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CAMPUS PETROLINA
COLEGIADO DE PEDAGOGIA
PETROLINA-PE
2021
ANDREZA RODRIGUES BARBOSA
PETROLINA-PE
2021
Barbosa, Andreza Rodrigues.
B238h Habilidades de regulação emocional: uma revisão sistemática de
literatura publicada em língua portuguesa. / Andreza Rodrigues Barbosa.
- Petrolina: do autor, 2021.
1 CD-ROM: il. ; 4 ¾
CDD-153
Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Maria Gorete Pereira e Silva, CRB 4/0796,
Universidade de Pernambuco – Campus Petrolina.
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE
CAMPUS PETROLINA
CURSO DE PEDAGOGIA
Aprovado
Petrolina, 07 de Maio de 2021.
BANCA EXAMINADORA
Universidade de Pernambuco
Orientadora
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 6
2. REGULAÇÃO EMOCIONAL: CONCEITOS E MANIFESTAÇÕES ........................ 7
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 10
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 11
4.1 Construção e/ou Validação de Instrumento de avaliação da Regulação
Emocional ................................................................................................................... 15
4.2 Relação da Regulação Emocional com outras variáveis ........................................ 17
4.3 Desenvolvimento da Regulação Emocional ao longo do ciclo geracional ............. 18
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 20
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 20
HABILIDADES DE REGULAÇÃO EMOCIONAL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA PUBLICADA EM LÍNGUA PORTUGUESA
RESUMO
ABSTRACT
1
Graduanda em Pedagogia pela Universidade de Pernambuco/Campus Petrolina.
2
Professora Adjunta do Colegiado de Pedagogia da Universidade de Pernambuco/Campus Petrolina.
1. INTRODUÇÃO
6
2. REGULAÇÃO EMOCIONAL: CONCEITOS E MANIFESTAÇÕES
7
demandas do ambiente, sendo ele capaz de aumentar ou diminuir as emoções, sejam elas
positivas ou negativas. E para Gross (2014), a regulação emocional pode ter implicações
diversas, ao ecoar positiva ou negativamente na cognição, na interação social e na experiência
emocional pessoal.
Entendendo a regulação emocional como a capacidade de gerenciar suas emoções ao
ponto de não as deixar atrapalhar seu cotidiano, na concepção de Leahy et al. (2013), uma
pessoa que vivencia experiências estressantes experimenta as emoções com intensidade
elevada. À medida que essas emoções se intensificam, a tendência é que o indivíduo aja
compulsivamente, adotando um comportamento inadequado ao que a situação exige. Para
esses autores, a regulação emocional consiste em agir com cautela e saber equilibrar essas
emoções, sabendo que uma pessoa com um nível de estresse ou ansiedade controlado, agirá
de forma coerente com dada situação, vendo o problema com mais clareza e resolvendo de
forma eficaz.
Assim, segundo Dias et al. (2006), a regulação emocional, enquanto processo
emocional e cognitivo, permite aos indivíduos a maximização, minimização ou disfarce de
reações e experiências emocionais, bem como possibilita modular a intensidade e duração das
emoções, seja elas positivas ou negativas.
Estudiosos interessados em entender a depressão infantil, por exemplo, têm voltado a
atenção para a forma como a criança e o adolescente com sintomas de depressão regulam suas
emoções. Pesquisas apontam que crianças com depressão não utilizam de maneira eficaz as
estratégias de regulação emocional (ASARNOW, et al 1987; BORGES, et al. 2006;
BURWELL; SHIRK, 2007; LI et al. 2006; MILLER, 2003 apud CRUVINEL,
BORUCHOVITCH, 2011 p.220)
De acordo com a teoria do processamento da informação, Garber et al., (apud
CRUVINEL; BORUCHOVITCH, 2011, p.220) sugerem um padrão para o desenvolvimento
da autorregulação afetiva em que apontam etapas para o controle emocional eficiente. Na
primeira etapa está a percepção do aparecimento da emoção e a avaliação sobre ser necessário
ou não controlar. A segunda etapa visa identificar a causa e o que pode ser feito. A terceira,
por sua vez, resume-se em estabelecer metas, enquanto a quarta, ver quais as possibilidades de
solução para alcançar a meta. Já a quinta, consiste em averiguar os possíveis resultados e por
fim, avaliar o funcionamento das respostas escolhidas.
