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Diploma de
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9,00
Nas sociedades em que vive a
diáspora africana, a desigualdade
racial é uma constante.
No Brasil, o cruzamento entre
experiências locais e circulação glo-
bal de valores rendeu, na primeira
metade do século XX, a adaptação
da eugenia como meio de inter-
pretar a nação e de guiar crescen-
tes intervenções do Estado sobre
a sociedade.
Em outras partes do mundo, o Diploma de brancura
eugenismo “extirpava” grupos con-
Ssiderados inferiores. No Brasil, pre-
tendia “salvá-los”.
A nova concepção não abando-
nou antigas hierarquias de raça e
de classe. Ao contrário, renovou-as
com respaldo científico e inspirou
medidas que pretendiam redimir o
“degenerado”.
Este livro analisa a aplicação
dessa concepção nas políticas de
expansão e reforma educacional no |
Rio de Janeiro e revela um paradoxo
essencial: por um lado, a lógica eugê-
nica muniu os promotores do ensino
com ferramentas para universalizar a
educação; por outro, instalou práti-
:
é casevalores que reproduziam a desi- d
gualdade racial e social. As tensões
decorrentes desse quadro revelam a
complexidade, a presença constante
e a centralidade da questão da raça
na educação.
Diretor- Presidente
José Castilho Marques Neto
Editor-Executivo
Jézio Hernani Bomfim Gutierre
Longo Mortat
osdrio
Maria Encarnação Beltrão Sposito
Maria Heloísa Martins Dias
Mario Fernando Bolognesi
Paulo José Brando Santilli
Roberto André Kraenkel
Editores-Assistentes
Anderson Nobara
Denise Katchuian Dognini
Dida Bessana
Tradução
Claudia Sant'Ana Martins
UNIDADE - IFCH.
Nº CHAMADA &D10.4)
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1652
PROC. 25 UtUX/ 08
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prREÇO R$ 12/09
: DATA EIEEITA
* UNICAMP Éditora
N.º CPP
NESP
“n18 1D SONG Biblioteca - IFCH
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Editora afiliada:
Introdução
Educando o Brasil
Educação elementar
Bibliografia
an izam
focalizam temas tão diversos q quanto a
gama de organizações que nas na o A declaração do sociólogo-presidente marcou o início de novas
:expressão cul tural afro-brasileira, a organização comunitária
| em fa-
políticas públicas de integração; foi também resultado de anos de
las. bairros de periferia, e remanescentes de quilombos, ou os di-
velas, militância, como a campanha do Censo de 1990 que pediu ao públi-
reitos da mulher negra. Afro-brasileiros têm conquistado espaços que co “Não deixe sua cor passar em branco”. O objetivo dessa campa-
a história lhes tem negado, como a indicação do juiz Joaquim Bar- nha, como o do slogan “100% Negro”, era criar uma identidade negra
bosa para o Supremo Tribunal Federal. A cultura popular também
no lugar de práticas de autodefinição difusas, a qual respondesse à
vem mudando, a exemplo da popularidade do hip hop, ea crescente
realidade de que a maior parte dos recursos e das recompenas sociais
visibilidade de negros na televisão e na propaganda. recai sobre os brasileiros mais brancos. Sua lógica era de que tal
Já em 1995 e 1996, quando a pesquisa de doutorado que gerou este solidariedade racial promoveria diversos objetivos, desde as repara-
livro foi realizada, movimentos sociais conquistavam visibilidade por ções aos descendentes de escravos exigidas pelo Núcleo de Cons-
meio de campanhas como a do “100% Negro”. Lembro também minha ciência Negra da USP, até programas de cotas nas universidades, e
surpresa quando, sentado em um barzinho assistindo à televisão, o Jornal o anseio do grupo AfroBrás de criar uma universidade afro-brasilei-
Nacional mostrou a imagem de meu orientador, Thomas Skidmore,
ra-a Universidade de Cidadania Zumbi dos Palmares.
entre os participantes de um encontro nacional sobre desigualdade racial Depois do encontro nacional, autoridades federais e estaduais
convocado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Naquele
desenvolveram novas medidas de inclusão, começando com a cria-
instante, não percebi que esse encontro seria um grande passo na
ção de um Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da
transformação da maneira pela qual políticas públicas, especialmen-
População Negra (GT). Essa entidade promoveu a contratação de
te educacionais, abordavam questões raciais na sociedade brasileira,
afrodescendentes nos ministérios federais. O Itamaraty, por exem-
O evento marcou o primero momento em que um chefe de Es-
plo, teve um único embaixador que se identificava como negro, e ele
tado brasileiro reconhecia publicamente a existência
de discrimina- não era diplomata de carreira, foi indicado por Jânio Quadros como
ção racial no Brasil. Paulo Sérgio Pinheiro, secre
tário de Estado dos o primeiro embaixador brasileiro em Gana. O presidente ganense,
Direitos Humanos, explicou:
Kwame Nkrumah, se diz não enganado, mas a verdadeira prova de
democracia racial no Brasil teria sido a indicação do embaixador negro
para um país como a Suíça.
Desde logo, discussões sobre a implantação de cotas universitá-
rias geraram controvérsia, mesmo no interior do governo. Enquanto
o ministro da Justiça, José Gregori, defendia uma cota para negros
de 20% nas universidades brasilieras, o ministro da Educação, Paulo
Renato de Souza, declarava a medida inadiministrável. Essa diver-
gência de opiniões rapidamente se transferiu para as universidades,
à medida que algumas delas começaram a implementar programas
de cotas.
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CURA
12 DIPLOMA DE BRAN PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
13
mim
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PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA 15
BRANCURA
14 DIPLOMA DE
tico. Jeffrey Lesser leu numerosas versões deste texto, sempre le-
Ao “ “
que visava ao aper-
. : e do pensamento eugênico,
j ses cientif;
Foi o período aug elas intervenções científicas, vantando perguntas difíceis.
: " do dos seres humanos P
feiçoamento por in- Estrangeiros realizando pesquisas no Brasil dependem da exten-
Não pretendo julgar esses indivíduos
médicas e cu lturais. como essas sa boa vontade de intelectuais e instituições brasileiras, que sempre
rrente s de sua época, mas entender
terpretar as idéias co es que são acolhedoras. O CPDOC da Fundação Getúlio Vargas ea IUPERJ
prácti cas e influenciaram as instituiçõ
idéias penetraram suas receberam-me como pesquisador visitante. José Murilo de Carva-
eles criaram.
to racial ocupou lho, Clarice Nunes e José Baia Horta ofereceram orientações básicas
Na primeira metade do século XX, o pensamen
pública. Um que viabilizaram este projeto. Monica Grin, Peter Fry e Yvonne
papéis explícitos e implícitos na elaboração da educação
nava as Maggie da IFCS/UFR]J, e Marcos Chor Maio, Gilberto Hochman
número restrito de cientistas, intelectuais e médicos domi
e Nísia Trinidade Lima da Fiocruz têm mantido anos de diálogo que
decisões sobre a educação, e as práticas que criaram refletiram e
afinou muito a perspectiva desta análise. Devo dizer o mesmo de
reproduziram as desigualdades vigentes em sua sociedade. No final
Diana Vidal, Heloísa Helena Pimenta Rocha e outros integrantes da
do século, outra corrente de pensamento racial prevalece nas políti-
Sociedade Brasileira de História de Educação. Todos têm minha
cas educacionais. Essa corrente mostra-se mais complexa, e tem sido
profunda gratidão. Wilson Choeri, Aloysio Barbosa e Carolina
debatida mais amplamente na sociedade. Em primeira instância,
Cortês-Brasílico contribuíram para a leitura da história do Colégio
educadores imaginavam que as pessoas seriam patológicas e as ins-
tituições públicas poderiam saná-las. Em segunda instância, a per- Pedro II. Paulo Elian, no Arquivo Geral da Cidade, e Leonora Gama
cepção é de que as instituições são patológicas, embora existam de Almeida, bibliotecária do Instituto de Educação, ajudaram a
divergências sobre as medidas que poderiam resolver o problema. O encontrar material riquíssimo.
que permeia as duas épocas é a permanência da desigualdade racial Parte do projeto foi desenvolvida quando fui professor visitante
como traço marcante não apenas no Brasil, mas em todas as socie- na Universidade de São Paulo em 2000, e na Pontifícia Universida-
dades tocadas pela diáspora africana. de Católica do Rio em 2005. Na USP, agradeço o apoio de Laura de
Espero que este texto contribua para tais discussões, mediante o Mello e Souza, Maria Helena Machado, Lygia Prado e Luis Felipe
Silveira Lima. Na PUC, agradeço o apoio de Angela Paiva, Marco
po ao o ma
cone formas pelas quais percepções racialmente discriminatórias
Antonio Pamplona e Karl-Erik Schallhammer. Agradeço também o
originou-se como uia e ê que as inspiraram. O presente livro esforço e a dedicação de meus editores na Duke University Press,
no decorrer doslmgoe a e outourado na Brown University, e Valerie Milholland, e na Editora da Unesp, Jézio Gutierre. Agrade-
ço a Universidade da Carolina do Norte em Charlotte pelo subsídio
que produziram a tese e depois o livro,
oram acumuladas
) fi ndas dí ida SC
à tradução do livro para o português. Além dos agradecimentos pro-
tem apoiado (o) projet
E reci
o. os fissionais, devo reconhecer que trabalhar como estrangeiro em qual-
orientador, Thomas Preciso em primeiro lugar agradecer a meu
Skid quer país é um desafio, e é um desafio amenizado pela amizade e
profundos. Ti
generosidade de outros, tantos que não dá para mencioná-los aqui.
Mesmo assim, obrigado.
eee
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ANCURA
16 DIPLOMA DE BR
ina Maurício
O autor da carta, o professor da faculdade de medic Sobral Pinto inverteu o argumento de Medeiros de que as freiras
de Medeiros atribuiu o ato de racismo ao fato de as freiras serem
estrangeiras estavam introduzindo acusações de racismo em uma
descendentes de alemães — “patricia de Hitler”. Ele argumentou que sociedade brasileira que muitos afirmavam ser uma democracia ra-
Nosso país nunca teve preconceitos de tal especie... Filhos de cial, livre de intolerância e discriminação. Em vez disso, sugeriu que
as freiras estavam tentando contornar o racismo já presente na socie-
indios têm atingido em nosso país posições de destaque e o respei-
to de seus contemporaneos, como entre outros, esse grande militar dade brasileira, racismo que ele comparava à intolerância racial nos
e homem de inteligencia, que é o general [Candido] Rondon. Estados Unidos. Além disso, Sobral Pinto sugeriu que Medeiros
deveria ser mais sensível ao “nacionalismo exaltado”, já que o pró-
Acrescentou que, entre a mistura de raças que caracteriza o Bra- prio Medeiros fora vítima da intolerância quando preso durante a
sil, quando os traços indígenas são mais visíveis, “é com certo or- repressão anticomunista de 1936 pelo regime ainda no poder. Sobral
gulho que descobrimos qualquer vaga mistura de indio, para nos Pinto lembrou aos leitores que Medeiros fora apontado como um
dizermos caboclos”. “agente direto de doutrinas desrespeitadoras da personalidade histó-
Alguns dias depois, um aliado católico das Irmãs de Notre Dame, rica do povo brasileiro”, preso e perdera “injustamente” seu cargo
o ilustre advogado Heráclito Fontoura Sobral Pinto, respondeu às de professor na Escola de Medicina do Rio de Janeiro.
acusações de Medeiros. Sobral Pinto explicou que as freiras não eram A história tornou-se sensação na imprensa. A cobertura do caso
alemãs, e sim polonesas, e haviam fugido do nazismo e, portanto, propagou-se pelos jornais da cidade, do Diário Carioca ao Diário de
abominavam o racismo. E, como não eram racistas, as freiras “'se Notícias, Folha Carioca, Jornal do Comércio e O Globo.* Mais do que
entristecem com este escrúpulo dos pais brasileiros e norte-ameri- isso: esses jornais começaram a reproduzir as cartas ao editor publi-
canos”. Em sua opinião, as freiras não discriminaram a menina, mas cadas nas páginas de seus competidores. O que estava em jogo não
tinham medo de que as crianças brancas o fizessem: “as religiosas era apenas a questão de Jacyra ter sido ou não vítima de discrimina-
não fazem distinção de cor e nem de raça. Mas, que em relação às ção, mas se o racismo era uma entidade estrangeira ou nativa - eram
outras alunas do Colégio, elas não poderiam garantir que a mesma os brasileiros racistas? Cartas como a de Doraci de Souza davam suas
cousa não acontecesse”. Elas pediram que a menina comparecesse opiniões, criticavam as freiras por se esconder por trás da imagem de
diante da diretora brasileira, que avaliou a aparência dela segundo os suas alunas racistas: “Mas a função de um colegio, maximé de um
“preconceitos existentes em muitos setores da nossa sociedade”. Para colegio católico, é educar seus alunos nos principios cristãos”.º
“proteger” a menina, a escola negou-lhe a admissão e ofereceu-se
para matriculá-la em outra escola dirigida pelas freiras “onde
são
recebidas meninas de todas as cores” 3
Carta de Sobral Pinto ao arcebispo D. Jayme de Barros Câmara, 20 de
2 março de 1944, Arquivo Gustavo Capanema, CPDOC, Relacionamento
; Caboclo é definido como uma pessoa
de asce: ndência mista indígena e européia. Estado-Igreja Católica 39.05.25 (0033).
SOBRAL PINTO, H. Uma injusti SOUZA, D. de. Colégios estrangeiros. O Globo; republicado em Diário
ça a reparar. Diário Carioca, 12 mar.
1944, p.9. Carioca, 11 mar. 1944, p.4.
ciados pela ideologia racial em três formas gerais. Primeiro, basea- aidentidade burguesa atrela-se a noções de ser “europeu” e ser “bran-
ram-se cm séculos de dominação por uma casta de colonizadores co” e como as prescrições sexuais serviam para assegurar e delinear
curopeus brancos e seus descendentes, que mandavam em seus es- cidadãos autênticos, de primeira classe, do Estado-Nação.'*
cravos, povos indígenas e indivíduos de ascendência mista. Durante
RD
séculos, essa elite branca também recorreu à Europa no empréstimo Nas sociedades analisadas por Stoler, a brancura era um bem
de cultura, idéias c autodefinição. Segundo, embora esses intelec- ameaçado de extinção e funcionários coloniais se preocupavam com
tuais e formuladores de políticas tivessem se tornado cada vez mais a tarefa de preservá-lo. Para as elites brasileiras, o problema era ainda
criticos em relação a essa herança (indo até o ponto de celebrarem a mais imperativo — elas acreditavam que sua nação racialmente mista
mistura racial), invariavelmente vinham da elite branca e permane- carecesse da brancura necessária para manter a vitalidade. A tarefa
ciam presos a valores sociais que, depois de séculos de colonialismo em mãos, então, era encontrar novas formas de criar brancura. As-
e dominação racial, continuavam a associar a brancura à força, saúde sim, dotados da incumbência de forjar um Brasil mais europeu e
e virtude — valores preservados e reforçados por meio da deprecia- presos a um senso de modernidade vinculado à brancura, esses edu-
ção de outros grupos. Terceiro, como criaram políticas educacio- cadores construíram escolas em que quase toda ação e prática esta-
nais em busca de um sonho utópico de um Brasil moderno, belecia normas racializadas e concedia ou negava recompensas com
desenvolvido e democrático, sua visão era influenciada pelos signi- base nelas.
ficados que atribuíam à raça. Para os educadores brasileiros e sua geração intelectual, raça não
Os chamados pioneiros educacionais do Brasil transformaram era um fato biológico. Era uma metáfora que se ampliava para des-
as escolas públicas emergentes em espaços em que séculos de crever o passado, o presente e o futuro da nação brasileira. Em um
suprematismo branco-europeu foram reescritos nas linguagens da extremo, a negritude significava o passado. À negritude era tratada
ciência, do mérito e da modernidade. As escolas que eles criaram em linguagem freudiana como primitiva, pré-lógica e infantil. Mais
foram projetadas para imprimir sua visão de uma nação brasileira amplamente, as elites brancas equiparavam negritude à falta de saúde,
ideal, naquelas crianças sobretudo pobres e não-brancas que deve-
à preguiça e à criminalidade. A mistura racial simbolizava o proces-
rea
riam ser a substância daquele ideal. O papel da raça nesse processo
so histórico, visualizado como uma trajetória da negritude à brancu-
lembra a descrição de Ann Stoler do pensamento racial nas colônia
s ra e do passado ao futuro. Na década de 1930, os brasileiros brancos
européias, em que
podiam celebrar a salvo a mistura racial porque a viam como um
passo inevitável na evolução da nação. A brancura encarnava as vir-
o cultivo de um “eu” europeu ... era afirmado na
proliferação de tudes desejadas de saúde, cultura, ciência e modernidade. Educado-
discursos a respeito de pedagogia, educação famili
ar, sexualidade res que iam desde o ministro da Educação e Saúde Gustavo Capanema
infantil, criados e higiene tropical: micro-sítios
em que “caráter”,
“boa linhagem” e educação adequada
eram implicitamente rela-
cionados à raça. Esses discursos fazem 2 STOLER, A. Race and the Education of Desire: Foucault's “History of
mais do que prescrever um Sexuality” and the Colonial Order of Things. Durham: Duke University
comportamento adequado; eles localiza
m quão fundamentalmente Press, 1995. p.11.
categoria social (em vez de biológica).'” Em razão da cor de sua pele ca. Além disso, a brancura transmitia um senso racial de saúde, vigor
ou de suas origens étnicas, os indivíduos tendiam a se encaixar em e superioridade darwiniana. À brancura era também, contudo, a
determinada categoria racial, mas essas categorias eram elásticas. Na ausência de negritude, que era uma afirmação negativa de virtude
virada do século, as elites brasileiras, seguindo a moda do determi- racial semelhante à desenvolvida nos Estados Unidos e exemplificada
nismo racial na Europa, adotaram prontamente a crença científica pela declaração de Malcolm X de que “homem branco, como empre-
racista de que os brancos eram superiores e as pessoas de ascendên- gado comumente, significa compleição apenas secundariamente;
cia negra ou mista eram degeneradas. Mas, por volta da segunda primeiro o termo descreve atitudes e ações. Nos Estados Unidos,
década do século XX, as mesmas elites começaram a tentar escapar “homem branco” significava atitudes e ações específicas para com o
da armadilha determinista que prendia o Brasil ao atraso perpétuo homem negro e todos os outros homens não-brancos”.!º
por causa de sua vasta população não-branca. Em substituição, abra- Estudos realizados por David Roediger, George Lipsitz e outros
çaram a noção de que a degeneração era uma condição adquirida —e, têm explorado o modo pelo qual a negritude ea brancura nos Estados
portanto, remediável. A negritude ainda conservava todas as suas Unidos têm funcionado como construções separadas, mas constru-
conotações pejorativas, mas os indivíduos podiam escapar à catego- ções que se reforçam mutuamente. Citando Ralph Ellison, Roediger
ria social da negritude por meio da melhoria de sua saúde, nível de argumenta que a brancura só adquiriu significado em virtude da
educação e cultura, ou classe social. Inversamente, os brancos podiam existência da negritude: “os brancos sulistas não sabem andar, falar,
degenerar por meio da exposição à pobreza, vícios e doenças. Em cantar, conceber leis de justiça, pensar em sexo, amor, família ou
outras palavras, dinheiro, educação, status de celebridade e outras liberdade sem responder à presença dos pretos” .'º Entretanto, embora
formas de ascensão social aumentavam a brancura. !
"wa
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28 DIPLOMA DE BRANCURA INTRODUÇÃO 29
educadores, cientistas e intelectuais brasileiros afirmassem o signi- vou uma legislação educacional baseada nas reformas do período
ficado da brancura por meio de um discurso que associava degene- entreguerras. O que mudou não foi a educação pública, mas as per-
ração à negritude, havia uma diferença crucial entre suas visões e a cepções populares a respeito dessa educação. Desde a década de 1960,
visão desenvolvida nos Estados Unidos. Utilizando uma definição a divisão mais visível na educação pública tem-se baseado em clas-
elástica de degeneração, as elites brancas brasileiras não viam a ses sociais: as crianças pobres frequentam escolas públicas; aquelas
negritude e a brancura como mutuamente exclusivas. Brancos po- que podem pagar por isso geralmente frequentam escolas particula-
bres podiam ser degenerados, e alguns brasileiros de cor podiam res. Ainda assim, os padrões de desigualdade racial na educação bra-
escapar à degeneração embranquecendo por meio da ascensão social. sileira permaneceram e transcenderam as barreiras de classe social.
É esse detalhe crucial que conferiu à educação pública brasileira uma Nelson do Valle Silva e Carlos Hasenbag demonstraram que os pa-
significação especial. drões de conquista educacional continuam desiguais mesmo quando
A possibilidade de apressar a modernização do Brasil aumen- a classe social é eliminada como fator: os brancos da mesma classe
tando o número de pessoas de cor que não se encaixavam mais na social têm níveis de cultura mais elevados e têm mais tendência a
categoria social de negros levou intelectuais, cientistas, médicos, frequentar a escola, a ficar mais tempo nela, a progredir mais rapi-
antropólogos, psicólogos e sociólogos a uma campanha contínua, damente dentro dela e a obter empregos de remuneração mais eleva-
organizada, para construir instituições estatais que cuidassem da da com as mesmas qualificações profissionais. Silva e Hasenbag
saúde e da educação pública. O título deste livro, Diploma de bran- concluem que “as taxas de progresso escolar das crianças brancas são
cura, foi inspirado por uma reportagem de capa da revista Veja de significativamente mais altas do que as das crianças pardas e pretas.
dezembro de 2000, que explorava a possibilidade de os indivíduos Essas diferenças resultam em profundas desigualdades educacionais
serem realmente brancos apesar da cor de sua pele.” Essa frase trans- que separam brancos e não-brancos na sociedade brasileira”.'º
mite o que a educação pública significava para os líderes do movi- Em parte, as persistentes desigualdades raciais resultaram da
mento pela reforma escolar no período entre as duas guerras mundiais: fusão dos movimentos de reforma educacional e pensamento racial
as escolas deveriam fornecer os recursos de saúde e de nas décadas do entreguerras. O crescimento da educação pública
cultura bási-
cas que proporcionassem às crianças, independentemente coincidiu com uma onda de publicações no Brasil que detalhava
de sua
cor, a categoria social de brancas. Educadores, estudos científicos e científico-sociais para negar a percebida infe-
cientistas sociais e
formuladores de políticas públicas não Ppouparam rioridade dos brasileiros não-brancos e celebrar a mistura de raças
energias ou despe-
sas na construção de um papel para o
Estado na mediação da fuga do como característica nacional positiva. Os textos incluíam as obras de
Brasil da armadilha determinista
da negritude e da degeneração. Gilberto Freyre, Casa grande e senzala (1933), Sobrados e mocambos
Os princípios da educação pública
estabelecidos por essas elites
do período entreguerras permaneceram
em vigor durante todo o sé-
culo XX. Ainda recentemente, em 1996, “ SILVA, N. doV.; HASENBALSG, C. Race and Educational Opportunity
o Congresso brasileiro apro-
in Brazil. In: REICHMANN, R. (Ed.). Race in Contemporary Brazil:
7 EDWARD,
p From Indifference to Inequality. University Park: Pennsylvania State Uni-
). Quem somos nós. Veja,
p.103, 20 dez. 2000. versity Press, 1999. p.65.
