Você está na página 1de 5

1.

Analise a importância do movimento das ideias do século XVIII no eclodir da revolução


francesa.

O movimento de ideias do século XVIII teve uma influência decisiva no eclodir da revolução
francesa e nos princípios que orientaram as mudanças revolucionárias. A ideia da liberdade e
da igualdade perante a lei, que não é ainda a igualdade social, a legitimidade de lutar contra os
privilégios, a defesa da "maior felicidade para o maior número" e do contrato que deve estar
na origem de todo o sistema de governo dos povos, o laicismo e o racionalismo, as buscas de
uma nova ordem social mais justa caracterizam esse movimento ideológico e repercutiram nas
transformações da revolução. Devem ser desenvolvidos estes tópicos, tendo pelo menos em
conta a obra de René Rémond, pp. 92-93.

Os factores de ordem intelectual e ideológica no século XVIII contribuíram muito para


a génese da revolução. No entanto, o que é retido dos escritos de Voltaire ou de
Montesquieu está consideravelmente afastado do que estes escreveram ou pensaram.
Constitui-se assim, no final do antigo regime, uma espécie de vulgata que recorre a
todos os filósofos e que é difundida muito para além do círculo dos leitores.
Paralelamente aos escritos, existe também o contributo dos precedentes e das
experiências. O da revolução americana propõe uma solução alternativa a uma parte da
opinião pública, que deseja uma renovação profunda, e para a qual as simples reformas
já não se afiguram suficientes. Sonha com uma refundição que se operaria na ordem e
na harmonia, com o assentimento, e até a iniciativa, do poder real.
Os principais factores que convergem para a revolução aliam a conjuntura e os factos
estruturais, associam o político ao social e explicam como, a partir de uma situação de
crise, movimentos de ideias puderam desencadear um processo irreversível. É a
conjunção de todas estas causas que origina o poder explosivo da revolução e nos
impede de a tomarmos por um simples acidente que sobreveio no devir de uma
sociedade.

2. Explique o que é o Terceiro Estado e os fatores da rebelião que germinavam no seu seio.

O Terceiro Estado é composto por vários estratos sociais, desde a burguesia, proprietária de
bens e enriquecida, à vasta massa dos sans-cullotes ou, como se diria em português, dos pés-
rapados, da arraia-miúda. Em comum têm o facto de terem o mesmo estatuto na sociedade de
ordens do Antigo Regime, que os esmaga com deveres e impostos e não lhes concede
quaisquer direitos. Por razões diversas, tanto a burguesia, como as classes populares urbanas e
os camponeses têm fortes razões de queixa contra o regime monárquico. As dificuldades de
abastecimento de pão e os impostos excessivos são os fatores que fazem eclodir a rebelião.

Foram eles que deram o sinal da desobediência e abriram a via para o processo
revolucionário. Se a monarquia tivesse sido mais forte, teria mantido os privilegiados na
ordem e conseguido impor as reformas que lhe eram ditadas. Não foi isso que se passou,
e todas as tentativas de reforma tropeçaram na resistência dos privilegiados. A inversão
vai mesmo mais longe: não só a monarquia não pôde impor-se, como se deixou
conquistar pelos privilegiados e perfilhou a sua causa. O conluio que é patente nas
vésperas da revolução entre o poder real e os privilegiados lançará a burguesia na
oposição revolucionária. Assim se explica o desvio de um movimento que, de
antinobiliárquico, se tornará antimonárquico, já que englobará a instituição régia na
animosidade que vota às ordens privilegiadas.
3. Demonstre a injustiça social do sistema fiscal do Antigo Regime, tomando em linha de
conta o texto de Albert Soboul.

Partindo dos elementos fornecidos pelo texto de Soboul sobre o sistema fiscal do Antigo
Regime, trata-se de mostrar sobre que camadas da sociedade recaem os impostos e de que
forma se foram multiplicando. O imposto direto, que recai sobre o rendimento dos plebeus, e
se desdobrou em talha, capitação e vigésimo, afinal sempre pago pelos mesmos grupos sociais.
Os impostos indiretos, que recaem sobre a circulação e o consumo, pagos pela burguesia
comerciante e os mais pobres, como no caso da odiada gabela. Os encargos desdobram-se em
régios, eclesiásticos e senhoriais e todos eles penalizam os rendimentos da plebe. Estes são os
tópicos para desenvolver na resposta.

