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3 3
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621 INTRODUÇÃO
63 As equipes de profissionais brasileiras que atuam na manutenção dos recursos
64Communications, Navigation, Surveillance / Air Traffic Management(CNS/ATM) e na
65infraestrutura dos sistemas de navegação aérea, a fim de mantê-los disponíveis e
66confiáveis para a atividade de controle de tráfego aéreo e para o serviço de navegação
67aérea, raramente são objetos de estudos e pesquisas, principalmente, no que concerne
68aos fatores humanos que afetam o exercício das atividades destes indivíduos.
69 No Brasil, estes profissionais são constituídos em sua grande maioria por militares
70do Comando da Aeronáutica, os quais conforme a DCA 66-3 (2017)e a DCA 66-1 (2018)
71são os técnicos responsáveis por executar a manutenção de equipamentos do Sistema de
72Controle do Espaço Aéreo Brasileiro(SISCEAB) (BRASIL, 2017, p. 36; BRASIL, 2018, p.
7323).
74 Nos Estados Unidos da América, estes profissionais são conhecidos como Airway
75Transportation System Specialist (ATSS), uma vez que são responsáveis pela
76manutenção dos equipamentos que conformam o National Airspace System(NAS)
77(NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2013, p. 13).
78 Segundo International Civil Aviation Organization(ICAO) (2016) os especialistas
79que atuam na manutenção dos recursos CNS/ATM e na infraestrutura dos sistemas de
80navegação aérea podem ser denominados Air Traffic Safety Electronic
81Personnel(ATSEP).
82 Para Eissfeld e Gayraud (2015, p. 2545), a justificativa para reduzidos
83estudosrelacionados aos ATSEP pode estar relacionada à falta de homogeneidade ao
84agrupar dados sobre esses profissionais.
85 Especificamente no Brasil, para a atividade de controle de tráfego aéreo, diversos
86estudos e pesquisas sobre fatores humanos têm ocorrido, bem como são
87indubitavelmente necessários, sendo que dentre os temas recorrentes, pode-se citar a
88carga de trabalho (OLIVEIRA, 2007), a influência da automação nos órgãos de controle
89(DIRICKSON, 2016) e até estudos sobre a saúde vocal (ANGELA, KARINA, 2010),
90porém, todos estes estudos mencionados foram dirigidos aos controladores de tráfego
91aéreo (ATCOs).
92 Este trabalho visa fomentar o preenchimento desta lacuna, no cenário brasileiro, de
93reduzidos estudos sobre fatores humanos que afetam as atividades desenvolvidas pelos
5 4
6
94técnicos do SISCEAB (equivalente aos ATSEP ou ATSS) que dão o suporte para que os
95usuários do sistema de transporte aéreo realizem um voo seguro e eficiente, naquilo que
96depende dos recursos CNS/ATM e dos sistemas de navegação aérea instalados no
97território brasileiro.
98 A seguir, as principais áreas de atuação dos técnicos do SISCEAB, conforme
99Tabela 1, que, para alguns estudiosos, constata-se falta de homogeneidade da categoria,
100conforme Eissfeld e Gayraud (2015, p. 2545), quando, em verdade, são sistemas
101complexos que necessitam de profissionais especializados, com conhecimento e
102certificação, para atuar nestes recursos que compõem o CNS/ATM e viabiliza o controle
103de tráfego aéreo.
104
105Tabela 1 – Áreas de atuação dos ATSEP, dos ATSS e dos técnicos do SISCEAB.
117 Segundo Lepage (2017), oficial de ligação da International Federation of Air Traffic
118Controllers' Associations (IFACTA) na ICAO, por ocasião das comemorações do dia do
119ATSEP, no ano de 2017, escreveu: “Desde que o controle de tráfego aéreo existe, ATSEP
120e ATCO trabalham lado a lado. Sem ATSEP, não haveria controle de tráfego aéreo. Os
121ATSEP são a espinha dorsal dos nossos sistemas ATS”.