32 DIPLOMA DE BRANCURA
INTRODUÇÃO 33
o
logos, higienistas e antropólogos. Essas autoridades científicas pro-
dimentos administrativos e padrões profissionais e ampliação do
curavam vias em meio às políticas e instituições públicas para aplicar
alcance dos sistemas escolares. Principalmente depois que a Revo-
suas mãos curativas sobre uma população a quem costumavam en-
lução de 1930 criou aberturas políticas e administrativas crescentes
carar com brando desprezo. Eles se agruparam, reunindo diversas
para os reformadores educacionais cumprirem seus objetivos, os sis-
disciplinas da ciência e regiões geográficas, para criar programas de
temas escolares se expandiram drasticamente. A expansão levou as
saúde pública e educação que seriam o campo onde iriam aplicar sua
escolas públicas, com sua mensagem eugênica, branqueadora e nacio-
intervenção redentora.
nalista, aos bairros pobres e racialmente mistos.
Os líderes dos reformadores educacionais que construíram ou
expandiram os sistemas de escolas públicas pelo Brasil no período entre- As reformas educacionais começaram a se firmar na segunda
guerras não eram só pedagogos. Na verdade, poucos tinham treina- década do século XX quando os nacionalistas começaram a adotar
mento pedagógico. Eles eram médicos e cientistas sociais atraídos pela idéias eugênicas sobre degeneração e a contemplar as possibilidades
perspectiva de utilizar a educação pública como arena para a ação so- de regenerar a vasta subclasse racial e social. Na década de 1920,
cial. Esses reformadores estabeleceram uma visão de valor social esse movimento ganhou coesão e visibilidade nacional. Os refor-
que
privilegiava aparência, comportamento, hábitos e valores brancos, madores educacionais começaram a trabalhar com um sentido co-
de
classemédia. Eles transformaram o sistema escolar em uma mum de propósito permeando as várias disciplinas e regiões do Brasil,
máquina
que, de modo tanto deliberado (fornecendo aos brasileiros pobres embora suas energias estivessem concentradas nos sistemas escola-
e
não-brancos as ferramentas da brancura) quanto inconsciente res das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, que poderiam servir
(estabe-
lecendo barreiras ao reificar seus valores estreitos) criou uma de “vitrine” para seus projetos. A Revolução de 1930, que conduziu
hierar-
quia racial no sistema escolar que espelhava sua própria visão de valor Getúlio Vargas ao poder, levou à quase imediata criação de um
social. Essa hierarquia foi especialmente estável, eficaz e duradoura Ministério da Educação e Saúde Pública (mais tarde Ministério da
Porque se fundava em valores inquestionáveis da ciência e Educação e Saúde, ou MES), assim como a uma mudança da orien-
do mérito.
Asescolas que esses homens construíram (embora a esmagadora tação política em todo o país que apressou a consolidação de refor-
maioria . Mas e provocou a expansão dos sistemas escolares.
de professores fosse constituída por mulheres, todos os
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ANCURA
34 DIPLOMA DE BR INTRODUÇÃO 35
sempenhado na política educacional. Segundo Weinstein, Remaking of the Working Class in São Paulo, 1920-1964. Chapel Hill:
University of North Carolina Press, 1996. p.336. Sobre a racionalização
industrial como uma visão social, ver também DECCA, E. de. O silêncio
a maioria dos porta-vozes dos industriais adotou avidamente a vi-
dos vencidos. 2.ed. (1981). São Paulo: Brasiliense, 1994. p.150-5.
são de q que o Brasi | era uma “ “democraciaE racial
RD *, e não
= teria. encara- 2º? WEINSTEIN, For Social Peace in Brazil, p.27.
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36 DIPLOMA DE BRANCURA INTRODUÇÃO 37
quando o sistema escolar do Rio de Janeiro passou a ser administra- m codificada médica
apenas indiretamente, utilizando uma linguage
do por oficiais militares. Embora o conflito entre os reformadores
e científico-social).
progressistas e Os católicos fosse pesado, o auge do autoritarismo analíticas e os
A história de Jacyra ilustra as possibilidades
reacionário fez pouco para alterar as políticas educacionais de caráter Há diversas for-
desafios metodológicos que esse estudo enfrenta.
racial aplicadas nas administrações anteriores. Ao contrário, os edu- Jacyra. Uma é
mas de se interpretar o significado da exclusão de
s entre co-
cadores militares do Estado Novo continuaram e expandiram os olhar para os valores racistas entre as elites brasileira ou
programas e as práticas que lidavam mais diretamente com raça. as estra-
munidades imigrantes como a das freiras, bem como para
ão que
O período do Estado Novo mostra que, apesar das divisões políticas tégias da resistência ao racismo como reveladas na indignaç
que emergiram na política nacional brasileira depois de 1930 e con- irrompeu nos jornais da cidade.” A história de Jacyra tamb ém po-
tinuam até o presente, um consenso acrítico sobre os significados de deria ser lida como um exemplo das desigualdades sociais enfren-
raça e degeneração, com as receitas para tratar essa degeneração, per- tadas por brasileiros não-brancos.” Talvez de forma ainda mais
maneceu intacto. provocativa, a história poderia ser lida como a da frustração por
Por que estudar as relações raciais brasileiras por meio da edu- não ser capaz de “passar por branca”, em que a combinação de pais
cação? O sistema da educação pública foi uma das principais áreas brancos adotivos, riqueza e apoiadores dentro da elite da cidade
de ação social para aqueles que mais ativamente estudavam a impor-
tância da raça na sociedade brasileirae mais se empenhavam na busca
2 Tal enfoque foi adotado por BUTLER, K. Freedoms Given, Freedoms Won:
de uma nação social e culturalmente branca. Como a educação é uma
Afro-Brazilians in Post-Abolition São Paulo and Salvador. New Brunswick:
área de políticas públicas, revela as formas pelas quais os pensado- Rutgers University Press, 1998; CORRÊA, As ilusões da liberdade;
res raciais colocaram suas idéias e hipóteses em prática. Além disso, SILVA; HASENBALG, Race and Educational Opportunity in Brazil;
durante o período estudado essas práticas foram experimentadas por FONTAINE, P. M. Race, Class, and Power in Brazil. Los Angeles: Center
for Afro- American Studies, UCLA, 1985;SCHWARCZ, O espetáculo das
centenas de milhares de pessoas na cidade do Rio de Janeiro, e milhões raças; SKIDMORE, Black into White; LIMA; HOCHMAN, Condenado
em todo o Brasil. Assim, não apenas a educação pública fornece os pela raça, absolvido pela medicina. Veja também DÁVILA, J. Expanding
recursos históricos para estudar padrões de desigualdade racial no Perspectives on Race in Brazil, Latin American Research Review 35, nº3,
p.188-98, 2000. Para excelente pesquisa sobre literatura de raça no Brasil,
Brasil como também fornece a fonte para um tipo diferente de leitura ver REICHMANN, R. (Ed.). Race in Contemporary Brazil: From
Indiffe-
que exemplifica alguns dos aspectos mais importantes — e contudo rence to Inequality. University Park: Pennsylvania State University
Press
analiticamente ardilosos — das relações de raça na nação: sua ambi- 1999. p.1-36.
25
ros G. R. Blacks and Whites in São Paulo, Brazil, 1888-
valência (o fato de que raça era significativa e ainda assim esse SIB-
E R ú dison: niversity of Wisconsin Press, 1991; COSTA PINTO,
nificado era difuso em um discurso médico e científico mais amplo mudin . era o O de Janeiro: relações de raças numa sociedade em
sobre a degeneração); sua elasticidade (que o significado de raçaeda ET a ão N : Companhia Editora Nacional, 1953;
FERNANDES,
raça social de alguém poderia mudar e, como uma fonte de prestígio gro in Brazilian
l
Society. Nova York: Columbia University Press,
1969;a KRANE
En AY, S
H. (Edat
3, -B I
a 1900 hi ian Culture in. Bahia,. 1790
). Afro -
social, a educação mediava essa elasticidade) e, especialmente, em
r
'sto 1990's.,
sua ambigúidade (que os sistemas escolares em geral tratavam daraçã
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
To) DIPLOMA DE BRANCURA
INTRODUÇÃO 39
não foi suficiente para Jacyra superar os obstá
i culos b
sua cor.” as Cados em
À preocupação é mostrar como os alcance de homens de cor. Além disso, os esforços dos reformadores
formula educacionais para definir o ensino como trabalho feminino eram parte
. e aplic doresd e politi
educadores conceberam valores raciais Políticase os
aram-nos co de um processo mais amplo de profissionalização que também tor-
cas racializadas. Em outras palavras, como os valores de ay
. .
mo .“
forjou o
difícil de demons-. miram para o núcleo de homens brancos de ciência que
sua própria natureza, este é um processo
PorOr Se
modelo nacional de educação. Algo tão simples e tão íntimo como
“a
regada aqui é
Uma ' forma é de conceber a estrutura analítica emp
trar
cacio nal e na maré crescente da comer, escovar os dentes ou lavar as mãos — atividades repetidas
pensar n as
ondas da reforma edu de
mar cuja superfície oculta os recife
s incessantemente no espaço privado dos lares — se tornou o sujeito
educação pública for mando um É da nação
de valores políticas públicas desenvolvidas para deter a degeneração
de valores sociais e práticas racializadas. Esses recifes
e salvar o Brasil.
sociais formaram-se durante um longo período de tempo e, embora
firmemente no lugar e mol- Cada capítulo deste livro é uma vinheta que ilustra as formas pelas
invisíveis da superfície, permaneceram diferentes
adota duas quais os educadores lidavam com questões de raça em
daram as correntes de políticas que os cercam. Este estudo tâneos se cons-
ocultos da raça aspectos da educação pública. Embora esses instan
estratégias para mapear os contornos frequentemente também como epi-
de truam uns sobre os outros, pretendem funcionar
nas políticas públicas. Primeiro, buscando as raras ocorrências a fim de evitar
as sódios separados. O livro foi organizado dessa forma
turbulências na superfície das práticas educacionais, ele identifica na educação, ou
a impressão de que esta é uma história da reforma
questões racializadas que jazem às vezes muito perto da superfície, a lente ana-
dos brasileiros de cor no sistema escolar. Assim como
como no caso de Jacyra. Segundo, acompanhando a maré crescente da raça dentro
da reforma educacional é possível ver-se lugares em que a continui- lítica deste texto busca revelar uma visão sistemática
va do texto evita
dade da política educacional ainda não foi levada pelas águas e oculta de elementos de política pública, a estrutura narrati
neutra por
uma questão de raça. Observando momentos nessa maré crescente substituir a visão de política pública como racialmente
a raça na po-
de reforma, como a introdução do teste de inteligência nas escolas, um novo modelo definindo um papel específico para
das muitas
vemos como as novas práticas confrontaram inicialmente questões lítica. Em vez disso, cada capítulo mostra uma faceta
de raça, revelando com clareza notável as formas em que respostas formas em que a raça moldou o espaço público.
al
brancas, de elite, a questões de raça orientavam as políticas que cer- Este livro se inicia com um episódio na criação da princip
e Saúde.
cavam esses bancos de areia. instituição de educação pública, o Ministério da Educação
m brasile iro”
Esse episódio, um debate sobre a estátua do “Home
em pur med
a formas pelas quais os educadores introduziram a raça nas
do Minis-
que seria erguida para saudar os visitantes do novo prédio
edu-
tério, incluiu o debate sobre raça e branqueamento por meio da
de
havia lugares em que os educadoreserao o potiea "ducacional,
eram extraordinariamente aber - cação. O capítulo sobre o “Homem brasileiro” traça a emergência
tos em discussõ uma elite
ssões sobre os sign
ignifific
i ados que atribuíam à raça
e as um discurso sobre a degeneração e o processo pelo qual
9rmas como esses significados
moldava
m seus projetos educacio-
educacional formada por médicos, cientistas e cientistas sociais
nais . Esse> s en contr os, ao
, e os
men os regi1 strados, foram raro(0)s , mas aglutinou-se em torno da crença de que a educação pública poderia
estende-se
qua| nd ,
= “a »
de “ver” o
pr oduzida pelo governo brasileiro fornecesse um modo
Ç Pais -
o do rompimento do consenso sobre alguns aspectos da política edu-
pra de na cionalistas e cientistas sociais, os
Brasil que refletia a visão cacional, as formas como as elites de esquerda e direita viam raça,
dados que as novas agências geravam permitiam uma análise das di- ciência e nação continuaram a coincidir.
Rio de
mensões social, geográfica, racial e econômica da cidade do “Comportamento branco: as escolas secundárias do Rio” examina
o
Janeiro durante o período coberto pelo estudo. as duas facetas da educação pública secundária no Rio de Janeiro.
“O que aconteceu com os professores de or de Rio? mostra que Apesar dos esforços de Anísio Teixeira e de outros reformadores, a
aexpansão do papel do Estado na sociedade brasileira por meio dacria- educação pública raramente ultrapassou os limites da escola elemen-
ção e expansão de políticas sociais não significou um grau propor cional tar. A maioria das crianças abandonava a escola após o terceiro anoe
de integração para os afrodescendentes nas instituições públicas. Ao mesmo aquelas que completavam os estudos elementares tinham
contrário, ocorreu um aumento significativo na sofisticação dos meios poucas oportunidades financiadas pelo município para frequentar o
de exclusão racial. Observando o que havia por trás dos processos de secundário. Em consequência, a educação secundária era uma forma
profissionalização dos quadros de professores, esse capítulo mostra de treinamento para uma reduzida elite cujos sonhos de mobilidade
que as políticas de seleção e treinamento de professores criaram obs- social, e o processo pelo qual passavam para realizá-los, eram molda-
táculos sutis baseados em valores de raça, classe e gênero. Os dos pelos valores da brancura. Um estudo de caso da escola secundá-
reformadores educacionais buscavam um quadro de professores que ria federal considerada modelo, o Colégio Pedro II, mostra que osalunos
fosse moderno, profissional, científico e representativo do ideal de da escola pública de mais prestígio no Brasil adotavam a linguagem
classe média. Suas políticas foram bem-sucedidas em produzir o do nacionalismo eugênico e se comportavam de acordo com ele.
quadro de professores que os reformadores educacionais imagina-
vam, e esse quadro de professores era quase exclusivamente branco.
“Educação elementar” examina a principal reforma do sistema Uma nota sobre a linguagem de raça
escolar do Rio de Janeiro, executada por Anísio Teixeira entre
1931
€ 1935. Essa reforma combinou as principais tendências científicas Um dos desafios metodológicos constantes enfrentados pelos estu-
que governavam a política social: nacionalismo eugênico, racionali- diosos da raça no Brasil é desenvolver uma linguagem para discutir
zação sistemática e profissionalização. “A Escola Nova no
Estado as categorias raciais. Neste estudo, o desafio é duplo, porque ele
Novo” segue a reforma de Anísio Teixeira na década
seguinte a seu analisa o discurso racial do período entreguerras e também a Era.
afastamento do sistema escolar pelos oponentes
católicos conserva- ça de brasileiros de cor nas instituições educacionais. Assim, dois
métodos são empregados para descrever categorias raciais: um que
dor es. Nos anos de autor itarismo crescente que culminaram com
preserva a linguagem original de raça empregada pelos educadores e
o
Estado Novo , a educaç ao
públi ica n (6) Rio
de JaneirÍ (6) foi dir
iciais militares e caiu por 1 igida
sob a inf] uência da Igre
ja Católica. Esse outro para descrever os indivíduos no sistema escolar. a
À . a ola r ou a retó ric dos
Quando dis cut e as pol íti cas do sis tem esc
nte
educadores, este estudo segue a lin guagem original tão fielme
quanto possível. Educadores e outros agent es do Estado trabalha-
,
vam 4 com
€ um conjunto claramente delineado de categorias raciais essas categorias técnicas eram empregadas para avaliar progresso
Desde 1940, o recenseamento brasileiro empregou quatro categorias do branqueamento físico da população brasileira por meio da dilui-
ts ,
especial-
deo cor: * branco, , pardo, , preto € amarelo.* Pardo era um termo ção das pessoas de raça mista.
uer pes-
mente clástico, porque era empregado para descrever qualq Essas categorias estavam bem distantes das formas pelas quais
«oa de ascendência africana, indígena ou européia. Ainda que os os indivíduos no sistema escolar teriam classificado a si próprios. A
educadores geralmente aderissem a esse último conjunto de catego- autoclassificação de indivíduos e o modo pelo qual eles poderiam
rias, às vezes substituíam pardo por mulato. Embora os educadores ter-se identificado a si mesmos ou a outros variava consideravelmente.
acreditassem que a ligação entre degeneração e raça era contingente, Isso é em especial verdade para professores e outros profissionais no
eles eram claros em suas crenças de que raça existia e podia ser sistema escolar, porque seu nível de educação e prestígio social podia
quantificada. Além do mais, embora dificilmente tivessem motivo influenciar seu senso de identidade racial.” As fontes empregadas
para recorrer a definições científicas de categorias raciais, quando o neste estudo dificilmente fornecem informação suficiente sobre a
faziam em geral se referiam ao modelo desenvolvido pelo antropó- auto-identificação de indivíduos para que seja possível chegar a
logo Edgar Roquette Pinto, que estabeleceu um sistema de gradações conclusões definitivas sobre sua identidade. Em consequência, este
de cor baseado em três categorias principais: leucodermo, faiodermo estudo emprega cautelosamente os termos “branco”, “não-branco”,
emelanodermo (pele branca, pele morena e pele negra).? Geralmente “decor” e “afrodescendente” para descrever indivíduos. “Branco” e
“de cor” eram dois termos que os indivíduos do período teriam
provavelmente usado para descrever a si mesmos. “De cor” era uma
* Essas categorias foram desconstruídas por Melissa Nobles, que observa
que “esperando evitar pedir aos brasileiros para responderem a termos
categoria inclusiva empregada para descrever indivíduos de qual-
'às
vezes utilizados com desdém", o IBGE decidiu limitar asescolhas quer grau de mistura racial, assim como “afrodescendente. A maior
a branco,
negro e amarelo, com uma linha horizontal para qualquer naturalidade com que esses termos descrevem indivíduos que po-
outra resposta
que não se enquadrasse nas demais. Depois que o
censo foi efetuado, toda- dem variar consideravelmente em cor e aparência oferece uma van-
via, todas as linhas horizontais foram tabuladas
e publicadas sob a catego-
ria pardo. E importante observar que o significado de
pardo era — e é —
ambiguo. Em dicionários de portuguê
ês, éé defidefini
s, nido tanto como 'cinz 1 a' como
q uanto | 'maj marrom' , e suas conotações
ões são
são igua
1 lmente ambíguas, por
que os
% Essa ambiguidade é caracterizada por uma observação de Charles Wagley:
“Talvez a diferença mais importante entre as relações de raça no Brasil e
nos Estados Unidos seja que a cor é apenas um dos critérios pelos quais as
pessoas são colocadas na hierarquia social total. Antes que dois brasileiros
decidam como vão se comportar em relação um ao outro, eles precisam sa-
vez é util
ber mais do que o fato de que um tem a pele negra e o outro à pele clara +
es izado parade
of Citizenship: Race
| o pesa” pn o etino mua Outros critérios, tais como renda, educação, relacionamentos familiares e
a
University Press até mesmo encanto pessoal e habilidades ou aptidões especiais entram em
+ 20 2000, p.99.
D'AVILA, B. Ens jogo ao situar uma pessoa em termos da hierarquia de prestígio ou mesmo
nm
Ra
1937. In:
| ! Carta de Gustavo Capanema a Oliveira Viana, 30 de agosto de
LISSOVSKY, M.; MORAES DESÁ, P.S. (Eds.). As colunas da educação:
a construção do Ministério de Educação e Saúde. Rio de Janeiro: IPHAN,
1996. p.225 (doc. 149).
r—- ———emt
O
ne
º 6d + .
"
P.224 (doc. 147), DES A,P.S. (Fds.). As colunas da educação, Carta de Juvenil Rocha Vaz a Gustavo Capanema, 14 de setembro de 1937.
Ibidem. In: LISSOVSKY,M.; MORAES DESÁ, P.S. (Eds.).As colunas da educa-
ção, p.226 (doc. 151).
