Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
10.10.2006
T endo escapado por um triz da ruína financeira, Lawrence
agora dedica a sua atenção em ajudar Holo a encontrar sua antiga
terra natal no Norte. Mas por quanto tempo um mercador
viajante pode se dar ao luxo de vagar pela região rural sem
procurando por uma vila que se suspeita que deve ter deixado de
existir há bastante tempo? No entanto, quando um mercador rival
põe seus olhos sobre a bela companheira de Lawrence, por acaso
este pode ter confiança que Holo vai permanecer ao seu lado?
Por acaso chegou o momento de Lawrence se perguntar se sua
relação com Holo é puramente de negócios ou é algo mais
pessoal?
SPICE & WOLF VOL I ⊰4⊱
BRUXA
A PALAVRA SURGIU EM
SUA MENTE ASSIM QUE A
MULHER O OLHOU. — GI BATOS
O MERCADOR
— DIANA RUBENS
A CRONISTA
“EU VOU PAGAR A DÍVIDA QUE AGORA PESA SOBRE
OS OMBROS DELICADOS DESSA FREIRA VIAJANTE — E
SPICE & WOLF VOL I ⊰6⊱
QUANDO ESSA DEUSA DA BELEZA RECUPERAR SUA
LIBERDADE, EU JURO POR SÃO LAMBARDOS, QUE
VELA POR ESTA GUILDA DE COMÉRCIO ROWEN, QUE
HOLO, A FREIRA, TERÁ MEU AMOR ETERNO!”
— AMATI,
O PEIXEIRO
ESTAS NÃO ERAM
PALAVRAS QUE MAS HOLO
PODERIAM SER SIMPLESMENTE
DITAS FORMA ZOMBOU E
LEVIANA.
“VOCÊ TEM A MIM, RESPONDEU,
NÃO TEM?” ELE “O QUE VOCÊ É
FALOU PARA MIM? NÃO —
COMPLETAMENTE O QUE EU SOU
SÉRIO. PARA VOCÊ?”
CAPÍTULO I ............................................................... 9
CAPÍTULO II ............................................................ 42
CAPÍTULO III .........................................................104
CAPÍTULO IV .........................................................154
CAPÍTULO V ..........................................................217
EPÍLOGO ................................................................254
POSFÁCIO ..............................................................268
EXTRAS ..................................................................270
aziam seis dias que Lawrence e Holo deixaram
Ruvinheigen. A cada dia que passava, o frio ficava mais
severo e o frustrantemente o céu permanecia nublado, de
modo que mesmo no auge do meio-dia, o mais fraco dos
ventos era o suficiente para provocar calafrios.
Como viajavam ao lado do rio, o frio da neblina combinava com
o ar gelado e fazia tudo isso piorar.
Até mesmo a água do rio parecia gelada. Estava turva, como se o
próprio céu nublado tivesse misturado na correnteza.
Embora Lawrence e Holo estivessem empacotados com roupas de
inverno de segunda mão que tinham comprado em Ruvinheigen, o frio
ainda era o frio.
CAPÍTULO I ⊰ 10 ⊱
Holo levantou a voz, rindo mais uma vez. “Então, o que tem de
saboroso nesta parte do mundo?”
“A especialidade local, você quer dizer? Bem, realmente não sei
se isso conta como uma especialidade, mas ...”
“Peixe, não é?”
Lawrence estava prestes a dizer isso, logo a resposta rápida de
Holo o surpreendeu.
“De fato. Sim, a oeste daqui há um lago. Pratos feitos com peixes
retirados daquele lago é o que se considera como especialidade local.
Mas como é que você sabe?”
Holo geralmente podia discernir as motivações das pessoas, mas
Lawrence não achava que ela poderia simplesmente ler sua mente
assim.
“Oh, apenas senti o cheiro ao vento,” ela falou, apontando para a
margem oposta do rio ao longo do qual viajavam. “Aquela caravana,
está levando peixes.”
Lawrence olhou e viu pela primeira vez uma caravana de carroças
que estava tão longe que tudo que conseguia fazer era conta-las —
certamente não poderia dizer o que carregavam. A caravana
provavelmente se encontraria com Lawrence e Holo eventualmente,
baseado na direção e velocidade com que os cavalos estavam puxando
as carroças.
“Embora eu não possa dizer que tipo peixe poderia ser. Seria algo
parecido com a enguia que comemos em Ruvinheigen?”
“Aquilo foi apenas frito em óleo. Há pratos mais elaborados —
cozidos com carne ou legumes ou preparados com especiarias. Além
disso, esta cidade tem outra especialidade.”
“Oh ho!” Os olhos de Holo brilharam, e debaixo da lona, sua
cauda abanou com expectativa.
“Pode manter sua expectativa até chegarmos lá.”
CAPÍTULO I ⊰ 18 ⊱
“Meu deus. Você é mesmo tão charmoso, não tenho ideia de como
lidar,” Holo falou exasperada.
Lawrence não tinha resposta.
“Quem você pensa que eu sou? Não é só a qualidade do trigo que posso
julgar.”
“Você não disse algo sobre comer pimentas e se arrependido?”
Holo pareceu se ofender com a lembrança.
“Mesmo eu não posso determinar o gosto puramente pela
aparência. Fique sabendo que elas eram de um vermelho brilhante —
como uma fruta perfeitamente madura,” Holo disse enquanto extraia
mais um caracol. Ocasionalmente, ela fazia uma pausa para levar o
copo aos lábios e tomar um gole, fechando os olhos enquanto isso.
Uma vez que a região estava fora do alcance maligno da Igreja,
licor destilado — que a Igreja dizia ser perigoso — era vendido e
consumido livremente aqui.
O copo de Holo era preenchido com um licor quase transparente
conhecido como vinho quente.
“Devo pedir algo mais doce para você?”
“.....”
Holo sacudiu a cabeça em silêncio, mas com os olhos tão
firmemente fechados, Lawrence tinha certeza de que, se ele espiasse
sob seu manto, encontraria sua cauda eriçada como uma escova de
garrafa.
Por fim, ela esvaziou o copo e, expirando profundamente, limpou
os cantos dos olhos com sua manga.
Levando em conta o que ela bebia (que também era conhecido
como “licor agitador de almas”), era bom que Holo não estivesse mais
vestida como uma freira. Com a cabeça coberta por um lenço
triangular, ela parecia inteiramente com uma moça normal da cidade.
Holo trocou de roupa antes do jantar e foi agradecer a Amati mais
uma vez. O rosto de Amati estava tão patético com os encantos de
Holo que não só Lawrence, mas também o estalajadeiro, foi incapaz
de evitar o riso.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 29 ⊱
Como que para aumentar a sua carga de pecados ainda mais, Holo
cumprimentou Amati com ainda mais graça e charme do que
normalmente faria.
No entanto, se Amati a visse comendo e bebendo de forma voraz,
sem dúvida ele seria rapidamente despertado de seus sonhos.
Holo fungou. “É um sabor nostálgico,” ela falou com os olhos
borrados, tanto do licor quanto das lembranças de sua terra natal.
Era verdade que quanto mais ao norte você fosse, mais comum
era o licor agitador de almas.
“Eu mal posso distinguir qualquer sabor quando o licor é tão
destilado,” disse Lawrence.
Talvez cansada dos caracóis, Holo pegou o peixe assado e cozido,
respondendo feliz enquanto isso.
“Pessoas esquecem a aparência de algo depois de apenas dez anos,
mas o sabor e os aromas permanecem depois de dezenas de anos ou
mais. Este licor traz de volta muitas memórias. Ele não é muito
diferente do licor de Yoitsu, sabe.”
“Bebidas fortes são comuns no norte. Você sempre bebia isso?”
Lawrence olhava do conteúdo do copo para o rosto de Holo.
“Licores mais doces dificilmente combinam com uma loba sábia e
de tão nobre estatura,” ela respondeu com orgulho, um pedaço de
peixe no canto de sua boca.
Claro que, com base em sua aparência, era leite doce e mel que
melhor combinaria com Holo, mas Lawrence riu e concordou com
ela.
Certamente o sabor do licor a trouxe lembranças de sua terra
natal.
O sorriso feliz de Holo não poderia ser simplesmente explicado
pelo fato de ser a primeira refeição deliciosa que eles tinham em um
bom tempo.
CAPÍTULO I ⊰ 30 ⊱
Seu sorriso era como o deleite de uma garota que tinha recebeu
um presente inesperado — a primeira evidência concreta de que eles
estavam se aproximando de Yoitsu e sua casa.
No entanto, Lawrence se viu desviando o olhar.
Não era como se estivesse com medo do seu olhar fosse notado e
da provocação que certamente viria em seguida.
O fato era que ele ouviu que Yoitsu foi posta abaixo muito tempo
atrás; Lawrence tinha escondido isso de Holo desde o início de sua
parceria. Manter isso em segredo transformava o sorriso feliz de Holo
em um sol ofuscante doloroso demais para olhar.
Ele não conseguia se obrigar a destruir a agradável refeição da
noite.
Para evitar que Holo percebesse sua agitação, Lawrence se forçou
a pensar em outras coisas. Ele sorriu para Holo, que estendeu a mão
para o cozido de carpa.
“Vejo que você gostou do cozido.”
“Mm. Quem iria imaginar que a carpas quando cozidas seriam tão
saborosas? Outra tigela, por favor.”
A grande tigela com o ensopado de carpa estava fora do alcance
do Holo, então Lawrence servia para ela, mas cada vez que o fazia,
mais cebolas apareciam em seu prato de madeira. Parecia que, mesmo
cozidas, Holo não suportava cebolas.
“Onde você conseguiu comer carpas? Não tem muitos lugares que
servem isso.”
“Hm? Eu as peguei do rio. Elas são criaturas fracas, fáceis de
enganar.”
Lawrence entendeu — ela foi pescar em sua forma de lobo.
“Nunca comi carpa crua. É boa?” ele perguntou.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 31 ⊱
“As escamas ficavam presas nos meus dentes e tem muitos ossos.
Eu vi peixes maiores engolindo os menores por inteiro, então imaginei
que era delicioso, mas no fim não era.”
Lawrence imaginou a forma enorme de Holo enquanto ela
devorava uma grande carpa de cabeça erguida.
Carpas eram famosas por sua longa vida e eram reverenciadas
como sagradas e insultadas como instrumentos do diabo pela Igreja.
Por essa razão, o consumo de carpa estava confinado ao norte.
Para ser justo, parecia levemente ridículo considerar a carpa
sagrada por sua longevidade moderada quando havia lobos como Holo
vagando por aí.
“O hábito de cozinhar dos humanos é realmente bom, mas não é
só isso — o peixe foi muito bem escolhido. Esse rapaz, Amati, tem
um bom olho.”
“Para a idade dele, sim. A carga que ele estava movendo era
impressionante.”
“E, por outro lado, temos você. O que é mesmo que você está
transportando?” os olhos de Holo subitamente ficaram frios.
“Hm? Pregos. Assim como essa mesa... Oh, acho que você não
sabe o que é isso.”
“Eu sei o que são pregos. Estou dizendo que você deveria ter
investido em algo um pouco mais impressionante. Ou ainda afetado
pela sua falha em Ruvinheigen?”
Lawrence se sentiu um pouco ofendido com isso, mas era a
verdade, e então ele não podia dizer nada.
Ele se entusiasmou demais e comprou armaduras pela margem
que totalizavam cerca de duas vezes seu patrimônio pessoal e, como
resultado, ele se viu diante da falência e de uma longa vida de
escravidão. Além disso, ele fez Holo passar por problemas
significativos e humilhação.
CAPÍTULO I ⊰ 32 ⊱
rua. Assim como Holo esperava, havia duas camas. Claro, Lawrence
não poderia deixar de suspeitar de que as duas camas do quarto
também foram devido à insistência de Amati.
