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10.06.2006
S eguindo sua boa fortuna em Pazzio, Lawrence está confiante
de estar no caminho para realizar seu sonho de se tornar um
comerciante da cidade. No entanto, um negócio mal explicado o
deixa na beira da falência e ruína! Sem nenhum bem que o ajude
— exceto a destreza de sua atraente companheira de viagem,
Holo, a Sábia Loba — Lawrence pode precisar recorrer a meios
ilícitos para pôr seus negócios em ordem. Com todos os planos
do mercador dependendo de uma bela e jovem pastora — cuja
vocação Holo não guarda nenhum afeto — as expectativas de
Lawrence, tanto pessoais quanto profissionais, parecem sombrias.
SPICE & WOLF VOL I ⊰4⊱
LAWRENCE “POSSO PERGUNTAR QUAL O
ESTAVA PARA SEU NOME, SENHORITA?”
ESTENDER SUA
MÃO, E ASSIM
SELAR O
CONTRATO,
QUANDO
PERCEBEU
QUE NÃO
“OH, UM, MINHAS DESCULPAS.”
HAVIA
PERGUNTADO
— NORAH ARENDT
À GAROTA O A PASTORA
SEU NOME.
SPICE & WOLF VOL I ⊰6⊱
suas orelhas pontudas enquanto ela acariciava a sua cauda, com uma
expressão preguiçosa.
Dada a cauda, as orelhas pontudas, e o fato de seu status como
companheira de viagem de um mercador, alguém poderia
compreensivelmente pensar em um cão, mas infelizmente ela não era
nenhum cachorro.
Ela era aparentemente uma “loba sábia”, uma deusa loba das
florestas do distante norte — mas Lawrence tinha suas dúvidas se ela
poderia ser apropriadamente chamada de loba.
Afinal de contas, esta “loba” parecia ser uma jovem garota.
Chamá-la de loba parecia um pouco impreciso.
“Chegaremos à cidade em breve. Tenha cuidado,” ele disse.
Seria desastroso se as orelhas e cauda da garota fossem vistas por
outros. A verdade era que a sagacidade dela humilharia os instintos do
melhor comerciante, assim Lawrence não precisava avisá-la do perigo.
No entanto, ela estava tão relaxada que ele simplesmente tinha que
falar.
Lhe dirigindo um mero olhar, ela apenas deu um grande bocejo.
Concluindo o bocejo com uma exalação vaga, ela agora
mordiscava como um cachorrinho a ponta branca de sua cauda castanha
escura, como se ela coçasse. Ela não parecia ter a menor preocupação
em “tomar cuidado”.
Tendo se apresentado como uma loba e possuindo estas orelhas e
cauda, pelo menos Holo certamente relaxava despreocupadamente
como um animal.
“...Hrm.”
Uma ligeira vocalização que poderia ter sido uma resposta (ou
poderia simplesmente ter sido uma pequena declaração de vitória
sobre a coceira) chegou aos ouvidos de Lawrence. Cansado de esperar
pela resposta dela, olhou para a frente novamente.
CAPÍTULO I ⊰ 12 ⊱
“Bem, então acho que vou orar por viagens seguras. Seria
reconfortante ser capaz de evitar os lobos.”
“Mm. Viagens seguras, certo?”
“Certo.”
Lawrence puxou as rédeas para evitar um jumento pastando na
grama.
A porta de entrada para as muralhas da cidade estaria diante deles
em breve. O fim de uma fila de pessoas esperando para a inspeção era
visível até mesmo na névoa da manhã.
Apesar de toda a cidade fazer parte da Igreja, muitos mercadores
chegavam de terras pagãs, então Poroson era extremamente
compreensível — a inspeção de bens era muito mais rigorosa do que a
inspeção de pessoas. Lawrence estava calculando a provável taxa que
cobrariam sobre a pimenta que ele carregava quando notou alguém o
encarando ao lado. Havia apenas Holo.
“O que, é só isso?” sua voz soava um pouco irritada.
“Hm?”
“Estou perguntando se você precisa apenas de viagens seguras.”
Olhando fixamente para Holo por alguns momentos, Lawrence
percebeu do que ela estava falando.
“O quê? Você quer que eu junte minhas mãos e ore?”
“Não seja ridículo,” disse ela com um olhar aborrecido. “Estou te
garantindo uma viagem segura — certamente você não pensa que uma
única e inútil oração é o suficiente.”
A mente de Lawrence virou como uma roda de água, quando ele
chegou à conclusão óbvia.
“Ah, você quer uma oferenda.”
“Hee-hee-hee.” Holo deu uma risada satisfeita.
“O que você quer?”
CAPÍTULO I ⊰ 18 ⊱
“Além disso, a carne seca com muito sal é boa. Pouco de sal não é
nada bom. Além disso, a carne dos flancos é a melhor, melhor do que
a carne das pernas. Ei, você está ouvindo?”
“Hm?”
“Carne salgada! Dos flancos!”
“Você tem um gosto excelente. Isso vai nos custar um bocado.”
“Hah, é uma barganha pelo dobro do preço.”
Era verdade que carne de carneiro era uma pechincha se isso
significasse que Holo garantiria viagens seguras. Afinal, sua verdadeira
forma era uma loba gigante falante. Ela provavelmente poderia até
mesmo protegê-lo de soldados hostis que dificilmente se distinguiriam
de ladrões.
No entanto, Lawrence assumiu uma expressão propositadamente
vazia ao olhar para Holo.
Seus olhos estavam ávidos pela comida imaginária. Ele não podia
deixar de provocá-la.
“Bem, então você deve ter um bocado de dinheiro. Se tem tudo
isso, talvez você deva me pagar.”
No entanto, seu oponente era uma sábia loba prudente. Ela logo
percebeu o motivo.
Seu comportamento mudou assim que olhou para ele.
“Essa abordagem não funcionará mais.”
Aparentemente, ela tinha aprendido com o incidente das maçãs.
Lawrence mordeu a língua em irritação, com o rosto taciturno.
“Você deveria ter pedido educadamente em primeiro lugar. Teria
sido muito mais charmoso.”
“Então se eu for charmosa o suficiente ao pedir, você vai comprar
um pouco para mim?” perguntou Holo sem um traço de charme.
CAPÍTULO I ⊰ 20 ⊱
“... Tudo bem, tudo bem! Vou comprar um pouco para você!”
Holo agarrou o braço de Lawrence com força. “Você tem que
comprar!”
Ele sentiu que se olhasse para ela seria mordido.
“Um pouco! Só um pouco!” disse Lawrence. Não ficou claro se
Holo estava ouvindo ou não.
“Então isso é uma promessa! Você prometeu!”
“Ok, ok!”
“Então vamos nos apressar! Depressa, agora!”
“Pare de me agarrar!”
Lawrence a afastou, mas a mente de Holo estava em outro lugar.
Seu olhar parecia se perder ao longe e murmurou enquanto mordiscava
a unha de seu dedo médio.
“Elas podem ter se esgotado. Se chegarmos a isso...”
Lawrence estava começando a se arrepender de ter falado sobre
as conservas de pêssego com mel, mas já era tarde demais para se
arrepender. Caso se atrevesse a sugerir que não compraria nada,
parecia provável que ela rasgaria sua garganta.
Não importava se a conserva de pêssego com mel eram ou não
algo que mercadores viajantes pudessem pagar.
“Não é uma questão de terem vendido tudo — eles podem nem
ter,” disse Lawrence. “Só entenda isso.”
“Estamos falando de pêssegos e mel, senhor! Não posso acreditar
até ver com meus próprios olhos. Isso demanda crença. Pêssegos e mel.”
“Você está pelo menos me ouvindo?”
“Ainda assim, é difícil abrir mão das peras,” disse Holo, voltando-
se para Lawrence e olhando para ele.
A única resposta de Lawrence foi um longo e sofrido suspiro.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 27 ⊱
“Olha. Ele está se inclinando diante dos meus olhos,” disse Holo,
levantando o copo e derramando algumas gotas sobre a superfície da
mesa — de onde fluíram para a direita de Holo e para da borda da
mesa, pingando no chão com um pequeno plip.
“O qu —!” Lawrence caminhou rapidamente para a mesa e pôs a
mão sobre a balança.
Era o mesmo conjunto de balança que ele tinha calibrado
cuidadosamente a precisão mais cedo. Se estivessem um pouco fora,
isso significaria uma grande perda para ele, e então ele verificou a
precisão da balança com cuidado — mas elas estavam perfeitamente
alinhadas com a direção em que a água fluía para fora da mesa.
Isto conduziu a uma única conclusão.
A pesagem tinha acabado, e as placas da balança estavam vazias,
exceto pelos contrapesos sobre elas. Lawrence pegou o conjunto de
escalas e a girou para se alinharem precisamente na direção oposta.
As balanças inclinaram devido ao movimento súbito, mas quando
colocadas de volta na mesa, seu movimento foi diminuindo até
eventualmente parar.
De acordo com os contrapesos, os pratos se equilibraram
perfeitamente — mesmo com a inclinação da mesa. Se tivesse sido
calibrada precisamente, a leitura estaria desbalanceada pela inclinação
da mesa.
As escalas claramente haviam sido adulteradas.
“Então, eu bebi água ou foi vinho?” perguntou Holo.
Ela olhou de volta para o mestre — assim como Lawrence.
A expressão do mestre congelou, e o suor apareceu em sua testa.
“O que eu bebia era vinho. Não era?” A voz de Holo soou tão
divertida que até mesmo o sorriso dela era praticamente audível.
O rosto do mestre embranqueceu com uma palidez mortal. Se o
fato de que usava balanças fraudulentas para enganar mercadores fosse
CAPÍTULO I ⊰ 38 ⊱
Era bem utilizada, o que a fazia ter uma superfície sólida com
buracos que eram rapidamente preenchidos.
Mesmo que a sua “cama” estivesse repleta de espadas, Holo era
facilmente capaz de tirar um cochilo em cima delas e passar a tarde
toda assim desde que a estrada fosse suave.
E então havia Lawrence, que não tinha bebido nenhum vinho e
passou o dia olhando para as costas de um cavalo, rédeas na mão. Seu
ciúme fazia com que fosse fácil não olhar para Holo.
“Hum, eu deveria pentear a minha cauda,” disse Holo — sua
cauda, a única coisa com que ela se preocupava. Ela a puxou para fora
de suas vestes sem um pingo de preocupação.
Não que houvesse garantia, mas a vista abrangente significava que
não havia perigo de ser surpreendido por um viajante que se
aproximasse.
Holo começou a pentear a cauda, às vezes jogando uma pulga para
fora ou parando para lamber o pelo para limpá-lo.
O cuidado que ela tinha com sua cauda era visível em seu silêncio,
prestando atenção apenas no trabalho.
Ela penteou desde a base da cauda, que estava coberta de pelo
castanho escuro, até finalmente alcançar sua ponta branca e fofa, e
então de repente olhou para cima. “Oh, é mesmo.”
“...O quê?”
“Quando chegarmos à cidade seguinte, eu quero óleo.”
“...Óleo?”
“Mm. Ouvi dizer que seria bom para usar na minha cauda.”
Lawrence desviou o olhar de Holo sem palavras.
“Então você vai comprar um pouco para mim?” perguntou Holo
com um sorriso encantador, sua cabeça inclinada.
Mesmo um homem pobre seria duramente pressionado a ceder a
esse sorriso, mas Lawrence apenas olhou para ela com o canto do olho.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 45 ⊱
Lawrence olhou para trás e a viu ela enrolado em uma bola, como
um cão ou gato. Não pôde deixar de sorrir.
Ele não poderia dizer o que pensava por muitas razões, mas queria
que ela ficasse com ele.
Enquanto Lawrence ponderava isso, Holo de repente falou.