Segundo Arandiga e Tortosa (2004, apud CRUVINEL, BORUCHOVITCH, 2011
p.220), há muitas sugestões de estratégias que podem ser utilizadas no gerenciamento da
regulação emocional. As pesquisas revelam que cada emoção exige uma estratégia diferente
ou enfrentamento. Por exemplo, para lidar com a tristeza, podem ser empregadas técnicas de
reestruturação cognitiva, ou seja, ressignificar o pensamento e mudar a perspectiva. Outras
estratégias que também podem ser eficientes são a realização de exercícios físicos e atividades
com os amigos.
Para lidar com a raiva, as sugestões de estratégias são a distração, relaxamento
muscular, afastamento da situação, mudança de pensamento, dentre outras. Para o medo, as
estratégias estão ligadas a pedir ajuda, identificar a causa do medo e verificar a autenticidade
dele. Para a alegria, as estratégias de regulação usadas são aquelas que fazem prolongar o
bem-estar físico e psicológico.
Um estudo apresentado por Cruvinel e Boruchovitch (2011) avaliou a regulação
emocional em 54 crianças com idade entre 8 e 10 anos com e sem sintomas de depressão, os
resultados mostraram que os dois grupos relataram o uso de estratégias parecidas para lidar
com variadas emoções, contudo o grupo que tinha sintomas de depressão sentia, mais
frequentemente, raiva, tristeza, e medo, e, com frequência, tinham mais dificuldade em
perceber essas emoções, fazendo com que esse processo de regulação fosse mais dificultado,
pois segundo Boruchovitch (2004), a primeira coisa para se ter a autorregulação é a
8
consciência das emoções. Se o indivíduo não as percebe, dificilmente saberá lidar com elas de
forma adaptativa.
O artigo “Relação entre experiências traumáticas na infância, regulação emocional e o
desenvolvimento de traços psicopáticos na adolescência”, publicado por Ouakinin e Pupo
(2019) tinha como objetivo principal de investigação avaliar se a exposição a situações
traumáticas durante a infância, pode ser associada à estruturação de estratégias de regulação
emocional mal aplicada, o que poderia ser o principal fator para a origem dos traços
psicopáticos na adolescência.
Os procedimentos metodológicos que elas utilizaram foi uma amostra de 133 pessoas
com idade entre 18 e 21 anos, e foi avaliado a presença de um acontecimento traumático, a
presença de traços psicopáticos, e a dificuldade da regulação emocional nesses indivíduos. A
partir dos resultados obtidos, nota-se a coexistência muito relevante entre trauma na infância,
a regulação emocional e os traços de psicopatia, ressaltando que as causas que levam a essa
associação estão relacionadas à dificuldade de acesso à estratégias de regulação emocional, a
falta de consciência emocional, e a dificuldade no controle dos impulsos.
Vale destacar que, para Damásio (2004), mesmo que as emoções e os sentimentos
sejam correlacionados, são dois elementos distintos entre si, no seu livro ele traz uma
definição de ambos:
As emoções são ações ou movimentos, muitos deles públicos, que ocorrem no rosto,
na voz ou em comportamentos específicos. Alguns comportamentos da emoção não
são perceptíveis a olho nu, mas podem se tornar “visíveis” com sonda científicas
modernas [...]. Os sentimentos, pelo contrário, são necessariamente invisíveis para o
público como é o caso de todas as imagens mentais, escondida de quem quer que
seja exceto do seu devido proprietário, a propriedade mais privada do organismo em
cujo cérebro ocorrem. (DAMÁSIO, 2004, p.35)
Deste modo, as emoções são as respostas do corpo, visível para o público, ou através
de alguns instrumentos específicos. E os sentimentos estão relacionados com a experiência
mental da emoção sentida, que não pode ser observada a olho nu, pelos que estão à sua volta.