0]
e duzentos e tre.
qnainmente
final ie ser branco (o que poderia levar até entr ambiente dos pais podia moldar os genes da descendência: a tuber-
anos, segundo Paulo F lho). A responsabilidade pela conquista culose ou o alcoolismo, por exemplo, produziriam bebês degene-
zentos
abia ao ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capa-
da brancura € «Homem Brasileiro”, que nunca foi completada,
rados. Em contraste, para Mendel o material genético não podia ser
“Homem Brasileiro“? A resposta passava pela eugenia, a prática ticas e morais para os praticantes da eugenia. Os eugenistas que
de “aperfeiçoar'“ física e mentalmente a raça humana pela manipu- adotavam a genética mendeliana tendiam a se concentrar na preven-
lação dos traços genéticos, primeiro por meio de controles sobre o ção da reprodução, às vezes por meio da esterilização forçada."” Como
ato e o contexto da procriação. No período entre as duas guerras o enfoque mendeliano implicava a fixidez da raça, seu uso no
mundiais, o Brasil foi uma nação seduzida pela idéia de que a ciên- branqueamento do Brasil significaria impedir de algum modo que
cia poderia ser o árbitro final das relações sociais. Essa causa era metade da população do país se reproduzisse. Em vez disso, os
defendida pela crescente casta de cientistas e cientistas sociais que eugenistas brasileiros seguiram sua bússola intelectual e abraçaram
dominava as políticas sociais e prometia a aplicação eficaz e impar- a genética francesa lamarckiana, que prometia retornos mais imedia-
cial de teorias científicas estrangeiras aos problemas nacionais do tos e positivos. Isso abriu caminho para a modificação dos traços da
Brasil. Quase todo problema nacional possuía um subtexto racial: população existente. Se “o Brasil é um vasto hospital”, como o de-
as subclasses de raças mistas e não-brancas do Brasil eram, segun-
do à opinião geral, culturalmente atrasadas e, na opinião de alguns,
racialmente degeneradas. A eugenia poderia resolver ambos os ! Ver STEPAN, The Hour of Eugenics.
problemas, 12 Entre 1907 e 1945, mais de 70 mil pessoas foram esterilizadas nos Estados
Como Na» ncy Stepan afir Unidos. Esses esterilizados eram, em geral, pobres, frequentemente negros
1 mou, nas primei
meiras décadas do século
os campos "leve" e “pesado” e considerados “débeis mentais”. Os Estados Unidos também implanta-
aci dos eu genistas discutiam se uma po- a “super-
ram programas de esterilização em Porto Rico para combater
Pulação poderia ser me população”. Esse foi o programa de esterilizaçã o eugênico mais extenso de
lhorada geneticamente pelo reforço da saú-
qualquer nação exceto a Alemanha nazista. Enquanto à eugenia nos Esta-
principalmente
dos Unidos, na Alemanha e na Grã-Bretanha baseava-se
na genética mendeliana, o Brasil, como grande parte da América Latina,
seguia a escola lamarckista criada na França (STEPAN, The Hour q,
Eugenics, 31, p.134).
1o ; a dé ca da do sé cu lo
ea
gund
4
soa o —————
Digitalizado com CamScanner
56 DIPLOMA DE BRANCURA CONSTRUINDO O “HOMEM BRASILEIRO” 57
escolas em laboratórios cugênicos — lugares onde idéias sobre raça e nação a idéia de que o Brasil era uma democracia racial se tornou o mito
eram testadas c aplicadas sobre as crianças. À cugenta vomousse ajus- rientador da nação durante a maior parte do século XX, principal-
tificativa para expandir e alocar recursos educacionais. Práticas a nte diante de desigualdades raciais visíveis de tamanha proporção?
curriculares e extracurriculares casaram-se à eugenia em formas que O artifício que permitiu que tanto brasileiros como estrangeiros acei-
continuam a ecoar hoje. Para dar um exemplo, a educação e a forma físicas tassem essa idéia está na forma pela quala prática da enpeliia milho
se tornaram tão fundamentais “aperfeiçoando a raça” que uma geração otra tamento da hierarquia racial
nn
sob . uma linguagem científico-social
Ê 2.
depois os comentaristas esportivos declaravam que marcar quatro gols que desracializava e despolitizava a imagem da sociedade brasileira,
em um jogo tornara o astro do futebol Pelé “racialmente perfeito”.'!s
Os eugenistas consagravam seus objetivos como o ideal de uma
“raça brasileira”. À raça era um processo em desenvolvimento— uma Educação e saúde
etnicidade comum a que todos os brasileiros iriam pertencer assim
que removessem as condições culturais e higiênicas inferiores. Os Os projetos eu gênicos dos educadores surgiram entre as Ena de
professores ensinavam aos alunos que ser parte da raça era a chave 1920 e 1940, a partir das campanhas de saúde e higiene pública das
para a cidadania e o sucesso. Na prática, isso significava o branquea- primeiras décadas do século. Os defensores da saúde e da higiene
mento comportamental: ou seja, descartar as práticas culturais afri- pública eram figuras inovadoras cujos projetos se opus ham àcrença
canas e indígenas. Até mesmo os brasileiros que não eram descendentes
amplamente disseminada da degeneração racial dos individuos ne-
de europeus podiam ser membros da raça. À preocupação da elite
com gros e mestiços. Essa idéia de degeneração combinava o racismo
a “perfeição eugênica da raça” significava a alocação
de recursos para científico europeu com os temores dos brancos brasileiros Em elas
mitigar alguns dos efeitos da pobreza sobre as crianças.
A promessa ção à população escrava africana. Poderia uma ama de leite (figura
de almoços balanceados e atendimento médico
figuram entre as prin- indelevelmente impressa na mitologia nacional brasileira como a mãe
cipais razões pelas quais os pais mandavam
seus filhos à escola, como preta) transmitir suas doenças (talvez sífilis ou funil) ou Es
mostram os registros da correspondência
de pais com funcionários generação, de modo geral, para os bebês brancos, minando, assim,
públicos. Embora a idéia de uma raça
brasileira possa não ter signi- sua vitalidade? Eram os mulatos psicologicamente instáveis e dados
ficado muito para a população, os programas
ligavam as elites eos pobres em um
que a “raça” inspirou a comportamento criminoso? Esses eram os tipos de crenças na raiz
projeto comum que
sões duradouras na definição teve repercus- dos temores brancos e os quais serviam de base para a pesquisa de
de Pensamento racial no
Os projetos educacionais Brasil. cientistas que absorviam teorias raciais elaboradas por brancos eu-
do: Seugenistas, que se fir
da de 1920 e ganharam
Plena expressão durante
mar am na déca- ropeus supremacistas que buscavam impor barreiras científicas ao
luzes sobre uma das que a era Varg as, lançam longo das fronteiras raciais dos impérios europeus.
E Eaeia 16
Stões mais paradoxais do
Brasil mod erno: como
TD
15 RODRIGUES, : “ent
o N. A realeza 'º Paraoutras leituras sobre esses modelos de racismo FA no TOLER,
»f Mar
crônicas. São Paulo: Compan do Pelé. In: : O melhor do
hia das Letras, 199 romance, contos e Race and the Education of Desire; GOULD, S.J. e Rr White
3, p.liz,
(1981). Nova York: Norton, 1996; e SKIDMORE, Bilac
O brasileiro associado mais de perto a essas posições, o antro- A transformação de um personagem recorrente nos ensaios do
pólogo baiano Raimundo Nina Rodrigues, foi um proponente, na ecritor ]. B. Monteiro Lobato ilustra essa mudança de consciência.
virada do século, da idéia de que os brasileiros não-brancos consti- E ura intelectual de proa nas primeiras décadas do século e autor
tuíam um grupo tão inferior aos brancos que não deviam nem sequer nopular de literatura infantil nacionalista, ele foi o mais visível con-
ser submetidos aos mesmos padrões legais nos processos criminais, :do ao campo ambiental da ideologia racial. Em um ensaio de
vert i , .
Embora o Brasil tivesse chegado ao século XX sob o peso do racismo 1914, Monteiro Lobato introduziu o personagem Jeca Tatu. Jeca era
científico e o estigma que ele aplicava à nação racialmente mista, essa caipira e encarnava tudo o que havia de errado ii as subclasses
corrente logo deu lugar ao enfoque ambiental e cultural da degene-
racialmente mistas do Brasil: “existe a vegetar a cbcoras, incapaz de
ração. A preocupação quanto a doenças endêmicas na primeira déca-
evolução, impenetrável ao progresso”.!* O nba abertamente ra-
da do século se expandiu até a condenação do Brasil, por parte de cista retratava o caipira como a causa das deficiências econômicas e
Miguel Pereira, como um “imenso hospital” em 1916, refletindo o políticas da nação. O Jeca de Monteiro Lobato Eras apivalento da
desenvolvimento da consciência política sobre o relacionamento entre estátua original, degenerada, do “Homem Brasileiro” que causou
Estado e sociedade e entre saúde, raça e degeneração. Em 1917, Arthur
tamanho conflito 25 anos depois.
Neiva e Belissário Penna, dois médicos e defensores da saúde públi- Mas em 1918, em meio a um debate crescente sobre se as po-
ca enviados pela Academia Nacional de Medicina para estudar as pulações pobres e rurais da nação eram inferiores por causa de sua
doenças no interior do Brasil, publicaram um relatório conclamando herança racial ou de seu condicionamento, Monteiro Lobato
à criação não de um Ministério da Saúde, mas de um Ministério da
reviu sua interpretação de Jeca Tatu. Sua coleção de ensaios,
Educação e Saúde.
O problema vital, incluía uma parábola chamada “A ressurreição
Essa trajetória intelectual foi traçada por Thomas Skidmore, de Jeca Tatu”, em que o caipira era curado da degeneração por um
Mariza Corrêa, Nísia Trindade Lima e Gilberto Hochman. Esses
médico ambulante, sendo assim capaz de transformar sua fazenda
estudiosos creditam a emergência de contracorrentes ao racismo cien-
por meio do trabalho árduo e tornar-se feliz, rico e viajar pelo mundo.
tífico da Europa e dos Estados Unidos (principalmente a influência
A moral dessa história, amplamente distribuída pelo interior como
do antropólogo Franz Boas), assim como ao pragmatismo das elites
uma fábula infantil, era “Preto no Branco? O Jeca não é assim:
brasileiras, que descobriram que a visão de degeneração como um
está assim”. O problema vital (e, com ele, a redenção de Jeca) foi
problema médico, cultural e psicológico era uma idéia
mais publicado em conjunto pela Sociedade Eugênica de São Paulo e
aproveitável do que as teorias raciais mais antigas. Essa nova
visão pela Liga Pró-Saneamento, quando esses grupos começaram a
de degeneração oferecia não apenas uma linguagem
de diagnóstico divulgar suas idéias sobre a degeneração cultural e ambiental no
mas também um arsenal inédito de pretensos trata
mentos." debate sobre raça no Brasil. Como declarava “O Urubú de Nosso
Progresso”, um panfleto de 1935, “O Jéca é analfabeto porque
7 LIMA;
HOCHMAN, Condenado pelaraça, absolvido Do
ou um
vive na miséria! Vive na miséria porque é doente! É doente por- De forma similar, em 1922, o estado do Ceará recrut
que é analfabeto!”
rofessor de psicologia educacional de 25 anos da Escola Normal de
Pp esco-
O movimento da educação pública cresceu com base nesse novo são Paulo, Manoel Lourenço Filho, para reformar seu sistema
lar. Nas décadas que se seguiram à sua nomeação no Ceará, Louren-
consenso de que a degeneração era adquirida e podia ser mitigada,
ço Filho surgiu como pioneiro na psicologia infant, estabelecendo
A começar da reivindicação dos médicos de que fosse criado um
padrões e práticas adotados nacionalmente. Na Aécqda de 1930, Ele
Ministério da Educação e Saúde, médicos e educadores (a maioria
dirigiu o Instituto de Educação no Rio emais tarde organizou echef; lou
com especialização em ciências sociais) trabalharam juntos para
o departamento federal de pesquisa educacional, o Instituto Nacio-
aplicar teorias eugênicas ao complexo de problemas que chamavam de Manoel Lou-
de degeneração. Diversos médicos e especialistas em saúde públi- nal de Estudos Pedagógicos (Inep). A experiência
da educação
ca, como Afrânio Peixoto, ocuparam cargos de administração na renço Filho no Ceará não apenas reflete a nacionalização
edu-
educação. Enquanto isso, educadores juntaram -se às organizações local, como também ilustra o modo pelo qual os reformadores
redenção.
profissionais de médicos e defensores da saúde pública, como a cacionais viam Jeca Tatu, o caipira, e buscavam sua
Quando Lourenço Filho iniciou a luta para expandir o alcance do
Sociedade Eugênica de São Paulo, a Liga da Higiene Mental e a
Liga Pró-Saneamento. sistema escolar no interior do Ceará, enviou inspetores a cidades em
A preocupação com a “redenção” do Brasil reuniu a educação e todo o estado para contar o número de cidadãos. Sua equipe passou por
dificuldades na cidade de Juazeiro, que expulsou repetidas vezes os
a saúde em um empenho comum. Tornou menos rígidas as distin-
ções entre diferentes profissões e disciplinas científicas. Criou tam- inspetores. Juazeiro fora o local da revolta de 1913 na qual um dema-
bém uma rede nacional de profissionais trabalhando em problemas gogo, o Padre Cícero, liderou os habitantes armados contra o governo
locais. Gilberto Hochman apresenta uma análise da pressão do do estado. A rebelião de Padre Cícero foi bem-sucedida, e ele conti-
movimento pela saúde pública e o saneamento para repensar a rela- nuou sendo uma figura poderosa regionalmente, porque o governo
federal viu a rebelião como uma forma conveniente de se livrar da
ção constitucional entre o poder federal e o estatal: como doenças
epidêmicas não respeitam limites entre estados, os sanitaristas (como facção oposicionista no Ceará do Partido Republicano, no poder na-
os defensores da saúde pública e saneamento eram conhecidos) con- cionalmente. O governador do estado caiu, Padre Cícero continuou,
seguiram forçar uma leitura mais livre do equilíbrio constitucional e Juazeiro conservou uma autonomia relativa, que reafirmou diante
de poderes e assumiram responsabilidade federal pela saúde públi- dos funcionários do sistema escolar enviados por Lourenço Filho.”
ca. À nacionalização da educação evoluiu de modo diferente. A edu- O jovem psicólogo educacional resolveu tomar a si a tarefa de
cação continuava local, mas era administrada por uma elite nacional. incluir Juazeiro no sistema. Reuniu uma caravana de carros e mon-
Por exemplo, foi Monteiro Lobato que garantiu a nomeação de Anísio tou uma expedição ao interior, onde tal coisa deve ter sido um raro
Teixeira para reformar e dirigir o sistema escolar do Rio em 1931. espetáculo. Lourenço Filho encontrou o Padre Cícero doente e de
o
1
? O urubu de nosso progresso. Rio. de Janeiro: Francisco Alves, 1935. Arquivo 20 Ê -
Sobre a revolta de Juazeiro, ver o livro de Ralph Della Cava, Miracle in
Gustavo Capanema, CPDOC, 35.12.14g (0549). Juazeiro. Nova York: Columbia University Press, 1970.
Bº gi.
o
o “a I lo
aginadx :
seu im
'
com
Capanema
cama. O jovem cientista social leigo, que trabalhava pelo Progresso
"4
" 24 Com (0) fez
cu os ide n
aça € te mpo,
O u uma vezI
mais
do estado, entrou em acordo com o velho patriarca religioso, Mais [6] Filho relacion
cultura. Considerou o clérigo rural o responsável pelo estado A solu ção era a educação: “a situação mental da população pode
ca. A SO ã nz
de ignorância dos habitantes de Juazeiro. De modo inverso, as esco- ser assi m resumida: vinte por
cento sabem ler; o resto : não sabe”.
em O Juazeiro... pode ser
las públicas que Lourenço Filho queria instalar forneceriam os re- A essência do argumento de Lourenço Filho
ia que os ErsaiEi oo do
cursos seculares, técnicos e culturais por meio dos quais as pessoas resumida em três pontos. Primeiro, a misér
ão : ai igno-
poderiam superar séculos de atraso acumulado. A dicotomia entre a interior suportavam era responsável por sua “degeneraç
do,
escola laica e o poder religioso descrita por Lourenço Filho prenun- rância, má saúde, desajuste psicológico e perpétua agitação. Segun
de encora -
ciava as batalhas que ele e seu grupo de reformadores educacionais em vez de mitigar sua condição, o governo federal na verda
travariam contra a renascente Igreja Católica na década seguinte. java a degeneração promovendo jogos políticos de curto prazo Entre
Em O Juazeiro..., Lourenço Filho relatou sua jornada pela “sélva facções locais. Terceiro, a redenção desses brasileiros viria por meio
horrida” como uma viagem de volta no tempo, medida pelo escure- da construção de escolas e da reorientação das prioridades das elites.
cimento da pele das pessoas que encontrava:
A própria evolução etnográfica brasileira quase pode ser estuda- Cidade, raça e nação
da numa viagem de penetração. Na costa, predomina branco, fato
que
demonstra a preponderância ariana da nossa gente de hoje; a breve Que o Ministério da Educação e Saúde tenha construído seu
trecho, surgem, porém, expressões do mais violento
caldeamento Primeiro prédio permanente só em 1938 ilustra quão tarde o gover-
as três raças primitivas, com a presença muito rara do
prêto puro.
T——
r
No final dessa regressão. pelo caminÀ ho da evolu ú LOURENÇO FILHO, M. B. O Juazeiro do Padre Cicero. 3. ed. (1928).
ção humana, São Paulo: Melhoramentos, 1955. p.17-8. O Juazeiro... recebeu o prêmio
Lourenço Filho chegou a Juazeiro, onde “Como que todo o atraso dos n da Academia Brasileira de Letras e teve no minimo três edições.
sertões aí se condensou, para condicionar mentalidades
| Õ Í e .. á
Ibidem, p.34,
atrasadas por
2%
' dergipe, Decreto nº 30 de 11 de março de 1931: NEAUJO, M.C. de A. Antônio de Arruda Carneiro Leão In: FAVERO,
“Dá novo regulamento oa à E E “Rui He
prensa Oficial, 1931). scola Normal “Rui Barbosa” (Aracaju: Im- . de L.A ;BRITTO, ]. de M. (Eds.). Dicionário de educadores do Brasil,
a colônia aos dias atuais Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1999, p.67.
adora das mazelas sociais, Eles não só tratavam O sistema escolar do Rio como modelo, usa-
agindo essa disciplina como uma sane
anto aos males decorrentes de casamentos vam-no como um espaço onde podiam desenvolver e
refinar as ciên-
alertando os jovens qu
exames pré-nupciais e
itando-os aos vam a missão educacional de
entre indivíduos doentios, inc cias eugênicas e sociais que assegura
do
a propaganda da eugenia e construir a “raça brasil
eira”.
ao abse nteísmo do álcool, fazendo
ndo, como conseguência, a prolifera- o r De-
combate à ociosi dade, evita Na época em que Anísio Teixeira foi nomead direto do
coalizão
ção de hospitais e prisões. partamento de Educação do Distrito Federal, em 1931, a
médicos e cientistas sociais era plenamente devotada
de cientistas,
vam que a degeneração era
Tomando emprestadas lições de racionalização científica da in- ao nacionalismo eugênico. Eles concorda
e ambiente, assim
dústria, Carneiro Leão criou uma Administração Técnica Escolar adquirida por meio da falta de cultura, saúde
revertê-la. Não
para dirigir o sistema escolar. Os funcionários da Administração como que a educação e a saúde públicas poderiam
que medida os
Técnica foram encarregados de tornar as escolas mais científicas e obstante, o desafio de mapear especificamente em
algo ainda a
instituir práticas visando “aos cuidados com a saúde, auxiliares do fatores cultural e ambiental criavam degeneração era
o sis-
aprimoramento da raça, da eugenia, da vitalidade, do estímulo da ser enfrentado. Teixeira assumiu esse desafio e transformou
principais
capacidade produtiva” entre os alunos.” tema escolar do Rio em um laboratório que atraiu os
Arthur
As reformas de Carneiro Leão tanto na cidade do Rio de Janeiro eugenistas da nação. Educadores como Roquette Pinto,
atraídos para o
quanto no estado de Pernambuco mostram como os princípios mais Ramos, Lourenço Filho e Afrânio Peixoto foram
desenvol-
importantes da reforma (eugenia, profissionalização e racionalização) sistema escolar do Rio a fim de pesquisar a degeneração,
esses
acabaram ficando nas mãos de líderes educacionais. Mesmo após a criação ver programas de saúde e educação para tratá-la e aplicar
do Ministério da Educação e Saúde, os reformadores educacionais con- programas nas escolas da cidade.
tas
tinuaram a trabalhar nas cidades. Com efeito, o sistema escolar do Rio O sistema escolar do Rio de Janeiro proporcionava aos eugenis
es de todas as raças
de] sbelro era mais atraente para os principais reformadores educa- um meio ambiente perfeito: quase cem mil escolar
ão que dava
e condições sociais, com um Departamento de Educaç
a
donais do que o MES. O Rio de Janeiro foi alvo das atenções dos
—a
Digitalizado co m CamScanner
RA CONSTRUINDO O “HOMEM BRASILEIRO”
68 DIPLOMA DE BRANCU 69
e me-
O Serviço de Testes e Medidas Escolares aplicava testes O Serviço de Cinema e Rádio Educacional do IPE, dirigido por
lmente
didas psicológicos e de inteligência aos alunos, e foi inicia Edgar Roquette Pinto, pesquisou meios de levar a educação a regiões
estu- O departamento operava uma estação de rádio,
dirigido por Isaías Alves, educador que, como Teixeira, havia remotas do interior.
No Servi- a PRD-S, inteiramente dedicada a questões educativas. A rádio
dado no Teachers College da Universidade de Columbia.