“Esqueci de dizer isso antes, mas o vinho que recebemos do
mestre — não tenho nenhuma intenção de beber tudo sozinha. Esta
noite devemos beber juntos — e aproveitar o carneiro também.”
Ligeiramente surpreso, Lawrence se voltou para olhar, mas ela já
estava enrolada de novo.
Mas desta vez, ela estava sorrindo.
Lawrence olhou para a frente, segurando as rédeas e conduzindo
o cavalo com cuidado para não balançar a carroça mais que o
necessário.
s colinas acabaram, substituídas por ondulações na
paisagem que mal se faziam sentir, o que tornava uma
viajem fácil.
Lawrence ainda não tinha se recuperado dos efeitos do
vinho da noite anterior, portanto a estrada fácil lhe servia bem.
Com uma companheira para partilhar bom vinho e comida, ele
exagerou. Se tivesse que atravessar uma trilha de montanha em seu
estado atual, provavelmente cairia direto para o fundo do vale.
Mas aqui, não havia nada além de um rio, então era seguro
Lawrence deixar o cavalo simplesmente seguir a estrada.
Ocasionalmente ele cochilava por um breve momento, e na
carroça Holo dormia profundamente, roncando sem nenhuma
CAPÍTULO II ⊰ 56 ⊱
Holo havia deixado sua terra natal centenas de anos atrás, e seu
desejo de falar com alguém de seu lugar de origem era mais forte do
que a saudade de qualquer mercador viajante.
“Ah, bem, eu voltarei em breve, eh?” ela declarou com um
sorriso, mas havia um toque de solidão nele.
Parecia para Lawrence que ele deveria responder de alguma
forma, mas nada veio à mente, e enquanto guiava o cavalo ao longo da
estrada, o sol da tarde afastou o pensamento.
Não havia nada melhor do que os calorosos raios de sol na estação
fria.
Mas a quietude logo foi quebrada.
Assim que Lawrence e Holo começaram a cochilar no banco da
carroça, Holo falou abruptamente.
“Ei.”
“...Mm?”
“Tem um grupo de pessoas.”
“O que disse?” Lawrence perguntou enquanto se esforçava para
agarrar as rédeas, sua sonolência desapareceu em um instante. Ele
estreitou os olhos e fitou ao longe.
Apesar das pequenas ondulações na estrada, o terreno geralmente
liso oferecia uma boa visão adiante.
Mas Lawrence não viu nada. Ele olhou para Holo, que agora estava
erguida, olhando para a frente atentamente.
“Eles certamente estão lá. Me pergunto o que aconteceu.”
“Eles carregam armas?”
Havia apenas poucas formas de explicar um grupo de pessoas em
uma estrada de comércio. Lawrence esperava ser uma grande caravana
de mercadores, um grupo de peregrinos visitando o mesmo destino,
ou membros da nobreza visitando um país estrangeiro.
CAPÍTULO II ⊰ 58 ⊱
“Oh ho. Vejo que já viajou pelas terras do norte. De fato, eles
dizem que são os Falcões de Heinzberg — prefiro enfrentar bandidos
do que eles ao transportar toda uma carga de produtos.”
Dizia-se que os Falcões de Heinzberg eram tão famintos por
riquezas que onde quer que passavam, nem uma única folha de nabo
seria deixada para trás se achassem que pudesse ser vendida. Eles
fizeram seu nome nas terras do norte, e se estivessem na estrada em
frente, tentar passar seria suicídio.
Os mercenários Heinzberg tinham a fama de detectar suas presas
mais rápido do que um falcão no céu. Eles estariam em cima de um
preguiçoso mercador viajante em um instante, isso é certo.
No entanto — mercenários agiam puramente por interesse
próprio, e nesse sentido, eles não eram muito diferentes de
mercadores. Basicamente, quando eles se comportavam de forma
estranha, era comum que algo similarmente inesperado estivesse
ocorrendo no mercado.
Por exemplo, uma alta ou queda repentina no preço das
mercadorias.
Sendo um comerciante, Lawrence era naturalmente pessimista,
mas o pessimismo não o levaria a lugar nenhum, ele sabia — ele já
estava na estrada, carregado de bens. Tudo que importava agora era
como chegaria a Ruvinheigen.
“Então parece que pegar um longo desvio é o único jeito,” disse
Lawrence.
“Provavelmente. Aparentemente há um novo caminho para a
Ruvinheigen que parte da estrada de Kaslata, mas ouvi dizer que vem
sendo uma rota insegura ultimamente.”
Lawrence não esteve nesta região por meio ano, por isso, esta era
a primeira vez que ouvia falar de uma nova estrada. Ele pareceu se
lembrar que no lado norte das planícies que se estendiam, havia uma
estranha floresta que era fonte constante de rumores desagradáveis.
“Insegura?” ele perguntou. “Insegura como?”
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 63 ⊱
“Bem, você vai aprender na medida que for usando, sem dúvidas,”
disse Lawrence.
Holo estava tão séria que Lawrence tinha medo de provocá-la,
mas seu esforço para ser atencioso só parecia machucar ainda mais o
orgulho dela. Ela o encarou, suas orelhas se agitando raivosamente sob
seu capuz.
“Mais uma vez!” ela falou.
“Tudo bem, desde o começo.”
“Mm.”
“Trenni de prata, phiring de prata, ryut de prata, marinne de prata
falsificada, faram de prata, moeda do rei careca de Landbard de prata,
moeda do templo Mitzfing de prata, moeda do templo Mitzfing de
prata falsificada, moeda do São Mitzfing de prata, moeda Mitzfingnatal
de prata, e esta é...”
“...E-espere.”
“Hm?”
Lawrence tirou os olhos da palma de Holo, onde esteve apontando
para as várias moedas. A expressão dela era complicada — parecia ser
raiva e prestes a cair em lágrimas.
“V-você está zombando de mim, não está?” ela disse.
Lawrence se lembrou de ter acusando seu próprio professor da
mesma coisa, quando ele teve que aprender os nomes de todas as
diferentes moedas — assim, sem pensar, ele riu.
“Rrrrrr.”
Holo rosnou e mostrou suas presas, e Lawrence rapidamente se
recompôs. “A diocese Mitzfing em particular emite várias moedas.
Não estou zombando você, de verdade.”
“Então não ria,” Holo resmungou, olhando de volta para as
moedas. Lawrence não pode deixar de sorrir.
CAPÍTULO II ⊰ 68 ⊱
“Embora não seja bem verdade que não tenha ninguém por perto,”
disse Holo, seu tom um pouco diferente e a cauda debaixo de seu
manto balançava inquieta.
Então ela suspirou, aborrecida.
Até agora, Holo escovou sua cauda sem alarmar os mercadores
pelos quais passavam na estrada. Quando Lawrence viu Holo esconder
sua cauda deliberadamente, ele se perguntou por que — e logo teve
sua resposta.
“Farejo ovelhas. Haverá um pastor à frente — odeio tanto
pastores.”
Se houvesse ovelhas nas planícies à frente, haveria pastores
também. Os pastores eram lendários por sua capacidade de detectar
lobos, e Holo devia saber isso.
Seu pequeno nariz torceu quando falou deles, fazendo seu
desgosto inteiramente evidente.
Pastores e lobos eram inimigos naturais.
Mas como mercadores e lobos também eram basicamente
opostos, Lawrence ficou quieto sobre este ponto.
“Devemos desviar?”
“Nem, são eles que devem fugir de nós. Não há nenhuma
necessidade para nós mudarmos o curso.”
Lawrence percebeu que estava rindo do desagrado de Holo. Ela o
encarou, mas ele fingiu não perceber e olhou para outro lugar.
“Bem, se você diz, vamos manter o curso. Os campos se ajustam
à nossa carroça muito bem.”
Holo assentiu em silêncio enquanto Lawrence tomava as rédeas.
A carroça viajou ao longo da estreita estrada através das planícies
e, por fim, pontos brancos que poderiam ser ovelhas se tornaram
visíveis à distância. A expressão irritada de Holo permanecia.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 71 ⊱
suas vidas eram ainda mais solitárias do que a dos mercadores viajantes
— frequentemente eram vistos quase como inumanos.
Liderando seus rebanhos pelas planícies sozinho, controlando os
animais com nada mais do que um cajado e uma corneta na mão — era
fácil imaginar pastores como uma espécie de feiticeiros pagãos.
Alguns diziam que encontrar um pastor enquanto viajava garantia
proteção contra acidentes durante uma semana, graças aos espíritos da
terra — outros diziam que os pastores eram demônios disfarçados, e
se você baixasse a guarda, eles prenderiam sua alma dentro de uma das
ovelhas que eles cuidavam.
Da sua parte, Lawrence não achava estranho essas crenças.
Pastores eram misteriosos o suficiente para justificar tais ideias.
Ele ergueu a mão e acenou três vezes na forma que se tornou um
rito de saudação para os pastores, e ele ficou aliviado ao ver o pastor
levantar e abaixar seu cajado quatro vezes na forma tradicional. No
mínimo, este pastor não era um fantasma.
Esta primeira barreira tinha sido ultrapassada, mas o verdadeiro
teste viria quando chegasse mais perto e confirmasse que o pastor não
era um demônio disfarçado.
“Eu sou Lawrence, um mercador viajante. Esta é minha
companheira, Holo,” declarou Lawrence como forma de introdução,
uma vez que ele chegou perto o suficiente ver a costura no manto do
pastor e fez seu cavalo parar. O pastor era bastante pequeno de
estatura, apenas um pouco mais alto do que Holo. Enquanto Lawrence
falava, o cão que tinha juntado as ovelhas veio trotando até seu mestre,
sentando ao lado do pastor como um cavaleiro fiel.
Olhos cinzentos tingidos de azul constantemente avaliavam
Lawrence e Holo.
O pastor estava em silêncio.
“Eu vim por esta estrada e encontrei você pela graça de Deus, e se
você é um bom pastor e sincero, será um bom encontro.”
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 73 ⊱
em um sorriso. O capuz ainda obscurecia muito seu rosto, por isso era
difícil ter certeza, mas com base no que era visível, ela era bonita.
Mesmo enquanto se mantinha como um cavalheiro, Lawrence
estava cheio de curiosidade.
Mulheres mercadoras eram raras, mas pastoras eram ainda mais
raras. Levando em conta que ela também era uma jovem moça, um
mercador curioso não poderia deixar de estar interessado.
No entanto, mercadores são completamente desajeitados em
qualquer coisa fora do mundo mercantil.
Lawrence era um bom exemplo disso. Incapaz de puxar um
assunto além do seu encontro na estrada, ele suprimiu sua curiosidade
e se prendeu apenas à saudação mais padrão.
“Tendo encontrado você pela graça de Deus, eu gostaria que você
orasse por nossas viagens seguras, pastora.”
“Com prazer.”
Ao som da voz da garota, calma como as ovelhas pastando, a
curiosidade de Lawrence cresceu mais que uma nuvem de verão. Ele
não demonstrava, mas foi só com o esforço que manteve sua
curiosidade escondida. Não era de sua natureza perguntar
descaradamente questões pessoais — tampouco era de sua natureza
lhe conceder qualquer talento para galantear. Ao se aproximar da
pastora para receber sua oração, ele lembrou de Weiz, o cambista em
Pazzio, e invejou sua facilidade em lidar com mulheres.
Além disso havia Holo que estava sentada na carroça — Holo que
odiava todos os pastores.
De alguma forma, esse último fato foi o maior motivo para sufocar
sua curiosidade.
Enquanto Lawrence considerava isto, a pastora segurou alto seu
cajado para fazer a oração por uma viagem segura de que havia sido
solicitada.
“Palti, mis, tuero. Le, spinzio, tiratto, cul.”
