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FLUXOS DOS

PROCESSOS
PARA CONCESSÃO
DE CRÉDITO
FLUXOS DOS
PROCESSOS
PARA
CONCESSÃO DE
CRÉDITO
BOAS-VINDAS

Seja bem-vindo
à Certificação em Crédito do Sicoob!

Este material foi elaborado para apoiar seus estudos nessa jornada de conhecimento rumo à sua
certificação.

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abordados já tenham sido estudados por você em outras oportunidades.

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desta certificação, seja presencial ou a distância. Assim, você pode aumentar seu aproveitamento em
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Atenciosamente,

Equipe da Educação Corporativa do Sicoob.

1a edição: junho/2021
Última atualização: 09/06/2021
APRESENTAÇÃO

CADERNO 2

Fluxos dos processos para concessão de crédito

Neste caderno serão demonstrados os fluxos dos processos relacionados à


concessão de crédito no Sicoob.

A seguir serão apresentados os fundamentos e os conceitos das grandes


etapas da concessão de crédito no Sicoob. Assim, você poderá compreender
e desenvolver suas atividades de forma ainda mais alinhada com as
melhores práticas do sistema.
SUMÁRIO

1.1 FLUXOS DOS 1.1 Fluxos dos processos para concessão de crédito 7

PROCESSOS
PARA
CONCESSÃO DE
CRÉDITO

1.2 COLETA DE 1.2.1 Princípio “conheça seu cooperado” 11


1.2.2 Entrevista para acatamento de proposta 12
INFORMAÇÕES 1.2.2.1 Métodos de atendimento
proativo x reativo 12
1.2.2.2 Entrevista 14
1.2.2.3 Atendimento consultivo 15
1.2.2.4 Modalidades de relacionamento 16
1.2.3 Visita gerencial de vistoria para crédito 17
1.2.3.1 Tipos de visitas técnicas 17
1.2.3.2 Planejamento de visitas gerenciais 18
1.2.3.3 Relatório de visitas 20
1.2.4 Cadastro de pessoas 22
1.2.4.1 Responsabilidades entre entidades
do Sicoob 23
1.2.4.2 Consultas e anotações cadastrais 24
1.2.4.3 Aspectos legais para aceitação
de documentos 25

1.3 ANÁLISE E 1.3.1 Métodos de Avaliação 29


1.3.1.1 Análise objetiva x análise subjetiva 31
DECISÃO DE 1.3.1.2 Método de avaliação estatístico 32
CRÉDITO 1.3.1.3 Método de avaliação especialístico 34
1.3.1.4 Método de avaliação fundamentalístico 35
1.3.2 Procedimentos para a coleta de propostas 36
1.3.3 Tipos de pareceres no processo de concessão 38
1.3.3.1 Parecer comercial 39
1.3.3.2 Parecer técnico 39
1.3.3.3 Parecer de deferimento 40

1.4 FORMALIZAÇÃO 1.4.1 Procedimentos de formalização 43


1.4.2 Procedimentos de liberação e arquivamento 44
E LIBERAÇÃO 1.4.3 Gestão pós-crédito das garantias 45

Referências 46
FLUXOS DOS
PROCESSOS PARA
CONCESSÃO DE
CRÉDITO

1.1
1.1 FLUXOS DOS
PROCESSOS PARA
CONCESSÃO DE
CRÉDITO

No Sicoob, de modo geral, conforme as especificidades de cada produto de crédito,


contidas nos manuais de instruções gerais (MIGs) e nos manuais de produtos e serviços
(MPSs), a concessão das operações de crédito para os cooperados tomadores segue um
fluxo previamente definido durante o processo de recebimento e registro de uma demanda
de crédito. Em geral, o recebimento e o registro podem ocorrer de duas formas:

y impessoal (via canais de autoatendimento): especialmente nas operações que


utilizam limites pré-aprovados e nos casos em que normalmente não são exigidos
documentos complementares; ou
y pessoal (via Sisbr, por meio da Plataforma de Crédito e dos módulos dos
produtos): para os casos determinados no manual do produto poderão ser
utilizados formulários padronizados, devidamente assinados e acompanhados
da documentação exigida para o negócio e, quando for o caso, de documentos
relativos aos bens oferecidos em garantia.

Em sua maioria, as operações são originadas via PLATAFORMA DE CRÉDITO , que


foi concebida com a proposta de uniformizar, modernizar e automatizar o processo de
concessão de crédito no Sicoob por meio de funcionalidades que possibilitam a modelagem
de produtos e processos com foco na redução da intervenção manual do usuário no
cadastro de propostas.

FIQUE POR DENTRO

O QUE É?

Trata-se da plataforma na qual são realizadas todas as configurações necessárias para que uma linha de
crédito seja operacionalizada pelas entidades.

São exemplos: a liberação e a especialização das linhas, cadastro de tabelas de taxas de juros, cadastro
de modelos de preenchimento de proposta, liberação das linhas para os PAs e realização do processo de
concessão de crédito.

Fonte: MPS – Plataforma de Crédito

7
1.1 FLUXOS DOS PROCESSOS PARA
CONCESSÃO DE CRÉDITO

Considerando a proposta de uniformização, essa Plataforma possibilita que os produtos


de crédito sejam criados e mantidos de forma centralizada, controlados pelas áreas de
negócios sem a necessidade de interferência das áreas de TI, por meio da funcionalidade
de parametrização/especialização de linhas de crédito.

Também é possível realizar a gestão centralizada dos produtos de crédito, possibilitando


que as cooperativas mantenham a gestão dos parâmetros negociais das linhas de crédito
operacionalizadas por elas, como os seguintes exemplos:

y precificação de taxas;
y valores mínimos e máximos;
y periodicidade de pagamento.

Os gestores da ferramenta definem parâmetros que controlam as operações de crédito com


a mesma natureza, possibilitando a padronização das operações realizadas e resultando
na redução do tempo de preenchimento de uma nova proposta no sistema.

Para automação dos processos de crédito, a Plataforma de Crédito utiliza tecnologia de


fluxo de trabalho, com a modularização das etapas da concessão de crédito, que se inicia
no cadastro da proposta e é finalizada na liberação do recurso.

Considerando o tipo e a estrutura organizacional, a critério da cooperativa, é possível


também segregar a permissão de utilização da ferramenta, via módulo de CONTROLE
DE ACESSO (CTA) , de grupos de usuários específicos a cada atividade do processo de
concessão de crédito. Além disso, é possível adequar os parâmetros de enquadramento das
propostas nos níveis de alçadas dos processos decisórios.

FIQUE POR DENTRO

O QUE É?

Trata-se de um módulo no qual são realizadas as configurações de acesso aos menus das funcionalidades
de cada sistema que interage diretamente com a Plataforma de Crédito.

Embora o sistema que habilita os usuários a operar na Plataforma de Crédito seja o GED/GFT, a liberação
dos menus, por meio do CTA, é imprescindível para o acesso às funcionalidades.

Fonte: MPS – Plataforma de Crédito

Nesse contexto, as atividades inerentes ao processo de concessão de cada tipo de operador


devem ser previamente parametrizadas conforme os procedimentos obrigatórios visando
à segregação das funções de cada agente, sendo importante destacar os seguintes papéis:

8
Responsável pela criação, pela manutenção e pela liberação das linhas de crédito às
Gestor de crédito
centrais. É responsável também pela configuração das anotações de crédito, pela
centralizado
parametrização dos dossiês eletrônicos e pela configuração das garantias.
Responsável pela liberação da linha de crédito à singular, podendo, a seu critério,
Gestor de crédito da especializar a linha previamente à liberação. Poderá também, de forma centralizada,
central configurar os fluxos de crédito pelo MÓDULO GED e personalizar os parâmetros de
aprovação no Módulo de Alçadas.
Responsável pela configuração do modelo de preenchimento de proposta, pela
configuração da tabela de taxa de juros e pela liberação de linha para os grupos de
Gestor de crédito da usuários. A seu critério, a linha de crédito poderá ser especializada:
singular y em caso de gestão descentralizada, o gestor de crédito da singular será o
responsável pela configuração dos fluxos de crédito no módulo GED e pela
personalização dos parâmetros de aprovação no Módulo de Alçadas.
Responsável pelo cadastro e pela evolução das propostas no fluxo de concessão de
Operador de crédito crédito. A participação deste perfil nas atividades do fluxo depende das permissões
concedidas nos processos de crédito no GED/GFT.
Responsável pela análise prévia das propostas de crédito antes de submetê-las ao
processo de aprovação pelo MÓDULO DE ALÇADAS . A utilização deste perfil é
obrigatória, para propostas de crédito que apresentem:
y risco total maior ou igual a 2% (dois por cento) do PR;
Análise técnica –
cooperativa singular ou y anotações de crédito relacionadas à inadimplência, prejuízo, indicativos de
Banco Sicoob capacidade de pagamento, parecer técnico não favorável e favorável com
ressalvas e aos itens 20 e 22 da Política Institucional de Gerenciamento de
Risco de Crédito;
y essas regras não se aplicam às operações realizadas a partir dos modelos
instituídos pela Fábrica de Limites .
Responsáveis pela apreciação e pela deliberação das propostas originadas na
Aprovadores de crédito Plataforma de Crédito, que estabelece a criação de quatro grupos de aprovadores para
vinculação nos quatro níveis de alçadas de crédito.

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?
Trata-se do Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED), que é uma plataforma na qual são
realizadas as configurações do processo de concessão e de aprovação de crédito por alçadas.
Fonte: MPS – Plataforma de Crédito

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?

Trata-se do módulo no qual é realizada a personalização das regras de alçadas, adequando-as à política
e à estrutura de decisão da entidade.
Fonte: MPS – Plataforma de Crédito

A depender do porte e da complexidade, bem como das características específicas de cada


cooperativa singular, os processos de concessão serão conduzidos pelos seus agentes
operacionais, passando basicamente por três grandes fases:

y fase 1 – coleta de informações;


y fase 2 – análise e decisão de crédito;
y fase 3 – formalização e liberação.

Veja como se desenvolve cada uma delas, conforme suas especificidades.

9
COLETA DE
INFORMAÇÕES

1.2
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

Nesta fase, os agentes operacionais do processo de concessão devem primar pela coleta
das informações importantes para a realização das operações de crédito bem estruturadas,
conduzidas com base em fatos e dados verdadeiros, válidos e úteis para a operacionalização
de créditos assertivos aos cooperados tomadores de recursos.