Sendo assim, as emoções são demonstradas pelo corpo e os sentimentos percebem essas
sensações que o corpo expressa.
As emoções podem ser classificadas da seguinte forma: emoções de fundo, primárias e
sociais ou secundárias. As emoções de fundo, são aquelas relacionadas ao bem-estar ou mal-
estar, ansiedade ou calmaria do indivíduo, se uma pessoa é capaz de distinguir alguns dessas
emoções que são expressas por alguém que acaba de se familiarizar, quer dizer que essa
pessoa sabe ler as emoções de fundo.
As emoções primárias são aquelas consideradas universais, que todos os seres
humanos podem sentir, independente de cultura ou classe social, que são: raiva, tristeza, medo
e felicidade. E por fim, as emoções sociais ou secundárias, que remetem aquelas voltadas para
os aspectos da sociedade e cultura, como vergonha, pena, culpa, orgulho. (DAMÁSIO, 2004;
DELGADO, 1971; VIKAN E DIAS 1996 apud DIAS et al. 2006, p 128).
Segundo Damásio (2004), as emoções que aparentemente são desagradáveis, podem
ser úteis em determinadas situações, tudo depende do contexto presente, e da intensidade
sentida. O medo, bem canalizado, pode desencorajar uma pessoa de pular de uma ponte, se
jogar na frente de um carro, ajudando o indivíduo em uma situação de perigo a ter cautela,
sendo um medo racional que ajuda e não prejudica. Já um medo em uma situação que exige
uma ação, acaba sendo nocivo, e pode vir a atrapalhar o dia-a-dia da pessoa.
Para Harris (1996 apud DIAS et al. 2006. p 128), as emoções primárias e sociais
podem ser diferenciadas pelas expressões do rosto de uma pessoa, sendo as primárias
facilmente identificáveis, enquanto as sociais não são tão expressas na face de alguém, é mais
9
fácil de ocultar. Ele promoveu estudos que buscavam entender como essas emoções se
desenvolvem nas crianças.
[...] crianças de quatro ou cinco anos vêem as pessoas, sobretudo como agentes que
perseguem os próprios objetivos, e que se sentem alegres ou tristes segundo tais
objetivos ou não se realizar. As crianças mais velhas, em contrapartida, aos poucos
percebem que a vida emocional das pessoas não se regula somente por uma
consciência das emoções que outras pessoas expressarão relativamente a essas ações
e suas consequências. (HARRIS, 1996, p.771996 apud DIAS et al. 2006, p 128).
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
10
própria revisão. De forma geral, a revisão de literatura sistemática possui alto nível
de evidência e se constitui em um importante documento para tomada de decisão nos
contextos públicos e privados. (GALVÃO; RICARTE, 2019, p. 02).
Sendo assim, ela não se compõe apenas de uma introdução de uma pesquisa maior, ela
tem seus próprios padrões. Diferente da revisão de literatura de conveniência, a revisão
sistemática de literatura segue procedimentos específicos em sua busca, tendo um alto nível
de evidência científica.
Na seção seguinte, serão apresentados os principais resultados e discussões
provenientes da pesquisa realizada.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
11
02 Resiliência no Arlete Revisão 53 artigos Apresentar
envelheciment Portella sistemática internacionais conceitos de
o: revisão da Fontes de e onze resiliência
literatura e,Anita literatura nacionais. psicológica em
Liberales idosos, associados
so Neri aos
2015 modelos teóricos
dominantes e
descrever os
principais
dados encontrados
em revisão de
literatura
internacional e
brasileira.
12
05 Emotional Samila Empírico Idosos Cento e Examinar os
Regulation Sathler entre 60 e 70 cinquenta e indicadores
Questionnaire Tavares anos três psicométricos do
(ERQ): Batistoni, idosos Questionário de
Indicadores Tiago homens e Regulação
Psicométricos Nascime mulheres. Emocional (QRE)
e Relações com nto e suas relações
Medidas Ordonez, com medidas de
Afetivas em Thaís experiência
Amostra Idosa Bento afetiva, satisfação
Lima da com a vida e
Silva* , depressão em
Priscila idosos.