CAPÍTULO II ⊰ 76 ⊱
fadas eram mais comuns. É claro que, por trás de seu sorriso que ele
estava tentando descobrir exatamente o que poderia vender para ela.
Mas suas próximas palavras fizeram tais pensamentos evaporaram.
“Bem, eu... eu estava pensando se você não poderia... me
contratar.”
Confrontado por esta pastora que o olhava enquanto ela segurava,
não, agarrava seu cajado, a mente de Lawrence disparou.
Quando um pastor pedia para ser contratado, era equivalente a
ser perguntado se deixaria suas ovelhas sob o cuidado deles.
Mas Lawrence não tinha ovelhas. O que ele tinha era uma única
loba inteligente, atrevida e gulosa.
“Ah, bem, como você pode ver, sou um mercador, e não trabalho
negociando ovelhas. Sinto muito, mas...”
“Oh, não, não é isso —”
Confusa, a garota acenou as mãos apressadamente, então olhou de
um lado para o outro como se para ganhar algum tempo.
Sua cabeça estava tão encoberta pelo capuz que seu olhar não era
visível, mas estava claro que procurava alguma coisa.
Talvez alguma ferramenta que a ajudaria a explicar seu pedido.
Logo pareceu que ela tinha encontrado — por debaixo de seu
capuz, ela de alguma forma comunicou uma sensação de alívio, quase
como se tivesse orelhas expressivas escondidas lá embaixo, como
Holo.
O que a garota pastora estava procurando estava sentado alerta ao
seu lado, um retrato fiel de um cavaleiro de quatro patas de pelo preto
— seu cão pastor.
“Eu sou uma pastora. Um, eu cuido do meu rebanho, mas também
posso afastar lobos.”
Enquanto ela falava, acenou um pouco com a mão direita e o cão
preto continuou atento.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 79 ⊱
Holo colocou uma mão fechada sobre a boca e falou com um tom
hesitante, modesto. “Eu...eu queria viajar apenas com você...”
Ela virou seu corpo para longe de forma atraente, desviando o
olhar com timidez simulada, por fim o olhou de repente. Nesse breve
intervalo, sua expressão mudou de reservada para fria enquanto
desferia o golpe final.
“Que piada.”
Lawrence não tinha resposta, se ele estava frustrado ou
embaraçado não importava, era questionável se ele sequer seria capaz
de se manter de pé.
Querendo pôr uma distância entre ele e Holo de qualquer
maneira, ele se virou e começou a caminhar antes que pudesse ser
parado por seu chamado.
Lawrence olhou por cima do ombro, se perguntando se ela não
tinha completado sua dose tormento, e viu Holo sorrindo lá na
carroça.
Era uma espécie de sorriso exasperado.
Ele se sentiu melhor assim que o viu.
“Honestamente,” disse com um suspiro, a entregando um triste
sorriso.
“Eu duvido que serei exposta em dois dias. Faça como quiser,”
disse Holo com um bocejo e olhou para o lado, como se dissesse, “Essa
conversa terminou.”
Lawrence assentiu, em seguida foi até a pastora.
Ele teve a sensação de que se tornou um pouco mais próximo de
Holo.
“Desculpe a demora.”
“Oh, n-não, imagina. Então —”
“Como soa quarenta trie pela viagem até Ruvinheigen? Com um
bônus se os lobos atacarem e nós escaparmos em segurança.”
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 85 ⊱
“Sim, não paro de pensar que devo agradecer a Deus por nosso
encontro.”
O sino tocou novamente e Enek voltou veloz para seu lado.
Enquanto o som seco das pegadas de Enek chegavam aos ouvidos
de Lawrence, Holo mexeu, se inclinando levemente contra a lateral da
carroça. Parecia verdade, certamente, que ela poderia detectar a
aproximação de um lobo mesmo durante o sono.
“Eu o conheci depois que o asilo perdeu suas terras para um
mercador desonesto,” disse Norah.
Amargurava Lawrence ouvir falar dos malfeitos de um colega
mercador, mas o fato era que tais coisas eram comuns.
“Quando o encontrei, ele estava em um triste estado, coberto de
feridas,” continuou Norah.
“De lobos?”
Holo pareceu se mover. Talvez só estivesse fingindo dormir.
“Não, acho que foram salteadores ou mercenários... Não havia
lobos na área. Ele estava vagando na base de uma colina com este
cajado em sua boca.”
“Entendo.”
Enek latiu com prazer ao ter a cabeça acariciada.
Sem dúvida, o cachorro não foi o único vagando meio morto ao
pé da colina. A maioria dos que eram expulsos de um asilo de
indigentes provavelmente teriam morrido de fome. O vínculo entre a
garota e o cão — eles passaram por grandes dificuldades juntos — não
era algo superficial.
E a vida de um pastor era solitária e ruim. Enek era certamente
um companheiro bem-vindo.
Certamente melhor que os bens que Lawrence transportava.
Cavalos também não conversavam muito.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 89 ⊱
Ela não tinha parentes, logo, encontrar alguém que confiasse suas
ovelhas para ela era difícil. Mesmo o pastor mais vigoroso poderia
perder duas ovelhas de cada dez que recebesse — e esta era uma perda
aceitável. Seria normal alguém se preocupar a capacidade de uma
garota aparentemente frágil trazer de volta até metade do rebanho.
Levando isso em conta, quem contratou Norah tinha que ser
alguém motivado por caridade ao invés de interesse próprio.
Em outras palavras...
“Se você não se importa que eu pergunte, o seu empregador por
acaso é a Igreja?”
A expressão de Norah era tão atordoada que Lawrence estava feliz
que por tê-la visto. “Como você —”
“Isso é segredo de um mercador,” disse Lawrence com uma risada.
Holo pisou no seu pé levemente. “Não fique arrogante,” ela parecia
estar dizendo.
“Er, bem...sim. Eu recebo meu rebanho de um padre da Igreja,
mas...”
“Se é a Igreja, não deve ter problemas com o seu trabalho. Você
encontrou um bom empregador.”
Seu patrão era provavelmente um sacerdote ligado ao asilo que ela
tinha mencionado anteriormente. Conexões pessoais eram mais úteis
do que sorte ou força.
“Sim, fui verdadeiramente abençoada,” respondeu Norah com um
sorriso.
Mas para Lawrence, cuja subsistência era simplesmente discernir
a verdade entre bajulação e mentiras, o sorriso de Norah era
obviamente falso.
Enquanto Norah virava de lado para trabalhar com Enek,
Lawrence olhou para Holo, que esteve fingindo dormir. Holo
devolveu seu olhar, então ela fungou e se virou, fechando os olhos.
CAPÍTULO II ⊰ 94 ⊱
Se tivesse falado, ela provavelmente teria dito algo como: “Eu não
sinto nenhuma simpatia.”
“Eles me confiaram este rebanho,” disse Norah “e eles me ajudam
em muitas outras maneiras.”
Ela falou como que para lembrar do fato — era lamentável de ver.
A razão para a expressão abatida de Norah era clara. A Igreja não
a estava empregando. Eles estavam observando ela.
É claro que, num primeiro momento, provavelmente parecia ser
caridade que eles confiaram a ela um rebanho — que é precisamente
o motivo dela nunca ter pensado em mudar de empregadores.
Os pastores eram muitas vezes considerados vagamente hereges.
Eles resistiam a constantes acusações de serem “mãos do diabo,”
portanto estava longe de ser estranho que a sempre suspeita Igreja viria
a duvidar de uma mulher falsamente acusada que assumiu tal trabalho
— ainda mais se ela destacava. Era apenas mais uma evidência de magia
pagã.
Mesmo a pessoa mais densa acabaria notando tais suspeitas.
Ao mesmo tempo, o salário de um pastor não era alto. Ela
trabalhava duro para receber pouco — certamente não teria o
suficiente para poupar nada. Lawrence imaginou que esta era a razão
pela qual ofereceu seus serviços como escolta.
Mas o senso de mercador de Lawrence dizia a ele para não se
envolver demais na questão.
Sua curiosidade estava saciada. Prosseguir ainda mais o faria
responsável por futuros desenvolvimentos.
“Entendo,” ele falou. “Eu ouso dizer que você não precisa se
preocupar em encontrar um empregador diferente.”
“Você acha?” perguntou Norah.
“Sim — com a insistência da Igreja em uma pobreza honrada, seu
salário será sempre um pouco baixo, mas desde que Deus não nos
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 95 ⊱
abandone, a Igreja sempre existirá. Você não vai ter que procurar por
trabalho. Contanto que tenha trabalho, você vai ter o que comer. Isso
não é algo para se agradecer?”
Tendo despertado suas preocupações e sugerido mudar de
empregadores, Lawrence sabia que a dura realidade era que ninguém
contrataria uma pastora que tinha chamado a atenção da Igreja. Ele não
faria com que suas ações roubassem o sustento de uma garota solitária.
Em todo caso, Lawrence não estava mentindo e Norah parecia
aceitar isso. Ela assentiu várias vezes, lentamente. “Suponho que sim,”
ela concordou.
Era verdade que ter um trabalho — qualquer trabalho — era
bom, mas esperança também era importante. Lawrence limpou a
garganta e falou tão animado quanto pôde.
“De qualquer forma, tenho muitos conhecidos em Ruvinheigen,
por isso vamos perguntar depois se tem qualquer mercador precisando
de proteção contra lobos. Afinal, Deus nunca disse nada sobre ter um
bom trabalho secundário, hein?”
“Sério? Oh, obrigado!”
O rosto de Norah se iluminou tão alegremente que Lawrence não
pôde deixar ser um pouco afetado.
Nessas horas, ele era incapaz de convocar seu desprezo habitual
por Weiz, o cambista mulherengo da cidade portuária de Pazzio.
Mas Norah não era uma garota da cidade, nem era uma artesã ou
uma vendedora. Ela tinha um frescor único. Parte disso era um sério
comportamento que herdou das freiras no asilo, que tinha uma forma
ligeiramente negativa de pensar, como se estivesse tentando reprimir
seus sentimentos.
Norah parecia ter tomado essa tendência desagradável e a
substituído com outra coisa.
CAPÍTULO II ⊰ 96 ⊱
que isso era como ela sempre dormia, antes de se deitar no escasso
acolchoamento proporcionado pela grama.
Quando ele desviou os olhos dela, seus olhos pousaram em Holo,
que estava a sua direita. Finalmente livre dos olhos curiosos dos seres
humanos, ela pôs sua cauda para fora e começou a escovar.
Ela nunca se cansa disso, pensou Lawrence enquanto olhava para
Holo ocupada escovando sua cauda, seu perfil era a própria imagem da
seriedade. De repente, ela falou, em voz baixa.
“Cuidar diariamente da própria cauda é importante.”
Por um momento Lawrence não entendeu, mas depois se
lembrou do que tinha acabado de dizer há pouco tempo para si mesmo;
ela estava apenas respondendo. Ele riu silenciosamente e Holo o
olhou, com uma pergunta em seu olhar.
“Oh, você falava daquela criança?” ela disse.
“O nome dela é Norah Arendt,” explicou Lawrence, se divertindo
com a forma sarcástica de Holo usar a palavra criança para se referir à
garota.
Holo olhou para Norah além de Lawrence e então de volta. Assim
que Lawrence abriu a boca, ela pegou a carne que ele ia comer.
Lawrence estava calado em surpresa por um momento. Quando ele
voltou a si e tentou pegar a carne de volta, ele recebeu um olhar tão
maligno de Holo que retrocedeu sua mão.
Não era necessariamente por causa de sua provocação, mas ela
estava claramente de mau humor.
Ela tinha saído de onde estava para sentar perto de Lawrence
enquanto escovava sua cauda, então, presumivelmente, o objeto de sua
ira não era ele.
A fonte de seu mau humor era óbvia.
“Olha, eu certamente te perguntei,” disse Lawrence.