4. Explicite a importância da crise financeira no eclodir da revolução.

A crise financeira foi um elemento fundamental para o eclodir da crise e da revolução. Por
causa dos problemas financeiros sucederam-se vários ministros e o rei viu-se obrigado a
convocar os Estados Gerais. A fraqueza do poder, incapaz de solucionar os problemas
financeiros, numa conjuntura de crise socioeconómica e de mudança de valores e de
mentalidades, foi o rastilho da revolução.

As causas financeiras da revolução têm a ver com o défice orçamental, que


desempenhou um papel nos acontecimentos, pois está na origem da convocação dos
estados gerais.
A situação das finanças era cronicamente deficitária devida à ausência de administração
financeira, a que se juntava a impotência da monarquia para suprimir os privilégios. A
situação é agravada pela guerra da América, que obriga a despesas consideráveis e
implica o recurso ao empréstimo. Por outro lado, as causas económicas são mais
importantes e mais duradouras e dizem respeito ao próprio regime da economia
francesa, isto é, ao modo de organização da produção da riqueza e da distribuição dos
bens.
Algumas dessas causas têm a ver com a conjuntura. Em 1789, a economia francesa
encontra- se numa situação difícil e atribui-se a responsabilidade à aplicação do tratado
de livre-câmbio assinado em 1786 com a Inglaterra. Nos anos de 1780, diversos tratados
de comércio e de navegação são assinados entre a França e os Estados Unidos, a
Inglaterra, a Suécia, vários países bálticos. Estes tratados têm em comum o facto de
alargarem as trocas e de reduzirem as barreiras alfandegárias, abrindo assim uma brecha
no sistema mercantilista que regulava as relações entre as economias nacionais. Este
tratado, denominado Eden, é mal recebido em França, onde os industriais e
comerciantes lhe atribuem a responsabilidade do seu marasmo. É difícil, à distância,
dizer até que ponto eram fundamentadas estas recriminações. Retenhamos que poderão
ter contribuído para o nascimento de um estado de espírito revolucionário, já que o
azedume dos produtores os afastava de um regime que tão mal os defendia.
Mais determinantes foram os factos estruturais, os ligados à organização da economia.
A França vive na fobia da escassez, na recordação das fomes e na apreensão do seu
retorno. As penúrias alimentares são mais de temer quando a população cresce mais
depressa do que a produção dos cereais. Entre 1715 e 1789 a população da França
aumentou em metade, sem que a agricultura francesa estivesse à altura desse este
excedente.
Desde o fim do reinado de Luís XIV, a economia da Europa conhece um movimento de
subida lenta de preços, que é, no conjunto, favorável à expansão da produção, pelo que
o século XVIII é, para alguns, um século de prosperidade. Mas, para quem se encontra
na posição de consumidor isso significa uma diminuição do poder de compra. A
conjunção da penúria e do contínuo aumento dos preços explica o descontentamento e o
nascimento de um espírito pré-revolucionário nessa porção da população,
principalmente nas cidades. O mesmo fenómeno enriquece os grupos que produzem e
vendem.
É ainda necessário dizer algo sobre o sistema das corporações que participa na
organização jurídica e institucional da sociedade. Na verdade, em numerosos ramos de
actividade, o trabalho é regulamentado, e só se pode exercê-lo na condição de se
pertencer a uma corporação, que regula a produção. O progresso técnico, a acumulação
dos capitais, o nascimento de novas formas de indústria, a formação de uma classe de
negociantes, concorrem para tornar caduca esta organização.

5. Caracterize as principais etapas do processo revolucionário, de 1789 a 1802.

A síntese das etapas da revolução discrimina os principais momentos desse processo, mas para
compreendê-lo não basta a leitura da cronologia e do manual. Deve consultar uma história da
revolução francesa acessível, nomeadamente a citada obra de Albert Soboul.