Pascarelli
Pedrico
do
Nascime
nto &
Meire
Cachioni
2013
13
07 O papel de Melanie Empírico Adultos 67 adultos Examinar o papel
processos Fernande idade média com doenças preditor de
relacionados s, 36,99 anos celíacas, processos
com a homens e relacionados com
regulação Ana mulheres. a regulação
emocional e da Galhardo emocional, fusão
vergonha , cognitiva,
associada à evitamento
doença crónica Ilda experiencial,
nos sintomas Massano- autocompaixão
de depressão, Cardoso autojulgamento e
ansiedade e 2020 a vergonha
stress de associada à
pessoas com doença dos
doença celíaca sintomas
psicopatológicos
de depressão,
ansiedade e stress
em pacientes com
o diagnóstico de
doença celíaca.
14
nove artigo que atendiam as nossas necessidades da pesquisa.
De acordo com Dias et al. (2006, p.131), “controlar as emoções possibilita às pessoas
manifestarem para os outros como elas estão se sentindo e fazê-lo de forma adequada a
situação e de acordo com as modalidades previstas na cultura à qual pertence a educação
recebida.” Pessoas com a capacidade de usar estratégias para administrar as diferentes
emoções não apresentam dificuldades nos relacionamentos interpessoais e intrapessoais em
comparação com aquelas que não sabem gerenciar de forma eficaz suas emoções.
Os artigos foram organizados e classificados em 3 categorias que emergiram da leitura
e análise inicial, a saber: 1) artigos que tratam da construção e Validação de Instrumentos de
avaliação da Regulação Emocional; 2) artigos que tratam da relação da regulação emocional e
outras variáveis; e 3) artigos que tratam do desenvolvimento da regulação emocional ao longo
do ciclo vital.
Ressalta-se que alguns artigos compõem mais de uma categoria, haja em vista tratar de
dois ou mais temas de interesse na análise. Tais categorias e os artigos componentes da
amostra são apresentados e discutidos nas subseções seguintes.
15
afetivos, ou seja, o maior uso de reavaliação tem relação direta com a experimentação de
afetos positivos e satisfação com a vida.
Por sua vez, o estudo de Hirschle e Gondim (2016) teve como objetivo desenvolver
uma medida de regulação emocional para o contexto de trabalho. Utilizou o ERP-Br – versão
diminuída do Emotion Regulation Profile (ERP),(de quinze itens) que foi adaptada para o
contexto brasileiro, em uma versão reduzida, o ERP-Br (seis itens). Neste instrumento, avalia-
se dois modos de regulação das emoções, fazendo uso de estratégias diferenciadas: Regulação
Descendente (RD), corresponde a redução dos efeitos indesejáveis e Regulação Ascendente
(RA) que responde pelo aumento dos efeitos desejáveis das emoções positivas. Apresenta três
casos ativadores de emoções desagradáveis (ciúme, tristeza e medo) para medir a regulação
descendente e três situações eliciadoras de emoções agradáveis (alegria, orgulho e admiração)
para medir a regulação ascendente.
Nos resultados desse estudo, as autoras concluem que, para direcionar uma estratégia
de regulação emocional, deve-se levar em conta o contexto inserido, nesse caso, em um
contexto de trabalho; as normas, os valores, a cultura organizacional, tudo isso deve ser
levado em consideração, pois influenciam diretamente na escolha da estratégia adequada. Elas
consideram que a RA e a RD podem ser consideradas adequadas dependendo do contexto,
sugerindo, portanto, que não há estratégias desadaptativas, mas todas são necessárias para
lidar no ambiente de trabalho.
A terceira pesquisa componente desta categoria de análise, realizada por Bueno
(2013), utiliza três instrumentos para Avaliação da RE. O primeiro deles foi o Teste de
Regulação Emocional (TRE), que foi feito baseado no Stroop Emocional, em que o
participante tem a tarefa de nomear as cores. No que diz respeito ao TRE, foi aplicado a
estímulos não verbais (eram imagens selecionadas do International Affective Picture System),
sobre as quais foram adicionados círculos coloridos (um por imagem), de aproximadamente
1,5 cm de diâmetro, na posição central horizontal da imagem (no centro, à direita ou à
esquerda). Os estímulos verbais eram palavras, em português, selecionadas das normas
Brasileiras para o Affective Norms for English Words, que eram grafadas em diferentes cores.