Pensar assim acalmava Lawrence, mas ele ainda estava grato pela
assistência de Amati, então abandonou essa linha de pensamento e
olhou para a rua.
Todo mundo na ampla avenida parecia estar cambaleando para
casa.
Lawrence riu e olhou para trás para ver Holo sentada de pernas
cruzadas sobre a cama, se servindo de mais um copo de vinho como se
ela já não tivesse bebido o suficiente.
“Não venha lamentar para mim se estiver de ressaca amanhã. Você
já esqueceu o que aconteceu em Pazzio?”
“Mm. Oh, só isso não tem problema. Bom licor nunca perdura
depois beber. E quem sou eu para recusar tal companhia?”
Agora que terminou de servir, ela alegremente levou o copo aos
lábios, então comeu um pouco de truta seca que sobrou do jantar.
Se for deixada sozinha, Holo provavelmente comeria e beberia até
entorpecer, mas Lawrence ainda estava grato pelo seu humor
agradável.
Ele tinha que abordar um assunto que estava longe de ser o seu
favorito.
A razão pela qual alterou a sua rota anual usual, que incluía
Kumersun apenas nos meses de verão, era porque estava indo para a
terra natal de Holo.
Lawrence não sabia exatamente onde a casa de Holo, Yoitsu,
ficava. Embora tivesse ouvido seu nome, que estava em uma história
dos tempos antigos, o que não proporcionava nenhum senso concreto
de sua localização.
Ele evitou a pressionar por mais informações até o momento,
porque toda vez que o assunto vinha à tona, ela sorria com nostalgia,
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 35 ⊱
descobrem que você pode entendê-los, você nunca vai parar de ouvir
sobre o quão grande é deus deles.”
“Pode ser que uma divindade local é melhor do que um deus que
nunca sai do santuário exceto quando percebem o brilho do ouro, não
é?” disse Lawrence.
Mark riu, batendo na própria cabeça com o pergaminho enrolado.
“Você não está mentindo! E dizem que os deuses da colheita são todas
belas mulheres.”
O rosto de Holo apareceu na mente de Lawrence. Ele assentiu e
sorriu, mas é claro que não disse o que veio à mente: Mas elas têm
personalidades terríveis.
“De qualquer forma, chega dessa conversa. Serei repreendido pela
patroa, com certeza. Vamos falar de negócios? Presumo que é por isso
que está aqui.”
A expressão de Mark passou de amigável para de profissional.
Embora não houvesse necessidade de formalidades entre os dois, o
relacionamento deles era calculado. Lawrence se preparou para a
negociação e falou.
“Eu trouxe pregos de Ruvinheigen. Pensei que você pudesse
comprá-los.”
“Pregos, eh? Sou um vendedor de trigo. Por acaso você ouviu por
aí que agora fechamos nossos sacos de trigo à prego? Acho que não.”
“Ah, mas em breve você vai ter muitos clientes comprando
suprimentos para o longo inverno. Você poderia vender esses pregos
juntos com o trigo. As pessoas precisam fortalecer suas casas contra a
neve.”
Mark olhou para o céu por um momento antes de voltar seu olhar
para Lawrence.
“Suponho que seja verdade... Pregos, certo. Quantos?”
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 49 ⊱
É por isso que ele trouxe os pregos para vender. Lawrence estava
bem ciente de que Mark conhecia muitos ferreiros da área. Seria fácil
para Mark vender os pregos a qualquer um deles por um lucro
garantido.
Mark seria até mesmo capaz de pedir uma parte do pagamento
pelos pregos em dinheiro. Como um mercador de trigo — cuja última
chance de salvar dinheiro estava se aproximando rapidamente — a
chance de ter um pouco de moeda em suas mãos provavelmente o faria
mais feliz do que qualquer lucro escasso.
E como Lawrence esperava, Mark concordou prontamente. Isso
resolvia a necessidade de reunir informações para a viagem a seguir.
“Oh, sim. Tem outra coisa que gostaria de te perguntar. Não se
preocupe, isso vai ser rápido,” disse Lawrence.
“Eu pareço tão mesquinho?”
Lawrence viu o sorriso decepcionado de Mark. “Por acaso esta
cidade tem algum cronista?”
“Cronistas...? Oh, você quer dizer aquelas pessoas que escrevem
esses diários intermináveis sobre os eventos da cidade?”
Cronistas recebiam pagamentos de nobres ou oficiais da Igreja
para registrar a história de determinada área ou cidade.
Lawrence não podia deixar de rir ao ouvir Mark chamar com
desprezo o trabalho deles de “diários intermináveis.”
Não era inteiramente correto, mas não estava muito longe da
verdade, o que torna tudo ainda mais engraçado.
“Não acho que eles gostariam que você falasse dessa forma, mas
sim,” disse Lawrence.
“Bah, é só que me incomoda que tudo o que eles precisam fazer
para ganhar dinheiro é sentar em uma cadeira o dia todo e escrever.”
“É um pouco difícil aceitar isso de alguém que teve tanta sorte em
um acordo e que foi capaz de abrir uma loja em uma cidade.”
CAPÍTULO II ⊰ 54 ⊱
— você vai estar na cidade até que o festival acabe, certo? Vamos sair
para tomar uma bebida, tudo bem?”
“Acho que eu deveria deixá-lo se gabar de seu sucesso pelo menos
uma vez. Está marcado.”
Mark gargalhou alto e então suspirou quando entregou o último
saco de pregos para seu aprendiz. “Mesmo um mercador da cidade
sofre com problemas e preocupações intermináveis. Às vezes desejo
voltar a viajar.”
Lawrence só podia sorrir vagamente já que ele ainda estava
trabalhando dia após dia para conseguir o que Mark já tinha
conseguido. Mark pareceu notar. “Uh, esqueça o que eu disse,” ele
falou, sorrindo em desculpa.
“Tudo o que podemos fazer é manter nossos narizes na direção do
lucro. É assim para todos os mercadores.”
“É verdade. Boa fortuna para nós dois!”
Lawrence apertou a mão de Mark, e depois de ver outro cliente
chamando o mercador de trigo, ele deixou a tenda para trás.
Ele lentamente manobrou sua carroça no meio da multidão e
então olhou para a barraca de Mark.
Lá estava Mark, que parecia ter esquecido completamente
Lawrence e agora estava envolvido em negociações com o seu próximo
cliente. Lawrence estava claramente com inveja.
Mas mesmo Mark, o mercador bem-sucedido da cidade, disse que
às vezes gostaria de voltar a viajar.
Lawrence se lembrou de uma história. Há muito tempo atrás havia
um rei que planejou se livrar da pobreza em seu próprio reino
invadindo a nação próspera ao lado, mas um poeta da corte disse o
seguinte: “As pessoas sempre veem as partes miseráveis da própria
terra e as melhores partes das terras vizinhas.”
Lawrence pensou sobre a história.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 57 ⊱
Kumersun não tinha uma igreja, por isso era um sino no topo de
uma torre no mais alto teto da mais nobre casa da cidade que
grandiosamente tocava o sino do meio-dia a cada dia. O sino, é claro,
era decorado com esculturas da melhor espécie, e o telhado, visível
por toda a cidade, era mantido pelos melhores artesãos que se poderia
ter.
Dizia-se que o telhado — construído unicamente por causa da
vaidade da nobreza que ali morava — tinha custado trezentos lumiones
no total, mas as pessoas da cidade não desejavam mal algum aos nobres,
pois concluíam que era fazer tais coisas que tornava alguém um nobre.
Talvez a razão pela qual os mercadores mais ricos, que
acumulavam seu dinheiro em grandes cofres, guardavam
ressentimentos tão caros era porque lhes faltava esse senso lúdico de
CAPÍTULO II ⊰ 58 ⊱
Se pelo menos ele pudesse ser tão astuto ao lidar diretamente com
Holo, pensou.
Ela não só passava a perna nele — ela o derrubava
completamente.
Enquanto Lawrence se perguntava se sagacidade do Holo excedia
a sua própria tanto quanto a sua idade, o homem que entrou na guilda
assim que Amati saiu observou a sala e começou a caminhar em direção
a Lawrence.
Aparentemente o aprendiz de Mark correu pela cidade toda para
informar Batos do pedido de Lawrence, que era sem dúvidas o motivo
de Batos agora se aproximar dele.
Lawrence cumprimentou o homem com um olhar, abrindo seu
sorriso de mercador.
“Kraft Lawrence, eu presumo? Eu sou Gi Batos.”
A mão que Batos estendeu em saudação era dura e áspera, como
a de um soldado veterano.
“Bem, chega disso. Por favor, entre. Eu não mordo,” disse Diana,
com um sorriso malicioso quando ela fez um gesto o convidando a
entrar.
1
Junção entre rios.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 87 ⊱
da vila. Sua forma era tanto atraente e jovem, mas ela mantinha sua
cauda de loba. Depois de se divertir com eles por um tempo, ela
abençoou a colheita e continuou para o sul. Desde aquela época, as
colheitas abundantes continuaram, e nós da vila nos lembrarmos dela
como Holoh da Cauda de Trigo.”
Lawrence ficou duplamente surpreendido — tanto pela narração
regular de Diana quanto pela menção do nome de Holo.
A pronúncia do nome era um levemente diferente, mas era
inconfundivelmente uma história sobre Holo. Sua bênção sobre
colheita da aldeia confirmava isso assim como sua forma de donzela
preservar sua cauda lupina.
No entanto, esta surpresa era fraca em comparação com o
conteúdo do conto de Diana.
A cidade de Lenos ainda existia na confluência do Rio Roam.
Usando isso como ponto de referência, e sabendo que havia uma
floresta ao leste, Lawrence poderia desenhar uma linha do sudoeste de
Nyohhira e uma do leste de Lenos, o que colocaria Yoitsu diretamente
sobre o cruzamento.
“Isso serve de alguma coisa?”
“Sim, uma vez que limita a área para a floresta ao leste de Lenos.
É uma grande ajuda!”
“Fico contente em saber.”
“Certamente vou retribuir o mais breve —”
Lawrence foi cortado por um gesto de Diana. “Como pode ver,
mesmo que a Igreja me persiga por isso, eu adoro os antigos contos
pagãos — os que não foram alterados para se adaptar às crenças da
Igreja. Como você é de fato um mercador viajante, Sr. Lawrence, você
certamente deve ter ao menos uma história que possa compartilhar
comigo. Se fizer isso, não exigirei nenhum pagamento adicional.”
Aqueles que compunham histórias para a Igreja o faziam para
preservar a autoridade da Igreja. Historiadores mantidos pela nobreza
CAPÍTULO II ⊰ 88 ⊱
fato; o jovem aprendiz que ele enviou mais cedo para contatar Batos
agora tinha o rosto vermelho e se inclinava na parte de trás da loja.
Era a esposa de Mark, Adele, que cuidava do fechamento da loja,
cobrindo as pilhas de mercadorias com uma lona para proteger contra
o orvalho da noite.
Assim que ela notou Lawrence, Adele acenou levemente e
apontou para o marido com um sorriso envergonhado.
“O que há de errado?” Mark falou. “Bah — aqui, bebe um pouco.”
“Então, sobre a informação que te pedi esta manhã... Whoa, isso
é demais.”
Mark parecia não ouvir o protesto de Lawrence enquanto ele
derramava o vinho de uma garrafa de cerâmica em um copo de
madeira.
Sua expressão sugeria que ele não teria nada a dizer até que
Lawrence pegasse o copo, que agora estava quase transbordando de
vinho.
“Tudo bem, tudo bem.” Exasperado, Lawrence pegou o copo e o
levou aos lábios; era um bom vinho. De repente ele queria um pouco
de charque para acompanhar.
