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Introdução ao Sistema

Internacional
Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra

Vasco Martins
vmartins@uc.pt
– A idade média caracteriza-se, genericamente, por um período que
enfatiza o deteriorar do domínio político, económico e cultural na
Europa após o declínio do Império Romano.
– Pauta-se por um sistema feudal, entre campesinato, nobreza e
clérigo.
Sistema – O papado, sediado em Roma, é a autoridade central, dispondo de
uma vasta palete de poderes sobre as aristocracias e, portanto,
internacional sobre os reinos, Europeus.
moderno – A língua oficial é o latim, já que as vernaculares são consideradas
‘inferiores’.
– A economia é baseada na agricultura; a vida social gera-se em
torno da igreja católica; a dinâmica política centra-se sobre o/a
rei/rainha e a aristocracia vigente, por entre sistemas feudais e de
vassalagem.
– O fim guerra dos trinta anos, um marco importante nas RI, entre
facções a favor e contra a dinastia Habsburgo, e substancialmente
em torno de questões religiosas, leva a várias alterações no sistema
político Europeu:

– Ao declínio da hegemonia da igreja católica e do papado em Roma;


Sistema
– Ao fortalecimento da França de Richelieu (centralização de poder em
internacional
virtude da aristocracia);
moderno
– Fim da guerra entre a Espanha e a Holanda;

– Liberdade religiosa (Catolicismo – Protestantismo);

– Início da Europa moderna enquanto continente dividido em estados;

– Sistema de estados soberanos iguais.


– O Tratado de Vestefália de 1648 é geralmente considerado como um
marco fundamental na disciplina das relações internacionais, estabelecendo
uma revolução na formação da ordem internacional moderna.
Sistema – O Tratado de Vestefália marca uma mudança fundamental da heteronomia
feudal para o domínio do estado moderno.
internacional – O sistema de Vestefália, também conhecido como soberania de Vestefália, é
moderno um princípio do direito internacional segundo o qual cada Estado tem
soberania exclusiva sobre o seu território.
– De acordo com este princípio, todos os Estados, independentemente da sua
dimensão, têm igual direito à soberania.
– Os Estados tornaram-se os principais agentes institucionais num
sistema interestatal de relações.
– A doutrina "vestefaliana" dos Estados como agentes independentes
foi reforçada pelo nacionalismo "clássico", segundo o qual os
Sistema Estados legítimos correspondiam a nações definidas como grupos
de pessoas unidas pela língua e pela cultura.
internacional – O sistema de Vestefália atingiu o seu auge no final do século XIX.
moderno – A intervenção forçada de um país nos assuntos internos de outro
foi menos frequente entre 1850 e 1900 do que na maioria dos
períodos anteriores e posteriores.
– Vestefália está na origem de cinco princípios essenciais:

– O princípio da soberania dos estados e da territorialidade exclusiva;


Sistema – O princípio da igualdade jurídica dos estados;
internacional – O princípio da não-intervenção e ingerência nos assuntos de outros
moderno estados, sobretudo em termos religiosos;

– O princípio do primado do direito e da diplomacia;

– A razão do estado substitui-se à ordem religiosa.


– Abre caminho a novas dinâmicas:

– Industrialização;
– Novas formas de poder assentes no capitalismo;
– Colonialismo;
Sistema – Secularismo;

internacional – Interesse nacional;

moderno – Estruturas políticas assentes no estado e nas constituições;


– Avanços científicos e tecnológicos previamente obstruídos pela igreja.

– Todo o processo vai desaguar no iluminismo, no racionalismo, no cepticismo e


individualismo.
– O sistema de Vestefália é, no entanto, criticado por um conjunto de
razões:

Sistema – Não levou ao sistema de soberania de estados como o entendemos


hoje, já que a política Europeia continuou a caracterizar-se por
internacional casamentos reais, heranças políticas e reivindicações hereditárias que
não produziram um sistema totalmente assente no estado;
moderno – As rivalidades imperiais levaram ao adensar dos domínios coloniais e
de expansão territorial e política;
– Os nacionalismos do século XIX não afastaram mas abraçaram a
religião e, por vezes, as aristocracias.
– Um dos argumentos a favor de Vestefália é que a guerra se tornou
‘infrequente’.
– Até ao final do século XVIII, a guerra e a paz não eram, na maior
parte dos casos, claramente diferenciadas - a guerra pública e a
guerra privada, a guerra entre Estados e a guerra civil, a rebelião e
o crime eram dificilmente distinguíveis.
Sistema
– Em alguns momentos, a guerra tornou-se uma atividade
internacional especializada, organizada pelo Estado, empreendida com devida
preparação, envolvendo forças profissionais.
moderno
– Mesmo quando organizada, continuava a ser uma atividade
praticada com grande regularidade, para não dizer sazonalmente.
Também se manteve limitada em termos de escala.
– Durante todo o século XVII, houve apenas sete anos em que
nenhum dos Estados europeus esteve em guerra.
– Nos primeiros dois terços do século XVIII, um ou outro Estado
europeu estava ainda em guerra durante dois em cada três anos.
– O Reino Unido, que não era anormalmente beligerante, esteve em
guerra durante dois anos e meio em cada cinco.

Sistema – Quanto à escala da guerra, a sua frequência revela a falta de


intensidade que marcava a sua conduta.
internacional – A sujeição das sociedades e dos Estados a processos de
modernização e industrialização - um processo baseado na ciência e
moderno na tecnologia – criou uma conduta internacional distinta a que
apelidamos de sistema internacional moderno.
– Devido ao grande impacto desses processos na criação de novas
armas de destruição, em novas estruturas das sociedades e nas
capacidades dos estados, surgiu o padrão moderno da guerra.
– O aumento contínuo e acelerado do carácter mortífero das armas
começou apenas no século XVIII.
– Em meados do século XIX, já tinha avançado de tal forma que
assegurava que a guerra seria travada com um nível de violência
Sistema sempre mais elevado que o anterior.