Tanto os pontos sobre as imagens quanto as palavras apareciam equitativamente em quatro
cores: amarelo, vermelho, verde e azul.
Este instrumento avalia quatro dimensões, dividido da seguinte forma: quinze itens de
valência neutra, quinze de valência negativas associadas à emoção de tristeza, quinze com
valência negativa associada à ansiedade e quinze com valência positiva. Antes disso, os
participantes foram submetidos a outros quinze estímulos retirados do armazenamento de
imagens da Microsoft Office para se familiarizar com o teste. Para a aplicação desse
instrumento, utilizou-se do auxílio do Power Point, no qual mostrou aos participantes as
instruções durante os testes. Para todos os estímulos de cada série com quinze itens, foi dado
o tempo de quinze segundos para nomeação entre a aplicação de um bloco de 15 estímulos e o
seguinte.
Outro instrumento utilizado por Bueno (2013) foi o RA (Prova de Raciocínio
Abstrato), a qual apresenta 25 seções no modelo de analogias, do tipo cinco alternativas para
avaliar o raciocínio indutivo. É associado a competência de raciocinar em situações novas. E
o último instrumento de avaliação utilizado por Bueno (2013) foi a Bateria Fatorial de
Personalidade (BFP), que avalia os cinco grandes fatores de personalidade (Neuroticismo,
Extroversão, Socialização, Realização, Abertura à Experiência), a qual contém 126
afirmações, avaliadas numa escala de 1 (descreve-me muito mal) a 7 (descreve-me muito
bem).
Os resultados da aplicação desse instrumento (TRE) mostraram composição bifatorial
referente ao tipo de estímulo (imagens ou palavras), com bons indicadores de consistência
interna, mas esses indicadores não se relacionam entre si, nem com traços de personalidade e
16
inteligência. Os resultados demonstraram que não há diferença significativa entre os tempos
para nomear as cores de palavras relacionadas às emoções negativas e neutras. Contudo, ao
usar imagens no lugar de palavras, fez com que o tempo para nomeação das cores fosse maior
para palavras emocionalmente negativas, sugerindo assim que, a influência causada por
imagens é mais forte do que as causadas pelas palavras.
A partir da análise desses três estudos, de modo geral, é possível afirmar que a
regulação emocional vem sendo avaliada por instrumentos de pesquisas diversificados, sendo
a maioria adaptados dos já existentes em outros países. É notório que o público-alvo dessas
pesquisas na aplicação dos instrumentos são adultos de ambos os sexos, deixando a desejar
quanto à pesquisa com crianças, pois nenhum dos instrumentos mencionados nos estudos
anteriores é utilizado em população infantil, embora seja reconhecida a importância de estudar
a Regulação Emocional na Infância (DIAS et al, 2006).
Quatro artigos do Quadro 1 (um, três, seis e sete) foram classificados na categoria
Relação da Regulação Emocional com outras variáveis.
Freire e Tavares (2011) analisaram a influência da autoestima, da regulação emocional
e do gênero no bem-estar subjetivo e psicológico de uma amostra de adolescentes. Quanto às
estratégias de regulação emocional, elas avaliaram as duas vertentes: a supressão emocional e
a reavaliação cognitiva, a partir dos diferentes componentes do bem-estar.
Chegaram à conclusão de que a autoestima mostrou ser uma importante variável na
promoção do bem-estar em adolescentes, assumindo como elemento fundamental na
intervenção clínica positiva e preventiva. E ainda concluíram que a supressão emocional teve
correlação negativa com todas as medidas de bem-estar, e a reavaliação cognitiva mostrou a
inclusão positiva e significativa com os níveis de felicidade.