Soou como uma desculpa. Holo fungou irritada.
CAPÍTULO II ⊰ 98 ⊱
1
Componente das armaduras antigas, que se utilizava como proteção para as
canelas e topo do joelho.
CAPÍTULO III ⊰ 112 ⊱
Mas... não quer dizer que eu não penso em você, ou... bem, não é isso
que significa.”
Ele se envergonhou na metade, e de repente ficou muito difícil
encarar Holo. Ele nunca tinha dito algo assim em toda sua vida.
Tendo deixado isso escapar, ele respirou fundo. Depois de se
recompor um pouco, ele olhou para sua companheira, que olhava para
ele com uma expressão surpresa em seu rosto.
“Eu só estava provocando...”
O constrangimento e a raiva que Lawrence sentiu com essas
palavras foram descartados com o sorriso que Holo lhe deu.
“Não pensei que me levaria a sério, aquilo... foi legal.”
Ela olhou para baixo e apertou o braço dele levemente.
Para Lawrence, isto não foi algo dissimulado ou falso como uma
negociação comercial, mas uma maneira de ver o quão próximo eles
poderiam se tornar.
Em grande parte, inconsciente e despreocupado com como isso
poderia parecer, Lawrence se mexeu para pôr o braço esquerdo ao
redor de Holo, mas abraçou apenas o ar.
Ela silenciosamente escorregou de suas mãos.
“Mesmo assim, machos são sempre assim. Eles vão dizer o que for
preciso.”
Olhando para forma triste e séria dela, até mesmo Lawrence
poderia facilmente imaginar que em algum momento no passado de
Holo, alguém tivesse dito algo descuidado e doloroso para ela, algo
que ela ainda ressentia.
Mas Lawrence era um mercador. Ele sempre foi cuidadoso com
suas palavras.
“Então — você vai precisar me mostrar algo. Por acaso os
cavaleiros não entregam as suas espadas e escudos como prova de sua
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 129 ⊱
Ele tinha que dar ela o crédito por não se envergonhar o tempo
todo, mas Lawrence não ia simplesmente rir desta vez.
Olhar para o lenço na cabeça dela deixava óbvio. Sobre dele, suas
orelhas estavam se contraindo estranhamente, vigorosamente. Essa era
a prova.
Era tudo parte do seu plano.
“Sabe, há coisas que você simplesmente não pode fazer!” ele disse.
Holo pareceu perceber que seu plano havia falhado, e agora, de
repente chateada, dobrou seu lábio inferior para fora consternada.
“Você disse que eu deveria pedir de forma mais encantadora!”
Por um momento, Lawrence não a acompanhou, mas então se
lembrou de sua conversa nas proximidades de Poroson. Exasperado,
ele olhou para os céus.
“Não, eu disse que você deveria pedir educadamente. Eu nunca
disse nada sobre truques femininos!”
“Mas eu estava encantadora, não?”
Lawrence odiava a si mesmo por não responder de imediato, e
odiava a si mesmo ainda mais por não ficar mais irritado com ela.
“Ainda assim... eu devo dizer,” continuou Holo “você estava duas
vezes mais encantador. Isso foi muito mais excitante do que se o meu
plano tivesse ocorrido como eu queria.”
Finalmente sem palavras, Lawrence simplesmente caminhou pela
estrada.
Holo riu e o acompanhou.
“Ora vamos, não fique com raiva!”
Quando ele deu a ela um olhar que dizia “de quem é a culpa?” ela
apenas riu dele com mais vontade.
“Eu estava feliz, de verdade. Você ainda está com raiva?”
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 131 ⊱
1
Dia de descanso semanal no judaísmo.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 135 ⊱
para a frente tão sinceramente que quase tropeçou, mas agora ele se
endireitou.
Parecia que Lawrence estava escapando da armadilha, então falou
brevemente com o mestre de cargas. “Bem então vou me retirar...”
“Sim... que infelicidade. Aguardarei o seu retorno,” disse o mestre
da com um sorriso insinuante. Lawrence tomou isso como sua deixa
para sair, então ele começou a mover a carroça.
O mestre de cargas, no entanto, aproveitou esse pequeno espaço
de tempo que Lawrence baixou a guarda. “Creio que esqueci de
perguntar o nome do senhor,” disse.
“Lawrence. Da Guilda Rowen de Comércio.”
Lawrence entregou o seu nome sem pensar, então, de repente,
ele se perguntou se dar o seu nome a alguém que não conhecia, em
uma situação que não entendia, era um erro — mas ele não conseguia
pensar em nenhuma razão para se preocupar.
Muito provavelmente, o mestre de cargas simplesmente não sabia
o que Lawrence veio fazer aqui.
Contudo —
“Lawrence, você disse. De fato. Da Companhia Latparron.”
O mestre da doca sorriu desagradavelmente.
O choque que percorreu a espinha de Lawrence era impossível de
descrever.
Não havia nenhum motivo que pudesse pensar que explicasse
porque o mestre de cargas saberia o seu nome.
“Você trazia algumas armaduras para a nossa companhia, certo?”
Lawrence ficou subitamente nauseado enquanto sentiu que tinha
caído em algum tipo de armadilha. Seu instinto gritava para ele.
Ele olhou lentamente para o mestre de cargas.
Não pode ser. Não pode ser. Não pode ser.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 137 ⊱
Ruína.
A palavra parecia pairar diante dos olhos de Lawrence.
“O que você deseja fazer com a armadura que trouxe, Sr.
Lawrence? Será vendida por uma ninharia mesmo que venda toda elas,
independentemente de onde vá.”
O magro sorriso de escárnio de Remelio não era para zombar de
Lawrence.
Afinal, o próprio Remelio estava à beira da ruína pelo mesma
queda nos preços de armadura que agora ameaçavam Lawrence.
Ruvinheigen servia como um depósito de suprimentos para
cavaleiros, mercenários e missionários rumo ao norte para suprimir os
pagãos. Assim, armaduras e escrituras eram fontes confiáveis de lucro.
Todo inverno, havia uma grande caravana. A marcha era
programada para coincidir com o aniversário do Santo Ruvinheigen, e
a fim de equipar os mercenários e brigadas de cavaleiro que se
acumulava das nações vizinhas, os bens como armaduras, escrituras,
rações, roupas de frio, cavalos e remédios, todos voavam das
prateleiras.
Este ano, a marcha tinha sido precipitadamente cancelada. Houve
uma agitação política no país que se estendia entre os territórios pagãos
e a terra controlada por Ruvinheigen, onde as batalhas normalmente
ocorriam, e a diplomacia daquela nação para com Ruvinheigen de
repente se encerrou. Se fosse uma nação normal teria sido uma coisa,
mas esta nação em particular fazia fronteira com as terras pagãs, e até
mesmo dentro de suas fronteiras, haviam aqui e ali, aldeias pagãs. Uma
das mais próximas era Lamtra. Aqueles que tiveram que lutar contra
os pagãos tinham que atravessar a outra nação, mas se eles saíssem em
marcha como faziam como qualquer outro ano, não havia como dizer
quando os pagãos, que silenciosamente os observavam, poderiam
atacar. O arcebispo, que controlava a grande diocese, estava na região,
assim como os membros da família imperial do sul. Eles não poderiam
deixar o impensável acontecer.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 141 ⊱
Mas ele não tinha outra escolha. Seu espírito de mercador era
parte dele, se tentasse correr, sua vida como comerciante teria
acabado. Sua única opção era lutar até o fim.
Depois de evitar o olhar por um tempo, Holo se virou para
Lawrence.
Como se cansado de olhar para o rosto entristecido dele, ela sorriu
levemente. “Eu sou Holo, a Sábia Loba. Tenho certeza de que posso
ser de alguma ajuda.”
“Isto é bem diferente de compensar por suas refeições.”
Holo socou o lado de Lawrence com seu punho. “Eu disse que
pagaria minha própria comida.”
“Eu sei, eu sei,” respondeu Lawrence enquanto afastava o punho
dela.
As sobrancelhas de Holo se levantaram enquanto ela fungava um
pouco, sua raiva se dissolveu.
Ela olhou sem expressão para o cavalo. Quando falou, foi como
se estivesse proferindo um juramento solene.
“Se for necessário, juro pela minha honra que irei salvá-lo —
mesmo que eu tenha que usar o poder dentro deste trigo.”
Dentro da bolsa que ficava no pescoço de Holo estava o trigo que
continha sua essência. Se ela o usasse, poderia facilmente voltar para
sua verdadeira forma.
No entanto, Holo detestava acima de tudo os olhares
aterrorizados de quem via sua verdadeira forma. Essas reações eram
uma prisão que a condenavam à solidão. Ela já havia retornado a sua
forma verdadeira nas profundezas dos canais subterrâneos da cidade
portuária de Pazzio, mas só porque a própria Holo estava em perigo.
Isto era diferente. O perigo agora confrontava apenas Lawrence.
Estava grato que Holo estava pronta para ir tão longe por ele.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 147 ⊱
Ela quis dizer isso como um incentivo, mas Lawrence sabia muito
bem que o mundo não era tão simples. Em seus dez anos no mundo
dos mercadores, ele tinha visto um grande número de pessoas cujo
apoio desaparecia assim que se encontrassem em uma situação difícil.
“Certo, vou sair por um momento, você aguarda aqui —”
Holo pisou no pé dele antes que ele pudesse terminar a frase.
“Por acaso pareço uma loba ingrata que permite que seu
companheiro enfrente uma crise sozinho?”
“Não, mas —”
“Pareço?!”
Ela olhou para ele, com seu pé plantado sobre o de Lawrence.
“Claro que não, mas não é essa a questão.”
“Então qual é a questão?”
Ela se afastou por um momento, mas o olhar em seus olhos deixou
claro que ela iria impedi-lo novamente dependendo da resposta.
“A guilda é como uma segunda casa para mercadores como eu.
Você entende o que trazer garota para casa significa, certo?”
“Já estou levando isso em consideração.”
“Explicar a nossa situação é impossível! Como é que vou explicar
meu relacionamento com você?”
Holo seria queimada na fogueira como um demônio se a Igreja a
encontrasse. Apesar de Jakob, que dirigia a guilda nesta cidade, ser
um homem ainda mais compreensivo do que ele, Lawrence sabia que
seria um desastre se, por algum motivo, ele decidisse entregar Holo
para Igreja. E além disso, muitos mercadores da área de Rowen iam
para guilda — e nem todos eram tão compreensivos. Ele não podia
arriscar.
Lawrence teria que pelo menos alterar um pouco a história a fim
de explicar a sua ligação com Holo. Mas ele conseguiria mentir? Jakob
podia detectar uma mentira a cem léguas de distância.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 149 ⊱
“Então diga que somos amantes. É bem melhor do que ser deixada
aqui,” disse Holo.
Estava claro que ela estava preocupada com ele.
Lawrence sabia que, se suas posições fossem invertidas, ficaria
zangado se ela tentasse sair e resolver seus problemas sozinha. Sabia
que se sentiria traído se ela lhe dissesse “fique na estalagem.”
Holo desviou seu olhar.
Ele só poderia rezar.
“Tudo bem. Me acompanhe. Você é a sábia, afinal.”
“Mm. Pode depender em mim.”
“No entanto —” Lawrence se afastou para permitir que um
viajante entrasse na estalagem “— esta é uma reunião de negócios. Não
faça nenhuma loucura. Aqueles caras sabem dar umas boas-vindas
grosseiras.” Lawrence disse isso com um tom que deixou claro que não
admitiria discussão sobre o assunto — a ideia de seus colegas de uma
recepção poderia ser um verdadeiro batismo de fogo.
Mas Holo parecia feliz contanto que a levasse com ele. Ela assentiu
concordando.
“Certo, então vamos lá.”
“Vamos!”