“Então, sobre o que era? Você mudou seus planos de viagem?”
“Isso mesmo. Há uma cidade, Lenos, na confluência do Rio Roam.
É para lá que eu vou.”
“Bem, isso é uma grande mudança, de fato. E eu já tinha coletado
bastante informação sobre o caminho para Nyohhira.” Se ele não fosse
capaz de pensar com clareza apesar do vinho, Mark nunca teria sido
um mercador.
“Desculpa. As circunstâncias mudaram um pouco.”
“Oh ho,” Mark disse com um sorriso enquanto bebia o vinho como
se fosse água. Ele então olhou para Lawrence com um olhar de quem
CAPÍTULO II ⊰ 92 ⊱
se divertia. “Então é verdade que as coisas foram mal com aquela sua
companheira?”
Houve uma pausa.
“O que disse?” Lawrence finalmente perguntou.
“Ha-ha-ha-ha. Rumores se espalham, rapaz apaixonado. Todo
mundo sabe que você está escondido em uma boa estalagem com uma
bela freira. Você certamente não teme à Deus.”
Kumersun era uma cidade grande, mas não tão grande como
Ruvinheigen — as notícias se espalhavam rapidamente de um
mercador para outro até que quase todos eles tivessem ouvido a
notícia. Os laços entre os comerciantes aqui eram fortes. Se alguém
tivesse visto Holo com Lawrence, rumores iriam se espalhar.
Se Mark sabia sobre Holo, então todos na guilda mercantil
também sabiam. Ele estava aliviado que não havia retornado com
Batos.
O que ele não entendia era por que Mark disse que as coisas
tinham corrido mal entre Lawrence e Holo.
“Nós não temos o tipo de relacionamento que daria uma boa
conversa para o vinho, mas não vejo por que você diria que as coisas
foram mal com ela.”
“Heh-heh. O rapaz apaixonado aqui sabe se fazer de bobo, isso é
certo. Mas posso ver a preocupação em seu rosto.”
“Bem, não há dúvidas de que ela é formosa. Se as coisas fossem
mal entre a gente, seria uma pena.”
Lawrence estava surpreso com sua própria capacidade de se
manter calmo durante a conversa — sem dúvida porque estava
acostumado com as provocações constantes de Holo.
Embora a verdade seja dita, ele sentiu que teria preferido que sua
perspicácia nos negócios tivesse ficado mais afiada em vez de sua
paciência.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 93 ⊱
Mark arrotou. “Por que, agora há pouco, ouvi dizer que a sua
companheira foi vista na companhia de um rapaz da nossa guilda
mercantil. Evidentemente eles estavam se dando muito bem.”
“Ah, você quer dizer o Sr. Amati.” Lawrence não se sentia
confortável chamar o garoto simplesmente de “Amati,” e ainda assim
o “Sr.” de repente parecia desnecessário também.
“Ah, então você já desistiu.”
“Você parece estar redondamente enganado. Eu simplesmente
tinha negócios hoje e não fui capaz de acompanhá-la, e o Sr. Amati se
encontrava com tempo livre e queria nos mostrar a cidade. Estes dois
eventos acabaram se coincidindo; isso é tudo.”
“Hmm...”
“Não acredita em mim?”
Lawrence esperava Mark ficar totalmente desapontado, então ele
se viu confuso ao notar o olhar de genuína preocupação de Mark.
“Eu costumava ser um mercador viajante como você, por isso vou
te dar uns conselhos. Amati é mais formidável do que parece.”
“...O que você quer dizer?”
“O que eu quero dizer é, se você for descuidado, ele vai roubar
sua companheira bonitinha bem na sua frente. Homens da idade dele
vão fazer de tudo para conquistar o objeto de sua obsessão. E você sabe
quanto peixe Amati negocia? Muito. E mais, ele nasceu em uma região
bastante agradável no sul, mas uma vez que ele percebeu que por ser
o filho mais novo nunca teria a chance de conseguir nada para si
mesmo, ele fugiu de casa e veio aqui para abrir o seu negócio. Isso foi
apenas há três anos. Uma história e tanto, não é?”
Era difícil imaginar o frágil Amati fazendo tudo isso, mas
Lawrence tinha visto as três cargas de peixe fresco na carroça do
garoto.
Além do mais, Amati foi capaz de arranjar facilmente um quarto
em uma estalagem de frente para a avenida principal — embora seja
CAPÍTULO II ⊰ 94 ⊱
onde ele vendeu seu peixe. Durante uma época em que a cidade estava
transbordando com os viajantes indo e vindo, isso não era pouca coisa.
Uma semente de medo começou a se enraizar no coração de
Lawrence, mas ao mesmo tempo, ele não podia acreditar que Holo
mudaria seu afeto tão facilmente.
“Não precisa se preocupar. Minha companheira não é tão
instável.”
“Ha-ha-ha. Você tem muita fé. Se eu ouvisse que minha Adele
tivesse saído com Amati, eu desistiria na hora.”
“O que é isso sobre eu e Amati?” disse Adele, um sorriso
verdadeiramente terrível no rosto. Ela estava atrás de Mark já faz
algum tempo enquanto limpava a loja no lugar do marido.
Adele e Mark se apaixonaram quatro anos atrás quando, como um
mercador viajante, Mark tinha visitado Kumersun. Sua história de
amor era bastante famosa na cidade, e era o suficiente para fazer até
um bardo de terceira categoria levantar as mãos em desgosto. Ela agora
possuía toda a dignidade de esposa de um mercador de trigo.
Quando Lawrence a conheceu, Adele era bastante frágil, mas
agora ela era ainda mais robusta do que seu marido.
Dois anos atrás ela havia dado à luz a seu primeiro filho — talvez
fosse a força da maternidade que ela agora possuía.
“Uh, o que eu estava dizendo era que, se eu te visse com Amati,
você é tão querida para mim que as chamas do meu ciúme queimariam
a minha própria carne!”
“Queime então, querido. Eu vou apenas acender um fogo com as
cinzas que você deixar para fazer um pão saboroso para o Sr. Amati.”
Adele era tão ácida que tudo que Mark pôde fazer em resposta foi
tomar outro drinque.
Talvez as mulheres em todos os lugares fossem mais fortes.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 95 ⊱
Apesar de sua frustração, ele se viu apressando seu passo cada vez
mais.
O clamor turbulento das ruas ficou mais alto quando a noite caiu.
Lawrence estava concentrado em escrever seus próximos planos de
viagem com tinta e pena emprestada da estalagem quando Holo
finalmente retornou.
Lawrence tinha corrido de volta para a estalagem apenas para
descobrir que Holo ainda estava fora, e embora tivesse que engolir sua
decepção, o tempo o deu uma chance para se acalmar, pela qual estava
grato.
Amati se despediu dela na frente da estalagem, segundo Holo,
então ela veio até o quarto sozinha. A julgar pelo cachecol de pele de
raposa em volta do pescoço, Amati foi levado por um bom passeio.
Não havia dúvida na mente de Lawrence que ela o fez comprar mais
do que isso.
Seu alívio e felicidade ao ver o retorno seguro de Holo não era
nada comparado com a dor de cabeça que veio ao tentar descobrir qual
seria a maneira apropriada de agradecer Amati.
“Ugh... está muito apertado. Venha... me ajude com isso, pode
ser?”
Pelo tanto que ela comeu e bebeu, Holo parecia incapaz de tirar
suas próprias roupas.
Lawrence suspirou e saiu de sua cadeira, caminhou ao lado da
cama e desfez o cinto contra o qual Holo lutava tão corajosamente. Ele
também retirou o manto que apertava sua cintura.
“Se você for se deitar, tire o seu cachecol e o xale. Caso contrário
eles vão enrugar.” Holo grunhiu vagamente em resposta.
Lawrence conseguiu impedi-la de cair sobre a cama de imediato,
e ele a ajudou a tirar o cachecol e o xale de pele de coelho, bem como
o lenço triangular que ela usava sobre a cabeça.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 97 ⊱
Esses planos eram feitos para o seu próprio bem — ou para o bem
de outra pessoa?
Lawrence trabalhava, a pena na mão, ouvindo os roncos tranquilos
de Holo, até que a vela de sebo se extinguiu.
Holo riu. “Então esse era o seu plano o tempo todo, não era?
Imaginei que sim.”
“Vou descontar o valor desse cachecol dos seus do seu dinheiro
para o festival, esteja avisada.”
Holo o encarou, mas se virou, duplamente irritada ao ver que
Lawrence a encarou de volta.
“Espero que pelo menos não tenha mostrado suas orelhas e cauda
para ele, certo?”
“Você não precisa se preocupar. Eu não sou tão tola assim.”
Com base no estado dela na noite anterior, Lawrence não tinha
pensado em se preocupar com essa possibilidade, mas agora ele não
tinha tanta certeza.
“Suponho que te perguntaram que tipo de relacionamento que
você tem comigo.”
“O que eu gostaria de saber é precisamente por que você está me
perguntando isso.”
“Se nossas histórias não forem iguais, as pessoas vão começar a
suspeitar.”
“Mm. Você está certo. Sim, fui bastante questionada a respeito
disso. Eu sou uma freira viajante e você me salvou de ser vendida por
homens maus, foi o que disse para ele.”
Tirando a parte sobre Holo ser uma freira, o resto era mais ou
menos consistente com a verdade.
“Mas uma vez que você me salvou, e eu fiquei profundamente em
dívida com você, e como não posso esperar pagá-lo, estou
gradualmente recompensando orando por sua segurança enquanto
viajamos. Oh, pobre de mim! Minha voz estava desesperadamente
triste enquanto narrava esse conto. O que você acha, hein? Tem o som
da verdade!”
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 101 ⊱
Como ele esperava, o que estava escrito era uma versão mais
tortuosamente redigida da declaração que Amati tinha acabado de
fazer.
O que Lawrence estava mais interessado era a quantidade que
Amati se propunha a pagar.
Quanto Holo alegou que devia?
Para Amati estar tão cheio de confiança, tinha que ser uma
quantidade relativamente pequena.
Finalmente, ele encontrou a quantia em uma das linhas do
contrato.
Por um momento, ele duvidou de seus olhos.
Mil moedas de prata trenni.
Um alívio, corporal, tomou conta dele.
“Suponho que este contrato lhe satisfaça?”
Lawrence verificou novamente, certificando-se que não havia
armadilhas óbvias escondidas no contrato. Ele também procurou por
todos os pontos que pudesse transformar em benefício próprio.
Mas a linguagem do contrato era firme o suficiente para não dar
espaço para armadilhas que prejudicassem a primeira parte.
Lawrence não tinha escolha a não ser devolver o contrato de
Amati.
“Entendido,” ele disse, entregando o contrato de volta para o
menino e o olhando nos olhos.
Lawrence estendeu a mão para pegar a adaga e o contrato foi
selado.
Todo mercador no salão — e mais importante, o santo padroeiro
da guilda mercantil, São Lambardos — era testemunha do contrato.
Os mercadores levantaram suas vozes em um grito, brindando
seus copos juntos, trazendo um fim ao entretenimento.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 111 ⊱
“Você, escute.”
“O quê?”
“O que você vai fazer se o garoto realmente te entregar o
dinheiro?”
Ele sabia que se respondesse com “O que quer dizer com o que eu
vou fazer?” ela ficaria entediada.
Quando ela fazia perguntas como esta, Holo queria saber a
primeira coisa que vinha à sua mente.
Lawrence fingiu pensar sobre isso por um momento e, em
seguida, propositadamente deu uma resposta não tão boa assim.
“Depois que eu calcular o quanto você usou, vou te entregar o
restante.”