122 Considerando a criação da empresa pública NAV BRASIL Serviços de Navegação
123Aérea S.A., através da publicação da Lei nº 13.903, de 19novembro de 2019, que em seu
124Art. 8º descreve:
125 A NAV Brasil, em atendimento ao interesse coletivo, terá por objeto implementar,
126 administrar, operar e explorar industrial e comercialmente a infraestrutura aeronáutica
127 destinada à prestação de serviços de navegação aérea que lhe for atribuída pelo
128 Comandante Aeronáutica (BRASIL, 2019).
129 Esta recente criação da NAV Brasil vai ao encontro das recomendações contidas
130no estudo do setor de transporte aéreo do Brasil realizado pela Mckinsey e Company, em
1312010, para que fossem evitados que as atividades de execução, fiscalização e regulação
132estivessem concentradas em uma mesma entidade, neste caso, DECEA – Comando da
133Aeronáutica (MCKINSEY et al, 2010, p. 24).
134 Considerando também, o momento em que vive o Comando da Aeronáutica, de
135reestruturação e preparação para os 100 anos de Força Aérea em 2041 (Força Aérea
136100), uma vez que na DCA 11-45 foi delineado osrecursos humanos como item crítico,
137que influencia diretamente as organizações, na gestão de pessoal, no treinamento
138coletivo, em sistemas, em suprimentos, em equipamentos, no suporte, no comando e na
139gestão, como um todo, na FAB (BRASIL, 2018a, p. 23).
140 Isto posto, este trabalho apresenta a ferramenta Maintenance Climate Assessment
141Survey (MCAS) como uma proposta para medir clima de segurança no ambiente de
142manutenção dos recursos CNS/ATM do SISCEAB, obtendo-se, inclusive, os fatores
143humanos que afetam os técnicos do SISCEAB, principalmente neste momento de criação
144da empresa pública NAV BRASIL e de Força Aérea 100.
1452 METODOLOGIA
1462.1Recursos e métodos
147
148 Neste trabalho, que trata de uma comunicação de pesquisa, foi realizada a
149adaptação do instrumento MCAS - Maintenance Climate Assessment Survey -,
9 6
10
150inicialmente utilizado por Baker (1998) para avaliar o clima de manutenção dos
151mantenedores da aviação naval dos Estados Unidos da América.
152 De acordo com Günther (2003), instrumento e questionário são considerados
153sinônimos. Portanto, o MCAS a partir de então, será mencionado como questionário, ou
154ainda, como instrumento.
155 Günther (2003) menciona que o questionário viabiliza o levantamento de dados por
156amostragem. Sendo que survey, termo inglês geralmente traduzido como levantamento
157de dados, como “método para coletar informações de pessoas acerca de suas ideias,
158sentimentos, planos, crenças, bem como origem social, educacional e financeira”
159(GUNTHER, 2003, apud FINK; KOSECOFF, 1985, p.13).
160 Segundo Borges, Balbinotti e Teodoro (2010) uma adaptação bem feita pode
161reduzir os vieses da cultura da qual o instrumento original provém. Neste processo, foi
162aplicada a técnica de tradução reversa (back-translation), validação de conteúdo
163(BORGES; BALBINOTTI; TEODORO, 2010) e procedimentos estatísticos para
164inferências.
165 Do questionário MCAS original, utilizado por Robinson (2014), foram aproveitados
16610 (dez) questões, de forma que seus constructos se associam aos fatores humanos que
167afetam os ATSEP – o equivalente do pessoal de manutenção do SISCEAB – de acordo
168com o Doc 7192 AN/857, da ICAO de 2011.
169 As questões escolhidas foram submetidas às técnicas de tradução reversa e aos
170procedimentos de validação de conteúdo. As demais questões do instrumento MCAS não
171foram aproveitadas por serem muito peculiares e intrínsecas às atividades desenvolvidas
172na aviação naval americana.