ço de Testes e Medidas Escolares, Alves era responsáve
l pela apresentava diversos programas educativos, como palestras sema-
os Uni- nais sobre higiene mental, instruções sobre como aplicar testes psi-
aplicação de testes de inteligência desenvolvidos nos Estad
dos a fim de separar estudantes em turmas diferentes com base em cológicosea Hora do Professor, que tratava de questões curriculares
suas aptidões. A principal medida usada, o Teste de Terman, foi e prof: issionais. O princípio por trás do programa de rádio e cinema
desenvolvido sob a crença específica de que a adequação eugênica de era que, utilizando tais meios, o sistema escolar poderia atingir os
algumas crianças era inerentemente melhor do que a de outras. Como indivíduos analfabetos e despreparados do interior, onde se acredi-
o criador do teste, Lewis Terman, afirmou em 1916: tava que a degeneração fosse mais severa. O rádioe o cinemaleva-
riam mensagens sobre saúde e lições de educação básica a essas
A opinião comum de que a criança de um lar culto vai melhor pessoas antes que elas se mudassem para as cidades, trazendo com
em testes apenas em razão das vantagens de seu lar superior é uma elas seus profundos desajustes.
suposição inteiramente gratuita. Praticamente todas as investiga- Ortofrenia e Higiene Mental, dirigido por Arthur Ramos, estudava
ções realizadas sobre a influência da natureza e da educação sobre o psicologia infantil e adaptação psicológica/ sociológica à sociedade mo-
desempenho mental concordam em atribuir muito mais aos talen- derna. O serviço efetuava pesquisas, desenvolvia programas educativos
tos originais do que ao meio-ambiente. A observação comum em para as escolas e a comunidade e cuidava da educação de “crianças pro-
si sugere que a classe social à qual a família pertence depende me- blema”. Essa seção combinava influências que iam da psicologia
nos do acaso do que das qualidades intelectuais e pessoais naturais freudiana à criminologia italiana e à antropologia cultural. Na visão de
dos pais... Os filhos de pais bem-sucedidos e cultos obtêm pon- Ramos, os afro-brasileiros e as crianças se encaixavam em uma cate-
tuações mais elevadas do que os filhos de lares miseráveis
e igno- goria similar de desenvolvimento primitivo e pré-lógico. Finalmente,
rantes pela simples razão de que sua herança genética é melhor a Antropometria, dirigida por Bastos D'Avila, lidava explicitamen-
.”
te com os aspectos físicos da degeneração e da eugenia, mais uma vez
Embora Lewis Terman acreditasse na super
ioridade intrínseca inspirada na escola italiana de criminologia. Um dos principais de-
da herança genética de alguns intelectos
, seu teste foi facilmente fensores do movimento, Nicola Pende, “acreditava que por meio de
adaptado à visão brasileira da degeneraçã
o porque Alves e outros liam um inventário de biótipos humanos em uma população, os recursos
os resultados dos testes como indicativo
s das condições culturais e biológicos de uma nação poderiam ser dirigidos de modo eficiente
sociais pobresdos brasileiros testados. Ainda
re assim, os testes sepa- rumo aos objetivos do Estado. Tal empreendimento, dizia Pende, mes
ravammo
os s
alun os brancos dos de
cor e os alunos ricos dos
pobres : era uma preocupação vital dos fascistas e do trabalho de Mussolini".
» Citado
q
em GOULD, The Mismeasure
of Man, p.216
STEPAN, The Hour of Eupenics, p.60.
Cada departamento do IPE geria um componente diferente do sar para detectar a existência de características africanas latentes entre
u
programa eugênico. Eles maximizavam o potencial da escola no
indivíduos que pareciam ser brancos.” O relatório de D' Avila so-
aperfeiçoamento da raça lidando com a adaptação psicológica e o bre a introdu ção das fichas observava que o índice “permitirá ainda
desenvolvimento físico das crianças. Diferentemente de outros as. o do desenvolvime nto
a comparaçã aaa físico da criança, atentando às suas
pectos da educação no Rio, prejudicados pela turbulência política da condições ambientais especialissimas”.”! Em uma carta a Lourenço
época, os programas do IPE refletiam o consenso entre as elites sobre Filho, ele expressou a necessidade de o sistema escolar adquirir
a ideologia racial e eram incomumente estáveis. Embora o diretor do cefalômetros (instrumentos empregados para medir o tamanho
do
IPE houvesse se demitido em protesto pela demissão de Anísio crânio) a fim de testar a confiabilidade do Indice de Cefalização
de
Teixeira em 1935, todos os chefes de departamento permaneceram, Dubois, que “talvez permita a categorização dos alunos como normal,
”
tendo saído apenas anos mais tarde por circunstâncias e motivos supernormal ou subnormal, o que é extremamente interessante”.
aparentemente desvinculados da política nacional.” O “Ensaio de Raciologia Brasileira: Populações do Distrito
A base de recursos utilizada pelos pesquisadores do IPE eram as Federal”, de D' Avila, reflete os objetivos de sua pesquisa. Foi pu-
fichas reunidas a respeito dos escolares da cidade. Em alguns casos, blicado na trimestral Revista de Educação Pública, que o Departa-
esses registros eram confidenciais e coletados sem o conhecimento mento de Educação do Rio de Janeiro fazia circular entre os
do aluno ou de seus pais. Uma ficha antropométrica continha o regis- professores da cidade e sistemas escolares por todo o país. O artigo
tro do desenvolvimento fenotípico e físico do aluno, enquanto uma resumia aos professores as teorias de branqueamento ou de formação
ficha de higiene mental registrava sua evolução psicológica. Esses de uma raça homogênea, ecoando o debate sobre o “Homem Brasi-
registrosacompanhavam os alunos durante todo seu aprendizado e eram leiro” ao explicar que “é cedo ainda para que se possa falar de uma
utilizados pelos funcionários do sistema escolar para classificar as “raça brasileira”, generalizada, raça que em rigor não existe, como de
crianças em diferentes classes ou programas. As fichas também for- resto, também não existe uma raça francesa, inglesa ou alemá. Há
neciam a base para mais pesquisas psicológicas e antropométricas. nos tipos regionais brasileiros, mais ou menos fixados, entre os quais
Os pesquisadores utilizavam esses dados tanto para a sintonia fina
dos programas eugênicos do sistema escolar quanto para expandir
uma ciência nacional da eugenia que aplicava teorias estrangeiras à 3% O Índice de Lapicque, desenvolvido na França na virada do século, media
mistura particular de raças e condições do Brasil. orelacionamento entre o tamanho do osso radial no braço e o do osso etmoidal
na concha nasal superior. À fórmula era a seguinte: índice radial-pélvico =
Õ biométrico-chefe do sistema escolar, Bastos D' Avila, utiliza-
(extensão do osso radial x 100) / diâmetro bicrisiliaco. D'AVILA, B. Con-
Eat antropométrica para reunir dados para tais projetos e re- tribuição ao estudo do Índice de Lapicque. In: Estudos Afro-Brasileiros
finar uma medida chamada de Índice de Lapicque, que
ele esperava (Trabalhos apresentados no 1º Congresso Afro-Brasileiro reunido no Recife
em 1934), v.1. Rio de Janeiro: Ariel, 1935. p.35. .
29 B sa * D'AVILA, B. Secção de Antropometria, 16 de outubro de 1935. Arquivo
astos D'Avila
Permaneceu no cargo durante pelo menos onze anos e ficou Lourenço Filho, CPDOC, IPE (0010).
uivo
s. Arthur
i para sua monografia. À Ramo
Pletar a S pesquisas s saiu em 1939, após com- Carta de Bastos D'Avila a Lourenço Filho, 16 de abril de 1936. Arq
criança
problema e publicá-la.
Lourenço Filho, CPDOC, IPE (0042).
o e
o Nordestino parece definitivo; (o próprio Gaúcho" do sul é antes licar cuidadosamente o fracasso dos alunos brancos em atingir as
explic | o
um tipo de contacto). Mas nenhuma previsão segura pode ser feita cas.
expectativas eugêni
em tôrno do topo que resultará de eferescência dêsse 'melting pot, dade de que
Em seus ensaios, D'Avila examinava a possibili
em que se caldeia a gente brasileira”, Como o futuro ainda não fora considerações ambientais influenciavam o desenvolvimento físico.
escrito, as escolas deveriam redobrar seus esforços para moldar a raça, Em 1945, ele lamentou que as fichas, que seguiam o modelo dos
No mesmo ensaio, D' Avila tentava também explicar os resulta- registros mantidos pelo Museu Nacional, lidassem com tipos raciais
dos decepcionantes da pesquisa eugênica sobre os padrões de cres- absolutos e descuidassem de outros fatores ambientais que afetavam
cimento fisico entre os escolares do Rio. Embora D'Avila tentasse o desenvolvimento do indivíduo. Ele explicou que “os alunos são
medir diferenças ligadas à raça, seu estudo fora prejudicado por fichados sem que se levem em consideração “iias Gonilistiende hi-
questões de classe: contrariamente a suas expectativas, o estudo gidez”,e buscou formas de desenvolver um “índice de arquitetura
mostrou que as crianças negras ganhavam peso e altura mais rápido somática” que revelaria a “condição de higidez” de uma criança.
que as brancas. D' Avila esforçou-se por conciliar seus dados coma D'Avila testou índices em 290 candidatos à admissão no Instituto
noção aceita de que os brancos possuíam um condicionamento supe- de Educação durante o exame de saúde eliminatório. Como todos os
rior. Ele raciocinava que as crianças mais ricas não frequentavam candidatos fossem mulheres, testes subsequentes foram feitos em
escolas públicas e, se os dados sobre seu crescimento houvessem sido outros 10 mil alunos para obter dados sobre os homens. Apesar do
incluídos, as crianças brancas teriam ultrapassado as não-brancas. fato de em 1945 D' Avila ainda não ter aperfeiçoado uma medida
Segundo D'Avila, falam os inquéritos realizados nesse Serviço de aplicável, as pesquisas continuaram.
Antropometria, mostrando exuberantemente que as crianças bran-
cas de nossas escolas, em apreciável proporção, são deficientes do
ponto de vista do desenvolvimento físico. Psicologia infantil: construindo blocos da “raça”
Embora as crianças brancas nas escolas públicas fossem geral-
mente pobres e, portanto, “deficientes”, o oposto era verdadeiro Que a escola era um lugar onde crianças de todas as raças podiam ser
para as crianças negras. D'Avila explicou que “são as crianças observadas enquanto se desenvolviam ao longo de meses ou anos
das
famílias mais organizadas as que procuram as escolas públicas,
pois não era algo que apenas D' Avila percebia. O célebre antropólogo
as mais desprotegidas, seja por desleixo, seja por ignorância Arthur Ramos utilizou o sistema escolar do Rio para seus estudos de
dos
pais, nem sequer chegam a matricular-se”.3 A brancura era o con- caso sobre aspectos culturais do aperfeiçoamento da raça, refletindo
trole = pesquisa de D' Avila: era um valor que significava vitalida- a elasticidade dos limites disciplinares no contexto da eugenia. En-
de. Crianças não-brancas podiam atingir aquele padrão, e apenas tre 1933 e 1938, Ramos dirigiu o Serviço de Ortofrenia e Higiene
brancos especialmente desajustados podiam se desviar dele, mas
quando isso acontecia os Pesquisadores sentiam-se compelidos * D'AVILA, B.: PERNAMBUCO FILHO, P. Considerações em torno E
a
Índices de Kaup, Pelidisi e A.C.H. Revista de Educação Pública 3, nº1,
TT
* Ibidem, p.24,
p.4, 1945.
cultura afro-brasileira
Mental do IPE. Anteriormente Ramos estudara siderava a si mesmo membro da escola de pensa
mento de Nina Ro-
ridade” cultural, Bus. icos de Nina Rodri-
na Bahia, identificando elementos de “inferio drigues. Ramos pretendia levar os métodos empír
-brasileira à sociedade
cando promover à adaptação da cultura afro gues de estudo da raça para suas análises dos afro-brasileiros como
infantil e à higiene mental ra de raças não
moderna, voltou suas atenções à psicologia uma comunidade cultural.”” Para Ramos, a mistu
gues acreditava.
preventiva. Em seu curriculum vitae de 1945, ele expressou sua resultava em híbridos inferiores como Nina Rodri
e
Em vez disso, afirmava ele, “dêem-lhe condições de boa higien
arece rá”.”
preferencia pelo estudo do comportamento humano, especialmen- física e mental e a pretensa inferioridade desap
te em certas condições deficitárias de atuação: a criança, o primiti- Embora negando a existência da inferioridade racial, Ramos
o A . e Isolou aspectos da
vo, as minorias étnicas, o alienado e o neurótico. media as diferenças no desenvolvimento cultural.
e esforçou-se por
cultura afro-brasileira que considerava patológicos,
infe-
Seu interesse simultâneo em crianças-problema e nas deficiên- eliminá-los. Dizia: “Mas, destruindo o preconceito da nossa
sociol ógico,
cias culturais dos afro-brasileiros levou Ramos ao sistema escolar rioridade étnica, não devemos esquecer, contudo, o lado
do Rio de Janeiro, onde recebeu os recursos e a base de pesquisa para de culturas atrazadas dificultando a obra da nossa educação”. Ramos
as
seus estudos. definia a cultura afro-brasileira como pré-lógica e acreditava que
Um panfleto de 1934 escrito por Ramos e publicado pelo siste- escolas poderiam ajudar as crianças à
ma escolar para distribuição entre os pais mostra como ele integrou
a psicologia infantil com o que era percebido como o aperfeiçoamen- evitar a influência insidiosa do lôgro e da superstição. Combater
to cultural da população afro-brasileira. Como Ramos explicou: essa ação lenta e invisivel da macumba e do feitiço que se infiltra
em todos os atos da nossa vida. Olhar para a propria obra da sua
É o complexo de inferioridade racial que tanto tem atravancado formação espiritual, orientando-a aos influxos da verdadeira mo-
a obra do nosso progresso ... Para a antropologia física, não há ra- ral científica.
ças superiores nem inferiores. A epoca dos Gobineau e dos Lapouge
sobre a
Já vai recuada. E não podemos aceitar à maldição que sobre nós Ramos situou suas visões em um discurso mais amplo
lançou o cientificismo apressado de Bryce, quando a com o cui-
prognosticou a eugenia, relacionando as faculdades mentais e a cultur
negralização da nossa raça. Esse complexo coletivo
de inferiorida- dado pré-natal: O trabalho de prevenção mental deve recuar, porém,
Neste ponto, à
até o periodo pré-natal e mesmo pré-concepcional.
de deve desaparecer. Não há Taças superiores ou inferiores. Ha,
Sim, grupos sociais avançados
ou atrazados em cultura. higiene mental individual cede lugar à higiene da raça, com OS
Embora aN ina
sds Ni Rodrigues
: : . 3% Ibidem,
q
tivesse sido um dos principais expoen- p.160. . menta I pude
ais)
Tac! Smo científico,
1fy Arthur Ramos (com Afrânio Peixoto) con- 3 RAMOS, A. A família e a escola (Conselhos de higiene
candidatos brancos tinham um desempenho pior do queo -« de uma peregrinação laboriosa por tendas de macumbeiros,
S Outros
talvez muitos dos brancos fossem imigrantes que, apesar de alfabet; depois . É a
tos de “paes de santo”, sessões de baixo espiritismo ou, o
terr o.
zados, não entendiam o teste tão bem quanto os nativos brasile en õ
los balcões dos farmacêut icos relapsos, , onde a
iros “ que é plor, pe
O diretor do Departamento de Obras Públicas do Rio, Mário :
. an 4
ancia se complica ainda do dolo e da exploração.
ignor
Monteiro Machado, desenvolveu uma pesquisa sobre a cultura
eo
comportamento dos empregados de seu departamento A prática da pesquisa da saúde dos empregados ganhou ainda mais
para determi-
nar as “causas de insegurança no trabalho”. Acreditando que esse destaque porque o prefeito da cidade, Foca Presta, um grande alia-
fosse o procedimento correto, além de necessário para salvaguardar do de Vargas e médico, criou clínicas de saúde pública em toda a ci-
os “interesses economicos do país”, Machado queria dade. Com o programa de reforma na educação pública, o extenso
pesquisar à
situação cultural das equipes de funcionários públicos da Prefeit programa de saúde pública do prefeito transformou a capital em um
ura
a fim de tomar medidas para transformá-los em trabalhadore
modelo para o bem-estar social emergente no Brasil.
1 3) 45
s mais
eficientes. Suas principais preocupações eram o alcoolismo,
o mau
preparo dos alimentos e o recurso a cuidados médicos inadequados.
Entre as primeiras perguntas, a pesquisa de Machado indagava
a raça Crianças saudáveis para uma sociedade saudável
do empregado, alegando que isso iria determinar o “nível
cultural”
dele. Como um exemplo da importância desse ponto, Macha O instituto de pesquisa do Departamento de Educação, o IPE, de-
do afir-
mava que um brasileiro branco descendente de portug senvolveu modelos analíticos para a compreensão dos problemas
ueses ou ita-
hanos preparava refeições mais nutritivas e racionais sociais nacionais que surgiam nas escolas e receitou remédios para
do que os outros
brasileiros. Ele apontava para as “falhas graves e consta eles. A criança que ia para a escola entrava em um laboratório e, sem
ntes” na
cultura alimentícia, um sintoma da forma pela
qual as raças brasi- saber, tornava-se objeto da pesquisa científica. As crianças passa-
leiras são “facilmente adaptáveis à civiliz
ação e à técnica, mas con-
tinuando a manter, do ponto de
vista cultural, hábitos e costum
es o
mais lamentavelmente prim * Inquérito sobre as causas de insegurança de trabalho, Mário Monteiro
itivos”,
Machado, secretário-geral de Viação, Trabalho e Obras Públicas, 1937.
. Em nenhum outro lugar isso era tão evidente quanto na saúde e Arquivo Pedro Ernesto Batista, CPDOC, DO/ Funcionalismo (0672).
higiene dos empregados. Machado
explicou que qualquer médico $$ Sobre o governo de Pedro Ernesto e seus programas sociais, ver SAR-
MENTO, C. E. Pedro Ernesto: um prefeito parao Rio. Rio de Janeiro: Fun-
dação Getúlio Vargas, 1995; LEMME, A. C. Saúde, educação e Er
na década de 30. 1992. Dissertação (Mestrado) - Centro Biomédico, UERJ;
eCONNIEFF, M. Urban Politics in Brazil: The Rise of Populism, 1925-1945.
Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1981.
J à "o
Esses tes.
tes eram utilizados para determinar as normas pelas quai
a : . cm Sascrian-
Jha aee inspecionavam OS alunos nas salas de aula diariamente,
ças iriam mais tarde ser medidas e classificadas. verme
regi stra.
Essas incursões dos eugenistas em escolas do Rio foram
apenas otão de s
ns flementos mais visíveis da orientação eugênica da educaç pel Jos e unhas estavam devidamente lavadas e aparadas, e se havia
ão pú- se as ma
blica. Os diretores dos programas escolares de saúde, nutriç
ão hos nos cabelos. Os alunos recebiam uma cruz amarela quando
higiene esforçavam-se por substituir culturas def Icientes por di te era boa, verde quando era aceitável e vermelha quando era
cas que construíam a raça. Os pesquisadores divulgavam a Aqueles com má higiene eram enviados à sala do diretor para
suas des-
cobertas e procedimentos pela revista do sistema escolar, em ouvir um sermão sobre higiene, ou para conversar cam os pais.disse
conferências nacionais e em outras publicações, tudo com o objetivo cartaz de higiene ilustra como, no cotidiano, a eugenia eo E
de atingir uma platéia nacional. Ainda assim, o fim das pesquisas do de construção
lismo eram entremeados às práticas escolares diárias
programa dos eugenistas era eclipsado por práticas e progra pelas cores da
mas da raça: a higiene boa e aceitável eram representadas
eugenistas diários nas escolas. Os programas de saúde e nutriç
ão do bandeira brasileira; a má higiene, pelo vermelho.”
sistema escolar foram um elemento-chave do que os admini
strado- Os educadores viam a falta de higiene entre as crianças mais
res e políticos alardeavam como um modelo para a nação. afluentes como falta de disciplina sujeita a repreensão. Entre as crian-
Na década de 1940, o Departamento de Educação carioca divi- ças mais pobres, a falta de higiene era considerada um resultado do
diu a cidade em regiões médicas: 15 distritos sanitários, todos ad- meio ambiente, então a punição era substituída por instruções quan-
ministrados pelo Departamento de Saúde Escolar. Os funcionários to à limpeza adequada de dentes, orelhas e cabelos. Um inspetor se
do sistema escolar proclamavam que a base para administrar as es- lembrou de ter visto o diretor da Escola Estados Unidos mostrar a
colas dentro dessas regiões era “médico-pedagógica”. Em outras uma aluna como escovar os dentes. Como a aluna não tivesse di-
palavras, as decisões de colocar os alunos em certas classes e de nheiro para comprar uma escova de dentes, o diretor explicou como
permitir que passassem ou fazê-los repetir eram baseadas não colocar um pouco de carvão em um pedaço de pano, dobrá-lo, amarrá-
ape-
nas em testes de maturidade e inteligência e no desempenho em classe, lo e então escovar os dentes com o pano.
mas também em avaliações de saúde. Os postos sanitários se torna- Os recursos que as escolas devotavam ao desenvolvimento de
ram unidades administrativas nas quais os programas de saúde, hábitos higiênicos variavam. Escolas possuíam um fundo de verba
higiene e nutrição eram implementados.'º
O exemplo mais visível do programa de saúde e higiene nas
es-
colas da cidade foi o pelotão de saúde, um grupo de estudantes — um 47
C€., entrevistado por Anna Olga Lessa de Barros Barreto. Contribuição para
1 . .-
pública e doações privadas que fornecia sapatos e uniformes para os e professores são, pois, hoje, os artífices de uma obra
Médicos
êdic
pobres ou reforçava o almoço na escola. À Escola Vicente Licínioia ue é o aperfeiçoamento somático-psíquico do ser huma-
um passo além da Estados Unidos na viabilização de Práticas hi. com um q e possa com maior facilidade
a )
realizar os seus melhores
giênicas. A diretora acreditava que “é ineficiente senão ridiculo que no para q u
51
Terra.
destinos sôbre à
a escola esteja a prégar vantagens dos bons habitos, das boas atitu-
des, sem fornecer os meios e as oportunidades para a sua Practica” 1 m a es-
Não ão SOsó as professoras eram como médicos, como també
À escola solicitava doações com as quais comprava escovas de den-
ital: “A higiene escolar, isto é, o ideal preven-
cola era co mo um hospital:
tes, escovas de cabelo, sabonetes e toalhas. Os alunos adquiriam a escola do
i tivo, acabou com as barreiras que separavam
hábitos como os de escovar os dentes, lavar as mãos, pentear r. . Na épo
sistema escolalar p ca ha-
os
cabelos e lustrar os sapatos executando-os diariamente na escola.
hospit
Ro ta
al”, oobservou um médi édico do
na e nas profis-
Além do pelotão nomeado em todas as escolas, cada aluno
via-. po noucas mulheres no prestigiado ramo da medici
nas escolas
de ses liberais; afirmar que mulheres que ensinavam
so
terceiro ano na Escola Vicente Licínio era responsável pela limpeza iios de care
elementares da cidade estavam desempenhando Eraiiat
de um grupo de primeiranistas. A diretora relatou que “era realmen-
profissional e de importância nacional era um elogio. Cumprin ia
te enternecedor ve-las tratar dos pequeninos, cortar-lhes as unhas,
tarefa de aperfeiçoar a raça, as professoras passavam a ser respeitá-
lavar-lhes as mãos etc., com a responsabilidade e o desvelo de ver- |
veis e valiosos agentes do progresso da nação.
dadeiras maesinhas”.º Em nível local, esses passos rituais
rumo ao A metáfora de que “o Brasil é um imenso hospital” se prestava
“aperfeiçoamento da raça” assumiam um aspecto diferente — o de
facilmente a descrever o trabalho das professoras na sala de auto,
adultos cuidando de crianças e crianças aprendendo a cuidar
umas curando brasileiros de seus maus hábitos e culturas não-saudáveis.
das outras. Os professores que administravam essas práticas
acha- A comparação das escolas com hospitais, todavia, era mais do que
vam-nas afetuosas, mas eles também eram instruídos
na escola normal alegórica. Quando se matriculava, o “estudante é, obrigatóriamente,
no rádio e em revistas dedicadas aos professores sobre a importânc
ia submetido a geral e minucioso exame clínico, radiológico e de laho-
da higiene na eugenia.
ratório, em que se apura, desde então, o estado sanitário da crian-
A Revista de Educação Pública lembrava constant
emente às pro-
fessoras a importância da saúde e da higiene ao ça”.º Depois desse exame, um registro médico permanente era criado
tratar das deficiên- e periodicamente atualizado. Saúde e higiene regulares era um as-
cias da nação. Além disso, a revista enfa
tizava a importância daquelas sunto tratado na escola e na sala de aula. O ideal era que problemas
mulheres como profissionais que redimiriam a raça. Segundo um
médicos graves fossem tratados em clínicas médicas e dentais do
médico escolar:
= —000
84 DIPLOMA DE BRANCURA 85
O “HOMEM BRASILEIRO”
CONSTRUINDO
nove ainda sob seus cuidados, dois tiveram de ser retirados da escola S6
1939-1944” (9060).