As orelhas de Holo se mexeram lentamente e ela estreitou os
olhos. “Não me teste.”
“É um pouco injusto que eu seja o único a ser testado, hein?”
“Hmph.” Holo fungou, entediada, então voltou a olhar para a
cauda que arrumava.
Lawrence tinha propositalmente evitado falar a primeira coisa que
veio à mente.
Ele queria testar se ela tinha notado este fato.
“Se Amati cumprir sua parte do contrato, eu certamente vou
cumprir a minha,” ele disse.
“Oh ho.” Holo não olhou para cima, mas Lawrence podia dizer
que ela também não estava olhando para sua cauda.
“Claro, você esteve livre o tempo todo. Pode agir como desejar.”
“Cheio de confiança, não é?” Holo esticou as pernas e as balançou
para fora da cama.
CAPÍTULO III ⊰ 116 ⊱
E a mão estendida de Holo valia mais que dez mil moedas de ouro.
“Pois bem,” disse Lawrence, tomando a mão de Holo e se
preparando.
Holo riu de sua decisão séria. “Eu sou delicada, não pise no meu
pé,” ela disse com um sorriso.
“...Farei o meu melhor.”
Os dois saíram da estalagem e mergulharam na multidão
carnavalesca.
O alívio dela era o de uma garota que há muito tinha perdido seu
caminho para casa, mas finalmente tinha encontrado um caminho
familiar.
Devagar e com cuidado ela respirou fundo, que depois exalou com
força.
Era apenas o orgulho de ser a Sábia Loba que a impedia de começar
a chorar ali mesmo no local.
“Estou surpreso que você não chorou.”
“...Tolo.” Seu sorriso de escárnio provou o quão perto de chorar
ela tinha chegado.
“Sabendo apenas que era a sudoeste de Nyohhira teria tornado a
busca difícil, mas agora será muito mais fácil. Eu ainda não abri a carta,
mas tenho certeza que tem informações adicionais. Deve ser muito
mais fácil de encontrar o nosso destino agora.”
Holo balançou a cabeça e olhou de lado; em seguida, ainda
segurando os lençóis, ela lançou um olhar penetrante para Lawrence.
Seus olhos cor de âmbar tingidos de vermelho brilhavam com uma
mistura de expectativa e dúvida.
A ponta branca de sua cauda balançava para lá e cá, e ela parecia
tanto com uma frágil donzela que Lawrence não pôde deixar dar um
fraco sorriso.
Se não conseguisse entender o que ela dizia com aquele olhar, ele
não teria nenhum direito de reclamar quando ela rasgasse sua garganta.
Lawrence limpou sua garganta. “Eu diria que nós vamos ser
capazes de encontrar Yoitsu dentro de meio ano.”
Ele poderia dizer que o sangue mais uma vez fluía através da forma
paralisada dela.
“Mm!” Disse Holo feliz com um aceno de cabeça.
“Então a remetente desta nota é como uma pomba que carrega
boas notícias. Vá refletir sobre suas suposições equivocadas.”
CAPÍTULO III ⊰ 136 ⊱
Holo fungou e caiu sobre a cama, com a carta na mão, sua cauda
balançando, como se dissesse “Bem, agora vá.” Ela era como um cão
carregando um osso de volta para sua toca.
Ele não se atreveria a dizer isso, claro, então sorriu sem dizer nada
e, abrindo a porta, saiu do quarto.
Pouco antes dele fechar a porta atrás dele, Lawrence olhou para
Holo uma última vez, cuja cauda acenou como se ela tivesse esperado
que ele desse uma última olhada.
Ele riu e fechou a porta devagar para não fazer barulho.
falar. Não era como se ele não entendesse o desejo de utilizar o festival
como uma desculpa para beber e se divertir.
“E de qualquer forma, eu já consegui um pouco de lucro graças a
sua informação, então acho que vou deixar essa passar.” O rosto
sorridente de Mark era o de um mercador satisfeito em cada curva.
Evidentemente que ele tinha se aproveitado do que quer que
Amati estivesse fazendo.
“Então você entrou na onda, hein? Qual é o truque?”
“Você vai gostar disso. Não quero dizer o truque é apenas esperto
— Quero dizer que é como pegar ouro na rua.”
“Sou todo ouvidos,” disse Lawrence, se sentando em uma cadeira
de madeira convenientemente perto.
Mark sorriu para o que isso implicava. “Eu ouvi dizer o cavaleiro
Haschmidt é um dançarino excelente. Se ele continuar assim, pode
acabar ter que pegar as mil moedas de prata e perder a sua adorável
dama.”
“Você é bem-vindo a apostar toda sua fortuna em Amati — não
faz a menor diferença para mim.”
Mark bloqueou o ataque de Lawrence não com seu escudo, mas
com a espada. “O Philip Terceiro tem dito algumas coisas interessantes
sobre você.”
“Oh?”
“Que você mantém a pobre moça em dívida simplesmente para
levá-la para onde bem desejar, que você a trata cruelmente e a alimenta
só com mingau frio — e por aí vai.”
Mark estava obviamente se divertindo, como se fosse uma grande
brincadeira, mas Lawrence só podia ouvir e sorrir
desconfortavelmente.
Amati estava obviamente espalhando boatos sobre Lawrence
como uma forma de justificar suas próprias ações. As bochechas de
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 139 ⊱
Mas se ele queria ver o festival, seria fácil fazê-lo da linha de frente
no quarto de estalagem.
Ele correu por entre a multidão e foi para lá.
Lawrence tinha assuntos em que pensar.
As chances de Amati realmente conseguir as mil moedas trenni
tinha aumentado, mas Lawrence ainda não se sentia perturbado ou
preocupado em perder Holo.
O que o estava preocupando era o quanto poderia fazer com a
pirita que tinha na mão e o quão barato poderia convencer Holo a lhe
vender a peça que tinha obtido de Amati.
Às vezes, itens inúteis se transformam em ouro.
De fato, festivais eram ocasiões especiais.
Ao longo das ruas mais calmas ligeiramente afastadas do clamor e
das luzes do festival, cavaleiros e mercenários davam em cima de
garotas ou tinham seus braços entrelaçados com alguma que já
estivesse conquistada.
As garotas que se enroscavam nos braços dos perigosos cavaleiros
de olhos escuros não pareciam mulheres da vida, mas garotas bastante
comuns, que em qualquer outra noite só falariam com homens de
disposição e estatura mais séria.
A estranha atmosfera afrodisíaca do festival apaixonante nublou
seus olhos — e desde que isso também provocasse uma elevação no
preço da pirita, Lawrence não tinha do que reclamar.
Enquanto estava remoendo sobre isso, Lawrence avistou uma loja
que vendia melões doces para acalmar as gargantas queimadas com
muito vinho e comprou dois para Holo.
Não havia como dizer o quão brava ela poderia ficar se retornasse
de mãos vazias. Os melões eram como os ovos de algum pássaro
enorme; ele sorriu resignado, carregando um debaixo do braço e um
na mão.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 145 ⊱
Se ler aquela carta trouxe Holo a este estado, não havia muitas
possibilidades que Lawrence pudesse imaginar.
Tinha que ser sobre Yoitsu.
“Qual o problema?” ela perguntou.
Sua voz soava como sempre. Apesar de estar visivelmente à beira
do colapso, ela conseguiu dar um sorriso fino; o contraste era irreal,
como um sonho.
“Tem algo g-grudado no meu rosto?” Holo tentou manter o
sorriso, mas seus lábios tremiam e era claramente difícil para ela falar.
Lawrence olhou em seus olhos, que estavam fora de foco.
“Não há nada em seu rosto. Mas, talvez você esteja um pouco
bêbada.”
Ele não podia suportar ficar em silêncio diante dela desse jeito,
então tentou escolher as palavras menos ofensivas que podia.
O que dizer a seguir? Não, primeiro ele tinha que descobrir o
quanto ela sabia. Lawrence estava nesse ponto quando Holo falou
novamente.
“S-sim, bastante. E-eu devo estar bêbada. Bêbada d-de fato.”
Seus dentes batiam enquanto sorria, ela rigidamente caminhou até
a cama e sentou.
Lawrence finalmente se afastou da porta e, muito lentamente, de
modo a não fazer este pássaro assustou voar, ele fez o seu caminho até
a mesa.
Ele colocou os dois melões sobre a mesa e casualmente olhou para
a carta que Holo havia deixado cair.
A linda letra de Diana estava claramente iluminada pela lua.
“Holo.”
Holo vacilou momentaneamente ao som de seu nome antes de
recuperar a compostura.
“É só uma velha história, uma lenda. Existem muitas lendas que
estão erradas.”
Lawrence falou a fim de dar às suas palavras tanto peso quanto
podia. Em se tratando de probabilidade, as chances de Yoitsu estar de
pé eram muito baixas. As cidades que sobreviveram por centenas de
anos eram tipicamente grandes; todo mundo sabia.
Mas ele não conseguia pensar em mais nada para dizer.
“Er... erradas?”
“Isso mesmo. Nos lugares onde um novo rei ou grupo toma conta,
eles espalham todos os tipos de contos como para marcar posição para
um novo território.”
Não era uma mentira. Ele conhecia muitos exemplos.
Mas Holo balançou a cabeça de repente, suas lágrimas escorrendo
pelos lados através de suas bochechas.
A apatia em seus olhos era a calmaria antes da tempestade.
“Não, se isso fosse verdade, por que — por que esconderia isso
de mim?”
“Eu estava procurando o momento certo para falar. É uma questão
delicada. Então —”
“Heh,” Holo riu, embora parecesse uma tosse.
Era como se um demônio a tivesse possuído de alguma forma.
“D-deve ter sido terrivelmente divertido, me ver tão
despreocupada.”
A mente de Lawrence ficou em branco instantaneamente. Ele
nunca poderia sentir qualquer coisa do tipo. A raiva cresceu dentro
dele, estreitando sua garganta, mas ele se conteve de alguma forma.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 149 ⊱
Lawrence ainda não recuou. Ele sabia que a raiva de Holo vinha
de uma tristeza profunda.
“É, eu penso assim! Você é humano! O único animal que aprisiona
outros animais! Deve ter sido tão divertido para você enquanto eu
mordia como uma tola a isca que era Yoitsu e —”
“Holo.”
Holo estava gesticulando bravamente; Lawrence rapidamente se
aproximou dela e agarrou seus braços com toda sua força.
Ela estava tão irritada e assustada como um vira-lata encurralado,
e ela não podia colocar mais resistência do que uma jovem com tal
aparência poderia ter.
Com Lawrence segurando seus braços, a diferença em suas forças
era clara.
“E-eu estou completamente sozinha. O-o que devo f-fazer?
Ninguém está me esperando voltar. Não tem ninguém para me apoiar.
Eu... eu estou sozinha...”
“Você tem a mim. não tem?” ele disse, completamente sério.
Não eram palavras que poderiam ser ditas por descuido.
Mas Holo simplesmente desprezou e retrucou “O que você é para
mim? Não — o que eu sou para você?”
Lawrence não tinha uma resposta pronta. Ele tinha que pensar.
Foi um momento depois que ele percebeu que deveria ter
respondido rapidamente, mesmo se fosse uma mentira.
“Não! Eu não quero mais ficar sozinha! Não posso!” Holo gritou e
então congelou. “Venha... Será que... você se deitaria comigo?”
Lawrence estava prestes a soltar os braços dela.
Mas então percebeu que o sorriso dela era vazio. Ela estava
zombando de seu próprio estado desequilibrado.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 151 ⊱
Lawrence sentiu que podia ouvir o baque que veio com aquelas
palavras enquanto Holo fechava a porta do seu coração.
Ele congelou. Era tudo o que podia fazer.