6. Analise as transformações políticas e administrativas decorrentes da obra da Assembleia


Constituinte (1789-1791).

A Assembleia Constituinte foi responsável pela Declaração dos Direitos do Homem e do


Cidadão, por uma Constituição liberal, pela implantação dum sistema eleitoral censitário, com
a famosa divisão em cidadãos ativos e passivos, pela reestruturação administrativa e a
descentralização. Estes aspetos devem ser analisados para responder à questão.
Com a Constituinte, a revolução recorre à eleição para a escolha dos representantes da
nação: para a nomeação das administrações; para a justiça - os magistrados são
escolhidos por via electiva por tempo limitado; para o próprio clero - a constituição civil
do clero previa que os bispos e curas fossem escolhidos pelos eleitores. A eleição torna-
se o processo universal de designação. Mas, se o campo de aplicação da eleição é
universal, só uma pequena parte dos cidadãos tem direitos políticos A Assembleia
Constituinte ataca o absolutismo monárquico, denunciando-lhe os aspectos arbitrários, e
todo o aparelho administrativo da monarquia. Mas as administrações municipais e
departamentais, compostas por membros eleitos, administram-se sem controle dos
representantes do Estado. É a experiência mais profunda de descentralização que a
França conheceu, mas, realizada em plena crise, gera a anarquia. O poder central não é
obedecido e o governo revolucionário, apoiado na montanha, restabelece a
centralização.
As sociedades, filiadas no clube dos jacobinos, constituem uma segunda administração
que controla a primeira, denuncia os funcionários ineficazes, substitui-os. Este aparelho
centralizado, que funciona eficazmente, é um dos artífices da vitória.

7. Discrimine as medidas tomadas em relação à Igreja pela Assembleia Nacional e as reações


do Vaticano.

A Assembleia Nacional estabeleceu a Constituição Civil do clero e pôs à disposição da nação os


bens do clero, suscitando fortes reações da Igreja francesa e do Vaticano. A subordinação do
clero ao Estado e a laicização do poder não agradaram à hierarquia da Igreja. Estes tópicos
devem ser desenvolvidos na resposta, com base no manual, pp. 112-113.

A ruptura progressiva entre o catolicismo romano e a revolução explica muitas


peripécias e também alguns insucessos da revolução. Ao secularizarem as instituições,
os revolucionários são levados a tomar medidas radicais. O clero perde o seu estatuto,
os seus privilégios: o registo civil é transferido para as municipalidades, os seus bens
são confiscados, as ordens religiosas dissolvidas e o próprio culto é muitas vezes
entravado. Pela primeira vez as sociedades modernas fazem a experiência de uma
separação radical entre o religioso e o político, entre as igrejas e o poder público.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_Civil_do_Clero

8. Caracterize do ponto de vista político e social o governo revolucionário, liderado pelos


Montanheses ou Jacobinos. P9 word tema1

É o governo duma pequena-burguesia radical que elimina à esquerda e à direita os seus


adversários de forma cruel, num período de "grande terror". As medidas políticas são as mais
democráticas, no sentido em que se preocupam com uma maior igualdade social A revolução
instaura como prática a igualdade civil. Todos os franceses têm desde então os mesmos
direitos civis e também as mesmas obrigações É o fim dos privilégios, os próprios
títulos são abolidos e as distinções sociais suprimidas. A igualdade perante a lei e a
justiça significa a supressão de todas as justiças senhoriais, municipais, eclesiásticas. e
consagram o direito à assistência pública, ao trabalho e à instrução. O sufrágio é alargado a
todos os homens e a soberania popular . A eleição torna-se o processo universal de
designação. Mas, se o campo de aplicação da eleição é universal, só uma pequena parte
dos cidadãos tem direitos políticos.
. No campo administrativo, a política jacobina e montanhesa é centralizadora, como reação ao
federalismo dos setores conservadores.