Nesse sentido, o agente deve orientar-se pelo princípio básico do mercado financeiro
global, conhecido pela sigla “KYC”, realizando entrevistas e visitas de vistoria, conforme
abordado a seguir.

1.2.1 Princípio “conheça seu cooperado”


O princípio “conheça seu cooperado” tem sua origem no conceito de “KYC”, sigla em inglês
da expressão know your customer, que significa “conheça seu cliente”.

Esse termo é amplamente conhecido no mundo, tendo sido cunhado originalmente pelo
Primeiro Acordo de Basileia, celebrado em 1988, que desde então, com base em um conjunto
de normas e regras de gestão do risco, obriga as instituições financeiras – supervisionadas
pelos bancos centrais e pelas agências reguladoras – a identificar a origem dos recursos e
os meios para a constituição do patrimônio de seus clientes.

Posteriormente, a técnica foi implementada como uma das principais ferramentas no


processo de prevenção à lavagem de dinheiro1 e contra o financiamento ao terrorismo
(PLD/FT) , sendo obrigatoriamente utilizada nas instituições financeiras e rigidamente
monitorada pelos órgãos supervisores e pelas auditorias independentes.

FIQUE POR DENTRO


A Lei n. 9.613, de 03/03/1998, tipificou o crime de lavagem de dinheiro como aquele em que se oculta ou
dissimula a natureza, a origem, a localização, a disposição, a movimentação ou a propriedade de bens,
direitos e valores provenientes, direta ou indiretamente, de determinados crimes antecedentes.

A Lei n. 12.683, de 09/07/2012, alterou a Lei n. 9.613/1998 para tornar mais eficiente a persecução penal
dos crimes de lavagem de dinheiro.

1
Lavagem de dinheiro: ato de encobrir a origem delitiva de bens, valores e capitais com o intuito de reinseri-los na economia
formal sob a aparência de licitude. Segundo o Bacen, trata-se de um “conjunto de operações comerciais ou financeiras que buscam
a incorporação na economia de cada país, de modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita”.
11
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

No contexto da gestão e da análise do crédito, o princípio “conheça seu cooperado” serve


como um procedimento essencial para identificar a real necessidade de crédito do tomador.
Juntamente com as técnicas de entrevista e a visita de vistoria, busca coletar informações
importantes que alimentem o cadastro a fim de subsidiar a concessão de crédito de forma
assertiva para o cooperado, mitigando os riscos para a cooperativa.

As informações coletadas pela técnica “conheça seu cooperado” comporão um conjunto de


fatos e dados para realizar análises objetivas e subjetivas num processo de concessão de
crédito. Mais adiante, neste caderno, você conhecerá os métodos de avaliação estatístico,
especialístico e fundamentalístico, derivados dessas análises. A seguir veja as técnicas de
entrevista e visita de vistoria, que dão suporte à apuração de informações cadastrais.

1.2.2 Entrevista para acatamento de proposta


No processo de concessão de crédito, na fase de coleta de informações a entrevista é crucial
para garantir que um cooperado poderá ter acesso a um recurso financeiro adequado para
satisfazer suas reais necessidades econômicas, conforme a política vigente na instituição
financeira cooperativa de sua preferência.

Conforme visto anteriormente, o cooperado pode demandar o crédito por intermédio de


um canal pessoal ou impessoal de atendimento, ou ainda ser procurado por um agente de
negócios, geralmente seu gerente responsável, o qual pode oferecer-lhe uma condição
específica de crédito.

Dessa maneira, vale destacar que toda instituição financeira, quando prioriza seus canais
pessoais e presenciais para o acatamento de propostas de crédito, utiliza-se basicamente
de dois tipos de métodos para realizar o atendimento das demandas por operações de
crédito: o método proativo e o método reativo.

1.2.2.1 Métodos de atendimento proativo x reativo

Os métodos de atendimento proativo e reativo são facilmente notados na instituição


financeira cooperativa quando se avaliam, no seu ambiente, as condições de como são
geradas as propostas de crédito na instituição.

Conforme descreve Lopes (2020), diversas situações influem no cotidiano de uma


cooperativa singular, impactando diretamente nas prospecções de crédito realizadas. Veja
como funcionam os métodos de atendimento reativos e proativos.

12
MÉTODO REATIVO MÉTODO PROATIVO
y Demandas são geradas por cooperados, que vão até o y Demandas são geradas por visitas gerenciais
ponto de atendimento. aos cooperados.

y Contatos são eventuais e esporádicos, conforme a y Contatos são frequentes por diversos canais
necessidade do cooperado. pessoais e a distância.

y Propostas são elaboradas de forma emergencial, com y Propostas são antecipadas, com tempo hábil
pressa na liberação. para realizar as análises.

y Cadastros são feitos às pressas, dando margem para o y Cadastros são confeccionados com maior
uso de dados forjados. precisão e tempo hábil.

y Há mais erros e retrabalhos. y Há menos erros e retrabalhos.


y Mais atrito entre a área de negócios e as áreas y Menos atritos entre a área de negócios e as
operacionais centralizadas. áreas operacionais centralizadas.

Fonte: LOPES, 2020, p. 146.

Notadamente, o melhor entre esses dois métodos para acatamento das propostas é o
atendimento proativo. Porém, nem sempre o método de atendimento reativo, que é
claramente mais nocivo ao negócio cooperativo, ocorre de modo deliberado e intencional
por parte de seus gestores, segundo Lopes (2020).

Na maioria das vezes, o método reativo ocorre em razão do acúmulo das atividades de
atendimento desenvolvidas por equipes demasiadamente reduzidas ou pela falta de
estrutura física e tecnológica adequada, ou ainda por causa de pessoas mal treinadas para
as funções que exercem.

Tais situações impactam diretamente o ambiente de atendimento aos cooperados, tendo


em vista que a cooperativa, premida pela necessidade de priorizar o que é mais latente e
urgente, acaba estabelecendo, como consequência, o atendimento pelo método reativo
como o padrão daquele ambiente, o que efetivamente prejudica a qualidade das propostas
geradas.

Em uma mesma cooperativa alguns pontos de atendimento podem conseguir se organizar


pelo método proativo, ao passo que outros se prendem ao método reativo, mesmo que não
desejem ou planejem tal situação.

Obviamente, as demandas de crédito reativas poderão continuar a ocorrer mesmo em


ambientes reconhecidamente proativos, pois muitas propostas são oriundas de cooperados
que procuram os pontos de atendimento para solicitar crédito, devendo ser atendidos com
a primazia que lhes é devida.

Para Lopes (2020), ocorre, por vezes, que o bom cooperado com necessidade de crédito
acaba por buscá-lo em outros agentes financeiros, que lhe oferecem melhores condições
de atendimento. Isso acontece devido à notória ineficiência no atendimento das demandas
nos locais em que se observa uma desarmonia no processo de concessão decorrente do
método reativo. Assim, os outros agentes financeiros (concorrentes) acabam deixando o
já tumultuado ambiente de atendimento reativo para os clientes/cooperados que pela
necessidade sempre emergencial ou ainda pela falta de acesso ao mercado de crédito têm
nos ambientes reativos sua única opção.

13
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

É também por essas razões que boa parte das propostas de crédito reativas é naturalmente
inviável, assim como em decorrência dos aspectos relacionados ao perfil de qualidade
creditícia do tomador, bem como pela ausência de garantias mais consistentes para sua
operacionalização, além de todo o estresse gerado pelos retrabalhos, impedindo uma
estruturação consistente de boas propostas adequadas ao perfil de aceitação ao risco da
cooperativa.

Em oposição a essa situação, as propostas geradas pelo método proativo são naturalmente
mais favoráveis, haja vista que os cooperados visitados com o propósito de gerar negócios
tendem a ter um perfil de melhor qualidade creditícia, pois entende-se que a agência
estabeleceu uma priorização para atender a algum nicho específico de cooperados de melhor
capacidade para gerar propostas adequadas ao perfil de aceitação ao risco da cooperativa.

Logo, as propostas geradas nesse contexto são mais bem estruturadas, conforme análises
previamente estabelecidas numa negociação “ganha ganha” entre cooperativa e cooperado
tomador.

Obviamente, também podem ser geradas propostas inviáveis, oriundas do método proativo,
mas isso decorre em grande parte da falta de um melhor preparo do profissional na escolha
de seus cooperados para tais demandas, o que pode ser comprovado por indicadores de
risco associados a cada carteira de crédito da agência.

Contudo, seja qual for o método predominante no ambiente de negócios no qual são
geradas as propostas, é condição obrigatória para ambas as situações a realização de
entrevistas bem executadas pelo profissional que estiver acatando a proposta de crédito.

1.2.2.2 Entrevista

Na entrevista2 existem duas figuras que interagem mutuamente durante a fase de coleta de
informações para a concessão de um crédito:

y o agente de negócios (como entrevistador) e


y o cooperado tomador (como entrevistado).

Cabe ao entrevistador identificar a viabilidade da proposta por meio de uma entrevista bem
conduzida, na qual buscará compreender a real necessidade do cooperado entrevistado ou
pessoa por ele designada, realizando, ao final, um enquadramento da sua demanda de
acordo com a política de crédito da cooperativa.

2
Entrevista: técnica em que se pressupõe a existência de uma conversa entre duas ou mais pessoas e em que perguntas são
dirigidas pelo entrevistador de modo a obter uma informação necessária por parte do entrevistado (LOPES, Euder A., 2020, p. 145).

14
Nesse sentido, faz-se necessário relembrar o que já foi explanado anteriormente quanto
aos conceitos do KYC (know your customer), ou seja, “conheça seu cliente”, aqui chamado
de “conheça seu cooperado”.

Em uma entrevista, para formar sua convicção e emitir uma opinião acerca da viabilidade de
uma proposta de crédito, é obrigatório para o agente de negócios validar seus pressupostos
por meio de perguntas dirigidas aos envolvidos no contexto da análise, principalmente
quando se tratar de uma análise para o acatamento e a defesa de uma proposta de crédito.

Para realizar uma entrevista com a máxima efetividade possível, deve-se atentar para
alguns procedimentos importantes a fim de alcançar tal feito, como, por exemplo:

y identificação pessoal e confirmação da legitimidade da representação do


cooperado demandante (própria ou por terceiros);
y profundo conhecimento da real necessidade econômica de consumo, produtivo
ou investimento, indagando sobre as causas e as motivações que geraram a
demanda;
y enquadramento adequado da demanda conforme os produtos e os serviços
disponíveis no portfólio;
y negociação das condições mínimas necessárias para viabilizar e encaminhar
uma proposta de crédito;
y coleta de dados e informações complementares para montagem do dossiê de
crédito.