Holo se sentou novamente, olhando para o chão, imóvel.
Lawrence recuou, mas ele se viu incapaz de ficar parado, então
ele pegou a carta de Diana que Holo deixou cair e a leu, como que para
escapar.
Nele, Diana disse que havia um monge que vivia em uma cidade
no caminho para Lenos, especialista em lendas das terras do norte, e
que faria bem para Lawrence visitá-lo. Na parte de trás da carta estava
escrito o nome do monge.
Lawrence fechou os olhos, angustiado.
Se ao menos tivesse olhado para a carta primeiro. Se pelo menos
tivesse feito isso.
Ele foi preenchido com uma súbita vontade de rasgar a carta em
pedaços, mas sabia que essa explosão era inútil.
A carta ainda era uma importante pista para encontrar Yoitsu.
Parecia um dos poucos fios que ainda o ligavam a Holo; ele dobrou
a carta e a colocou dentro do casaco.
Ele olhou de volta para Holo, que ainda olhava para o chão.
Em sua mente, ele ouviu novamente o que ela tinha falado —
“sinto muito” — quando estendeu a mão para ela.
Tudo o que ele podia fazer agora era silenciosamente sair do
quarto.
Ele deu um passo para trás. Dois passos.
Um clamor alto entrou pela janela. Lawrence aproveitou a
oportunidade e saiu da sala.
Por um instante, pensou que Holo tinha levantado o rosto para
olhar para ele, mas sabia que era apenas uma ilusão.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 153 ⊱
“...E depois?”
Lawrence ficou imóvel enquanto a ideia tomava forma.
“Dez vezes? Vinte vezes e depois o quê... trinta? E depois disso?”
Ele sentiu como se pudesse ver Holo zombando dele.
O preço não subiria para sempre. A demanda terminaria como
sempre terminava.
Lawrence quase sentiu que iria chorar novamente. Ele pôs a mão
sobre a boca para abafar.
Havia duas questões que ele precisava responder:
A primeira era quando esta queda ocorreria, e a segunda era se
seria possível fazer Amati perder com isso?
Lawrence começou a andar novamente, a mão ainda sobre sua
boca.
Mesmo que o preço da pirita fosse cair, será que Amati realmente
afundaria junto com ele? Lawrence duvidava. Assumir isso seria
subestimar o garoto.
Então, o problema seria criar essa situação. Se ele pudesse
articular o problema de forma concreta, seu raciocínio não estaria tão
distante do de Holo.
A situação ideal apareceu em sua mente, se estabelecendo de
forma pesada e fria em seu estômago. Ele tinha experimentado essa
sensação antes. Não era lógica, mas a intuição de que uma disputa
importante pesava sobre ele.
Ele respirou fundo e pensou em um ponto crítico: Quando a
queda ocorreria?
Era óbvio que o preço não poderia continuar subindo para
sempre, mas quando ele iria cair — e mais importante, ele cairia em
algum momento antes do final do dia seguinte, quando o contrato
entre Lawrence e Amati encerrava?
CAPÍTULO IV ⊰ 162 ⊱
“Sr. Lawrence —”
Lawrence, que já não estava particularmente sereno, começou a
se virar; o gerente também ficou surpreso, piscando ao olhar para
Lawrence enquanto se inclinava sobre o balcão.
“... Me desculpe, algum problema...?”
“Ah, sim, me disseram para te entregar uma carta.”
A menção de uma carta enviada trouxe uma onda de mal-estar no
peito de Lawrence. Ele a sufocou com uma tosse.
Descendo as escadas, ele caminhou até o balcão e pegou a carta
oferecida.
“Quem mandou?”
“Sua companheira a deixou faz pouco tempo.”
Admiravelmente, Lawrence conseguiu esconder sua surpresa.
Não era preciso dizer que o estalajadeiro tinha conhecimento de
todas as idas e vindas dos hóspedes de sua estalagem.
Lawrence tinha deixado a estalagem, e Holo havia permanecido.
Enquanto Lawrence estava fora, Amati fez uma visita para Holo e Holo
agora escolhia se comunicar com Lawrence não diretamente, mas por
meio de uma carta.
Nenhum estalajadeiro podia observar esses eventos e supor que
tudo estava bem.
No entanto, o estalajadeiro não demonstrou nada quando olhou
para Lawrence.
As ligações entre os mercadores desta cidade como esta eram
profundas.
Se Lawrence se comportasse de forma indecente aqui, os rumores
estariam por toda a cidade quase que instantaneamente.
“Posso pegar algo para iluminar?” Lawrence disse cautelosamente.
O estalajadeiro assentiu e trouxe um castiçal de prata dos fundos.
CAPÍTULO IV ⊰ 166 ⊱
Ele olhou para cima, surpreso com a lista de ativos que começava
sem uma introdução.
Dinheiro? Pirita?
Ele esperava uma carta que ecoasse em sua mente com a voz dela,
mas o que ele segurava aqui era uma folha de papel com uma lista de
números e nada mais.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 167 ⊱
Em nome de Deus...
“Tem sido uma boa colheita este ano para todo o trigo. Quando
há uma má colheita, a cevada, que normalmente vai para a cerveja é
colocada no pão. Vou ter que agradecer ao deus da colheita.”
“Hah, sim,” disse Lawrence, colocando o copo cerveja em cima
da mesa.
“Olha, esse pode não ser o melhor assunto para acompanhar uma
boa cerveja, mas...”
Mark engoliu em seco e arrotou. “Envolve lucro?”
“É difícil dizer. Pode haver um ganho, apesar de não ser meu
objetivo.”
Mark colocou um pedaço de peixe salgado na boca, falando
enquanto mastigava.
“Você é muito honesto, amigo. Deveria dizer que envolve. Eu
teria prazer em te ajudar.”
“Eu vou te pagar pelo esforço, e ainda pode haver lucro nisso.”
“Diga.”
Lawrence limpou um pouco de espuma do canto de sua boca.
“Depois que o festival termina é quando a compra de trigo
realmente começa, não é?”
“Oh, sim.”
“Eu gostaria que você espalhasse um boato para mim.”
A expressão de Mark ficou séria, como se estivesse avaliando
trigo. “Eu não vou fazer nada arriscado.”
“Pode ser arriscado para você espalhar, mas seu aprendiz pode
fazer isso sem nenhum problema.”
Era um rumor insignificante.
Mas os boatos podem exercer um poder terrível.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 183 ⊱
Sua vantagem decisiva era a queda do preço da pirita, uma vez que
era vendida em grandes quantidades, mas Amati precisava
necessariamente que o preço subisse para conseguir lucrar.
O plano de Lawrence era, em essência, usar as quinhentas moedas
de prata que tinha recebido de Amati, mais seus próprios recursos para
comprar o máximo de pirita possível; em seguida, ele iria vendê-lo de
uma só vez, a fim de fazer o preço cair.
Só era possível fazer isto abandonando qualquer noção de lucro.
Mark, que já foi um mercador viajante, logo entendeu tudo —
inclusive quem era a vítima.
“Devo dizer que me sinto mal por aquele pobre peixeiro
ignorante.”
Lawrence deu de ombros em resposta.
Embora o plano parecesse perfeito, havia uma razão para que
Lawrence não estivesse completamente confortável com ele.
Não havia tal coisa como um plano perfeito.
“Você acha que ele entende o quanto é perigoso participar de um
negócio que não está acostumado,” disse Mark.
“Não — ele sabe os riscos, e ele aceitou. Eu expliquei.”
Mark deu uma risada rouca e continuou tomando sua cerveja.
“Então, era tudo o que você precisava?”
“Não, tem mais uma coisa.”
“Eu sou todo ouvidos.”
“Eu quero que você me ajude a comprar pirita.”
Mark olhou fixamente para Lawrence. “Você não assegurou uma
fonte antes de fazer o contrato de margem?”
“Não tive tempo. Você vai me ajudar?”
Esta era a falha em seu plano.
CAPÍTULO IV ⊰ 186 ⊱
Ele duvidava que Batos fosse ajudá-lo, mas Lawrence não tinha
escolha a não ser deixar de lado suas dúvidas e perguntar mesmo assim.
Lawrence se preparou e olhou para cima.
Foi só então que Mark falou novamente. “Então, mesmo o
elegante Lawrence fica assim às vezes, não é?”
O rosto de Mark não estava nem chateado nem divertido; ele
simplesmente parecia surpreso.
“Ah, desculpa,” Mark continuou. “Não fique com raiva. Parece
apenas incomum,” ele disse, se explicando às pressas. Lawrence
também ficou surpreso com seu próprio comportamento e estava
longe de ficar com raiva.
“Eu não posso dizer que estou surpreso que a sua companheira ser
quem ela é. Mas você não precisa fazer todo esse esforço para parar
Amati, não é? Certamente ela não vai deixá-lo tão facilmente. Pensei
em tudo isso na primeira vez que a vi ao seu lado. Tenha mais
confiança, cara!”
Mark finalmente sorriu, mas Lawrence estava inexpressivo
quando respondeu “Ela me deu um certificado de casamento assinado.
A outra parte é do Amati, naturalmente.”
Os olhos de Mark se arregalaram e ele percebeu que tinha dito a
coisa errada. Ele coçou a barba sem jeito.
Lawrence viu isso e afrouxou seus ombros. “Se nada tivesse
acontecido, com certeza, eu teria mais confiança. Mas alguma coisa
aconteceu.”
“Então, isso aconteceu depois que você veio aqui? Nós nunca
sabemos o que está um passo à frente na vida, não é? Mas você ainda
tem esperança, por isso ainda está lutando — entendo.”
Lawrence assentiu, Mark esticou o lábio inferior e suspirou.
“Mesmo assim,” Mark falou, “Eu sabia que ela era uma pessoa a
ser reconhecida, mas não posso acreditar que ela seja tão ousada...
Enfim, você tem alguma ideia do que fazer?”
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 191 ⊱
Era patético, mas Lawrence teve que admitir que com a recusa de
Mark para ajudá-lo, a situação era bastante desesperadora.
“Estou realmente muito contente que você veio pedir a minha
ajuda, mas isso é tudo que eu posso fazer por você,” disse Mark.
“Não, eu agradeço. Eu quase deixo passar uma grande
oportunidade.”
Até mesmo Lawrence sentia que a razão da recusa de Mark era
completamente justificada.
Mark era um mercador da cidade e Lawrence era um mercador
viajante. As capacidades e limitações de cada um eram naturalmente
muito diferentes.
“Eu sei que eu recusei você... mas estarei orando por seu sucesso.”
Agora era a vez de Lawrence sorrir. “Você me ensinou algo
valioso. Só isso já valeu a pena o meu tempo,” ele disse com toda a
sinceridade. No futuro, quando ele lidasse com os mercadores da
cidade, Lawrence teria essa experiência de apoio. Era algo realmente
valioso.
Lawrence não sabia se isso era ou não uma resposta às suas
palavras, mas Mark coçou a barba ruidosamente.
Ele franziu a testa e olhou para o lado enquanto ele falava. “Eu
posso não ser capaz de ajudá-lo diretamente, mas posso ser capaz de
sussurrar a condição da carteira de alguém em seu ouvido.”
Lawrence estava visivelmente surpreso, com isso Mark fechou os
olhos.
“Venha na loja mais tarde. Pelo menos posso te dizer de quem
comprar.”
“...Muito obrigado, de verdade” Lawrence falou com toda a
honestidade.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 193 ⊱
Ele fez o seu caminho através dos becos até a sede da guilda,
fazendo vista grossa para o festival, que mesmo a esta hora tardia
continuava com uma atmosfera quase que excitante.