173 Dessa forma, foram elaborados novos itens para o instrumento com vistas a serem
174aplicados ao pessoal de manutenção do SISCEAB, que atuam nos 76 (setenta e seis)
175Destacamento de Controle do Espaço Aéreo (DTCEA) e 1 (um) Destacamento de
176Telecomunicações e Satélite (DTS), distribuídos no território nacional (BRASIL, 2015).
177 Neste processo, foram elaborados 31 (trinta e um) itens do questionário, que
178também foram correlacionados com os fatores humanos associados ao pessoal de
179manutenção do SISCEAB (ou ATSEP), de acordo com o Doc 7192 AN/857.
180 Desta maneira, 41 (quarenta e uma) questões tratam exclusivamente da percepção
181do clima de manutenção, para que de acordo com Günther (2003) o levantamento de
11 7
12
Critérios * Situação
Bases conceituais e Fatores Humanos contidos no Cáp. 14 do Doc 7192 AN/857 aplicáveis
populacionais aos ATSEP (ou pessoal de manutenção do SISCEAB)
Contexto social Técnicos do SISCEAB que atuam nos 76 DTCEA e 1 DTS disposto no
território brasileiro
Estrutura Lógica 41 questões de percepção e 14 questões demográficas
Tabela 3 – HFACS-ME.
FALHAS LATENTES E/OU FALHAS ATIVAS
ATOS INSEGUROS DO CONDIÇÕES DE CONDIÇÕES DE QUEM CONDIÇÕES DA
MANTENEDOR TRABALHO EXECUTA A MANUTENÇÃO GERÊNCIA DE
MANUTENÇÃO
(Falhas ATIVAS – Ocorre (Falhas LATENTES (Falhas LATENTES – Ocorre (Falhas LATENTES
na ponta da linha, ou seja, – Ocorre no com o pessoal de – Ocorre na
na execução da ambiente da manutenção) gerência)
manutenção) manutenção)
226Fonte: O autor.
227
228 Pelo HFACS-ME pode-se perceber que as condições em que são gerenciadas a
229manutenção, bem como as do mantenedor eas do ambiente de trabalho são consideradas
230como passíveis de gerarem falhas latentes e eventuais atos inseguros do mantenedor
231como falhas ativas (SCHMIDT, JOHN K.; LAWSON, DON; FIGLOCK, [199-?]).
232 Neste sentido, os técnicos do SISCEAB podem serem analisados sob os aspectos
233HFACS-ME para verificação dos fatores humanos que afetam as atividades destes
234profissionais na manutenção, em prol da segurança da aviação.
2352.4 Maintenance Climate Assessment Survey –MCAS
236
15 9
16
237 Para Robinson (2014) o MCAS é utilizado para fornecer uma medida da
238capacidade de uma organização de conduzir operações com segurança, em termos de
239liderança, cultura, políticas, padrões, procedimentos e práticas, com foco centralizado na
240manutenção (ROBINSON, 2014, apud FIGLOCK, 2004).
241 Robinson (2014) mencionou também que o MCAS é uma das 14 pesquisas de
242avaliação de clima usadas dentro do Departamento de Defesa, dos Estados Unidos da
243América, que reserva o anonimato das respostas dos participantes, confidencialidade
244organizacional e o acesso restrito aos resultados.
245 De acordo com Brittingham (2006), a aviação naval dos Estados Unidos da
246América é uma atividade inerentemente perigosa. Praticamente todas as plataformas de
247aeronaves do inventário da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais sofreram alguma
248falha resultante de fatores como erro humano, falha de material ou erro de manutenção.
249 Ainda, Brittingham (2006), à luz das muitas demandas de segurança e relatórios
250pós-acidente, mencionou que a Escola Naval de Segurança da Aviação, da Estação Naval
251de Pensacola, Flórida, desenvolveu e implementou duas pesquisas, on-line, em julho de
2522000.