internacional – A industrialização permitiu um desenvolvimento rápido e várias


oportunidades de progresso e satisfação de necessidades para além
moderno da guerra, ao mesmo tempo que aumentava a destrutividade e o
risco da inevitabilidade da guerra.
– A alteração no equilíbrio de capacidades explica porque é que as
guerras entre as sociedades europeias se tornaram separadas por
longos períodos de paz.
– Ao longo da história do sistema internacional moderno, os Estados
mantiveram o ius ad bellum - o direito legal de declarar guerra com
o intuito de preservar a segurança ou promover os interesses das
suas sociedades.
Sistema – Admitiam que qualquer Estado que invocasse este direito adquiria
os privilégios da beligerância, e estes privilégios incluíam o direito
internacional legal à guerra e aos despojos de guerra.
moderno – Uma caraterística importante do sistema internacional moderno é
que, no final de cada guerra desde o final do século XVIII, os
Estados empreenderam esforços concertados, cada um mais radical
do que o anterior, para reconstruir o sistema de forma que lhes
permitisse, ou assim o acreditavam, evitar novas guerras.
– Esta lógica pauta-se precisamente pela ideia de que a próxima
guerra será amplamente mais destrutiva que a anterior.
– No entanto, independentemente dos esforços que empreenderam,
das reformas que aplicaram e das diplomacias que desenvolveram,
Sistema vastos conflitos continuaram a ocorrer na Europa, cada um mais
catastrófico que o anterior.
internacional – A natureza da guerra alterou-se, e no pós-Vestefália poderá ter-se
tornado ‘infrequente’, dependendo de como se observa e analisa a
moderno recorrência dos conflitos.
– Mas tornou-se imensamente mais devastadora, quer a nível militar,
civil, económico, de infraestruturas, etc.
– Por sistema internacional moderno, referimo-nos apenas à Europa?
Sistema – Falamos de um sistema internacional moderno ou de um sistema
Europeu moderno?
internacional
– As lógicas de Vestefália fazem sentido fora da Europa?
moderno
– Uma das características mais perenes e consequentes do sistema
internacional moderno, aquele que se foi edificando nos séc. XVIII
e XIX, é a empreitada colonial.
– Fortemente solidificados nos nacionalismos Europeus, o
colonialismo e o imperialismo tornaram-se motivos de poderio
Sistema nacional.
internacional – Por detrás do orgulho patriótico que exibia as conquistas e
expansão territorial em outros continentes, o imperialismo e o
moderno colonialismo era uma peça essencial na expansão do capitalismo na
Europa e no mundo ocidental.
– Tendo por base a expansão imperial das potências Europeias, é
possível falar em sistema de estados soberanos iguais fora do
continente Europeu?
– Depois da derrota do Império Francês nas Guerras Napoleônicas, o
Império Britânico adquiriu a supremacia do sistema internacional,
passando a “controlar” um quarto da população e um quinto do
território mundial.
– Aplicando o que se veio a apelidar de Pax Britannica, incentivou o
Sistema comércio e lutou contra a pirataria.
internacional – Entre 1815 e 1914, um período designado por "século imperial" da
Grã-Bretanha, foram acrescentados ao Império Britânico cerca de
no séc. XIX 26 milhões de quilómetros quadrados de território e
aproximadamente 400 milhões de pessoas.
– A vitória sobre a França napoleónica deixou os britânicos sem
qualquer rival internacional de peso, a não ser talvez a Rússia na
Ásia Central.
– A Marinha Real britânica controlava a maior parte das principais
rotas comerciais marítimas e gozava de um poder marítimo
incontestado.
– Para além do controlo formal exercido sobre as suas próprias
colónias, a posição dominante da Grã-Bretanha no comércio
mundial significava que controlava efetivamente o acesso a muitas
Sistema regiões, como a Ásia, a América do Norte, a Oceania e a África.
– A Grã-Bretanha comercializou bens e capitais em grande escala
internacional com países de todo o mundo, adoptando uma política de comércio
livre a partir de 1840.
no séc. XIX
– O crescimento da força imperial britânica foi apoiado pelo navio a
vapor e pelo telégrafo, novas tecnologias inventadas na segunda
metade do século XIX, que permitiram controlar e defender o
império.
– Em 1902, o Império Britânico estava ligado entre si por uma rede
de cabos telegráficos, a chamada "All Red Line”.
Sistema
internacional
no séc. XIX
Sistema
internacional
no séc. XIX
– A Pax Britannica foi enfraquecida pelo colapso da ordem
continental estabelecida pelo Congresso de Viena.
– As relações entre as grandes potências da Europa foram afectadas
Sistema por questões como o declínio do Império Otomano e, mais tarde, a
emergência de novos Estados-nação, sobretudo a Itália e a
internacional Alemanha.
no séc. XIX – A industrialização da Alemanha, do Império do Japão e dos
Estados Unidos contribuiu para o declínio relativo da supremacia
industrial britânica no final do século XIX.
Sistema
internacional
no séc. XIX

– Extensão territorial do Império Britânico no seu apogeu.


– Uma das características mais perenes e consequentes do sistema
internacional moderno, aquele que se foi edificando nos séc. XVIII
e XIX, é a empreitada colonial.
Sistema – Fortemente solidificados nos nacionalismos Europeus, o
colonialismo e o imperialismo tornaram-se motivos de poderio
internacional nacional.
no séc. XIX – Por detrás do orgulho patriótico que exibia as conquistas e
expansão territorial em outros continentes, o imperialismo e o
colonialismo era uma peça essencial na expansão do capitalismo na
Europa e no mundo ocidental.
– É importante compreender que nem tudo mudou no século XIX:

– A agricultura e a produção não baseada no carbono continuaram a ser uma


componente importante da maioria das economias, incluindo na Europa, onde,
com exceção da Grã-Bretanha, mesmo na primeira década do século XX,
entre um quarto e dois terços da população trabalhava na terra;

Sistema – Os impérios continuaram a ser locais importantes de autoridade política até


ao início da Primeira Guerra Mundial e para além desta;
internacional – Muitas hierarquias sociais são resistentes - a nobreza, a aristocracia e as
classes proprietárias de terras continuam a ser influentes em todo o lado.
no séc. XIX
– A modernidade não deve ser vista como um momento singular de
descontinuidade acentuada, mas como um processo prolongado e desigual.
– Mesmo que não exista uma dicotomia rígida e rápida entre as épocas
moderna e pré-moderna, é possível falar de diferenças entre as épocas, na
medida em que, durante o século XIX, uma série de mudanças deu lugar a
processos profundamente transformadores.
– Estas mudanças começaram por se concentrar num pequeno núcleo de
Estados – como o Reino Unido –, que serviu de exemplo para que outras
sociedades respondessem à sua configuração política (imperial, liberal,
comércio capitalista), elementos que se propagaram rapidamente.
– As diferentes experiências desta configuração foram acentuadas por
ligações cada vez mais densas entre as sociedades, sobretudo os impérios
coloniais e as colónias de assentamento.
Sistema – O resultado foi uma integração diferenciada na "modernização global": os
níveis de interdependência aumentaram, tornando as sociedades mais
internacional expostas a desenvolvimentos noutros locais.
– Mas, durante o século XIX, o fosso de desenvolvimento entre as
no séc. XIX sociedades abriu-se mais do que nunca.
– Aquelas que dispunham de metralhadoras, medicamentos, poder industrial,
caminhos-de-ferro e novas formas de organização burocrática ganharam
uma vantagem pronunciada sobre as que tinham um acesso limitado a
estas fontes de poder.
– As desigualdades daí resultantes favoreceram a emergência de uma ordem
internacional hierárquica, cujo estabelecimento é ainda hoje muito visível.
– O Tratado de Vestefália de 1648 é uma pedra angular da disciplina das
Relações Internacionais.
– No entanto, Vestefália não alterou fundamentalmente as regras básicas da
ordem internacional europeia.
– Pelo contrário, Vestefália fez parte de uma longa batalha pela liderança da
cristandade europeia dinástica.
Sistema – Não conduziu ao desenvolvimento da soberania no seu sentido
contemporâneo - a ordem europeia continuou a ser uma manta de retalhos
internacional de casamento, herança e reivindicações hereditárias, em vez de constituir
um sistema formal de Estados.
no séc. XIX – Como tal, as primeiras preocupações das Relações Internacionais foram
forjadas no imaginário de uma "Grande Grã-Bretanha" assente em
estruturas imperiais pan-regionais e até mesmo um Estado mundial, em
que a raça (que significava, na altura, civilização) servia como ponto
crucial de demarcação.
– Uma grande parte dos desenvolvimentos históricos das Relações
Internacionais radica nas preocupações do século XIX com a
superioridade das raças brancas e da civilização ocidental.
– Durante muitos séculos, as grandes culturas da Ásia foram consideradas
com respeito e admiração. A Índia e a China dominavam a indústria
transformadora e muitos domínios da tecnologia.
– O Ocidente interagiu com as potências asiáticas, por vezes como iguais
políticos, outras vezes enquanto inferiores.
– A riqueza e o poder europeus aumentaram nos séculos XVII e XVIII, mas
mesmo até à primeira década do século XIX havia poucas diferenças de
Sistema nível de vida entre as sociedades europeias e asiáticas.
– Um século mais tarde, as zonas mais desenvolvidas da Europa tinham uma
internacional vantagem dez vezes superior em termos de PIB per capita em relação às
suas congéneres chinesas.
no séc. XIX – Enquanto em 1700 as potências asiáticas produziam 61% do PIB mundial
e a Europa apenas 31%, em 1913 os europeus detinham 68% do PIB
mundial e a Ásia apenas 24%.
– Em 1890, só a Grã-Bretanha era responsável por 20% da produção
industrial mundial.
– Este facto representa uma grande mudança no paradigma da distribuição
do poder mundial.
– Por volta da primeira década do século XIX, é possível falar de uma
mudança importante de um "mundo policêntrico sem núcleo dominante"
para uma ordem internacional hierárquica, entre centro e periferia, em que
a vanguarda se situava no noroeste da Europa, uma parte anteriormente
periférica do sistema comercial euro-asiático.
– O sucesso europeu baseava-se no imperialismo e, em particular, nos
Sistema sistemas circulatórios imperiais.

