham outra dos da Provincia da Goa outra de D[ona]
Joanna Tareza outra de Rodriguo de Sandre outra do Sacratario de Guerra Francisco Xavier da [sic] Mello outra de Antonio Guerce
outra de Luis Caetano outra de Francisco Xemendes outra do Sacratario ultramarino Joachim Miguel Lopes da Lavra outra de Francisco
Manoel Marins outra de Dona Caterina do Pillar outra do Excelentíssimo Marques de Imgeija todas a mayor Colheita são de vinhos
ex[c]elentes.». Ibidem, resposta n.º 25. O Padre Luís Cardoso refere-se, ainda, ao Forte do Junqueiro e à riqueza da paróquia em termos
de águas e de peixe, afirmando ser «[…] sítio mui sadio, por ser lavada dos Nortes, e alegre pela larga vista que tem, assim do mar, como
da terra». Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. II, p. 440.
84
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, resposta n.º 19.
85
A memória paroquial de Oeiras também alude à «[…] Villa de Bucicos [que] tem Juis Ordinario, e sojeito ao Corregedor de Torres
26
Da leitura do livro de registo de óbitos da freguesia constata-se que no dia 1 de Novembro
morreram sete indivíduos em Carcavelos, «[...] por cauza de hum grande terremoto, em que ficou
debaxo da Ruina da Igreja [...]»86 o Capitão Bernardino Gomes de Gouveia87, morador em Cascais;
Nicolau Soares; Clara Teresa; Natália Maria; Ana, filha de João Francisco; João Rodrigues e Silvestre
Correia.88
Analisemos, em seguida, por meio das respostas ao inquérito elaboradas em 8 de Abril de 1878
pelo Cura Joaquim Coelho da Silva, a realidade da freguesia de São Domingos de Rana, composta
por vinte e quatro lugares: São Domingos de Rana, Rebelva, Tires, Rana, Parede, Folia, Cai-Água,
Murtal, Penedo, Caparide, Chaínhos, Zambujal, Trajouce, Abóboda, Sassoeiros, Arneiro, Outeiro de
Polima, Polima, Conceição, Montijo, Ribeira de Quenena, Talaíde, Quenena e Torre da Aguilha, que
apresentamos pela ordem original e cujo número de fogos representamos graficamente em seguida.
70
60
52
50
43
40 36
34
30 29
30 27
25 24 24
22 21
20
13 14
12
10 8 8
4 5 2 5 4
2
0
Murtal
Parede
S. Domingos de Rana
Rebelva
Tires
Cai-Água
Penedo
Caparide
Chaínhos
Zambujal
Trajouce
Abóboda
Sassoeiros
Arneiro
Outeiro de Polima
Conceição
Montijo
Ribeira de Quenena
Talaíde
Quenena
Torre da Aguilha
Rana
Polima
Folia
Constata-se, desde logo, a relevância de lugares como Tires, Parede, Sassoeiros, Murtal
e Rebelva, sobretudo se compararmos o seu número de fogos com o da sede da paróquia. Esta
dispunha, assim, de 520 fogos e 1 868 habitantes, sendo «[...] os frutos desta terra, e desta freguezia
[...] vinhos, e pam de pagrana [...]»89. Ainda assim, reconhece-se que «[…] os mayores Lucros deste
povo procedem da abundância de pedra de cantaria [...]»90.
A paróquia possuía quatro irmandades91, oito ermidas92 e «[...] hum hospitál cujo administra a
Vedras.» Ibidem/Paróquia de Nossa Senhora da Purificação de Oeiras, resposta n.º 16. Recorde-se que em 11 de Agosto de 1759 Carcavelos
foi elevada à categoria de vila, anexando o Reguengo de a par de Oeiras (a vila de Bucicos).
86
IAN-TT/Registos paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios/Óbitos, Lv. 1, fl. 4 v.
87
Cujo assento de óbito consta igualmente do livro de registo da paróquia da Ressurreição de Cristo, pelo que subtrairemos a repetição
aquando da elaboração do cômputo geral dos falecimentos.
88
Ibidem, fls. 4 v.-5.
89
Ibidem, Paróquia de São Domingos de Rana. Note-se que as respostas não se encontram numeradas.
90
Ibidem.
91
As irmandades do Santíssimo Sacramento, de São Domingos, de Nossa Senhora do Rosário e das Almas.
92
«[…] duas no lugar do Xainhos, huma de Nossa Senhora da Penha de França; Outra de São Bento: Huma no lugar de Tires, que hé de
Nossa Senhora da Graça. No lugar da Conceyção da Abobeda Outra do mesmo nome da Conceyção; No Lugar de Quenena Outra que he
27
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Igreja de
São Domingos
de Rana,
no início
do século XX
[ahmc/pes-calm/
p01]
Irmandade de São Domingos sómente para os peregrinos [...]»93, para além da Igreja de São Domingos
de Rana, bastante afectada pelo tremor de terra, pois «[…] ao prezente se ácha só con dous altáres,
por ficarem todos os mais destruhidos com o Terramoto [...]»94. Refira-se, por fim, que, analisando os
registos de óbitos na freguesia, constatamos o falecimento de quatro habitantes no fatídico dia 1 de
Novembro de 1755: Joana Francisca, viúva de João Antunes que «[...] se achou morta entre as Ruínas
da Igreja de São Domingos de Ranna [...]»95; Silvestre Francisco, morador em Caparide; e ainda Maria
Josefa de Araújo e sua irmã, Ana Maria de Araújo, falecidas «[...] nas Roinas das Cazas da sua quinta
do Lugar de Sassueiros [...]»96.
Examinemos, agora, as respostas do Cura Fortunato Lopes de Oliveira acerca da freguesia de São
Vicente de Alcabideche, cuja sede se encontrava «[...] em hum monte [...]»97. Compunha-se de trinta
lugares98: Alcabideche, Amoreira, Abuxarda, Alvide, Cabreiro, Marmeleiro, Murchas [sic], Alcorvim,
Malveira de Ba[i]xo, Malveira de Riba, Figueira, Biscaia, Janes, Casal [do Outeiro de Janes], Porto Covo,
Pisão, Assamassa, Ribeira de Penha Longa, Brinzideira, Atrozela, Alcoitão, Douroana [sic], Bicesse, Pau
Gordo, Manique, Livramento, Ribeira de Caparide, Alapraia, Forte Velho [de Santo António da Barra] e
Galiza99, cujo número de fogos e população se apresentam pela ordem original no quadro seguinte.
São Lourenço; Outra na quinta da Torre d[‘]aguilha Santa Anna: Outra no lugar do Arneyro, que hé da Nossa Senhora da Conceyssão: Na
quinta da Casa da Serra, junto a Sassueyros Outra, que hé Santo António; nenhuma dellas tem concurso de Romágem.». Ibidem.
93
Ibidem.
94
Ibidem.
95
IAN-TT/Registos paroquiais/Paróquia de São Domingos de Rana/Óbitos, Lv. 3, fl. 105.
96
Ibidem, fl. 105.
97
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de São Vicente de Alcabideche, resposta n.º 4.
98
O Padre Luís Cardoso refere-se em 1747 a trinta lugares: «Amoreira, Abuxarda, Marmeleiro, Alcorvim, Malveira de cima, e Malveira
de baixo, Almoinhas Velhas, Ribeira de Porto Covo, Ribeira dos Perrinhos, Ribeira da Arrozella, Ribeira de Penha Longa, Douruana,
Páo-Gordo, Ribeira de Caparide, Alapraya, Alcoutão, Bicesse, Manique, Lobeira, Galliza, Lugar dos Giraldos, Alvide, Cabreiro, Murchas,
Biscaia, Janas, Zambugeiro, e Assamassa.». Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. I, p. 124.
99
Relativamente a esta região e à do Estoril urge referirmo-nos ao mapa datado de 1778 e intitulado Mapa dos terrenos pertencentes aos
logares de Lapraia, Galiza e Estoril, na posse do Sr. António Capucho, que Guilherme Cardoso referenciou em “Mapa setecentista do
Estoril, Galiza, São João do Estoril e Alapraia”, Arquivo de Cascais: Boletim cultural do município, Cascais, Câmara Municipal de Cascais,
n.º 12, 1996, pp. 109-116.
28
População
Local Fogos Observações
Homens Mulheres Total
Alcabideche 63 93 92 185
Amoreira 19 35 36 71
Abuxarda 14 27 17 44
Alvide 19 33 22 55
Cabreiro 11 20 18 38
Ribeiro com quatro
Marmeleiro - 8 7 15
azenhas e um lagar
Murchas [sic] 19 36 30 66
Regato com quatro
Alcorvim - 8 11 19
azenhas
Malveira de Ba[i]xo 10 23 11 34
Malveira de Riba 27 47 38 85
Figueira 5 3 8 Dois casais
Biscaia 9 12 3 15
Janes 11 28 18 46
Casal [do Outeiro de Casal. Referência a
- 3 2 5
Janes] dois moradores
Ribeiro com duas
Porto Covo 2 6 6 12
azenhas
Ribeiro com dois
Pisão - 12 6 18 pisões. Referência a
sete moradores
Assamassa 5 8 4 12 Casal
Ribeira de Penha Longa 16 10 14 24
Brinzindeira 3 6 6 12
Atrozela 5 20 12 32
Alcoitão 42 60 61 121
Douroana [sic] 17 35 28 63
Bicesse 30 50 38 88
Pau Gordo 6 11 11 22
Manique 81 152 113 265
Livramento 10 22 18 40
Ribeira de Caparide - - - - Quinta
Alapraia 10 16 11 27
Santo António da
Forte Velho 11 19 16 35
Barra
Galiza 34 [?] 55 47 102
TOTAL 474 860 699 1 559
29
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
100
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de São Vicente de Alcabideche, resposta n.º 15.
101
Em 1747 a situação parecia diferente, pois anota-se que «O território he áspero, e fragozo em muitas partes pela grande abundancia
de penedia; mas comtudo as partes que se cultivão, dão muito trigo, e cevada, o que se ve manifestamente pelo celeiro, que há neste
Lugar de Alcabedeche, em que se recolhem todos os annos os dízimos do que se cultiva e toda esta Freguesia e em seis Lugares mais
do Termo de Cascaes, que em annos mais abundantes chegão a recolher de dízimos noventa até cem moyos de cevada, e quarenta, ou
cincoenta moyos de trigo, e pouco do mais genero de pão […]». Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. I, p. 125.
102
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de São Vicente de Alcabideche, resposta n.º 6.
103
Ibidem, resposta n.º 6.
104
Ibidem, resposta n.º 6.
105
Ibidem, resposta n.º 6.
106
Ibidem, resposta n.º 6.
107
Ibidem, resposta n.º 6.
108
Ibidem, resposta n.º 6.
30
Também em Bicesse se estabelecera uma irmandade: a de São Cristóvão, instalada na quinta
do Marquês de Cascais, em cuja ermida se organizava uma procissão. No lugar de Manique erigira-
se «[...] huma Irmida na quinta de Rodrigo de Sande a que chamão Nossa Senhora do Pilar [...]»109,
com romaria a 29 de Setembro, e «[...] tres dias de feyra, a Santa Agathamera[,] he franca.»110. Por sua
vez, na Ribeira de Caparide encontrava-se a quinta de João da Costa de Brito e a Ermida de Nossa
Senhora do Livramento, «[...] do Morgado da Asamarra chamado Nicoláo Luis.»111. Finalmente, no
que concerne ao Forte de Santo António da Barra, que então se achava na área da freguesia, adianta-
se que «[...] ficou esta fortaleza bem arruinada pello terrimoto e asim se acha.»112.
Estrada
das Corredoras,
em Caparide,
cerca de 1900
[ahmc/
fot-cam/776]
109
Ibidem, resposta n.º 6.
110
Ibidem, resposta n.º 6.
111
Ibidem, resposta n.º 6.
112
Ibidem, resposta n.º 6. O Padre Cardoso alude igualmente, em 1747, a «[…] hum Forte chamado de S. João […]». Padre Luís Cardoso,
Op. cit., vol. I, p. 126.
113
Em 1747 regista-se a existência de «[…] quatro Irmandades, a do Senhor, a da Senhora do Rosário, de Nossa Senhora da Assumpção,
e das Almas Santas; e sete Confrarias, a de S. Vicente, a de S. Sebastião, a do Senhor JESUS, a de S. João, a de Nossa Senhora da Rosa, a
de Santa Catharina, e a do Divino espírito Santo […]». Idem, Op. cit., vol. I, p. 124.
114
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de São Vicente de Alcabideche, resposta n.º 11.
115
Ibidem, resposta n.º 14. Cf., a este propósito, Guilherme Cardoso, “A Igreja de S. Vicente de Alcabideche”, Al-Qabdaq: Boletim cultural
da Junta de Freguesia de Alcabideche, [s.l.], Junta de Freguesia de Alcabideche, 1990, pp. 57-65.
31
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
cervindo huma Irmada [sic] de Nossa Senhora da Conceyção de freguezia, e esta pretence a Luís de
Mendonssa dessa cidade.»116. Da análise dos livros de registo de óbitos podemos ainda apurar dois
falecimentos no dia 1 de Novembro: o de Leonarda Maria, de Alcabideche e o de Maria Francisca,
da Abuxarda. Já em 13 de Novembro se aponta o passamento, na Quinta de Valverde, de D. Maria
José de Castro Noronha Ataíde e Sousa117 - mãe da última donatária de Cascais, que virá a morrer
em Setembro de 1762 - descrito em 1756 pelo Padre António Pereira da seguinte forma: «D. Maria
da Graça de Castro, Marqueza do Louriçal, tendo escapado do primeiro perigo, e estando de joelhos
dando a Deos as graças por lhe livrar da morte a sua filha herdeira de poucos annos, cahindo de
repente as duas paredes da casa ficou mortalmente ferida e maltratada, de sorte que dentro em
poucos dias espirou da Villa de Cascaes, na flor da idade.»118.
A este propósito importa recorrer às palavras do Reitor da paróquia da Assunção registadas
nas memórias paroquiais, ao referir que «[...] por morte do ultimo Marqués [de Cascais] Dom Luis
Jose Thomas de Castro vagou a Casa para a Coroa, da qual tomou pose o Senhor Rej Dom João o 5.º
que por sua grandeza foi servido torna[-]la a dar a Senhora Donna Maria Jose da Graça, Cazada com
o Excelentíssimo Senhor Marqués de Louriçal dispensando na lej mental, e Como desta falecida
no Terramoto, do primejro de Novembro de 1755, não ficase senão huma menina, lhe tornou [...] a
dispensar na dita lej. [...] Com que esta menina, hé quem ao presente goza do Senhorio da terra.»119.
Passemos, em seguida, à análise mais detalhada da realidade da freguesia de Nossa Senhora
da Assunção «[...] que hé a Matriz intitullada a freguezia Velha [...]»120, por oposição «[...] a outra
[que] se chama […] Resurreição de Christo, intitullada a Igreja nova.»121. Em 1758 possuía 516 fogos
e 1 709 habitantes «[...] entre pessoas auzentes, Majores de Confição, e A Sagrada Comunhão, e os
Menores de Confição Somente [...]»122. Não obstante, para além da vila, a paróquia compunha-se de
outros lugares: C[h]arneca, com onze fogos; Areia, com vinte; e Torre, com dezoito.
Referindo-se à igreja matriz que «[...] hé hum grande templo posto em toda a Sua ultima
Perfeição [...]»123 e à «[...] Irmandade do Santissimo Sacramento, que a Sua Custa fes afundamentis
116
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de São Vicente de Alcabideche, resposta n.º 26. Guilherme Cardoso refere que «Na verga da
porta da entrada da Igreja de S. Vicente de Alcabideche vê-se a data de 1759, que é normalmente aceite como sendo a da restauração
do templo, mas, pelo que se pode concluir pela leitura do livro das visitações, deve ser a data do início das obras de edificação [...]».
Guilherme Cardoso, Op. cit., p. 52. Cf., ainda, pp. 45-57.
117
IAN-TT/Registos Paroquiais/Paróquia de São Vicente de Alcabideche/Óbitos, Lv. 2, fl. 105-105 v.
118
Commentario latino e portuguez sobre o terremoto e incendio de Lisboa: De que foi testemunha ocular seu autor António Pereira, padre da
Congregação do Oratório, que tambem illustrou com notas, Lisboa, Officina de Miguel Rodrigues, 1756, pp. 11-12. Foi incluído no tomo VII da
Collecçam universal de todas as obras, que tem sahido ao publico sobre os effeitos que cauzou o terremoto nos reinos de Portugal, e Castella, no
primeiro de novembro de 1755 e explicaçoens physico-astrologico-metheorologias, e physico-moral tanto no idioma português como espanhol,
e mais cartas, dissertaçoens, e tudo que se tem escripto e divulgado nesta cidade de Lisboa, [s.l.], Oficina da Curiosidade, 1758.
119
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, resposta n.º 1. Também o Cura da Ressurreição de Cristo
se refere a esta questão, escrevendo que «[…] pasou a Casa a sua Irman Donna Maria Josepha da Graça Cazada com o Excelentíssimo
Marquez do Louriçal; o qual ao prezente está de posse da dita Caza como Tutor de sua Filha Donna Anna Josepha Maria da Graça.».
Ibidem/Paróquia da Ressurreição de Cristo, resposta n.º 2.
120
Ibidem/Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, resposta n.º 1.
121
Ibidem, resposta n.º 1
122
Ibidem, resposta n.º 3. Nota interessante: chama aos cascalenses, «[…] Cascarejos […]». Ibidem, resposta n.º 27.
123
Ibidem, resposta n.º 7.
32
este Magnifico Templo […]»124, o Reitor Manuel Marçal da Silveira realçou a sua riqueza,
escrevendo que «[…] tem inveja as Irmandades mais ricas de Lisboa, e nesta Irmandade do Senhor
não entra, Se não gente do mar na forma do Seu Compromisso [...]»125. A paróquia possuía, ainda,
o Convento dos Carmelitas Descalços, com a invocação de Nossa Senhora da Piedade126, que
podia «[...] acomodar athé trinta e sinco Religiozos que vivem das grandiozas esmolas da villa,
e Seus Contornos.»127. Este dispunha de uma cerca murada, «[...] ahinda que outra parte munto
major está de fora por murar, o qual chega athé Nossa Senhora do Rosario pela parte do poente,
e athé Santa Marta pelo do Sul, ajustando em o portão das obras exteriores da Fortaleza.»128.