Fernandes et al. (2020), por sua vez, examinaram o papel preditor de processos
relacionados com a RE e a vergonha associada a doenças com sintomas psicopatológicos de
depressão, ansiedade e stress em pacientes com doença celíaca. Quanto ao processo de
regulação emocional e a vergonha associada a doença crônica, elas evidenciaram que os
indivíduos tendem a utilizar o evitamento experiencial, que é um mecanismo de defesa, no
qual os indivíduos buscam dominar, alterar ou escapar de experiências interiores que são
dolorosas, mesmo que elas possam se tornar em consequências negativas.
Ao final desse estudo, concluíram que o autojulgamento é o principal preditor
expressivo dos sintomas emocionais negativos que afetam as pessoas com a doença celíaca. A
sugestão de tratamento para esse sintoma é a abordagem terapêutica que provoque a redução
do autojulgamento, como por exemplo a terapia Focada de Compaixão.
Outro estudo, de Santana e Gondim (2016), analisou as relações entre modos de
regulação emocional: Regulação Descendente (RD) corresponde a redução dos efeitos
indesejáveis e Regulação Ascendente (RA) que responde pelo aumento dos efeitos desejáveis
das emoções positivas e três dimensões do bem-estar subjetivo, a partir de dois modelos: a
predição e a mediação. Para os autores deste artigo, quando tem o objetivo de reduzir as
emoções ruins, faz-se necessário que a pessoa faça um esforço cognitivo maior, para que
assim as situações de afetos positivos sejam mantidas e os negativos reduzidos na mesma
medida.
Os autores partiram da hipótese de que os modos de RE e as dimensões de bem-estar
subjetivo são mediados pela autonomia e domínio do ambiente, e ao final foi confirmado, pois
há correlações positivas entre RE e as dimensões de afetos positivos.
Com objetivo de compreender a relação entre inteligência emocional e o engagement,
Andrade et al (2016) fizeram um estudo sobre essa temática, a amostra foi composta por 250
17
professores da Ilha da Madeira em Portugal. Alguns instrumentos foram utilizados para essa
pesquisa; o Trait Meta-Mood Scale, o Questionário de Expressividade e o de Regulação
Emocional e o Utrech Work Engagement Scale.
O Trait Meta-Mood Scale (TMMS-24) de Mayer e Solovey (1990, apud ANDRADE
et al. 2016), faz a avaliação através de 24 itens de escala Likert de cinco pontos, três
dimensões chave da IE: a atenção às emoções, a clareza dos sentimentos e a reparação do
estado emocional. O questionário de Expressividade de Gross e John (2003, apud ANDRADE
et al. 2016), versão portuguesa avalia a expressividade em três categorias: negativa, positiva e
força do impulso, há nesta escala 14 itens tipo Likert de sete pontos. O Questionário de
Regulação Emocional, é constituído por nove itens de escala tipo Likert de sete pontos, que
avalia as duas dimensões: a repressão das emoções e a reavaliação delas. A Utrech Work
Engagement Scale traduzida e adaptada por Marques-Pinto (2000, apud ANDRADE et al.
2016), é composta por 17 itens de escala tipo Likert de seis pontos que avaliam o vigor, a
dedicação e a absorção no ambiente de trabalho.
Os resultados dessa pesquisa mostraram uma associação positiva entre as dimensões
de inteligência emocional, exceto a repressão (que não apresentou nenhuma relação com o
engagement) Identificaram que os professores que utilizaram estratégias de RE como a
reavaliação tiveram mais engajamento e dedicação no trabalho dos que usaram a supressão.
Contudo, somente a inteligência emocional prediz de forma significativa o vigor, a dedicação
e a absorção. Revelaram que para ter o engagement dos professores no trabalho, o
entendimento e o reconhecimento de suas emoções é o principal preditor, levando a um maior
êxito no desenvolvimento das suas tarefas, pois saberá utilizar a estratégia de regulação
adequada à situação vivenciada.
Os artigos que tratam sobre a Regulação Emocional com outras variáveis mostraram a
relação da RE com a autoestima, com o bem-estar subjetivo e psicológico, com o engagement
no trabalho, vergonha, estresse, ansiedade e depressão. Ficou em evidência a importância da
RE para o bem-estar e saúde, pois como afirma Freire e Tavares (2010) a capacidade de
regular as emoções está associada significativamente ao bem-estar.