Os dois caminharam apressados e logo sumiram na multidão.
Lawrence não tentou dar desculpas. Dizer que ele foi ganancioso
e falhou resumia sua situação com precisão.
“Se você entende isso, então esta conversa será simples. Você
deverá pagar por conta própria a dívida que a guilda, provavelmente,
vai arcar. Quando você é vítima de fraude ou extorsão, quando fica
doente ou ferido e sofre perdas, nós da guilda de comércio
colocaríamos nosso dinheiro em risco para te salvar. Mas não desta vez.
Os únicos que virão em seu auxílio agora são os deuses —”
Jakob apontou o dedo para Holo, que olhou para Lawrence.
“— ou esta beldade aí.”
“Entendo.”
Ao contrário de corporações de ofício, uma guilda comercial
regional era construída em torno de garantias de assistência mútua. Era
sustentada por contribuições de seus membros e, como Jakob falou,
eles ajudavam mercadores que sofreram infortúnio e que não
superariam as dificuldades de outra forma. Os membros também se
reuniriam em terras estrangeiras para protestar contra tratamento
injusto.
A guilda não foi criada para garantir as dívidas de mercadores cuja
cobiça os levaram à ruína.
Nesses casos, mesmo que a guilda assumisse temporariamente a
responsabilidade, ela buscaria implacavelmente o reembolso. Os
outros membros da guilda não arcariam com a perda, isso servia como
uma lição para conter a ganância.
Os olhos de Jakob eram como arcos prontos para atirar.
“Infelizmente, não estou em posição de te mostrar qualquer
compaixão — e o s motivos para ser tão rigoroso só existem lá fora no
salão. É a lei da guilda. Se falarem por aí que essa guilda pega leve com
seus membros, seria alvo de canalhas por todos os lados.”
“Claro. Eu mesmo ficaria zangado se ouvisse que algum outro
membro foi poupado das consequências do seu próprio fracasso.”
CAPÍTULO IV ⊰ 156 ⊱
A ideia de que esta noite poderia muito bem ser a sua última
oportunidade de andar por aí como um homem livre apertou seu
coração.
Ele olhou para cima inconscientemente. Ele começou a direcionar
seu olhar para o quarto no terceiro andar onde Holo estava. Holo, que
certamente tinha algum conhecimento terrível que poderia ajudá-lo
agora; Holo, a quem ele não poderia pedir nem um favor agora.
Seu olhar nem sequer chegou ao terceiro andar antes que ele
parasse e o baixasse.
Assim que ele se conformou em ir para a guilda, algo o atingiu na
cabeça.
O campo de visão de Lawrence balançou com o choque súbito e
ele caiu de joelhos. A palavra assalto veio à mente, e ele procurou o
punhal em sua cintura, mas não havia nenhum assaltante. Em vez disso,
veio o tilintar de moedas se batendo uma contra a outra...
Ele procurou em volta e viu o saco contendo os três preciosos
lumiones que havia deixado sobre a cama.
“Seu tolo,” vieram as palavras sobre sua cabeça.
Ele olhou para cima para ser recebido com a repreensão de Holo,
tão fria quanto o luar.
“Trate de voltar para cá,” ela disse, e imediatamente desapareceu
dentro do quarto. Assim que ela desapareceu, o estalajadeiro surgiu na
porta.
Se um viajante hóspede estava para cometer qualquer ato ilegal, o
estalajadeiro também poderia ser responsabilizado. Como alguém
saindo no meio da noite não poderia estar fazendo algo correto, o
estalajadeiro veio para trazer Lawrence de volta para dentro.
Mas Lawrence já não tinha qualquer motivo para sair.
Ele se acalmou, pegou a bolsa e falou para o estalajadeiro.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 173 ⊱
Logo percebeu que ela precisou usar toda sua força para levantar
a cadeira, e não conseguiria jogá-la.
“Urgh... porcaria...,” ela disse, talvez amaldiçoando a cadeira
mais pesada do que o esperado — ou talvez Lawrence.
Mas havia uma coisa que ele sabia. Os braços finos de Holo não
conseguiriam arremessar a cadeira só com a força da emoção. Seu
corpo ao luar se inclinou em direção à janela, com as mãos ainda na
cadeira, os olhos ainda encarando Lawrence.
“Cuidado!”
Assim que a perna da cadeira bateu contra a moldura da janela,
Lawrence saltou para a frente, agarrando a cadeira com a mão esquerda
e o pulso fino do Holo com a mão direita.
Apesar do fato de que ela tinha quase caído para fora da janela,
com a cadeira e tudo, Holo continuava encarando Lawrence.
Incapaz de suportar, ele desviou o olhar.
Não sabendo mais o que dizer, ele afastou a cadeira para longe
dela para colocá-la de volta no chão e Holo desistiu inesperadamente
rápido.
Então, como se aquela cadeira contivesse toda a sua raiva, a força
foi drenada de seu corpo pequeno.
“...Você...”
Seus olhos baixaram quando lágrimas caíram no chão, sua voz era
baixa.
“Você é tão ingênuo...”
Lawrence colocou a cadeira no chão enquanto ela dizia isso.
“Eu sou... ingênuo?” questionou reflexivamente, dada sua tão
inesperada declaração.
Holo assentiu de modo infantil, as mãos ainda fechadas em punho.
CAPÍTULO IV ⊰ 176 ⊱
“Bom dia.”
Holo não disse nada, apenas acenou tristemente.
“Estou com fome,” foram as primeiras palavras a finalmente
saírem de sua boca.
“Se formos para a praça, as barracas devem abrir em breve.”
“Mm,” Holo disse, se esticando quase como gato, em seguida,
começou a pentear seu cabelo sedoso. “Então, tendo pensado nisso por
uma noite, o que você acha?”
“Podemos fazer isso.”
Foi uma resposta tão curta e brusca que Holo, que havia
terminado com seu cabelo e agora estava penteando sua tão importante
cauda, levantou os olhos surpresa.
“Essa é uma resposta absurdamente direta vinda de você,” ela
disse.
“O que quer dizer?”
Holo desviou seu olhar propositadamente. Lawrence continuou,
ignorando ela.
“Embora, em todo caso, existem duas barreiras que temos que
superar.”
“Duas?”
“Além de quem quer que leve o ouro, temos que encontrar um
investidor que vai nos ajudar a comprar o ouro. Os três lumiones que
tenho na mão não serão o suficiente para compensar quem vai levar o
ouro.”
Holo pensou por um momento, depois olhou para Lawrence em
dúvida. “Tem mais um problema, não tem? Você só tem hoje.
Podemos trazer o ouro para a cidade tão rápido?”
O raciocínio da autoproclamada sábia loba era rápido como de
costume.
CAPÍTULO IV ⊰ 188 ⊱
Mas ele teve a noite toda para pensar, e sua mente tinha chegado
a uma resposta que a sábia loba ainda estava por obter.
“Naturalmente, considerei isso. Também parecia ser o maior
problema para mim. Pode chamar de milagre, mas há uma chave para
resolver todos esses problemas.”
“Oh ho.”
Lawrence sorriu orgulhosamente para Holo, que o olhava como
um mestre que iria testar um estudante.
“Vamos fazer a Companhia Remelio bancar o investimento.”
Holo inclinou a cabeça ligeiramente.
A Companhia Remelio estava em processo de falência, assim
como Lawrence. Mas era difícil imaginar que eles estivessem tão
quebrados a ponto de ir ingenuamente de porta em porta pedindo
dinheiro como Lawrence. Eles provavelmente teriam capital suficiente
para financiar uma última grande tentativa de retorno, e estes últimos
recursos preciosos apoiariam o contrabando de ouro. Desde que a
própria Companhia Remelio estivesse à beira da ruína, eles teriam
todos os motivos para se interessarem em um plano confiável para
conseguir ouro.
Tal contrabando era extremamente suscetível a traição. Em outras
palavras, uma vez que o contrabando fosse proposto para eles e eles
estivessem a bordo, seria ruim para eles se Lawrence fosse
imediatamente para o caminho da ruína. Não havia necessidade de
discrição por parte daqueles que se dirigiam para a morte. Lawrence
deveria apenas dizer: “A Companhia Remelio está planejando
contrabandear ouro,” e seus planos para um retorno seriam destruídos.
Assim, eles não teriam escolha senão adiar o pagamento da dívida
de Lawrence, e de modo a se proteger contra a traição, Lawrence não
tinha escolha a não ser se tornar seu cúmplice.
Esta foi a sua conclusão na noite anterior.
“Mas, em todo caso, ainda nos falta tempo.”
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 189 ⊱
1
Ale é um tipo de cerveja produzida a partir de cevada maltada usando uma
levedura que trabalha melhor em temperaturas mais elevadas.
CAPÍTULO V ⊰ 206 ⊱
Precisava que outra pessoa dissesse o que ele precisava ouvir para
poder se libertar do conflito.
“Você não é tão ruim.”
Lawrence viu Holo sorrir para ele impotente, e sentiu sua culpa
derreter.
Ele queria muito ouvir essas palavras.
“Hmph. Que menino mimado.”
Lawrence fez uma cara triste por ter sido lido com tanta
facilidade, mas Holo apenas terminou sua cerveja e se levantou.
“Ainda assim, nem humanos nem lobos podem viver sozinhos. Às
vezes é preciso um companheiro de matilha para se aquecer. Estou
errada?”
Certamente esta era uma definição forte e flexível.
Lawrence assentiu aceitando o sorriso de Holo e se levantou.
“Ainda assim, você é bem perigoso,” ela disse.
Ela provavelmente estava falando sobre sua hábil manipulação de
Norah — mas que tipo de mercador ele seria se não pudesse fazer ao
menos isso.
“É melhor que acredite nisso. Cuidado para mim não te enganar
também.”
Holo riu. “Vou esperar por isso.” Ela riu como se realmente
estivesse na expectativa, o que fez Lawrence se perguntar se não era
ele que estava sendo enrolado. Ele não disse isso, mas enquanto Holo
deixava escapar um sorriso quando começaram a andar, parecia
melhor assumir que ela podia ver direto através dele.
“Em todo caso, nós não temos escolha a não ser procurar ter
certeza que todos nós possamos rir no final,” disse Lawrence.
“Esse é o espírito. Ainda assim...”
Lawrence olhou para Holo, que parou no meio da frase.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 215 ⊱
Lawrence podia dizer que Enek ficava olhando para eles, mas não
tinha percebido o porquê.
“Mas, o que realmente me irrita,” — Holo moveu as orelhas
debaixo do capuz; ela estava bastante irritada — “são os olhos do cão.
Aqueles olhos, eles dizem 'Se atreva tocar nas ovelhas e eu vou rasgar
sua garganta.’”
Lawrence sorriu desajeitado, como se dissesse “certamente não.”
O olhar irritado que recebeu de Holo o fez estremecer.
“Nada me deixa tão brava como um cão que não sabe o seu lugar,”
Holo falou, desviando o olhar.
Talvez cães e lobos fossem inimigos da mesma maneira que os
corvos e as pombas.
“E de toda forma, eu sou Holo, a Sábia Loba. Eu não vou me
deixar levar pela mera provocação de um cão,” ela reclamou
carrancuda. Era quase impossível não rir.
Mas como seria um problema se Holo ficasse com raiva, Lawrence
sufocou sua risada. “De fato, esse cão não é páreo para você. Você é
mais forte, mais inteligente, e o pelo da sua cauda é melhor.”
Era uma bajulação óbvia, e o último elogio parecia ter funcionado.
As orelhas de Holo se mexeram sob o capuz, seu rosto abriu um
sorriso orgulhoso que nenhuma máscara de compostura poderia sonhar
em esconder.
Ela riu. “Bom, vejo que você entende como são as coisas.”