O Reitor destacou igualmente a Capela de Nossa Senhora do Rosário, na qual existia uma
irmandade com o mesmo nome, escrevendo que «[…] depois do Terremoto tudo Se aruinou Com
elle, porem já hoje a Igréja Se acha levantada, mas mais pequenna, e Sem choro.»129. Referiu-se, ainda,
aos hospitais «[...] na Fortaleza desta Praça, [onde] está o Hospital Real para a Milicia dela [...]»130 e
da Santa Casa da Misericórdia (ainda que na zona da paróquia da Ressurreição), à Capela da Guia131
e ao Farol com a mesma designação, que «[...] Com muntas luzes acezas […] Serve de Inverno, de
Guja, e Norte aos Navegantes de noute nas ocazioes das Frotas [...]»132. Não deixou, também, de
referenciar a Ermida de São Bento que «[…] o Terramoto do primejro de Novembro de 1755 […]
deitou por terra.»133 e as Ermidas de Santa Marta, de São Sebastião134 e de São Brás, na Areia, esta
última completamente arruinada135.
Mencionou, outrossim, a Capela de Nossa Senhora da Nazaré «[...] que hé a que Serve
agora de Freguezia, e está o Santíssimo por Causa de estar a Igreja Matris toda rachada, com o
124
Ibidem, resposta n.º 7. Já em 1751 o Padre Luís Cardoso apontava as irmandades instaladas na paróquia: as do Santíssimo, de São
Miguel e das Almas. Cf. Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. II, p. 502.
125
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, resposta n.º 7.
126
Onde residia Frei António do Espírito Santo, que tanto citámos.
127
Ibidem, resposta n.º 10.
128
«Antigamente era toda esta Cerca, huma grande, e bem rendoza Quinta de Regalo, que Sustentava huma caza em Lisboa; Com
litejras, e Carruagens: e ao prezente está destithuida de tudo o que hé Arvores de frutos, e de regalos, por falta de agoa, foi do Senhorio
da Senhora Donna Catharina Sarajva, e do Padre Manoel de Anna seu Enteado, que a deixarão a Mizericordia desta Villa a quem a
Comprarão depois os Religiozos. Na tal quinta havia huns grandiosos Palacios, de que Se não vé hoje, Senão parte dos Alicerces, e hum
forno de Cal.». Ibidem, resposta n.º 10. Os seus fundadores foram D. António de Castro e D. Inês Pimentel, Condes de Monsanto, sendo o
convento sucessivamente ampliado. Aponte-se igualmente que «Tem sido este Convento por tres vezes Caza de Noviciado, Sendo o Seu
primejro mestre o Padre Frej António do Espirito Santo Castelhano de Nação, e huma ves foi Collegio de Filosofia, Sendo Seu primejro
Mestre Frej Pedro de Iesus, que depois foi o primejro Provincial Portugues desta Província; Como taobem Cascaes a primeyra Caza de
Filosofia, e estudos della […]». Ibidem, resposta n.º 10. No interior da cerca do convento existia a Capela de Santo Aleixo, a que já nos
referimos.
129
Ibidem, resposta n.º 13.
130
Ibidem, resposta n.º 11.
131
Que possuem «[...] humas grandes hospedarias Com muntos Cómodos para gente de Romagem, por Cauza da munta que antiga-
mente ali houve [...]». Ibidem, resposta n.º 13.
132
Ibidem, resposta n.º 13.
133
«Aqui se fazião antigamente extraordinarias festas no dia do Santo com Concurso de toda a Villa com Comedias, e exquisito fogo na
noute antecedente [...]». Ibidem, resposta n.º 13.
134
«[…] e a Ermida de São Sebastião já foj freguesia, e Contem em si tres altares, e esta preparada de todo o preciso para a Sua
admenistração [...]». Ibidem, resposta n.º 13.
135
Referiu-se, ainda, à Ermida de São Pedro Gonçalves. Em 1751 o Padre Luís Cardoso noticiara a existência de uma Ermida de Nossa
Senhora dos Prazeres. Cf. Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. II, p. 502.
33
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Choro, em baixo, e todo o fronteespicio ameaçando ruina pelo Terremoto […]»136; assim como a
existência de uma «[…] Capela, ou Hermida publica [do Senhor Jesus dos Aflitos] que o Escrivão
do Iudicial, e Notas, Antonio Jozé de Faria fabricou depois do terremoto, em as suas Cazas Citas
no Longo, ornada Com toda a perfeição e Custo [...]»137 e onde se instalou depois do cataclismo
a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Aludindo a uma Casa dos Mareantes de Cascais,
Manuel Marçal da Silveira referenciou outras capelas, como a de Nossa Senhora do Socorro que
«[…] hé própria dos Mareantes, e está toda demolida, Sem forma alguma já de templo, porque
aquelles fizerão hum famozo templo, todo de Cantaria lavrado, e rotundo, Com suas Tribunas
em Circuito, de que ao prezente se Servem138. Naquella do Socorro foj muntos annos freguezia,
onde Se administravão os Sacramentos emquanto Se fabricava a da principal Freguezia, em que
na mudança do Santissimo houverão extraordinarias festas com huma luzida Procisão [...]»139. Já
a «[...] Cidadela, e Fortaleza [tinham] mais tãobem Cada huma sua Capela. A da Fortaleza mais
pequena, e antiga em que Se festejava, e venerava Santa Barbara com festa no seu dia, e agora está
demolida, com o Terremoto, E a da Cidadela: [que] hé ao moderno, e muj Magnifica e grande,
[...] com […] Imagem de Nossa Senhora da Vitoria, e Irmandade de todos os Soldados, e Cabos
majores [...]»140.
136
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, resposta n.º 13. Pertencia à Casa dos Falcões, onde se
alojaram de 1741 a 1753 os Padres de São Francisco de Paula, ao tentarem fundar convento na vila de Cascais.
137
Ibidem, resposta n.º 13.
138
À margem: «também hoje arruinado», com outra grafia.
139
Ibidem, resposta n.º 13.
140
Ibidem, resposta n.º 13.
34
Noticiou igualmente a existência de um castelo densamente povoado, do qual ainda «[...] se
lhe Conservão algumas amejas, Cujo fica para a banda da Ribejra, pegado Com os Palacios dos
Marqueses de Cascaes.»141. Registando que a terra não era murada, antes possuindo uma Praça
de Armas com Regimento de Infantaria e a Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, apontou, então,
que as «[…] Cazas de Sua Magestade na Praça pertencentes ao Excelentíssimo Marques General,
donde Residião, os Coronéis do Regimento, [...] todas Estão arruinadas, demolidas, e inhabitaveis,
e da mesma sorte as Cazas da Camara com a sua Cadeja por debaixo, Como tãobem o Pelourinho,
feita em pedaços por terra.»142. As restantes fortificações foram duramente afectadas, visto que o
Forte de Santa Marta e da Guia ficaram em ruína e «[...] não há mais Forteficacois do que as já ditas
todas arruinadas pelo Terremoto [...] e nada Recuperado.»143.
Capela
de Nossa Senhora da Nazaré,
em Cascais, na primeira metade
do século XX
[ahmc/fot-cam/750]
As produções agrícolas mais abundantes eram o trigo e a cevada «[...] e tudo grado, e em
tanta perfeição que vale mais hum alqueire de trigo, ou Cevada de Cascaes no substancial que
dous de outras terras, e ahinda do Alemtejo.»144. Também os citrinos se revelavam especialmente
lucrativos, pois escreve-se que «[…] muntos annos rendeo a laranja, e limão muito dinhejro Vendidos
aos Inglezes.»145. Da mesma forma, «Não tem menor rendimento os Seus vinhos que todos São
selectos chegando muitas vezes a conservar[-]se o vinho seis annos na Sua nativa perfeição.» 146.
141
Ibidem, resposta n.º 27.
142
Ibidem, resposta n.º 27.
143
Ibidem, resposta n.º 27.
144
Ibidem, resposta n.º 15.
145
Ibidem, resposta n.º 15.
146
Ibidem, resposta n.º 15.
35
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Ruínas do Palácio dos Marqueses de Cascais, na vila (actual Avenida D. Carlos I), cerca de 1900
[ahmc/fot-cam/392]
No que concerne à organização administrativa, o Reitor anotou que a vila possuía dois
juízes (um de mar e outro de terra), Câmara com três vereadores147, procurador do concelho, dois
almotacés «[…] e mais justiças inferiores, a qual justiça não está sujeita, a outra de outra terra,
mais que ao Corregedor, e Provédor da Comarca, e Tribunaes Superiores da Corte.»148. Apontou
igualmente que «Tem Tribunal dos Órfáos com Escrivão, e mais Menistros que o Servem. Iuís dos
direitos Reaes. Ouvidor do Marquês, e vários Almoxarifes do Marquês, da Caza de Bragança e de El
Rej, [e que] a Iustiça da Camara hé confirmada pelo Marqués como Senhor Donatario da terra, e
todos os Ófficios São datas Suas Como varas de Mejrinhos, Escrivaens etc.»149. Acrescentou, ainda,
que Cascais «[...] hé Villa, e não hé Behetria, e munto menos Se pode chamar honra pois não hé
Solar dos Marquezes de Cascaes, Senão Villa donatária, que foi dada aos Condes de Monsanto com
jurisdição, e Senhorio temporal, Se bem que ao principio Se deu Com jurisdição alta e baixa, mero,
e mixto Imperio, Como já Se dice, e por iso tem Pelourinho, e forca […]».150
Notícia particularmente interessante é a de que Cascais não possuía feira, pois «[...] Há só
duas Praças na Villa, huma de fruta, outra de ortaliça, onde Se vende almotaçado pelos Almotaceis
tudo o que vem de fora, e hé precizo, para o Sustento do Povo, e não leva nada o Almotaçel pelo
147
«[…] dous da Villa, e hum do Monte [...]». Ibidem, resposta n.º 16.
148
Ibidem, resposta n.º 16.
149
Veja-se, ainda, a este propósito o anexo produzido pelo Reitor, inserido entre os fólios 1174 e 1175. Estas informações devem ser
confrontadas com as da memória paroquial da Ressurreição, em que se regista: «Tem esta villa dous Juizes ordinários hum do mar outro
da terra - dous Almotaceis hum da terra outro do mar - tem Sennado que se compoem de trez Vereadores hum da terra, outro do mar,
e o terceiro sempre he do termo. - Procurador do Concelho, ou he da terra, ou do mar - tem hum Ouvidor feito pelo Marques donatario
he trienal - tem Juiz dos direitos Reais - tem Concervador do Tabaco, e quando o nam ha custuma servir o Juiz ordinario - tem hum
Provedor da Saude, hoje guarda mor, todos com seos Escrivãis e Meirinhos, e jurisdiçois separadas, não estão sogeitos a outras Justissas
senão por via de Recurso, e somente o Corregedor da Comarca Custuma sindicar delles.». Ibidem/Paróquia da Ressurreição de Cristo,
resposta n.º 16.
150
Ibidem/Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, resposta n.º 17.
36
preço.» 151. Também não existia serviço de correio, pelo que os habitantes se socorriam dos «[...]
barcos de que tem tres de Carrejra, e da Obrigação do Senado, ou gente que vaj para Lisboa, e leva
as cartas, e enComendas, ou os Criados que Cada hum quer mandar levar [...]».152
De entre as festas mais emblemáticas destacou a do Espírito Santo «[...] a que chamão a
festa do Imperio por acistir nella hum Imperador Representando a pessoa de El Rej.»153 e a tradição
de na véspera do dia São Bento «[…] todos os annos v[ir]em os Salojos do lugar da Torre, guardar
de noute com caxejras, dardos, paus a Ribejra desta Villa [...]»154. O Reitor referiu-se também à
falta de água, apontando que a fonte da vila secava comummente de Julho a Novembro, pelo que
a cisterna da Cidadela se tornava preciosa, tal como a fonte de Santa Clara «[...] e os mais Se
remedejão, com os poços ou a mandão buscar a Guja, e ao Forte da Guja, a Torrezela, e a outras
partes vizinhas [...]»155.
Cascais era um porto de mar com lotação para cinquenta ou sessenta embarcações,
que obtinha «[...] algum lucro das pescarias, quando, o tempo, e o Mar permitem [...]»156. Já então
os pescadores se queixavam da existência de pouco peixe, destacando-se, entre as espécies mais
comuns da costa, para além da lagosta e de marisco de toda a espécie, «[...] algumas pescadas
[...], Rajas, Raxoens, bezugos, gorazes, Congros e bastante Cassão que Secão, vendendo-o depois,
cuju beneficio devem aos Padres Carmelitas, que lho ensinarão a Secar, e Come[-]lo [...]»157.
Pescadores
[ahmc/ico-bpi/53]
151
Ibidem, resposta n.º 19.
152
Ibidem, resposta n.º 20.
153
Ibidem, resposta n.º 22.
154
Ibidem, resposta n.º 22.
155
Ibidem, resposta n.º 23. Menciona, ainda, a descoberta de uma fonte no convento dos Carmelitas, em Cascais.
156
Ibidem, resposta n.º 24.
157
Ibidem, resposta n.º 24.
37
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Capturava-se, da mesma forma, peixe agulha que não podia ser vendido «[...] Sem primejro dar
parte ao Marquês para saberem Se o quer, Como Senhor da Terra [...]»158.
Prosseguindo até ao vigésimo sexto interrogatório, aquele que mais nos interessa para a
concretização desta apresentação de elementos que temos vindo a desenvolver, anotou-se que
«[...] a villa ficou arruinada athé ao chão. Não há caza que ou não Cahise em terra, ou não ficasse
abalada, ameaçando ruína. Os templos, a Ponte, a Cidadela, e seus quartéis, tudo está demolido, e
feito em pó. A major parte da Villa habita ahinda em Barracas fora, e dentro do destricto, a Ponte
está Com hum só Arco em pee, e Se não passa por ella, e tudo em a ultima Ruína, Sem que se reparase
ahinda nada, Somente algumas cazas Se tem levantado, poucas, ao mesmo tempo, que outras, Com
as tempestades, e ventos Se tem acabado de postar. Está esta Villa Sem Relógio, porque este, e Sua
grande Torre feita pelos Mouros, que Se fes em cinzas. O Palácio dos Marqueses de Cascaes que era
de huma excelente prespetiva, e de exquisitas pinturas, Com huma bella Ermida desconhece[-]se
tudo pelo que foi, e já não hé. As Ruas huns montóes de pedras, e de Calicês, Sem Signaes de que
fossem Ruas. finalmente não hé Cascaes, e esta freguezia, hé o não Ser de freguezia, e de Cascaes,
o que Se vé.»159. Eis o retrato da destruição da vila, na perspectiva do Reitor de Nossa Senhora da
Assunção.
158
Ibidem, resposta n.º 24.
159
Ibidem, resposta n.º 26. Já em 2 de Outubro de 1581, D. Filipe II de Espanha, em carta dirigida às suas filhas escrita em Sintra, se
referira ao imponente Palácio dos Marqueses de Cascais, anotando: «Entrámos na galera e fomos a Cascais, que fica a cinco léguas, em
três horas; estava bom tempo e fomos à vela. Como ali já é mar, fora do porto de Lisboa, houve muitos que enjoaram, e o meu sobrinho
e eu também ficámos um pouco, mas passou-nos logo, de maneira que, chegando a Cascais, comemos na galera. Depois de comer,
desembarcámos todos e fomos a [uma] casa que é boa e tem algumas salas pintadas.». Cf. Filipe I, Rei de Portugal, Cartas para duas
infantas meninas: Portugal na correspondência de D. Filipe I para suas filhas (1581-1583). Organização, introdução e notas de Fernando
Bouza Álvarez, [Lisboa], Publicações D. Quixote/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, [1999],
pp. 97-98. As ruínas do Palácio dos Marqueses de Cascais e o Convento da Piedade, com sua cerca, foram adquiridos antes de 1873 pelo
Visconde da Gandarinha que mandou demolir o que restava das paredes do Paço e procurou readaptar a segunda propriedade. Cf.
Pedro Lourenço de Seixas Borges Barruncho, Op. cit., pp. 156-157.
38
Avancemos, por fim, até à apresentação de outras informações sobre a paróquia da
Ressurreição de Cristo, da autoria do Cura António Inácio da Costa Godinho. Possuindo «[...]
duzentos e sincoenta e sinco vezinhos - pessoas Mayores de Confição, e Comunhão outocentas
e trinta e quatro - e de confição somente quarenta e nove - que por todos fazem o numero de
outocentos e outenta e trez - e alguns Innocentes que ainda se não confeção.»160, a paróquia incluía,
para além da parcela da vila de Cascais, o lugar de Cobre, com catorze vizinhos; Birre, com dez;
Aldeia de Juzo, com quatro; Ribeira do Rio Doce, com duas azenhas e dois vizinhos e «[...] a quinta
do Esturil que de inverno só hum cazeiro asiste nela [...]»161.
Para além da Irmandade do Santíssimo Sacramento162, o Cura referiu-se à Igreja paroquial,
escrevendo que «[…] era hum Templo Magnifico […]. Por cauza do Terremotu […] lhe ca[hio
todo o teto que] era de [aboboda] e ficarão [somente as paredes mestras] munto arruinadas, e
aluídas, e com pouco esperança de se Reédificar [...]»163. Não obstante, a devoção dos pescadores
traduziu-se numa campanha para a reedificação do templo, nunca concluída, que se efectivou
somente na colocação de duas lápides junto da porta principal, do seguinte teor164:
160
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia da Ressurreição de Cristo, resposta n.º 3.
161
Ibidem, resposta n.º 6.
162
Monsenhor Elviro dos Santos anota em 21 de Agosto de 1931 que «A Irmandade do S. S. Sacramento da freguezia da Ressureição,
segundo creio, apesar da extinção da freguesia da Ressureição, ficou na egreja da Misericordia e ainda hoje existe.». AHMC/PES-CMES/
Mç. 61. Já em 1751 o Padre Luís Cardoso se referira às irmandades do Santíssimo, de São Francisco, de Nossa Senhora da Vitória e das
Almas, instaladas na paróquia. Cf. Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. II, p. 500.
163
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia da Ressurreição de Cristo, resposta n.º 7.
