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UTILIZAÇÃO DA MOAGEM AG/SAG PARA PRODUÇÃO DE

MINÉRIO DE FERRO A PARTIR DE RESERVAS DE


ITABIRITO COMPACTO*
Tiago Henrique Coelho Pires1
Maycon Silva Alves2
Ismael Henrique Braga3
Geovan Olavo Damásio4
Carlos Alberto Vieira de Almeida5

Resumo
Devido a longa data de exploração das jazidas de minério de ferro na região
brasileira do quadrilátero ferrífero, houve consequentemente mudanças nas
caraterísticas mineralógicas dos depósitos minerais nesta região ao passar dos
anos. Quando se iniciou a produção de minério de ferro no Brasil em grande volume,
por volta das primeiras décadas do século XX, os depósitos minerais continham alto
teor de ferro, necessitando apenas de etapas de fragmentação e classificação.
Todavia, com o passar dos anos, houve o empobrecimento destes depósitos,
havendo assim a necessidade da adoção de novos processos para garantir uma
produção em termos de qualidade. Atualmente, esta região se prepara para mais
uma mudança que irá ocorrer na caraterística de seus depósitos minerais, pois as
reservas com presença de rochas friáveis, estão cada vez mais próximas de se
esgotarem, passando a dar início a exploração de jazidas que contenham rochas
compactas, necessitando assim da readequação de seus processos para que a
continuidade da produção de minério de ferro seja viabilizada. Devido a essas
alterações mineralógicas, as empresas buscam cada vez mais pelo estudo de novas
rotas de processos, onde é possível a redução dos custos operacionais durante as
readequações. Portanto, a rota com a adoção da moagem AG/SAG para as etapas
de cominuição deste novo tipo de rocha presente nas próximas reservas que se
abeiram, demonstram grande potencial de viabilidade.
Palavras-chave: Moagem; Processos; Moagem AG; Moagem SAG.

BENEFITS OF USING AG/SAG MILLING TO PRODUCE IRON ORE FROM


COMPACT ITABIRITE RESERVS
Abstract
Due to the long period of exploitation of iron ore deposits in the Brazilian region of the
Iron Quadrangle, there have consequently been changes in the mineralogical
characteristics of the mineral deposits in this region over the years. When iron ore
production began in Brazil in large volumes, around the first decades of the 20th
century, the mineral deposits contained a high iron content, requiring only
fragmentation and classification steps. However, over the years, these deposits
became impoverished, thus requiring the adoption of new processes to ensure
quality production. Currently, this region is preparing for yet another change that will
occur in the characteristics of its mineral deposits, as the reserves with the presence
of friable rocks are increasingly close to being depleted, starting the exploration of
deposits containing compact rocks, thus requiring the readjustment of its processes
so that the continuity of iron ore production is feasible. Due to these mineralogical
changes, companies increasingly seek to study new process routes, where it is
possible to reduce operating costs in these readjustments. Therefore, the route with

* Contribuição técnica ao 22º Simpósio de Mineração, parte integrante da ABM Week 7ª edição,
realizada de 01 a 03 de agosto de 2023, São Paulo, SP, Brasil.
the adoption of AG/SAG milling for the comminution stages of this new type of rocks
present in the next nearby reserves, demonstrates great economic potential.
Keywords: Milling; Process; Milling AG; Milling SAG.

1 Graduando em Engenharia, Estagiário de Engenharia, Mineração Morro do Ipê, Brumadinho, MG,


Brasil.
2 Engenheiro Mecânico, Mestre, Engenheiro de Projetos, Vale S.A, Nova Lima, MG, Brasil.
3 Engenheiro Civil, Coordenador de Projetos, Vale S.A, Nova Lima, MG, Brasil.
4 Engenheiro de Produção, Engenheiro de Operação, Norsk Hydro, Paragominas, PA, Brasil.
5 Engenheiro Químico, Engenheiro de Processos, Lundin Mining, Alto Horizonte, GO, Brasil.
6