internacional – O comércio triangular: a procura de açúcar em Londres alimentava o


sistema de plantações nas Caraíbas, que era abastecido por pessoas
no séc. XIX africanas submetidas à escravatura, e alguns bens norte-americanos.
– Durante meados e finais do século XIX, as potências industriais
estabeleceram uma economia global em que o comércio e as finanças do
centro penetraram profundamente na periferia. Durante todo o século, o
comércio mundial aumentou vinte e cinco vezes.
– Através do colonialismo, as potências europeias trocavam matérias-primas
por produtos manufacturados e recorriam à violência para garantir preços
de produção baixos.
Sistema – A mudança de poder global no século XIX foi alimentada por uma
intensificação dos fluxos de pessoas, ideias, recursos e tecnologias.
internacional – No entanto, não foi um momento “Big Bang”. O crescimento da
no séc. XIX industrialização, do Estado burocrático e das ideologias de progresso
científico e tecnológico foi um processo desigual e confuso.
– Mesmo nas zonas metropolitanas, a experiência e o acesso aos bens desta
transformação global foram desiguais.
– Para concluir:
– (i) o surgimento e a institucionalização de uma ordem internacional
centro-periferia foi estabelecida pela primeira vez durante estas
transformações globais;
– (ii) as formas como a modernidade global serviu para intensificar as
interacções entre sociedades, serviu também para ampliar as diferenças;
Sistema – (iii) produziu a ideia de que a capacidade para fazer a guerra, a
industrialização e a construção de burocracias de Estado eram sinónimos
internacional de padrões de civilização;
no séc. XIX – (iv) o papel central desempenhado pelas ideologias do progresso, que
legitimam a relação entre avanço científico e tecnológico e intenções
coercivas;
– (v) a centralidade das dinâmicas de imperialismo e colonialismo na
formação da ordem internacional do séc. XIX, com consequências
tangíveis nos nossos dias.
– Para concluir:
– (i) o surgimento e a institucionalização de uma ordem internacional
centro-periferia foi estabelecida pela primeira vez durante estas
transformações globais;
– (ii) as formas como a modernidade global serviu para intensificar as
interacções entre sociedades, serviu também para ampliar as diferenças;
Sistema – (iii) produziu a ideia de que a capacidade para fazer a guerra, a
industrialização e a construção de burocracias de Estado eram sinónimos
internacional de padrões de civilização;
no séc. XIX – (iv) o papel central desempenhado pelas ideologias do progresso, que
legitimam a relação entre avanço científico e tecnológico e intenções
coercivas;
– (v) a centralidade das dinâmicas de imperialismo e colonialismo na
formação da ordem internacional do séc. XIX, com consequências
tangíveis nos nossos dias.
– Os impérios, sobre os quais o sol acabou sempre por se pôr, foram uma
caraterística fundamental do nosso mundo globalizado.
– Ao delinear "eras" da globalização, o período que vai de meados do século
XIX até ao início da Primeira Guerra Mundial, com um impressionante
crescimento do comércio mundial, tem um lugar de destaque.
– A Grã-Bretanha prosseguiu uma visão imperial distinta e expansiva do seu
Sistema lugar na ordem mundial. As componentes centrais desta "mentalidade
imperial" eram a visão de uma "grande Grã-Bretanha" centrada
internacional – nas colónias de assentamento;
no séc. XX – no complexo governo direto na Índia;
– no império informal, primeiro na América do Sul e depois no Médio
Oriente;
– e na ideia da centralidade da Grã-Bretanha num mundo "global", cujos
recursos deveriam ser explorados em benefício económico e militar da
Grã-Bretanha.
– A França fez algo semelhante. A reconstruir um "segundo" império
colonial em torno de uma Argélia altamente contestada, os sucessivos
regimes franceses apoiaram e aceitaram as conquistas na África Ocidental.
– Os anteriores movimentos transcontinentais de europeus e as
consequentes deslocações de populações locais, quer ligados à conquista,
Sistema quer à escravatura, não tinham a mesma aspiração de reformular a ordem
global.
internacional – A "primeira vaga de globalização moderna" impulsionada pela expansão
britânica assentou tanto em forças populares e não estatais como em forças
no séc. XX oficiais, apesar de o Estado ter desempenhado um papel de apoio
significativo ao patrocinar a emigração europeia para dentro do império.
– O transporte marítimo mais barato e mais rápido, a melhoria das
comunicações postais e telegráficas, os desenvolvimentos na imprensa, as
instituições religiosas e as organizações populares tornavam as colónias
estavam menos desligadas da terra natal.
– Os europeus não foram os únicos fundamentais para a edificação de impérios.
– Cerca de 14 milhões de trabalhadores contratados indianos e chineses que se
deslocaram em busca de emprego foram igualmente indispensáveis para o
funcionamento do capitalismo global.
– Estes emigrantes indianos e chineses contratados são um lembrete salutar de
que nem todos os processos de globalização tiveram origem na Europa.

Sistema – A concorrência entre impérios foi fundamental no início do século XX. O facto
de as redes imperiais francesas terem sido ofuscadas pelas suas congéneres
britânicas só veio reforçar a convicção imperialista de que a missão
internacional colonizadora devia ser prosseguida com mais fervor.

no séc. XX – Os restantes impérios Europeus, tal como o império português, seguem esta
mesma tendência.
– A economia e cultura política do mundo imperial britânico, francês e de outros
antes da Primeira Guerra Mundial pode ser vista como uma espécie de rede
global.
– As redes de migrantes ligavam os interesses da Europa Ocidental aos seus
contactos e comunidades coloniais. Era através delas que se trocavam ideias e
informações, se negociava confiança, se comercializavam bens e se viajava.
– A Primeira Guerra Mundial começou entre Estados europeus e estendeu-
se a todo o mundo.
– Foi a primeira guerra total moderna e industrializada, uma vez que os
beligerantes mobilizaram as suas populações e economias, bem como os
seus exércitos, e sofreram imensas baixas.
Sistema – O assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque
internacional Francisco Fernando, por um nacionalista sérvio, desencadeou a declaração
de guerra da Austro-Hungria contra a Sérvia. A aliança da Rússia com a
no séc. XX Sérvia e a aliança da Alemanha com a Austro-Hungria tornaram-se então
catalisadores de um conflito à escala europeia. A Alemanha temia uma
guerra em duas frentes, contra a França e a Rússia, e por isso atacou a
França em busca de uma vitória rápida. Esta ação não só fracassou, como
as obrigações do Tratado britânico para com a Bélgica levaram o Reino
Unido a entrar na guerra.
– As frentes ocidental e oriental da Alemanha continuaram a ser o lugar do
combate, embora o conflito se tenha estendido a outras partes do globo,
como quando e entrada do Japão na guerra em 1914.
– Mais importante ainda, os Estados Unidos entraram na guerra em 1917,
sob a direção do Presidente Woodrow Wilson.
– O derrube do czar e a subida ao poder pelos bolcheviques, com a
Sistema Revolução Russa em novembro de 1917, levou a Rússia (que viria a tornar-
se a URSS) a procurar a paz.
internacional – A Alemanha enfrentou uma nova ameaça com a mobilização da América.
no séc. XX Em 1918, Berlim aceitou um armistício.
– O Tratado de Versalhes de 1919 não conseguiu resolver os problemas da
segurança europeia e, ao reestruturar o sistema estatal europeu, criou
novas fontes de descontentamento e instabilidade.
– Os princípios da autodeterminação, defendidos nomeadamente por
Woodrow Wilson, não se estenderam aos impérios coloniais das potências
europeias.
– A Primeira Guerra Mundial vem alterar o panorama global, já que
enfraquece os impérios europeus e cria novas lógicas de dependência
financeira que antes não existiam.
– O facto de os britânicos e os franceses saírem da guerra dependentes
Sistema financeiramente dos Estados Unidos foi difícil de digerir.