Todos esses procedimentos básicos devem partir do entrevistador, que deverá realizar
consultas e sondagens por meio de um atendimento que tenha abordagem consultiva.

1.2.2.3 Atendimento consultivo

Com o objetivo de alcançar sua meta numa entrevista de crédito, o agente de negócios, na figura de
um entrevistador, deve, sempre que possível, estabelecer um diálogo aberto com seu cooperado
tomador, utilizando as técnicas da chamada abordagem consultiva. Veja sua definição:

Abordagem consultiva é uma técnica por meio da qual são feitas


sondagens e testes de aderência entre as questões levantadas pelo agente
de negócios e seu interlocutor (alvo da abordagem) com o objetivo de
alcançar êxito numa negociação.

Com essa técnica busca-se prospectar oportunidades consistentes de negócios direcionados


ao perfil do entrevistado, conhecendo suas preferências, objeções e gostos pessoais,
sendo possível, a partir daí, identificar outras necessidades financeiras, além do crédito
demandado ou oferecido.

15
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

As cooperativas de crédito possuem atualmente amplos portfólios de produtos e serviços


financeiros que podem atender plenamente às mais diversas necessidades econômicas dos
seus cooperados, bastando, para tanto, diagnosticar e apresentar as soluções certas para
cada tipo de perfil.

1.2.2.4 Modalidades de relacionamento

No contexto de gestão e análise de crédito é importante ressaltar as duas modalidades de


relacionamento gerencial que potencializam a assertividade no tratamento das demandas
de crédito. Trata-se da segmentação e do encarteiramento de um conjunto de cooperados
para que possam usufruir de um atendimento especializado e personalizado.

A segmentação e o encarteiramento, apesar de possuírem o mesmo objetivo – prestar um


atendimento mais eficiente ao cooperado –, são compreendidos da seguinte forma:

Segmentação: técnica de segregação da base de cooperados a partir


de seu segmento ou atividade econômica. O primeiro corte é pela
distinção entre pessoas físicas e pessoas jurídicas. Posteriormente
utiliza-se a separação por faixas de renda ou faturamento, ou ainda por
perfil de relacionamento.

Exemplos típicos de segmentação são as segregações de: produtor rural, profissional


liberal ou microempreendedor autônomo, entre outros. Para cada perfil de segmentação
entende-se que haverá gerentes preparados para os públicos específicos que darão,
por consequência, um atendimento especializado às demandas por produtos e serviços
financeiros, além de especial atenção na concessão de crédito.

Encarteiramento: técnica de segregação da base de cooperados a


partir da mobilização e da composição pelo próprio gerente, ou seja, a
carteira será constituída levando-se em consideração o relacionamento
gerencial, no qual normalmente o responsável pela captação do
cooperado incorpora na sua carteira gerencial os cooperados de perfil
PF ou PJ, independentemente da sua atividade econômica ou seu perfil
base.

Nessa modalidade de relacionamento, o agente de negócios presta um atendimento


pessoal e, por consequência, um atendimento personalizado, o que muito contribui para
atender às demandas por produtos e serviços financeiros, e, em especial, na concessão de
crédito.

É importante notar que o relacionamento com o cooperado tende a ser ainda mais
fidelizado quando todas essas técnicas se juntam, desde o método de atendimento

16
proativo, passando pela entrevista bem conduzida, utilizando uma abordagem consultiva,
até a melhor assertividade na geração das demandas, conforme o perfil para atendimento
pelas modalidades de relacionamento de segmentação ou encarteiramento.

Em casos de demandas de cooperados de maior potencial de negócios (e também de riscos),


faz-se necessário realizar uma visita de vistoria para avaliar a viabilidade da concessão do
crédito, com uma análise in loco do negócio.

1.2.3 Visita gerencial de vistoria para crédito


No contexto de gestão e análise de crédito, a realização de visitas técnicas aos cooperados
torna-se cada vez mais relevante, não só para estreitar o relacionamento das cooperativas
com seu quadro social, mas fundamentalmente para subsidiar as atividades de gestão
comercial em pontos de atendimento ou unidades de negócios, em especial para as
cooperativas que utilizam, de forma prioritária, o método de atendimento proativo.

1.2.3.1 Tipos de visitas técnicas

As visitas técnicas podem ser diferenciadas em quatro tipos: visita de prospecção de


negócios, visita de manutenção, visita de cobrança e visita de vistoria para concessão de
crédito. Veja as características de cada tipo.

TIPO CARACTERÍSTICAS
O agente de negócios visita o cooperado com o objetivo de prospectar, isto é,
identificar potenciais negócios. Nesta visita busca-se estabelecer uma relação de
Visita de prospecção confiança com o cooperado e, oportunamente, antecipar suas demandas pelo
conhecimento prévio das suas necessidades, disponibilizando produtos e serviços
de maneira direcionada.

Aqui entende-se que a cooperativa já possui um histórico de relacionamento com o


cooperado, buscando manter esse contato ativo para novas demandas e para
monitorar suas atividades econômicas. As visitas de manutenção têm como
Visita de manutenção
objetivo observar o nível das atividades do cooperado, se estas estão em condições
favoráveis, se existem novas oportunidades ou, mesmo, novas ameaças desde a
última visita.

Seu objetivo é claramente persuadir o cooperado a honrar compromissos próximos


Visita de cobrança de seu vencimento ou já vencidos com a cooperativa, buscando, por meio de
diálogo, encontrar alternativas favoráveis tanto à cooperativa como ao cooperado.

Procedimento acessório do processo de concessão de crédito por meio do qual o


representante da instituição financeira procederá à vistoria do local onde está
Visita de vistoria para
estabelecida a atividade econômica do cooperado, podendo esse local ser uma
o crédito
empresa, uma propriedade urbana ou rural onde o pretendente está estabelecido
ou onde será aplicado o recurso.

Fonte: LOPES, 2020, p. 150

17
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

A visita de vistoria para o crédito tem a função primordial de compreender mais


especificamente a demanda de crédito do cooperado tomador, vistoriando se há
conformidade e aderência entre as informações prestadas durante a entrevista inicial para
acatamento da proposta. Validam-se, assim, os dados inseridos em seu cadastro, realizando-
se uma checagem in loco dos fatos mais importantes da análise prévia, empreendendo
novas entrevistas, coleta de novos dados e informações complementares.

Mais adiante, será abordado neste caderno o MÉTODO DE AVALIAÇÃO ESPECIALÍSTICO , no


qual as visitas de vistoria para o crédito podem ser utilizadas por especialistas competentes,
como gerentes especializados, analistas técnicos ou profissionais liberais habilitados, que
realizam um estudo com avaliação de viabilidade da proposta de crédito no contexto do
empreendimento econômico no qual é desenvolvida a atividade do cooperado, e, com
base em parâmetros técnicos reconhecidos como válidos, é emitida uma espécie de laudo
técnico para a tomada de decisão.

FIQUE LIGADO
Veremos sobre os métodos de avaliação na fase de análise e decisão de crédito deste caderno.

Esse documento pode ser emitido na forma de um relatório técnico de visita cujo emissor
se torna responsável, perante o processo de concessão de crédito, pela veracidade das
informações apresentadas, podendo ainda fazer parte do dossiê de crédito que acompanha
a proposta, subsidiando a tomada de decisão pelas respectivas alçadas competentes.

1.2.3.2 Planejamento de visitas gerenciais

São muitas as motivações para estabelecer a prática de visitas aos cooperados como
processo contínuo de uma cooperativa no relacionamento com seu quadro social. Entre as
razões estão as seguintes:

y uma visita representa um procedimento necessário para estabelecer uma boa e


harmoniosa relação de confiança entre a cooperativa e o cooperado;
y para o cooperado, receber uma visita significa, na maioria das vezes, uma
oportunidade de apresentar fidedignamente seu empreendimento e demonstrar
sua realidade, o que nem sempre é possível por meio de documentos e entrevistas
na agência;
y notadamente, ao receber um representante da cooperativa no seu local de
trabalho, o cooperado revela muito sobre o seu comportamento e sua maneira
de lidar com as situações inerentes ao seu negócio, especialmente quando se

18
trata de um crédito, pois nesse local será aplicado o recurso financeiro a ser
transformado em produtos e/ou serviços para o mercado consumidor;
y no ato da visita, o representante da cooperativa poderá notar sutilezas, positivas
ou negativas, que o cadastro nem sempre é capaz de mostrar, e no contexto da
concessão de crédito, no papel a demanda pode até se mostrar viável, mas na
prática a realidade pode ser outra.

Além das razões citadas, justifica-se a grande relevância de se planejar adequadamente


para visitar um cooperado pretendente ao crédito, principalmente as pessoas jurídicas
de maior vulto, ou os cooperados com os quais se estiver iniciando um relacionamento
comercial, ou, ainda, quando não se relaciona pessoalmente com o cooperado há muito
tempo, sendo necessário compreender a realidade deste em um determinado momento.

Desse modo, pode-se perceber nitidamente que numa visita a possibilidade de coleta de
informações é muito ampla, portanto é essencial fazer um planejamento minucioso a fim de
que a visita se torne produtiva e eficaz. Veja alguns aspectos importantes no planejamento
de uma visita:

y defina um objetivo específico para a visita: ela será de vistoria, de prospecção, de


manutenção ou de cobrança? Para cada tipo de visita é exigida uma abordagem
exclusiva;
y colete os dados importantes preliminarmente: de acordo com o objetivo da
visita, busque identificar os dados e as informações relevantes para confirmação,
avaliação ou mesmo complementação, visando melhor compreender a situação
do cooperado;
y otimize o tempo: tanto para você quanto para o cooperado o tempo é um fator
de grande relevância numa visita, pois, além de saber escolher um horário
apropriado aos dois, ao realizar visitas você certamente poderá otimizar o tempo,
conciliando mais de uma visita por rota ou região;
y tenha uma apresentação pessoal condizente com o perfil de um profissional do
mercado financeiro: avalie se suas vestimentas estão adequadas para a ocasião e
o perfil do cooperado; leve consigo o cartão de visitas, algum material de apoio
e divulgação da cooperativa e de seus produtos e serviços; mantenha sempre
uma postura que reflita o padrão moral e ético da cooperativa, mesmo quando o
cooperado eventualmente não possuir tal compostura;
y mantenha o foco durante a visita: é muito comum ocorrerem distrações durante
uma visita ou o profissional ser induzido a assuntos inócuos e fora do interesse e,
de forma intencional ou não, perder o foco;
y seja perspicaz ao adentrar o local da visita: realize uma “leitura do ambiente”,
correlacionando os fatos, testando pressupostos e validando preconceitos;
y registre os fatos e os dados importantes: anote discretamente as informações e
transcreva-as para o relatório somente após o término da visita.