* Contribuição técnica ao 22º Simpósio de Mineração, parte integrante da ABM Week 7ª edição,
realizada de 01 a 03 de agosto de 2023, São Paulo, SP, Brasil.
1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

A mineração, refere-se como um dos mais importantes segmentos industriais, pois


este setor pode ser considerado como uma das bases pelo desenvolvimento global.
Nas últimas décadas, houve-se um grande aumento pela produção de diversos
minerais pelo mundo, em especial a produção do minério de ferro. De acordo com
dados do IBRAM - Instituto Brasileiro de Mineração, apontam que o setor no Brasil
respondeu, em 2021, por aproximadamente 20% do PIB industrial brasileiro. É uma
produção que ultrapassou 372 milhões de toneladas por ano e gera 200 mil
empregos diretos e mais dois milhões de indiretos. No Brasil, a mineração possui
uma relação histórica com o país, onde se deu início através da exploração de
jazidas de Ouro (Au) ainda no período colonial (1530 a 1822). A partir da exploração
deste mineral, houve-se a busca pelo mapeamento geológico, onde no final do
século XVII vieram a descobrir a região do quadrilátero ferrífero localizada no estado
de Minas Gerais, todavia naquele dado momento a exploração se dava apenas a
metais nobres, onde eram considerados naquele período como minerais de grande
valor econômico. Após se passado alguns séculos a este período, vieram a surgir
nesta região as primeiras explorações do minério de ferro no início do século XX,
provindo a partir de reservas que detinham de um alto teor de ferro (68%),
possuindo as Hematitas (Fe₂O₃) como principal mineral utilizado nas etapas de
beneficiamento do minério de ferro, portanto nestes anos iniciais não houveram a
necessidade da adoção de processos de concentração a úmido, contando apenas
com as etapas de britagem e classificação. Onde a primeira visava apenas a
redução granulométrica do mineral através do auxílio de equipamentos mecânicos, e
o segundo processo usado para classificar materiais pelo tamanho de suas
partículas após a etapa de fragmentação. Neste período, os rejeitos gerados
possuíam presença variada de areias grosas e composição de alto teor de ferro
devido a presença de Hematita e Goethita (FeO), permitindo que fossem
comercializados e não ocasionando perda de qualidade do material durante uso pelo
mercado consumidor. A partir da década de 70, ocorreu a primeira mudança nas
caraterísticas mineralógicas do minério extraído pelas empresas desta região, pois
as reservas de Hematita com alto teor vieram a diminuir e se iniciou a lavra de
reservas que continham Hematita com teor reduzido, possuindo composição química
em torno de teores de aproximadamente 62% de ferro. Dado este cenário, as
empresas decidiram inovar em seus processos de beneficiamento, a fim de garantir
a alta qualidade de seus produtos, passando a adotar etapas de concentração a
úmido, onde foi acrescentado os processos de concentração e flotação. Devido aos
novos métodos implantados, houve consequentemente uma alta redução
granulométrica no tamanho dos rejeitos gerados durante o beneficiamento,
possuindo tamanho particulado abaixo de 150 micrometros. Surgindo a partir de
então, os rejeitos classificados como ultrafinos e rejeitos arenosos. No início da
última década, as reservas de Hematita friável vieram a proporcionar baixa produção
mineral, dando origem as reservas de rochas Itabiritos friáveis, possuindo teor de
ferro entre 40% e 58%. Devido à redução de teor de ferro, e a diminuição do grau da
liberação mineral (separação de partículas de interesse por partículas de não
interesse), houve então a necessidade de adotar novamente por tecnologias que
permitissem a produção de minerais dentro dos parâmetros de qualidade, incluindo
a partir de então as etapas de moagem nas operações de tratamento mineral (etapa