Diferentemente da reavaliação emocional como estratégia de regulação, a supressão
mostrou ser menos eficiente quanto a satisfação com a vida, o bem-estar, e sintomas de
ansiedade e estresse. Os artigos mencionados nesta seção, demonstram que o ato da repressão
emocional ou do evitamento dela, é uma estratégia menos eficiente e tem um efeito curto,
sendo a menos indicada. Por outro lado, a que se mostrou mais eficiente trazendo resultados
positivos foi a reavaliação emocional.
18
de regulação emocional parecidas para lidar com as diversas emoções, contudo os
participantes do grupo com sintomas de depressão têm mais dificuldade em perceber a
emoção e gerenciar de forma positiva, sentem mais raiva, tristeza e medo do que os
participantes do segundo grupo. As crianças sem a sintomatologia de depressão são mais
eficientes na identificação da emoção, o que possibilita utilizar a estratégia de regulação
emocional adequada à situação.
Fontes e Neri (2015) fizeram uma revisão de literatura internacional e brasileira no
período de 2007 a 2013, tem por título "Resiliência e velhice”, utilizando como base de dados
Scielo, PubMed, e PsychoInfo, e PePISC, com o objetivo de apresentar conceitos de
resiliência psicológica em idosos, associados aos modelos teóricos dominantes. Entre as
categorias que elas classificaram, há uma que é a Regulação emocional frente a experiências
estressantes.
Segundo esses autores, a resiliência pode ser compreendida como modelo de
funcionamento adaptativo quando precisa enfrentar algum risco atual ou ao longo da vida
(FONTES; NERI, 2015). Os artigos por elas selecionados para a categoria de Regulação
emocional destacam as emoções positivas no envelhecimento, como otimismo, autoaceitação,
desejo de viver e autocontrole. Na literatura pesquisada, também se evidenciou que, na
velhice os processos emocionais como o bem-estar tendem a diminuir depois dos 60 anos,
possivelmente em decorrência do aumento de doenças. Contudo, as experiências negativas ou
estressantes que não podem ser evitadas/ignoradas, demonstram uma resposta adaptativa.
Diante disso, as autoras apontaram que os idosos resilientes são capazes de utilizar
estratégias de regulação emocional mais eficientes e essa capacidade pode ter relação com os
processos de seleção adaptativos, em que os idosos poupam recursos psicológicos,
fisiológicos e sociais, diminuindo a quantidade de vínculos e mantendo apenas os que
significam uma proximidade afetiva, aumentando assim o conforto do bem-estar subjetivo.
Conforme o estudo de Batistoni et al. (2013), detalhado previamente no tópico 4.1,
feito com amostra idosa, comprovou-se que o maior uso de reavaliação cognitiva tem melhor
relação com a saúde emocional, quando comparado com a supressão. Os dados coletados
ainda mostram que a reavaliação cognitiva tem relação significativa com os indicadores
afetivos, ou seja, o maior uso de reavaliação tem relação direta com experimentos de afetos
positivos e satisfação com a vida. O questionário utilizado revelou bons identificadores de
equilíbrio temporal sugerindo que a ferramenta se apresenta confiável para uso em população
idosa e confirmaram que, na amostra idosa, o fator mais pontuado foi a Reavaliação cognitiva,
evidenciando que aplicam mais estratégias saudáveis e adaptativas
É possível atestar, conforme a literatura existente, que as respostas emocionais de um
indivíduo variam de acordo com os fatores culturais que ele aprendeu na infância (DIAS et
al., 2006). Então fica clara a importância da RE desde os primeiros anos de vida. No estudo
feito por Cruvinel e Boruchovitch (2011), as autoras apontam que a forma como crianças e
adolescentes administram suas emoções podem aumentar ou diminuir as chances de
desenvolverem a depressão, e por algumas vezes há uma falha no processo de perceber essa
emoção interna e dificilmente será neutralizada se passar desapercebida.