Ibidem.
ETi
Essa imagem foi examinada por WOLFE, J. “Father of the Poor” or
* Relatório apresentado pela diretora da escola Vicente
Licínio (1-8) ao Exmo. “Mother of the Rich”? Getúlio Vargas, Industrial Workers, and Cons-
Sr. Superintendente da 3? circunscrição
de ensino elementar, 1933. Arquivo tructions of Class, Gender, and Populism in São Paulo, 1930-1954. Radi-
Anísio Teixeira, CPDOC, Pi33-00.00
(3/293), cal History Review 58, p.80-111, 1994; e LEVINE, R. M. Father of the
Poort Vargas and His Era. Nova York: Cambridge University Press, 199 8.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
86 DIPLOMA DE BRANCURA
O “HOMEM BRASILEIRO” 87
CONSTRUINDO
nº40, p.76, 1944. Ver o Capítulo 6 sobre as dificu é JÚNIOR, P. Sentido político e biológico da educação fisica. Cultura Polí-
ldades de implantar a
educação física no Colégio Pedro II.
tica 4, nº36, p.154-5, 1944,
ra nos
7,319 líderes que a educação superior (quer a militar, q ão de Freitas ilustra quanto é quão pouco muda
A declaraç am
ntenário. Na arena política, muitas coisas havi
. - .. ' Ueraci 1]
e esta, seja a leiga ou a religiosa, . a de cultur agera VM, nos desde 0 ce
s jovens de 24 anos de idade: a Revolução
louad e cultur 24a
especializada) lhe conseguiu dar; ' — se ordená assemos a na vida da quele
do
assi mM tal ge- aconte ci o ório de Getúlio Vargas, a promulgação de
ração, que é, sem dúvida, a “melhor”,
a “mais rica de valores” 193 0, o governo provis
de ista e m 1934, o Estado nacional de emer-
a Nação já logrou obter em tôda a história,
veríamos cada uma N o ituinte progress
uma const deres de sde 1935, a imposição do
sas equipes se constituir da seguinte forma qued eraa Vargas amplos po ra
: 2 líderes, 7 sublideres gência
e m 1937, a partic
ipação do Brasil na Segunda Guer
201 dirigidos. Estado Novo ntos políti-
|
e à deposi ção de; Vargas em 1945. Esses mome
E êstes últimos assim se 'classificariam': Mundial da transforma çã o no funcio-
trazido cons go uma profun
cos haviam
eral.
— 27 trabalhadores “qualificados” (não pela educação geral nam ento do governo fed
mação foi a criação do IBGE e ou-
média, mas ao menos pelo preparo da educação elementar U m resultado dessa transfor
tida-
de 3 séries); tras agênc ias encarreg
adas de coletar e interpretar grandes quan
l. Em 1 946, era possível olhar
— 24 trabalhadores apenas “sub-qualificados” por alfabetiza- des de dados e statísticos sobre o Brasi
quando
paraa geração de 1922 por meios que teriam sido impossíveis
ção razoável (aprovação na 2a série do ensino elementar);
de Freitas
— 42 trabalhadores “não-qualificados” por qualquer proces- do nascimento de seus membros. Esse raio X estatístico
, educadores e
so de cultura, mas apenas rudimentarmente alfabetizados deu sustentação ao trabalho de políticos, burocratas
cionais
(aprovados na la série do curso primário). nacionalistas, e ressaltou a importância das reformas educa
— 108 trabalhadores “desclassificados”, isto é, em um nível
em curso no Brasil. Como podia um país em crescimento, urbani-
zação e industrialização avançar se possuía apenas um líder instruído
sub-social de vida, sem qualquer cultura, sem nenhuma
para cada duzentas pessoas? Como podia o país progredir se metade
aprendizagem, sem noção ou hábitos de higiene e de defesa
de sua geração mais bem-educada era “gado humano”? Mais impor-
da pessoa e da família, e sem consciência cívica e nem mes-
tante, como esse problema nacional podia ser resolvido?
mo humana, por tanto; sem embargo de haverem 22 entre
À categoria “gado humano” de Freitas encaixava-se solidamente
êles (mais de um quinto) cursado uma escola que não soube
no discurso sobre raça e degeneração. A degeneração que ele citava
educá-los...
vinha da falta de educação. Se essas pessoas tivessem sido educadas,
possuiriam as virtudes da higiene e da consciência cívica, saberiam
Donde concluímos: cada pelotão, de 210 indivíduos, só en-
como preservar a instituição da família e seriam trabalhadores capa-
contra dois líderes (um para cada centena de homens cidadãos), e
ao todo 7 sub-líderes, ou um para nada menos de 20 dirigidos;
o Sua visão ecoava a de Monteiro Lobato, Roquette Pinto,
e entre êstes, só poucos além da quinta parte podem considerar-se j educação “outros líderes intelectuais ao tratar das questões de raça
valores sociais consicentes de suas responsabilidades profissio- “A contribui ção única — e importante — a esse discurso era
aha: billi idade de me
nais e cívicas, a que a educação já tenha retirado da miserável con- dir1 e quantifi
1ficar o grau do problema
Pelos aperfeiçoadore enfrentado
dição de simples componentes de um “gado humano”. s da raça.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
EDUCANDO O BRASIL 99
ANCURA
98 DIPLOMA DE BR
RA EDUCANDO O BRASIL
100 DIPLOMA DE BRANCU 101
RA EDUCANDO O BRASIL
102 DIPLOMA DE BRANCU 103
todo o Brasil — podiam , enho com estas singelas palavras, trazer-vos a “mensagem” que
nero c raça, as taxas de alfabetização em v
cação economica, capital, credito, organização do trabalho, politica a forma negativa da virtude e do patriotismo que consiste em exa-
adaptada às condições do meio e à índole da gente: um paiz desgo- gerar e proclamar os nossos defeitos, os nossos vicIos, a nossa cor-
vernado, em summa. rupção, a nossa ignorancia.
Embora abolicionista e anti-racista, Torres estava tão perturba- Para Torres, o Brasil carecia de elites que conhecessem o país e
do com a corrupção e a desorganização do Brasil republicano que fossem capazes de orientá-lo. No fim, o Brasil era uma “terra que
ponderava que ninguém estudou”.!!
Mário Augusto Teixeira de Freitas viu seu mandato como o
cumprimento do apelo de Torres para conhecer o país e educá-lo.
Citado em LIMA SOBRINHO, B. A presença de Alberto Torres (sua vida
e pensamento). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p.307. De for- Como membro da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres, criada
ma similar, Cândido Mota Filho, ministro da Educação na década de
1950, em 1932, Freitas reuniu-se a algumas outras das principais figuras
chamou o trabalho de Torres de “um despertar da consciência nacional”.
Segundo Lima Sobrinho, Torres foi mais lido no período entre
1930e 1935.
Lima Sobrinho, 506, 508. TORRES, O problema nacional brasileiro, 146, p.31.
TORRES,A
1914
A organização nacional, Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, ' SKIDMORE, Black into White, p.118-23.
TORRES, O problema nacional brasileiro, p.146, 31.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
2
? LESSER, J. Welcoming the Undesirables: Brazil and the Jewish Question. 4 Ver principalmente VAUGHAN, M. K. Cultural Politics in Rev
olution:
University
Berkeley: : Universit y of Californi
i
LIMA SOBRINHO, Teachers, Peasants, and Schools in Mexico, 1930-1 940. Tucson:
presença de Alberto Torres, E pos 1994. p.32;
13 ÀLIN of Arizona Press, 1998; e REIN, M. E. Politics and Education in Argentina,
1A SOBRINHO, A presença de
Alberto Torres p.506 1946-1962. Armonk: M. E. Sharpe, 1998.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
EDUCANDO O BRASIL 109
á-
MES O contro le sobre o programa secund
sica atribui uao de
certidão de nascimento brasileira. O MES criou a Universidade d cação fi secundárias tinham apenas
nal (a nterior ente, as escolas
Brasil e dirigiu a escola secundária modelo, o Colégio Pedro II. Mais rio nacio federal, o Colégio Pedro I1).!*
programas do colé gio modelo
seguir OS ores escolares que
criou uma rede de inspet
do que isso: inventou à si mesmo como o gerente do Imôn;
Cam pos
artístico, cultural e histórico da nação, e absorveu as famndes dire a Além disso, itir a seus graduados o
co ; árias para perm
las secund
pública do velho Departamento Nacional de Saúde Pública.'s O papel credenciava es perior. Concen trando-s
e exclusivamente na
do MES na educação elementar foi geralmente indireto e os gastos acesso à educação su quase exclu-
lamente privada e disponível
dária (amp P d
com a educação primária normalmente contribuíam com 0,5% do or- educação secum s ci ai s ma is al ta s) e re forç ando suas liga-
s clas se so
çamento do MES.'º sivamente para à visão de classe
educ ação superior, Campos reforçou uma di
Em 3 de novembro de 1930, em seu primeiro discurso como çõescoma escolas
ta va be m de fi ni da: os pobres concentravam-se nas
presidente interino do Brasil, Getúlio Vargas prometeu enfrentar que já es
res públicas, e me
smo que os ricos pudessem matricular
imediatamente o “saneamento moral e físico” do povo inaugurando elementa ariam dali
cola elem entar pública, eles pass
um Ministério da Educação e Saúde Pública.” Essa nova organiza- seus filhos em uma es
os prepararia para a
ção (que logo teve seu nome alterado para MES), era dirigida por olar secundário priv ado, que
para o sistema esc
Francisco Campos, um intelectual nacionalista apaixonado pelo fas- educação superior.
anizado o MES, a missão
cismo mediterrâneo, que, como secretário estadual da Justiça e do Embora Francisco Campos tivesse org
nema, um nacionalista
Interior de Minas Gerais, havia dirigido o sistema educacional pú- do mini stro foi definida por Gustavo Capa
como ministro de 1934
blico estadual e havia recentemente reformado a escola normal do católico também de Minas Gerais que atuou
às correntes artis-
estado. Durante sua gestão no MES, de 1931 a 1932, Campos vol- até o fim do Estado Novo, em 1945. Mais ligado
s assim como
tou pouca atenção à educação elementar, concentrando-se principal- tica e cultural modernistas que dominavam Minas Gerai
mente no desenvolvimento de leis para regular a educação secundária outras partes do Sudeste, Capanema tornou O MES presente na vida
s
e superior. artística, cultural e histórica do Brasil contratando o poeta Carlo
Campos criou a primeira universidade moderna no Brasil — a Drummond de Andrade como seu chefe de gabinete e apoiando o
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro — e decretou uma reforma poeta Mário de Andrade em várias nomeações no MES. Em 1937,
da educação secundária que leva seu nome. A reforma Campos ele criou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
iênci em relação
p rioriz ou a ciência
o os, .
z aos estudos clássic instituiu a edu- (SPHAN), que apropriou espaços históricos de diversas regiões do
Brasil eutilizou-as para celebrar uma história nacional. De forma
puma leitura detalhada da criação do Departamento Nacional de Saúde similar, o MES subsidiou e apoiou figuras como Gilberto Freyre
- .
es culturais, patrocinou a publicação de livros,
. E .
oia como uma agência nacional de saúde pública e seus projetos de como
embaixador
a
acto só veio
o criados em 1942, seu real imp
ssem S! ndo emergi-
industrial d as décadas de 1950 e 1960, qua
pros ramasto tive
sur . . al no paíso..”
end. izagem industriNo.
com O ncipais meios de apr
“ncipais º
ram como 08 princip Vargas verificou que as colônias de imi
overno
Em 1938,0 8 ul do Brasil não se integravam e, assim,;
das ao s te qua ndo suas p pá-
grante s
cons enH inclcipalmen
a integração da naçãoã , prin
e sanatórios para a tuberculose, preparan-
sese prep
o MES ad amea çavam (mais notavelmente a Alemanha) estavam
Naa »
Oswaldo Cruz, que lidava com “ a
trasnas nativas a. 14 a
abrasileir ar
a
o ensino das aa uerra Assim (6) MES se mobilizou
À
para
K À :
.
/
O MES também administrava uma do par 8
fec
| ] j
ção nessas colônias,
rangeira
crescente rede de museus histó = . ê . : > o. s em lingua es
educa!
cos que glorificava episódios do pass Estado com pro
ado colonial e imperial do Brasil. ub: l uindo as por escolas públicas dirigidas pelo
a dineção estatal,
Esse fundo dirigir-se-ia primeiro a É inanciar, sob
nistrou o Colégio Pedro Ile várias escolas vocacion
ais, e manteve tanto
a Universidade do Brasil quanto a Faculdade Nacional de Filo ridades EepRonnIçaS entre
sofia.2º a educação rural, e visavaa superar as dispa
idéia mor-
Embora sob a orientação de Capanema o MES continua
sse a ter o Nordeste empobrecido e as regiões sul do Brasil. Essa
.
uma influência limitada sobre a educação elementar, o mini
stro não reu com o fim do Estado Novo.
deixava de ser ativo na reelaboração da educação brasileira. A refor- Finalmente, o MES criou o Serviço da Estatística de Educação
ma Capanema de 1942 vinculou à lei Campos um programa nacio- eSaúde (Sees), dirigido por Freitas, e o Instituto Nacional de Estu-
nal para educação secundária vocacional e comercial e, em 1946, dos Pedagógicos, dirigido por Manoel Lourenço Filho. Ainda que o
estabeleceu programas nacionais para a educação normal, agrícola e MES não fosse regularmente ativo na educação elementar da nação,
elementar. O MES também fundou o Serviço Nacional de Aprendi- no final da década de 1930 o Sees e o Inep eram capazes de monitorar
zagem Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem otrabalho dos sistemas escolares estatais e municipais brasileiros e
Comercial (Senac), parcerias entre os comerciantes e o governo federal os efeitos que esses programas exerciam — ou deixavam de exercer —
que forneciam cursos práticos industriais e comerciais. Embora esses sobrea população do Brasil. Essas agências acompanhavam o con-
siderável reformismo educativo em processo no Brasil. Embora esse
!º Para uma análise do papel do SPHAN e do patrimônio histórico na cons-
trução da idéia de nação do Estado Novo, e o papel do Estado como T——————
a
gerenciador cultural, ver WILLIAMS, D. Culture Wars in Brazil: The First
E») Ver WEINSTEIN, For Social Peace in Brazil.
Vargas Regime, 1930-1945. Durham: Duke University Press, 2001. Para uma discussão sobre a nacionalização de escolas imigrantes, ver
2 O Ministério da Educação e Saúde no quinguênio 1937-1942, p.21-39. SCHWARTZMAN; BOMENY; COSTA, Tempos de Capanema.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
EDUCANDO O BKADIL
ro s envolvidos na
educação
me ro de brasilei
dança no nú como estu dan
tes, não aconteceu
movimento fosse mais evidente no Sudeste (sobretudo no Rj Essa mu res quanto
o como professo os do gove rno fora
m alocados
Janeiro e em São Paulo), alcançou também estados do Nort ode pública, tant o na l, re cu rs
u m âmbito naci is mo pedagógico de que
a educa-
Nordeste, como Amazonas, Paraíba, Sergipe, Pará e Ceará a E or si só. ot im
o, refletindo um o nos gastos pú-
movimentos de reforma educacional locais que começaram na d : Os araa educaçã
. A Tab ela 2. 1 ilustra o aument
ti ao
país is do gove rno
da de 1920 expandiram o número de matrículas, fortaleceram, o ão pransforma ção de gastos gera
ção como uma por l
educação municipa
foin a área da
uca
namento de professores e o ensino profissionalizado e inspiraram, blic os com a ed or mud anç a
mai
32 e 1941. A lares urbanos).
em Eigrentes internacionais do pensamento educacional, dando n entre 19
am pl o, os sistemas es co
de mo do s etou
o entreas guerra af
pecial atenção a idéias vindas dos Estados Unidos. N ( significando,
mudan: ça na educação no períod
Qutra grande cio d o século, lecio-
| O cuidado com a educação pública produziu resultados impres-
na so cie dade brasileira. No iní
o pape | das mulheres Embora alguns
Sibnantes, segundo um relatório interno confidencial preparado pelo
a pro fissão a
tribuída ao gênero feminino.
na educação vocacional e nas
a um
Ministério da Educação em 1941. As estatísticas do Ministério da nar se tornar
ns co nt in ua ssem na admini stração,
Educação e do IBGE mostraram que, em 1939, o número de alunos home r as fileiras do ensino e
àS mulheres do minavam
afivos por mil brasileiros subira para 89, mais do que o dobro da escolas secundárias, que mais mulheres
ola elementar. À medida
cifra de 41 em 1920 e o triplo da de 29 em 1907. Só entre 1932 e da administração na esc de vagas nas
issões liberais, a esc assez
procuravam acesso às prof ada que
ocou uma competição a cirr
1939, 13 mil novas escolas foram acrescentadas às 27 mil já em
existência; o número de professores subiu de 56 mil para 78 mil, e escolas públicas normais prov tinham
es não-brancos que antes de
o número de estudantes no país se expandiu de 2 milhões para 2,5 desalojou os homens e as mulher
do século, os sistemas
milhões. Noventa por cento desses estudantes e 75% dos professores muitos desses empregos. Na primeira metade
entar e no trei-
estavam envolvidos na educação elementar. Em 1940, o sistema escolares públicos se concentraram na educação elem
eles ne-
escolar tornara-se grande fonte de emprego principalmente para namento de professores para equipar suas escolas. Assim,
mulheres e, embora o ensino público não atingisse, de modo algum, gligenciaram a educação geral secundária, com a exceção dos colégios
a todas as famílias, tornara-se de modo irrevogável um principal ligados à formação de professores. Os sistemas escolares ofereciam
ponto de contato entre a população e o Estado.?'
uma oportunidade educacional desproporcional às mulheres jovens.”