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responsável em realizar maior cominuição das partículas minerais). Devido a
característica desta etapa, vieram a surgir a partir de então rejeitos com
granulometria ainda mais finos, ocasionando também um aumento no teor de sílica,
e consequentemente maior produção de rejeitos devido ao baixo teor de ferro
presente nas rochas de Itabirito friável. Para os próximos anos que se aproximam, é
previsto uma nova mudança nas caraterísticas das reservas de minério de ferro dos
empreendimentos minerários que se encontram instalados na região do quadrilátero
ferrífero, pois as atuais reservas com rochas Itabiríticas friáveis se tornam cada vez
mais escassas, ocorrendo a origem da transição de reservas contendo rochas
itabiríticas compactas [figura 01], possuindo como principais diferenças em relação
as rochas friáveis, uma maior resistência a compressão durante as etapas de
fragmentação, alta abrasividade, maior quantidade de sílica presente nestas rochas,
e um menor teor de ferro (39%), necessitando assim de uma maior redução
granulométrica nas etapas de cominuição, para que possa ocorrer a liberação
mineral entre as partículas mistas, proporcionando assim maior recuperação dos
minerais que contenham ferro nas etapas de concentração.

Figura 01. Esquematização das mudanças dos tipos de reservas de minério de ferro

As etapas de moagem, tornam-se de extrema importância em meio a este processo,


pois através desta, é possível atingir o grau de liberação necessário para que ocorra
o beneficiamento. A mineração, trata-se de uma atividade de alto custo, pois para
que se possa alcançar a produção final, se dá necessário a adoção de diversos
processos em meio a toda esta dinâmica, onde cada etapa se dá pela busca de
reduções granulométricas, propriedades físicas, e propriedades químicas dos
minerais de interesse e não interesse. Com base nisto, as empresas vem buscando
cada vez mais pela otimização de seus processos, realizando investimentos em
tecnologias que possibilite uma maior recuperação mássica e metalúrgica durante a
produção mineral, além de optarem pelo desenvolvimento de novas rotas de
processo, com foco na redução dos custos de aquisição, implantação e operação.
Este trabalho, possui como principal objetivo, a análise dos possíveis benefícios de
um circuito possuindo como etapa de cominuição, a moagem AG/SAG para
produção de minério de ferro a partir de reservas que contenham jazidas de Itabirito
compacto.

1.2 Cominuição (Moagem)

* Contribuição técnica ao 22º Simpósio de Mineração, parte integrante da ABM Week 7ª edição,
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De acordo com Luz¹, a moagem é uma operação de fragmentação fina obtendo-se
nesta um produto adequado a concentração ou a qualquer outro processo industrial
(pelotização, calcinação, lixiviação, combustão, entre outros).

Segundo Taggart², a moagem pode ser classificada da seguinte maneira: moagem


grossa – produto com tamanho entre 3,360 e 0,841mm; moagem intermediária –
produto com tamanho máximo de 0,600 mm e com no máximo 75% passante em
0,074 mm; moagem fina – produto com tamanho máximo de 0,074 mm.

As etapas de moagem, são responsáveis pelos maiores custos operacionais de uma


planta de beneficiamento, pois estas se encarregam em média de um consumo
energético de aproximadamente algo em torno de 60% de toda instalação de
tratamento mineral, tornando-as assim um processo considerado de grandes
despesas, todavia de extrema importância para a produção de minério de ferro,
especialmente naqueles locais onde se produz a partir de reservas com baixo teor.

1.3 Moagem AG/SAG

A moagem autógena ou semi-autógena (AG/SAG) [figura 02] é conduzida em


moinhos tubulares de carga cadente, formados essencialmente por um cilindro e
duas tampas, dotado de revestimentos internos, além de grelha na descarga. A
diferença de moinhos AG/SAG em relação a moinhos de barras ou bolas é que
naqueles os corpos moedores são formados pelo próprio minério, total em moinhos
AG ou parcialmente em moinhos SAG. Os corpos moedores são providos pela
alimentação de minério relativamente grosso, geralmente produto de britadores
primários, Delboni³.

Figura 02. Moinho SAG diâmetro 8,5 m X comprimento 4,0 m, em fase de comissionamento na
empresa Equinox Gold, município de Viana-MA, (Citic Heavy, 2022).