internacional – A caraterística mais notável do período entre guerras foi o colapso


simultâneo do sistema político internacional e do sistema económico
no séc. XX internacional.
– As consequências deste colapso de dois gumes tornar-se-iam mais
evidentes quando a depressão de 1929-35 fez com que estes dois elementos
constituintes degenerassem na ascensão do nacionalismo económico, do
militarismo fascista e de uma nova corrida ao armamento.
– A ascensão de Hitler representou uma ameaça que os líderes políticos
europeus não tiveram capacidade e vontade de enfrentar, culminando na
eclosão da Segunda Guerra Mundial.
– O ataque alemão à União Soviética fez com que a guerra passasse a um
confronto alargado, em grande escala e bárbaro, com vista à vitória total.
– O ataque a Pearl Harbor levou a América à guerra na Europa e acabou por
Sistema forçar a Alemanha a enfrentar uma guerra em duas frentes (novamente).
– Franklin D. Roosevelt procurava cada vez mais envolver os Estados
internacional Unidos na guerra europeia, contra fortes forças isolacionistas.
no séc. XX – Quando a Alemanha e a Itália declararam guerra à América em apoio ao
Império do Japão, Roosevelt empenhou os EUA na libertação da Europa.
– Os aliados lançaram em 1944 uma "segunda frente" em França, para a
qual os soviéticos tinham feito pressão.
– A derrota da Alemanha em maio de 1945 ocorreu antes de a bomba
atómica ser produzida. A subsequente destruição das cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasaki continua a ser controversa.
– O colapso dos impérios coloniais europeus transformou o sistema
internacional que surgiu depois de 1945.
– Mais do que uma série de guerras sequenciais, os conflitos coloniais
estavam inter-relacionados e caracterizavam-se pela transmissão de ideias
e práticas de uma região para outra.
Sistema – O violento colapso colonial, em particular, foi um contágio político: a única
inevitabilidade do sistema internacional pós-Segunda Guerra Mundial.
internacional – O colapso do colonialismo europeu foi interligado e co-dependente.
no séc. XX – Foi um produto dos acontecimentos do século XX: a concentração
industrial e a depressão global, a guerra mundial, o comunismo e outras
ideologias anti-coloniais, o consumismo de massas e a atração da cultura
popular dos EUA.
– Os conflitos coloniais actuaram e reagiram à guerra fria, a outra crise do
sistema internacional que moldou a reconfiguração internacional no pós-
guerra.
– 1945-53: início da guerra fria
– O início da guerra fria na Europa reflectiu o fracasso da implementação
dos princípios acordados nas conferências de guerra de Ialta e Potsdam.
– A questão do futuro da Alemanha e de vários países da Europa Central e
Oriental, nomeadamente a Polónia, gerou uma tensão crescente entre os
antigos aliados de guerra.
Sistema – No Ocidente, crescia o sentimento de que a política soviética em relação à
Europa Oriental era guiada não por uma preocupação histórica com a
internacional segurança, mas por uma expansão ideológica.
no séc. XX – Embora a guerra fria tenha tido origem na Europa, os conflitos na Ásia e
noutros locais foram também cruciais.
– Em 1949, a guerra civil chinesa, que durou 30 anos, terminou com a
vitória dos comunistas liderados por Mao Zedong. Este facto teve um
grande impacto nos assuntos asiáticos e nas percepções de Moscovo e
Washington.
– 1953-69: conflito, confronto e compromisso
– A ideia de que o comunismo era uma entidade política monolítica
controlada a partir de Moscovo tornou-se uma fixação americana
duradoura.
– Os europeus ocidentais dependiam de Washington para a segurança
militar, e esta dependência aumentava à medida que se aprofundava o
confronto da Guerra Fria na Europa.
Sistema – O rearmamento da República Federal da Alemanha em 1954 precipitou a
internacional criação do Pacto de Varsóvia em 1955.
– O reforço militar de Washington e Moscovo continuou a bom ritmo,
no séc. XX criando concentrações sem precedentes de forças convencionais e
nucleares.
– O problema foi exacerbado quando a estratégia da OTAN continuou a
depender da vontade americana não só de combater, mas também de
iniciar uma guerra nuclear em nome da Europa.
– Na década de 1960, havia cerca de 7.000 armas nucleares só na Europa
Ocidental.
– A morte de Estaline, em 1953, apontava para mudanças significativas para
a URSS, tanto a nível interno como externo.
– A política de Nikita Khrushchev combinava a procura de uma coexistência
política com a continuação da confrontação ideológica. O apoio aos
Sistema movimentos de libertação nacional suscitou no Ocidente o receio de um
desafio comunista global.
internacional – As crises de Berlim, em 1961, e de Cuba, em 1962, marcaram os momentos
no séc. XX mais perigosos da guerra fria. Em ambas, havia o risco de um confronto
militar direto e, certamente em outubro de 1962, a possibilidade de uma
guerra nuclear.
– Com o fim da crise dos mísseis cubanos, desenvolveu-se, após 1962, um
período mais estável de coexistência e competição na guerra fria.
– 1969-79: a ascensão e a queda do desanuviamento
– Enquanto o envolvimento militar americano no Vietname se aprofundava,
as relações soviético-chinesas deterioravam-se.
– Nesta década foram lançadas as bases para o que ficou conhecido como
desanuviamento entre Moscovo e Washington, e para o que ficou
conhecido como aproximação entre Pequim e Washington.
Sistema – O desanuviamento na Europa teve origem na Ostpolitik do chanceler
internacional socialista alemão, Willy Brandt, e resultou em acordos que normalizam de
relações que reconheciam o estatuto de Berlim e a soberania da Alemanha
no séc. XX de Leste.
– O desanuviamento soviético-americano teve as suas raízes no
reconhecimento mútuo da necessidade de evitar crises nucleares.
– No entanto, em 1980, Ronald Reagan foi eleito presidente, empenhado
numa abordagem mais conflituosa com Moscovo em matéria de controlo
de armamento, conflitos no Terceiro Mundo e relações Leste-Oeste em
geral.
– 1979-86: "a segunda guerra fria
– O período de confronto entre as superpotências que se seguiu entre 1979 e
1986 foi descrito como a segunda guerra fria e comparado com o período
inicial de confronto entre 1946 e 1953. Tanto na Europa Ocidental como
na URSS havia o receio de uma guerra nuclear. Grande parte deste receio
foi uma reação à retórica e às políticas da administração Reagan.
Sistema – Alguns sugeriam que os Estados Unidos deveriam adotar estratégias
baseadas na ideia de que a vitória numa guerra nuclear era possível. A
internacional eleição de Reagan em 1980 foi um ponto de viragem nas relações
soviético-americanas.
no séc. XX – Durante o início da década de 1980, os soviéticos foram prejudicados por
uma sucessão de líderes políticos envelhecidos (Leonid Brezhnev, Yuri
Andropov e Konstantin Chernenko), cuja saúde debilitada inibia ainda
mais a política externa soviética.
– Esta situação mudou radicalmente depois de Mikhail Gorbachev se ter
tornado primeiro-ministro em 1985.
– O "novo pensamento" de Gorbachev em matéria de política externa,
juntamente com as reformas internas, criou uma revolução nas relações
externas de Moscovo e na sociedade soviética.
– A nível interno, a glasnost (abertura) e a perestroika (reestruturação)
desencadearam forças nacionalistas que provocaram o colapso da União
Soviética.
Sistema – Gorbachev procurou estabelecer acordos de armamento que ajudaram a
aliviar as tensões que tinham caracterizado o início da década de 1980.
internacional – Utilizou os acordos sobre armas nucleares para criar confiança e
no séc. XX demonstrar a natureza séria e radical do seu objetivo. No entanto, apesar
dos acordos sobre forças convencionais na Europa, o fim da Guerra Fria
marcou o sucesso do controlo de armas nucleares, não o desarmamento
nuclear.
– As histórias da guerra fria e das armas nucleares estão intimamente
ligadas. Embora a guerra fria tenha terminado, as armas nucleares ainda
estão presentes.
– As mudanças na política mundial do século XX foram muito substanciais.
– A ascensão da Alemanha nazi trouxe uma conflagração global e novos
métodos de guerra e de morte. A escala de danos e sofrimento foi sem
precedentes. As ideias nazis de supremacia racial resultaram em
brutalidade e assassínio em massa em toda a Europa e culminaram no
genocídio contra os judeus. Uma das consequências foi a criação de Israel,
que desencadeou conflitos que continuam a ter repercussões a nível
Sistema mundial.
– O período posterior a 1945 assistiu ao fim dos impérios europeus
internacional construídos antes e no início do século XX, bem como à ascensão da
guerra fria.
no séc. XX – A relação entre o fim do império e a guerra fria no Terceiro Mundo foi
estreita. Em muitos casos, resultou numa escalada e prolongamento de
conflitos.
– Do mesmo modo, a relação entre a guerra fria e a história nuclear é
estreita, embora problemática.
– Tanto a guerra fria como a era imperial terminaram, embora em todo o
mundo os seus legados - bons e maus, visíveis e invisíveis - persistam.
– O colapso do poder soviético na Europa Central e de Leste, seguido dois
anos mais tarde pelo fim da própria URSS, levou a profundas mudanças na
estrutura da ordem internacional.
– Inicia-se uma transição de um mundo de duas potências em equilíbrio - um
Sistema sistema bipolar - para outro um onde não havia equilíbrio - um sistema
unipolar – em que os Estados Unidos passariam a moldar quase
internacional completamente a política internacional.