Mas os benefícios dos sistemas educacionais em expansão não
favoreciam apenas às mulheres profissionais e àquelas poucas mu-
-
estudantes que se aproveitavam das oportunidades educacio
2? Estado do Amazonas, Programas do ensino primário; Estado do Amazo- .
lheres
nas, Regulamento geral da instrução pública; Estado de Parahyba, Decreto
nº 75 de 14 de março de 1931: Estado de Sergipe, Decreto nº 30 de 11 de
março de 1931. Para o Ceará, ver LOURENÇO FILHO, Juazeiro do Pa- >>>
25
CAUFI
dre Cicero; para Pará, Maranhão e Amazonas, ver também Inep, Organi-
ELD,S. In Defense
, of Honor: Sexual Morality, Modernity, and
zação do ensino primário e normal. Rio de Janeiro: Ministério de Educação Nation i
ão e Ce Brazil. Durham: Duke University
Press, 1 ge l Hill:
4 e Saúde, 1939, 1940. v.1-3.
ing Patriarchy. Chape
A situação do ensino primário. Relatório do Instituto Nacional de Estudos University of North c aa ,S.K. Restructur tunidades
para as mulher arolina Press, 1996. As crescentes opor
Pedagógicos (Inep) do MES. Coleção Lourenço Filho, CPDOC, 41 .08.00.
es (em geral brancas) são tratadas nos Capítulos 3 e 6.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
O BRASIL vais
EDUCANDO
114 DIPLOMA DE BRANCURA
“onal, o al ca n
ficiaram em alguma
de alfabetizados' serato d e desde o do país se bene
início da década de 1930 as taxas
Gê . iõ es
s as Te s
ce toda per maneceu na cus-
ica
a € ducação públ
em mais altas
entre as meninas é ainda mais impressionante porqu een tre tudo, porque ai s e municipal s, a ed
ucação
anos ou mais) as taxas de alfabetiz mulhe. ta du
. es
.
rn o s
res adultas (de vinte ada dos gove stimentos e
ação era m co ns id er áv el variação em inve
entre 10 e 25% inferiores aos homens. O progresso das mul por uma ras do regi-
era nacional — mensurável pres em
do -s e as te n dê ncias centralizado
termos de alfabetização ideran sim como
li sm o do s pr in ci pais educadores, as
giões do país, entre as principais categorias raciais, e nm na c iona higiene, a
ua l do s p r o g r amas de saúde pública e
mulheres urbanas quanto rurais.” As mulheres de classe baixa o ad
ntro
acei
d a izaçÇ o E tinua sendo sur-
taxas de alfabetização e conquistas educacionais eram inferior aaem al iz ad a da educação públ ica con
entr e da centra-
o grupo que mais se benefic natureza desc h m a n, em sua inovado ra anális
relação às dos homens, formavam lber t o H o c
preendente. Gi re que as próprias doen ças
endêmicas
expansão da educação no Brasil, reduzindo a disparidade histórios e pú bl ic a, su ge
lização da saúd en-
nos níveis de educação. rravam às P olít
icas de saúde para fora da desc
eepidêmicas empu 91. Como ele argu-
o es ta be le ci da pela Constituição de 18
traliz açã va
o obed ecia às fronteiras estaduais nem respeita
Tabela 2.1 Educação e cultura em porcentagem dos gastos públicos menta, a doença nã buíram
as doenças epidêmicas contri
a descentralização de poder, e 1921,
mais forte.” Assim, em
1932 1941
para a campanha por um papel federal
controlava de modo quase
Federal
21 31 o Departamento Nacional de Saúde Pública
13,8 130 exclusivo a saúde pública em todo o Brasil.
rrer ao
Os defensores da educação nacionalizada não podiam reco
Estadual
9,3 19
Municipal
contágio como argumento para a centralização. O analfabetismo era
Total
63 77 localizado e se espalhava mais pela migração do que pelos mosqui-
tos. O analfabetismo e a falta de educação afetavam algumas partes
Fonte: “Custo do ensino público, primário geral, no decênio de 1932/1941”.
do país, algumas classes sociais e alguns grupos raciais mais do que
Coleção Freitas, AN, AP 48, Caixa 55, Pasta 116. outros. No entanto, a educação pública das classes mais baixas não
benef iciava às classes mais altas tão diretamente quanto a saúde
26 Número e proporção dos habitantes de 5 anos e mais que sabem ler e escre- pública, e continuou sendo administrada localmente. Por mais va-
ver, presentes em 10-1X-1940 e em 10-1X-1950, por sexo e grupos de riados que .
pública
idade. In: Conselho Nacional de Estatística. Contribuições para o estudo que fossem os motivos para a expansão da educação
da demografia no Brasil. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1961.
p.389-90; Alfabetização em relação à cor nos estados. Arquivo Gustavo TT[DD>——
E)
Capanema, CPDOC, 35.12.14g (569). HOCHMAN, A era do saneamento.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
DIPLOMA DE BRANCURA
116 Janneiro.
de Ja
st it ut o de Ed ucação do Rio
In
meado direto r do e di ri giro Inep, o in
stituto
(motivos que iam de projetar uma imagem mais civilizada do Bras: 1932 forno do para fu nd ar
e foi contrata ão no Brasil
ál is es co mp arativas da educaç
ca perfeição cugênica da raça até O desenvolvimento de uma fo Ne an
el
Em 1936,
o
pl“ one neiro
em
sas
trabalho habilitada, ou a mitigação dos extremos de polifeça!, de de pesqui
iões. alquer outro
rentes reg avam mais do que qu
entre dife s Im po rt
período dena=;
período entreguerras, dedicou-se um extraordinário o arsenal regi on ai ica-
Hochman ressalta que As variações Essas diferenças se apl
ação o Brasil.
cursos e energias à educação.
uc
nição da ed alfabetização,
1910 e 1920 foi uma época singular em termos da intensidad ê fator na defi õe s de co ntratação e taxas de
as aos pa dr
de profes-
preocupação oficial com a saúde pública. O mesmo é verdade oe vam não apen
og ra ma s, à p e dago gia, ao treinamento
pr
a educação nas décadas de 1920 e 1930.
ui mas também aos o. Como Everardo Beck
euser, presi-
st im en to púb lic
sores e ao im ve MES lamentou,
Surpreendentemente, essa preocupação com a reforma ea expai
ss ão Na ci on al de Ensino Primário do
dente da Comi ado para o outro
são educacionais não era dirigida por uma única Instituição neto
bra sil eir as que se mudavam de um est
as crianças . As maté-
Ao contrário, o movimento era apoiado localmente e se projetava po
va m ' “im ens as sen ão insuperáveis dificuldades
todo o Brasil. Uma elite educacional nacional emergiu, deslocou-se encontra iculta a colocação dos
rias são ordenada s de modo diferente, o que dif
s.
de estado em estado e acabou gravitando em torno do MES, mas essa
abordagens de aprendizagem são diferente
elite tinha raízes nos estados e municípios. Manoel Lourenço Filho alunos no mesmo ano. As
ente contêm descrições estritamen-
é um bom exemplo. Em 1922, aos 25 anos, ele deixou o cargo de Os livros são diferentes e geralm ão”. 29
as dos brasileiros daquela regi
professor de psicologia na escola normal de São Paulo para reformar te regionais exaltando as façanh
ferente, acrescentou, era como
e dirigir o sistema escolar no Nordeste, no estado do Ceará. Mudou- Com efeito, ir à escola em um estado di
se de um estado com um dos sistemas escolares mais bem organizados ir à escola em outro país.
as nos programas enas
e mais inovadores do país, e onde a maioria das crianças frequentava Mas mais importante do que as diferenç
os, na frequên-
a escola, para um estado no qual, em 1935, menos de um quarto das técnicas educativas era a disparidade nos gastos públic
crianças frequentava a escola e o gasto per capita com a educação estava cia à escola e nas conquistas educacionais entre o norte e O sul do
o to
entre os mais baixos do país.” Em 1927, Lourenço Filho voltou a país. Em 1940, no Paraná, a alfabetizaçã chegava a 45%, enquan
São Paulo para retomar sua pesquisa sobre testes psicológicos, e em no Distrito Federal atingia 77%. Enquanto isso, como era típico no
Norte, a alfabetização na Bahia era de apenas 21%, eno Rio Grande
do Norte era apenas ligeiramente superior a 27%.” A baixa taxa de
2 Em 1944, o Ceará gastou Cr$ 101 (US$ 6) por aluno, metade da média
alfabetização era sintomática das maiores limitações da educação
322 (US$ 19) de São
nacional de Cr$ 201 e menos de um terço que os Cr$ pública no Norte e Nordeste do Brasil. Em 1944, os estados do Sul
Paulo. “População geral e em idade escolar, em 1935”, Secção de Documen-
tação e Intercâmbio, Inep, 1939. Arquivo Gustavo Capanema, CPDOC,
35.12.14g; “Estudo para o rateio do auxílio financeiro supletivo da União aos 29 BE
48, Caixa 8, E CKEUSER, E. A educaçãoão primária
primári como fator da unidade nacional.
Estados e ao Distrito Federal”, 1944. Coleção Freitas, AN, AP
SERBIN, ultura Política 2, nº15, p.67, 1942.
Pasta 27. Esta e outras conversões em dólar baseiam-se em dados de 30 « AF:
Porcentagem de
crianças entre
População População 7-12 anos 7-12 anos
Estado total 7-12 anos na escola na escola
BRASIL 121
EDUCANDO O
ao asiático (be
qaisal de desce ndênciaafricanh
ional
— cão em relação ao
em alfabetizas elação 205 ho
g as! orC emr
pntreo br alpora d pro uve para às mulheres, ntes, assim como
o entes, .
não hou”! 10 fo) a entre os afrodescen rios quanto a
m
cola e f; inalizaç prone, tretanto, , ni inas ultrapassavarm o
ão do curso mens upos, .R rodes-
de af
.oçãO»e
ss t ax as de alfabetização
À Tabela 2.3 ilustra afl NCiaâes.
x ilas
alfabetização al «chama atenção nas
«rito Federal, em to do o Brasi |
str
À do Di
xceção
+ que, à
€ que,
enden tes
de n o
cinc
com n aisis
ulação alfabetii zada
m d da P op
a probabilidade de
to na capital federal ser alf um homem pre-
abetizado era maisalta quea
no Paraná ou na Bahia. Apesar de um branco
Bahia
disso, a probabilidad
e de uma mu. pistrito Federal
lher preta da capital ser alfabetizada era
menos que a metade da pro- * Mato Grosso
babilidade de uma branca. A menor taxa de 3 2) 16 36 21 49 37
alfa betização entre Paraná 13 12 22 21 28
mulheres pretas era potencialmente causad pel 27
a a forte migração de Rio G. do Norte 48 39
mulheres de cor do interior do Rio de Janeiro e de Minas
Gerais para seis ou mais anos de
em alunos com
o Distrito Federal. Nota: Os dados do Mato Grosso inclu
pretos.
Nacionalmente, a tendência se confirma. Em 1950, 53% dos idade; a categoria pardos está incluída em
Fonte: “Alfabetização em relaçã o à côr, nos estados”. Arquivo Gustavo Capa-
brancos eram alfabetizados, mais do dobro da taxa daqueles que se nema, CPDOC, 35.12.14g. (569).
declaravam não-brancos. Entre os não-brancos, a diferença entre
pretos e pardos não era grande: 24 e 27%, respectivamente. O grupo
* Númeroe proporção dos habitantes de 5 anos e mais que sabem ler eescre-
e
37 “População geral e em idade escolar, em 1935”, Secção de Documentação ver, presentes em 10-1X-1940 e em 10-IX-1950, por sexo e grupos de
Inep, 1939. Arquivo Gustavo Capanema , CPDOC, idade. In: Conselho Nacional de Estatística. Contribuições
Intercâmbio, para o estudo da
36.12.14g. demografia no Brasil, p.390.
os bran cos.
taxas de alfabetização permaneciam cerca da metade d ad
mostrado, Os pardos ultrapas
assavam
Como
b outros pesquisado
. res têm a
nã apni
E de modo sign! fica tivo.
an não
os pretos em taxas dc alfabetização, mas
as . dos brancos ou fo rmavam
Os pardos também não se aproximavam
na e Como mostra este estudodo,, ataxa
um tipo de categoria intermediária.
:
tiva d do alcance
trii to Federal é« indica
alta no Disistr
indicativa
çã o maisi
zaçã
de alfabetiiza ref lit a outras abarrei-
bora não
quase universal do sistema escolar, em
ntes enfrentavam na
busca da ampliação de
ras que os afrodescende
sua educação. 1. Candelaria
.
2. Santa Rita
6.Sta. Thereza
.
7. Gloria
11.Gambôa
E
12. Eng. Novo
16. Tijuca
17. Meyer Campo Grande 28. Madureira
3. Sacramento s.Lagõa 13. São Christovão 18. Inhaúma as. pps 27. Realengo
s. São José 9. Gavea 14. Engenho Velho 19. Irajá e o Cruz 28. Nítheroy
de as
s. Sto. Antonio 10,SantAnna 15, Andarahy 20. Jacarepaguá 25. Copacab:
- Copacabana
Ea
Digitalizado com CamScanner
130 piOMA DE RRANCURA
ticas da eta
s educaconas € polí
Tabela 2.4 Nomes e endereços das elite
Vargas
Espaço, raça e classe início do século). Esses migrantes internos estavam concentrados
eram
nos subúrbios e nas favelas. Enquanto a maioria dos imigrantes
À medida que as dimensões físicas da cidade mudavam e as oportu- homens e alfabetizados, a maioria dos migrantes internos eram
nidades econômicas se expandiam, os imigrantes e migrantes que mulheres e não-alfabetizadas, sendo muitas afrodescendentes. Um
expulsas
afluíram em massa ao Rio de Janeiro durante a primeira metade do jornalista da época caracterizou os migrantes como pessoas
século se dividiram por raça, classe e ocupação. Apesar do atrativo do campo devido a pressões econômicas, que
para imigrantes recentes envolvidos no comércio, o centro da cidade
teve sua população reduzida entre 1920 e 1940. Os imigrantes eram chegavam às grandes capitais em completa ruina financeira, sem
atraídos para o centro da cidade por comunidades étnicas preesta- compromissos de trabalho anteriormente assumidos e sem conhe-
dos imigran-
belecidas. Além disso, segundo o Censo de 1920, 20% cimentos técnicos ou especializações que lhes assegurassem colo-
tes trabalhavam como comerciantes, e o centro continuava sendo o cação imediata nos quadros do operariado industrial.**
eixo comercial do Rio. Agache notou que um dos bairros centrais
permanecera demograficamente estável “em consequencia da colonia A porcentagem de mulheres entre os migrantes que chegavam ao
syria (mais de 20.000 pessoas em 1920), que habita por cima das Rio em 1940 era tão elevada que havia 4% mais mulheres do que
proprias lojas”.'* Os imigrantes do Oriente Médio estavam con- homens na cidade. Além do mais, a porcentagem de mulheres de cor
centrados em um bairro comercial central ao longo da rua da Alfân- entre esses migrantes era tão alta que havia 10% mais mulheres pre-
dega, em uma área chamada Saara (um jogo de palavras com o deserto tas do que homens pretos na cidade, um desequilíbrio de gênero de
do Saara).*º 22.600 pessoas. Costá Pinto explica que, como as mulheres afrodes-
cendentes que migravam para o Rio costumavam viver na mais bai-
* IBGE, Censo Demográfico - População e Habilitação: Série Regional, par- xa das hierarquias de raça, classe e gênero no campo, tinham mais
te XVI; Distrito Federal. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1950.
tendência a procurar a maior agilidade social e econômica da cidade.
p.21.
5 AGACHE, Cidade do Rio de Janeiro, p.100; Diretoria Geral de Estatística. O grande número de mulheres migrantes no Rio era parte de uma
Recenseamento do Brazil, Realizado em 1º de setembro de 1920... v.4: Po- tendência nacional mais ampla. Embora o início da década de 1950
pulação. Rio de Janeiro: Typographia da Estatistica, 1930. p.25.
46
SAARA é um acrônimo de Sociedade de Amigos e Adjacências da Rua da
Alfândega. LESSER, J. Negotiating National Identity: Immigrants, N AGACHE, Cidade do Rio de Janeiro, p.104.
Minorities, and the Struggle
for Ethnicity in Brazil. Durham: Duke Uni- GOULART, J. A. Favelas do Distrito Federal. Rio de Janeiro: Serviço de
versity Press, 1999. p.78.
Informação Agrícola, Ministério da Agricultura, 1957. p-16.
* LIMA, A. O problema do prédio escolar no Distrito Federal. Cultura Poli- de, mais próximas das fontes de emprego. Segundo Costa Pinto, 70%
tn
tica 1, nº5, p.77-8, 1941, dos habitantes das favelas eram pessoas de cor e, conforme o Censo
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140 | DIPLOMA DE BRANCURA EDUCANDO O BRASIL 141
de 1950, dois terços das favelas eram povoados por migrantes, propaganda do Estado Novo declaravam ter “dado muito
A folhetos de só | =
favela era identificada com a negritude e concentrava em sitodos os trabalho à administração pública Eajusticar
estereótipos raciais. O jornalista José Alípio Goulart definiu a pa- Embora as favelas e os subúrbios abrigassem a imensa maioria
lavra favela como “uma área de desintegração social, desajus
te e
da população afrodescendente do Rio, havia também grande parte da
fragmentação”. Agache as chamou de “bairros infectos” que cria- lação de pessoas de cor que residia na Zona Sul, empregados no
populaç o
vam sérios obstáculos à ordem social e à segurança pública, acres- serviço dos moradores ricos da região. A maioria dessas pessoas de
Em
centando que cor eram mulheres trabalhando como empregadas domésticas.
1940, 86% das empregadas domésticas eram mulheres, e três quar-
construidas contra todos os preceitos da hygiene, sem canalizações tos delas eram de cor. Com efeito, uma em cada três mulheres pretas
d'agua, sem esgotos, sem serviço de limpeza pública, sem ordem, no Rio acima dos doze anos era empregada doméstica.” A preva-
com material heteroclito, as favellas constituem um perigo perma- lência de mulheres de cor entre as empregadas domésticas na Zona
nente d'incendio e infecções epidemicas para todos os bairros atravez Sul era tal que, nesses bairros, 24% da população era não-branca.
dos quaes se infiltram. A sua lepra suja a vizinhança das praias e Entretanto, em toda a Zona Sul, dois terços das pessoas de cor eram
dos bairros mais graciosamente dotados pela natureza. mulheres. No bairro mais elegante, Copacabana, três quartos da po-
pulação não-branca eram mulheres.*
Goulart e Agache ecoavam as percepções populares de que as Apesar de morarem nos lares dos cariocas mais ricos, os afro-
favelas eram antros de doença e criminalidade, embora Agache reco- descendentes da Zona Sul eram, em alguns aspectos, mais margina-
nhecesse que sua maior proximidade dos locais de emprego e o ar lizados do que os das favelas e subúrbios. Copacabana, cujos
fresco dos morros as tornavam atraentes em relação aos populosos habitantes predominantemente ricos costumavam enviar os filhos a
subúrbios. Apesar da opinião pejorativa sobre as favelas, elas abri- escolas particulares, possuía o menor número de vagas em escolas
gavam grande parte da força de trabalho produtiva da cidade, espe- públicas elementares entre todos os bairros da cidade. Em 1932, o
cialmente nas áreas de serviço, transporte e comércio. Não obstante, Departamento de Educação estimava que a população em idade es-
os funcionários públicos tendiam a ver as favelas como uma ameaça colar do bairro era de 8.500 moradores, mas suas duas escolas ti-
e procuravam eliminá-las, às vezes derrubando os próprios morros nham uma capacidade de apenas 640 alunos (que foi ampliada para
em que haviam se estabelecido, como foi feito com o Morro do Castelo acomodar 850 alunos por meio do funcionamento em três turnos).
eo Morro Santo Antonio no centro da cidade, comunidades que os Para o diretor de construção de escolas, Nereu Sampaio,
Embora
esse exemplo evidencia a angustiosa situação do 1º Distrito E do nos afrodescendentes durante a escravidão.
lar, localizado num dos melhores bairros da SCo- oncen trado a uma análise econômica das desigual-
o nossa c idade e onde mbém aderisse
a ,Costa Pi nto ta
população pobre se occulta, menos em
casebres que em habitaçã b ase nas classes, ele não
culpava a anomia cultural dos
0es dades com dos. Em vez disso, defen-
ntes pelos problemas percebi
collectivas, ] no centr o das quadras, em grandes
estalagens e em an-
afrodescende análise em extensa
tigos solares, transformados em “cabeças de porco”. ribuiç ão das riquezas, e baseava sua
dia uma redist racial que trans-
a s pa drões de desigualdade E
ui sa estatístic do a
O sociólogo Costa Pinto foi talvez o primeiro intele pesq s so ci ai s.
ctual a estu- cendia m as cl
asse
ância no
dar especificamente a comunidade afrodescendente
do Rio de Janei- O estu o o b s e e no Rio “ a dist Jia
rvou quCas
do de Co s t a Pi nt"
ro. Seu livro O negro no Rio de Janeiro, publicado em
1953 como espaço físico está a refletir nitida
mente a distância no espaço social”.
parte dos estudos sobre raça da Unesco no Brasil, é um marco da subúrbios, a distância podia ser medida em
n o extremo sule os
Entre
análise estatística e demográfica. Costa Pinto retratou uma cidade ricos e as favelas
quilômetros, enquanto entre os bairros
econômica e geograficamente segregada por raça. Os moradores de
social,
cor se concentravam nos subúrbios, nos quartos de empregada dos esta distância se mede no plano vertical: quer no espaço
base
bairros ricos e nas favelas, que Costa Pinto caracterizou como “nú- entre as classes, já que aqui a distância fundamental é entre a
cleos segregados de população pobre e de côr exatamente nos bairros eo vértice de uma pirâmide de classes, quer no espaço físico, onde,
onde os brancos constituem a maioria”. inversamente, a distância é medida do vale para o monte, para o
O projeto da Unesco foi proposto pelo antropólogo Arthur Ra- alto dos morros, para as favelas, onde está a população mais pobre,
mos para estudar a chamada democracia racial do Brasil como um
contra-exemplo da intolerância racial desencadeada pelo holocausto. invertendo, assim, a pirâmide de classes. A distância podia ser medida
As pesquisas de cientistas sociais brasileiros, europeus e norte- também pela taxa de mortalidade infantil: 123 em mil entre os bran-
americanos foram financiadas pela Unesco e envolveram gerações cos, comparada a 227 em mil entre os não-brancos. De forma similar,
de estudiosos das relações de raça. A principal linha analítica a a distância era evidente nos padrões de emprego: os afrodescendentes
emergir desses estudos, liderada pelo sociólogo Florestan Fernandes, concentravam-se nas ocupações manuais e na economia de serviços
afirmava que as desigualdades raciais tenderiam a desaparecer à e, enquanto 7% dos brancos estavam listados como empregadores no
medida que os afrodescendentes se integrassem ao mercado de tra- Censo de 1940, apenas 1% de pretos e pardos surgiam nessa condi-
balho e se tornassem plenos participantes da sociedade de classes.
Fernandes afirmava que a desigualdade contemporânea fundava-se o
nas desvantagens culturais, sociais e econômicas que se haviam ” Fernandes argumentava que, no Brasil pós-emancipação, “os negros é
mulatos permaneceram de lado ou se viram excluídos da prosperidade geral
e dos benefícios sociais, porque não possuíam os pré-requisitos para parti-
cipar do jogo ou seguir suas regras”. FERNANDES, The Negro in Brazilian
9 SAMPAIO, N. de. “Plano regulador”, p.376. Society, p.56. Sobre o estudo da Unesco, ver MAIO, M. C.; SANTOS, R.
& COSTA PINTO, O negro no Riode Janeiro, p.135.
V. (Eds.), Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996.
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144 DirLOMA DE BRANCURA EDUCANDO O BRASIL 145
- a . .
ção. Para Costa Pinto, um imenso abismo em um dos
físico social cres! cimento da cidade, e transformou o Rio
'monopólio do
ss .
dividia brancos e não-brancos no Rio.*
-
so dos funcionários públicos na expansão da educação pública no à população remediada e rica do bairro”.
notá : ento do sistema escolar Seguindo o padr
período entreguerras ée notável. O crescim ão esta belecido pela reforma Pereira Passos, os afro-
JU)
descendentes viviam física, social e economic
amente às
vida no Rio de Janeiro. Quer nos subúrbios ou nas Margens da
favel
às, a Maioria
da população afrodescendente vivia em meio ambie
nte S percebidos
pelos funcionários públicos como degenerado.