253 Essas duas pesquisas foram: a Command Safety Assessment(CSA) e a
254Maintenance Climate Assessment Survey(MCAS), que foram elaboradas para permitir
255que a Marinha e o Corpo de Fuzileiros Navais avaliassem o clima dos esquadrões de
256aviação em todo o espectro da plataforma (BRITTINGHAM, 2006).
257 O MCAS foi o foco do presente trabalho devido a sua aplicação direcionada ao
258pessoal de manutenção, conforme proposto por Baker (1998), que iniciou os primeiros
259trabalhos de pesquisa de avaliação de clima organizacional com os profissionais que
260atuavam na manutenção da aviação naval americana.
261 Conforme Brittingham (2006), os resultados do MCAS nos esquadrões da aviação
262naval americana, quando analisados e discutidos em workshops, propiciaram melhorias
263significativas no clima de manutenção, ou seja, no clima organizacional que ocorre na
264manutenção. Por conseguinte, trazendo relevantes melhorias nas condutas de
265manutenção.
266 Dentre as principais evidências dessas melhorias, destaca-se o fato de que em 99
267esquadrões da aviação naval americana que discutiram em workshops melhorias para os
268dados colhidos no MCAS, ocorreram apenas 5 acidentes, em um período de dois anos,
17 10
18
269ao ser comparados com 172 esquadrões que não discutiram os dados obtidos nos MCAS,
270uma vez que obtiveram uma taxa 67 acidentes para o mesmo período (BRITTINGHAM,
2712006, p. 15).
272 Hernandez (2001) menciona em seus estudos que o MCAS possui seu instrumento
273constituído com base no Model of Organizational Safety Effectiveness (MOSE)– Modelo
274de Eficácia da Segurança Organizacional –, cujas perguntas estão correlacionadas a seis
275aspectos deste modelo, como: Auditoria de Processos; Sistema de Recompensas;
276Controle de Qualidade; Gerenciamento de Risco; Comando e Controle; e Comunicação
277ou Relações Funcionais.
278 O MOSE foi estabelecido na aviação naval americana, para o alcance do conceito
279High Reliability Organization (HRO)– Organização de Alta Confiabilidade –, conforme
280Hernandez (2001), uma vez que a aviação naval é um HRO, organização de alta
281confiabilidade, devido a missão e os ambientes serem extremamente voláteis
282(Brittingham, 2006).
283 Segundo Hernandez (2001) pesquisas sobre HRO indicam que elas são
284organizações dinâmicas e complexas, mas não são imunes a tendências inseguras.
285Acidentes acontecerão independentemente do tamanho, estrutura e natureza de uma
286organização. Com os HROs, os acidentes tendem a acontecer com menos frequência,
287mas tendem a ser maiores quando ocorrem, menciona Hernandez (HERNANDEZ, 2001,
288apud PERROW, 1984).
289 Ao usar medidas reativas, como a análise de erros e medidas proativas para
290identificar condições patogênicas, os HROs podem trabalhar no sentido de eliminar os
291acidentes (HERNANDEZ, 2001, apud REASON, 1997).
292 Dentre os HRO, estão inclusos porta-aviões nucleares, usinas geradoras de
293energia nuclear, centros de distribuição de redes de energia, sistemas de controle de
294tráfego aéreo, operações de aeronaves, departamentos de emergência hospitalar,
295equipes de negociação de reféns, equipes de combate a incêndios (BRITTINGHAM,
2962006, apud, Departamento de Energia, 2004, para. 2).
2972.4.1 MCAS com enfoque na manutenção do SISCEAB
298 O instrumento MCAS elaborado para aplicação aos técnicos do SISCEAB, segue a
299mesma linha inicial proposta por Baker (1998), para percepção de clima de manutenção
300dos mantenedores, com o objetivo de elevar a segurança operacional da organização.