Era verdade — Lawrence agora entendia como lidar com Holo,
mas é claro, ele não disse isso, apenas inclinou sua cabeça vagamente.
Eventualmente, a grama se tornou escassa e o solo ocre era mais
proeminente.
As colinas que se espalhavam a oeste estavam mais próximas do
que nunca e pareciam um mar revolto.
CAPÍTULO V ⊰ 222 ⊱
Ela olhou para suas mãos, e então olhou de volta para ele, sorrindo
agradavelmente.
Por um momento, Lawrence não entendeu por que ela estava
sorrindo, mas depois olhou para suas próprias mãos e entendeu.
Holo estava dormindo no colo de Lawrence — “o mesmo que
eu,” dizia o sorriso de Norah.
Lawrence, no entanto, estava com bastante medo de acariciar o
cabelo de Holo. A loba em seu colo era muito mais temível do que
Enek.
Quando olhou para Holo, pacífica e inocente em seu colo, a
tentação de acariciá-la cresceu mais forte. Certamente não haveria
problema se imitasse Norah e Enek.
Liebert estava dormindo, e Norah estava focada suas ovelhas
enquanto acariciava Enek.
Lawrence colocou seu copo de madeira desgastado no chão e
lentamente moveu sua mão na direção de Holo.
Ele já tinha acariciado sua cabeça muitas vezes, mas de repente,
isso agora parecia sagrado de certa forma.
Sua mão tremeu. Então, naquele momento —
“ — !”
Holo levantou a cabeça.
Lawrence apressadamente afastou sua mão; Holo o olhou com
cautela, mas logo voltou sua atenção para outro lugar. Lawrence se
perguntou o que estava acontecendo quando percebeu que Norah
estava de pé, assim como Enek que rangia os dentes.
Para todo lado que olhasse veria o mesmo — floresta totalmente
negra.
“Sr. Lawrence, se afaste!” gritou Norah com urgência, e
principalmente por reflexo, o mercador tentou fazer como lhe foi
dito, mas foi pego por alguma coisa e não conseguiu ficar de pé.
CAPÍTULO V ⊰ 224 ⊱
Ele se virou apenas para descobrir que era Holo, segurando firme
as suas roupas, mantendo as mãos dele nas costas. Ele estava prestes a
protestar quando um olhar de advertência de Holo o perfurou. Se
tivesse que adivinhar, o olhar significava algo como “ignore a garota e
fique atrás de mim.”
Holo parecia carregar uma intensa hostilidade para com Norah, e
com medo de se opor, quando Holo se levantou, Lawrence ficou atrás
dela.
Norah estava absorvida em seu próprio trabalho, tocando o sino
em seu bastão e guiando Enek, juntando as ovelhas sonolentas e as
trazendo para mais perto da fogueira, e então tocou no ombro de
Liebert adormecido. Finalmente, ela lançou vários pedaços de lenha
na fogueira.
Os movimentos de Norah eram hábeis e calmos, e sua maneira
desajeitada em torno de outras pessoas fez Lawrence se lembrar do seu
próprio desajeito ao lidar com pessoas de fora dos negócios.
Liebert finalmente acordou e, sentindo o clima tenso, seguiu os
olhares de Norah e Holo, procurando por lobos.
Ele recuou, a mão apertando o peito — sem dúvida segurando a
nota de seiscentos lumiones que estava escondida ali — enquanto
buscava ficar atrás de Enek, cuja a pele da cauda estava em pé enquanto
ele mostrava suas presas.
Completando a linha de defesa do acampamento, os únicos sons
que permaneciam eram os inquietos bées das ovelhas, a respiração
irregular de Enek e o crepitar da fogueira.
Não havia nenhum som dentre as madeiras de ébano. A lua estava
visível e não havia vento. Sendo naturalmente um mero mercador,
Lawrence dificilmente poderia sentir qualquer presença na floresta.
Mas Norah, Enek e Holo estavam totalmente imóveis enquanto
olhavam para o breu.
Pelo que ele podia perceber, eles podiam estar olhando para um
peixe-gato nadando em um lago negro.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 225 ⊱
Ele deu um olhar maligno para Holo como se dissesse, “Não tente
me assustar com suas histórias tolas,” mas ela apenas observou a
floresta vagamente.
Aparentemente, ela não estava brincando.
“Hmm, parece que a lenha acabou,” disse Norah alegremente,
talvez para dissipar o clima ainda tenso. Lawrence concordou, e Holo
finalmente desviou o olhar da floresta e assentiu. Liebert assentiu
também, provavelmente, talvez em grande parte por se sentir
obrigado.
“Devo recolher um pouco mais, certo?” disse Norah, talvez
confiante com sua visão noturna.
Lawrence se sentiu mal por deixar a tarefa só para ela. “Eu
também vou.”
Holo se intrometeu. “Eu também devo ir.”
Sem saber nada sobre como iniciar uma fogueira, Liebert não
tinha levantado um dedo para ajudar a mantê-la, mas agora deve ter se
sentido totalmente desconcertado.
“E-eu vou ajudar também!” ele disse, limpando a garganta, com
medo de ser deixado sozinho.
Holo sorriu desagradavelmente para ele.
Eles entraram na floresta para recolher lenha, e Lawrence se
perguntou se a aura bestial que sentia era apenas sua imaginação.
No entanto, não houve mais incidentes e a noite passou
tranquilamente.
Mas o suspiro de alívio não veio por chegar ao final desse beco.
Ele tinha experimentado várias trilhas muito piores no passado. Não,
o alívio veio do fato de que o estranho olhar que sentiu sobre ele na
noite anterior tinha ido embora.
Lawrence sabia que não era simplesmente a sua imaginação já que
Holo e Norah também ficaram continuamente em guarda. Havia
definitivamente algo dentro da floresta que separava Ruvinheigen e
Lamtra — algo que até mesmo uma brigada de cavaleiros temia.
Mesmo assim, eles fizeram a viagem com sucesso, portanto a
viagem de volta também deveria ser possível. Lawrence ainda estava
inquieto sobre isso, mas Norah estava com eles, e ela tinha feito esse
caminho muitas vezes e nunca foi atacada nem uma vez. Confiando que
as habilidades da pastora — assim como em Holo — conseguiria leva-
los de volta de alguma forma.
Então tudo o que tinham a fazer era trazer o ouro.
Lawrence estava imerso em pensamentos enquanto observava
Liebert entrar na cidade para fazer a compra — não havia motivo para
todo o grupo entrar em Lamtra.
“Espero que tudo corra bem,” disse Norah, sem dúvida se
referindo a tarefa de Liebert.
Até agora, tudo o que fizeram era perfeitamente legal, por isso
havia pouco com o que se preocupar, mas falar isso parecia exagero.
“Concordo,” respondeu Lawrence.
Havia um motivo pelo qual usou o seu melhor sorriso de
mercador quando disse isso.
Norah estava simplesmente jogando conversa fora.
Mas no coração de Lawrence, receio se misturava com
arrependimento.
Ele temia que Norah não compreendesse verdadeiramente as
consequências que os aguardava caso falhassem. A pastora diante dele
era quem estaria em maior perigo quando contrabandeassem o ouro.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 229 ⊱
amargo para Holo, mas foi a crédula concordância de Norah que doeu
mais.
Como se ele realmente parecesse ser assim.
“Mas, de qualquer forma, foi um acaso eu notar os lobos na noite
passada.”
Na verdade, não era uma conclusão óbvia, mas Norah foi
suficientemente confundida por Holo até este ponto que ela pareceu
simplesmente aceitar. Ela colocou as mãos na bochecha (agora estava
ficando menos vermelha) e assentiu.
Então respirou fundo, ela falou, seu nervosismo evidentemente
tinha dissipado.
“Na verdade, eu pensei que talvez você fosse uma pastora,
senhorita Holo.”
“Oh, porque fui rápida em notar os lobos?”
“Bem, isso também,” admitiu Norah, parando para olhar para seu
companheiro de pelos negros, que estava contente por fazer uma pausa
no seu trabalho enquanto sua mestra estava conversando. “Na verdade,
foi porque Enek parecia prestar muita atenção em você.”
“Mm, é mesmo?” Holo — que tinha nervos o suficiente para
expor sua cauda sem problemas quando sabia que não seria descoberta
— sorriu, totalmente calma enquanto cruzava os braços e olhava para
Enek. “É difícil dizer na frente de um cachorro de estimação, mas ouso
dizer que ele está apaixonado por mim.”
Como se tivesse entendido, Enek olhou para trás em direção à
Holo e então correu mais uma vez para cuidar do rebanho.
Sua mestra, por outro lado, ficou muda com as palavras de Holo.
“O-o quê? Er, você quer dizer, Enek está?”
“Meu Deus, isso não é motivo para se entristecer. Qualquer
macho vai ficar confiante demais se for mimado. Tenho certeza que ele
é muito importante para você, mas isso só o faz se sentir seguro de que
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 233 ⊱
possui sua afeição. Não há erro; ele vai procurar outras para se divertir.
Não importa o quão delicioso seja o pão, às vezes você quer sopa.”
Talvez sentindo alguma simpatia com o argumento de Holo,
Norah assentiu, aparentemente impressionada.
“Pondo de outra forma, algumas vezes você tem que ser frio com
ele. É uma boa forma de por ele na linha.”
Norah assentiu com firmeza, como se a tivessem dito uma grande
verdade, mas em seguida chamou o Enek e se agachou para pega-lo.
Ela o pegou quando ele pulou nela, em seguida, olhou para o Holo
e sorriu.
“Se ele algum dia tiver um caso, vou manter isso em mente.”
“É bom.”
O Enek acusado injustamente latiu uma vez, mas Norah colocou
os braços em volta e ele logo se acalmou.
“Mas acho que gostaria de continuar mimando ele enquanto eu
puder,” disse Norah, beijando levemente Enek atrás das orelhas.
Holo os olhava, com um leve sorriso brincando em seus lábios.
Era um sorriso de certa forma incômodo, inapropriado para a
ocasião, Lawrence percebeu isso quando Holo olhou para ele.
“Porque... se este trabalho terminar bem ou não, eu estarei
desistindo do meu trabalho como pastora,” disse Norah calmamente
enquanto ela segurava Enek em seus braços. Era evidente que ela tinha
entendido completamente a sua situação e estava preparada para agir
de acordo com esse entendimento.
Ela entendia tanto a posição onde tinha sido colocada e os
prováveis resultados.
A preocupação de Lawrence era desnecessária.
Embora Norah pudesse parecer frágil, ela sobreviveu a expulsão
de um asilo e seguiu em frente superando inúmeras dificuldades. Ela
não era a filha mimada de nenhum nobre.
CAPÍTULO V ⊰ 234 ⊱
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 235 ⊱
Mas Holo não disse nada para se desculpar, Lawrence não disse
nada que a perdoasse.
Ele mexeu as brasas com uma vara, em seguida a jogou no fogo.
“Oh, é verdade,” ele disse casualmente. “Você não disse que podia
prever o clima?”
“Certamente. Vai chover depois do meio-dia,” ela respondeu,
sonolenta.
“Qualquer um poderia dizer isso, olhando para este céu,” brincou
Lawrence.
Em vez de repreender, Holo bateu a cabeça levemente em no
ombro dele.
“Gostaria que pudéssemos pegar cavalos rápidos e voltar para a
cidade antes da chuva. Enfim, o que me diz sobre uma sopa de batatas?
Vai nos aquecer junto ao fogo.”
“Não tenho do que reclamar. E também —”
“Você quer acariciar a sua cauda, certo?” disse Lawrence,
baixando ainda mais a voz.
Holo suspirou e assentiu. “Quero voltar para a estalagem o mais
rápido possível. Embora...”
Seu rosto estava melancólico quando olhou para o céu.
Um vento frio soprou sua franja, e ela estreitou os olhos como se
isso tivesse tocado seus longos cílios.