164
Que mais tarde, como já referimos, foram levadas para o Museu Arqueológico do Carmo, por iniciativa de Monsenhor Elviro dos
Santos. Cf. Pedro Lourenço de Seixas Borges Barruncho, Op. cit., pp. 96-99; Ferreira de Andrade, Cascais - vila da corte: Oito séculos de
história, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 1964, pp. 216-218 e ainda a nota de João da Cruz Viegas, conservada na colecção de
Monsenhor Elviro dos Santos, em que aponta que «[...] estavam à entrada do Museu, porque fui lá vê-las.». AHMC/PES-CMES/Mç. 13.
Ainda hoje aí se mantêm.
39
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
165
Nos seus Apontamentos, Monsenhor Elviro dos Santos registou que «Por occasião do Terremoto de 1755 abateu parte da aboboda da
egreja; os parochianos abriram uma subscripção para concertar a aboboda; em certa altura o Thesoureiro safou-se com o dinheiro; já
naquelle tempo havia gatunos!». Ibidem, Mç. 17.
166
Pedro Lourenço de Seixas Borges Barruncho, Op. cit., pp. 88-89.
167
IAN-TT/Memórias Paroquiais/Paróquia da Ressurreição de Cristo, resposta n.º 10.
168
Ibidem, resposta n.º 10.
169
Ibidem, resposta n.º 11.
40
Num breve parêntesis, importa registar que a Santa Casa da Misericórdia de Cascais
se associou oportunamente a esta edição através do seu Arquivo Histórico, seleccionando e
transcrevendo documentos inéditos que em parte se apresentam em fac-símile. Destaque-se,
neste sentido, a certidão de venda de uma lâmpada de prata da Irmandade de Nossa Senhora dos
Anjos que se partira durante o terramoto, datada de 1757170; a licença de 1761 para a Irmandade do
Santíssimo Sacramento benzer o sacrário e dizer missa na sacristia da Santa Casa, pelo facto de a
Igreja ter ruído171; a provisão de D. José, de 1764, autorizando que todos os papéis antigos do cartório
da Santa Casa se trasladassem em pública forma e se revestissem de valor probatório, à semelhança
dos originais que se encontravam em risco de perda devido ao cataclismo172; ou a petição de 1782
do Provedor e irmãos da Santa Casa à Rainha D. Maria I, no sentido de obterem autorização para
possuir na Igreja da Santa Casa sacrário e âmbula com os santos óleos da unção, a fim de poderem
assistir os doentes do hospital da Santa Casa, que alude à catástrofe,173. Refira-se, por fim, o parecer
de 1786 produzido para a Santa Casa a propósito da suspensão da procissão do Senhor dos Passos,
pela falta de verbas originada pelos danos do terramoto174.
Projecto
da Igreja da Misericórdia,
em Cascais
[ahmc/fot-cam/751]
170
Cf. AHSCMC/INSA/Cx. 1 - 009.
171
Cf. AHSCMC/SCMC/A/A/02/Cx. 2 - 017.
172
Cf. AHSCMC/SCMC/A/A/01/Cx. 2 - 018. Cf. transcrição e fac-símile.
173
Cf. AHSCMC/SCMC/A/B/02/Cx. 2 - 007. Cf. transcrição e fac-símile.
174
Cf. AHSCMC/SCMC/G/A/05/Cx. 1 - 001. Cf. transcrição e fac-símile.
41
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Capela de
Nossa Senhora
da Conceição
dos Inocentes,
em Cascais,
cerca de 1900
[ahmc/pes-cmes/
mç. 38]
As principais actividades da paróquia eram o cultivo de trigo, cevada e vinha, bem como
a fruticultura, para além da pesca «[…] de que a terra he abundante havendo bom tempo.»178.
Também aqui não existiam feiras, nem serviço de correio, revestindo-se de particular relevância
as termas do Estoril, «[...] caldas, onde pelo verão vam muntos tomar banhos, e exprementam
milhoras por serem munto expeciais principalmente para queixas do Figado.»179.
Descrevendo Cascais como porto de mar, à semelhança do seu congénere de Nossa Senhora da
Assunção, o Cura reportou a existência de «[...] tres prayas junto a ela [, de que] a primeira e principal
he a da Ribeira onde vam portar todas as embarcaçois da terra, e ainda de fora por ser a praya mais
extença, e juntamente por estar ahi o Corpo da Guarda, do qual os Militares vão Regista[-]las, [que] não
tem Reducto algum por arte, ou natureza, nem modo de abrigo para as embarcaçõis se conservarem
no mar; o qual he aspero principalmente havendo qualquer vento mais forte [...]»180. Relativamente
ao tráfego marítimo escreveu, mesmo, que as «[...] embarcaçois que o frequentão sam trinta e tantos
175
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia da Ressurreição de Cristo, resposta n.º 13.
176
Ibidem, resposta n.º 13.
177
Não se registam romagens até estas ermidas. Não esqueçamos igualmente a existência de «[…] seis fortes, com quatro peças cada hum
[…]», junto ao mar, estruturas já mencionadas em 1751 pelo Padre Luís Cardoso. Cf. Padre Luís Cardoso, Op. cit., vol. II, pp. 500-501.
178
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia da Ressurreição de Cristo, resposta n.º 15.
179
Ibidem, resposta n.º 23.
180
Ibidem, resposta n.º 24.
42
Bateis, huns de Redes, outros das pescarias mais inferiores - as embarcaçois de fora, tirando algumas
que trazem madeira para a vila, só se anchoram ou para esperarem maré para hirem para Lisboa, ou
para se Refazerem de algum alimento, e nam tem capacidade para mais outra couza.»181.
Ainda que não responda especificamente ao questionário sobre rios, no final não deixou de
se referir à Ribeira das Vinhas, que dividia a vila, informando ser apenas caudalosa no Inverno e que
«[...] nam Cria peixes, nem he navegável [...]»182. Da mesma forma «[...] não tem Caxoeira, Repreza,
Levada ou asudes, moinhos lagares ou pizois, ou couza de que possa tirar utilidade; tem hum lagar
de azeite e pizão cousa de meya legoa de distancia do Ryo que finda no mar, [e] de verão todo se
seca.»183. Neste contexto mencionou, também, a destruição da ponte «[...] feita de cantaria com trez
arcos, a qual na ocazião do Terremoto se aruinou e cahio de sorte que se servem hoje para pasagem
de huma a outra parte de huns passadouros que em havendo cheya se cobrem de agoa, e se não pode
passar […]»184, bem perto da zona a que «[…] chamão a este Ryo a foz.»185.
No que concerne ao terramoto, o Cura António Inácio da Costa Godinho não hesitou em
afirmar que «De todas as terras foi esta a que exprimentou mayor Ruina (conforme dizem todos) por
cauza do dito Terremotu, pois todos os edefícios se arruinarão, e quazi todos cahiram, e algum que
nam cahio de todo ficou inhabitável, mas ao prezente ia se acham muntos delles Reedeficados.»186.
Eis o panorama de uma freguesia duramente afectada por um violento sismo, cuja intensidade terá
oscilado no concelho entre os graus IX e X da escala Mercalli (1911).
Ainda assim, as inusitadas consequências da catástrofe não podem deixar de surpreender
os estudiosos, pois «Sendo em Cascais, em geral, as fundações dos edificios de calcáreo rijo e as
construções de boa qualidade é para notar os terriveis efeitos do terremoto. É certo que se encontram
na região algumas falhas com a direcção, aproximadamente N. S.; mas a sua existência não é tanta,
que explique os enormes estragos do terremoto.»187. Na verdade, o tremor de terra provocou duzentas
e duas vítimas mortais188 no concelho, sendo as paróquias da vila de Cascais as mais afectadas. Desta
forma, a freguesia de Nossa Senhora da Assunção registou 49% dos óbitos, seguida a curta distância
pela da Ressurreição de Cristo, com 44,1%, o que perfez 93,1% dos falecimentos. Por sua vez, Nossa
Senhora dos Remédios atingiu os 3,5%, enquanto São Domingos de Rana alcançou 1,9% e Alcabideche
1,5%. É este o cômputo geral da catástrofe189, a que se sucedeu a reconstrução, cuja história se afigura
de difícil reconstituição, por não se conhecer documentação municipal para o estudo desse período.
181
Ibidem, resposta n.º 24.
182
Ibidem, resposta n.º 27.
183
Ibidem, resposta n.º 27.
184
Ibidem, resposta n.º 27.
185
Ibidem, resposta n.º 27.
186
Ibidem, resposta n.º 26.
187
Francisco Luís Pereira de Sousa, O terremoto do 1.º de Novembro de 1755 em Portugal e um estudo demográfico, vol. III - Distrito de
Lisboa, Lisboa, Tipografia do Comércio, 1928, p. 504.
188
Se retiramos da listagem o assento repetido, a que já nos referimos, e acrescentarmos o óbito da Marquesa do Louriçal, que se sabe
ter sucumbido na sequência de ferimentos infligidos pelo terramoto.
189
De acordo com D. Luís Caetano de Lima, «Clérigo regular, examinador das tres ordens militares e académico da Academia Real
da História Portugueza», em 1736, a população das paróquias que actualmente compõem o concelho de Cascais alcançava os 5 109
43
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Neste contexto não podemos deixar de nos referir à importante informação recolhida por João
da Cruz Viegas a propósito de um Aviso de 15 de Maio de 1756 em que o Marquês de Pombal autoriza
o desembarque em Cascais de madeira, telhas e tijolos de produção nacional, sem pagamento de
qualquer impostos, a fim de acorrer à reconstrução de prédios derrubados pelo terremoto nos
termos de Sintra e Cascais, uma vez que se perdera o vinho e o trigo com cuja venda os moradores
conseguiriam o capital necessário à aquisição desses materiais.190
Ao concluir esta breve apresentação dos documentos e informações reunidos para o estudo
do terramoto de 1755 em Cascais, urge recordar que o principal objectivo da presente edição é
facilitar a leitura de documentos históricos aos interessados pelo estudo do passado do concelho.
Neste sentido importa igualmente informar que aquando da elaboração das transcrições que em
seguida se apresentam, ainda que procurássemos respeitar as características ortográficas dos seus
produtores - muitas vezes marcadas pelo exagero da maiúscula - não hesitámos em sacrificá-las
sempre que necessário, em benefício da clareza de leitura.
efectivos, alojados em 1 394 fogos. Assim, a freguesia de Nossa Senhora da Assunção dispunha de 1 674 habitantes e de 396 habitações,
enquanto a da Ressurreição possuía 220 fogos e 810 almas. Já a paróquia de Nossa Senhora dos Remédios de Carcavelos detinha 217
habitantes, alojados em 57 fogos. Por sua vez, São Domingos de Rana atingia 369 fogos e 1 197 residentes. São Vicente de Alcabideche
continha 352 habitações e 1 211 habitantes. Cf. D. Luís Caetano de Lima, Geografia historica de todos os estados soberanos de Europa, com
as mudanças que houve nos seus dominios e especialmente pelos tratados de Utrecht, Rastad, Baden, da Barreira, da Quadruple Alliança,
de Hannover, e de Sevilha; e com as genealogias das casas reynantes e outras muy principaes, dedicada á sacra, real, augusta magestade del
rey D. João V. nosso senhor, tomo II, Lisboa, Oficina de José António da Silva, 1736, pp. 655-656. A disparidade e insuficiência dos valores
apresentados nos censos conhecidos e a inexistência de estudos sobre a evolução da população no concelho de Cascais para este
período não nos permite calcular a percentagem de vítimas mortais.
190
Citando o Lv. 115 K, p. 82, do Arquivo da Alfândega de Lisboa. Nesse contexto, uma comissão de juízes do mar, um Ordinário e um
oficial da cidadela inspeccionava as cargas antes do desembarque para certificar se realmente eram mercadorias nacionais. Cf. João
da Cruz Viegas, Comunicações de Cascais para Lisboa: Terrestres, ferroviária, marítima, postal, telegráficas e telefónicas, Cascais, Museu-
Biblioteca do Conde de Castro Guimarães, 1940, p. 9. A legislação é abundante. Cf. Collecção das leys, decretos, e alvarás que comprehende
o feliz reinado del Rey Fidelissimo D. Jozé nosso senhor. Desde o anno de 1750, até ao fim de Maio de 1761, e a Pragmática do Senhor Rey D.
João o V, do anno de 1749, tomo I - 1750-1759, Lisboa, Oficina de Miguel Rodrigues, 1761.
44
FONTES E BIBLIOGRAFIA CONSULTADAS
A. FONTES
Rei-Estado/Privilégios e obrigações dos irmãos, Cx. 2.
Santa Casa da Misericórdia de Cascais/
CARDOSO, Luís, Padre - Diccionario geografico, ou
Constituição, organização e regulamentação/
noticia historica de todas as cidades, villas, lugares, e
Rei-Estado/Compromissos e estatutos, Cx. 2.
aldeas, rios, ribeiras, e serras dos reynos de Portugal,
Santa Casa da Misericórdia de Cascais/Constituição,
e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se
organização e regulamentação/Igreja/Licenças
encontrão, assim antigas, como modernas, 2 vols. Lisboa,
eclesiásticas, Cx. 2.
Regia Officina Sylviana e da Academia Real, 1747-51.
Santa Casa da Misericórdia de Cascais/Assistência
espiritual/Igreja da Misericórdia/Procissões, Cx. 1.
Collecção das leys, decretos, e alvarás que comprehende
o feliz reinado del Rey Fidelissimo D. Jozé nosso senhor.
ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DE CASCAIS
Desde o anno de 1750, até ao fim de Maio de 1761, e a
Pragmática do Senhor Rey D. João o V, do anno de 1749,
Arquivos Fotográficos - Colecção Antiga do
tomo I - 1750-1759, Lisboa, Oficina de
Município.
Miguel Rodrigues, 1761.
Arquivos Iconográficos - Bilhetes Postais Ilustrados.
FILIPE I, Rei de Portugal - Cartas para duas infantas Arquivos Pessoais - Colecção Almarjão.
meninas: Portugal na correspondência de D. Filipe I Arquivos Pessoais - Colecção Monsenhor Elviro dos
para as suas filhas (1581-1583). Organização, Santos.
introdução e notas de Fernando Bouza Álvarez,
[Lisboa], Publicações D. Quixote/Comissão Nacional BIBLIOTECA DA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS
para as Comemorações dos Descobrimentos DE LISBOA
Portugueses, [1999].
SANTO, António do Espírito, Frei - “Papel sobre o[s]
LIMA, Luís Caetano de Lima, D. - Geografia Terremotos, e sobre o de 1755 feito no convento
historica de todos os estados soberanos de Europa, de Nossa Senhora da Piedade de Cascaes em 20 de
com as mudanças que houve nos seus dominios e Maio de 1756 por Frei António do Espirito Santo
especialmente pelos tratados de Utrecht, Rastad, Baden, Natural de Cascaes com muitos versos de sonetos
da Barreira, da Quadruple Alliança, de Hannover, e á villa de Cascaes”, Curiosidades de Frei Vicente
de Sevilha; e com as genealogias das casas reynantes e Salgado da Congregação da Terceira Ordem de São
outras muy principaes, dedicada á sacra, real, augusta Francisco de Portugal.
magestade del rey D. João V. nosso senhor, tomo II,
Lisboa, Oficina de José António da Silva, 1736. DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE ENGENHARIA
GABINETE DE ESTUDOS ARQUEOLÓGICOS
Vues de la côte portugaise entre l’estuaire de la rivière DE ENGENHARIA MILITAR
de Maceira et Pedra do Frade à l’ouest de Sezimbre,
Lisboa, Serviços Geológicos de Portugal, 1949. Plan des ville, citadelle et forts de Cascaes, cópia de
Weirother, c. 1800, doc. 1051.
ARQUIVO HISTÓRICO DA SANTA CASA
DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS INSTITUTO DOS ARQUIVOS NACIONAIS/TORRE
DO TOMBO
Irmandade de Nossa Senhora dos Anjos, Cx. 1.
Santa Casa da Misericórdia de Cascais/ IAN-TT/Memórias paroquiais/Índice [Índice
Constituição, organização e regulamentação/ geográphico das cidades, villas & parochias de Portugal:
45
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
Conteudas nos 43 volumes manuscriptos do Dicionário Collecçam universal de todas as obras, que tem sahido
Geographico: Existente na Bibliotheca da Senhora das ao publico sobre os effeitos que cauzou o terremoto
Necessidades, Lisboa, 1832]. nos reinos de Portugal, e Castella, no primeiro
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa de novembro de 1755 e explicaçoens physico-
Senhora da Assunção (Cascais). astrologico-metheorologias, e physico-moral tanto
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa no idioma português como espanhol, e mais cartas,
Senhora da Purificação (Oeiras). dissertaçoens, e tudo que se tem escripto
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de Nossa e divulgado nesta cidade de Lisboa, VIII tomos, [s.l.],
Senhora dos Remédios (Carcavelos). Oficina da Curiosidade, 1758.
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia da
Ressurreição de Cristo (Cascais). INSTITUTO GEOGRÁFICO PORTUGUÊS
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de São (www.igeo.pt)
Domingos de Rana.
IAN-TT/Memórias paroquiais/Paróquia de São Carte chorographique des environs de Lisbonne, 1821,
Vicente de Alcabideche. doc. CA 120 IGP.
46
vol. VII – Portugal absolutista, [Alfragide], Ediclube, - Portugal absolutista, [Alfragide], Ediclube,
[1993], pp. 346-370. [1993], pp. 371-398.
BUESCU, Helena Carvalhão e CORDEIRO, Gonçalo, MOREIRA, Victor João de Sousa - Sismicidade
coord. - O grande terramoto de Lisboa: Ficar diferente, histórica de Portugal Continental, Separata de
[Lisboa], Gradiva, [2005]. Revista do Instituto Nacional de Metereologia
e Geofísica, Lisboa, Instituto Nacional de
CAMPOS, Isabel Maria Barreira de - O grande Meteorologia e Geofísica, Março de 1984.
terramoto: 1755, Lisboa, Editorial Parceria, [1998].
PORTUGAL, Fernando e MATOS, Alfredo de
CARDOSO, Guilherme - “A Igreja de S. Vicente de - Lisboa em 1758: Memórias paroquiais de Lisboa,
Alcabideche”, Al-Qabdaq: Boletim cultural da Junta de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974, pp. 5-19.
Freguesia de Alcabideche, [s.l.], Junta de Freguesia de
Alcabideche, 1990, pp. 43-92. ROSCIONI, Giancarlo e SCUDDER, Giuliana
- O terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755,
CARVALHO, Serra de - “Perfil histórico das Separata de Revista Municipal, Lisboa, 1964.
memórias paroquiais de 1758”, Caminiana: Revista
de cultura histórica, literária, artística, etnográfica e SERRÃO, Joaquim Veríssimo - História de Portugal,
numismática, n.º 1, Dezembro de 1979, pp. 25-36. vol. VI - O despotismo iluminado (1750-1807),
5.ª ed., [Lisboa], Editorial Verbo, imp. 1996.