Entretanto, o Rio de Janeiro foi tam
bém um lugar onde o rela-
os
cionamento entre os afrodescendentes e a vida
pública mudou. O O que aconteceu com
professores de cor do Rio?
governo da cidade quebrou o “monopólio” na educ
ação, e desde à
década de 1920 isso atraiu estudantes de cor para escol
as em número
tal que suas taxas de alfabetização subiram mais do que
a média de
muitas comunidades brancas brasileiras. Essa mudança levan
ta ques-
tões. Por que o padrão histórico de exclusão se alterou? Isso signi-
ficava plena integração? Quais eram os termos da inclusão? Criando
O primeiro sistema escolar público universal no Brasil, o Rio de
ilustram uma
Janeiro foi o primeiro a enfrentar essas questões e a estabelecer ter- Duas fotografias tiradas com 35 anos de diferença
ssor no
mos duradouros para a inclusão seletiva de afrodescendentes na vida mudança drástica no tipo de pessoa que podia se tornar profe
va
social, econômica e pública da nação. Rio de Janeiro, assim como o modo pelo qual essa pessoa se torna
professor. A Figura 3.1 mostra um grupo de professores afrodescen-
dentes junto à equipe da escola vocacional Orsina da Fonseca. A
Figura 3.2 mostra professores formandos brancos e seus professores
no baile de formatura de 1946 da antiga Escola Normal, que em 1932
se tornou o Instituto de Educação. Essas fotografias, como muitas
outras contidas no arquivo de Augusto Malta no Rio, nos anuários
do Instituto de Educação e em outras fontes apontam para uma forte
presença de professores afrodescendentes nas escolas do Rio de Ja-
neiro. Mais radicalmente, essas fotografias mostram a redução gra-
dual no número de afrodescendentes até que, no final das décadas de
1930 e 1940, eles praticamente não eram mais visíveis. Este capí-
tulo trata dos Processos históricos que levaram ao gradual branquea-
mento do quadro de professores do Rio de Janeiro.
Embora as fotografias levantem muitas questões, o foco
aqui está
sobrea dinâmica
deb ranqueamento, em especial sobre os processos
de ima Tio .
Profissionalização do ensino e de treinamento de professores.
Ainda que os reformadores da educaç es decor no Brasil, mas as fontes proporcionam uma ima-
ão vissem a Profissionalizaçs pro fessor
como um processo meritocrático e técnico, era uma ação; ação
gem mais CO ncreta do processo histórico, assim como ressaltam os
mente política que produzia vencedore Nerente.
s e perdedores, N O caso da s nas políticas de treinamento de professores. A
riscos envolvido
profissionalização do ensino, a política envolvia valo a leit ura de fontes iconográficas e análises de pro-
res combina- combinação dess
dos de raça, classe e gênero. O quadro imaginado de pro
fessores — cessos institucionais lança luzes, de um lado, sobre a tensão entre a
com efeito, o moderno quadro de professores que os re a elasticidade e a ambivalência da raça no Brasil e, de
formadores ambibigúidade ,
educacionais criaram — era branco, feminino e
de classe média. Mu- outro, S obre a influência da raça como força estruturadora da vida
danças sociais mais amplas contribuíram paraa
criação d esse corpo pública brasileira.
de professores, inclusive gradual diminuição no númer
o de homens
procurando emprego como professores, assim como a
crescente par-
ticipação no mercado de trabalho de mulhe
res brancas de classe De volta ao tempo em que havia professores de cor
média. Mas esses processos acompanharam um projet
o deliberado
dos reformadores de forjar uma identidade para os profes O arquivo fotográfico de Augusto Malta fornece um vislumbre de
sores da
cidade. Suas políticas virtualmente impediram que homens recebe uma das mudanças mais drásticas nos padrões de raça e educação no
s-
sem treinamento para se tornarem professores e criaram normas que Brasil. Na virada do século, o sistema escolar do Rio de Janeiro
tornaram cada vez mais difícil para os candidatos pobres ou afrodes- contava com diversos professores, administradores e diretores de
cendentes iniciarem esse preparo. escola de cor. À história que essas imagens contam contrasta forte-
Combinar as fotografias do arquivo de Malta com uma análise mente com as fotografias da coleção da década de 1930 e com as
da profissionalização do ensino revela a complexidade de escrever fotografias de professores se formando no Instituto de Educação nas
sobre o penetrante papel da raça na mold agem das políticas públicas. décadas de 1930 e 1940.
As políticas que os reformadores colocaram em prática não visavam Malta era o fotógrafo-cronista da cidade, e seu trabalho se esten-
especificamente a barrar o acesso à profissão a nenhum grupo par- deu ao longo de toda a República. Embora sua tarefa fosse registrar
ticular. O problema histórico jaz, na verdade, em como os refor- o ritmo do progresso, seu estilo era menos o de um publicitário do
madores imaginaram que era o profissional moderno do ensino, e século XX e mais o de um paisagista do século XIX: ele capturava
como buscaram atingir suas metas. Uma análise da reforma no trei- espaços. Como as escolas públicas eram projetos do governo, Malta
namento dos professores - especificamente na seleção enos proces-
fotografou centenas de prédios, classes, instalações, professores e
sos de treinamento de professores no Instituto de Educação do Rio alunos. Tirou a maioria das fotografias no início do século, apesar de
de Janeiro - mostra a implementação de práticas que tornaram difícil
acoleção chegara 1935. As mais de quatrocentas fotografias de escolas
a candidatos que não se encaixavam naquela visão de professor
e salas de aula revelavam um padrão: durante as primeiras duas
moderno obterem acesso à profissão. As fotografias, entrevistas e
décadas do século, muitos professores eram visivelmente afrodes-
outras fontes que apontam para experiências de indiví
duos, e de
afrodescendentes em particular, não substituem uma história dos Cendentes; após a década de 1930, deixaram de aparecer. Segundo
minha leitura subjetiva, cerca de 15% dos professores que Malta
e 1940,a esmagadora
maioria de pr
lheres brancas. Em 192
0, mais de 80% dos pro
fessores de escolas
Rioeram mulheres.?
tido Kva A
[ E” ,
jo
Pa o
|
Figura 3.3. Professora de cor na Escola Pedro Varela, 1923. Coleção Augusto
Malta, MIS, Secretaria de Estado de Cultura e de Esporte do Rio de Janeiro,
127r/f009529.
E; Wma
! BORGES, D. The Family in Bahia, 1870-1945. Stanford: Stanford Uni- Figura 3,5. Diretores da Escola Visconde de Cairu, 1908. Coleção Augusto
versity Press, 1992. 364, nº36.
Malta, MIS, Secretaria de Estado de Cultura e de Esporte do Rio de
2 Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil, v.4, p.27. | 127a/1008677, Janeiro,
st
lo fessores fossem minoria, a extensão de sua integra-
dos casos esses Pro
cial não deixa de ser impressionante. Em muitas fotografias,
ra!
ç ão fessores .
de cor posaram juntos, o que sugere que eles — como os
pro
“ornalistas de cor na Escola Souza Aguiar — pudessem ter comparti-
Jo
-
Jhado uma “dentidade racial, se identidade for definida como demons
tração de sol idariedade.? A elegância com que esses professores estão
vestidos indica que eram indivíduos de destaque social. Eles exerci-
am autoridade sobre crianças em sua maioria brancas e trabalhavam
em uma profissão respeitada. Sua presença como professores, com
Etuigroa Cute rio Maddãa os homens afrodescendentes que aparecem como professores, admi-
“e
nistradores e jornalistas em outras fotografias, sugere a existência de
eo iii da
Figura 3.6. Equipe da Escola Normal d o Rio de Janeiro, 1906. Coleção Au gusto : 54: : E .
, E
Malta, MIS, Secretaria de Estado de Cultura e de Esporte do Rio de
. Janeiro uma comunidade afrodescendente de classe média no Rio de Janeiro
127f/1008970. t As fotografias de Malta apontam para um conjunto de proble-
mas históricos. A existência ou a ausência de diferentes grupos so-
ciais na profissão de professor no início do século é difícil de provar.
Dados dos Censos, por exemplo, fornecem poucas pistas. O Censo
de 1920 não fez diferenciações entre raças; o de 1940, embora tives-
se feito essa diferenciação, juntou as categorias de professor público
e funcionário do governo. Em 1940, apenas 7% das mulheres do Rio
de Janeiro que trabalhavam no setor público identificavam-se como
pretas ou pardas, ainda que as mulheres de cor constituíssem quase
um terço da população feminina da cidade. Em 1940, 11.747 mu-
lheres foram listadas como trabalhando no ensino e no serviço pú-
blico do Rio de Janeiro, mas apenas 178 delas se identificavam como
Pretas e 697 como pardas.* Os dados do Censo não proporcionam
= mu
- «a = a o E TD
Figura 3.7. Professores da Segunda Escola Mista, 1908. Coleção Augusto Ver HOLLINGER, D. Authority, Solidarity, and the Political Economy
of Identity: The Case of the United States. Diacritics 29, nº4, p.119, 1999.
Malta, MIS, Secretaria de Estado de Cultura e de Esporte do Rio de Janeiro,
Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento do Brasil, v. 4, p-XIII; IBGE.
127s/1009554.
Censo Demográfico — População e Habilitação, p.26-9.
p.99. : E .
à emancipação da nossa cor; envio meus parabens, fazend o votos
pela sua prosperidade e que alcance o exito almejado por todos ha no sistema escolar e ajudava-os a serem nomeados. Maria
a nha n
no Rio na déca-
que estudou em escolas particulares
os jntervi
collaboradores.* inhares, . '
Yyedda Lin sec
retária da Educação do Rio de Janeiro
0 e atuou como
da de 193 a (1988-1992), lembrou que
No mesmo espírito, as memórias dos membros da Frente Negra ministração de Leonel Brizol
durante a ad es que “tinham um pisto-
afirmam que vários líderes da organização na década de 1930 eram colares contratavam professor
os sistemas es
a, que foi membro
professores.” Quer abraçassem uma identidade descendente, quer se . “nham um protetor "10. Aristides Barbos
Jão, que tin , lembrou-se de vários colegas profe
s-
São Paulo
considerassem brancos em virtude de seu status social prof issional, os da Frente Negra em
professores inevitavelmente adotavam algum tipo de identidade racial.
ncaixavam nesse perfil: “O Ovídio era um professor
sores que se €
amador, ele nã o era nem form
ado. Naquela época faltava professor e
Um conjunto similarmente limitado de fontes fala das origens
professor pri-
urso na Secretaria da Educação para ser
sociais desses professores, ou do caminho que deram a suas carrei- ele fez um conc :
da Frente Negra não teve tanta sorte
ras. Norma Fraga, uma professora de cor aposentada que estudou no mário”. Outro membro
sistema escolar público do Rio eno Colégio Pedro II durante o Estado
fazer ginásio, aí você
Novo, sugere que esses professores de cor vinham principalmente Naquele tempo era muito comum a gente
estava querendo um em-
de famílias pobres e haviam sido educados por instituições religio- entrava como professor normalista, e ele
.. arranjava as
sas de caridade. Eles se valiam de sua educação básica para ensinar prego e tal. A tia dele, que conhecia vários políticos.
ali, mas as cartinhas
as “primeiras letras” nas escolas públicas. Com efeito, na primeira cartinhas para ele ir não sei em que lugar, aqui,
metade do século XX menos de metade dos professores atuantes falharam."
recebia algum grau de especialização, o que passou a ser bastante
am que
criticado pelos reformadores educacionais. Embora no final do sécu- A coleção de fotografias de Malta e outras pistas mostr
ras
lo XIX os governos estaduais tivessem começado a organizar escolas havia um corpo de professores afrodescendentes que, nas primei
normais que ensinavam aos professores, em 1950 apenas 60% dos décadas do século, lecionava nas escolas públicas urbanas. Esses
professores eram formados pela escola normal.” professores conseguiram emprego em virtude de uma combinação
Em vez de receber treinamento profissional, os professores do de seu nível comparativamente alto de educação (segundo estatísti-
ensino elementar costumavam ser formados no secundário, às vezes cas do IBGE, em 1946 apenas 4% dos indivíduos de 24 anos de
até nem isso. Frequentemente tinham um “padrinho” poderoso que idade no Brasil haviam completado o secundário) e a influência
potencial de um patrono.!? As fotografias sugerem a possibilidade
sileira: Depoimentos. São Paulo: Quilombhogje, 1998. p.30-42. BARBOSA, A. Frente Negra, p.29-30.
FRAGA, N. Entrevista a Jerry Dávila, 13 jul. 2000. FREITAS, T. de. A escolaridade primária e a política educacional, cap. 5.
XAVIER, M. E. etal. História da educação: a escola no Brasil. São Paulo: “Revelações dos Números no Terreno Social
(1946). Coleção Freitas, da
FTD, 1994. p.62. AP 48, Caixa 55, Pasta 15,
de que os professores de cor tenham assumido ofessoras e, embora tivesse falado do problema de sua
uma identidade expe-
ma de pr Pelotas, descreveu-o em termos gerais
afrodescendente, e outras fontes mostram para uma platéia
que alguns Professores riê ncia ma década antes, o jornal afro-brasile
assumiram uma consciência social e políti iro
Getulino traçou
ca como afrodescenden- nacio na | de Norberto de Souza
tes. As fotografias mostram também que o Pinto, professor de Campinas,
número desses profes- um perfi que
sores declinou visivelmente com o tempo: arentemente possuía o diploma de professor. O perfil apre-
a maioria estava presente também ap . . . .
em fotografias tiradas entre 1900 e 1920, enqua tava Souza como um jovem cavalheiro, virtuoso e aplicado. Mas
nto muito poucos senta
estavam presentes em fotografias tiradas após 1930.
O desaparecimento gradual dos professores de em outro meio ambiente, em que a modestia não constituisse, por
cor no Rio de
Janeiro não é, mais uma vez, assunto direto vezes, um tropeço à realização de justas aspirações, o prof. Norberto
de muitas documenta-
ções históricas. A fonte mais direta foi um discu de Souza Pinto, pelo seu preparo geral, teria conseguido logar de
rso pronunciado em
1934 no Congresso Afro-Brasileiro no Recife destaque no magisterio público, sem essas injustas preterições que,
, organizado por Gil-
berto Freyre na cidade em que morava, logo após a publi ainda há pouco experimentou.
4 1 14
cação e
fantástica recepção pública de Casa grande e senzala. O encontro reuniu
uma eclética mistura de antropólogos, eugenistas e outros cienti Embora o Getulino não especificasse quais eram essas preterições,
stas
sociais, de um lado, e membros de organizações religiosas e sociais a própria palavra escolhida pelos editores refere-se a ações tomadas
afro-brasileiras, de outro. O livro de ensaios publicado com base de modo disfarçado: enquanto publicamente se afirma uma coisa, na
no
congresso incluiu uma breve declaração feita por um membro da Frente verdade se faz o contrário. Descreve-se assim possível discrimina-
Negra de Pelotas, Rio Grande do Sul: ção em que motivos raciais são negados por trás de uma aparente
democracia racial.
Muitas jovens ethiopes, que se diplomam educadoras, lutam Essas descrições dos obstáculos enfrentados por professores de
para conseguir lecionar e tem que o fazer particularmente, na im- cor vieram de diferentes partes do Brasil. Dentro da experiência da
possibilidade de trabalhar para o Estado. A maioria desiste, vendo cidade do Rio de Janeiro, todavia, é possível testemunhar a criação
os exemplos dolorosos, e vão para a costura, condição máxima que eaimplementação de políticas para selecionar e treinar futuros pro-
pode desejar a mulher que possue as 'consideradas' caracteristicas fessores que criaram condições hostis para afrodescendentes e bra-
da descendencia africana”.!3 sileiros de classe baixa que tentavam ser professores. Desde a segunda
década do século XX, a sucessão de reformadores — Afrânio Peixoto,
Em 1934,0 porta-voz da Frente Negra via uma tendência contra Antônio Carneiro Leão, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira —
a contratação de professoras de cor mesmo que elas tivessem expandiu e reformou os programas de aprendizagem dos professores
diplo-
da cidade, colocando em prática valores que definiram o ensino como
“ BARROS, M. Discurso do representante da Frente Negra Pelotens
e. Estu-
dos Afro-Brasileiros (Trabalhos apresentados no 1º
Congresso Afro-Brasi- TT
ral. Em seu relatório sobre a transformação da escola normal no ou mesmo educação geral, e o imerecido ar de elite que assumiam.
Instituto de Educação, denunciou “ainda
Esses eram os professores que ensinavam em escolas que
“dormiam sua sesta colonial", comentou Azevedo.” No lugar des-
o desembaraço com que qualquer pessoa, no Brasil, se arroga o
ses professores do atraso, os reformadores buscavam um corpo
título de professor e, mais, O fato de nossos costumes e nossas leis o moderno, que se coadunasse com a imagem de uma elite moderna
tolerarem demonstra que, na própria consciência pública, não ha treinada cientificamente, muito bem-educada, refletindo as normas
diferenciação para os que tenham passado por um Instituto de pre- mais rigorosas de saúde, temperamento e inteligência, e dotada de
paração para O magistério. Compreende-se, assim, que se possa um senso corporativo de identidade e classe social semelhante ao dos
chamar de professor a qualquer, que saiba ou presuma saber, e não militares. Mário de Brito, diretor da escola secundária do Instituto
sómente ao que saiba ou deva saber ensinar.” de Educação (responsável pelos critérios de filtragem e seleção dos
professores aspirantes), capturou o espírito da transformação quan-
Esses reformadores lutaram contra o que percebiam ser o atraso do declarou: “para novos métodos, seria imprescindivel novo pes-
do Brasil, e porque buscavam criar uma nova sociedade, modelaram soal de execução”.?º
sua visão cada vez mais nos Estados Unidos. À educação era seu Quando esses reformadores saíram a modernizar o Brasil
meio para alcançar a transformação, e a reforma do treinamento dos reinventando a educação, nenhum dos ingredientes de sua fórmula
professores e a profissionalização do ensino eram um microcosmo podia ser encontrado em casa. Como as elites brasileiras haviam feito
de suas idéias. Como o preâmbulo da lei estadual regulando o ensino ao longo dos séculos, eles foram fazer compras no mercado interna-
normal em Minas Gerais ressaltava, cional de idéias. Embora os brasileiros em busca do moderno ainda
se voltassem à Europa, na década de 1920 passaram a olhar cada vez
[a reforma só pode ser alcançada] ... no dominio do ensino normal, mais para os Estados Unidos também. As teorias genéticas e eugê-
matriz do ensino primario, que somente pela renovação e o reajus- nicas britânica e alemã, os modelos criminológicos italianos e os
tamento do primeiro poderá ser renovado no seu espírito e reajus- esquemas franceses para medir inteligência eram todos consumidos
tado nos seus termos. por uma emergente classe de cientistas e cientistas sociais preocupa-
dos com o estabelecimento e o gerenciamento de uma ordem “natu-
Para os reformadores, os professores existentes simbolizavam ral” para sua sociedade. Influentes cientistas sociais dos Estados
esse atraso com seu clientelismo, falta de treinamento profissional Unidos, como o educador John Dewey e o psicólogo Lewis Terman,
também criaram teorias e práticas que os reformadores educacionais O Instituto Internacional facilitava a integração de estrangeiros
do Brasil devoravam.” nos programas do Teachers College, ao mesmo tempo que lhes for -
Durante sua gestão, Anísio Teixeira transformou a escola nor- necia um panorama da educação nos Estados Unidos. Os alunos
mal do Rio no Instituto de Educação, uma instituição inspirada no seguiam um Curso Fundamental que incluía visitas a escolas públi-
Teachers College da Universidade de Colúmbia em Nova York, onde cas. Parte desse programa era uma viagem a escolas ligadas ao
acabara de completar seu mestrado. À reorganização efetuada por Teachers College em Baltimore, Washington e no segregado sul.”
Teixeira na escola normal combinou a tradição da elite brasileira de Entre 1920 e 1959, 86 educadores brasileiros estudaram no Teachers
importar as idéias que estruturavam suas instituições com o crescen- College — um número superior ao dos educadores de qualquer outro
te desejo das elites e instituições nos Estados Unidos de exportar seu país latino-americano. Dezenas desses alunos matricularam-se na
pensamento educacional e científico social, O Teachers College da década de 1920.% A vasta maioria dos alunos era de mulheres sol-
Universidade de Colúmbia era o primeiro destino nos Estados teiras, o que reflete o grau em que o ensino se tornou um meio para
Unidos para educadores brasileiros. Com a ajuda de um milhão de as mulheres brasileiras afirmarem sua independência econômica e
dólares doados por John D. Rockefeller, o Teachers College abriu seu profissional.
Instituto Internacional em 1923 a fim de recrutar educadores estran- O esforço do Instituto Internacional em disseminar os métodos
geiros para estudar nos Estados Unidos.?? As ambições desse progra- e as idéias da educação norte-americana em outros países não pode-
ma estavam a apenas um passo do imperialismo do início do século. ria ter sido mais eficaz do que em seu relacionamento com Anísio
O diretor do Instituto Internacional, Paul Monroe, havia ajudado na Teixeira. Depois que Teixeira retornou ao Brasil e assumiu a dire-
criação do sistema escolar nas Filipinas, enquanto membros de sua toria do sistema escolar do Rio, implantou uma série de reformas
equipe haviam trabalhado em outra recente aquisição norte-americana, espelhadas em suas experiências em Colúmbia. A reestruturação da
Porto Rico, ou na abertura de escolas cristãs na China. Eles proje- escola normal como um Instituto de Educação nos moldes do Teachers
tavam o treinamento de uma elite educacional internacional “desti- College foi central em seu programa. Ele desenvolveu uma escola
nada a ocupar posições estratégicas em seus país natal”.? elementar experimental no Instituto como a Horace Mann School do
Teachers College. Com o fim de preparar candidatos para a Escola
21 Ver ROSS, D. The Rise of American Social Science. Cambridge: Cam- de Professores do Instituto, Teixeira organizou também uma escola
bridge University Press, 1991; e (Ed.) Modemist Impulses in the Social
secundária altamente seletiva. Com efeito, ele havia sido tão influen-
Sciences. Baltimore: Johns Hopkins University Press,1994; e GOULD,
The Mismeasure of Man.
ciado por sua experiência em Colúmbia que Lois Williams, um norte-
2? CREMIN,L. A.;SHANNON, D. A.; TOWNSEND, M. E. A History of americano que ele recrutara para dirigir a educação física no Rio, disse
Teachers College, Columbia University. Nova York: Columbia University
Press, 1954. p.77.