no pós-guerra – Que tipo de política externa iriam os Estados Unidos seguir sem um único
inimigo para combater?
fria – Estas questões tiveram resposta com a eleição de Bill Clinton em 1992.
Apoiado por um eleitorado concentrado nos assuntos internos do país,
Clinton concentrou-se principalmente nas questões económicas,
relacionando a prosperidade interna à capacidade dos Estados Unidos para
competir no exterior.
– No pós-Guerra Fria, não só o povo americano estava relutante em intervir
no estrangeiro, como não parecia haver razão para os EUA se envolverem
em conflitos no estrangeiro.
– No entanto, como Clinton admitiu, os EUA não podiam retirar-se do
Sistema mundo. Pode ter havido pouca apetência para a intervenção militar,
especialmente após o desastre de 1993 na Somália, mas os EUA não
internacional estavam inactivos.
no pós-guerra – Clinton insistiu no alargamento da OTAN em direcção às fronteiras de
Rússia..
fria – Mais importante, permitiu que os Estados Unidos se concentrassem no
que melhor fazem: libertar o mercado interno e difundir os valores liberais
americanos no estrangeiro.
– A desintegração da URSS cria novas urgências:
– (i): o que fazer com o arsenal nuclear da URSS e como evitar que as armas
saíssem da antiga URSS;
Sistema – (ii), cerca de 25 milhões de russos passaram a viver fora da Rússia; os
internacional novos países independentes da ex-URSS tinham que estabelecer relações
com uma Rússia que achava quase impossível pensar na sua relação com
no pós-guerra Estados como a Ucrânia e a Geórgia em termos que não fossem imperiais.
– (iii) como fazer a transição de uma economia centralizada e planeada,
fria concebida para garantir o pleno emprego, para uma economia de mercado
competitiva, em que muitas das velhas indústrias que tinham sido o
alicerce da URSS (incluindo o seu enorme complexo militar-industrial) já
não eram adequadas ao seu objetivo.
– Devido à rápida adoção da privatização ao estilo ocidental, a Rússia uma
intensa depressão: a produção industrial a caiu a pique, a pobreza
aumentou substancialmente e regiões inteiras, outrora dedicadas à
produção militar, registaram níveis de desemprego elevados.
Sistema – A situação económica não mostrou sinais de melhoria com o passar do
internacional tempo. Em 1998, a Rússia viveu a sua própria crise financeira: aniquilou as
poupanças do cidadão comum e tornou o novo regime pós-comunista de
no pós-guerra Boris Ieltsin ainda menos popular. Um ano depois, decidiu demitir-se.
– Entra Vladimir Putin. A desintegração da URSS, dizia Putin, tinha sido a
fria maior tragédia do séc. XX. Não haveria mais concessões ao ocidente.
– A Rússia, insistiu, tinha que se afirmar com mais força - mais obviamente
contra aqueles que no Ocidente pensavam que podiam tomar a Rússia
como garantida.
– A Europa e, em particular, a Alemanha beneficiaram com o fim da guerra
fria.
– (i) um continente e um país que tinham estado divididos, voltavam a estara
unidos.
Sistema – (ii) os Estados da Europa de Leste conquistaram um dos mais importantes
direitos internacionais: o direito à autodeterminação.
internacional – (iii) foi eliminada a ameaça de uma guerra total com consequências
no pós-guerra devastadoras para toda a Europa.
– A passagem de uma ordem para outra não se fez sem conflitos, como a
fria desintegração da Jugoslávia (1990-9) revelou de forma trágica. No
entanto, uma nova Europa unida, com as suas fronteiras abertas e
instituições democráticas, carregava muito optimismo.
– A questão mais concreta de trazer o "Leste" para o "Ocidente", um
processo que se enquadrava na designação geral de "alargamento".
– Em 2007, a União Europeia tinha aumentado para 27 membros (e a NATO
para 26). Durante este processo, os dois organismos também mudaram o
seu carácter de clube.

Sistema – Para a crítica, o alargamento tinha sido tão rápido que o significado
essencial de ambas as organizações se tinha perdido: a UE estava tão
internacional empenhada em alargar que tinha perdido a vontade de integrar.
– Foi impressionante a capacidade de instituições que tinham ajudado a
no pós-guerra moldar parte da Europa durante a Guerra Fria, agora a ser utilizadas para
funções novas para gerir a transição entre ordens políticas diferentes.
fria – Os europeus desejaram uma Europa forte; no entanto, havia uma grande
relutância em entregar a Bruxelas poderes concretos no domínio da
segurança e defesa. Não estavam especialmente interessados em aumentar
a sua força colectiva investindo em hard power.
– Na viragem do século, a EU tornou-se um ator económico formidável, com
uma economia conjunta superior à dos EUA. E continuava a ser o seu
parceiro económico mais privilegiado (domínio económico do ocidente).