Ele finalmente chegou ao seu destino — uma rua repleta de
guildas comerciais. Todas as guildas tinham acendido as lanternas, e
havia grupos de pessoas dançando aqui e ali. Agora e alei, Lawrence
avistou funcionários continuado com as festividades, simulando as
batalhas de espadas desajeitadas.
Forçando seu caminho através da rua congestionada, Lawrence se
aproximou do prédio da Guilda Rowen de Comércio. Ele
silenciosamente deslizou pelas portas abertas e passou por entre os
membros da guilda que estavam bebendo por lá.
A delimitação entre aqueles que queriam beber tranquilamente lá
dentro, e aqueles que queriam se juntar ao clamor do lado de fora,
parecia bastante clara. Sob o brilho das lâmpadas de óleo com cheiro
de peixe, o Hall da guilda estava cheio de conversas tranquilas e risos
agradáveis.
Alguns pareceram notar a chegada de Lawrence e o olharam com
curiosidade, mas a maior parte estava totalmente preocupada em se
divertir.
Lawrence avistou o homem que estava procurando entre os
presentes e foi direto em sua direção.
O homem estava sentado em uma mesa com vários outros
mercadores mais velhos.
Sob a luz da lâmpada fraca, ele parecia um eremita.
Era Gi Batos.
“Peço desculpas por interromper sua celebração,” disse Lawrence
calmamente. Os mercadores mais velhos, com suas décadas de
experiência, imediatamente entenderam que ele estava aqui a
negócios.
Eles beberam o vinho em silêncio, olhando para Batos.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 195 ⊱
Tantos convidados.
Então havia pessoas que vieram antes de Lawrence.
“Imagino que tenha sido o Sr. Batos que te disse para pedir uma
caixa de penas brancas?”
Lawrence ainda estava preocupado com quem tinha vindo aqui
antes, mas ele balançou a cabeça para esquecer isso por um momento.
“Ah, sim. Lamento dizer que forcei o assunto e fiz ele me dizer como
falar com você...”
“Meu Deus, é mesmo? É difícil imaginar alguém forçar Batos fazer
qualquer coisa,” Diana falou com um sorriso divertido.
Lawrence não tinha nada a dizer sobre isso.
Suas personalidades eram diferentes, mas algo em Diana lembrava
Lawrence de Holo.
“Então, qual é o negócio que é tão urgente que você conseguiu
convencer aquele velho teimoso?”
Havia uma boa quantidade de pessoas que desejavam as habilidades
e produtos que os alquimistas possuíam por uma variedade de razões.
Diana era uma barragem que avaliava esses desejos.
Lawrence não sabia por que, mas Diana — sentada em sua cadeira
e olhando para ele uniformemente — de alguma forma, parecia como
um grande pássaro, guardando seus ovos com asas de ferro.
“Eu preciso comprar pirita,” disse Lawrence, apesar de ter sido
esmagado pelo semblante de Diana.
Diana colocou uma mão branca no rosto. “Ouvi dizer que o preço
subiu bastante.”
“Não é —”
“É claro, o Sr. Batos nunca teria ajudado você se fosse algo tão
simples como mero lucro. Portanto, deve haver alguma outra razão,
não?”
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 203 ⊱
Ele sentia que Diana estava sempre um passo à frente dele. Ela era
mais rápida do que Lawrence e parecia totalmente disposta a
demonstrar isso.
Não devo ficar com raiva, Lawrence disse a si mesmo. Ele estava
sendo testado.
Ele assentiu com a cabeça. “Não é para negócios. Preciso pirita
para um duelo.”
Os olhos de Diana se estreitaram enquanto ela sorria. “Um duelo
com quem?”
“É —”
Ele hesitou em mencionar o nome de Amati. Não porque ele
pensou que seria inapropriado.
Foi porque ele se perguntou se Amati era seu verdadeiro
adversário neste duelo.
Ele balançou a cabeça. “Não, é —” Lawrence voltou a olhar para
Diana. “É contra a minha carga.”
“Sua carga?”
“Um mercador viajante é sempre inimigo da sua carga. Estimar
seu valor, o planejamento para o seu transporte, decidir sobre seu
destino. Se ele errar em sequer uma dessas coisas, ele a perderá. Neste
exato momento, estou tentando recuperar uma peça que caiu da minha
carroça. Tendo reavaliado o valor, o transporte e o destino, tenho
percebido que esta é uma carga que não posso me dar ao luxo de
perder.”
A franja de Diana vibrou no que parecia ser a brisa — mas não,
era sua própria respiração quando ela exalava.
Ela sorriu suavemente e pegou uma caneta de pena que estava a
seus pés.
“Comprar uma caixa de penas brancas não é nada mais do que uma
senha glorificada. Tudo isto significa que eu não me importo, desde
CAPÍTULO IV ⊰ 204 ⊱
Mas ela apenas balançou a cabeça ligeiramente. “Eu vou lidar com
a negociação. Por razões de segurança, não permitimos que os outros
saibam a identidade de quem faz negócios com alquimistas.”
“M-mas—”
“Você tem alguma objeção?” Ela sorriu friamente.
Lawrence estava aqui para pedir um favor; ele só poderia
permanecer em silêncio.
“Você disse que este é um duelo, então eu presumo que as
circunstâncias não são comuns. Vou ajudar você em tudo o que posso
e deixar você saber os resultados o mais rápido possível. Onde eu serei
capaz de encontrá-lo amanhã?”
“Ah, er... no mercado em frente ao estande do vendedor pedra.
Estarei lá o tempo todo enquanto o mercado estiver aberto. Caso
contrário, se você entrar em contato com Mark, o vendedor de trigo,
sua localização é...”
“Eu conheço o lugar. Vou mandar um mensageiro assim que eu
for capaz.”
“Obrigado.” Lawrence não conseguia pensar em mais nada para
dizer.
No entanto, o fato é que, dependendo dos resultados das
negociações de Diana, ainda era possível que ele não seria capaz de
comprar qualquer pirita. As consequências seriam quase fatais.
Não havia muito o que dizer.
“Eu não hesitaria em pagar uma quantia considerável. Não posso
pagar o dobro do valor de mercado ou qualquer coisa assim, mas por
favor, informe a eles que serei muito generoso.”
Diana sorriu e acenou com a cabeça, se levantando da cadeira.
Lawrence percebeu que era hora de se despedir. O fato de que ele
não havia sido rejeitado depois de aparecer sem ser convidado a esta
hora ridícula já era um milagre.
CAPÍTULO IV ⊰ 206 ⊱
assim, as pessoas que vieram para vender trigo já estão vendendo, que
é para onde todo o meu dinheiro se foi. Então...”
Mark engoliu um pouco de cerveja, arrotando confortavelmente
antes de continuar.
“Então, e as pessoas que têm dinheiro? Eu não posso acreditar que
elas seriam capazes de resistir. Eles provavelmente comprarão você-
sabe-o-que em grandes quantidades nos bastidores. E aqui é onde você
precisa de um suporte. Sabe, esses mercadores não são lobos solitários
como você. Cada um tem o seu negócio, a sua posição e a sua
reputação. Eles compraram essas coisas, mas o preço tem subido tanto
que está ficando difícil vender. Tudo o que você precisa fazer é vender
um pouco para conseguir um lucro surpreendente, mas isso faz com
que alguns deles fiquem ainda mais nervosos. Então, o que acontece a
seguir? Tenho certeza que um homem inteligente como você pode
descobrir isso.”
Lawrence acenou com a cabeça depois de um momento.
Mark deve ter feito seu aprendiz correr por toda a cidade,
espalhando um rumor — um rumor que deveria ser mais ou menos
assim: Há um mercador viajante louco na cidade que quer comprar
pirita com dinheiro. Por que não aproveitar a oportunidade para dar
vazão a um pouco dessa pirita que não está vendendo?
Seria uma oportunidade perfeita para os mercadores.
E não havia dúvida de que Mark tinha assinado um contrato
prometendo uma taxa de serviço para intermediar a transação oculta.
Era brilhante — realizar um acordo com pirita sob o pretexto de
fazer um favor a alguém.
Mas ser capaz de reunir 370 moedas trenni — claramente havia
uma pressão para se vender no mercado.
“Então é isso. Se você quiser, vou mandar o menino espalhar o
rumor imediatamente.”
Não havia nenhuma razão para recusar.
CAPÍTULO IV ⊰ 212 ⊱
“Ah, mas isso vai trazer sorte.” A prática era algo que muitos
mercadores viajantes acreditavam.
Mark desistiu de pressionar o seu convite. “Eu vou voltar aqui,
amanhã ao amanhecer.”
Lawrence assentiu, e Mark levantou sua caneca.
“Um brinde aos seus sonhos.”
Lawrence percebeu que ele não tinha motivos para recusar.
awrence espirrou grandiosamente.
É claro, não fazia diferença quando ele viajava sozinho,
mas ultimamente ele tinha uma certa companheira
atrevida e irritante, então Lawrence sempre tomava
cuidado ao espirrar. Agora, no entanto, parecia que ele tinha relaxado
— por isso o espirro.
Ele freneticamente verificou para ver se a outra ocupante do
cobertor ainda estava dormindo — só para perceber que o outro lado
estava frio.
E então ele se lembrou de que estava sozinho, dormindo sobre os
sacos de trigo próximos a tenda de Mark.
“...”
CAPÍTULO V ⊰ 218 ⊱
Ele tentou se preparar para isso, afinal, ele tinha escolhido dormir
sozinho, mas ao acordar, ele ainda sentia uma enorme sensação de
perda.
Lawrence estava acostumado com alguém ao seu lado quando
acordava.
Ele rapidamente se tornou tão acostumado com isso que só agora
se deu conta de seu valor.
Lawrence superou sua relutância em sair de seu cobertor quente
e se levantou de repente.
O ar frio o atacou imediatamente.
O céu da manhã ainda estava escuro, mas o aprendiz de Mark já
estava varrendo a área em frente à barraca.
“Oh, bom dia, senhor.”
“Bom dia,” disse Lawrence.
Não parecia que isto era algo feito para agradar um conhecido do
seu mestre; sem dúvida era hábito do garoto acordar tão cedo, a fim
de preparar a barraca para a abertura. Ele casualmente cumprimentou
alguns outros rapazes que passavam.
Ele era um aprendiz admirável.
Mais qualquer que seja o treinamento que Mark tinha lhe dado, o
menino simplesmente parecia uma excelente pessoa.
“Ah, isso me lembra —”
O menino se virou assim que Lawrence falou.
“Você ouviu de Mark que está acontecendo hoje?”
“Er, não... não estamos empurrando o vilão covarde para uma
armadilha?” perguntou o aprendiz.
O menino abaixou a voz e falou de maneira tão exageradamente
grave que Lawrence ficou surpreso por um momento. Com a
disciplina de um verdadeiro mercador, ele conseguiu manter uma cara
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 219 ⊱
séria e assentiu. “Eu não posso te dizer todos os detalhes, mas é mais
ou menos isso. Talvez eu tenha que pedir um grande favor para você
no processo.”
O menino segurou a vassoura ao seu lado como uma espada e
engoliu em seco.
Ver o menino fez Lawrence ter certeza de uma coisa.
Ele poderia muito bem ser o jovem aprendiz mais promissor de
um vendedor de trigo, mas em seu coração ele ainda sonhava com a
vida de um cavaleiro.
Afinal de contas, só se veem “vilões covardes” em contos de fadas.
Lawrence teve a sensação de estar olhando para sua juventude.
“Qual é o seu nome, rapaz?”
“Ah, er, é —”
Quando um mercador pedia outra pessoa pelo seu nome, era
como um reconhecimento do estado da pessoa.
Provavelmente nunca tinham perguntado o nome do menino.
Apesar de seu alvoroço visível, ele realmente era um rapaz
admirável, Lawrence sentiu.