Um outro estudo feito por Lawton et al. (1992, apud BATISTONE et al. 2011) foi um
dos primeiros estudos a constatarem que quanto às habilidades de Regulação emocional os
idosos divergiam dos mais novos. Outros estudos corroboram com essa teoria, evidenciando
que os idosos são mais tendenciosos a utilizar maior controle emocional, e inclusive regular a
experiência interna com situações negativas, em momento de raiva e da expressão externa de
felicidade e tristeza. (BLANCHARD-FIELDS et al. 2004; GROSS et al 1997, apud
BATISTONE et al. 2011).
Após a análise dos artigos componentes da amostra da presente revisão de literatura,
ficou evidenciada pouca literatura disponível sobre a regulação emocional, principalmente
19
relacionados com a educação e na infância. Lembra-se, aqui, que é importante saber lidar com
as emoções de forma eficaz, pois elas podem interferir em todas as áreas da vida. “Sem
emoções nossas vidas não teriam significado, textura, riqueza, contentamento e conexão com
outras pessoas.”(LEAHY et al. 2013). Como os referidos autores abordam, as emoções são
parte essencial da nossa vida.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo da escrita deste artigo, após exame da literatura disponível na área, nota-se
que, quando o indivíduo sabe utilizar estratégias de RE eficientes, ele tem melhor convívio
nas relações, seja na família ou em sociedade, também tem maior desenvolvimento e bons
relacionamentos no ambiente de trabalho sendo a RE essencial ao longo do desenvolvimento
humano.
De um modo geral, é possível perceber que há poucos artigos e que eles não se
concentram numa data de publicação específica, bem como os principais teóricos
mencionados quando se fala sobre RE são Damásio (1996,2000 e 2004), Gross (2014) e
Harris (1996), os quais compreendem a Regulação emocional como a forma de lidar com os
processos emocionais de forma intencional, ativando ou diminuindo-as, consistindo em um
processo cognitivo, psicológico e consciente, onde permite o individuo gerenciar os as
emoções sentidas, seja para diminuir, aumentar ou disfarçar.
Quanto aos instrumentos utilizados para avaliar a RE, é possível afirmar que ela vem
sendo avaliada por instrumentos de pesquisas diversificados, a maioria já existente havendo
apenas adaptação para o contexto brasileiro. Ficou claro que as pesquisas sobre RE em sua
maioria são voltadas para a população adulta e a escassez de estudos com instrumentos para a
população infantil, para qual se faz necessário instrumentos e procedimentos específicos para
essa faixa etária.
Outro aspecto muito importante decorrente do exame da literatura existente consiste
na identificação das principais estratégias mais usadas diante da desregulação emocional, as
quais são a reavaliação e a supressão, sendo a reavaliação mais eficiente, pois mostrou um
resultado mais duradouro e satisfatório ao longo do tempo.
Saber regular as emoções é imprescindível em todos os ciclos, desde a infância até a
vida adulta. A inabilidade pode trazer consequências negativas, tanto para aquele que a
experimenta, quanto para aqueles que estão à sua volta, pois as emoções, todas elas, têm papel
fundamental para o processo de amadurecimento, sejam as emoções consideradas boas ou
aquelas consideradas ruins.
Ainda pode-se observar, neste sentido, que a regulação emocional vem sendo apontada
como uma relevante habilidade para a vida intrapessoal e interpessoal, ajudando a manter a
saúde e bem-estar psicológico e social. Desse modo, reitera-se a necessidade de
aprofundamentos nos estudos sobre o tema, conforme estudo de revisão sistemática de
literatura apresentado neste artigo.
Por fim, indica-se que houve algumas limitações na presente pesquisa, como uma
amostra reduzida de artigos publicados nos últimos dez anos em língua portuguesa, pois a
maior parte da literatura referente à temática se encontra em inglês. Contudo, os objetivos
foram alcançados com êxito, e sugere-se a realização de novas pesquisas com uma amostra
maior de artigos e estudos empíricos sobre a regulação emocional na infância.
REFERÊNCIAS
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