Sistema – A Europa deixou de ser o "poster child" da política internacional para


passar a parecer o doente do Ocidente?
internacional – Com a "crise do euro", a turbulência económica e política na Grécia, e
depois - de forma inesperada - da decisão do povo britânico, em 2016, de
no pós-guerra abandonar a UE, todo o projeto parecia estar sob grave tensão.
fria – Para agravar os problemas, a UE não parecia ter uma solução pronta para
talvez o maior desafio moderno de todos: como lidar com a livre circulação
de pessoas, tanto dentro como fora da própria Europa.
– Na Ásia, 1989 terminou com partidos comunistas no poder em pelo menos três
países importantes: Coreia do Norte, Vietname e China; várias disputas territoriais
por resolver, uma Coreia dividida e memórias do passado - em particular a agressão
japonesa antes de 1945 - ainda a azedar as relações na região.
– Isto não quer dizer que a Ásia não tenha sido afetada pelo fim da Guerra Fria: foi-o
mas a transição não foi em prol do liberalismo.
Sistema – A liderança chinesa, assistindo à desintegração da União Soviética, decide
abandonar a reforma política e impor um controlo ainda mais apertado a partir do
internacional centro (repressão na praça Tiananmen).

no pós-guerra – O progresso material alcançados na região desde o final da década de 1990, produto
de um modelo de desenvolvimento não democrático que recorre ao Estado
autoritário para impulsionar desenvolvimento económico.
fria – Embora a Ásia não seja institucionalmente rica e não disponha de organismos como
a OTAN ou a União Europeia, tem conseguido construir um conjunto importante
de organismos que proporcionam alguma forma de voz e identidade colectivas.
– A ASEAN é uma instituição mais flexível do que a UE, e o seu princípio subjacente
continua a ser o tradicional da soberania e da não interferência nos assuntos
internos de outros Estados soberanos.
– A chave da prosperidade na Ásia é a China. Até há pouco tempo, a ascensão da
China não parecia ser motivo de grande preocupação.
– A China não era como a Alemanha ou o Japão no período entre guerras, estava
satisfeita por crescer dentro do sistema liberal. A China também não procurava uma
confrontação com o ocidente: os EUA deveriam ser vistos como parceiros, não
Sistema inimigos.

internacional – Os desenvolvimentos no Mar do Sul da China, e a postura menos flexível da política


externa chinesa desde que Xi Jinping assumiu a liderança do país em 2013 -
lançaram sérias dúvidas sobre o papel da China no mundo.
no pós-guerra – Apanhados entre duas grandes potências - uma China que cresce em importância
fria económica e os EUA de quem dependem para a sua segurança - muitos países
asiáticos sentem-se agora numa situação sensível.
– A convicção da China de que tem direito a moldar a política asiática sem a
interferência dos EUA, o seu crescente poderio militar, a sua influência económica e
a construção de uma nova "Rota da Seda" que abranja toda a região tiveram
inevitavelmente um grande impacto em toda a região asiática.
A China no
mundo
– O sucesso económico da Ásia coloca uma questão ampla sobre o destino
dos países menos desenvolvidos no pós-guerra fria.
– A guerra fria teve um enorme impacto no sul global, da mesma forma que
as suas lutas políticas tiveram um impacto na guerra fria.

Sistema – Os movimentos de libertação eram animados por ideias diferentes e


utilizavam estratégias diversas para atingir os seus muitos objectivos. Mas
internacional todos estavam unidos por objectivos comuns: a emancipação e
independência, o desenvolvimento económico e a criação de sociedades
no pós-guerra onde a pobreza, a fome e o analfabetismo se tornassem memórias
distantes.
fria – Alguns novos governantes sucumbiram à tentação do poder e dos altos
cargos. Noutros países, a retórica da libertação foi ultrapassada por
conflitos e guerras civis.
– O pós-guerra fria é um período de grande incerteza e mudança política
nestes países e vastas regiões.
– As economias revelaram-se extraordinariamente ineficientes. Muitos
países menos desenvolvidos contraíram dívidas que os tornaram
vulneráveis a nova pressão económica ocidental. Com o fim da Guerra
Fria, caiu por terra a ideia de que o desenvolvimento liderado pelo Estado
Sistema oferecia um caminho melhor do que o mercado (contrário à experiência da
China!)
internacional – A implementação de reformas estruturais de estilo ocidental conduziu a
no pós-guerra uma maior desigualdade, a um declínio dos serviços públicos e ao
crescimento exponencial de formas de corrupção cada vez mais
fria desenfreadas.
– Os países menos desenvolvidos continuam a ser afectados pela dívida e
pela pobreza. No novo Sul Global, persistem ressentimentos contra o
Ocidente mais poderoso.
– A conexão entre a distribuição desigual da riqueza e do poder e o
terrorismo continua a ser uma questão em aberto. O que não suscita
dúvidas é o impacto que o 11 de setembro de 2001 teve na política
internacional.
– Se o fim da guerra fria marcou um dos grandes pontos de viragem nas
relações internacionais, o 11 de setembro marcou outro.
Sistema – No Médio Oriente, começa a guerra ao terrorismo, uma guerra que será
travada de forma substancialmente diferente daquele que mobilizava os
internacional meios de segurança e defesa desenvolvidos durante a Guerra Fria.
no pós-guerra – A política conservadora de Bin Laden apontava para uma era dourada do
Islão e não para algo moderno. No entanto, o método que usou para atacar
fria os EUA, utilizando aviões, vídeo para comunicar, recurso ao sistema
financeiro global para financiar operações dificilmente podem ser descritos
como não modernos.
– Implicava subterfúgio, canais informais e não estatais, operações secretas e
muita recolha de informação (intelligence and surveillance) – as armas
nucleares e os grandes exércitos não são a ferramenta ideal para o
combate ao terrorismo.
– Como a administração Bush reiterou constantemente, este novo perigo
significava que os métodos antigos, como a contenção e a dissuasão, já não
eram relevantes. Se este era o início de uma "nova guerra fria", era
improvável que fosse travada utilizando políticas e métodos aprendidos
entre 1947 e 1989.

Sistema – A forma como a administração Bush respondeu ao terrorismo


internacional revelou-se altamente controversa e também
internacional contraproducente. A metamorfose da guerra contra os Talibãs no
Afeganistão para uma guerra contra Saddam Hussein no Iraque acabou
no pós-guerra por ser um dos maiores erros estratégicos da época.
– Não só fez com que os EUA parecessem um Estado pária (rogue-state,
fria desafio a ordem liberal e suas instituições), como também desestabilizou
todo o Médio Oriente.
– Nem mesmo os críticos mais incisivos anteviram quão desastrosa seria a
resposta de Bush aos ataques de 11 de setembro: tornou o Irão uma
potência dominante na região e o terrorismo jihadista mais enraizado do
que nunca.
– Porque decidiu o governo Bush entrar em guerra no Iraque?
– A dependência dos EUA do petróleo e o desejo de manter acesso ao petróleo
no Iraque?
– O lobby de Israel em Washington?
Sistema – Uma estratégia imperial mais ampla para restaurar a credibilidade dos EUA
em todo o mundo após os anos Clinton?
internacional – Um problema herdado – um resquício da Guerra do Golfo de 1991, quando os
EUA entraram em guerra contra o Iraque sob o comando de George H. W.
no pós-guerra Bush, mas não removeram Saddam Hussein?