O menino se levantou e respondeu. “Landt. Meu nome é Eu
Landt.”
“Nascido em terras do norte, não é?”
“Sim, em uma aldeia congelada na neve e no gelo.”
Lawrence viu que a descrição de Landt não era apenas uma
maneira fácil de transmitir a sensação de sua cidade natal, mas uma
descrição literal de como deve ter parecido quando ele a viu pela
última vez.
Era assim que as coisas eram no norte.
CAPÍTULO V ⊰ 220 ⊱
Ficou claro o suficiente que Mark tinha uma boa dose de carinho
com Landt.
Mas fazer Landt comprar o café da manhã não era um simples ato
de bondade; era uma parte importante do plano de Lawrence.
Os mercadores não eram santos. Quaisquer que fossem suas
ações, eles sempre tinham segundas intenções.
“O tempo hoje estar bom,” disse Mark. “Bom para as vendas,” ele
terminou com um aceno de cabeça.
Lawrence respirou fundo.
O ar revigorante da manhã fez ele se sentir bem.
Quando ele exalou, todos os pensamentos desnecessários em sua
mente pareceram sair com a respiração.
Tudo o que ele tinha que pensar agora era fazer o seu plano ser
um sucesso.
Uma vez que conseguisse, ele podia ficar pensando e duvidando
desnecessariamente sobre tudo o que quisesse.
“Agora, é hora de encher o meu estômago,” disse Lawrence
cordialmente quando avistou Landt voltando.
Assim que Lawrence estimou o valor total a ser gasto, uma figura
apareceu na borda de sua visão.
Ele olhou. Era Amati.
Lawrence viu Amati antes que ele o tivesse visto na noite anterior,
mas o jovem mercador era perspicaz o suficiente para não deixar que
as chances de lucro fugissem. Seu olhar era tão afiado como o de
Lawrence, e ele logo viu seu rival.
Uma saudação amigável dificilmente teria sido adequada.
Mas já que Lawrence tinha acertado recolher o dinheiro que lhe
era devido após o soar do sino que abria o mercado, ele dificilmente
poderia ignorar Amati.
Enquanto que ele considerava isso, Amati revelou um sorriso e
acenou ligeiramente com a cabeça.
Lawrence foi pego de surpresa por um momento, mas logo
entendeu o motivo.
Ao lado de Amati estava Holo.
Por alguma razão estranha, ela não estava vestida como uma
garota da cidade, em vez disso ela usava suas vestes de freira. Três
penas brancas puras e vivas o suficiente para serem visíveis à distância
estavam afixadas em seu capuz.
Ela olhou fixamente para os vendedores de pedra, sem olhar para
Lawrence uma única vez.
O calor subiu em suas entranhas ao ver o sorriso de Amati.
Holo sussurrou algo no ouvido de Amati antes do jovem mercador
fazer o seu caminho em direção Lawrence através dos mercadores que
se reuniram. Lawrence e fingiu total serenidade, como se a raiva que
sentia não existisse.
Ele tinha certeza de que, desde que não tivesse que enganar Holo,
sua farsa passaria em branco.
“Bom dia, Sr. Lawrence.”
CAPÍTULO V ⊰ 224 ⊱
notaria as coisas que Amati não notasse, mesmo se ele fosse quem
explicasse a situação para ela.
E Holo se destacava em discernir o que estava no coração das
pessoas.
Ela era incomparável em tais ocasiões.
Assim que ele pensou nisso, Lawrence foi agredido pela visão do
atoleiro que o cercava.
Não importava por onde andasse, ele afundaria na lama; não
importava quais movimentos observasse, eles seriam ilusões.
Lawrence suspeitava sombriamente que tudo isso era parte do
plano de Holo.
O terror de ter uma loba astuta o cercando se aprofundava em seu
corpo.
No entanto, Lawrence não podia abandonar a esperança de que
Holo estava apenas fazendo isso por alguma teimosia perversa.
Os males das dúvidas e suposições penetravam sua mente.
Ele olhou fixamente para a placa de preço, embora esta não fosse
sua intenção. Era simplesmente tudo o que ele podia fazer no
momento.
O preço da pirita continuava a subir.
Felizmente, uma vez que o preço estivesse absurdamente inflado,
a taxa de crescimento era muito lenta.
Ainda assim, se o preço continuasse a aumentar a este ritmo, ao
meio-dia certamente chegaria nos 20 por cento necessários para
Amati.
Para conhecimento de Lawrence, o estoque atual de pirita de
Amati valia oitocentas moedas de prata, se o preço subisse mais vinte
por cento, ele precisaria de apenas mais quarenta moedas de prata para
alcançar as mil necessárias.
CAPÍTULO V ⊰ 230 ⊱
O fato de que ainda não havia nenhum sinal de Diana sugeria que
a outra parte poderia estar sendo teimosa; se o preço da pirita
continuasse a subir, isso só a tornaria mais relutantes em vender.
Cada vez mais parecia que Lawrence deveria abandonar essa
esperança e agir agora.
As armas que ele tinha em mão eram quatrocentas moedas de
prata no valor de pirita, juntamente com o boato que Landt iria
espalhar.
Era um arsenal tão patético que Lawrence queria rir. Ele agora
duvidava seriamente da ideia da qual tinha tanta fé no dia anterior, que
um mero rumor poderia fazer qualquer dano. Ainda ontem tinha sido
sua arma secreta, o produto de seus anos de experiência.
Tornava-se cada vez mais claro para ele o quão bêbado ele deveria
estar.
Ele percebeu que já estava tentando pensar em um plano de
contingência.
Se não fizesse nada, ele ainda receberia mil moedas de prata de
Amati, que iria deixá-lo no lucro, mesmo depois de subtrair as perdas
decorrentes da venda de margem.
Lawrence ficou revoltado ao perceber o quanto isso o fazia se
sentir bem.
...Se você pudesse receber mil moedas de prata por mim, não se
arrependeria de me deixar ir — a acusação de Holo o atingiu.
Lawrence se lembrou da carta de Diana, que estava escondida
perto do seu peito.
Era a informação que o ajudaria a encontrar a casa do Holo,
Yoitsu. Talvez ele já não tivesse o direito de manter esta carta.
Eu sou apenas um mísero mercador. Lawrence pensou consigo mesmo
enquanto olhava ao redor buscando por Holo.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 233 ⊱
Se Amati estava procurando por ela, isso significava que ela não
tinha dito a ele para onde estava indo.
E se isso era suficiente para causar estresse em Amati, era muito
improvável que ela tinha revelado suas orelhas e cauda para ele.
Era o suficiente para fazer Lawrence querer abandonar suas
conclusões sombrias, que o dominavam apenas há alguns instantes
atrás, e se voltar para suposições mais brilhantes.
No entanto, ele não tinha confiança em sua capacidade de dizer se
isso era ou não uma ilusão.
Era vergonhoso o suficiente para deixá-lo enjoado.
De repente, houve outro grito da multidão.
Lawrence olhou rapidamente na direção da barraca do vendedor
de pedras e viu que em algum lugar ao longo da linha, o cartaz para o
maior valor de pirita havia sido removido.
O que significava que ele tinha vendido a esse preço.
E isso não era o motivo dos gritos.
As placas que marcavam os maiores valores para os vários tipos de
pirita foram todos retirados, e houve uma queda no número da placa
de compradores na fila.
Alguém tinha vendido uma quantidade considerável.
Lawrence lutou contra a náusea que surgiu e olhou em volta
freneticamente, tentando encontrar Amati.
Ele não estava na frente da tenda.
Ele não estava nem perto dela.
Quando Lawrence finalmente o viu, Amati estava no meio da
multidão.
Ele estava observando a tenda com uma expressão de choque.
Portanto, não havia sido Amati, quem tinha feito a grande venda.
CAPÍTULO V ⊰ 236 ⊱
Ele girou como se tivesse sido atingido, esperando ver uma certa
garota atrevida atrás dele.
Mas era um menino — Landt, para ser mais exato.
“Um, Sr. Lawrence, posso ter um momento?”
Lawrence se virou com tanta velocidade que Landt foi pego de
surpresa por um momento, mas a expressão do menino deixou claro
que o assunto era urgente.
A ansiedade tomou conta de Lawrence enquanto olhava ao redor;
em seguida, se ajoelhou para trazer seu rosto mais perto do Landt e
acenou com a cabeça.
“Um cliente veio a nossa loja e deseja pagar o trigo com pirita.”
Lawrence compreendeu imediatamente. Mark estava disposto a
aceitar a oferta e em seguida, vender aquela pirita para Lawrence,
assumindo que Lawrence poderia pagar em dinheiro.
“Quanto?”
Se Mark mandou o menino até aqui, tinha que ser uma quantia
considerável.
Lawrence engoliu em seco e esperou pela resposta.
“Duzentos e cinquenta moedas de prata,” disse Landt.
Lawrence cerrou os dentes para evitar gritar por esse momento
inesperado.
A loba deusa da colheita podia ter abandonado ele, mas a deusa da
fortuna ainda estava do seu lado.
Lawrence imediatamente empurrou o pequeno saquinho que
tinha obtido de Amati para mãos de Landt. “Vá, tão rápido quanto
puder.”
Landt assentiu, e depois correu como se enviasse uma mensagem
vital.
Enquanto isso, o mercado continuava a flutuar.
CAPÍTULO V ⊰ 238 ⊱
Agora era Landt que falava com Lawrence; Holo estava falando
com Amati e não olhava para nenhum outro lugar.
“Oh, er, desculpe... você... você ficou correndo pela cidade toda
por mim. Obrigado.”
“Ah, não, de jeito nenhum.”
“Você poderia enviar uma mensagem minha para Mark? Diga ele
que o meu plano falhou,” disse Lawrence, surpreso com o quão fácil
era dizer isso.
No entanto, apesar do “fracasso,” do ponto de vista de um
mercador era um resultado muito bom.
Lawrence ainda tinha alguma pirita em mãos. Tudo o que ele
precisava fazer era comprar um pouco mais para ter o que precisava
para entregar para Amati à noite e, em seguida, subtrair o custo do
dinheiro que ele tinha feito com a venda do lote anterior de pirita —
a quantidade restante muito provavelmente seria positiva.
Além disso, ele estaria recebendo mil moedas de prata de Amati,
o que não poderia ser chamado de nada além de um enorme golpe de
sorte.
Tal lucro seria o suficiente para fazer qualquer mercador feliz, mas
Lawrence sentia apenas um grande vazio.
Landt ficou momentaneamente perdido enquanto ele olhava em
volta, mas apenas quando Lawrence estava prestes a entregar sua
compensação, os olhos do menino foram preenchidos com uma
vontade de ferro.
“Sr. Lawrence.”
A expressão de Landt foi suficiente para parar a mão de Lawrence,
que segurava algumas moedas de prata.
“Você — você está desistindo?”
CAPÍTULO V ⊰ 246 ⊱
E mesmo assim, quando ele olhou para Holo, ele estava quase
convencido.
Havia uma chance — uma pequena chance — que a escolha de
vestimenta de Holo dissesse algo.
Apesar da ideia absurda, se ele fosse colocá-la à prova, ela poderia
muito bem vir a ser verdade.
Mas essa ideia precisava de uma condição que tinha que ser
cumprida.
Era o que Lawrence tinha esquecido mais cedo — ou seja, a
possibilidade de que Holo de fato não o tinha abandonado.
Considerar isso agora era algo típico de um mercador
teimosamente otimista, que nunca desiste.
Nesta fase do jogo, parecia muito melhor pensar nisso do que
continuar tentando parar Amati — era o suficiente para fazer
Lawrence achar que ele estava em algum tipo de sonho fantástico.