“A chuva está vindo, embora eu também não desejasse isso.”
Foi então que Lawrence se lembrou. Quando ele conheceu Holo,
ela tinha sido a deusa da colheita de uma área de abundante. Os
agricultores odiavam a chuva fria durante os meses de colheita no
outono, mesmo que agora estivesse longe dos campos de trigo, tal
clima não era algo que receberia bem.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 239 ⊱
mesmo tempo, ela não podia se explicar muito bem, então ela apenas
sorriu levemente enquanto falava.
Ela estava se aproveitando da natureza humana. As pessoas não
desperdiçariam o sacrifício de alguém que enfrenta uma morte quase
certa com um sorriso e uma frágil esperança. Um lobo inteligente
saberia como usar esse fato.
Liebert foi o primeiro a concordar, seguido por Norah.
Norah acenou com seu cajado, e o tempo pareceu voltar a se
mover.
“Que a sorte da guerra esteja com vocês,” disse Liebert. Norah
dirigiu a Holo um olhar mais eloquente do que palavras e logo se
afastou. Assim que ouviu o som das ovelhas começando a correr,
Liebert seguiu atrás delas.
Holo assistiu a tudo isso, então se virou para Lawrence.
“Você precisa se afastar. Se chegar perto, as coisas podem dar
errado. Você entendeu que eu sei.”
Em vez de responder, Lawrence pegou a mão de Holo antes dela
saltar do cavalo.
“Eu não vou deixar você perder,” ele disse.
A mão dela estava surpreendentemente quente, e ela devolveu o
aperto.
“Se você fosse um macho decente, eu ganharia pelo menos um
beijo por todo esse trabalho.” Holo sorriu por um momento antes de
sua expressão endurecer, e então pulou do cavalo.
“Oh, claro. Aqui, guarde isso para mim,” ela disse, desfazendo a
faixa na cintura e retirando o manto rapidamente.
Seu cabelo castanho esvoaçando, suas orelhas pontudas de lobo e
sua cauda macia estavam expostas.
A bolsa de couro cheia de trigo em torno de seu pescoço balançava
levemente.
CAPÍTULO VI ⊰ 248 ⊱
“Espero que tudo isso termine pacificamente, mas eu não sei como
vai ser. Quando nos encontrarmos de novo, vou sentir frio se eu
estiver nua, e um pouco problemático para você também, eu acho,”
ela disse com um sorriso e em seguida olhou para floresta, imóvel.
Sua cauda estava eriçada como que atingida por um raio.
Lawrence hesitou sobre o que dizer.
O que finalmente falou foi curto: “Vamos nos encontrar de novo.”
Ele não esperou por uma resposta antes de fazer o cavalo correr.
Dizer que ele não queria continuar ali teria sido uma mentira.
Mas o que conseguiria fazer se ficasse? Lawrence conhecia a
verdadeira forma de Holo. Mesmo se ela fosse encurralada por
mercenários ou bandidos, ela poderia fugir.
Lawrence apressou o cavalo. O granizo ficou mais pesado.
Seu rosto estava tenso e não apenas por causa do frio.
Pela primeira vez em sua vida, ele se amaldiçoou por não ter
nascido um cavaleiro.
A espada em sua garganta foi removida para que ele pudesse ser
amarrado.
Os homens confiscaram o manto de Holo e amarraram Lawrence
como se fosse bagagem.
“Pesava em nossos corações pensar que você estaria com uma
garota, parece que no fim tivermos sorte.”
A expressão de alívio mais cedo era porque Holo não estava lá.
Os homens sabiam que se alguém tentasse bancar o herói, não
terminariam o dia sem ver sangue.
“Sei que isso vai soar como uma desculpa, mas estamos no limite
aqui. Temos que eliminar qualquer risco que pudermos.”
A Companhia Remelio certamente assumiu que Lawrence
planejava chantageá-los. Mesmo que eles conseguissem escapar da
beira da falência com contrabando de ouro, qualquer um que soubesse
disso seria como uma faca na garganta da companhia.
Eu nunca faria algo tão estúpido, Lawrence pensou consigo, mas
logo percebeu que estava pensando nisso apenas alguns minutos atrás.
Uma quantidade grande de dinheiro poderia cegar qualquer um.
Aqueles que escolheram o caminho do comércio sabiam disso.
“Você pode ficar com o manto.”
O manto de Holo foi jogado para as mãos amarradas de Lawrence.
Lawrence agarrou o manto com toda sua força, de alguma forma
selando sua raiva pela traição.
O fato de que eles o tinham amarrado significava que ele não seria
empalado por uma lâmina imediatamente. Ele não podia se matar por
resistência inútil. No entanto, era fácil ver que os homens também não
tinham nenhuma intenção de deixá-lo viver.
Eles provavelmente estavam se perguntando se simplesmente o
deixariam no frio ou na floresta, onde os lobos poderiam vir. Era uma
pergunta sensata, dada a situação.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 255 ⊱
“Pensei que se este plano não acabasse bem, eu já não seria capaz
de viajar com você. A ideia me deixou terrivelmente solitária. Ainda
assim, suportei. Deixei as coisas fluírem pacificamente, te dei meu
apoio rapidamente e me conformei com as decisões porque pensei que
em breve estaríamos tomando sopa de batata quente em frente à
lareira. Eu sou a Sábia Loba de Yoitsu, Holo. Posso esquecer o orgulho
de um jovem arrogante, se necessário...”
Lawrence olhou para a lama nos joelhos de Holo.
Não era um lobo normal na floresta, e ele não estava atrás das
ovelhas. Haviam poucas possibilidades.
Disputa territorial.
Levando isso em conta, as ações que Holo tomou para “deixar as
coisas seguirem em paz” se tornavam cada vez mais claras.
Uma loba sábia nunca tropeçaria desajeitadamente sobre uma
pedra, sujando os joelhos.
“Agora, escute. Não me importo com isso. Eu sou Holo, a Sábia
Loba. Se me fizerem agir como um mero cão, eu — eu ainda não
ficarei com raiva. Mas o que é isso? Este rato molhado em minha
frente, com o rosto inchado, coberto de lama? Meu companheiro foi
tão tolo a ponto de tropeçar e cair? E com queimaduras em seus pulsos!
Oh, é verdade. Diante de mim está um belo idiota, que não pensa duas
vezes em sua própria aparência, mas protege meu manto da chuva com
sua vida. De fato, um burro! Eu não tenho nenhuma ideia do que fazer
com um coração tão inacreditavelmente mole.”
Holo falou todo o seu longo discurso de uma só vez, então
respirou profundamente enquanto esfregava os olhos. “Bem. Imagino
que nós vamos para Ruvinheigen?” ela disse, voltando repentinamente
ao seu estado normal.
Seus braços e pernas estavam cobertos de arranhões e estavam
tremendo. Lawrence não achava que era por causa do frio. Esta era
Holo quando estava realmente com raiva.
CAPÍTULO VI ⊰ 262 ⊱
Mas ele também sentiu algo a mais do corpo enorme que o deixou
tão aterrorizado quando viu pela primeira vez — ele o preenchia com
um calor indescritível.
No meio de tudo isso, algo que parecia uma bola de lama podia
ser visto voando ocasionalmente. Era difícil dizer no escuro, mas
pareciam ser pessoas — Lawrence podia ver suas mãos se movendo
descontroladamente enquanto procuravam pelo chão que desapareceu
de repente.
Se Holo estivesse atacando seriamente as pessoas com suas patas,
certamente estariam mortos, então talvez ela os estivesse jogando de
lado de propósito.
Um homem foi arremessado no ar — agora dois — e as longas
espadas que eram lançadas na Holo em pânico faziam um som agudo
ao serem rebatidas para longe.
Com a escuridão começando a tomar conta, as espadas que eram
jogadas em Holo eram arremessadas para tão longe e com tanta força
que os olhos de Lawrence não conseguiam acompanhar. Ele chegou
tão perto de Holo que podia ouvir sua respiração e as espadas caíam na
terra perto dele.
Lawrence podia dizer que elas foram arremessadas bastante alto,
pois as espadas caíam com tanta força que elas se enterravam até o
punho no chão.
A Companhia Remelio apostou tudo nesta operação e despachou
muitas pessoas para matar Lawrence e Norah.
No entanto, a maioria deles agora estava inconsciente, espalhados
no chão como sapos atordoados, ocasionalmente pisoteados pelas
ovelhas em pânico que corriam em círculos.
“Protejam as ovelhas e a pastora!”
Lawrence cortou a respiração ao ouvir essa voz.
Era Liebert.
Ele olhou e viu que o jovem gerente era um dos poucos a tomar
uma ação racional.
Mantendo o seu cavalo em pânico sob controle, Liebert brandia
uma lança e gritava ordens para uma inútil retirada.
CAPÍTULO VI ⊰ 272 ⊱
algum milagre, ele controlou seu cavalo e ficou atrás de Norah junto
com seu rebanho.
Ela podia ser uma pastora, mas Norah era uma garota delicada.
A cena fez Lawrence deixou Lawrence enojado — e Liebert havia
planejado matar tanto ele quanto a garota.
Assim que Norah estava prestes a desabar de medo, a pastora
pareceu se lembrar do seu dever.
Com uma mão incerta, ela levantou o bastão para o alto, tocando
o sino na sua ponta, e Enek se abaixou, como se estivesse pronto para
receber ordens.
Holo olhou para Norah de cabeça erguida, baixando o seu corpo
enorme como uma catapulta carregada.
A respiração de Lawrence parou. Holo estava séria. Neste ritmo,
Norah poderia ser morta.
Entre a escuridão e a confusão súbita causada pela aparição de
Holo, ninguém notou à uma pequena distância Lawrence.
Ele pensou se caso se identificasse, pelo menos Norah
reconheceria a loba gigante como Holo.
Havia o risco de ajudar Liebert, mas Lawrence estava tentando
pensar de forma realista.
Não havia nenhuma maneira de Holo deixá-lo sair ileso.
Lawrence tinha que fazer sua presença ser notada.
Ele estava prestes a gritar quando —
“Pastora! Vou te pagar trezentos lumiones se me proteger!”
No meio de seu pavor, depois de ter levantado seu cajado
praticamente por reflexo, a expressão de Norah mudou de repente.
Trezentos lumiones poderiam fazer isso com uma pessoa.
Norah silenciou seu sino. Seu rosto começou a se encher de
determinação.
CAPÍTULO VI ⊰ 274 ⊱
Seu aspecto sugeria que ela tanto tinha como não tinha entendido.
A emoção no peito de Lawrence praticamente explodiu por sua
boca. “Estou tão feliz que você está bem!”
Norah pôde ver que a loba gigante responsável por tudo isso ainda
estava ilesa, então ela não tinha ideia de como reagir a estas palavras.
Ela olhou para Lawrence com uma expressão atordoada no rosto,
confusa.
“Essa loba é Holo. Quero dizer, minha companheira.”
Norah sorriu sem jeito; provavelmente pensou que era algum tipo
de piada.
Ela respirou rapidamente enquanto Holo vinha saltitando até eles.
Um par de pernas balançava na boca de Holo.
“Você não o matou?”
Lawrence sentiu um certo impulso homicida quando viu Liebert
usar Norah como escudo. Se dependesse de Lawrence, ele teria
matado o homem.
Considerando as pernas balançando na boca de Holo, a questão
parece estar resolvida, mas em vez de responder, Holo balançou a
cabeça um pouco e deixou o homem cair no chão. Ensopado em saliva,
Liebert caiu com um desagradável splash.
“Pensei em engolir ele, admito.” Holo parecia sorrir. “Mas ouro não faz
bem para o meu estômago.”
Ela fungou levemente e inclinou o focinho em direção Liebert.