fria – Seja qual for o motivo – incluindo eliminar as inexistentes armas de


destruição maciça de Saddam – a guerra não serviu para criar uma
democracia estável e funcional no Iraque.
– Poucos anos após a invasão do Iraque em 2003, numa região já
sobrecarregada pelo intratável conflito árabe-israelita, teve lugar outro
acontecimento imprevisível nos assuntos mundiais: os povos de muitos
países do Médio Oriente começaram a desfazer-se dos seus governantes
autocráticos – a Primavera Árabe.
– Enquanto as revoltas de desenrolavam, assumiam também uma forma cada
vez mais sangrenta e perigosa, primeiro na Líbia, onde uma intervenção
liderada pela NATO criou um vácuo para o qual se deslocaram forças
desestabilizadoras.
– O Egito também passou sérias convulsões políticas.
– A situação na Síria piorou tragicamente. Em 2018, mais de metade da
Sistema população do país tinha sido deslocada, aproximadamente 3 milhões de
sírios tinham-se tornado refugiados e pelo menos 400.000 a 500.000
internacional tinham sido mortos.
– Para piorar a situação, uma nova e mais mortal forma de terrorismo
no pós-guerra começou a fazer sentir a sua presença na Síria e no Iraque, o Estado
Islâmico.
fria – As intervenções externas não ajudaram. Com o Ocidente hesitante entre
derrubar o regime de Assad e o desejo de destruir o Estado Islâmico, o
conflito incluiu vários outros actores – desde a Turquia, a Arábia Saudita e
os estados do Golfo, até à Rússia, ao Irão e ao Hezbollah – tornando-se um
conflito regional.
– Os conflitos que se manifestaram após a Primavera Árabe trouxeram
custos elevados e consequências profundos não só para a região como para
a Europa.
– A eleição de Barack Obama em 2008 foi um acontecimento muito
significativo.
– Seguiu-se a dois eventos importantes: a impopularidade crescente da
guerra no Iraque e a maior crise económica que os EUA enfrentaram
desde 1930.
– Se o primeiro desafio de Obama foi colocar os EUA novamente no
Sistema caminho da recuperação económica, o segundo foi restaurar a posição dos
EUA no exterior.
internacional – Os EUA foram obrigados a agir com mais cautela em partes do mundo que
não mais aceitavam a sua presença.
no pós-guerra – A principal contribuição de Obama para a política externa foi o repensar
fria da posição dos EUA no mundo.
– Se Bush tinha uma teoria do mundo, assente na visão então incontestada
de que o mundo era unipolar e os EUA podiam agir com um elevado grau
de impunidade, a análise de Obama foi completamente diferente.
– Ao aceitar que se avançava para um mundo “pós-americano”, Obama
concluiu que se os EUA quisessem manter a sua liderança neste ambiente
em rápida mudança, teriam de conceber políticas mais flexíveis.
– O poder económico já não era incontestavelmente ocidental, mas movia-se
para leste e para sul.
– Um mundo “BRIC” emergia, com actores económicos diferentes a
desempenhar um papel importante nos assuntos mundiais.
– Os EUA tinham (têm) duas opções: resistir a estas mudanças ou gerir e
liderar de forma a garantir a liderança dos EUA nos assuntos
Sistema internacionais.

internacional – Se a abordagem de Obama foi equilibrada e pragmática, o mesmo não


pode ser afirmado acerca de Donald Trump.
no pós-guerra – Hostil a tudo o que Obama tinha feito durante os seus dois mandatos,
Trump começou a atacar o que até então eram consideradas posições
fria estabelecidas na política externa americana: alterações climáticas eram um
mito; a NATO obsoleta; o ‘Brexit’, enquanto potencial desintegração da
Europa, positivo; Putin um líder com quem os EUA podem negociar; o
acordo nuclear com o Irão disparatado; a crítica a Israel uma traição a um
antigo aliado no Médio Oriente.
– Trump deixou claro que não procuraria reformar ou mudar os sistemas
autoritários, desde que esses países autoritários, como a Arábia Saudita e o
Egipto, permanecessem leais aos Estados Unidos.
– A retórica nacionalista de Trump e o desrespeito pelas formas tradicionais
de conduzir política externa valeram-lhe poucos aliados entre o
establishment liberal no seu país e os amigos democráticos na Europa.
– O apelo de Trump “Make America Great Again” teve um impacto
perturbador na política mundial.
– Talvez o desenvolvimento mais significativo na política mundial desde a
Sistema crise financeira de 2008 tenha sido a rápida ascensão de uma nova forma
de política nacionalista ou populista: uma política que identifica as elites
internacional metropolitanas como o problema, os imigrantes e refugiados como uma
ameaça e a globalização como um desafio à segurança económica.
no pós-guerra – O populismo tornou a eleição de Trump uma realidade e derrubou a
normalidade na União Europeia.
fria – Enquanto uns insistem que o populismo é impulsionado pelo aumento da
desigualdade e pela estagnação dos salários, derivado da globalização e
abertura da economia mundial, outros consideram que expressa um receio
entre os cidadãos de perderem o controlo de proteger o seu país de várias
ameaças.
– Contrariando os populistas internacionais, a economia mundial e o
movimento de pessoas e bens não se tornou menos global, pelo contrário.
– Para concluir:
– Quando a Guerra Fria terminou e a URSS se desintegrou, acreditou-se
numa nova era pacífica e próspera.
– No entanto, novas ameaças vieram substituir as antigas. E as antigas
rivalidades nunca desapareceram.
– A Europa continua a enfrentar imensos problemas. Os EUA foram
Sistema sugados para guerras que não podia controlar no Médio Oriente. Houve
uma grande crise económica em 2008 e parecia que o momento do
internacional Ocidente estava a chegar ao fim com a ascensão de novas potências – em
particular a China.
no pós-guerra – No entanto, é essencial não descartar o poder e influência do ocidente.