Em 1959, moinhos autógenos foram instalados com sucesso em usinas de moagem


de minério de ferro na América do Norte, aproveitando assim, as características de
taconitos de gerar corpos moedores tenazes, resilientes e de alta densidade. A
empresa Québec Cartier contava, nesse mesmo ano, com doze moinhos autógenos
Cascade de 18 ft de diâmetro e 5 ft de comprimento, com potência instalada de 600
HP por unidade.

A reação dos fabricantes de equipamentos à demanda da indústria de minério de


ferro por moinhos com capacidades unitárias maiores teve como consequência o

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surgimento de moinhos cada vez maiores, a ponto de em 1965, entrar em operação
na mesma empresa um moinho com 32 pés de diâmetro e motor de 6.000 HP, com
capacidade praticamente igual àquela dos doze moinhos instalados sete anos antes.
A atratividade de usinas com grandes moinhos estava baseada em menores
investimentos, especialmente se comparada à opção de circuitos com muitas linhas
paralelas de pares de moinhos de barras e de bolas. A economia com corpos
moedores era também favorável à alternativa de moinhos autógenos. Até 1973, as
usinas de minério de ferro receberam os maiores moinhos fabricados até então. Nos
anos 1970 surgiram os primeiros moinhos SAG, visto que a adição de bolas em até
12% do volume da câmara de moagem propiciou substancial elevação da
capacidade aos equipamentos. Moagem SAG também tornava o processo de
moagem menos suscetível a variações de características do minério processado.
Como a variabilidade das jazidas de minérios de cobre era, em geral, muito maior do
que as de minério de ferro, circuitos SAG tornaram-se mais populares. Nessa
mesma década, muitas minas de cobre foram expandidas ou entraram em operação,
Delboni³. Atualmente, o circuito AG/SAG encontra-se com muita resistência antes de
se tornar uma opção para um projeto de dimensionamento de uma usina de
tratamento mineral, segundo Yovanov4 esta proposta não se enquadra em um
avanço da tecnologia e sim um retrocesso, pois os primeiros moinhos instalados
eram do tipo SAG. Outro ponto é a resistência a mudanças pelo setor mineral,
mudanças que acarretam uma nova metodologia de produção, treinamento,
manutenção. Resistência que já foi vencida no beneficiamento de cobre e ouro, e
possui grande aceitação [figura 03].

Figura 03. Dados técnicos de moinho SAG utilizado para produção de Cobre na empresa Lundin
Ming, município de Alto Horizonte-GO, (Lundin Mining, 2022).

Nos dias atuais, um dos principais desafios das empresas que atuam no segmento
mineral, trata-se pela busca na redução dos altos custos operacionais de suas
instalações, pois devido ao empobrecimento de suas reservas, onde suas
explorações já se dão a uma longa data, se dá necessário cada vez mais a
readequação de seus processos no qual possibilite o beneficiamento de maneira em
que suas operações sejam viabilizadas. Através disto, a moagem AG/SAG, possui
como principal benefício em relação aos atuais circuitos tradicionais, a eliminação de
estágios de britagem e peneiramento [figura 04], possibilitando assim que seja

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acarretado possíveis ganhos econômicos, de maneira a reduzir os custos
operacionais, como também os custos de implantação.

Figura 04. Comparação de um circuito convencional X circuito SAG + Bolas para um projeto de 30
Mta, (Rodrigues, 2014).

1.3.1 Circuitos de moagem AG/SAG

Moagem AG/SAG em estágio único


O modelo de circuito em estágio único possui a vantagem de custo de investimento
baixo, por se tratar de um único estágio, baixos custos de operação, por não se ter
corpos moedores. É comumente empregado nas grandes mineradoras de ouro sul-
africanas. O circuito é exemplificado pela figura 05 possui um moinho AG/SAG em
regime fechado.

Figura 05. Circuito de moagem AG/SAG em estágio único, (Luz, 2010).

Moagem SAG + Bolas (SAB) ou AG + Bolas (FAB)


Circuito que possui grande estabilidade operacional quanto a variações do minério
alimentado. Segundo Luz¹, este circuito resulta em reduções de até 25% do CAPEX
em relação aos circuitos convencionais de britagem e moagem. O circuito na figura
06 apresenta um moinho SAG em regime fechado por uma peneira vibratória

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seguido de um moinho de bolas também em circuito fechado, mas por um
hidrociclone.