9. Exponha as causas do processo da rutura das colónias espanholas e da colónia portuguesa


em relação às respetivas metrópoles. As causas são múltiplas, mas convém destacar o papel
dos crioulos desejosos de tomar o poder, numa sociedade que conserva o elitismo e a mania
das origens aristocráticas. A crise política na Península Ibérica, por causa das guerras
napoleónicas, determinou uma ausência da Espanha e a fuga da família real portuguesa para o
Brasil. Se neste último o processo da independência foi pacífico e se fez por uma transição de
poder de pai para filho, dentro da família real portuguesa, no caso dos outros países da
América Latina desencadearam-se guerras civis, com consequências nefastas na economia e
até no crescimento demográfico. Por isso, Pierre Chaunu fala do "tempo das catástrofes". A
guerra civil opôs lealistas e patriotas, destacando-se como líderes independentistas Bolívar e
San Martín. A intervenção inglesa a favor das independências e do controlo dos mercados
latinoamericanos foi decisiva. Os novos Estados fragmentaram-se e iniciaram os conflitos por
causa das fronteiras. Veja sobre este assunto a obra de Pierre Chaunu indicada, pp. 190-236.

10. Analise o problema das divisões raciais da população do continente americano e a


importância dos crioulos na estrutura social da América Latina.

Os brancos dominam na América do Norte, E.U. e Canadá. Os mestiços estão em maioria na


América Central e Sul. Os índios, apesar das chacinas, ainda são dominantes no México, na
América Central, na Argentina e Bolívia. Os negros só são maioritários, em 1820, no Brasil, nas
Antilhas, Cuba e Porto Rico, países de grandes plantações e de prática do esclavagismo até
bastante tarde. Os negros têm peso também na sociedade dos E.U. A mestiçagem e o
fenómeno do crioulo são uma característica das sociedades latino-americanas.

A população é compósita. No cimo da escala, os crioulos, descendentes directos dos


conquistadores e dos que se lhes seguiram, e que constituem uma aristocracia que
possui as riquezas, os grandes domínios explorados por uma mão-de-obra servil
Mais abaixo encontram-se os mestiços, produto da miscigenação dos brancos e, por fim,
na base da pirâmide, cerca de 10 milhões de índios que descendem das populações
autóctones.
Trata-se de uma população mal assimilada, superficialmente evangelizada, que se
mantém fiel às suas crenças. Esta massa índia fornece a mão-de-obra para a exploração
das terras e das minas. É preciso acrescentar à margem, sobretudo no Brasil, a mão-de-
obra negra trazida pelo tráfico de escravos, que, em 1800, são já meio milhão. A
América do Norte está ainda mais vazia, pois conta somente cerca de 60 000 franceses,
pouco mais de I milhão de britânicos e escandinavos nas colónias inglesas e 1 milhão de
índios, na sua generalidade nómadas, que vivem da caça ou da pesca.

Os impérios espanhol e português foram afectados pelas repercussões da Revolução


Francesa e da independência americana. O movimento de independência dos dois
impérios é quase exclusivamente obra dos colonos (excepto no México, onde os índios
desempenham um papel activo). O ressentimento dos crioulos em relação aos espanhóis
ou aos portugueses vindos da metrópole, que monopolizam os altos cargos do clero e do
governo, faz lembrar o descontentamento da burguesia francesa com a reacção
nobiliárquica.
Por outro lado, os crioulos começam a achar pesado o jugo da metrópole e o sistema do
exclusivo do pacto colonial institui entraves que os constrangem. A influência da
Europa e a irradiação das ideias filosóficas contam-se entre as causas de ruptura. Com
efeito, numerosos crioulos são instruídos, frequentaram universidades, leram os
escritores franceses ou britânicos; alguns filiaram-se na maçonaria ou combatem
nas fileiras do exército francês. Todos estes americanos sonham imitar o exemplo dado
pela França revolucionária e pelos insurrectos da América do Norte. Mas estas causas
não teriam certamente produzido todos os seus efeitos sem os acontecimentos da
Europa, pois é da ocupação da Península Ibérica pelos exércitos napoleónicos que
provém a independência das colónias espanholas e portuguesa.

Você também pode gostar