fria – Como um todo, o mundo ocidental ainda controla um conjunto formidável


de activos económicos, continua a dominar as principais instituições do
mundo e reivindica as melhores expressões de soft-power.
– Os Estados Unidos mantêm um enorme capacidade militar e podem
projectar poder de forma que nenhum outro Estado consegue. Ainda
representam quase 25 por cento do PIB mundial, têm uma liderança
tecnológica única sobre outras potências e imprimem a moeda mais
utilizada no mundo, o dólar.
– A polaridade de qualquer sistema regional ou global é uma função da
distribuição do poder material entre os principais Estados desse sistema.
– o âmbito atual da primazia dos EUA significa que o sistema internacional de
hoje é unipolar. Mas mesmo que o sistema internacional seja, em termos
materiais, unipolar, as características desse sistema são, em certa medida,
determinadas pela escolha política - a prática e a condução da política externa.
– As características sistémicas atribuídas à unipolaridade só funcionam se os
Sistema principais actores do sistema se comportarem como se residissem num sistema
unipolar.
internacional – A distribuição dos recursos materiais é, evidentemente, importante, mas
também o são as escolhas que os principais Estados fazem quanto à forma de
contemporâneo gerir a distribuição do poder. A estrutura influencia fortemente, mas não
determina, a condução da política.
– As mudanças na prática poderiam ter um impacto igualmente profundo nas
características do atual sistema internacional. Consideremos as possíveis
alterações à ordem de segurança prevalecente na Ásia Oriental. A China parece
estar a trabalhar gradualmente para se estabelecer como árbitro de uma nova
ordem regional, suplantando o arranjo centrado nos Estados Unidos,
construído por Washington após a Segunda Guerra Mundial.
– Ao longo da próxima década, mesmo que a primazia naval global dos
Estados Unidos permaneça incontestada, a China, através da
modernização da sua frota e do desenvolvimento de armamento anti-
navio, poderá ser capaz de compensar a superioridade dos Estados
Unidos nas suas águas regionais.
– Se os Estados Unidos perdessem a sua posição de centro estratégico da
região, a sua influência no Pacífico ocidental diminuiria
Sistema acentuadamente. A ordem global continuaria a ser unipolar, mas um
teatro estratégico fundamental deixaria de funcionar segundo as
regras da unipolaridade. Tal como a hegemonia britânica no Atlântico
internacional ocidental se evaporou ao longo de uma década, também a combinação
da expansão naval da China e do realinhamento estratégico poderia
contemporâneo minar a primazia dos EUA na Ásia Oriental.
– Se a Europa agregar de facto a sua vontade e os seus recursos - ou se
Pequim capitalizar a sua crescente capacidade de defesa para declarar
um equivalente da Doutrina Monroe para o Nordeste Asiático - a
estagnação geopolítica da unipolaridade revelar-se-á muito mais fugaz.
– A prática pode tanto alterar as características de um mundo unipolar
como determinar a duração da unipolaridade.
– Equilíbrio suave: Manobras e alinhamentos diplomáticos que
constrangem Washington, a formação de grupos institucionais que
excluem os Estados Unidos, apelos da elite ao sentimento popular
anti-americano - todos estes são exemplos de equilíbrio suave.
– O teste essencial do potencial constrangedor do soft balancing não é a
sua frequência ou prevalência, mas as suas consequências geopolíticas.
Se o soft balancing tem, em última análise, um efeito direto em
questões de paz e de guerra, então não deve ser considerado como uma
negociação "mundana".
Sistema – Uma Rússia fraca tem vindo a utilizar os instrumentos à sua
internacional disposição para se opor ao que Moscovo considera ser a repetida
intromissão dos EUA nos direitos soberanos de outras nações e nos
legítimos interesses de segurança da Rússia.
contemporâneo – Em 2007, o Presidente russo Vladimir Putin resumiu o seu
pensamento sobre a unipolaridade: "É um mundo em que há um
mestre, um soberano. E, no fim de contas, isto é pernicioso não só para
todos os que estão dentro deste sistema, mas também para o próprio
soberano, porque se destrói a si próprio a partir do seu interior".
Olhando para o futuro, Putin continuou: "Não há razão para duvidar
que o potencial económico dos novos centros de crescimento
económico global será inevitavelmente convertido em influência
política e reforçará a multipolaridade".
– Do ponto de vista de Moscovo, o alargamento da OTAN tem sido
uma questão de alterar o equilíbrio de poder na Eurásia.
Consequentemente, a Rússia tem procurado formar grupos de
compensação, incluindo o Conselho de Cooperação de Xangai e a
Organização do Tratado de Segurança Colectiva. A invasão da
Geórgia pela Rússia no verão de 2008 foi, pelo menos em parte, um
esforço para contrabalançar as incursões que os Estados Unidos
Sistema tinham feito no Cáucaso. Na verdade, a guerra representa um
episódio claro de equilíbrio "duro"; a Rússia invadiu um aliado dos
internacional EUA para restabelecer a influência de Moscovo na região.
contemporâneo – Se o Irão conseguir adquirir armas nucleares, em parte devido à
resistência russa à diplomacia ou à ação militar dos EUA, será
muito difícil afirmar que a política de Moscovo representa "um
desenvolvimento mundano e não digno de nota na política
internacional". As acções da Rússia podem ser sobretudo "suaves",
mas constituem certamente um equilíbrio e têm um impacto direto
e consequente na paisagem geopolítica da Eurásia.
– These examples focus exclusively on the costs to the United States
of its own failure to comply with the institutions and rules that
Washington took the lead in crafting after the close of World War
II. But in the aftermath of the global financial crisis that began in
2008 and amid the ongoing ascent of China, India, Brazil, and
other rising states, change in ordering norms may well be driven
Sistema by the preferences and policies of emerging powers, not by those
of the United States.
internacional – Moreover, the impressive economic performance and political
contemporâneo staying power of regimes that practice non-democratic brands of
capitalism—such as China, Russia, and Saudi Arabia—call into
question the durability of the normative order erected during
America’s watch. Well before emerging powers catch up with
America’s material resources, they will be challenging the
normative commitment to open markets and liberal democracy
that has defined the Western order.
– Muitos académicos argumentaram que "a posição global dos
Estados Unidos pode estar a enfraquecer, mas o sistema
internacional que os Estados Unidos lideram pode continuar a ser
a ordem dominante do século XXI".
– O Ocidente deveria "afundar as raízes desta ordem tão
profundamente quanto possível" para garantir que o mundo
continua a jogar pelas suas regras, mesmo quando a sua
Sistema preponderância material diminui.
internacional – Esta confiança na universalidade da ordem ocidental baseia-se, no
entanto, em ilusões sobre a trajetória provável das potências
contemporâneo ascendentes, que ao longo da história têm procurado ajustar a
ordem prevalecente de forma a favorecer os seus próprios
interesses.
– Presumir que os Estados em ascensão adoptarão prontamente as
normas ocidentais não é apenas irrealista, mas também perigoso,
prometendo alienar as potências emergentes que serão
fundamentais para a estabilidade global nos próximos anos.
– Acreditam que a preponderância dos EUA é tão duradoura que não
precisam de se preocupar com as orientações normativas das potências
emergentes. Mas os factos no terreno sugerem o contrário.
– A China é a segunda maior economia do mundo, detém enormes
quantidades de dívida dos EUA e está a reforçar a sua presença
económica e estratégica em muitos pontos do globo;
– O G-8 deu lugar ao G-20;
Sistema – O primeiro-ministro da Índia democrática apelou a "novas regras do
internacional jogo" a nível mundial e à "reforma e revitalização" das instituições
internacionais;
contemporâneo – O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial aumentaram o
peso dos votos dos países em desenvolvimento;
– O Conselho de Segurança das Nações Unidas está a sofrer uma
pressão crescente para alargar a voz das potências emergentes.
– Todos estes desenvolvimentos ocorrem à custa da influência e das
preferências normativas dos Estados Unidos e dos seus aliados
ocidentais.
– Uma fenda na armadura do Ocidente é a política interna dos Estados Unidos.
– Tal como as escolhas e práticas políticas na China, na Rússia ou na Europa
podem alterar as características da unipolaridade, também as escolhas políticas
nos Estados Unidos o podem fazer. Com o colapso do centro político
americano e a erosão do bipartidarismo em questões de política externa, a
política dos Estados Unidos pode revelar-se muito mais imprevisível e instável
do que nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial

Sistema – No entanto, o desafio desta década pode não ser o excesso de poder e
determinação dos EUA, mas uma América instável que se cansa dos fardos da
unipolaridade.
internacional – O facto de o unipolar defender automaticamente a unipolaridade.
contemporâneo – Mas no rescaldo das desgastantes guerras no Iraque e no Afeganistão e da
pressão económica e dos défices crescentes associados à crise financeira global,
os Estados Unidos podem perder algum do seu entusiasmo em servir de
guardião global de última instância.
– Democratas e republicanos estão divididos em questões que vão desde a guerra
no Afeganistão às alterações climáticas e ao controlo do armamento.
– Se for necessário chegar a um compromisso político, este pode muito bem
implicar uma estratégia de contenção mais modesta e menos dispendiosa.
– Os democratas e os republicanos estão divididos em questões que vão
desde a guerra no Afeganistão às alterações climáticas e ao controlo de
armamento.
– Se for necessário chegar a um compromisso político, este pode muito bem
implicar a elaboração de uma estratégia de contenção mais modesta e
menos dispendiosa.
Sistema – A grande estratégia dos Estados Unidos pode oscilar entre alternativas
internacional muito diferentes, consoante o partido que estiver no poder. Em termos
gerais, os republicanos favorecem o uso da força e evitam o
contemporâneo multilateralismo institucionalizado.
– Entretanto, os democratas favorecem o multilateralismo e o
empenhamento em vez do exercício da força.
– Mesmo que a unipolaridade persista, os seus efeitos internacionais podem
ser anulados pelas escolhas imprevisíveis que os americanos podem fazer
sobre quando e como utilizar o seu poder nacional.

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