Figura 06. Circuito SAG-Bolas (SAB) ou AG-Bolas (FAB), (Luz, 2010).

Moagem SAG + Britador de Reciclo + Bolas (SABC)


Consiste em acrescentar um britador ao circuito a fim de se eliminar as frações
críticas produzidas na moagem semi-autógena, conforme ilustrado na figura 07.
Este circuito de cominuição é extremamente robusto, já que absorvem amplas faixas
de variações de tipos de minérios. Segundo Luz,¹ o circuito SABC possui o menor
investimento, sob o ponto de vista de investimento unitário ($/t), se comparado com
os demais circuitos de beneficiamento. Esta característica permite uma maior
capacidade de alimentação por unidade monetária. O autor ainda afirma que mesmo
que o custo energético não seja o mais adequado, assunto ainda obscuro, faz com
que esta opção de circuito seja a mais competitiva e, atualmente, a de menor risco.

Figura 07. Circuito SAG + Britador de reciclo + Bolas (SABC), (Luz, 2010).

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Testes no Complexo de Serra Azul


O complexo de serra azul, está inserido no quadrilátero ferrífero, região pertencente
ao estado brasileiro de Minas Gerais, e abrangendo os municípios de Brumadinho,
Igarapé e Itatiaiuçu. Este complexo, é responsável pela produção de

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aproximadamente 40 Mta de minério de ferro no estado de Minas Gerais, possuindo
a presença de diversas empresas, sendo estas de grande, médio e pequeno porte.
No ano de 2011, foram enviadas amostras de frente de lavra deste complexo, para
os laboratórios do CIMM [Centro de investigação mineral e metalúrgica] localizado
no Chile, sendo compostas por;
 140 toneladas de Itabirito compacto.
 90 toneladas de Itabirito friável.
A partir disto, foram realizados 7 testes piloto em moinho SAG/FAG, utilizando três
configurações de circuito (SABC-A, SABC-B e FAB), e com o moinho de bolas,
foram realizados 4 testes.
Durante realização destes testes, foram avaliadas as configurações dos circuitos,
granulometria e composição da alimentação, conforme descrito na tabela 01.

Tabela 01. Avaliação dos circuitos.


Teste Circuito Amostra Granulometria Velocidade Carga Abertura
da Alimentação Crítica (%) de Bolas da Grelha
Grela
(%) (pol)
SAG-1 SABC-A Compacto Média 79 10 4
SAG-2 FAB-A Compacto Média 79 10 4
SAG-3 SABC-A Compacto Média 79 10 4
SAG-4 SABC-B Blend 70/30 Blend 79 10 4
SAG-5 SABC-B Compacto Fina 79 10 4
SAG-6 SABC-B Compacto Grossa 79 10 4
SAG-7* SABC-B Compacto Média 79 10 4
*Teste de longa duração

Com base nos testes realizados, foi possível obter os resultados presentes na tabela
02.

Tabela 02. Resultados


Parâmetros SAG-1 SAG-2 SAG-3 SAG-4 SAG-5 SAG-6 SAG-7
Vaz (kg/h) b.s. 1.621 934 1.778 2.363 1.890 1.583 1.674
Pebbles (%) 22,4 28,6 18,1 18,3 25,7 28,8 24,3
Energia
Específica 6,97 9,42 6,58 5,08 6,30 7,58 6,99
(kWh/t)

A tabela 03, apresenta o desempenho do circuito SAG para três diferentes


distribuições granulométricas de alimentação (fino, médio e grosseiro).

Tabela 03. Desempenho do circuito para diferentes distribuições granulométricas.