19 11
20
4083 RESULTADOS
429 De acordo com a Tabela 4, pode-se conhecer o perfil dos técnicos do SISCEAB no
430que tange a faixa etária, ao gênero, ao grau de escolaridade, ao tempo de serviço na
431Força Aérea Brasileira, como também, se o técnico atua ou não na função.
432
433Tabela 4 – Aspectos demográficos relativos aos Técnicos do SISCEAB
Variáveis f % (n=214)
Faixa etária
18 a 20 anos 1 0,47%
21 a 25 anos 10 4,67%
26 a 30 anos 29 13,55%
31 a 35 anos 37 17,29%
36 a 40 anos 48 22,43%
41 a 45 anos 44 20,56%
acima de 46 anos 45 21,03%
Sexo
Feminino 18 8,41%
Masculino 196 91,59%
Escolaridade
Não 15 7,01%
Sim 199 92,99%
Tempo atuando na função
Não 23 10,75%
Sim
191 89,25%
Equipamentos SISCEAB – CHT
Áreas CHT
Nível CHT
CINDACTA I 58 27,10%
CINDACTA II 51 23,83%
CINDACTA III 40 18,69%
CINDACTA IV 51 23,83%
SRPV-SP
14 6,54%
Participa da escala de sobreaviso
Não 34 15,89%
Sim 180 84,11%
441Fonte: O autor.
442
443 Além do tempo de serviço, este trabalho identificou o tempo de experiência de um
444técnico em sua área atuação, tendo em vista que os técnicos do SISCEAB atuam nos
31 17
32
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489
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491
492
493
494Fonte: O autor.
495 Na Tabela 5 a seguir, estão apresentadas as questões relacionadas ao gráfico 1.
496Estes itens do MCAS tratam-se, exclusivamente, sobre a percepção da carga de trabalho
497apresentada pela amostra de técnicos do SISCEAB que participaram desta pesquisa.
498Tabela5 – Itens do MCAS sobre Carga de Trabalho
A manutenção assistida ou remota é uma opção para reduzir a carga de trabalho dos técnicos
Q3 do SISCEAB e, principalmente, para evitar os longos deslocamentos entre as diversas
cidades brasileiras, dada a dimensão continental do Brasil.
Rotineiramente, o meu ambiente de trabalho sofre interferência de eventos externos, que
Q10 afetam a minha performance nos serviços de manutenção. Por exemplo: formaturas, escalas,
representações, serviço armado, dentre outros.
No meu trabalho há recursos médicos ou psicológicos para identificar ou gerenciar o “pessoal
Q11
de manutenção” do SISCEAB que esteja, eventualmente, com sinais de “stress” ou fadiga.
Tenho a percepção da existência de um programa de gerenciamento de fadiga em meu
Q13
ambiente de trabalho.
Costumo trabalhar número de horas superior ao cumprido pelo pessoal do expediente
Q19
administrativo e, quiçá, operacional.
Tenho a percepção da existência de um programa de gerenciamento de “stress” em meu
Q26
ambiente de trabalho.
A participação em escalas de Sobreaviso Técnico oneram o meu tempo com a família, o meu
Q27 tempo livre e, ainda, muitas vezes não é considerada como hora efetiva de trabalho, mesmo
que eu tenha ficado em “stand-by”.
Acredito que a ausência de regulamentação específica, no âmbito do SISCEAB, como possui
o pessoal operacional (Controlador de Tráfego Aéreo, Meteorologistas, entre outros), sobre a
Q28
carga de trabalho ou a rotina de trabalho faz com que a carga de trabalho do pessoal de
manutenção fique elevada.
Possuo condições de trabalho adequadas para solucionar inoperâncias de
Q29 equipamentos/sistemas, como: ferramentas, material de apoio, suprimento técnico, manuais,
apoio de viatura, entre outros, em minha localidade, ou seja, no meu local de trabalho.
