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Resenha: Tilly, 1990

Adriano Gonçalves da Silva Filho / RA: 23025545


Enzo Hermínio Ferraz de Campos / RA: 23025551

Tilly, Charles (Coercion, capital, and European States, ad 990-1990/Charles


Tilly.
O texto em questão conduz uma profunda e meticulosa investigação sobre a
evolução das dinâmicas de guerra e do poder estatal ao longo da história, com
uma ênfase especial na experiência europeia. O autor inicia o texto destacando
um paradoxo notável: apesar do período de quarenta anos de relativa acalmia
entre as grandes potências globais, o século XX foi marcado como o mais
belicoso da história da humanidade. Para contextualizar essa afirmação, o
autor oferece uma análise detalhada das taxas de mortalidade por mil
habitantes ao longo dos séculos, revelando que o século XVIII registrou uma
taxa de cerca de 5, o século XIX viu um aumento para 6, enquanto o século XX
testemunhou um aumento impressionante para 46 - oito ou nove vezes mais do
que o século anterior. Surpreendentemente, mesmo a era nuclear não
conseguiu frear a tendência histórica de conflitos mais frequentes e mortais. O
autor ressalta que, desde o século XVI, houve uma diminuição média na
frequência, duração e no número de estados envolvidos em guerras entre
grandes potências. Esse fato pode ser interpretado de duas maneiras opostas:
com otimismo, pode-se imaginar que as grandes potências descobriram meios
menos onerosos de resolver suas diferenças do que as guerras incessantes;
com pessimismo, pode-se concluir que as grandes potências exportaram a
guerra para o resto do mundo, evitando que suas energias destruíssem umas
às outras em conflitos concentrados. Independentemente da perspectiva
adotada, o mundo parece tornar-se cada vez mais beligerante, com os estados
mais poderosos desfrutando de uma relativa ausência de guerra em seus
próprios territórios, tornando-os possivelmente menos sensíveis aos horrores
dos conflitos. No entanto, à medida que o mundo se tornava mais beligerante
em termos de conflitos entre estados, houve uma tendência geral de declínio
da violência entre as pessoas fora da esfera do estado. O autor oferece um
exemplo notável ao observar as taxas de homicídios na Inglaterra nos séculos
XIII, XVI e XVII, que eram consideravelmente mais altas do que as taxas
atuais. Esse declínio acentuado na violência, particularmente do século XVII
para o século XIX, é atribuído a grandes mudanças de mentalidade, conforme
sugerido por pensadores como Michel Foucault e Marvin Becker. No entanto,
uma contribuição significativa para essa diminuição da violência resulta, sem
dúvida, da tendência crescente dos estados em controlar, reprimir e
monopolizar os meios efetivos de violência. Isso cria uma notável distinção
entre a violência na esfera estatal e a relativa não-violência na vida civil fora do
estado. Essa diferenciação foi principalmente impulsionada pelos Eestados
europeus, que instituíram meios de coerção formidáveis enquanto privavam as
populações civis do acesso a esses meios. Essa estratégia variou entre
Eestados, mas, em geral, envolveu a reorganização da coerção,
frequentemente com o apoio do capital e dos capitalistas. O autor destaca que,
durante o século XVII, os bandidos proliferaram em grande parte da Europa, e
aqueles que estavam fora do âmbito estatal muitas vezes se beneficiaram do
uso privado de meios violentos. No entanto, a partir do século XVIII, os
governantes buscaram mudar esse equilíbrio de poder de maneira
decisiva, restringindo o uso de armas para a maioria dos cidadãos e
normalizando o enfrentamento entre agentes armados do estado e civis
desarmados. Isso foi exemplificado na Inglaterra, onde os Tudors suprimiram
exércitos privados, limitaram o poder dos grandes senhores ao longo da
fronteira escocesa e eliminaram castelos-fortaleza que antes simbolizavam o
poder e a autonomia dos magnatas ingleses. Para subjugar magnatas e
cidades que se opunham a essa norma, os governantes demoliram
regularmente suas fortificações, limitaram seus direitos ao uso de armas e
reduziram as chances de futuras rebeliões mais sérias. Ao mesmo tempo, a
expansão das forças armadas do estado superou os armamentos de
qualquer adversário doméstico. Isso fortaleceu a ligação entre a guerra e
a estrutura do estado. Com o desenvolvimento das forças armadas estatais, o
desarmamento da população civil aumentou consideravelmente a proporção de
meios coercivos nas mãos do estado em comparação com aqueles disponíveis
para os adversários domésticos. Como resultado, tornou-se quase impossível
para uma facção dissidente tomar o poder em um estado ocidental sem a
colaboração ativa de alguns segmentos das próprias forças armadas. Esse
desenvolvimento é ilustrado pelo exemplo da monarquia prussiana, que tinha o
Comissariado Geral da Guerra como seu principal órgão de arrecadação de
impostos.

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