COSTA, Eduardo - “Os inquéritos paroquiais do séc.
XVIII e algumas das freguesias do distrito de Aveiro”, SOUSA, Francisco Luís Pereira de - Effeitos do
Arquivo do distrito de Aveiro, n.º 81, Janeiro - Março terremoto de 1755 nas construções de Lisboa, Lisboa,
de 1955, pp. 130-148. Imprensa Nacional, 1909.
FONSECA, João Duarte - 1755: O terramoto de Lisboa, __ - Ideia geral dos effeitos do megasismo de 1755 em
2.ª ed., [Lisboa], Argumentum, imp. 2005 [bilingue]. Portugal, Lisboa, Tipografia do Comércio, 1914.
47
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
CURIOSIDADES
[ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA]
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
Da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal.
1
Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, 355 verm. No topo do fólio: Num.º 27.º
50 51
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
52 53
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto
á Antiga Villa de Cascaes,
destroçada pello terremoto do 1.º de Novembro,
de 1755.
Faciebat.
54 55
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 1.º
á Antiga, e Nobre Vila de Cascaes,
Desttroçada pelo terremoto do 1.º de Novembro,
de 1755.
Faciebat.
56 57
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 2.º
áo mesmo Assumpto;
e do que foy, e agora he Cascaes.
Faciebat.
58 59
Curiosidades
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Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 3.º
áo Terremoto do 1.º de Novembro,
sobre ser em dia de todos os Santos
este flagello.
Faciebat.
60 61
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 4.º
áo Terremoto de Cascaes,
havendo succedido em hum sabbado
esta desgraça.
Faciebat.
62 63
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 5.º
áo cahirem, e arruinarem[-]se os Templos,
Com o terremoto da Vila de Cascaes.
Faciebat.
64 65
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 6.º
á todos os Militares, que fallecêrão
no Terremoto.
Faciebat.
66 67
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 7.º
á todos os Reverendos Sacerdotes,
que neste terremoto morrêrão.
Faciebat.
68 69
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 8.º
á todas as Mulheres, que derão a vida,
nesta mortal tragédia.
Faciebat.
70 71
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 9.º
á todos os Homens, que neste dia
espirárão
Faciebat.
72 73
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 10.
á todos os Moradores da Vila de Cascaes,
no estupendo infortunio de hum terremoto.
Faciebat.
74 75
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 11.
áos que á vista de hum grande terremoto,
tiverão pouco temor de Deos no que obrárão.
Faciebat.
76 77
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 12.
ás alteraçoens, que houve nesse dia,
em todos os Elementos,
por cauza do terremoto.
Faciebat.
78 79
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 13.
á todas as formosuras de Cascaes,
que neste terremoto acabárão.
Faciebat.
80 81
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 14.
á todos os Meninos, e Meninas innocentes,
que neste terremoto espirárão.
He acomodação de hum soneto de Camoens:
Alma minha gentîl, que te partiste, etc.
Faciebat.
82 83
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 15.
à conversão que fes nas almas,
o terremoto de dia de todos os Santos.
Faciebat.
84 85
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
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de Portugal
Soneto 16.
áo terremoto em dia de todos os Santos,
na villa de Cascaes.
He confrontação com outro de Camoens
Que levas cruel Morte? Hum claro dia. etc.
Faciebat.
86 87
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 17.
á torre, e Relógio, arruinados
na villa de Cascaes,
com hum terremoto,
as nove, e hum quarto
Faciebat.
88 89
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 18.
á Ponte de Cascaes,
derribada pelo már, em hum terremoto.
Faciebat.
90 91
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 19.
áos immensos penhascos que o már levou,
quando entrou pella terra no terremoto.
Faciebat.
92 93
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 20.
aós que fugirão em hum barco para o már,
cuidando que podião escapar do terremoto da terra.
Por milagre de Deos escapárão á hum Navio.
Faciebat.
94 95
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 21.
á Torre, e Farol da Guia,
tudo destroçado no terremoto.
Faciebat.
96 97
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 22.
áo Lagarto da Mizericordia,
que escapou do terremoto, cahindo a igreja,
e morrendo gente.
Faciebat.
98 99
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 23.
áo proprio Assumpto do terremoto,
significando como ficou Cascaes.
Faciebat.
100 101
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 24.
á São Felipe Néri,
Advogado nos terremotos,
que nos deffenda.
Faciebat.
1
À margem: - illius sinum confractii, arq.º elasis duabus Costulis [?]. Lect 5.
2
À margem: - Tanto que cor ejus astuabat [?] ardóre etc. Lect. 5.
102 103
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 25.
áos furtos, que sucederão em Cascaes,
no tempo do terremoto,
por não acodir a justiça.
Faciebat.
3
À margem: - cahirão as cazas da vereação.
104 105
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 26.
áo deploravel estado, em que ficou Cascaes,
pello terremoto.
Epithaphio.
Faciebat.
106 107
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 27.
á destroção dos Barcos, que levou o Már,
na occazião do terremoto.
Faciebat.
108 109
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 28.
áo retroceder o Már visivelmente
vindo entrando pela villa;
quando o benzêrão com o Santíssimo Sacramento,
rendendosse áo seu Creador.
Humilhousse Nabucodonosôr;12
de Daniel pasmou Rey Balthasár;13
fica prezo, e captivo Achiór:14
Faciebat
4
À margem: - Jos. c. 10. n. 13.
5
À margem: - Exod. c. 14. n. 21.
6
À margem: - 3. Reg. c. 17. n. 1.
7
À margem: - Gen. c. 7. n. 8.
8
À margem: - Gen. c. 41. n. 44.
9
À margem: - 2. Reg. c. 12. n. 13
10
À margem: - Gen. c. 31. n. 44
11
À margem: - Jos. c. 15. n. 19.
12
À margem: - Dan. c. 4. n. 30.
13
À margem: - Dan. c. 5. n. 14.
14
À margem: - Judith, c. 6. n. 9.
110 111
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 29.
á grande boca, que se abrio na terra,
com o terremoto;
doutrinando as más lingoas, que nella há.
Faciebat.
15
À margem: - He no caminho da Guia.
112 113
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Soneto 30.
áo estar o Santíssimo depois do terremoto,
collocado em as cappellas
de sua Mãy sanctissima,
que há na Villa.
Faciebat
114 115
Curiosidades
de
Frei Vicente Salgado
da Congregação da Terceira
Ordem de São Francisco
de Portugal
Redondilha.
Faciebat.
116 117
CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
MEMÓRIAS
PARO QUIAIS
[INSTITUTO DOS ARQUIVOS NACIONAIS /
TORRE DO TOMBO]
QUESTIONÁRIO
IAN-TT/Memórias paroquiais/Índice [Índice geográphico das cidades, villas & parochias de Portugal: Conteudas nos 43
volumes manuscriptos do Dicionário Geographico: Existente na Bibliotheca da Senhora das Necessidades, Lisboa, 1832]
120 121
15.º Quaes são os fructos da terra, que os moradores reco-
lhem em maior abundancia?
16.º Se tem Juis ordinario, etc. Camara: ou se está sujeita ao go[-]
verno das Justissas de outra terra; e qual he esta?
17.º Se he couto, cabesa de Conselho, Honra, ou Behetria?
18.º Se ha memoria de que florecessem ou della sahissem,
alguns homens insígnes por virtude, Letras, ou armas?
19.º Se tem Feira, e em que dias, e quantos dura, e se he fran[-]
ca ou captiva?
20.º Se tem correio, e em que dias da Semana chega, e par[-]
te? e se o não tem, de que correio se serve; e quanto dista
a terra onde elle chega?
21.º Quanto dista da Cidade capital do Bispado; e quanto
de Lisboa, Capital do Reino
22.º Se tem alguns privilegios, antiguidades; ou outras
couzas dignas de memoria?
23.º Se ha na terra, ou perto d’ella, alguma Fonte ou La[-]
goa celebre, e se as suas aguas tem alguma expe[-]
cial virtude
24.º Se for Porto de mar; descreva-se o Sitio, que tem por
arte; ou por natureza; as embarcaçoes, que o frequen[-]
tão, e que pode admittir?
25.º Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seos muros; se
for Praça d‘armas descreva-se a Fortificação; se ha n’ella
ou no seo Destricto algum castello, ou Torre antiga, e em
que estado se acha ao presente.
26.º Se padeceo alguma Ruina no Terremoto de 1755, e em
que: e se está ja reparada?
27.º E tudo mais, que houver digno de memoria, de que não fa[-]
ça menção o presente Interrogatorio
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
Informando[-]me Com as pesoas mais nobres, Scientes, e peritas desta minha freguesia
de Nossa Senhora da Asumpção Matris desta antiga Villa de Cascaes, Sobre
os Interrogatorios de huma formulla que me foi Remetida pelo Reverendo Vigario
da Vara desta dita Villa, e destricto o Doutor Antonio dos Santos Barbosa, por ord-
em do Excelentissimo e Reverendissimo Senhor Arcebispo de Lacedemonia Vigario Geral deste
Patriarchado de Lisboa Conforme o avizo da Sacartaria de Estado dos Negocios
do Rejno, que por ordem de Sua Magestade Fidelissima, Se passou ao Emminen[-]
tissimo, e Reverendissimo Senhor Cardeal Patriarcha, meu Senhor. - Ao primeiro
Em que Provincia fica esta terra etc. Se Responde,
Ao segundo Interrogatorio Se hé de El Rej etc. Se Responde que nos Seus principios, foi de
El Rej Senhor Rej Dom Fernando a deu em doação, e Seu termo, a Gomes, ou Gonçalo Lourenço
de Avellar, Seu guarda mor, em 22 de Agosto de 1372 fazendo[-]lhe a dita doação Com to[-]
da a jurisdição alta, e bajxa, mero, e misto imperio em Santarem a 8 de Abril de 1370.
1
IAN-TT/Memórias paroquiais/Nossa Senhora da Assunção. No topo do fólio: N. 67 186 1171 Cascaes. Esta paróquia
corresponde aos fólios 1171 a 1203.
122 123
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
de 1370, E porque o Sobredito Se auzentou destes Reynos Sem Licença, a tornou a dar,
o mesmo Rey em 7 de Junho de 1373, a Henrique Manoel de Vilhenna, o que Consta
do Padre Dom Luis Caetano de Lima. Geografia Historica tomo 2.º folhas mih. 449. Au-
gmentado já o lugar Com o numero de duzentos Vezinhos chamados de terras Vezinhas
pelo grande proveito da pescariá, a deu El Rej Dom João o 1.º em Companhia de outras
muntas Couzas, a Seu grande Valido o Doutor João das Regras, o qual a dotou a Sua
unica filha, a Senhora Donna Branca da Cunha, quando a Cazou Com o Senhor Dom
Afonso filho do Infante Dom João, que era filho de El Rej Dom João o primejro. Aqui com
com a grande qualidade de tal Senhor, adquerio esta terra o título de Villa, e foi crecen[-]
do a Povoação athé novecentos Vezinhos, ajuntando[-]se aos pescadores a gente Nobre,
que Servia no Paço. E com este augmento de Povo Se mudou a Povoação para a borda
da agoa, para o Citio em que agora existe, por cauza do major Comodo, e proveito da pes[-]
caria. Não teve a Senhora Donna Branca, e Dom Afonso, mais filhos que a Senho-
ra Dona Izabel da Cunha que herdou o Senhorio da terra, e por ella o teve Seu Ma-
rido Dom Alvaro de Castro 1.º Conde de Monsanto Camarejro Mor, e grande privado
de El Rej Dom Afonso o 5.º. Foi Sua filha herdeira a Senhora Donna Joanna de Castro
que tomou alliança Com Dom João de Noronha de quem descende Dom Antonio de
Castro Cazado com a Senhora Donna Ignes Pimentel filha de Martim Afonso de
Soussa Vice[-]Rej da India. Destes, Seu filho, e herdeiro Dom Luis de Castro, e deste Seu
filho Dom Alvaro Pires de Castro 1.º Marqués de Cascaes, Com o qual hé hóje a terra
donataria dos Marquezes de Cascaes. E por morte do ultimo Marqués Dom Luis Jose
Thomas de Castro vagou a Caza para a Coroa, da qual tomou pose o Senhor Rej Dom Jo[-]
ão o 5.º, que por Sua grandeza foi Servido torna[-]la a dar a Senhora Donna Maria
Joze da Graça, Cazada Com o Excelentissimo Senhor Marqués de Louriçal, dispen[-]
sando na Lej mental, e Como desta falecida no Terremoto, do primejro de Novemb-
bro de 1755, não ficase Senão huma menina, lhe tornou a dar a Caza o Senhor Rej Dom
Jozeph. o 1.º que Deos guarde, tornando a dispensar na dita lej. Padre Lima, Supra folhas
398. Chronica de Carmelitas descalsos de Portugal tomo 1.º livro 2.º Capitulo 17 nume-
ro 377 folhas 326, Com que esta menina, hé quem ao prezente goza do Senhorio da
terra.
Ao Segundo Interrogatorio, digo Ao Terceiro Interrogatorio, quantos Vezinhos
124 125
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
Vezinhos tem, etc. Se Responde que esta freguezia de Nossa Senhora da Asumpção
Matris desta Villa de Cascaes Se acha neste prezente anno Com quinhentos, e dezaseis
fogos, e mil SeteCentos e nove pessoas entre pessoas auzentes, Majores de Confição, e Sa[-]
grada Comunhão, e os Menores de Confição Somente, o que tudo Consta do Rol dos Confe[-]
ssados deste dito anno de 1758 e desta dita freguezia de Nossa Senhora da Asumpção
Matriz desta dita Villa de Cascaes.
Ao quarto Interrogatorio, Se está situada, em Campina, etc. Se Responde que
quase toda a Villa da parte desta freguezia, fica, em huma Campina, cheia de pedrejras
junto a borda do Mar, Se bem que aspera, ingreme, e penhascoza. Como as grandes
tempestades forão levando a terra Com as chuvas para o Mar, ficarão os ossos escarna[-]
dos, que São os penedos, e por isso inculta em munta parte pelos Seus Circuitos. Ao
Nascente olha esta freguezia para a parte de Lisboa, ficando toda lavada do Sol
asim que nasce. Para o poente lhe fica o Mar Oceanno e o Cabo da Roca. Para o Sul
o Cabo do Espichel, e para o Norte a Cerra de Cintra, desta freguezia olhando para
o Norte o lugar da Torre distante hum quarto de legoa, a Igreja de Nossa Senhora da
Penninha, a Ermida de São Saturnino que ficão na dita Cerra de Cintra distancia
desta freguezia pouco menos de duas legoas. Olhando para o Oriente Se divisa,
O Estoril, o Convento dos Padres Hjeronimos no Alto da Cerra, e pela Marinha o dos Pa[-]
dres Franciscanos Recoletos, de Santo Antonio mejo quarto de legoa distante, o Forte
Velho meja legoa, São Jullião da Barra, e a Cabeça Seca duas legoas. Olhando pa[-]
ra o Sul, Se alcança a Igreja da Senhora do Cabo, posta sobre o Cabo do Espichel, e os
Muros da Villa de Cezimbra a Velha, tres legoas pouco mais a Cerra da Arrabida
Sinco legoas, pouco menos. E finalmente Olhando para o Poente, Se descobre a Igreja
da Senhora do Rosario, distante hum tiro de peça pequena, e o Vasto Mar Oceano,
por espaço de mais de doze legoas. Mais lugares Se desCobrem desta freguezia que São
Alchibidexe, distancia de meja legoa, Parede huma legoa, Mortal, meja, Alapraja
o mesmo, e a Galiza, Livramento pouco mais de meja legoa, Alvide, e Cobre hum
quarto.
Ao quinto Interrogatorio, Se tem termo Seu, etc. já Se Respondeu Com o seu Termo
que para o Nascente hé Seu termo, athé Oejras por espaço de duas legoas, e pára o N[or-]
te Confina Com o termo de Cintra. Os lugares que o termo tem São estes, do Rjo
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Perfeição, Tem duas Torres na frontaria, tem huma Estremada tribuna, a Salamonica
e de talha moderna tudo dourado asim o Altar Mor, Como os demais, todos paramen[-]
tados Com o que lhe faz percizo. Tem a Irmandade do Santissimo Sacram[-]
ento, que a Sua Custa fes afundamentis este Magnifico Templo Com duas
Sanchristias huma de huma parte da Igreja da banda direjta que hé da Fabrica
da dita Igreja ornada de bons ornamentos, e de ouro, Calices, Cruzes, galhetas
de prata, e purificador ; e da banda esquerda a outra Sachristia que hé da dita
Irmandade do Sacramento, Cuja Se acha feita na ultima perfeição, bem
pintada, Com bons gavetóes chapeados de bronze, Com especiozos ornamen[-]
tos, Com muita prata de Castiçaes, Cruzes, alenternas, e Alampadas, e todo o Or[-]
nato do Altar Como Sacra, galhetas, Calices dourados ahinda que antigos, e tem
huma excellente Custodia e Cofre donde está o mesmo Sacramento no Sacrario, etc. e em
nada do que lhe hé necessario e Com abundancia para Serviso do mesmo Sacramen-
to, / tem inveja as Irmandades mais Ricas de Lisboa, e nesta dita Irmandade do Se[-]
nhor não entra, Senão gente do Mar na forma do Seu Compromisso, ultimamen[-]
te aprovado por provizão do Eminentissimo Senhor Cardeal Patriarcha Dom
Thomas de Almejda que Deos haja em Gloria, tem mais a Irmandade de São
Miguel, e as das Almas, e nada mais.