19
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

Note que esses são aspectos simples, mas que podem ajudar significativamente na
realização de visitas produtivas e eficazes. Cabe ao responsável pela visita conduzir
habilmente todo o processo, com ética, profissionalismo e elegância.

1.2.3.3 Relatório de visitas

Durante o processo para a concessão de crédito, o relatório de visitas pode servir como
um documento acessório, coletando dados e informações que sirvam de evidência para a
sustentação da análise de viabilidade do cooperado.

A visita de vistoria para a concessão de crédito tem também a finalidade de complementar


e contextualizar os dados cadastrais, servindo como um registro formal para as análises
objetivas e subjetivas, conforme será abordado mais adiante no tópico MÉTODOS DE
AVALIAÇÃO ESTATÍSTICO, ESPECIALÍSTICO E FUNDAMENTALÍSTICO .

FIQUE LIGADO
Veremos sobre os métodos de avaliação na fase de análise e decisão de crédito deste caderno.

Dependendo do nível técnico do avaliador que estiver realizando a visita, o relatório poderá
caracterizar-se como um “laudo de avaliação técnica”, cujo emissor se torna também responsável
pela confirmação e pela validação das informações coletadas para fins de decisão de crédito.

Para melhor exemplificação do uso de relatórios de visitas, foram segregadas algumas


partes de um relatório padrão elaborado com a função de registrar dados e informações
importantes coletadas durante uma vistoria para o crédito.

São consideradas informações pertinentes em relatórios técnicos de visitas para a


concessão de crédito:

y identificação do cooperado: descrever a empresa, seu tempo de atuação, seu


porte, sua localização, informar seus representantes legais, sua estrutura de
poder, se há procurações e quem são as pessoas-chave na estrutura funcional
para um melhor relacionamento com a cooperativa;
y também é oportuno checar os dados básicos de contato, como os
números de telefones e o endereço de e-mail, por exemplo;
y atividade econômica: descrever o ramo de atuação da empresa, o regime de
constituição social, o porte, se há participação em holding ou grupos econômicos,
o regime tributário adotado, a relação das principais atividades econômicas que
desenvolve para gerar receita e se atua com filiais ou postos em outras localidades;
y situação mercadológica: descrever os principais produtos e serviços oferecidos ao
mercado e o respectivo grau de concentração do portfólio, buscando relacionar

20
quem são os principais tipos de clientes-alvo, como é o relacionamento da
empresa com seus clientes, o grau de concentração das linhas de produtos, se
os produtos e os serviços atendem adequadamente às expectativas dos clientes;
y também é importante descrever como estão as perspectivas do negócio, as
expectativas para o futuro, se existem planos de expansão, programação
de lançamento de novos produtos ou serviços, projetos em andamento,
bem como o retorno esperado de tais expectativas de negócios;
y nesse contexto, é relevante conhecer o atual posicionamento da empresa
no mercado em que atua, quem são seus principais concorrentes diretos
e indiretos e quais as vantagens e as desvantagens da empresa em
relação ao seu mercado concorrente. Verificar se tais situações podem
ser obstáculo ao atingimento das perspectivas de futuro da empresa;
y situação operacional: descrever como funciona o ciclo operacional do negócio,
ou seja, sua política de compras (% à vista e % a prazo), sua política de estocagem
(giro do estoque), sua política de vendas (% à vista e % a prazo); como é feito
o pagamento aos fornecedores (quais os meios utilizados), como é realizado
o recebimento de seus clientes (que tipos de meios são utilizados); avaliar os
prazos médios de cada etapa: PMRE – prazo médio de renovação dos estoques,
PMRV – prazo médio de recebimento das vendas, PMPC – prazo médio de
pagamento das compras, ciclo operacional médio e ciclo financeiro. Esses dados
são fundamentais para definir a real necessidade de capital de giro das empresas,
foco de abordagem da análise especialística para cooperados PJ.
y situação financeira: fornecer uma análise da composição do endividamento
financeiro do cooperado pela Central de Risco do Bacen, apresentando o fluxo de
vencimentos, as modalidades de crédito tomados, se o histórico está aumentando
ou diminuindo, os agentes financeiros que utilizam e qual o grau de concentração
do movimento financeiro com a cooperativa;
y também é importante levantar o endividamento operacional com
terceiros, como dívidas com fornecedores, dívidas trabalhistas e fiscais,
além do valor correspondente aos créditos a receber mediante títulos,
como cheques, duplicatas, recebíveis de cartão, notas promissórias, etc.;
y portfólio de produtos e serviços: descrever o grau de fidelidade com a cooperativa
a partir do uso do portfólio de produtos e serviços que já utiliza, apresentando seu
histórico de adimplência, seu perfil de risco e seus limites já atribuídos e utilizados;
y nesse sentido, buscar inteirar-se dos relatórios internos que demonstram
os produtos utilizados pelo cooperado, pois essa análise é fundamental
para avaliar seu grau de fidelidade e reciprocidade com a cooperativa;
y mediante uma análise preliminar e após a avaliação que ocorre durante a
visita sobre o potencial de negócios do cooperado, almeja-se descrever os
produtos e os serviços utilizados na concorrência e suas condições negociais
vigentes, além de apresentar uma perspectiva que poderá ser utilizada na
cooperativa, possibilitando, inclusive, realizar agendamento de retorno para
futuras visitas de prospecção já pré-direcionadas.

21
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

Por fim, após o processo de entrevista e visita, no contexto do “conheça seu cooperado” na
fase de coleta de informações, registram-se os fatos e os dados importantes para análise
no relatório técnico de visita com vistas à concessão de crédito.

O fluxo do processo de concessão segue adiante, passando por uma eventual necessidade
de atualização cadastral e posterior emissão de um parecer para subsidiar a decisão de
concessão de crédito pelas alçadas competentes.

1.2.4 Cadastro de pessoas


O processo de concessão de crédito tem início no cadastro da proposta e na coleta dos
dados para análise e enquadramento da necessidade de crédito aos produtos disponíveis.
Nesse sentido, indiscutivelmente o processo cadastral é primordial na gestão e na análise
de crédito, pois o cadastro3 é a fonte primária por meio da qual os fatos objetivos são
evidenciados.

Sem um cadastro bem estruturado fica muito difícil elaborar uma análise tecnicamente
consistente e bem fundamentada. Esse é um processo crítico para o sucesso da concessão
de créditos mais assertivos aos cooperados tomadores de recursos.

O cadastro tem por finalidade principal fornecer informações atualizadas sobre a situação
do cooperado com o objetivo de balizar as decisões de gestão comercial de acordo com os
métodos e as modalidades de atendimento de uma instituição financeira, sendo essencial
para a concessão de créditos com a máxima qualidade e segurança possíveis. É por meio
de um cadastro bem elaborado que:

y define-se mais objetivamente a modalidade de relacionamento mais adequada


para o atendimento das demandas do cooperado;
y evidencia-se o potencial de negócios que a cooperativa pode realizar
proativamente com o cooperado;
y são geradas as classificações de risco do cooperado tomador, servindo de base
para o gerenciamento do risco de crédito;
y define-se o limite de crédito global e as modalidades de linhas de crédito para
atendimento das necessidades financeiras do cooperado.

3
Cadastro: conjunto de informações essenciais para o estabelecimento de um relacionamento comercial baseado na confiança
mútua entre uma empresa e seus clientes.

22
1.2.4.1 Responsabilidades entre entidades do Sicoob

O processo cadastral no Sicoob é orientado pelo Manual de cadastro, cuja função é


estabelecer os padrões de análise e de registro das informações e dos documentos de
identificação das pessoas que mantêm relacionamento permanente ou eventual com
as entidades do Sicoob. Neste manual fica estabelecido que o Sicoob Confederação é a
entidade gestora do cadastro de pessoas do Sicoob (Capes), responsabilizando-se por:

y acompanhar a legislação pertinente, adequando os normativos e os processos


utilizados no Sicoob sempre que necessário;
y analisar as demandas das entidades do Sicoob em relação à evolução dos
processos e/ou funcionalidades do sistema de tecnologia da informação;
y ofertar treinamentos periódicos às demais entidades do Sicoob por intermédio
da Superintendência de Educação Corporativa;
y avaliar, anualmente e por meio da área de Auditoria, os sistemas e os
procedimentos internos utilizados no gerenciamento do cadastro;
y mediar divergências entre as entidades que se relacionam com o mesmo
cadastrado.

Entretanto, em que pese a centralização de funções do Sicoob Confederação para gestão


do Capes, é responsabilidade de cada entidade do Sicoob, em relação aos cadastros com
os quais mantenha relacionamento, segundo o Manual de cadastro (2021):

y atender aos seguintes requisitos em relação aos dados e aos documentos:


y fidedignidade: registro exclusivo de dados verdadeiros baseados em
fontes preferencialmente passíveis de comprovação;
y padronização: registro dos dados e dos documentos de forma
parametrizada em seus campos específicos com base nas orientações
normatizadas no Manual de cadastro;
y completude: registro de todos os dados e coleta de todos os documentos
cadastrais necessários ao tipo de relacionamento pretendido com
o cadastrado, considerando o nível de risco e a natureza dos seus
negócios;
y sigilo: os dados e os documentos cadastrais devem ser utilizados
somente no atendimento dos interesses do Sicoob;
y utilizar o resultado dos trabalhos de auditoria para direcionar o processo de
atualização cadastral e de melhoria da adequação dos dados e documentos
cadastrais;
y capacitar os empregados que trabalham diretamente com cadastro por meio das
trilhas de aprendizagem disponibilizadas pelo Sicoob Universidade.

23
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

Na existência de relacionamento do cadastrado com mais de uma entidade do Sicoob,


utilizam-se as seguintes definições:

y entidade responsável pelo cadastro: é a que detém a responsabilidade direta


sobre a manutenção do cadastro;
y entidades de relacionamento do cadastrado: são as que compartilham o cadastro
com a entidade responsável. Por não deterem a responsabilidade direta sobre a
manutenção do cadastro, dependem da aprovação da entidade responsável pelo
cadastro para a conclusão das atualizações.

Independentemente do tipo de relacionamento do cadastrado com a entidade (entidade


de relacionamento ou entidade responsável), o cadastro possui o mesmo grau de exigência
em relação à aplicação da Política Institucional de Cadastro do Sicoob e demais normativos
internos e externos vigentes aplicáveis, não havendo diferenciação entre as entidades em
relação às suas responsabilidades.