Teste Circuito Block Size F80 (mm) P80 (mm) Ene Esp (Kwh/t)
SAG-1 SABC-A Médio 154,7 6,03 6,97
SAG-5 SABC-A Fino 142,2 7,3 6,30
SAG-6 SABC-A Grosseiro 162,5 7,03 7,58

Em termos de granulometria, o teste realizado com alimentação de um Block size de


tamanho médio (SAG-1), houve a geração de um material mais fino (6,03 mm) em
relação aos demais testes. Todavia, em termos de consumo energético, o teste

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realizado com a alimentação de um block size fino (SAG-5), proporcionou um menor
consumo de energia especifica por tonelada de material processado (6,30 kwh/t).

Na tabela 04, pode-se ver os diferentes testes realizados em moinhos de bolas com
os tipos de amostras que foram geradas, bem como os resultados na tabela 05.

Tabela 04. Testes realizados com moinho de bolas


Teste Circuito Amostra
MB-1 Fechado direto 100% Friável britado - 3/4''
MB-2 Fechado direto 100% Compacto (descarga do SAG) - SAG 1 + SAG 7
MB-3 Fechado direto 100% Compacto (descarga do SAG + pebbles) - SAG 3
MB-4 Fechado direto Blend 70/30 (descarga do SAG) - SAG 4

Tabela 05. Resultados de testes com moinho de bolas


Parâmetros MB-1 MB-2 MB-3 MB-4
Vazão (kg/h) b.s. 1293 721 672 757
7,57
Carga Circulante (%) 22,1 254,3 221 232,7
Energia Específica (kWh/t) 5,28 8,50 8,06 7,36
Wi operacional (kWh/t) 8,28 12,10 11,40 10,70

Através dos dados gerados neste teste, pode-se notar que a adição de um britador
de pebbles no circuito SAG 3, gerou um menor consumo de energia específica em
relação aos circuitos SAG 1 e SAG 7 (tabela 02), bem como a contribuição para uma
redução do consumo de energia especifica no teste realizado com a alimentação de
material 100% compacto nos moinhos de bolas MB-2 e MB-3 (tabela 04 e 05).

O objetivo destes testes no qual foram realizados, se dava para a existência de um


grande projeto de expansão de uma determinada empresa que estava inserida no
complexo de Serra Azul, onde seria instalada uma nova planta de beneficiamento de
minério de ferro com capacidade de produção de 29 Mta, possuindo como
alimentação material 100% composto pot Itabirito compacto. A rota de processos
adotadas, contaria com a presença de dois moinhos SAG’s de mesmo modelo,
inclusive sendo considerados como um dos maiores do mundo, além de serem os
primeiros moinhos SAG’s adotados para produção de minério de ferro na américa
latina, todavia devido a problemas jurídicos por parte desta empresa, houve a
paralização de suas atividades, e posteriormente a falência decretada, tendo como
consequência o fim deste projeto de expansão.

2.2 Testes empresa Vale S.A

Nos anos de 2006 e 2012, também foram realizado estudo piloto pela empresa Vale
S.A, onde encaminhou amostras de minérios de Itabirito das minas de Cauê e
Conceição para serem testados na planta piloto do CETEM [Centro de Tecnologia
Mineral], e outras amostras das minas de Jangada e Pico (Galinheiro e Sapecado)
para serem testadas na planta piloto do CIMM no Chile.

Na figura 08, é possível analisar o gráfico com as faixas granulométricas geradas


durante estes testes.

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Figura 08. Curva granulométrica dos testes, (Rodrigues, 2014).

A tabela 06 apresenta os resultados dos testes piloto de SAG e AG em circuito


aberto, vale ressaltar que esta tabela não apresenta nenhum resultado dos testes
com moinhos de bolas. Já a tabela 07 apresenta os resultados dos testes em circuito
fechado.