Possuo condições de trabalho adequadas para solucionar inoperâncias de
equipamentos/sistemas, como: ferramentas, material de apoio, suprimento técnico, manuais,
Q30
apoio de viatura, entre outros, em localidade diversa do meu local de trabalho (Por exemplo:
EACEA - Estação de Apoio ao Controle do Espaço Aéreo - e KTs - Casas Técnicas - isoladas).
Sinto a necessidade de melhorias nas condições de trabalho, principalmente, para mitigar a
Q34
possibilidade do erro humano.
O Programa SIRIUS aumentou a carga de trabalho do pessoal de manutenção, ao menos,
Q36
neste período de implementação.
Eu acredito que a carga de trabalho ou a rotina de trabalho do técnico do SISCEAB está cada
Q39
dia mais elevada.
O crescimento do número de equipamentos/sistemas, devido a modernização dos recursos
CNS/ATM, como rede ATN-Br, a automação das atividades para o pessoal operacional
Q40
(Controlador de Tráfego Aéreo, Meteorologistas, entre outros), faz com que a carga de
trabalho do pessoal técnico fique mais elevada.
35 19
36
As empresas eventualmente contratadas para suporte logístico podem contribuir para uma
Q41
carga de trabalho mais harmônica e condizente para os técnicos do SISCEAB.
499Fonte: O autor.
500 Pode-se observar que as questões 11, 13 e 26 apresentaram elevados índices de
501discordâncias (superiores a 70%) entre os técnicos. Mas, estes itens possuem tangências
502com a necessidade de regulamentação da carga de trabalho para o pessoal de
503manutenção, uma vez que trataram sobre situações sobre fadiga e “stress”, que afetam o
504dia a dia dos técnicos do SISCEAB.
505 Nos testes de proporções para estes grupos de concordantes e discordantes, de
506acordo com o valor p obtido no teste, todas as questões que trataram sobre a carga de
507trabalho apresentaram percentual de concordantes maiores que de discordantes, ao nível
508de 5% de significância. Exceto, as questões 11, 13 e 26 que prevaleceram o percentual
509de discordantes, também ao mesmo nível de significância.
5104 DISCUSSÃO
511 Em relação a carga de trabalho do pessoal de manutenção do CNS/ATM há
512espaço para especial atenção, tendo em vista a ausência de regulamentação específica,
513conforme posicionamento dos respondentes do MCAS às questões Q3, Q10, Q11, Q13,
514Q19, Q26, Q27, Q28, Q29, Q30, Q34, Q39, Q40 e Q41.
515 Exceção para a questão Q36, que evidenciou o desconhecimento por parte dos
516técnicos do programa SIRIUS - relacionado ao processo de modernização dos recursos
517CNS/ATM brasileiro (BRASIL, 2019a; BRASIL, 2019b) - , apesar de que, ao ser tratado
518como o processo de modernização da rede ATN-Br (pertencente ao programa SIRIUS, a
519qual os técnicos estão mais familiarizados), os mesmos técnicos concordaram que houve
520aumento da carga de trabalho.
521 De acordo com Johnson e Holloway (2011), as horas de trabalho dos ATCOs (Air
522Traffic Controllers) são estritamente reguladas. No entanto, restrições semelhantes
523geralmente não são aplicadas para as equipes de engenharia. Em consequência, a
524equipe técnica pode trabalhar por longos períodos em infraestruturas críticas, lutando
525contra os níveis de fadiga que prejudicam as capacidades de concentração e resolução
526de problemas.
527 Vale ressaltar que o Comando da Aeronáutica, através da RCA 34-1 (2018b),
528permite margem para particularizar a questão específica e premente de carga horária do
37 20
38
529pessoal de manutenção quando descreve no Art. 3º, § 3º, “os serviços de natureza técnica
530e operacional, cujas especificidades, desgaste físico e emocional, possam provocar perda
531de rendimento ou aumento na margem de erros dos componentes da equipe, e que
532apresentem necessidade de implantação de escalas diferenciadas, obedecerão regras
533emanadas dos Órgãos Centrais dos Sistemas” (BRASIL, 2014, p. 35; BRASIL, 2018b).