1.2.4.2 Consultas e anotações cadastrais

A realização de consultas cadastrais e a análise das anotações são o passo inicial do


processo de cadastro e devem ser providenciadas como ação antecessora à inclusão dos
dados de um novo cadastrado, mas também podem fazer parte do processo de renovação
cadastral de pessoas já inseridas na base cadastral do Sicoob.

Os resultados das consultas e as anotações cadastrais por elas obtidas possuem caráter
estritamente confidencial ao Sicoob e são destinadas a apoiar decisões internas de crédito,
negócios e avaliação de riscos, sendo vedada sua reprodução, total ou parcial, bem como
sua divulgação a terceiros, ainda que ao próprio consultado, sob qualquer forma.

A comprovação da inclusão/atualização será evidenciada, em eventuais auditorias, nas


anotações vinculadas ao cadastro de pessoas que mantêm relacionamento com o Sicoob,
servindo de amparo perante eventuais avaliações de pertinência na concessão de créditos.

Nesse contexto, existem anotações geradas automaticamente pelo Sistema Sisbr que têm
o objetivo de registrar, manter e disponibilizar um conjunto de informações referentes
a cada cadastrado, servindo de base para as regras de contratação, manutenção e
acompanhamento dos produtos e dos serviços do Sicoob.

As anotações são resultado de fatos ou eventos ocorridos com o cadastrado e de interesse


do Sicoob, podendo ser geradas por fontes internas (Sisbr, manualmente) ou externas
(Serasa, Bacen, etc.). As anotações são classificadas, quanto à forma de captura, em três
categorias:

y manual: depende da intervenção do empregado, por meio de acesso ao menu,


para incluir e/ou baixar o registro. As anotações de captura manual estão
dispostas em lista, e o usuário escolhe a anotação para registro e a complementa
com demais dados pertinentes, se necessário;

24
y semiautomática: depende da intervenção do empregado para acionar a
realização de uma consulta cadastral;
y automática: não há necessidade de nenhum tipo de intervenção do empregado
para inclusão e/ou baixa do registro. O Sistema Sisbr processa a inclusão e/ou a
baixa da anotação durante o fechamento das rotinas diárias.

As anotações são classificadas conforme o risco que o fato ou evento representa para o
Sicoob, sendo elas:

y anotação informativa: representa o fato ou o evento cadastral que merece registro


para ponderação. Conforme a regra de cada produto ou serviço, constante nos
Manuais de instruções gerais (MIGs) e/ou nos Manuais de produtos e serviços
(MPSs), esse tipo de anotação gerará alertas e/ou indicará a necessidade de
autorizações ou alçadas diferenciadas e/ou sinalizará a atenção especial em
relação às operações ou às propostas de operações do cadastrado;
y anotação impeditiva relativa: consiste na restrição que pode impedir a realização de
negócios, conforme o peso e as regras normatizadas para cada produto ou serviço
e a avaliação da entidade. Esse tipo de anotação gerará alertas e/ou indicará a
necessidade de autorizações ou alçadas diferenciadas e/ou sinalizará a atenção
especial em relação às operações ou às propostas de operações do cadastrado;
y anotação impeditiva absoluta: representa restrição que, conforme os Manuais de
instruções gerais (MIGs) e/ou os Manuais de produtos e serviços (MPSs), impede a
realização de negócios com o cadastrado.

1.2.4.3 Aspectos legais para aceitação de documentos

Segundo o Manual de cadastro do Sicoob (2021), são aceitos para fins de registro cadastral
os documentos comprobatórios originais e/ou cópias autenticadas em cartório, que
deverão estar legíveis e em perfeito estado de conservação.

De forma obrigatória, o dossiê cadastral deverá ser digitalizado na PLATAFORMA DE


ATENDIMENTO .

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?

A Plataforma de Atendimento é a principal plataforma para realização dos atendimentos diários aos
cooperados, pois reúne as principais funcionalidades para o pronto atendimento.

Dentre as principais funcionalidades, podemos citar: efetua cadastro completo e gerencia clientes/
associados, conta capital, conta corrente, investimentos, e ainda, efetua o cadastramento de
computadores para efetivação de transações financeiras no Sicoobnet e habilita/desabilita acesso de
usuário ao Sicoobnet Empresarial.

Fonte: Base de Conhecimento do Sicoob

25
1.2 COLETA DE
INFORMAÇÕES

Para tanto, o operador do cadastro deverá realizar as seguintes atividades:

y receber o documento original e/ou as cópias autenticadas em cartório e verificar


se há indícios de fraude;
y atestar tacitamente que não foram identificados indícios de fraude no
documento original e/ou nas cópias autenticadas em cartório;
y por meio da funcionalidade digitização, disponível na Plataforma de
Atendimento e na PLATAFORMA DE ADESÃO DIGITAL , o empregado
poderá importar ao Sisbr 2.0, documentos que serão submetidos para
avaliação centralizada no CCS (Centro Cooperativo Sicoob) que aplicará os
mecanismos de prevenção à fraude, extrairá os dados dos documentos que
serão imputados diretamente no Capes (quando aprovado). Vale destacar
que é dispensável a manutenção de cópias físicas da documentação
apresentada.

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?
A associação digital do Sicoob tem sido um ativo estratégico importante para captação de novos
cooperados que buscam relacionamento digital. O intuito da nova jornada é potencializar a credibilidade
do processo e proporcionar aos nossos futuros cooperados uma experiência ágil, segura, simples e
inovadora, bem como evitar a entrada de possíveis fraudadores.
Para utilizar esse recurso oferecido pelo Sicoob é necessário que o aparelho celular tenha acesso à
internet. O acesso à solução é realizado diretamente pelo app Sicoob. O usuário deverá baixá-lo na loja
virtual App Store (IOS) ou Google Play (Android) gratuitamente e instalá-lo no dispositivo.
Podem se associar de forma digital ao Sicoob pessoas físicas e microempreendedores individuais (MEIs).

Fonte: Base de Conhecimento do Sicoob

No caso de cadastrado não alfabetizado ou com limitação física que impossibilite a


assinatura é indispensável a apresentação de procuração pública outorgando poderes ao
procurador para assumir obrigações perante a entidade.

Na ficha cadastral, a assinatura de forma digital ou convencional do cadastrado é


obrigatória no início do relacionamento com a entidade para os cadastros enquadrados
como Clientes permanentes e para as pessoas com poderes de representação, ainda que o
cadastrado já mantenha relacionamento com outra entidade do Sicoob.

É dispensável a assinatura na ficha cadastral, sendo considerada a assinatura digital


(por meio de aceite de termos e condições nos canais digitais) ou de forma convencional
(assinatura em papel) aos cadastrados que assinarem a ficha proposta de matrícula (conta
capital).

26
É importante ressaltar que responderão como coautores de crime de falsidade o gerente e
o administrador de instituição financeira ou assemelhada que concorrerem para que seja
aberta conta ou movimentados recursos sob nome falso, de pessoa física ou de pessoa
jurídica inexistente ou de pessoa jurídica liquidada de fato ou sem representação regular.

27
ANÁLISE E DECISÃO DE
CRÉDITO

1.3
1.3 ANÁLISE E DECISÃO DE
CRÉDITO

Nesta fase, os agentes operacionais do processo de concessão devem adotar fielmente os


critérios e os procedimentos estabelecidos para processamento da demanda, passando
pelas análises e pelas alçadas para decisão do pleito.

Mediante o método de avaliação conveniente ao tipo da operação de crédito e ao perfil do


cooperado pleiteante, a proposta seguirá um processo definido entre as seguintes possibilidades:

y canal impessoal: o próprio cooperado solicita o crédito via canais de


autoatendimento – Internet Banking, ATM ou aplicativo Mobile;
y canal pessoal: o cooperado solicita o crédito por intermédio de um profissional
de atendimento ligado a uma agência física, que encaminhará a proposta via
Sisbr, por meio da Plataforma de Crédito e dos respectivos módulos dos produtos.

Notadamente, as demandas de crédito acatadas pelos canais impessoais vêm ganhando


cada vez mais espaço dentre as propostas geradas pelas cooperativas do Sicoob mediante
o uso de ferramentas estatísticas que automatizam a avaliação e a concessão de crédito,
sem a necessidade de intervenção humana no processamento da proposta.

Entretanto, os canais pessoais continuarão a existir, e a tendência natural é exigir


profissionais cada vez mais especializados no atendimento de propostas, havendo a
necessidade de instâncias de avaliação também tecnicamente especializadas para analisar
e conceder créditos de forma mais assertiva aos cooperados. Veja a seguir as características
dos métodos de avaliação utilizados nesta fase de análise e decisão de crédito.

1.3.1 Métodos de avaliação


Todo “crédito” envolve em si uma promessa de pagamento que se realizará ou não num
tempo futuro. Todavia, o futuro é sempre uma hipótese, nunca uma certeza. Por esse
motivo, sempre existirá algum grau de incerteza em relação a seu efetivo cumprimento,
por mais bem intencionadas que sejam as partes credora e devedora.

Para mitigar as possibilidades de não receber um crédito concedido a um tomador é


obrigatório o uso de métodos e ferramentas de avaliação do risco de crédito que ajudem o
credor a analisar e decidir pela aprovação ou não da concessão.

29
1.3 ANÁLISE
CRÉDITO
E DECISÃO DE

No Sicoob, a PLATAFORMA DE RISCO DE CRÉDITO (PRC) é a ferramenta adotada para o


processo de mensuração do risco de crédito por meio da apuração do risco do cooperado
e definição dos limites para operacionalização das propostas de crédito, conforme política
de crédito vigente na cooperativa singular.

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?

A Plataforma de Risco de Crédito (PRC) é o sistema destinado à informatização dos processos de gestão
centralizada de risco de crédito. Antes de os sistemas, os modelos e os procedimentos serem utilizados,
são validados por processo de homologação pela área de gestão centralizada pelo risco de crédito.

A PRC está disponibilizada no ambiente Sisbr e é composta por três sistemas que atuam de forma
integrada na gestão do risco de crédito da seguinte forma:

• Cálculo de Risco e Limites (CRL): Calcula e monitora o risco das contrapartes por meio de informações
cadastrais, financeiras e comportamentais disponíveis no modelo de dados corporativo do Sicoob, além
de modelos específicos desenvolvidos com a finalidade de avaliação da nota de risco da contraparte e
atribuição dos respectivos limites portfolizados.