Tabela 06. Resumo dos resultados dos testes piloto em circuito aberto (Rodrigues, 2014).
Ano Teste Mina Circuito Aberto kWh/t p/ P58 em 0,15mm
2006 Conceição SAG 2,8
2006 Conceição SAG + BRITADOR 2,4
2012 Pico SAG 1,3
2012 Pico AG 1,6
2012 Jangada SAG 8,9
2012 Jangada SAG + BRITADOR 8,9
Tabela 07. Resumo dos resultados dos testes piloto em circuito fechado (Rodrigues, 2014).
Ano Teste Mina Single Stage kWh/t p/ P80 em 0,15mm
1980 Cauê AG 7,0
2012 Cauê SAG 2,0
2012 Pico AG 1,8

De acordo com os resultados apresentados na tabela 06, pode-se notar que a


inserção de um britador de reciclo nos circuitos abertos, não ocasionaram em uma
redução energética significativa. Quanto aos testes realizados nos circuitos abertos
possuindo moinho AG, estes obtiveram maior consumo energético em relação aos
testes em realizados em circuito SAG, todavia pelo fato do primeiro não utilizar
corpos moedores, este pode ser mais benéfico em termos de custos operacionais
mesmo que possua um maior consumo energético.

Outra estimativa importante onde foi analisado durante os testes realizados pela
empresa Vale S.A, trata-se do consumo de revestimento do SAG. Sabe-se que o
consumo de revestimento é diretamente proporcional ao Ai (quanto maior, mais
abrasivo). Para estimativa deste consumo foi levantado dados de duas plantas
industriais, sendo que o Ai do Itabirito está entre os Ai’s destas duas plantas. A
figura 09 apresenta uma correlação entre abrasividade e vida útil de revestimento
para duas minas, uma de ouro localizada em Minas Gerais e outra de Cobre em

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Sossego. Vale ressaltar que foi traçado uma curva em função da equação de Bond,
na qual ele descreve que o Consumo Revestimento = 0,0118*(Ai – 0,015)^0,3.

Figura 09. Vida útil do revestimento do SAG x Abrasividade, (Rodrigues, 2014).

Segundo Rodrigues5, os testes piloto demonstraram que moinhos SAG e AG são


apropriados para a cominuição de Itabirito. Apesar do fato de Itabirito normalmente
requerer um baixo consumo especifico de energia, seu caráter bimodal permite que
este tipo de minério produza quantidade suficiente de partículas competentes ao
ponto de ocorrer a moagem autógena ou semi-autógena. Além do mais, não se
recomenda a utilização de circuito single stage para moagem de Itabirito, pois pode
ocorrer a formação de piscina o que reduziria a eficiência de moagem. E por fim, de
acordo com suas análises, a utilização de britador de pebbles não trouxe ganho de
consumo energético para o circuito.

2.3 Moinho SAG e AG – Modelos Metso Outotec

Uma das principais empresas fabricantes de moinho SAG’s e AG’s, trata-se da empresa
Finlandesa Metso Outotec, possuindo norral na comercialização destes equipamentos.
Vale ressaltar, que apesar dos moinhos SAG’s e AG’s possuírem princípio de
funcionamento diferente em relação ao seu método de cominuição, ambos os
equipamentos são dimensionados com a mesma motorização. Na tabela 08, é possível
observar as especificações de alguns moinhos SAG’s e AG’s comercializados pela
empresa Metso Outotec.

Tabela 08. Especificação técnica de moinhos SAG’s e AG’s com potência acima de 5.000 hp.
Tamanho (Ft – m) Potência (HP – Kw)
28’ x 10’ (8,5 x 3,0) 3500-5500/2610-4100
28’ x 14’ (8,5 x 4,3) 5-8000/3730-5960
30’ x 12’ (9,1 x 3,7) 5-8000/3730-5960
32’ x 14’ (9,8 x 4,3) 7-11000/5-8200
32’ x 16’ (9,8 x 4,8) 8-12000/6-8950
34’ x 15’ (10,3 x 4,6) 8-13000/6-9700
34’ x 17’ (10,3 x 5,2) 10-15000/7-11190
34’ x 19’ (10,3 x 5,8) 11-17000/8-12680
36’ x 15’ (11,0 x 4,6) 10-16000/7-11930
36’ x 17’ (11,0 x 5,2) 11-18000/8-13420
36’ x 19’ (11,0 x 5,8) 12-20000/9-14900
38’ x 20’ (11,6 x 6,0) 15-24000/11-17800
40’ x 22’ (12,0 x 6,7) 19-30000/14-22370
42’ x 25’ (12,8 x 7,6) 23-36000/17-26850