“Pegue o ouro,” ela parecia estar dizendo.
“Acho que estava em seu casaco... Ugh, ele está encharcado,”
Lawrence reclamou, quando um enorme focinho o cutucou. Ele
mexeu com raiva nas roupas quentes e molhadas da Liebert e
facilmente encontrou o saco de ouro.
“Aqui está. Ouro puro,” ele falou ao abrir o saquinho e ver os
grãos de ouro no interior.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 277 ⊱
Norah pareceu vacilar ao tamanha quantia, que era tão grande que
até mesmo Lawrence teve problemas em fazer sua mente aceitar o
valor.
“Seis mil é muito mais do que poderíamos receber, e mesmo sem
enfrentar esse perigo, temos seiscentos na mão agora. No entanto...”
“No...entanto?”
“No entanto, embora seja verdade que a culpa é da Companhia
Remelio que este plano foi mais turbulento do que qualquer um
gostaria que fosse, também é verdade que sem o investimento deles,
nunca seríamos capazes de comprar o ouro. E se pegarmos o ouro e
fugir, eles serão deixados à ruína, falência imediata. Então —”
Holo cutucou o lado do rosto de Lawrence com o focinho e de
não foi brincando.
Lawrence compreendia o que ela estava tentando fazer.
“Então, proponho o seguinte.”
“Agora, espere aí —,” Holo começou em tom de desagrado, mas
Lawrence não iria ceder.
“Holo. Nós não vivemos em um mundo de fantasia. Não podemos
simplesmente nos vingarmos daqueles que nos traíram e dizer ‘Fim,’
Temos que seguir com a vida depois disso. E se vingar por traição só
atrai mais a vingança.”
“Bem, então —”
“Vai me dizer que mataria todos da companhia falida?”
“Hum —”
“No fim, não quero que o pão que comprarei amanhã seja pago
com sangue. Há muitas maneiras de acabar com isso, mas se quisermos
ter uma vida amanhã, temos que escolher um caminho que permita
isso.”
Os olhos âmbar de Holo se fecharam.
Ela desviou o olhar.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 281 ⊱
guardar rancor contra três demônios — estes são eu, Holo e você,
Norah.”
Mesmo para alguém que vivia de viagens, ser objeto de tais
sentimentos vindos tantas pessoas poderia tornar a vida muito mais
perigosa. Negócios consistiam de trocas entre as pessoas. A localização
de Lawrence, Holo e Norah acabaria por ser revelada e espadas
colocadas em suas gargantas.
Havia um outro ponto importante para falar.
“É claro que, se fugirmos para algum país estrangeiro com uma
língua estrangeira, podemos viver como se nada tivesse acontecido.
Mas mesmo vivendo sem temer a vingança, suponha que você cruze
caminho com um escravo com um rosto familiar, sendo chicoteado
como um burro de carga. Será que seria capaz de dormir à noite?”
Lawrence fez uma pausa, permitindo que as suas palavras
surtissem efeito.
“No entanto, vou exigir retratação com a Companhia Remelio.”
Holo riu em desagrado.
“Iremos para lá em seguida. Da sua parte, Norah, por favor, faça
sua decisão até amanhã de manhã. Se você decidir levar o ouro até
Ruvinheigen, vamos nos encontrar na mesma praça onde discutimos
isso pela primeira vez. Vou para a cidade agora, conseguir um
açougueiro de confiança, e esperar no portão oriental por um dia. Se
você decidir não levar o ouro...Hm. Vamos nos reunir em Poroson.”
Este plano, é claro, dava espaço para outra traição.
Norah poderia pegar todo o ouro e fugir para outra cidade.
Para todos viverem sem arrependimentos, no entanto, seria
melhor que ela levasse o ouro para Ruvinheigen, assim a Companhia
Remelio poderia ser salva e o dinheiro dividido de forma justa.
No entanto, Lawrence tinha que considerar o que fazer se Norah
fosse pega no posto de controle. Sem exceção, contrabandistas de ouro
eram executados na praça, então ele teria apenas que pedir para Holo
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 283 ⊱
“Bem, agora.”
Depois deles caminharam por um tempo, Lawrence começou a
pensar em montar nas costas de Holo, mas ela aparentemente já
antecipou isso e falou a tempo de interrompê-lo.
“O quê?” ele disse, um pouco irritado. Ele tinha certeza que ela
tinha escolhido aquele exato momento de propósito.
CAPÍTULO VI ⊰ 284 ⊱
Lawrence sabia muito bem que mercadores eram pessoas que, não
importa a circunstância, viviam dizendo mentiras.
No entanto, a confiança era importante, mesmo entre os
mentirosos — mercadores eram criaturas estranhas, de fato.
Lawrence ponderou isso.
“E-eu não sei o que Liebert disse. Tenho certeza de que soou como
a verdade divina, como se estivesse confessando diante de um altar.
Mas foi uma mentira! Ele mente sobre tudo! Estive pensando em
demiti-lo — eu juro!”
A voz do homem era rouca e difícil de ouvir estando tão exaltado,
mas isso não era uma negociação delicada. Desde que Lawrence
pudesse entender o essencial, isso seria o bastante.
“Sr. Remelio.”
“Y-y-yaaagh!”
Remelio deu um grito curto pois sua cabeça estava firmemente
presa entre as mandíbulas de Holo, e ele a sentiu aumentar a pressão
só um pouco.
Lawrence e Holo tiveram a sorte de encontra-lo sozinho no
escritório, esperando seus funcionários retornarem.
Instantes atrás, Holo saltou sobre as muralhas da cidade com uma
facilidade inacreditável. Lawrence tinha planejado entrar na cidade
com Holo em forma humana e simplesmente alegar que foram
assaltados por bandidos, mas Holo, que podia sentir qualquer presença
do outro lado da muralha, simplesmente disse, “Está seguro,” e
atravessou com um único salto. Foi tão fácil que Lawrence se
perguntou se poderiam ter evitado todo este problema e
contrabandeado o ouro eles mesmos.
Eles entraram na cidade sem serem vistos e, uma vez que Holo
voltou temporariamente a sua forma humana, se infiltraram
silenciosamente na Companhia Remelio.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 287 ⊱
palavra sua. Se cometer qualquer deslize, você pode acabar sem uma
cabeça. Fui claro?”
Com a cabeça presa nas mandíbulas de Holo, Remelio não podia
assentir apropriadamente, mas ele tentou, e isso era bom o suficiente.
“Então vamos começar,” disse Lawrence francamente. “No caso
de termos sucesso com o contrabando de ouro, eu poderia lhe pedir
para comprá-lo de nós por quinhentos lumiones?”
Os olhos de Remelio estavam absurdamente abertos.
“Nós ainda somos cúmplices de contrabando. Certamente você
não acha que voltaríamos para nos vingar depois de pegar o ouro.”
Remelio assentiu como uma criança castigada, o que fez Lawrence
sorrir amargamente. “Bem, não vou dizer que não há nenhuma chance
disso acontecer, mas não, não acho que vai ser assim. Mas se não
falarmos sobre o que fazer quando tivermos sucesso — bem, podemos
acabar discordando, não podemos?”
Holo riu no fundo de sua garganta, fazendo com que a cabeça de
Remelio tremesse junto com sua boca; seu rosto ficou tenso com um
sorriso nervoso.
“Então, vou dizer outra vez. Posso pedir para comprar o ouro de
nós por quinhentos lumiones?”
O rosto de Remelio se distorceu com o desespero — ele sabia o
quanto o ouro comprado em Lamtra realmente valia.
“Não posso concor —”
“Claro, não espero que pague tudo agora. Vamos ver. Talvez você
pudesse fazer uma dívida escrita?”
Nesse momento, o dono da Companhia Remelio mostrou a
inteligência que o fez chegar nessa posição.
Ele fez uma expressão dolorosa quando entendeu o que Lawrence
estava dizendo e implorou por misericórdia. “Qui-quinhentos, é
simplesmente —”
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 289 ⊱
“Demais? Bem, hmm. Nesse caso, vou apenas levar tudo o que
você tem escondido por aqui e vender o ouro para outra pessoa.”
Lawrence trocou um olhar com Holo e acrescentou, “Além disso, vou
deixar que esse demônio ficar com a sua vida.”
Holo odiava ser chamada de deusa, mas aparentemente não se
importa em ser chamada de demônio.
Sua cauda balançava no ar e ela ofegou dramaticamente.
Todas as expressões drenaram rapidamente do rosto de Remelio.
Se o palpite de Lawrence estivesse correto, isso significava que
agora Remelio faria tudo o que eles pedissem.
“Entenda, Sr. Remelio, não acho que seja justo perder tudo por
causa de um único erro. Não podemos prever perfeitamente cada
queda de preço, podemos? Então quero te dar outra chance. Mas quero
você seja grato por isso, e quero que essa gratidão assuma a forma de
quinhentos lumiones. Você construiu uma empresa maravilhosa com
uma magnífica plataforma de carga em uma cidade como esta. Se você
pensar em termos de décadas, quinhentos certamente é uma
barganha.”
Os olhos de Remelio se arregalaram, e depois de um momento,
começou a chorar.
Se pudesse reconstruir sua companhia pagando quinhentos
lumiones ao longo de dez anos, estava longe de ser uma proposta
irracional. Um mercador viajante não era páreo para uma empresa
comercial nesse quesito.
Talvez essas lágrimas fossem da ideia de gerenciar uma empresa
revivida.
“Então você vai escrever a nota? Holo —”
Ao ouvir seu nome, Holo suspirou e relutantemente liberou
Remelio, cutucando a cabeça dele com a ponta do seu nariz.
CAPÍTULO VI ⊰ 290 ⊱
Seu destino era uma taverna que não fechava durante a noite,
cortesia de propinas pagas às autoridades apropriadas.
O distinto céu azul pálido da madrugada pairava sobre a cidade.
Um lampião inadequado, ainda em chamas, marcava a taverna.
“Bem-vindo.”
A voz que o cumprimentou estava desinteressada — não
necessariamente por causa da ilegalidade, mas sim da exaustão de ficar
acordado a noite toda.
A taverna estava meio cheia, embora surpreendentemente
tranquila; os fregueses bebiam seu vinho em silêncio, talvez
lamentando o amanhecer inevitável.
“Hey aqui.”
Lawrence se virou para encarar a voz e encontrou Holo, que
apareceu ao seu lado segurando um pequeno barril e um pouco de pão.
Se um padre visse Holo (que estava novamente vestida como uma
garota da cidade) na taverna noturna, poderia haver alguns problemas
complicados — mas ninguém parecia se importar com a presença dela.
Holo chamou a atenção do mestre da taverna atrás do balcão e este
acenou para ela de forma sonolenta. Holo provavelmente conseguiu os
bens que ela carregava conquistando o mestre com alguma conversa
mole.
“Venha, vamos embora.”
Na verdade Lawrence queria se sentar e descansar por um
momento, mas Holo pegou sua mão e não ia tolerar discussão.
“Volte sempre,” disse o mestre enquanto saiam da taverna.
Os dois não tinham nenhum destino em particular e, por
enquanto, se contentavam em andar.
Estava frio lá fora. Graças à umidade, a respiração deles pairava
no ar.
EPÍLOGO ⊰ 296 ⊱
— Isuna Hasekura
XTRAS
POSFÁCIO ⊰ 306 ⊱
Chloe, a garota de tranças, é uma personagem única do anime. O papel dela no anime corresponde ao de Yarei na light novel.
SPICE & WOLF VOL II ⊰ 309 ⊱
OS AUTORES
http://hasekuraisuna.jp/
Nascido em 1981. Local: Kyoto. Tipo sanguíneo: AB. Atualmente vivendo uma vida
livre e espartana em Tokyo, ele tem sido até então incapaz de por seus planos de
peregrinação aos templos em ação.