• Controle de Limites Sicoob (CLS): Controla a utilização dos limites portfolizados aprovados para as
contrapartes classificados no sistema CRL.

• Classificação de Operações (COP):


1) atribui nota de risco às operações na concessão do crédito;
2) na reanálise da operação, na alteração de garantias e/ou alteração do risco da contraparte é realizada
a reavaliação da nota de risco da operação;
3) reclassifica as operações de crédito no fechamento mensal;
4) calcula a provisão conforme nota de risco da operação;
5) realiza o arrasto de operações, considerando a relevância em relação ao saldo devedor da contraparte
e ao nível de risco mais elevado.

Fonte: MIG – PRC (2019)

Todos os métodos e ferramentas possuem, na sua essência, os conceitos de análise objetiva


e subjetiva, sendo, portanto, necessário compreendê-los para potencializar o uso dos
instrumentos indispensáveis à gestão e à análise do crédito nas instituições financeiras
cooperativas.

30
1.3.1.1 Análise objetiva x análise subjetiva

Na avaliação do risco de crédito das instituições financeiras existe um dilema muito comum
que faz com que as análises objetiva e subjetiva pareçam antagônicas, mas de fato não o
são. A origem de tal dilema pode ser explicada pelo paradoxo existente na relação entre a
ciência e a arte, cujos mundos são opostos, mas também complementares.

Conceitualmente, num processo de concessão de crédito, podemos definir a análise


objetiva da seguinte maneira:

[...] aquela que se baseia em fatos e dados quantitativos, sendo


comprováveis exclusivamente por meio de documentos legalmente
aceitos como válidos e úteis para a tomada de decisão (LOPES, Euder,
2020, p. 36).

Define-se a análise subjetiva como:

[...] aquela que se baseia em informações qualitativas, não comprováveis


por meio de documentos aceitos como válidos, porém podem ser úteis
para a tomada de decisão desde que haja indícios ou provas que a
sustentem (LOPES, Euder, 2020, p. 36).

Paradoxalmente, ambas podem ser verdadeiras ou não, e também são limitadas pelas suas
próprias capacidades, motivo pelo qual afirmamos que as análises objetiva e subjetiva são
complementares.

É importante notar, conforme demonstra a próxima ilustração, que existe um sentido na


relação de prioridade entre as duas análises a partir do qual os fatos e os dados produzidos
pela análise objetiva se tornam preponderantes em relação às informações subjetivas
devido ao seu caráter comprobatório em face dos órgãos de supervisão e controle.

Havendo provas ou indícios que possam sustentar sua veracidade, as informações subjetivas
podem ser levadas em consideração ante os dados e as informações objetivas, mesmo não
sendo objetivamente aceitáveis. A decisão (de ser aceitável ou não) cabe intimamente ao
avaliador, que deverá apenas justificar e registrar tal decisão de modo consistente em seu
parecer, nos limites estabelecidos pela política de crédito da instituição.

A explicação para essa dicotomia é que num processo de análise para concessão de crédito
deve prevalecer aquilo que corresponde à verdade a fim de ser considerado válido e útil
para subsidiar a tomada de decisão pela alçada competente.

Desde que a decisão tenha sido tomada com base na verdade, após a depuração de todos
os fatos e dados não há qualquer óbice em normas técnicas que impeça tal deferimento.
Porém, vale a pena alertar que decisões equivocadas, viciadas em erro ou dolo podem ser
objeto de responsabilização pelos órgãos de supervisão e controle na exata dimensão e
extensão dos danos provocados por tal decisão. Observe a ilustração:

31
1.3 ANÁLISE
CRÉDITO
E DECISÃO DE

Método Fundamentalístico

SUBJETIVIDADE
(Base Qualitativa)

Método Especialístico

OBJETIVIDADE
(Base Quantitativa)

Método Estatístico

Fonte: LOPES, 2020, p. 37

Perceba que as análises objetiva e subjetiva formam as bases de dados por meio de
informações quantitativas e qualitativas, dando origem aos métodos de avaliação
chamados aqui de estatístico, especialístico e fundamentalístico.

Veja a seguir as características que diferenciam esses métodos, os quais são utilizados, de forma
contumaz, nos processos de gestão e análise de crédito das instituições financeiras cooperativas.

1.3.1.2 Método de avaliação estatístico

Como se observa na ilustração anterior, o método de avaliação estatístico possui uma relação
muito forte com a base de dados e as informações objetivas. Porém, é importante notar que
no processo de constituição desse método são aplicadas técnicas de avaliação subjetivas para
“calibrar” as ferramentas que calculam a análise de forma estatística a fim de formar alguma
convicção para a concessão de crédito. Portanto, define-se o método de avaliação estatístico
como:

Método que utiliza um conjunto de técnicas de business intelligence


(BI)4 que analisa e processa dados e informações com o objetivo de

4
Business intelligence (BI): expressão traduzida para o português como “inteligência de negócios”, que se refere ao processo de
coleta, organização, análise, compartilhamento e monitoramento de informações que oferecem suporte à gestão de negócios.

32
fazer prognósticos estatisticamente, utilizando critérios e parâmetros
objetivos, concluindo ao final pela concessão ou não do crédito, sem a
direta intervenção humana no processamento e aprovação da demanda
(LOPES, 2020, p. 38).

Tal método pode ser percebido na prática das cooperativas de crédito pelo uso cotidiano
de ferramentas informatizadas que determinam a decisão do crédito para um cooperado
apenas com base em modelos estatísticos, que previamente calculam os riscos, definem de
limites operacionais de crédito por modalidade e efetivam sua aprovação, formalização e
liberação de modo automático, com pouca ou nenhuma manipulação humana durante o
processamento.

No Sicoob, o método de avaliação estatístico é realizado por intermédio da PRC e seus


subsistemas, que distribui portfólio e processa automaticamente as linhas de crédito pré-
autorizadas, os limites pré-aprovados e as linhas habilitadas pelas funcionalidades da
FÁBRICA DE LIMITES , por exemplo. Os cooperados do Sicoob possuem essa possibilidade
de acesso a crédito utilizando os canais impessoais de atendimento, tais como Internet
Banking, ATM ou aplicativo Mobile.

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?

A Fábrica de Limites foi construída com o intuito de dar celeridade ao processo de concessão de crédito
e possibilitar a customização da política de produtos no Sisbr em substituição a soluções manuais ou
desenvolvidas em sistemas de terceiros.

Benefícios da funcionalidade:

• todas as contrapartes com classificação de risco e limites vigentes poderão ser beneficiadas pela
funcionalidade;
• todos os portfólios passam a ser elegíveis para definição de percentuais de limites para crédito
automático e/ou pré-aprovado;
• criação de perfis, pelas cooperativas, por meio de customização de parâmetros para enquadramento
dos associados. Lembrando que a Fábrica não realiza implantação de limites nos produtos de crédito,
pois cada produto terá sua especialização.
• monitoramento das características do tomador definidas nos perfis (identificação e restritivas).

Fonte: Base de Conhecimento do Sicoob

Também é importante notar que as linhas de crédito vocacionadas para atender às


necessidades de consumo – tais como cheque especial, cartão de crédito, crédito pessoal,
financiamentos, entre outras – são as mais propensas ao uso deste método, pois em sua
maioria os critérios de decisão são simples e parametrizáveis em sistemas automatizados
de concessão, o que diminui consideravelmente o volume de propostas a serem avaliadas
pelos demais métodos (especialístico e fundamentalístico).

33
1.3 ANÁLISE
CRÉDITO
E DECISÃO DE

Vale também ressaltar que este método é o mais utilizado para concessão de crédito pelos
bancos, financeiras e, de modo muito mais visível, pelas FINTECHS , que têm nele um
de seus principais pilares para ganho de escalabilidade com o objetivo de crescer no já
consolidado mercado financeiro brasileiro.

FIQUE LIGADO
Assunto já abordado no Caderno I no tópico “Órgãos operadores do SFN que atuam no mercado de
crédito”.

1.3.1.3 Método de avaliação especialístico

Conforme demonstrado na ilustração anterior, a avaliação especialística está no meio, ou


seja, entre a objetividade e a subjetividade das análises, ratificando o equilíbrio entre o uso
dos dados e das informações contidas nas bases quantitativas e qualitativas.

Aparentemente pode parecer que tal método é pouco utilizado, mas é fácil percebê-lo
quando se trata de uma análise de CRÉDITO PARA PÚBLICOS MAIS ESPECIALIZADOS , como
ocorre, por exemplo, no caso do crédito rural (direcionado para produtores em atividades
agropecuárias), ou ainda para créditos direcionados a pessoas jurídicas de médio e grande
porte, cuja dinâmica da concessão e o volume de informações críticas são mais robustos,
dependendo de uma avaliação mais técnica.

FIQUE LIGADO
Assunto já abordado no Caderno II no tópico “Créditos especializados”.

Note como acontece esta análise, conforme a definição para o método de avaliação
especialístico:

Método que utiliza o conhecimento de um especialista competente


na área, que realiza uma avaliação técnica e julgamento com base em
visitas técnicas e uma espécie de “laudo de avaliação” que define a
viabilidade, através de critérios reconhecidamente válidos, sendo este
método suficiente para analisar e conceder o crédito, dentro dos limites
e parâmetros predefinidos pela política (LOPES, 2020, p. 40).

34
Logo, fica evidente que a concessão de crédito pelo método especialístico depende
fundamentalmente da avaliação técnica de um profissional gabaritado para tal função,
sendo esse especialista o “fiel da balança” para formar a convicção pela aprovação do
crédito na alçada competente, em geral formada por comitês com limites operacionais
mais altos, que dependem desse tipo de “laudo” para tomar sua decisão.

1.3.1.4 Método de avaliação fundamentalístico

Após a demonstração dos outros dois métodos, fica evidente que a avaliação
fundamentalística é a que mais utiliza a base de dados e as informações subjetivas
para formar sua convicção na aprovação de uma proposta de crédito, que, pela sua
característica, depende bastante da manipulação dos dados e das informações por meio
da técnica julgamental a fim de fundamentar a decisão sobre a concessão. Veja a definição
do método de avaliação fundamentalístico:

Método que se caracteriza por análises fundamentadas em avaliações


qualitativas e quantitativas, baseadas na habilidade e na experiência
dos avaliadores envolvidos, sendo o processo definido em etapas
julgamentais, onde ficam evidenciadas as respectivas opiniões mediante
parecer comercial (defesa do crédito), parecer técnico (viabilidade) e
parecer de deferimento (decisão e despacho)– (LOPES, 2020, p. 40).