Ao Outavo Interrogatorio, Se o Parracho hé Cura etc. Se Responde que An[-]
tigamente muntos Parrachos Se achão asignados nos Livros Com o titulo de Curas, ou[-]
tros Com o de Vigarios, e ultimamente de prezente, Com o de Rejtór, e alguns Com o de En[-]
Comendados, e Coadjutores, Com o titulo de Curas, Como o Padre Felipe dos Santos,
Como de Vigarios muntos a Saber o Padre Luis dos Santos, digo a Saber, o Padre Anto[-]
nio Luis, Alvaro João, Luís da Costa, Manoel de Pinna, Manoel Ferrejra das
Neves, o Coadjutor o Padre Diogo Martins, o EnComendado Luis dos Santos de Gus[-]
mão, e ultimamente o Reverendo Rejtor, e Vigario da Vara Rozendo Jose Te[-]
lles meu Antecesór, e Comissario do Santo Officio; Este hé o titulo que de prezen[-]
te Concede de Rejtor, o Eminentissimo Senhor Cardeal Patriarcha meu Senhor
aos Reverendos Parrachos desta Igreja, nem aquelles antepassados o chamarem[-]se
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CASCAIS
O chamarem[-]se Vigarios, foi porque o fosem da vara, porque de facto não forão
Como de titulo da Igreja por Ser Vigajraria, De prezente o que Parrochea es[-]
ta freguezia hé Somente Rejtor, porque a Vigararia da Vara Se Separou para
o Reverendor [sic] Doutor Antonio dos Santos Barbosa que a Serve Com todo o zelo
e Cuidado do major explendor da Igréja. a Aprezentação desta Igreja, hé do
Eminentissimo Senhor Cardeal Patriarcha meu Senhor, ou da Mitra Patriar[-]
chal que lhe Come os dizimos, e Só Rende o peé de Altar, e huma Congrua de tres mojos
de trigo, hua pipa de vinho, e vinte mil Reis em dinheiro, que tudo a dita Mitra Patri[-]
archal paga aos ditos Reverendos Parrachos desta freguezia.
Ao nono Interrogatorio, Se tem Beneficiados etc. Se Responde que nada dis[-]
to tem, nem Sacerdotes que estejão additos a Igreja por obrigação, porque todos
Vivem dos Seus Patrimonios, e Capellanias que todos tem, porem São todos muj
dados ao Culto Divino, e ajudão quanto podem ao Seu Parracho, na acistencia, e Ser[-]
viso da Igreja.
Ao Decimo Interrogatorio, Se tem Conventos, e de que Religiosos etc. Se
Responde que nesta freguezia Só há hum de Carmelitas descalsos Com a In[-]
vocação de Nossa Senhora da Piedade, em Cuja Igreja há no Altar Major, huma
particular Imagem de Nossa Senhora da Piedade, que junto com a sua estre[-]
mada fermesura, mostra hum notavel Sentimento no Rosto, e o infunde a quem
a Vé por Cauza do Seu unico filho que nos braços tem morto. Hé este templo huma das
Fabricas da melhor porporção, e mais ajustada Semetria, que fabricou a Arte. Hé de huma
Só Nave com hum espaçozo cruzeiro, Revestido tudo com huma facha em Redondo de muj
fino azulejo: tem tres Altares Com seus Retabolos dourados obra antiga, o do Altar
Mor, de Nossa Senhora da Piedade, o Caleteral do Evangelho de Nossa Senho[-]
ra do Carmo, e o da Epistola do Senhor São Joseph. No Cruzeiro huma Capela
de Santa Anna, que hé da famillia dos Francos, fundada pelo Padre João Franco
e Sua Irman Anna Franca; E no Corpo da Igreja huma Capella das Almas, que
no Seu principio foi da Invocação de São Joseph., e hé do Senhorio dos Manços
que a fizerão, e outra do outro lado que hé a do Santo Christo, pertencendo a fa[-]
millia dos Bajoens desta Villa que a fabricarão; tem estes obrigação em quinta
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Quinta fejra Major emquanto o Senhor esta exposto de a terem ornada Com qua[-]
torze vellas acezas, e hé o Altar pervilegiado que os Religiosos tem na Sua
Igreja: Há mais outra Capella a portaria Com a invocação de Santo Elias Pro[-]
toPatriarcha, e hum Oratorio na Sanchristia Com Varias Reliquias, hum Cilicio
de Santa Thareza, huma Canela de hum braço de São João da Crus Com huma por[-]
ção da Sua Carne em huma Custodia dourada, hum Casco intejro de huma das onze
mil Virgens, e Sobretudo grande porção do Sagrádo Lignum Crucis em huma
Custodia de prata dentro do Sacrario: O Claustro hé mui alegre com seus Alta[-]
res em cada angulo Com paineis da Sagrada Paixão de Christo, e a entrada
da porta que delle Vaj para a Igreja huma Capelinha, Com seu Retabulo doura[-]
do a Salamonica em que Se venera huma Imagem de Santo Antonio tão[-]
bem pequenino Como grande Santo Menor. O Convento em si hé munto
Velho por Ser o Segundo da Provincia, fundado pelos primitivos Castelhanos
e primejros fundadores della, e pode aComodar athé trinta e Sinco Religi[-]
ozos que vivem das grandiosas esmolas da Villa, e Seus contornos. tem huma gr-
ande Cerca murada: ahinda que outra parte munto major está de fora por murar, o qual che[-]
ga athé Nossa Senhora do Rosario pela parte do poente, e athé Santa Marta pela do
Sul, ajustando em o portão das obras exteriores da Fortaleza. Antigamente era to[-]
da esta Cerca, huma grande, e bem Rendoza Quinta de Regalo, que Sustentava huma ca[-]
za em lisboa; Com litejras, e Carruagens: e ao prezente está destituhida de tud[o]
o que hé Arvores de frutas, e de Regalos, por falta de agoa, foi do Senhorio da Senhora
Donna Catharina Sarajva, e do Padre Manoel de Anna Seu Enteado, que a deixarão
a Mizericordia desta Villa a quem a Comprarão depois os Religiosos. Na tal quinta ha[-]
via huns grandiosos Palacios, de que Se não vé hoje, Senão parte dos Alicerces, e hum
forno de Cal. Seus Padroejros forão os Condes de Monsanto Dom Antonio de Cas[-]
tro, e Donna Ignes Pimentel que o fundarão na parte donde hoje está a botica do
Convento que ahi ficava a Igreja Com hum dormitorio por sima para o Nascente, e ou-
tro para o Sul; entretanto existirão os fundadores em humas Cazas terreas, nas Cou[-]
rellas, e por estarem ahi muj apertados Se mudarão, para a Misericordia donde
estiverão uzando da Sua Igreja, e Coro quase dous annos thé que vierão para o Con[-]
vento. Por morte de Dom Antonio de Castro, entrou na Caza de Dom Luis de Castro
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Castro Seu filho Herdejro, e prometeu aCabar o Convento dando para as obras todos
os annos quinhentos Cruzados, Com algumas Condições que pôs. Seguio[-]se Dom Al-
Alvaro Pires de Castro, Conde de Monsanto, e primejro Marques de Cascaes, que
dizendo que não podia dar o que Seus Antecesores prometerão para as obras
largou o Padroado, e desobrigou aos Religiosos das Suas obrigações, prometen[-]
do que Se pelo tempo futuro podese pagar o que os Religiosos houvesem gasta[-]
do em aCabar o Convento, então tornaria a tomar o Padroado Com as Condi[-]
ções asignadas por Seu Paj, o que nunca athé agora teve effeito, e por isso nun-
ca mais teve Padroejro, E os Religiosos forão fazendo a Igreja nova, e tudo, o ma[-]
is que Se obrou a Custa das esmollas do Povo, e da Providencia Divina. Tem Sido
este Convento por tres vezes Caza de Noviciado, Sendo o seu primejro Mes[-]
tre o Padre Frej Antonio do Espirito Santo Castelhano de Nação, e huma ves
foi Collegio de Fillosofia , Sendo Seu primejro Mestre Frej Pedro de Je[-]
Sus, que depois foi o primejro Provincial Portugues desta Provincia, Como tãobem
Cascaes a primeyra Caza de Filosofia, e estudos della. Chronica Carmelitana
Portuguesa tomo Segundo livro Sexto, Capitulo dezaseis, numero noveCen[-]
tos e hum, folhas SeisCentas e quarenta, e Sinco.
Pelo que toca a Convento de Religiozas não tem algum, teve Sim
intentos a Condesa de Monsanto Donna Ignes Pimentel de fundar hum Convento
de Carmelitas descalsas da Reforma de Santa Thereza, para o qual chega[-]
rão a lisboa quatro Religiosas fundadoras, e por Sua Prelada a Madre Izabel
de São Francisco, que Sahirão do Convento de São Lucar de Berrameda
em outubro de mil, quinhentos e noventa, e nove, porem quando chegarão a lis[-]
boa acharão Ser falecida a Condeça de Monsanto, Com a qual Cesou toda a pra[-]
tica da fundação, e as Religiosas fundadoras Se Recolherão ao Convento de S
Santo Alberto, que ja havia em lisboa. Chronica Portugueza tomo 1.º livro 2.º Capitulo
28 numero 455, folhas 386.
Somente o que nesta freguezia houve pelos annos de 1645 pouco-
mais ou menos, foi hum ReColhimento de Beatas da terceira Ordem de São Fran[-]
cisco, na Igreja de Nossa Senhora do Rosario, a quem nesta terra chamavão
as Frejras, e erão Regidas pela direção dos Reverendos Padres Franciscanos Recoletos
de X abregas do Convento de Santo Antonio. Estas augmentarão munto,
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Ahinda existe. No Altar Mor, está outra Imagem Major, e hé a Capella Mor,
e duas Colateraes de excelente talha moderna tudo dourado. Tem hum Ermi[-]
tão aprezentado pelo Parracho desta Freguezia, que Cuida do templo Com
grande aCejo, em Cujo ambito tem alguma porção de terra que Cultiva para o Seu
Sustento. Tem a dita Ermida, bons ornamentos de ouro, a Lampada de prata
Calix dourado moderno, e o que lhe hé perciso para administração da dita Er[-]
mida tudo bom, e Com acejo. Iunto a Igreja está o grande Farol da Guja que
Com muntas luzes acezas, Serve de Inverno, de Guja, e Norte aos Navegantes
de noute nas oCaziois das Frotas, o qual tem huma boa escada de Caracol feita
Com grande arteificio, e arde. Neste templo obrou esta Senhora hum prodigio Se[-]
gundo hé Constante tradição desta terra, della desapareceu hum dia de Caza de sua
Maj hum menino, Cuja idade Seria de Sinco thé Seis annos, Sem que a triste
Maj pudese Saber onde estava: já o presumia Cahido de algum penhasco abaj[-]
xo no mar, e afogado, já o deplorava morto de algum infausto Sucesso na terra.
Se bem que a Verdade era que humas bruxas lhe tinhão arrebatado de Caza, e o fo[-]
rão lançar em hum despenhadejro, em hum monte Sobre o Mar. que Confina
para aquella parte da Guja. Aos chôros que o menino dava, aCodirão huns Pas[-]
tores de gado que dando noticia a Villa, Sahirão muntos Com a desconsolada
Maj a Socorrerem a Inocencia. Não foi pouco o que custou atirarem-no pe[-]
lo profundo, e inacessivel do despenhadejro, e alegres todos pelo verem Sem
perigo, lhe perguntou a Maj, quem o metera ali, e quem lhe dera de comer havia
tantos dias? a que o Menino Satisfes, e dise que humas molheres o trouxerão pelo
ar, e atirarão Com elle aquela Cova, porem que huma Senhora munto fermosa
lhe levava todos os dias humas Sopinhas de Cravos para elle Comer. Vejo a Maj
e todos a Igreja a Renderem as graças a Senhora, e asim que o menino viu a Senho[-]
ra no Altar, dise estas formais palavras: Oh Maj, eis ali está a Senhora que todos
os dias me dava as Sopinhas de Cravos para Comer. Chamou[-]se este menino Jozeph
Gomes Lemos de alcunha o Chapinhejro, e foi nesta Praça depois insigne Cirurgião
Mor do Regimento, e muj pratico, em Medicina, e grande Filosofo, e o tal milagre
o Vio munta gente, em hum quadro estampado no mesmo templo da Guja, que com ou[-]
tros
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Com outros que a mesma Senhora Livrou, muntas Embarcações do Captivejro dos Mou[-]
ros, Consumio o tempo; Estão junto da Igreja humas grandes hospedarias
Com muntos Comodos para gente de Romagem, por Cauza da munta que anti[-]
gamente ali houve, Como logo Se dirá no Seguinte Interrogatorio.
Dista mais
outro quarto de legoa para o Norte em o Lugar da Torre, outra Ermida da invo[-]
cação de São Bento que tem obrado muntos Milagres Com se ungirem Com o a[-]
zeite da Sua alampada os Enfermos, a dita Ermitania tãobem hé aprezenta[-]
da pelos Parrachos desta freguezia. Tinha a Hermida o tecto com huma grave
pintura de prespectiva, obra da Curiosidade do Padre Francisco Valente Freire
de Palmela, e de Seu Irmão o Reverendo Padre André Conego Secular de São
João Evangelista, porem os ares maritimos a tem damnificado munto, e o Terre[-]
moto do primejro de Novembro de 1755 a deitou por terra. Aqui Se fazião anti[-]
gamente extraordinarias festas no dia do Santo Com Concurso de toda a Villa
Com Comedias, e exquisito fogo na noute antecedente, em que hé insigne o dito
Padre lojo que ahinda vive.
Fica mais proximo a Villa a Ermida de Santa Mar[-]
ta, e de São Sebastião, em que Se celebrão nos Seus dias as Suas festas Com gran[-]
de devoção, e Concurso, e Em cada huma há Seu Ermitão, ou Ermitôa que cuidão
dellas. Na de Santa Martha houve hum Ermitão de especial virtude que fa[-]
leceu em 24 de Majo de 1607 Chamado George Alvres [sic], com 120 annos de idade
Como Consta do livro dos defuntos desta freguezia livro 3.º São as ditas Ermidas
Vezitadas de munta gente principalmente ao dia Santo pela grande devoção
ffee, e milagres dos ditos dous Santos, e a Ermida de São Sebastião já foj
freguezia, e Contem em Si tres altares, e esta preparada de todo o perciso para
a Sua admenistração; e tanto o Ermitão desta, Como da de Santa Martha
anexas a esta freguezia São aprezentados tãobem pelos Parrachos della .
Ha mais immediata a Villa fora dos Seus muros, nesta freguezia a Igreja de Nosa
Senhora do Rosario, que foi Recolhimento de Beatas Como já Se dice, e Começan[-]
do
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E Começando por Ermida Somente com huma Capela Mor e huma Sanchristia pe-
quenna acrecentarão depois as ditas Beatas Corpo da Igreja Choro, e muntas
moradas de Cazas em Circuito, Com que ficou Igreja. Deu principio a Igreja, ou Er[-]
mida digo, Luis de Barros, e Margarida Loppes, instituhindo huma Capella de
Missas todos os Sabados do anno a Nossa Senhora; E naquelle principio Suce[-]
deo o Seguinte Cazo, ou prodigio, mui Semelhante ao de Roma, no tempo de
Liberio Papa, que deu motivo a festa da Senhora das Neves em 5 de Agosto.
Captivarão os Mouros a Luis de Barros, e o Seu barco andando a pescar nestes
Mares pelos annos de 1500. e foi tão pouco afortunado que comprou hum Senhor
que todos os dias o espancava Com hum pau Como se fora qualquer irracional. Nes[-]
ta af lição tanto para Sentir fes voto a Nossa Senhora que Se o livrase de
tão Cruel prizão, e Captivejro, e o trouxese livre a Sua Terra de lhe fazer nela
huma Capela, Com a invocação de Seu Santissimo Rosario. Nessa mesma hora, e dia
Sua molher Margarida Loppes, Sem Saber do que passava Seu Marido fes em
Cascaes outro Semelhante voto para que lhe trouxese Seu esposo livre. Dei[-]
tou[-]se huma noute, o Captivo Carregado de Cadejas, e de pancadas, e no dia Seguinte
quando aCordou Se achou em terra de Christãos em Castela, Sem Saber o Como,
nem quem ali o trouxera. Vendo[-]se tão milagrosamente livre, Caminhou logo para
a sua patria, onde achou sua molher, e Soube dela o voto que na mesma hora, e dia
tãobem havia feito, Sem nenhum Saber de nada do outro. Tratarão de o execu[-]
tar, para o que mandarão vir Breve de Roma, para a Ereção da dita Capela Sendo
Summo Pontifice Pio 4.º e andando buscando Sitio aComodado, teve a molher
hum sonho, em que lhe appareceu Nossa Senhora, e lhe dise que era vontade Sua
que a Capela Se fizese no Caminho que vaj para a Guja, onde no dia Seguinte,
achase Neve em huma Cova. E Comunicando o Sonho com o Marido, no Seguinte
dia buscando o Caminho da Guja, acharão huma Cova cheja de neve, não Sendo-
o tempo para isso disposto e principalmente em a borda do Mar. E na mesma Cova
fundarão a Capela, que não tinha mais ambito, que o que hoje, hé Capela Mor
e junto huma Casinha para Sanchristia, tudo telha vãa, e muj pobre, porem tra-
tando de tudo muj aceadamente Com Ermitães que tãobem são apresentados pe[-]
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Pelos Parrachos desta freguezia. E passando alguns tempos como não tivesem filhos,
vincularão todos os Seus bens, em a Capela, Cada hum Seguindo a linha da Sua ge[-]
racão, e podendo nella nomear administradores, o que tudo consta de hum pergaminho
que tem os Administradores, e o hé o de prezente o Padre Elias Antonio Perdigão.
Aqui Se enterrarão ambos por Sua morte as Beatas todas asima declaradas,
Como descendentes de huma Sua Irman della chamada Anna loppes, a que Se
aCrescenta, huma moça de especial Virtude, que Se chamou Monica Baptista,
que tãobem ali está enterrada, e vive Beata. Nesta Igreja há huma grande,
e Nobre Irmandade da Senhora, que a festeja no Seu dia, Com Magnificencia
e gasto, e em todos os Meses no primejro Domingo fazia as funções da pratica
e Procisões Costumadas, Se bem que depois do Terremoto tudo se arruinou Com
elle, porem ja hoje a Igréja Se acha levantada, mas mais pequenna, e Sem cho[-]
ro.
No Lugar da Areja desta freguezia, e distante meja legoa há outra Ermi[-]
da de São Bras, de hum Só Altar, com Seu Ermitão tãobem aprezentado
pelos Parrachos desta freguesia, Cuja Ermida Se aRuinou de todo Com o Terremo[-]
to já dito.