Ele não tinha ideia do que Landt tinha ouvido de Mark que fez o
menino estar tão disposto a ajudá-lo.
De qualquer forma, ficou claro que Landt disse a verdade quando
ele falou que gostava de Holo.
Era impressionante que ele tinha sido capaz de admitir isso na
frente de Lawrence. Trocando suas posições, Lawrence não tinha
certeza de que conseguiria ter feito o mesmo.
Diante de tal exposição de coragem, isso era o mínimo Lawrence
poderia fazer para viver de acordo com essa ideia de mercador
destemidamente otimista.
Lawrence deu um tapinha no ombro de Landt, respirou fundo e
falou. “Depois que eu vender minhas pedras no estande, comece a
espalhar o boato que eu pedi para você.”
O rosto de Landt se iluminou. Ele acenou com a cabeça, ele era
mais uma vez o aprendiz bem treinado.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 251 ⊱
“Bom garoto.”
Lawrence estava prestes a se virar, mas parou de repente.
Os olhos de Landt estavam cheios de perguntas, mas Lawrence foi
quem perguntou, “Você acredita em deuses?”
O menino ficou obviamente mudo.
Lawrence riu e repetiu. “É um bom rapaz,” ele disse antes de ir
embora.
Ele tinha pirita no valor de 250 moedas de prata na mão. Os
marcadores da fila de compra revelavam que já havia demanda da
ordem de quatrocentas moedas de prata em pirita — mesmo que
Lawrence vendesse tudo o que tinha de pirita na mão, isso não teria
efeito real.
Mas não — isso teria um efeito. Se a sua nova hipótese estivesse
correta, ele tinha que vender. Ele olhou de volta para Holo só por um
momento; ela ainda estava de pé do lado de Amati.
Apenas um segundo seria suficiente — se Holo apenas olhasse em
sua direção por um segundo já seria o suficiente.
E então —
Lawrence ficou na frente da tenda do vendedor de pedra. O fluxo
de ordens tinha abrandado; o lojista, tendo finalmente recuperado a
calma, olhou para Lawrence com uma cara que dizia “Pois não?” Ele
então sorriu com uma expressão que parecia adicionar, “Você está
fazendo bastante bem hoje.”
Apesar de nenhuma palavra ter sido trocada, Lawrence assentiu.
Ele estava prestes a fazer muito mais.
Ele empurrou o saco de pirita que tinha recebido de Landt em
direção ao vendedor de pedra e falou. “Eu estou vendendo.”
O lojista recebia uma taxa por cada transação, portanto ele sorriu
e acenou cordialmente, mas logo depois ele parecia estranhamente
atordoado.
CAPÍTULO V ⊰ 252 ⊱
“Eu pensei que era uma armadilha para me enganar de atuar muito
cedo. Quando vi Amati fazer a sua jogada, eu achei que você estava
completamente do lado dele — as penas brancas nem passavam pela
minha mente. Mas — a verdade era exatamente o contrário... não
era?”
Óbvio que era, os olhos de Holo pareciam dizer.
É claro que agora ele entendeu a intenção dela.
“Você queria me dizer que Amati tinha pirita o suficiente na mão
e que eu deveria agir logo. Certo?”
Lawrence não tinha confiado Holo, mas Holo havia confiado em
Lawrence.
Esse era o ponto crucial da questão.
Holo fez Amati tomar uma ação que não fazia sentido para
Lawrence, e por sua vez, Lawrence tinha decidido que não apenas
Amati estava tentando destruir a sua confiança, mas que Holo também
tinha se tornado hostil e estava tentando empurrá-lo em uma
armadilha.
A única parte em que Lawrence estava certo era em assumir que
Holo sabia o que ele pretendia fazer.
Se Lawrence tivesse notado as penas brancas e fizesse contato
visual com Holo, ele teria vendido sua pirita com ele ali mesmo.
“Honestamente...,” Holo murmurou.
Ela fez um gesto com o queixo para Lawrence continuar.
“E antes disso, o fato de que você tinha assinado a certidão de
casamento com Amati, quilo era...”
Era humilhante, mas ele tinha que continuar.
“...Era fazer com que fosse fácil eu ficar com raiva... não era?”
As orelhas de Holo se contraíram, e ela respirou fundo.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 259 ⊱
Parecia provável que ela estivesse ficando cada vez mais irritada
em relembrar.
Ela devia ter esperando Lawrence vir correndo até o segundo
andar, a qualquer momento, com a certidão de casamento na mão.
E, no entanto, não importa quanto tempo ela esperasse, ele não
veio — ela deve ter esperado até o amanhecer.
Lawrence se achava um homem de sorte por ela não ter rasgado
sua garganta.
“O que eu te disse em Ruvinheigen? Não seja inteligente e sutil o
tempo todo — me diga o que você está pensando! Se pudermos apenas
gritar um com o outro, os problemas se resolvem muito mais rápido.”
Holo coçou a base de suas orelhas, como se não pudesse ficar mais
irritada.
Ela propositadamente ficou imperturbável quando Lawrence viu
Amati saindo da estalagem e ainda aprontou uma certidão de
casamento, tudo para deixar Lawrence com raiva, tudo para ser mais
fácil ele dizer o que pensava.
E Lawrence tinha pensado que ela o estava avisando de suas
intenções.
E agora que ele pensava sobre isso, Lawrence percebeu que a
situação lá na estalagem tinha sido perfeita — perfeita para que ele
abrisse seu coração e admitisse para Holo que ele não queria que ela
aceitasse a proposta de Amati.
Se ele dissesse somente isso — teria sido suficiente.
“Então, eu estava errado desde o início.”
Holo dedilhou seu queixo e lançou um olhar para Lawrence que
ia do desprezo ao ressentimento.
Isso demonstrava o quão errado ele tinha estado.
EPÍLOGO ⊰ 260 ⊱
Lawrence sentiu uma dor passar através de sua mão, mas ele
calmamente a aceitou como sua punição.
“Eu ainda tenho uma pergunta para você,” Lawrence finalmente
falou.
“Oh?” disse Holo. Ela olhou para ele depois de morder sua mão
com uma raiva considerável.
“Como você sabia que os alquimistas tinham pirita — espere, não,
Amati, provavelmente te disse isso. O que eu quero saber é como você
conseguiu fazer Diana vendê-la para você? Eu simplesmente não
consigo entender.”
Holo olhou pela janela, como se dissesse “Ah, isso?”
O anoitecer tinha chegado, e as festividades da segunda noite
estavam prestes a começar.
Parecia que estavam sendo usados os mesmos bonecos gigantes da
primeira noite, embora estivessem muito piores do que antes. Metade
da forma enorme do lupino havia sido perdida. A fadiga dos
participantes era óbvia, mesmo à distância, enquanto eles
cambaleavam. Alguns até caíam de quatro — e não era brincadeira.
No entanto, a coluna marchou, puxada para frente pelos sons de
flautas e tambores.
Holo olhou para trás para Lawrence, seus olhos acenavam para
que se juntasse a ela na janela.
Não tendo nenhuma razão para recusar, ele foi até a janela.
“O garoto Amati me disse tudo o que ele sabia então eu fui capaz
de fazer uma suposição sobre o que você estava pensando. Mas seu
plano era — eu deveria te parabenizar.”
Holo olhava para o festival enquanto se inclinava nas costas de
Lawrence.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 263 ⊱
“Você notou que ela não era humana?” Holo finalmente falou.
Lawrence não podia nem mesmo dizer um “certamente não.”
“Você viu as penas espalhadas na sala, não viu? Eram dela.”
“... Elas eram?”
Agora que Holo mencionava, Lawrence se lembrava de algo em
Diana que o fez pensar em um pássaro.
Holo assentiu e continuou “Sua verdadeira forma é um pássaro,
muito maior do que você. Ela se apaixonou por um monge viajante e
passou muitos anos construindo uma igreja com ele, mas
eventualmente ele percebeu que não importa quantos anos se
passassem, a garota nunca envelhecia — então o monge começou a
suspeitar. Sem dúvida você consegue imaginar o resto.”
Lawrence sentiu os braços de Holo se apertarem em torno dele.
Ele pensou que agora entendia a razão pela qual Diana coletava
histórias e por que ela protegia os alquimistas.
Mas seria doloroso dizer isso. Certamente Holo não queria ouvir
isso também.
Lawrence não disse nada.
Em vez disso, ele simplesmente colocou seus braços em volta dos
ombros de Holo.
“Eu quero voltar para a minha terra natal Lawrence. Mesmo...
mesmo que ela não esteja mais lá.”
“Nós vamos.”
Fora da janela, os bonecos gigantes de humanos e lupinos
colidiam, e uma grande alegria surgia.
Mas Lawrence percebeu a exibição não reencenava alguma
batalha.
As pessoas que controlavam esses fantoches estavam rindo, e cada
espectador parecia ter um copo de cerveja na mão.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 267 ⊱
Eles não estavam batendo uns nos outros, mas colocando os braços
sobre os ombros de cada um.
Logo eles começaram a cantar e dançar, e os bonecos gigantes no
centro do cruzamento foram incendiados.
Holo deu uma risadinha. “Os seres humanos gostam de se exibir.”
“Eles gostam.”
Apesar de sua distância da interseção, Lawrence podia sentir o
calor das chamas em suas bochechas.
O anel de foliões que cercavam o fogo deu um grande grito. A
própria fogueira parecia intensa o suficiente para dominar a lua pálida.
Mais uma vez na cidade de Kumersun, vários deuses e humanos
de perto e de longe vieram para beber e comemorar depois de colocar
um fim em suas discussões.
Os conflitos tinham finalmente acabado.
“Vamos?” Perguntou Holo.
“Acho que nós devemos?”
Mas Holo não se moveu imediatamente. Ela olhou para Lawrence
perplexo. “Da minha parte, eu não me importaria se você fosse tão
caloroso quanto aquele boneco.”
Os bonecos de fogo tinham começado a entrar em colapso em
uma única fogueira.
Lawrence riu. “Talvez se eu estiver bêbado o suficiente.”
Holo riu, brilho nos dentes afiados. Sua cauda abanando enquanto
falava. “Se você ficar bêbado, quem vai cuidar de mim? Seu tolo!”
Lawrence tomou a mão da Holo sorridente e a levou para fora.
À noite Kumersun tinha sido mais uma vez incendiada com as
festividades.
Algum tempo depois, surgiram rumores de que uma verdadeira
deusa tinha andado em meio à multidão.
az um bom tempo! Eu sou Isuna Hasekura e este é o
terceiro volume, portanto, a terceira história da série.
Desta vez eu senti como se eu fosse capaz de escrever sem
esquecer as personalidades dos personagens. Em vez
disso, eu esqueci a data de entrega deste posfácio, e há poucos minutos
atrás eu recebi uma ligação do meu editor, cujo sorriso nem um pouco
amigável eu fui capaz de ouvir daqui.
Estou até me preguntando se serei esquecido pelos leitores.
Bom, volume 3 implica em três livros, portanto esta é a terceira
novel. Por volta desta época no ano passado, eu passei da primeira
seleção do Dengeki Novel Prize e montei acampamento ao lado do
telefone, esperando os resultados da segunda seleção. Naquela época,
escrever um único volume era um esforço enorme — eu escrevia e
então jogava fora, escrevia de novo e jogava fora novamente.
SPICE & WOLF VOL III ⊰ 269 ⊱
— Isuna Hasekura
XTRAS
POSFÁCIO ⊰ 272 ⊱
OS AUTORES
http://hasekuraisuna.jp/
Nascido em 1981. Local: Kyoto. Tipo sanguíneo: AB. Atualmente vivendo uma vida
livre e espartana em Tokyo, ele tem sido até então incapaz de por seus planos de
peregrinação aos templos em ação.