Logo se percebe que tal método, que é amplamente utilizado nos processos de concessão
de crédito pelas cooperativas, necessita de ferramentas tecnológicas que operacionalizem
o fluxo das propostas (workflow), passando por etapas julgamentais que se iniciam pela
análise gerencial da unidade captadora da demanda.

A seguir, passa-se pela análise técnica elaborada de forma imparcial e independente por
equipe de analistas, os quais posteriormente apresentam a proposta para decisão por um
comitê. Este último avalia os pareceres (comercial e técnico) e, com base na fundamentação,
forma sua convicção pela aprovação ou não de um pleito de crédito solicitado por um
cooperado tomador.

Cabe ressaltar que este é atualmente o método mais difundido nos sistemas cooperativos
de crédito. Entretanto, os métodos estatístico e especialístico tendem a crescer em grau de
necessidade, conforme também crescem de forma pujante as próprias instituições financeiras
cooperativas, haja vista que o método fundamentalístico é mais dispendioso e moroso.

Não obstante, ele se justifica de forma excepcional para os casos que envolvem maior criticidade
e complexidade na decisão, deixando para os demais métodos o acatamento e a aprovação das
propostas com base no padrão natural definido pela política de apetite ao risco de crédito da
própria cooperativa. Como resumo, veja as principais diferenças entre os três métodos.

35
1.3 ANÁLISE
CRÉDITO
E DECISÃO DE

Método estatístico Método especialístico Método fundamentalístico

Método que utiliza o conhecimento Método que se caracteriza por


Método que utiliza um conjunto
de um especialista competente na análises fundamentadas em
de técnicas de business
área, que realiza uma avaliação avaliações qualitativas e
intelligence (BI), que analisa e
técnica e julgamento com base em quantitativas baseadas na
processa dados e informações
visitas técnicas e uma espécie de habilidade e na experiência dos
com o objetivo de fazer
“laudo de avaliação” que define a avaliadores envolvidos em etapas
prognósticos estatisticamente.
viabilidade. julgamentais.

Fonte: LOPES, 2020, p. 38 e 40

1.3.2 Procedimentos para a coleta de propostas


Os processos relativos à concessão de crédito realizada pelas cooperativas do Sicoob estão
definidos no MANUAL DE GESTÃO DOS PROCESSOS DE CRÉDITO , que complementa a
política institucional de crédito, estabelecendo os padrões para as operações de crédito
concedidas pelas entidades do Sicoob.

FIQUE POR DENTRO


O QUE É?

O Processo Documentado é um documento elaborado em conformidade com o Manual de gestão de


processos do CCS que estabeleceu a padronização da documentação de processos no âmbito do CCS.

Dentre os diversos propósitos, destaca-se a consolidação em único documento, com todas as informações
relacionadas ao processo, servindo como subsídio para execução de atividades específicas das áreas
clientes: Área de Risco Operacional e GCN; Área de Controles Internos; Área de Auditoria Interna; Área de
Estratégia, PMO e Performance Corporativa.

Fonte: MPS – Plataforma de Crédito

As cooperativas singulares do Sicoob, ao aderirem ao processo padrão do sistema, obrigam-


se a executar fielmente seus procedimentos operacionais, sendo possível estabelecer
processos internos próprios, porém de forma complementar, prevalecendo, em caso de
conflito, as normas contidas no Manual de crédito.

Segundo o Manual de gestão dos processos de crédito (2021), o processo de concessão


de crédito inicia-se no cadastro da proposta e na coleta dos dados para análise e
enquadramento da necessidade de crédito aos produtos disponíveis.

A pedido do proponente ou por iniciativa do responsável pelo atendimento poderá ser


realizada simulação da operação com o intuito de analisar a compatibilidade da renda
(quando o proponente for pessoa física) ou a receita operacional (quando o proponente for
pessoa jurídica), com o valor das parcelas obtidas no resultado da simulação.

36
No caso de incompatibilidade entre a situação econômico-financeira do proponente e o
valor das parcelas, o responsável pelo atendimento poderá sugerir alteração no valor ou
no prazo da operação de crédito proposta, conforme as diretrizes da política de crédito da
cooperativa.

A entrada dos dados para registro da solicitação de crédito deve ocorrer nos módulos de
crédito do Sisbr, conforme o produto desejado. A proposta também poderá ser acolhida
por meio dos canais de atendimento, a depender dos tipos de produtos disponíveis ao
cooperado.

Previamente à iniciação da proposta de crédito, a cooperativa deverá certificar-se do


cumprimento das seguintes obrigatoriedades:

y o tomador deve ser legalmente associado à cooperativa;


y a cooperativa deve obter do cooperado documentação compatível com a
modalidade do crédito solicitado e evidenciar que esse procedimento foi adotado
adequadamente;
y o cadastro do cooperado tomador deve estar atualizado conforme o Manual de
cadastro;
y o tomador deverá ter classificação e limite disponível nos sistemas de riscos de
crédito.

Após a identificação do produto que melhor atende ao cooperado, deverá ser apresentada
a documentação recomendada para contratação da linha de crédito, conforme relação de
documentos definidos nos manuais das respectivas linhas.

Ao receber as cópias dos documentos, inclusive as autenticadas em cartório, o empregado


responsável pelo atendimento deverá verificar a autenticidade das cópias com os originais
e assegurar que estão legíveis e em perfeito estado de conservação.

Essa documentação deverá ser digitalizada e anexada ao dossiê de crédito eletrônico das
operações, originadas pelas linhas operacionalizadas por meio da Plataforma de Crédito.
Os documentos poderão ser anexados nas diversas fases do fluxo de crédito, inclusive na
condução, fase em que a operação fica disponível após a liberação do recurso.

Para as situações em que houver a formação de dossiê eletrônico, a manutenção de cópias


físicas da documentação será dispensável. No caso de dossiê físico, a guarda e a manutenção
dos documentos é de responsabilidade da cooperativa credora da operação de crédito. O
dossiê deve estar identificado pelo nome do proponente e pela linha de crédito contratada.

Veja a seguir as características de cada tipo de parecer nas etapas julgamentais de


concessão de crédito, as quais utilizam o método de avaliação fundamentalístico para
analisar e conceder o crédito aos cooperados pleiteantes.

37
1.3 ANÁLISE
CRÉDITO
E DECISÃO DE

1.3.3 Tipos de pareceres no processo de concessão


No contexto do processo de concessão de crédito, os pareceres5 são um instrumento
de uso obrigatório para relatar as considerações entre os atores envolvidos nas etapas
julgamentais, servindo ainda de registro na consolidação do dossiê de crédito das propostas
de cooperados tomadores de recursos.

Basicamente são três os tipos de pareceres que ocorrem no processo de concessão de


crédito, do método fundamentalístico até o especialístico:

y etapa estudo: foco no estudo para argumentação da defesa ao crédito;


y etapa análise técnica: foco na análise de viabilidade do cooperado ao crédito e
de adequação da proposta à política;
y etapa alçadas: foco na decisão e despacho da proposta.

Segundo Lopes (2020), o método de avaliação fundamentalístico é o mais utilizado nas


cooperativas para processar as demandas de propostas de crédito. Entretanto, os métodos
estatístico e especialístico tendem a crescer em grau de necessidade conforme também
crescem, de forma pujante, as próprias instituições financeiras cooperativas.

Notadamente, o método fundamentalístico é mais dispendioso e moroso, porém justifica-


se de forma excepcional para os casos que envolvem maior criticidade e complexidade na
decisão, deixando para os demais métodos o acatamento e a aprovação das propostas no
padrão natural, definido pela política de crédito da própria cooperativa.

Nesse sentido, conforme descreve Lopes (2020), o método fundamentalístico continuará


sendo utilizado para situações específicas, em especial quando as informações objetivas
não forem suficientes, havendo a necessidade de complementar com informações
subjetivas, desde que sejam válidas e úteis para serem levadas em consideração pelo
comitê de deferimento.

Para tanto, o processo sempre se inicia pela instância que acatou a proposta, mediante
a emissão de um parecer de defesa do crédito. Em contrapartida, há o parecer técnico,
que será emitido pela instância independente que avalia a viabilidade do pleito, sendo
posteriormente deferida ou não pela alçada competente, que deverá justificar sua decisão
por meio do parecer de deferimento, respeitando os limites definidos na política de crédito
vigente da instituição. Veja a seguir as características de cada tipo de parecer.

5 Parecer: descrição detalhada de uma opinião fundamentada mediante a validação de um conjunto de informações sobre
determinada proposta de crédito.

38
1.3.3.1 Parecer comercial

Esse tipo de parecer é

[...] emitido com base na opinião (convicção) do profissional responsável


pelo acatamento da proposta, que deverá apresentar a sua tese (por que
acredita na viabilidade do cooperado ao crédito), argumentando, com
base nos fatos e dados, sobre os motivos que lhe são suficientes para
defender a proposta de crédito do cooperado proponente, reforçando
os pontos positivos, mas justificando e elucidando os pontos negativos
do pleito. Os fatos subjetivos somente são relatados mediante uma
validação da sua veracidade, por meio de provas e indícios que os
sustentem (LOPES, 2020, p. 175).

É importante notar que um parecer de defesa só faz sentido se quem acatou a proposta
realmente acredita na sua viabilidade e, com base na sua convicção, tiver como sustentar
o pleito, ou seja, caso a proposta não seja crível de defesa, o profissional que estiver na
coleta da demanda pode simplesmente declinar de encaminhar a proposta, evitando
trabalhos desnecessários.

Evidentemente, para declínio do pleito o responsável deverá comunicar razões objetivas,


orientando o cooperado sobre as providências para uma eventual regularização ou ajuste
da proposta a fim de realizar uma possível reanálise da sua demanda em condições que a
tornem viável.

Ademais, em casos que o cooperado pleiteante a um crédito for reconhecidamente pessoa


de caráter “não aceitável”, sua demanda poderá ser dispensada de imediato, resguardados
todos os protocolos legais para tal situação. Ao contrário, se o cooperado estiver apto e o
responsável pelo acatamento estiver convicto, a proposta seguirá para a próxima etapa de
análise: o parecer técnico.

1.3.3.2 Parecer técnico

Esse tipo de parecer é

[...] emitido pelo responsável da análise técnica, que fundamentará a sua


opinião de forma imparcial e impessoal, validando os fatos relatados pelo
defensor, produzindo novos argumentos para sua tese de viabilidade ou
não do cooperado ao crédito, gerado a partir da investigação de novos
fatos e dados, utilizando outras fontes além das já habituais (inclusive
subjetivas), desde que as informações sejam efetivamente válidas e úteis
para a decisão do pleito (LOPES, 2020, p. 177).