Dentro da Villa há mais a Ermida de Nossa Senhora da Nazareth .
que hé a que Serve agora de Freguezia, e está o Santissimo por Cauza de estar
a Igreja Matris toda Rachada Com o Choro, em baixo, e todo o fronteespicio amea[-]
çando Ruina pelo Terremoto, ja referido. Mais teve na Praça a Capela de Nossa
Senhora do Socorro, que hé propria dos Mareantes, e está está [sic] toda demolida-
Sem forma alguma já de templo, porque aquelles fizerão hum famozo templo, todo de
Cantaria lavrado, e Rotundo, Com Suas Tribunas em Circuito, de que ao prezente 1
Se Servem. Naquella do Socorro foj muntos annos freguezia onde Se adminis[-]
travão os Sacramentos emquanto Se fabricava a da principal Freguesia, em que
na mudança do Santissimo houverão extraordinarias festas Com huma Luzida Pro[-]
cisão, e de muntos Carros Triunfantes, e Vistozos andores. Tem a Cidadela, e For[-]
taleza mais tãobem cada huma Sua Capela. A da Fortaleza mais pequena, e antiga
em que Se festejava, e venerava Santa Barbara Com festa no Seu dia, e agora está
1
Na margem: tambem hoje arruinado
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Quase todas estas Ermidas que estão por fora São muj frequentadas todas as tar[-]
des dos dias Santos, do Povo desta Villa principalmente de mulheres estando o dia
bom, e hé o Seu Costumado pasejo, e alivio, e asignaladamente hé a mais frequen[-]
cia em Santa Marta, e Rosario, porque dahi Se descobre mais o Mar. Neste
Caminho athé o Rosario, e no Seu Circuito, está enterrada munta gente, que
aqui no tempo da peste habitava em Cabanas, e ahi faleceu, e Se enterrava.
Ali, está tãobem enterrado hum Religioso Carmelita do Convento da Piedade cha[-]
mado Frej Luis da Asumpção / Como Consta do livro da freguezia tomo 1.º / Irmão
Chorista que na peste do anno de 1600 deu o herojco exemplo de Se offerecer
a morte Curando os apestados.
Ao D e c i m o Q u i n t o In t e r r o g a t ó r i o . Q u a e s S ã o
os frutos da Terra etc. Se Responde que os frutos que mais os Moradores Colhem,
em abundancia, São trigos, e Cevadas, e tudo grado, e em tanta perfeição que
vale mais hum alqueire de trigo, ou Cevada de Cascaes no Substancial que dous de
outras terras, e ahindo do AlemTejo. Há tãobem hum grande lucro nas frutas
de espinho, limão, e laranja, que Se leva para o Norte. Há a quinta da Charneca
do Sargento Mor João Nunes Leal, a de Agostinho Henriques Falcão, a de
Luis Fernandes Portugal na Malveira, etc. e outras muntas mais que em mun[-]
tos annos Rendeo a laranja, e limão munto dinhejro Vendidos aos Inglezes.
Não tem menor Rendimento os Seus Vinhos que todos São Selectos chegando
muntas vezes a Conservar[-]se o Vinho Seis annos na Sua nativa perfeição.
Ao De[-]
cimo Sexto Interrogatorio, Se tem Iuis Ordinario etc., Se Responde que
tem dous, hum do mar, e outro da terra, tem Camera Com tres Vereadores, dous da
Villa, e hum do Monte, e Procuradór do Concelho, dous Almotaceis, e mais justiças
inferiores, a qual justiça não está Sujeita, a outra de outra terra, mais que ao-
Corregedor e Provedór da Comarca, e Tribunaes Superiores da Corte. Tem Tri[-]
bunal dos Orfãos Com Escrivão, e mais Menistros que o Servem. Iuís dos direitos Rea[-]
es. Ouvidór do Marquês, e varios Almoxarifes do Marquês, da Caza de Bragan[-]
ça e de El Rej, a Iustiça da Camara hé confirmada pelo Marqués como Senh[-]
or
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
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Senhor Donatario da terra, e todos os Officios São datas Suas Como Varas de
Mejrinhos, Escrivaens etc.
Ao Decimo Septimo Interrogatorío. Se hé Cou[-]
to, ou Cabeça de Comcelho etc., Se Responde que hé Villa, e não hé Behetria, e mun[-]
to menos Se pode chamar honrra pois não hé Sólar dos Marquezes de Cascaes, Senão
Villa donataria, que foi dada aos Condes de Monsanto Com jurisdição, e Senhorio tem[-]
poral, Se bem que ao principio Se deu Com jurisdição alta e baixa, mero, e mix[-]
to Imperio, Como já Se dice, e por iso tem Pelourinho, e forca, e já na ponte Se enforcou
hum Soldado, por matar hum filho de hum pescador em 7 de Abril de 1592 chama[-]
do Lourenço Figuejró.
Ao Decimo Outavo Interrogatorio, Se há memoria
de que florecesem, ou dela Sahisem alguns homens insignes, etc. Se Responde
que Sim. Por virtudes, e letras desta freguezia, Se pode nomear o ter dado hum
Bispo a Portalegre na pessoa do Excellentissimo e Reverendissimo Dom Alvaro
Pires de Castro filho do Marques de Cascaes. Outro Bispo a Angola que ahinda ex[-]
iste na pessoa do Excelentissimo e Reverendissimo Dom Frej Manoel de San[-]
ta Ignes Religioso Carmelita descalso, que depois de ocupar varios graos, e Dignidades na
Sua Ordem Como o de passante de Theologia, Leitor de Artes, Lente de Prima, na Uni[-]
versidade de Coimbra, Prior de Braga, Reytór de Coimbra, e Definidor Geral de
toda a ordem, vejo acreditar, e merecer a Mitra de Angola, que goza de prezente Com
grande aCeitação de toda aquela Cidade, e honra da Sua Religião, tudo meritos das Su[-]
as Virtudes, e estupendas letras. Nestas houve tãobem insigne o Doutor Alvaro Mar[-]
tins Pereira, Conego Doutoral em Canones na See de Lejria, Vigario Geral, e Pro[-]
visor do Excelentissimo Bispo Dom Denis de Mello, e Castro Juis Appostolico
delegado que foi em huma Cauza do Convento dos Carmelitas descalsos de Bussaco,
de que trata a Chronica portugueza tomo 2º follhas 66, cujo corpo jas Sepultado
no mejo da Igreja do Rosario desta Villa, onde viveo despois de Renunciar todas as
Dignidades Com Summo exemplo desta terra por ser descendente da Insti[-]
tuhidora da Capela do Rosario, Como filha de Alvaro Perejra, e Francisco Lu[-]
is nascido em 25 de Outubro de 1587 annos Livro 2.º dos Baptizados desta freguezia
folhas 9. Frej Sebastião da Concejção Religioso de São Francisco da Provincia
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
Provincia dos Algarves Religioso de tanta virtude, que estando moribundo pe[-]
dio aos Religiosos lhe entoasem o Credo, e Respondendo[-]lhe que principiase elle pri[-]
mejro, e principiando-o elle a entoar quando chegou a dizer et incarna[-]
tus est expirou, e logo immediatamente tocarão os Sinos So por Si, faleceu
no Convento d e Setubal . Franci sc o do s S anto s S ardo D outor em Ca[-]
nones Deão da See de Miranda. João Ribejro de Gouveja depoes de Co[-]
rregedor da Guarda , tomou o Habito de São Pedro e foi Deão da See de
Miranda tãobem. Dionizio dos Santos Roubão da Companhia de Jesus Dou[-]
tor pela Universidade de Ev ora Lente de Theologia . Josee Tejxeira Leal
Conego da Ilha da Madejra. Policarpo dos Santos Maja Doutor de Capelo
em Canones X antre da See de Portalegre. Mathias Joze de Castro Pa[-]
drão Dezembargador da Relação Eclesiastica do Patriarchado de Lisboa
formado em Canones pela Universidade de Coimbra . Bernardino Falcão
de Gouveja formado em Canones profeso na Ordem de Christo Dezembarga[-]
dor da Relação Secular da Bahja.
No que toca as Armas se pode nomear por insi[-]
gne o Cappitão de Mar, e Guerra, Duarte Perejra, chamado o Machadinha.
Deu fundamento a este nome, ou alcunha, o Seguinte Suceso; Navegava Sendo
ahinda inferior na fortuna em huma embarcação quando Repentinamente Se vio Cap[-]
tivo de huns Piratas, e perdida a liberdade Com todos os mais Companhejros, e Sua
fazenda. Nestes termos vendo que todos os mais da Companha os pasarão para
a Nau inimiga, e elle Só ficara na propria Com hum preto, e outro Companhejro, ex[-]
cogitou traça de Como Se poder livrar, e as os dous, e ReCuperar a Embarcação
Rendida. Pedio que lhe desem hum Coco para Comer, e huma Machadinha para o po[-]
der q[u]ebrar, e ajustando[-]se Com os Companhejros que emquanto elle dava na
Cabesa ao Cappitão que dormia Com a machadinha, o outro lancase ao mar pe[-]
las pernas a hum que estava enCostado na amurada descuidado Comendo, e o ou-
tro dos tres que aCodise a fechar a escotilha, para empedir aos que estavão em
bajxo Recolhidos. Tudo Sucedeo ao intento, foi[-]se o Machadinha para o poupa
onde o Cappitão dos levantados dormia / para quebrar o Seu Coco, e em ves de dar
o golpe no Coco, abrio a Cabesa com ella ao que dormia, e ficou armado com huma
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CASCAIS
Com huma espingarda, e Alfanje que tinha junto de Si; No mesmo tempo o que es[-]
tava de tras do outro encostado amurada deu Com elle pelas pernas ao mar, e o
terceiro não Se descuidou de fechar a esCotilha, Com que os de baixo não pode[-]
rão aCodir asima. Estava ahinda hum inimigo no Cesto da Gavja que hja
Vendo o Rumo que a sua Embarcação tomava para a hir Seguindo, e vendo o que
Se passava no Convês quis aCodir abajxo, porem o Machadinha o fes tornar para
Sima Com a espingarda Sub penna de morrer Se descia. Feito isto mandou ma[-]
rear o panno para o Algarve onde aportou Com este felis Suceso: Governa[-]
va então aquele Rejno o Marques de Cascaes Dom Manoel , que Sabendo
do Suceso aprezentou o Sojeito Machadinha ao Senhor. Rej Dom Pedro 2.º
que o premiou Com o bastão de Cappitão de Mar, e Guerra, perpetuandose
Com este facto o epiteto, e fama do Cappitão Machadinha, e tem este dous filhos
de grande literatura, hum que tem Servido em varias Iudicaturas, e outro
que Serve na Relação Patriarchal Como já Se dise, e foi Vigario Geral em San[-]
tarem. Outro Cappitão de Mar e Guerra deu taobem muj insigne Cascaes que
foi o Cappitão Simeão Porto: houve[-]se com mui grande valor na batalha Naval
de Corfû hindo na Almiranta em que hia o Conde de São Vicente Dom Ma[-]
noel, que Sustentou todo o pezo da batalha dos Turcos: mas antes diso tin[-]
ha ja mostrado o Seu valor, quando por entre dous chuvejros de balas de duas
Fortalezas, foi a huma Praça de Mourama a tirar huma Embarcação nossa, que os
Mouros nos tinhão Captiva . Entrou pela barra dentro do Inimigo, e por
entre hum incendio de fogo de toda a artelharia, e picando a amarra do Navio
o tirou a Salvo Repassando por entre outro incendio de ballas, Sem nenhum
perigo, estupenda facanha, e intrepido valor : ahinda fes outra faccão; anda[-]
va nos Seus primejros principios em huma Curveta pequena Embarcação, e tão pe[-]
quena que apenas Se lhe pode dar o nome de Curveta, porem petrechada de tudo quan[-]
anto era percizo, e Sobretudo armada do Seu intrepido animo. Em huma oCazi-
ão Se vio aCometido de huma grande Nau de Guerra de Turcos, tão possante-
que podia emgolir a Curveta de hum bocado; mas foi tal a destreza, e valor deste
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Do Senhor Rej Dom João, o 5.º, o mandou enterrar, fazendo[-]lhe o funeral, e exequias.
Teve hum Irmão grande Melitar nas Armas, Pantaleão Teixejra, que de Sol[-]
dado Sobio por todos os postos, thé o de Coronel no Rejno do Algarve.- Na Carrej[-]
ra da India foj insigne Piloto Roque Lopes, e grande Mestre pratico, Cuja molher
Leanor Fernandes instituhio o Morgado do Estoril, nos Rangeis de Lisboa anno de
1561, e ambos estão enterrados em Santo Antonio dos Padres Franciscanos de Xabre[-]
gas, e Convento junto a esta terra, muntos annos Cursou a Carrejra da India, que Sabia
de Cor Com felix Suceso Sempre, nem El Rej teve outro Semelhante naquelles tem[-]
pos. E nestes nossos modernos, foi munto mais insigne, o Cappitão Thenente de
Mar, e guerra, Lourenço Rodrigues Pescada, asim no Caminho da India, Como no[-]
dilatado da China, onde muntos tempos foi Sempre Com prospera fortuna, e ti[-]
nha exCogitado hum novo Caminho para hir a ella por onde Se podia navegar, e hir
Lá, em menos de Sinco mezes, que a não atalhar a morte estes designios Serião
de Sua Eterna fama, gloriosos Trofeos.- Não foi pouco insigne, e de notavel
fama, em Retalhar estampas de papel, / o Padre Francisco Volante; / Frejre de
Palmela, que jas enterrado por Sua munta humildade no Adro da Igreja desta
freguezia, / a miudeza dos Seus Retalhos, era inperceptível a mais aquillinia vista,
e quem não Conhecia as Suas obras todos as julgavão por de França, e Estrangej[-]
ras, que gastava as vezes Com huma estampinha Seis mezes, em que não Sei Se e[-]
ra para admirar a delicadeza do debuxo, Se a paciencia no que obrava, foi tão[-]
bem insigne no debuxar, e pintar, de que em Sua Caza Se conserva ahinda Se[-]
Conservão varios quadros, e fruteiros, Com especiozidade, e outros muntos Relica-
rios de Retalho, que excedem todo, o inimitavel, Vive ahinda hum Seu Irmão Cone[-]
go Secular de São João Evangelista, que em artefactos de fogo, e na Arte Piro[-]
tenica não admite igualdade, He grande Engenhejro, e tãobem na Arquitetu[-]
ra, e pintura mui especioso, e Se chama o Padre André de São Bernardo, Como
já Se dise.- Finalmente nas Armas não tem faltado Sujeitos que aCre[-]
ditarão a Patria, huns nos postos de Thenentes Coroneis, outros nos de Sargen[-]
tos Mores, outros nos de Cappitães. Nas letras muntos em Dezembargadores nos
Brazis, no Porto, na Relação de Lisboa, e nos lugares de Corregedores, Provedo[-]
res
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Estorninha Com 113 annos, e para 114 – Brizida Ribejra Com 118 falecida em 18
de Majo de 1626 e Seu Paj de 115 livro da freguezia tomo 3º folhas 131-
No anno de 1651 Maria Lopes a mata Sete Com 105 annos, e pelo Seculo de
1500 Sinco homens de mais de 100 annos e Sete molheres de outros tantos
majs.
Nos annos de 1373 foj esta Villa de Cascaes aSollada, e posta a ferro, e fogo
pelos Castelhanos que a entrarão. Henrique Rej de Castela tomou então Lis[-]
boa estando então El Rej Dom Fernando em Santarem , e mandou o Seu
filho bastardo o Conde de Guigôn Dom Alonço que tomaSe esta Villa de Cas[-]
caes, e elle a aSolou Com todas as Suas quintas, dos Seus Contornos, por cu[-]
ja Cauza ficou no mais deploravel estado.
A Couza mais antiga, e mais digna de
memoria desta terra, e freguezia, hé a Sollemnissima festa do Espirito Santo
a que chamão a festa do Imperio por acistir nella hum Imperador Reprezentando
a pesoa de El Rej a quem Se fas todas as honras, Como a mesma pessoa propria.
Teve principio isto, em El Rej Dom Dinis, em a Rajnha Santa Izabel que asim
o determinarão por todo o Rejno para que o Divino Amor fose mais louvado,
e em Seu louvor Se desem grandes esmolas aos pobres. Este foj o fim destes
dous Monarcas, Como dis Dom Rodrigo da Cunha Hjstoria Eclesiastica de Lis[-]
boa folhas 122, numero 6, em cujo dezempenho, São grandiozas as esmolas,
e banquetes que pelas Ruas Se dão nestes dias aos pobres, asim o Imperador
Como outras pessoas particulares em que Se gastão muntos alquejres de pam
Cozido, e munta Carne, e dinhejro. Tem Deos mostrado que Se agrada tan[-]
to desta tão piadoza obra que São notaveis os Milagres que mediante es[-]
te pam bento, e bolos do Espirito Santo, tem obrado, asim em tempesta-
des Lançado no Mar, Como nos incendios, e nas enfermidades Recebido Com
fee; Athé as Insignias que na função Servem ao Imperador, tem obrado pro[-]
digios a quem dellas uza, A Capa, o Chapeu, a Coroa, e a bandejra de festa lan[-]
cada qualquer Couza Sobre a Cama do Enfermo basta para logo Recu[-]
perar Saude quando mais desConfiada , e pelo Contrario quem Se escuza
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Se escuza de não Servir neste aplauzo, Castiga[-]o Deos Com Riguroso Supli[-]
cio. Asim Se vio em o Seguinte Cazo. Havia nesta Villa huma molher cha[-]
mada Maria Luis, e Cazada Com George de Soussa, que ja havia Sido Impera[-]
dor duas vezes. Noticiou[-]lhe este que o havião elleito terceira ves, que asim
tratase de amaçar o pam para a festa, e fazer os bolos para os pobres. Ao qué ella
irada Respondeu, Se vós tornaes a Ser Imperador Cortados tenha eu os dedos
por aqui, / apontando na Rais dos dedos, / Com que eu o pam amaçar, Se eu tal fizer
Emfim Constrangida do Marido, amaçou o pam, mas Como foj de má von[-]
tade, deitando[-]se Com os Seus dedos Sános, Se levantou Sem elles, e Cortados
por onde ella os tinha signalado. Asim o Conta o Padre Manoel Fernandes,
Alma instruhida tomo 2º folhas 914. e Asim Sabe Deos Castigar-
a quem não quer Servir nesta festa, tanto do Seu agrado.