* Contribuição técnica ao 22º Simpósio de Mineração, parte integrante da ABM Week 7ª edição,
realizada de 01 a 03 de agosto de 2023, São Paulo, SP, Brasil.
De acordo com os dados dos testes realizados com minério Itabirito compacto no
complexo de Serra Azul, um circuito com a adoção de moagem SAG ou AG, poderia
vir a ser dimensionado da seguinte forma. Considerando como caso base a tabela
03, onde o material que possui block size de tamanho médio (SAG-1), e uma
energia específica de 6,97 kwh/t para cominuição em um P80 de 6,03 mm. Uma
instalação com alimentação de ROM [Run of Mine] 1.800 t/h necessitaria de um
SAG com as seguintes especificações (1.800 x 6,97 = 12.546 kwh), presumindo-se
assim em um equipamento com o seguinte tamanho 36’ x 17’ (11,0 m x 5,2 m) ou
36’ x 19’ (11,0 m x 5,8 m).

3 CONCLUSÃO

A moagem AG/SAG, demonstra ser um equipamento com grande potencial para o


beneficiamento de minério de ferro a partir da extração de reservas que contenham
Itabirito compacto, visto que este tipo de rocha possui caraterísticas importantes em
que se enquadram neste circuito, como a alta abrasividade, e a capacidade destas
rochas se alto fragmentarem. Com a adoção deste equipamento, pode-se realizar
uma espécie de “otimização” do circuito de beneficiamento nas plantas de produção
mineral, pois através deste é possível eliminar processos presentes nos atuais
circuitos convencionais, como por exemplo, etapas de britagem, peneiramento,
transportadores de correias, silos, motores elétricos e equipamentos auxiliares. Fato
este que contribui para uma possível redução do consumo energético da planta
industrial, redução de paradas programadas e inesperadas devido a menor
quantidade de estágios presentes no circuito, redução com custos de manutenção,
redução de layout, e supostamente um menor capex de implantação. Portanto,
pode-se concluir que a moagem AG/SAG trata-se de um processo no qual possui
grande aptidão para estudos com maior nível de detalhamento, bem como a
presença em trade-off’s com outros equipamentos que realizam processos onde se
visa maior liberação entre as partículas minerais, como por exemplo, a prensa de
rolos de alta pressão (HPGR) e circuitos com a existência de moinhos de bolas
secundário. Pois através da adoção da moagem AG/SAG, pode-se acarretar em
grandes benefícios econômicos para as empresas que visam a implantação de
novas instalações, ou futuras readequações de suas atuais plantas de tratamento,
podendo vir a gerar diversas vantagens em relação aos atuais circuitos
convencionais.

REFERÊNCIAS

1 Luz, A. B.; Alves, J. S.; Alves, S. C. “Tratamento de minérios. 5ª edição. Rio de Janeiro:
CETEM, 2010”.
2 Taggart, A. F. “Elements of ore dressing”. New York: Wiley, 1951.
3 Delboni, H.; Sampaio, J. A. “Tratamento de minérios 6º edição, capítulo 4, cominuição.
Rio de Janeiro: CETEM, 2018”.
4 Yovanovic, A. P. “ Moagem SAG: Acabou o mito?” Minérios e minerales,
Setembro/Outubro 2006.
5 Rodrigues, A. F. V. “Testes SAG/AG, em escala piloto e bancada, para cominuição de
Itabirito”. Contribuição técnica ao 44º Seminário de Redução de Minério de Ferro e
Matérias-primas, 15º Simpósio Brasileiro de Minério de Ferro e 2º Simpósio Brasileiro
de Aglomeração de Minério de Ferro, 15 a 18 de setembro de 2014, Belo Horizonte,
MG, Brasil.

* Contribuição técnica ao 22º Simpósio de Mineração, parte integrante da ABM Week 7ª edição,
realizada de 01 a 03 de agosto de 2023, São Paulo, SP, Brasil.

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