39
1.3 ANÁLISE
CRÉDITO
E DECISÃO DE

Os fatos subjetivos, apresentados pelo parecer de defesa, poderão ser considerados válidos
pelo analista desde que haja elementos de comprovação que sustentem a informação, de
modo que essa possibilidade ficará a critério do próprio analista ou da política interna,
quando assim permitido.

Essa etapa de análise técnica do processo de concessão de crédito é crucial, pois o analista de
crédito deve ter a capacidade de examinar, de forma pormenorizada, todos os fatos relevantes
da proposta, validando, inclusive, as informações e os dados oferecidos pelo parecer comercial.

Cabe ao analista levantar e avaliar os pontos favoráveis e os pontos desfavoráveis


da proposta, ressaltando, em seu parecer técnico, somente aqueles que forem mais
importantes para a decisão do comitê de crédito.

O analista também pode, e deve, consultar outras fontes além das já disponíveis e habituais,
pois um bom relator de um parecer técnico busca sempre que possível ampliar seu leque
de investigação para apresentar argumentos mais consistentes.

Somente mediante uma profunda avaliação é possível emitir um parecer técnico de


forma conclusiva, indicando a opinião sobre a viabilidade do cooperado ao crédito e se a
proposta está adequada à política da cooperativa, submetendo ao comitê de crédito para
deferimento ou não do pleito.

1.3.3.3 Parecer de deferimento

Este parecer é

[...] emitido pelos membros do comitê decisório da proposta de crédito,


podendo ser realizado de forma individual ou colegiada. Porém, em
ambos os casos, o parecer deve ser elaborado de forma descritiva,
fundamentando os principais fatores que lhe foram suficientes para
deferir ou indeferir a proposta. Em caso de contraposições entre os
pareceres anteriores, o comitê deve se posicionar e justificar a decisão
na sua alçada competente, registrando-a formalmente no dossiê para
eventuais verificações (LOPES, 2020, p. 178).

É importante ressaltar o papel do comitê, que, sempre quando for possível, deverá ser
composto por pessoas que podem ter diferentes conhecimentos e habilidades, havendo,
nessa condição, uma oportunidade de debater ou submeter as divergências para decisões
por alçadas superiores, nas quais prevalece, na maioria das vezes, a decisão consensual
das propostas com maior criticidade.

40
Para tanto, o perfil dos membros componentes de um comitê deve ser primado pela melhor
qualificação técnica possível, contando com o suporte de áreas de apoio devidamente
preparadas para sanar dúvidas eventuais.

Por fim, resumindo esse ciclo de pareceres com base nas informações apresentadas,
primeiramente pelo profissional responsável pelo encaminhamento do parecer de defesa
da proposta e posteriormente pelo parecer técnico do analista, o comitê de crédito decidirá
pelo deferimento ou não do pleito, conforme as alçadas estabelecidas pela política
interna da cooperativa, emitindo, nesse ato, seu parecer de deferimento com suas devidas
justificativas, despachando a proposta (se aprovada) para as etapas de formalização e
liberação do crédito.

41
FORMALIZAÇÃO E
LIBERAÇÃO

1.4
1.4 FORMALIZAÇÃO E
LIBERAÇÃO

No macroprocesso para a concessão de crédito, as fases de formalização e liberação são


as últimas, mas nem por isso são menos importantes para a gestão do risco de crédito. Ao
contrário, justamente nesta fase é que ocorre a maioria dos erros6 e falhas7 operacionais,
além de eventuais fraudes,8 que podem inviabilizar a estruturação segura de um crédito
assertivo para a cooperativa e o cooperado. Veja a seguir alguns dos procedimentos
necessários para a adequada formalização de uma operação de crédito.

1.4.1 Procedimentos de formalização


Nesta etapa são tomadas as devidas providências para a formalização da proposta por meio
dos instrumentos de crédito mais adequados à natureza da operação e suas respectivas
ações correlatas, tais como vinculação das garantias, registros em cartórios e documentos
legais adicionados ao dossiê, tais como laudos, projetos, avaliações, entre outros .

FIQUE LIGADO
No Caderno IV desta certificação serão abordados os instrumentos para formalização e tipos de
garantias.

Durante a formalização de uma operação de crédito deve haver um monitoramento e um


controle bastante efetivos, pois é nesta etapa que ocorre a maioria dos erros, falhas e fraudes.

6
Erro: é o ato não intencional causado por pessoas no curso normal de suas atividades.

7
Falha: é o ato ou efeito das inconsistências em processos, sistemas e equipamentos, que são programados para evitar erros.

8
Fraude: é o ato intencional realizado por pessoas que induzem outras ao erro e/ou aproveitam as eventuais falhas para lograr
proveito próprio ou a terceiros (geralmente seus cúmplices).

43
1.4 FORMALIZAÇÃO
LIBERAÇÃO
E

Geralmente, os erros ocorrem especialmente devido à urgência em liberar o recurso para


o cooperado proponente, sendo agravados por métodos de atendimento reativos, em que
alguns operadores oportunistas ou induzidos pela pressa podem aproveitar as falhas no
processo operacional e negligenciar procedimentos obrigatórios para a formalização de
um crédito com total segurança jurídica.

Entre os diversos fatos que podem ocorrer nesse contexto de risco, podem-se citar alguns
com base em situações narradas como reincidentes em processos formalísticos nas
instituições financeiras.

De acordo com Lopes (2020), é comum a ocorrência das seguintes práticas inadequadas
durante o processo de formalização de crédito:

y falhas no cadastro do regime matrimonial entre conjugues, inexistindo a anuência


ou outorga uxória (autorização conjugal), possibilitando embargos em ações de
execução judicial;
y ocultação de relações como união estável (inclusive homoafetivas), havendo
necessidade de colher a outorga uxória dos parceiros ou uma declaração de
inexistência de união estável;
y realização de assinaturas fora do ambiente de controle da cooperativa e sem o
reconhecimento por autenticidade, abrindo brechas para alegações de fraude
ideológica ou documental;
y descrição ou caracterização imprecisa ou equivocada da garantia, dando margem
à impossibilidade de alcançar êxito em ações de consolidação ou penhora judicial
para recuperação de créditos;
y registro com preexistência de ônus nas garantias vinculadas, possibilitando a
sobreposição de direitos entre credores;
y erro no registro do bem pelo órgão responsável, principalmente Cartórios de
Registro de Imóveis, pois estes não estão isentos de possíveis falhas em processos
de registro que possam causar danos ao processo de recuperação;
y liberação de crédito somente com protocolos de registro de bens ou andamentos
operacionais, dando margem a eventuais riscos que podem deslegitimar o
registro e inviabilizar o crédito;
y falhas ou brechas no processo de baixas de bens em processos de renegociação,
abrindo margem para terceiros ou anulações.

1.4.2 Procedimentos de liberação e arquivamento


Conforme definem as boas práticas nos processos de análise e concessão de crédito, é
recomendado que o setor de liberação do crédito não seja o mesmo que acatou e/
ou aprovou a proposta, garantindo assim total isenção nesse último momento antes da

44
liberação do recurso, havendo ainda uma nova oportunidade para checagem dos requisitos
obrigatórios antes da efetivação do crédito.

Como última atividade do processo de concessão será realizado o arquivamento de toda


a documentação gerada no dossiê de crédito do cooperado tomador, de maneira que o
setor responsável pelo arquivamento deverá ter recebido toda a documentação em vias
originais encaminhadas pela área que formalizou e/ou liberou a operação financeira.

Durante o processo de arquivamento é realizada mais uma conferência para a adequada


catalogação completa do dossiê de crédito, sendo salvaguardado em centro de documentação
devidamente monitorado e controlado para fins de rastreabilidade de documentação em
casos de auditoria ou verificações por controle interno ou conselho fiscal, por exemplo.

Também é importante haver um processo de controle e monitoramento para determinadas


documentações comprobatórias, que deverão ser exigidas e encaminhadas pelo cooperado
ou pela área responsável após a concessão do crédito, como, por exemplo, notas fiscais
que comprovem a devida utilização do crédito de acordo com a natureza da linha, ou
ainda, documentação de licenciamento de veículo financiado em nome do cooperado e
com o registro do gravame para a cooperativa de crédito que financiou o bem.

1.4.3 Gestão pós-crédito das garantias


Após a liberação da operação de crédito, a gestão das garantias é de suma importância,
pois tem como objetivo principal buscar a conservação, a suficiência e a liquidez dos bens
e direitos prestados em garantia de operações de crédito vigentes.

De modo geral, para a implementação dessa gestão é necessário um monitoramento


sistemático das garantias vinculadas, entre as quais se destacam:

y carteiras de títulos fixas ou rotativas, vinculadas por caução ou cessão de direitos


creditórios (cheques, duplicatas, etc.);
y bens móveis ou imóveis, financiados ou vinculados como garantia por alienação
fiduciária ou hipoteca;
y ativos empenhados cuja posse ou propriedade estão com terceiros fiéis depositários.

Para tanto, é de fundamental importância realizar avaliações periódicas, feitas por


profissionais gabaritados e de total confiança da instituição financeira, visando, entre
outros pontos de verificação, determinar o risco de perdas, como eventualmente ocorre no
caso de desvalorização monetária dos bens, como veículos, por exemplo.

Tais avaliações periódicas servem também para detectar se os bens ou os direitos estão
perdendo suficiência de valor ou liquidez. Assim, o setor responsável pela gestão do risco
de crédito pode tomar medidas e ações tempestivas, implementadas em tempo hábil a fim
de evitar as eventuais perdas decorrentes.

45
REFERÊNCIAS

LOPES, E. Gestão e análise de crédito nas instituições financeiras cooperativas. Brasília:


Confebras, 2020.

SICOOB. Manual de produtos e serviços (MPS): Plataforma de Crédito. Brasília: Centro


Corporativo Sicoob (CCS), 2019.

SICOOB. Manual de cadastro. Brasília: Centro Corporativo Sicoob (CCS), 2021.

SICOOB. Manual de gestão dos processos de crédito. Brasília: Centro Corporativo Sicoob
(CCS), 2021.

SICOOB. Manual de instruções gerais (MIG): crédito. Brasília: Centro Corporativo Sicoob
(CCS), 2021.
www.sicoob.com.br
SIG, Quadra 06, Lote 2080, Sudoeste
Cep: 70712 900 Brasília-DF
+ 55 61 3217 5709

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