Tãobem hé digno
de memoria a munta gente que morreo desta Villa ao desamparo, e fugida
no anno de 1589, Pelo mes de Junho fugio toda a gente desta Villa para os Mon[-]
tes, e Cerra de Cintra, e Collares, onde toda morreu a fome, e ao desamparo-
Com a entrada do Draque Com 200 vellas que ancorarão, nesta Bahja em
30 de Majo depois chegou o Senhor Dom Antonio Prior do Crato, Com quinze
mil Ingleses, que todos aSolarão, esta Villa, Igrejas, e Fortaleza, e depois de
Saquear em tudo em 18 dias Se forão embora no mês de Junho. A gente toda
que fugio nenhum tornou Com vida para a terra, e morreu pelos montes,
ao desamparo.
A o C a p p i t ã o D o m i n g o s R i b e j r o d e G o uv e i a , e a Ma n o e l Te i x [ - ]
eira, e Innocencio Martins, todos desta Villa, deve esta terra e freguezia huma
eterna memoria pelo munto que trabalharão, e o incansavel zelo que mostra[-]
rão nas obras da Fabrica desta Igreja da freguezia, des annos em que o Santi-
ssimo esteve na Capela do Socorro, e durarão, as obras, não Cesarão de as aplicar Com
Cuidado, e fazer acabar Com deligencia, que tornou a vir o Senhor para a fregue[-]
zia em 21 de Dezembro de 1681 livro desta dita freguezia tomo 4º folhas
Ultima.
Em Vespora de São Bento todos os annos Vem os Salojos do Lugar da Torre
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Torre, guardar de noute Com Caxejras, dardos, paus a Ribejra desta Villa, e es[-]
tão nella velando toda a noute. Hé munto antigo isto, e os Rapazes que-
São terriveis lhes fazem muntas peças, em que há munta Seixada, e panca[-]
das as vezes. Hum Mejrinho que para isso entre si tem ellegido, os multa, Se
faltarem, e estas multas, e Condenaçoens dos que faltão as Comem depoes em huma
merenda que fazem . Foj origem disto o Seguinte. Antigamente ninguem
queria morar da parte de Cá a borda do Mar, nem ahinda os Lavradores.
querião habitar nesta parte junto do Mar, e a Rezão era por medo dos Mou[-]
ros que lançavão gente em terra, e os Captivavão, Como em Vespora de São
Bento havião feito na Ribejra . Vendo o Senhor Donatario que as terras
de junto ao Mar Se não Cultivavão por este medo, e que os lavradores pa[-]
gavão mal a jugada de 16 alqueires Cada hum, mandou[-]lhes que habita-
sem as terras junto ao Mar, e que lhes tiraria a metade da jugada que
erão 8 alqueires, Com Condição que Havião na Vespora de São Bento, vir
a Velar a Ribejra, por Ser o dia em que os Mouros tinhão vindo a Cascaes.
Aceitarão a Condição, os da Torre, Cobre, Birre, e outros, e vierão habitar,
e lavrar as terras desta parte Cumprindo a Condição da Vella, e pagando
Somente 8 alqueires de pam dos 16, porem os mais que não quizerão; Como
os da Biscaja, e outros pagão ahinda a penção dos 16 alqueires, e outros
tem diverso Contrato, em que vão em outro dia Velar a Cintra, o qual me não per[-]
tence dizer.
A o V i g e s s i m o Te r c e j r o I n t e r r o g a t o r i o , S e H á n a t e r r a ,
ou perto della alguma fonte, etc. Se Responde que toda a terra hé muj falta
de fontes, e de agoas. Tinha Sim huma Copiosa fonte de que todo o Povo bebia,
porem esta por humas minas, que lhe derão na Maj para que melhor bro[-]
tase, a deitarão a perder Com que vejo a faltar : Comummente Se Seca ,
desde Julho thé Novembro, e torna a então a Rebentar, e hé perda grande,
porque a agoa , hé a mais celebre que Se podia excogitar, e em Remedio
tem varios posos, e Noras; porem Sempre Se padece munto Com esta gr-
ande falta, Remedeja a Cisterna da Cidadela a huns; a fonte de Santa Clara
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Fortaleza , Ser vindo huma Bataria que Cahe, Sobre a Ribejra desta Villa
d a S e r v i d ã o p a ra a dit a For t al ez a , e p egan do C om a s S u a s mu ral h a s
outra Bataria, para a parte do Mar, e destricto pela parte da Terra / da Er[-]
mi d a d e S ão Seb asti ão, v indo a fe char, a dit a Ci d ad el a C om a p or t a-
p a r a d e f r o n t e d a I g r e j a M a t r i s d e s t a f r e g u e z i a d e q u e S o u R e j t ó r.
Em a dita Cidadela, e Fortaleza há mais de 30 peças Cavalgadas de bronze,
e de ferro, e muntas mais que não estão Cavalgadas por falta de Reparos.
Tem mais a Cidadela hum Edificio de Hospital para nelle Se curarem os Me[-]
litares da Guarnição desta Praça que tãobem padeceu Ruinas no Terre[-]
moto, e para a Ser vidão dos doentes deste Hospital , tem huma Cisterna
a qual tão bem padeceu Ruinas no Terremoto que não Recebe agoas. No
m e jo d a P raça d a dit a Ci d ad el a t em outra Ci st erna fund ad a em nov e
Collumnas, que Como a Cituação della, hé mais Subterranea, não pade[-]
ceu Ruina, e Conserva alguma agoa, e por não Receber os aquaductos, que
p a ra e l l a C o r re m e x p e r i m e n t a a f a l t a d e a g o a , t e m C a p e l a s p a ra o s
D ivinos of ficios huma na Fortaleza que esta demolida como já Se dise,
e outra Ermida na Cidadela Como já Se dise, Com Seu pulpito, e na San[-]
christia huma especial escada, que Sobe para a Tribuna, Com tal arte fei[-]
t a , q u e S e n d o d e p e d ra , e st á t o d a S u sp e n s a n o Ar. C o m a d m i ra ç ã o .
Nos quatro Angulos desta Cidadéla , Se achão quatro quartos de quarte-
lamento para os Soldados, hum intitulado de Santo António, outro
d e S a n t a C a t h a r i n a , o u t r o , d e S ã o L u i s , e o u t r o d e S ã o Pe d r o , e m
todos Se numeravão outenta, e outo quarteis, dos quaes se acha, a ma[-]
jor parte arruinada pelo dito Terremoto, e alguns de todo em terra. Tem
m a i s e m S i d e z a s e i s q u a r t e i s g ra n d e s p a ra O f f i c i a i s n o Te r ra p l e n o ,
que Corre do Baluarte da parte do Nascente para o da parte do Poente.
Contem em si Cavalharices para huma Tropa de Cavalos que já aqui ex[-]
istio algum tempo, e varios Armazens, e Cazas, Con todas as Officinas para
hum Governador, que tãobem se achão arruinadas, e toda a Circunferencia
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
C i n c u n f e r e n c i a d a s Mu r a l h a s d a d i t a C i d a d e l a , n ã o e x p e r i m e n t o u
Ruina , Se não nas Guarit as qu e quase to d as Cahirão. Tem Seus fo s o s
ahind a qu e nã o p o d em Re c eb er a go a do Mar. A Referi d a Ci d ad el a do
C o rd ã o p a ra S i m a e st á a h i n d a i m p e r f e i t a , p o i s l h e f a l t ã o o s p a ra [ - ]
peitos, em a altura necesaria , e as Canhoejras Segundo a Arte da
Arquitetura Militar.
A o V i g e s s i m o S e x t o I n t e r r o g a t o r i o , Se
padeceu alguma Ruina no Terremoto de 1775, etc. Se Responde que a Villa toda fi[-]
cou arruinada athé o chão. Não há casa, que ou não Cahise em terra, ou não ficase aba[-]
lada, e ameaçando Ruina. Os templos, a Ponte, a Cidadela, e Seus quarteis, tudo está
demolido, e feito em pó. A major parte da Villa habita ahinda em Barracas fora e
dentro de destricto, a Ponte está Com hum Só Arco em pee, e Se não passa por ella, e tu[-]
do em a ultima Ruina, Sem que Se Reparase ahinda nada, Somente algumas Cazas
Se tem levantado, poucas, ao mesmo tempo, que outras, Com as tempestades, e Ventos, Se
tem acabado de postrar. Está esta Villa Sem Relogio, porque este, e Sua grande
Torre feita pelos Mouros, que Se fes em cinzas. O Palacio dos Marquezes de Cascaes que
era de huma excelente prespetiva, e de exquisitas pinturas, Com huma bella Ermida
desconhece[-]se tudo pelo que foi, e já não hé. As Ruas huns montõens de pedras, e de
calicês, Sem Signaes de que fosem Ruas. finalmente não hé Cascaes, e esta fregue[-]
zia, hé o não Ser de freguezia, e de Cascaes, o que Se vé.
Ao Vi ge ssi m o S e p t i m o
Interrogatorio, E tudo mais que houver digno de memoria, etc. Se Responde ulti[-]
mamente que nesta freguezia, há alguns Morgados dignos de que Se faça delles
memoria, Como hé o Morgado dos Falcoens Com as cazas, e Ermida de Nossa Senho[-]
ra da Nazareth donde está prezentemente o Sacramento, que Serve de fregue[-]
zia Como já Se dice nas Courelas O Morgado de Nossa Senhora do Rosario Com mun[-]
ta fazenda que tem, athé por Xelejros, de que parte, anda Subnegada, e perdida e aCa[-]
badas as Vocações destes Morgados Vão a Misericordia desta Villa.
Tem tãobem
esta Villa as Cazas de Sua Magestade na Praça pertencentes ao Excelentissimo
Marquês General, donde Residião, os Coroneis do Regimento, porem todas estão,
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
Tem Tãobem a Caza dos Mareantes hum pervilegio, asim Como o de Setubal, e Pe[-]
niche, Confirmado ultimamente por Provizão Sua Real do Senhor Rej Dom Jo[-]
ão o 5.º para que de Seus maritimos Se não possa nunca fazer Soldados para
a India. Porem tem obrigação de darem nas oCasiois, que as Naus vão para India
todos os annos, hum Soldado, ou de o pagarem a dinhejro que São quarenta mil Reis, e es[-]
ta ultima hé a que Commumente Se faz. Tudo que pescão em os Domingos, e dias
Santos e o que Cahe em huma Rede, que Cada barco leva, hé obrigação de Ser
para a Caza de São Pedro Gonçalves, e Suas obras, por Ser asim Concessão do Papa
Paulo 5.º e juntamente para a Sua Canonização, Como Consta da Chronica de São
Domingos tomo 1.º livro 4.º capitulo 30 porem não Sei Se isto Se observa Como
deve Ser.
Não hé pequenna grandeza desta Villa, e desta freguezia, e de Seus na[-]
turaes, Ser / quem desCobrio toda a pedra, para a grande Fabrica de Mafra /
hum Nacional della, o mais inSigne Mestre de pedreiras, e Conhecimento de pe[-]
dras, foi o famoso Barambilha, natural desta terra, chamava[-]se este Antonio
Martins o Barambilha, perspicâs Aguja, em ver as pedras, e Suas belas Cores
debaixo da terra. Todas as mais preciozas que Se admirão na Magnifica obra de
Mafra, forão descobertas pelo engenho, e experiencia deste Sabio Mestre. A
branca, a preta, a azul, a amarela, e outras de varias, e admiraveis Cores mistu[-]
radas, que tudo Se deve ao Conhecimento, e sciencia deste destro desCobridor
da Natureza. O mundo o admira naquella Outava maravilha do Orbe, porem Cas[-]
caes o Celebra neste Seu unico filho com que Se honra.
A
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
A este Se pode ajuntar Sem escrupulo hum Religioso Carmelita descalso, filho
desta terra Como prenda de Ser o mais famigerado Pregador dos Seus tempos
em Portugal, chamou[-]se este o Padre e Frej Lazaro de Christo Thjo do Coronel
Pantaleão Tejxeira , e Vedór Geral Thomas Tei xeira , de qu e ja Se falou
o qual Padre faleceu em lisboa no Convento de Corpus Chrjsti no anno de 1695
Sendo aqui Prior de Cascaes. Este grande Sujeito pois foj o aSombro da pre[-]
dica em Portugal , e na Bahja , onde alguns annos existio. Concorreo em
muntas ocaziois Como Mestre dos Pregadores o grande Padre Antonio Viejra que gosta[-]
va munto de o ouvir, que nunca lhe escapava Sermão Seu Se o podia ouvir. Dizia que
Só o Carmelita lhe enchja as medidas, e era digno de Só sobir ao pulpito. E basta[-]
va este elogio deste monstro da predica grande para Cabal Satisfação de qual-
quer duvida Se a houvera. Na de Bahja dura ahinda o Seu nome, e a Sua fama, e em
todo o Portugal, e na Sua Religião não Sahjrá jamais da memoria dos homens.
Deu ahinda mais Cascaes na jurisprudencia hum inSigne Menistro na pessoa
do Doutor Simão Franco, Menistro Sabio, e integerrimo, muj Virtuoso, e mu-
nto mais escrupuloso. Teve varias Iudicaturas que ocuppou, e Servio Com Sin[-]
gular aplauso, e por ultimo foj Provedór da Comarca de Vianna do Minho, e fale-
ceu nesta Sua Patria, enterrando[-]se na Sua Capela de Santa Anna do Con[-]
vento da Piedade dos Carmelitas descalsos desta freguezia , e Villa .
Tem
este Povo hum Onus que não hé pouco Custoso para elle, porem hé Só da
Ponte para Cá, e não da outra parte d’alem, e hé que ninguem pode Cozer
o pam em Caza nos seus fornos, Se não que estão obrigados todos os ditos a coze[-]
rem o pam dito em os fornos do Marqués, Senhor da terra, e Se alguem o quer
Cozer em Caza paga por Cada Cabesa tres tostõis por anno, e pelos meninos
a metade, ou aquilo em que Se ajustão Como Rendejro que tras a Renda: os da
outra banda pagão o Outavo, e por isso não tem a Carga dos fornos, porem hoje
o Costume hé Só pagar treze Reis por alquejre.
A forma que Se observa aqui
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
Aqui nesta terra em meter Pilotos nas Naus, e Embarcações que entrão, hé que
a metade do lucro, e estipendio, hé para o Piloto que Se mete, e a outra ame[-]
tade hé para toda a Companha, em que tem major quinhão quem hé Senhor
do Barco, porem tem alternativa Com os Pilotos de Lisboa na Ocazião em que
entrão as Frotas, etc.
An t i g a m e n t e n ã o e ra a g e n t e d e s t a t e r ra m u j i n c l i n a d a
a dar os filhos para Deos, e por iso havia poucos clerigos, e Frades na Villa, todo o Seu Cui[-]
dado, era aplica[-]los ao trafego do Mundo, e a Embarcar para os Brazis. Em huns Ser[-]
mões que lhes pregou hum Religioso Carmelita descalso em huma Quaresma, lhes ponde[-]
rou a materia Como devia, e quão bom era dar Seus filhos para Servir a Igreja
que de antão para Cá, São tantos os Clerigos, e Religiosos filhos desta terra que hé
hum louvar a Deos: Caza há que teve tres filhos clerigos, e Religiosos. São poucas
as Religiõis que os não tenha. Carmelitas Calsados e descalsos, Lojos, Dominicos,
Paullistas, Agostinhos descalsos, Franciscanos, Antonios, Padres da Compa-
nhja etc. que todos aCreditão a Patria no munto que Servem a Deos, e as Suas
Religiõis, Como tãobem muntos de Seus Pajs, e parentes Condecorados os pei[-]
tos, Com os Habitos de Christo, havendo Caza, em que Se achavão tres juntos,
e foros de Fidalgos.
Mas o que Mais Ser ve de Credito excessivo a esta terra
e Seus moradores, hé, que foram elles os que acharão no mar aquella Sagrada Imagem
da Senhora da Graça, que Se venera em Lisbo[a] no Templo dos Religiosos Gracia[-]
nos da Ordem de Santo Agostinho Calsados. A Cascaes devem estes Padres
tão glorioso achado, porque os Cascarejos descobrindo esta perola do Mar. Pelos
annos de 1362 andavão os de Cascaes em hum barco em Vespora de Nossa Senho[-]
ra da Asumpção pescando, Cujo lucro, tinha a Sua devoção aplicado, para o cul[-]
to, e Veneração da mesma Senhora, que era o Orago desta Sua Freguesia.
Estendidas Suas Redes no Mar, e querendo já pucha[-]las aSima, em Suas ma[-]
lhas acharão aquela Estrela do Mar tão fermosa, e Colhida aquela Perola
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
Perola Divina em Suas Redes, Atonitos Com tão Celestial Prodigio, abordarão
a Ribejra desta Praja, e Começarão a Consultar o que se devia fazer do Celes[-]
te achado. Havendo varios pareceres enContrados, Se achava entre a multidão
da gente que Concorreu a praja, huma menina de peito ao Collo de sua Maj, a qual
antes de Ser tempo de fallar proferio estas palavras claramente, / que disfizerão
a Contenda / Esta Senhora quer que a levem ao Convento dos Seus Frades.
Não havia então ahinda Convento nesta terra algum, Com que alcançarão
que Só podia Ser em algum Convento de Lisboa. Fizerão logo huma Porcissão
para Lisboa, e Sem Saberem quem os impelia para a Graça, entrarão no Con[-]
vento de Santo Agostinho, e entregarão aos Religiosos a Sagrada Imagem,
onde thé ao presente Se venera Com os Cultos das majores Venerações. Asim se
lé este prodigio no livro intitulado Iman Espiritual, atractivo dos Coracóis, pe[-]
lo Padre Frej Jose de Santo Antonio Commissario dos Tercejros Augusti[-]
nianos na dedicatoria do livro impreso em Lisboa em o anno de 1726.
Nesta te[-]
rra Se uzou munto tempo dos nomes de Adão, e Eva, Varias pesoas anti[-]
gamente Se chamarão Evas, e hum Carpinteiro Se chamou Adam Duarte,
hum Çapateiro Adam Gonçalves, e outro Homem appelidado Adão George li[-]
vro 2º dos baptizados folhas 53 e 52 a c 63 Venerando nisto aquelles nossos
primejros Pajs do Paraiso.