534 As relações intergrupos, entre os ATCO (controladores) e os ATSEP (técnicos),
535podem ser fragilizadas, pois um grupo possui regulamentação específica sobre carga de
536trabalho, como os controladores e o outro grupo, não (obs. pessoal). Tal condição, atende
537um grupo, em função da segurança da aviação, mas omite o outro, que dá todo o suporte
538para que o primeiro atue, enquanto que, ambos, estão intrinsecamente responsáveis pela
539segurança da aviação.
540 Dessa forma, este trabalho visa apresentar a comunidade acadêmica e,
541principalmente, aos usuários do transporte aéreo que os ATSEP, na qual os técnicos do
542SISCEAB estão inclusos, são um dos responsáveis pela segurança do controle de tráfego
543aéreo e navegação aérea, dentro do conjunto de barreiras de defesa, conforme define
544modelo Reason (2000a), sendo que a Figura 2, ilustra bem esta condição.
545
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555
556Figura 2 – Atuação do ATSEP (IFATSEA, 2019).
5575 CONCLUSÃO
558 A ferramenta MCAS apresentada através deste trabalho permitiu colher dados
559relacionados aos fatores humanos que afetam as atividades dos técnicos, que atuam na
560manutenção dos sistema CNS/ATM, com base em orientações disponibilizados pela ICAO
39 21
40
561(Doc 7192 AN/857) sobre fatores humanos, a fim de evidenciar eventuais falhas latentes
562que podem existir na estrutura organizacional do ambient de manutenção do SISCEAB,
563conforme HFACS-ME.
564 Nesta comunicação de trabalho apresentou-se apenas aspectos relacionados à
565carga de trabalho dos técnicos do SISCEAB (ATSEP), que, atualmente, carece de
566regulamentação específica, tal qual existe para outras categorias, como para a atividade
567do controle de tráfego aéreo, meteorologistas, entre outros. Sendo que, condições de
568trabalho, bem como condições de quem executa a manutenção e, também, condições da
569gerência da manutenção podem acarretar falhas latentes, de acordo com o HFACS-ME.
570 Neste momento em que a empresa pública NAV BRASIL passará a assumir,
571gradativamente, funções que eram exclusivas do SISCEAB, bem como diante deste
572processo de reestruturação da Força Aérea Brasileira, em que os recursos humanos
573foram declarados como críticos, ou seja, prioritários, este trabalho apresenta a ferramenta
574MCAS como instrumento para manutenção da condição de HRO do SISCEAB, com olhar,
575também, para os técnicos do SISCEAB, ou ATSEP (cf. ICAO), e suas condições de
576trabalho, haja vista como disse Reason (2000b), a cultura de segurança é um estado de
577graça, produto de esforço contínuo. Não há vitória final na luta pela segurança, mas uma
578condição de alerta permanente.
579
580AGRADECIMENTOS
583REFERÊNCIAS
584AGENZIA NAZIONALE PER LA SICUREZZA DEL VOLO. Final Report. Incidente
585occorso agli aeromobili BOEING MD-87, marche SE-DMA e CESSNA 525-A, marche D-
586IEVX Aeroporto Milano Linate 8 ottobre 2001. October, v. 68273672, n. January, p. 53–156,
5872004. Disponível em: <http://www.ansv.it/En/detail_relazioni.asp?ID=177 >. Acesso em: 01
588jan. 2019.
589
590ANGELA, A. G., KARINA, F. L. Saúde do trabalhador: refletindo sobre a saúde vocal de um
591grupo de controladores do tráfego aéreo. Cadernos de Saúde Coletiva, 2010, Rio de Janeiro, 18
592(4): 545-50.
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