Há mais de notar nesta terra, e freguezia huma escada
que desce do Caminho de Santa Martha, e o que há que notar nella, hé, que Sem[-]
do tão levantada, e ao pino, desceu por ella abaixo a Cavalo huma tarde o Senhor
Infante Dom Francisco, não Se querendo apejar, temerario aRojo, mas afor[-]
tunado Suceso! Ditosa escada, que bem hé que fique na memoria esta desci[-]
da, para que a escada Suba em louvores athé as nuvens; e aqui ao pee da Er[-]
mi d a d e S ant a Mar tha , e st á hum for t e d a S ant a qu e t ã o b em Se a cha
aRuinado o Corpo da Guarda delle, como tãobem tem Ruinas o Forte da Guja
interiormente que esqueceu dizer, e não há mais Forteficacois do que as ja ditas
184 185
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
186 187
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO
CASCAIS
Ne s t a V i l a h á O uv i d o r p o z t o p o r P r o v i z ã o d o Ma r q u e s
e Cascais por tempo de 3 anos; o qual Com a Camera, e pesso[-]
as da Governança faz os pellouroz das Justissas que o mes[-]
mo Ouvidor Confirma e dá o juramento por Ordem do dito Mar[-]
ques que hé Senhor Donatario della, e lhe dão todoz oz anos hum
jantar a que chamão Colheita que consta de trinta e Sette
alqueires e meio de trigo, hum tonel de Vinho, huma Vaca
Seis Leitoins, Seis Carneiroz, duzentos O vos, Seis Cabrittos
dous Morroins, Sessenta Galinhas, hum alqueire de Mel, e ou[-]
tro de Manteiga e 1200 Reis para Sebollas, alhoz, Vazoz de pau
e de barro, e tudo se Reduz a dinheiro pelloz pressos que Correm
na terra todos oz anos alem desta Se lhe dá mais Seis moios
de Sevada em especie e para isto pagão todoz oz moradores da
terra, e pessoas que della Recebem fructoz Sem embargo de qual[-]
quer prevelegio.
O Ouvidor toma Conhecimento de todaz az
Apellacoins Siveis e Crimes, que vão doz Juizes Ordinarioz toma
tão-bem Conhecimento de acçoins Nóvas na forma daz doaçoins
de Sua Excelencia e tem de Ordemnado Vinte mil Reis que lhe
dá o mesmo Marques e tão-bem este dá oz officioz de Ezcri-
Vains do Geral e Tabaliains, que São dous, o officio de Ezcri-
Vão da Ouvedoria, oz officioz de partidores doz Erphoens, que
tão-bem São dous, e o de alcayde do Geral que hé hum Só
etc.
1
Entre os fólios 1174 e 1175 encontra-se um fólio sem número que se transcreve. No topo consta:
pertence a Cascaes.
188 189
PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
1
IAN-TT/Memórias paroquiais/Ressurreição de Cristo. No topo do fólio: 1205. Esta paróquia
corresponde aos fólios 1205 a 1214.
2
A tinta do manuscrito corroeu o documento que entretanto perdeu parte da margem inferior.
Socorremo-nos, quando necessário, da transcrição de Ferreira de Andrade, por na época o
estado de conservação do manuscrito ser superior.
190 191
PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
192 193
PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
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PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
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PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
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PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
200 201
PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
G o v e r n a d o r d a To r r e d o O u t ã o e m S e p t u v a l .
Pant eleão Teixeira Leal coron el na cidade de Faro,
Cavaleiro profeço na órdem de Christo.
Semeão Porto capitão de mar, e guerra da Coroa, e foi
informante fazendo as vezes de Coronel do mar, Ca-
valeiro Fidalgo da Caza Real.
Duarte Pereira, Capitão de mar, e guerra da Coroa, e
profeço da ordem de Christo.
Todo s est es foram naturai s d esta v i la insign es em
armas, e com o seu valor, e esforço obrarão proezas
com que merecerão os postos, e honrras que lograrão.
ao 19. Nam ha feiras nesta Vila.
ao 20. Nam ha correyo, e se servem de huns Recoveiros que cos-
tumão ir a Lisboa, e dista esta vila do Correyo de Lisboa
sinco legoas.
ao 21. Dista esta vila da Cidade de Lisboa Capital do Patri-
archado, e Reyno sinco legoas.
ao 22. Na m t e m p re v i l e g i o , n e m a n t i g u i d a d e a l g u m a di -
gna de memoria.
ao 23. No Esturil t ermo desta vila , e desta Fregu ezia di s-
tant e hum quar to de legoa ha humas caldas, onde
pelo verão vam muntas tomar banhos, e expremen-
tam milhoras por serem as agoas munto exp eciai s
principalmente para queixas do Figado.
Ao 24. Tem esta Vila porto de mar, com tres prayas junto a ela
a p r i m e i ra e p r i n c i p a l h e a d a R i b e i ra o n d e v a m
portar todas as embarcaçois da terra, e ainda de fora
p o r s e r a p ray a m a i s e x t e n ç a , e j u n t a m e n t e p o r
estar ahi o Corpo da guarda, do qual os Millitares vão
Registalas, não tem Reducto algum por arte, ou na-
turez a , n em m o do d e abr i go p ara a s emb arca ç õ i s
se concervarem no mar ; o qual he aspero principal[-]
mente havendo qualquer vento mais forte - As embarcaçois
202 203
PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
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PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
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PARÓQUIA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
CASCAIS
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PARÓQUIA DE SÃO VICENTE DE ALCABIDECHE
Te m o s lu ga re s a n e xo s a ditt a f re -
guezia sam os seguintes.
1
IAN-TT/Memórias paroquiais/São Vicente de Alcabideche. No topo do
fólio: 493 N 70 . 2ª termo Cascaes C. T. Vedras Alcabedeche. Esta paróquia
corresponde aos fólios 493 a 499.
210 211
PARÓQUIA DE SÃO VICENTE DE ALCABIDECHE
212 213
PARÓQUIA DE SÃO VICENTE DE ALCABIDECHE
214 215
PARÓQUIA DE SÃO VICENTE DE ALCABIDECHE
Al c o y t ã o t e m q u a re n t a , e d o i s h o m e n s
digo fogos secenta homens, e cecenta huma
mulheres.
216 217
PARÓQUIA DE SÃO VICENTE DE ALCABIDECHE
218 219
PARÓQUIA DE SÃO VICENTE DE ALCABIDECHE
7º He o s e u o ra g o S ã o Vi c e n t e t e m o Alt a r
mor, o de São Sabastiam o do devino Espirito Santo,
o do Senhor Jezus, o da Senhora do Rozario e
o das Almas, e da Senhora da Apsuncam, tem
as Irmandes do Sacramento, e das Almas e do Roza[-]
rio as demais sam Confrarias.
13
14 Disse a estes dois, em os lugares asima di[-]
ttos: e tem neste lugar de Alcabideche a festa
do Espirito Santo, e o siro da Senhora da Con-
ceyção que o festejão as pessoas que vem de
Lisboa.
220 221
PARÓQUIA DE SÃO VICENTE DE ALCABIDECHE
17
18
19 Não tenho que dizer a este interrogorio
20
21 D i st a e st e lu ga r si n c o l e g o a s a c i d a d e
de Lisboa
22 Não me consta que tenha privilegio algum
23
24
25 Não tenho que dizer
222 223
PARÓQUIA DE SÃO DOMINGOS DE RANA
1
IAN-TT/Memórias paroquiais/São Domingos de Rana. No topo do fólio: N.º 10 Rana. termo de Cascais R41. Esta
paróquia corresponde aos fólios 41 a 42.
224 225
PARÓQUIA DE SÃO DOMINGOS DE RANA
226 227
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS
CARCAVELOS
IAN-TT/Memórias paroquiais/Nossa Senhora dos Remédios. No topo do fólio: N. 9 128 833. Esta
paróquia corresponde aos fólios 833 a 835.
228 229
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS
CARCAVELOS
C o m o t i tu l l o d e N o s s a S e n h o ra d a s D o re s o u -
t ra d o S a c ra t a r i o Jo a c h i m Mi g u e l L o p e s d a L a -
vra Com o titullo de Santo Antonio outra de Antonio
Guerce Com o titullo de Nossa Senhora do Loréto e tó-
d a s e st a s Ir m i d a s e st ã o c o l l o c a d a s n a s m e sm a s
quintas
14 Não tenho que dizer
15 O s f r u t o s d a t e r ra e m m ay o r a b u n d a n c i a s ã o v i -
nhos
16 está sugeita a dita terra a Camera da Villa de Cas-
cais
17 Não tenho que dizer
18 Não tenho que dizer
19 Não tenho que dizer se não que a outo de Setembro tem
t re s d i a s d e f e i ra p o re m p a ra e l l a n ã o C o m c o r re
mercancia alguma
20 Não tenho que dizer
21 Dista da Cidade de Lisboa tres legoas
22 Não tenho que dizer
23 Tem no meyo do Lugar hum chafaris de agoa corren-
te todo o anno
24 Está afastado do mar quazi hum tiro de pessa
25 Hé o dito Lugar Sercado todo de quintas que por to-
das são doze huma do[s] Reverendos Padres da Companhia do
Maranham outra do s d a P ro v in ci a d a G o a outra
de D[ona] Joanna Tareza outra de Rodriguo de Sandre
outra do Sacratario de Guerra Francisco Xavier da Me-
llo outra de Antonio Guerce outra de Luis Caetano
outra de Francisco Xemendes outra do Sacratario
ultramarino Joachim Miguel Lopes da Lavra outra
de Francisco Manoel Marins outra de Dona Cate-
rina do Pillar outra do Excelentíssimo Marques de
Imgeija todas a mayor Colheita são de vinhos ex[c]elentes
230 231
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS
CARCAVELOS
232 233
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO
OEIRAS
Eminentíssimo Senhor
1
IAN-TT/Memórias paroquiais/Nossa Senhora da Purificação. No topo do fólio: N 8 Oeiras 75. Esta paróquia
corresponde aos fólios 75 a 81.
234 235
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO
OEIRAS
de Torres Vedras.
6. Está a Parochia no Lugar de Oeiras, e logo ao principio delle.
7. He o Orago da freguesia Nossa Senhora da Purificação, tem nove altares
o altar môr dedicado a Senhora da Purificação, e pela parte do Evangelho tem
o Altar do Santo Christo, o do Senhor dos Passos, e tem Irmandade; o da Senhora da
Atalaya, que tãobem tem Irmandade o da Senhora do Rozario: pela parte da Epis[-]
tola o de São João Bautista, o da Senhora da Piedade o de São Sebastião, e
o das Almas, que tem Irmandade: he toda de excellente pedraria de di[-]
versas cores, feita ao moderno, bem apainellada, e sem naves.
8 O Parocho he Cura, que aprezenta o Reverendo Prior, e Beneficiados de São
Lourenço da Cidade de Lisboa, não tem de Rendimento Certo maes, que
huma pipa de Vinho, e trinta alqueires de trigo, que lhe dão os Reverendos
Prior, e Beneficiados, e o mais he somente o que rende o pé d’altar.
9 Não tem Beneficiados: mas ao prezente tem sinco Capellães.
10 Na há na freguesia maes que o Convento dos Monjes de São Bruno; e não tem Padro-
eiro; mas fundousse com esmollas de alguns bemfeitores.
11 Há hum Hospital administrado por tres homens, que annualmente se
elegem pelo povo, e tem Renda, que são foros, que todos os anos cobrão, – 9$600 reiz.
12 Não tem Caza de Mizericordia.
13 Há nesta freguesia doze Ermidas a de Nossa Senhora da Conceição, adminis[-]
trada pela Irmandade da mesma Senhora tem tres altares, o da Senhora, o de Santo
Amaro, e o de São Mamede, e esta com roina por cauza do terramoto
236 237
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO
OEIRAS
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PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO
OEIRAS
240 241
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO
OEIRAS
Ne st a t er ra n ã o h a S er ra , n em c ouz a al guma , qu e
pertença aos interrogatorios escritos neste parrafo, de que possa dar
Conta.
242 243
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO
OEIRAS
244 245
PARÓQUIA DE NOSSA SENHORA DA PURIFICAÇÃO
OEIRAS
maior de todas neste Lugar de Oeiras toda de Cantaria com hum grande
arco, e dá passo para a Villa de Cascaes: A quinta neste mesmo Lugar,
p e l a q u a l S e p a s s a p a r a a Fo r t a l e z a d e S ã o J u l i ã o d a B a r r a .
16 Tem este Rio em todo o seu comprimento quatorze moinhos de farinhas
nenhum de azeyte, nem pizões, e só huma nora, que rega hum pumarinho, jun[-]
to á ponte de Oeiras.
17 Não ha memoria, que se tirasse Ouro nas Margens deste Rio.
18 Todos os povos dispersos pela distancia do Rio uzão Livremente de suas agoas,
com que fertelizão os Campos, e frondozos pumares, que em todas suas margens
se divizão, e sem penção.
19 Tem o Rio tres Legoas de Comprido, e passa por doze povoações: tem
principio no Lu gar, ou font e D’a m é Mar tins, p as sa p or Fanare s d e
B a i xo , Al m a rga , R i o d e Mo u r o , A d o s Fra n c o s , Ai sf a m i l , Q u e n e n a ,
A s B a ra n d a s , A R i b e i ra ; A L a g e , O e i ra s , e e n t ra n o m a r j u n t o a o
do Arieiro.
20 N ã o h a C o u z a n o t a v e l , q u e m a i s p o s s a d e c l a r a r, p e r t e n c e n t e a
este Rio, e de que possa dar conta a Vossa Eminência a quem pesso a Deus guarde
muitos anos.
Oeiras 10 de Abril de 1758.
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CASCAIS EM 1755 DO TERRAMOTO À RECONSTRUÇÃO
SANTA CASA
DA MISERICÓRDIA
DE CASCAIS
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
Dom Jozé por graça de Deos Rey de Portugal , e dos Algar vez
d[’]aquem, e d[’]alem mar, em Africa Senhor de Guiné etc. Faço saber que
o P r o v e d o r, e m a i s Ir m ã o s d a S a n t a C a z a d a Mi z e r i c o rd i a d a Vi l l a
de Cascaes, me reprezentarão por sua petição, que por cauza do terremo-
to do primeiro de Novembro de mil setecentos, sincoenta, e sinco, se a[-]
ruinara o Cartorio da mesma Santa Caza , e com as chuvas se damnifi-
carão muito os papeis, titulos, e documentos, que nelle havia, em forma,
que para o fucturo, ou se poderião consumir, ou se não poderião ler, e se
faria precizo tresladarem[-]se em publica forma, e como os treslados não
tinhão aquella fé, que tinhão os originaes, e os Suplicantes pertendião
que os mesmos treslados em publica forma , e conferidos com outro Ta-
b ali ã o tiv e ssem a m e sm a fé, qu e tinhã o o s ori gina e s e f i ca ssem C om
a m e sm a auth or i d a d e , o qu e n ã o p o di ã o c on seguir sem pro v i z ã o . Me
pedião lhes fizece merce Conceder[-]lhes a dita provizão na forma, que su-
plicavão, E visto o que alegarão, e informação, que se houve pelo Corre-
gedor da Comarca de Torres Vedras, e Resposta do Procurador de minha
R e a l C o r o a , a q u e m s e d e u v i st a , e n ã o t e v e d uv i d a . He y p o r b e m
Fazer merce aos Suplicantes de lhes conceder a faculdade, que pedem ,
sem embargo d e qual qu er l e y, qu e haja em c ontrario; E e sta prov i zão
se cumprirá Como nella se contem . De que se pagou de novos direitos
quinhentos, e quarenta reis, que se carregarão ao Thezoureiro deles a folio 265
do Livro terceiro de sua Receita, e se registou o Conhecimento em forma
no Livro decimo setimo do Registo geral a folio 156 verso. El rey Nosso
S e n h o r o m a n d o u p o r s e u e xp e c i a l m a n d a d o p e l l o s Me n i stro s ab ai xo
asinados do Seu Concelho, e seus Dezembargadores do Paço. Thome Lourenço de
Car valho a fez em Lisboa a vinte de Julho de mil setencentos, sessenta ,
e quatro annos, desta quatroCentos, e outenta reis, e asinar outros outoCentos reiz
1
AHSCMC/SCMC/A/A/02/Cx 02 - 018. Provisão de D. José, de 1764, autorizando que todos os papéis antigos do cartório da
Santa Casa da Misericórdia de Cascais se trasladem em pública forma e se revistam de valor probatório, à semelhança dos
originais que se encontram em risco de perda na sequência do terramoto de 1755.
250 251
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
Senhora
1
AHSCMC/SCMC/A/B/02/Cx 02 - 007. Petição, de 1782, enviada pelo Provedor e irmãos da Santa
Casa da Misericórdia de Cascais a D. Maria I pedindo autorização para possuírem na igreja da
mesma sacrário e âmbula com os santos óleos da unção, a fim de assistirem aos doentes do hospital
da Santa Casa. Refere-se ao terramoto de 1755.
252 253
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
254 255
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
256 257
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
No cazo, que se me
propoem, a respeito de dever, ou não; a Santa Caza da Mizericordia da
Vila de Cascaes continuar a fazer a Procissão dos Passos, a qual
se não fez por muitos anos depois do Terramoto de 1755; e só à trez anos
hé que se continuou a fazer, em que se gasta o maior de 200.000 reis:
Sou do parecer, que se deve suspender por ora na factura da dita
Procissão, visto que a Santa Caza tanto não tem possibilidades para
isso, que antes se vai empenhando cada vez mais com a sua despeza
por ter tido huma grande perda nas rendas, com as muitas Cazas, que se
arruinàrão pela occazião do dito Terremoto, de que se lhe pagavão fóros,
e pela reducção, que tiverão os juros de 6, e 4.º por 100; con-
correndo tãobem o ter-lhe cahido a Igreja, e mais Officinas pela
occazião do sobredito Terremoto, tanto assim, que para as poder reedifi-
car, ou reparar, foi necessario recorrer à Sé Apostólica, para reduzir as
Capelas, e obrigações de Missas à ametade por tempo de 10 annos,
applicando-se a outra ametade para o reparo da dita Igreja; e por não ter
sido bastante; como hé notório, se mandou vir da mesma Sé Apostólica pro-
rogação da dita Graça por mais outros 10 anos E assim como por
cauza de necessidade, e falta de possibilidade se achão suspensas a ameta-
de das Missas das ditas Capelas, sendo estas de obrigação, pois deixadas
pe[-]
1
AHSCMC/SCMC/G/A/05/Cx. 01 - 001. Parecer de 1786 produzido para a Santa Casa da Misericórdia
de Cascais relativamente à suspensão da procissão do Senhor dos Passos devido à falta de verbas, em
consequência dos danos provocados pelo terramoto de 1755.
258 259
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
260 261
SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE CASCAIS
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