3 Carta de James E. Russell a Wycliffe Rose, 18 dez. 1932. In: FLEISCH, 2 Teachers College Report of the Dean for the Year Ending June 30, 1928.
B. D. The Teachers College Club: American Educational Discourse and the Columbia University Teachers College Archive, 40.
Origins of Bantu Education in South Africa, 1914-1951. 1995. 24p. (Ph.D. 2 Students from Other Lands in Attendance at Teachers College to Date of
diss.) —- Columbia University. Spring 1959. Columbia University Teachers College, 2.
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168 DIPLOMA DE BRANCURA O QUE ACONTECEU COM OS PROFESSORES DE COR DO RIO? 169
antes de tudo, à acquisição de uma technica psychologica, de uma servir de modelo para a nação. À nova instituição foi concebida como
o entre o público e a política educacional: restringia o trei-
technica intellectual e de uma technica moral. um filtr
gem em que elles têm de se entender com os seus mestres”.º! Quando Fernando de Azevedo — sociólogo que foi um dos pri-
sua
A reforma Campos tornou-se o paradigma do treinamento de meiros líderes da Sociedade de Eugenia de São Paulo — iniciou
ini-
professores sobre o qual os outros projetos de escola normal nos anos reforma da educação pública na capital, uma de suas primeiras
um sun-
Vargas se desenvolveram. Anísio Teixeira reconheceu o trabalho de ciativas foi mudar a escola normal do centro da cidade para
Campos quando transformou a escola normal do Rio de Janeiro no tuoso novo prédio no bairro tradicional da Tijuca.” A localização do
a
Instituto de Educação. O programa de Campos estabeleceu defini- prédio e sua elaborada semelhança com um colégio jesuíta ajudou
promover a nova imagem da escola normal como uma instalação mais
tivamente o treinamento de professores como uma forma de educa-
ção superior, fundada no estudo de ciências sociais. Os estagiários acessível à elite (ver Figura 3.8). Simultaneamente, Azevedo conti-
— em sua maioria mulheres — educados na escola normal de Minas nuou a institucionalização do treinamento pedagógico como ensino
Gerais depois de 1930 estavam entre os primeiros brasileiros a re- pós-secundário e introduziu um programa de sociologia influencia-
ceber aprendizagem formal em psicologia. Mais ainda, eles foram do por John Dewey, Emile Durkheim e Edouard Claparéde.
talvez as únicas pessoas fora da comunidade médica treinadas a le- A mais ampla transformação da escola normal ocorreu quando
cionar sobre higiene e puericultura, Anísio Teixeira reestruturou-a como Instituto de Educação. Ele divi-
diu o Instituto em escola elementar para o ensino de estudantes, uma
ria
Escola de Professores em nível universitário e uma escola secundá
ento de
Da Escola Normal ao Instituto de Educação que preparava alunos para a Escola de Professores. O treinam
professores incluía biologia, pedagogia, sociologia e psicologia, esta
A escola normal do Rio de Janeiro passou por uma reforma entre última instituída por Manoel Lourenço Filho. Teixeira justificava:
1927 e 1934 nas mãos de dois dos principais educadores do Brasil,
Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira. A reforma estendeu a pro- í
Não5 se tratava, sómente,
i
de elevar esse preparo ao nivel uni Iver-
ps ja à eza
fissionalização além do programa de Campos em Minas Gerais, sitario para dar ao professor a cultura basica necessaria à largu
objetivando não apenas treinar professores na capital mas também
”
Ibidem, p.9, 18 STEPAN, The Hour of Eugenics, p.64.
DE COR DO RIO? 175
era admitida na Escola de Professores, o que estreitava ainda mais os stituto reforçou à disciplina de gênero admitindo no início não mais
In
canais e reforçava os critérios profissionalizantes para ser contratado do que 10% de homens em uma classe, e logo em seguida admitindo
como professor da Prefeitura. apenas mulheres. Depoimentos sugerem que os poucos homens
Não há provas de que a exclusão racial fosse deliberadamente admitidos passavam por maus bocados: segundo uma fonte,
pretendida por essas políticas. Não obstante, Teixeira era claro a
respeito da agenda por trás da série de barreiras apresentadas pelo tivemos um, mas nós inventamos que era bailarino do Teatro Mu-
Instituto: nicipal. O pobre sofreu horrores com a minha turma ... ele teve
que abandonar porque era muito fraco. Não aguentou. Nós pinta-
o objetivo de preparar elites technicas equivalentes ou superiores mos tanto com ele ... Tornamos a vida dele tão infeliz que ele aca-
às dos demais paizes [criou a] necessidade de uma verdadeira bou saindo. Desistiu. Não foi ser professor.
: teti a bo 37
foi diretor da escola secundária do Instituto de Educação que admi. os futuros professores, o exame era um espetáculo pú-
de saúde d
nistrava o processo de admissão, os testes de inteligência et ava a imagem de uma hierarquia social medica-
ajudavam blico que proj
a selecionar “os mais capazes”. ática.
mente meritocr
Embora o processo de admissão fosse composto por
orado que celebrava normas
O exame médico era um ritual elab
uma bar-
reira de testes acadêmicos e de inteligência, o primeiro estágio
das eugênicas de saúde. Primeiro, abria-se uma ficha que incluia uma
admissões era um exame de saúde eliminatório. Como explicava
fotografia e a impressão do polegar para confirmar a identidade, 0)
Brito: assina-
responsável legal pelo candidato apresentava uma declaração
da sobre as doenças e cirurgias anteriores do candidato. O exame
Tendo em vista não ser do domínio da práctica corrente, mes-
começava com uma verificação por parte de uma enfermeira = apa-
mo entre as pessoas abastadas, o hábito dos exames periódicos de a
rência do candidato vestido e do estado de sua pele. Seguia-se
saúde, destinados mais a prevenir do que a remediar as suas per-
medição daaltura, peso e capacidade pulmonar do candidato, efetua-
turbações, decidiu-se iniciar a seleção com o exame médico, que
da não por uma, mas por duas enfermeiras, que verificavam e auten-
atingiria, assim, a quantos requeressem admissão; os benefícios
ticavam o julgamento uma da outra “verificando-se destarte, aí, como
de tal exame, como simples advertência ou como providência
em tudo o mais, rigorosa responsabilidade individual pelo serviço
indispensavel e inadiável em certos casos, não ficaria adstrito, por
executado”. Depois das medidas e do exame da aparência do candi-
esta fórma, ao número relativamente reduzido dos alunos aceitos
dato, um médico examinava o sistema circulatório e respiratório,
após as provas de inteligência e de preparo, constituindo-se, ao
enquanto outro avaliava a visão e a audição, e um terceiro verificava
contrário, em centro irradiador de educação higiênica e sanitária
os ossos e o sistema nervoso, assim como a higiene dental.” A Figura
para alguns milhares de individuos, dado que a propaganda que os
3.9 ilustra a execução de um conjunto de exames biométricos efetua-
mesmos representam para a consecução dêsse objetivo atúa tam- dos na escola vocacional para mulheres Rivadávia Corrêa.
bém nos pais e demais pessoas das famílias dos candidatos.'!
As normas de peso e altura dos candidatos seguiam um ideal
eugênico restrito. Alguns professores que se formaram nesse perío-
A observação de Brito ilustra a extensão em que as preocupa- do lembram-se de colocar pesos em sua roupa de baixo ou comer
ções eugênicas com a saúde pública e a higiene orientavam o pensa-
grandes quantidades de manteiga em desesperados esforços de últi-
mento a respeito das admissões no Instituto. Reflete também a
ma hora para se encaixarem nos critérios.” Se brasileiros decor, ou
pressuposição dos diretores do Instituto sobre a classe social dos
outros, objetaram quanto aos critérios adotadas para admitir candi-
candidatos, observando que as normas do exame e da saúde eugênica
datos no Instituto, nenhum registro restou. Entretanto, membros da
se aplicavam até os ricos. Além de definirem os padrões físicos e Frente Negra de São Paulo reclamaram que exigências de altura como
boa disposição que apresentavam os alunos”.*º Disciplina, naciona as da Escola de Professores (e monitora da disciplina) improvisou
- n número escandaloso. A aluna executou uma dança
“agitada” con-
lismo e motivação eram três das bases da nova profissionalização um
mais “imprópria” pelo fato de ela não estar usando sutiã.
promovida pelo Instituto, formando um componente fundamental side radaainda
para a aceitação da reforma educacional pelas elites políticas. Em Houve dois aspectos do comportamento dos dançarinos que gera-
consequência, um momento de impropriedade durante a demonstra- ram escândalo. O primeiro foi a imagem de mulheres vestidas de modo
ção de educação física do final do ano foi tão escandaloso que Brito prio dançando no Instituto, que cultivava uma imagem severa
impró . “ º , 2,
apresentou sua demissão diante do incidente, sentindo que falhara de decoro. O segundo foi a natureza agitada” da dança, já vista como
em preservar a imagem pública do Instituto. uma preocupação em relação ao instrutor “um tanto vulgar”. Tudo isso
Segundo Brito, as cerimônias do final do ano “giravam, princi- diante do pano de fundo de uma segurança inadequada e “classes
palmente, em torno da educação física, não apenas para incentiva-la, populares” lotando a augusta instituição. A descrição de Brito é indi-
como porque só assim a tarefa seria visivel”. A exibição de educação reta e não dá uma noção precisa dos eventos ocorridos, embora, pela
física demonstrava tanto a disciplina quanto o resultado do movi- sua carta de demissão, seja seguro concluir que o evento foi percebido
mento eugênico na criação de uma raça “mais saudável”. No dia da por Brito e provavelmente Teixeira como grave. Em outro nível, o
exibição, no entanto, tudo deu errado. Como a exibição era um even- significado do que Brito disse é muito claro: a descrição de uma dança
to público, a escola havia requisitado a presença da Guarda Muni- sensual, agitada, por mulheres indecentemente vestidas diante de uma
cipal para controlar a multidão. Mas o contingente de guardas que platéia de populares lembra Carnaval. Independentemente da cor das
chegou com duas horas de atraso foi descrito como “simplesmente pessoas envolvidas, a imagem do Instituto e, portanto, sua missão
ridículo”, A ausência da polícia nas portas resultou em uma “inva- corriam o risco de descer de volta ao ponto da negritude.
são do edifício por populares”. O Instituto estava tão lotado que “a O escândalo que se seguiu criou precisamente o efeito oposto ao
simples locomoção era penosa dentro do edifício” .*! que se desejava com aquelas exibições. Funcionários do Instituto
A falta de segurança e as multidões de classe baixa simplesmen- queriam mostrar a harmonia e a disciplina dos corpos dos alunos,
te armaram o palco para a controvérsia. O instrutor de dança, que moldados pela educação ordenada e hierárquica que recebiam nos
Brito descreveu a Teixeira como possuidor de “um temperamento saguões do prédio em estilo de colégio jesuíta. Em vez disso, uma
pouco vulgar que a referida Professora apresenta, como é de seu co- multidão apinhada e turbulenta assistiu a uma exibição indecente
nhecimento direto”, fez que os alunos executassem uma dança que de jovens dançarinas seminuas. Para tornar as coisas piores, esse
foi “reputada inconveniente” pelo público oficial presente ao evento. escândalo veio menos de dois meses depois da expulsão de uma
Em outra apresentação dirigida pelo mesmo instrutor, uma das alu- aluna de dezoito anos da Escola de Professores por distribuir fo-
lhetos da Federação Vermelha dos Estudantes — “essa agremiação
era sabidamente comunista”. Alegações de que as mulheres do
5º “A escola primária do Instituto de Educação — relatório do ano 1933”.
Arquivo Lourenço Filho, CPDOC, Instituto de Educação (0482).
51 Carta de Mário de Brito a Anísio Teixeira, 12 dez. 1933. Arquivo Anísio 52 “Conselho Nacional de Educação”. Sessão de 27 de outubro de 1937. a
Teixeira, CPDOC, 33.12.05 (0672). quivo Lourenço Filho, CPDOC, Conselho Nacional de Educação (0368).
E ACONTECEU COM OS PROFESSORES DE COR DO RIO? 187
o ramo ms
.
os também fez
+” .
o , r |
O único indício de atividade comunista desencavado depois de
1929 1935 1936 1937 um mês de investigação foi que o jovem que operava o mimeógrafo
havia assistido a um encontro da Aliança Nacional Libertadora. Não
Gráfico 3.1. Porcentagem de livros em línguas estrangeiras circulando na bi-
blioteca do Instituto de Educação entre 1929 e 1937. Fonte: VIDAL, D. G. há registro de que alguma ação tenha sido tomada contra ele, nem
O exercício disciplinado do olhar: livros, leituras e práticas de formação do- sobre o destino da bibliotecária que inventou o conjunto de acusa-
cente no Instituto de Educação do Distrito Federal. 1995. 158 p. Tese (Dou- ções a muitos dos principais educadores da cidade e seus patrões no
torado) — Feusp/Universidade de São Paulo. Instituto.
Questões de nacionalismo e disciplina eram facas de dois gumes
Apesar da implausibilidade dessas acusações, a Desps iniciou uma no Instituto. Por um lado, eram ferramentas manipuladas por
investigação. Sentindo o perigo dessas alegações, Lourenço Filho ten- opositores da Escola Nova para questionar a lealdade de educadores
tou antecipar-se à Desps convidando o chefe dessa delegacia a ins- e às vezes de estudantes. Por outro, o principal objetivo do Instituto
talar um escritório no Instituto para investigar. Diante desse convite, era a preparação de um corpo profissional de professores que trans-
os investigadores ocuparam durante um mês o que se tornou cendia a política, mas que também refletia um conjunto de valores
de classe e socialmente conservadores. Com esse fim, os educadores
uma espécie de “extensão” da Delegacia de Segurança Política. Na se esforçavam para criar paralelos entre o trabalho de professores e
presença de Lourenço Filho, um escrivão e duas testemunhas, [fun- médicos, e para forjar elos entre professores e oficiais do Exército.
cionários] foram convidados, em dias sucessivos, para prestar de- Tanto dentro quanto fora do Instituto, os futuros professores eram
poimentos ...º preparados para assumir o papel de defensores da raça e da ordem
social. A relação entre ensino e medicina ressaltava os propósitos
A estratégia de Lourenço Filho foi divulgar o mais amplamente eugênicos de ambas as disciplinas:
possível que o Instituto, “sob minha direção, tem sido contra as ideias
communistas”. Em resposta às subsequentes acusações de atividade Medicina e educação, unidas pelos mesmos methodos e pelos
subversiva, Lourenço Filho pôde assegurar que mesmos problemas ... No esforço de prevenir em vez de remediar,
56 a : -
8 NUNES, C. Anísio Teixeira: a poesia da ação. 1991. 306p. Tese (Douto- * “Conselho Nacional de Educação”. Sessão de 27 out. 1937. Arquivo Lou
rado) — Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. renço Filho, CPDOC, Conselho Nacional de Educação (0368).
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190 DIPLOMA DE BRANCURA
ONTECEU COM OS PROFESSORES DE COR DO RIO? 191
o QUE AC
de dirigir em vez de corrigir, de provêr em vez de is eram investidos na definição do papel e da identidade
completar, , pos pos-
teriormente, toda a medicina e toda
a educação se vêm transfor- considider ável res. Eles eram identificados
. e aa
com a medicina, uma das
mando em uma higiene do côrpo ou de espirito.” dos profes sores.
profissões m asculinas de maior
prestígio. Eles eram ensinados a se
os militares e, em sua remuneração, tinham uma
Além de reforçar a imagem do ensino por meio identificar com
da comparação es, constituindo-se
ação social equival ente à dos oficiais iniciant
com a medicina, o papel social e status dos professores eram man- ora”.”. Da Dad a a autonomia com que os p rofes-
c asse defens
a ” “cl
tidos por uma escala de salários semelhante em ui
im umra
à dos oficiais militares ância dada à educação como
iniciantes e um conjunto de atividades sores orientavam suas classes e a import o ,
projetado para que houvesse umeio de salvação pública”, nas palavras de Getúlio Vargas, cons
maior fraternização entre professores e ofici o mei . . ç . ;
ais. O Instituto de Edu- m corpo de professores que se identificasse com a ideologia oficial
cação e a Escola Militar promoviam conjunta
mente diversos even- ução da nação.
tos cívicos e sociais. Entre os principais, havia cos válires estabelecidos era fundamental para a constr
uma pro gramação uto
regular de danças para os alunos do normal e os cadet O próprio Vargas discursava nas cerimônias de dpndatiira do Instit
es, Casamentos
entre professoras e oficiais militares eram comuns. de Educação, além de fazer visitas informais (Figura 3.11).
Uma das poucas Durante o Estado Novo, os elos entre o Instituto, os professores
alunas de cor a se formarem no Instituto na década de
1940, Umbelina
e os militares foram reforçados pela nomeação de oficiais militares
de Mattos, era filha de um dos oficiais do Exército de mais alta paten
te como diretores do Instituto. Os alunos do Instituto de Educação na
no período, Baptista de Mattos. Ela se lembra de ter inau
gurado sete década de 1940 muitas vezes eram filhos de oficiais, como Umbelina
escolas no Amazonas enquanto seu marido, um engenheiro do
Exér- de Mattos. A chegada de oficiais militares ao Departamento de
cito, também de cor, trabalhava no projeto da rodovia Tran
samazônica
na década de 1970.
Os professores eram também o assunto de revistas que promo-
viam seu status e renovavam suas técnicas pedagógicas, e eram o pú-
blico-alvo de um programa diário de rádio, a Hora do Professor,
transmitido pela estação PRD-5 da cidade. De forma geral, recursos
Educação e ao Instituto de Educação transferiu os padrões de clientelismo rofissionalização. E interessante constatar que a experiência dos
p . . o ef é
e promoção dos círculos militares para todo o sistema. Uma aluna da rofessores de cor sugere que as hierarquias sociais brasileiras
Pp tornaram menos flexíveis à medida
escola normal relatou como a rede clientelista militar entrou em ação que as instituições públicas se
se
para que ela obtivesse o emprego que queria. Os professores iniciantes tornaram
o mais racionais e sistemáticas. As instituições públicas e as
tinham de lecionar por dois anos nos subúrbios, mas, segundo de- política s sociais erigidas nas ondas
.
da construção
. .
da nação
um
da Repú-
clarou a aluna da escola normal, “eu morria se tivesse pegado zona blica e dos anos Vargas normalizaram as hierarquias sociais. As com-
rural”. Então seu pai, um oficial, interveio, como ela explica: plexas redes de políticas tecnocráticas fixaram lugares e papéis sociais
em termos de raça, classe e gênero.
Ouviu falar no Jonas Correia, professor do Colégio Militar? Escrevendo códigos sociais em linguagem técnica e científica,
Ele foi Secretário da Educação. Como o comandante do Colégio educadores e administradores evitaram falar em raça. Sua linguagem
Militar era amigo nosso, o comandante pediu, na mesma hora fui psicológica, sociológica e médica forneceu o tom claro da modemi-
posta ... Eu fui chamada ao Departamento pelo Jonas Correia para dade e da objetividade. O resultado pernicioso dessa fé acrítica na
escolher escola: “meu comandante indicou a senhora”... E eu fui à ciência e no profissionalismo foi o desenvolvimento de um sistema
escola do Alto [da Boa Vista] de carro com meu pai. Papai tinha escolar cada vez mais excludente em suas práticas de treinamento e
carro oficial. À tal coisa do militarismo ... Papai chegou lá, aquele contratação, e cada vez mais discriminatório em seu modo de tratar
“homão”, de 1,85m, fardado ... Ele dava todo o apoio,os pais eram os alunos. Digna de nota nessas práticas era a ausência de linguagem
assim ... o paternalismo todo, perfeito. E a diretoria quando viu explicitamente racial contra a qual pudesse se formar uma oposição:
aquele carro parado veio à porta. Soldado dirigindo. Eu fui assim a marginalização era encoberta sob um verniz de profissionalismo e
tratada, você não queira saber. Aí foi o jardim de infância, eu me tecnicismo.
dei muito bem com a diretora e, eu não sei porque, tomei gosto por Eram o Departamento de Educação e o Instituto de Educação do
aquilo. Talvez por causa disso, quem sabe porque ela me deu apoio. Rio de Janeiro instituições racistas? A definição brasileira desse termo
Ela me valorizava, não sei se por mim ou pela situação de meu pai coincide com o conceito de crime de ódio violento nos Estados
-. Daí fui em frente. *º Unidos, implicando a ocorrência de uma ação deliberada e violenta
de intolerância. Sob essa definição, a resposta seria “não”. Todavia,
as ações dos administradores do sistema escolar eram hostis à inte-
Considerações finais gração racial. Desde a década de 1920, uma barreira de cor desceu
sobre o sistema escolar, refletindo mais do que a cegueira dos admi-
O que aconteceu com os professores de cor? Eles perderam nistradores ao efeito de suas políticas.
terreno
na maré crescente das ciências sociais, modernizaç
ão, tecnicização e Os educadores e os administradores expressaram confiança
acrítica nos fundamentos científico e científico-sociais das novas
E : qo.
“* B., entrevistada por Barreto, Contribuiç
ão para a história da escola públi- políticas. Mas essas verdades científicas eram, na realidade, apenas
ca, p.120. .
uma nova forma de expressar antigos .
julgamentos subjetjetivosa res-
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195
194 DIPLOMA DE BRANCURA O QUE ACONTECEU COM OS PROFESSORES DE COR DO RIO?
va de “anomia”. Professores de cor, ou vindos das classes baixas, eram — e por meio de suas obras continuam a ser — intelectuais
eram percebidos como mediadores inadequados nesse processo. amplamente respeitados, sobretudo pelo alcance de sua visão. Eles
foram os líderes educacionais responsáveis por impulsionar a orga-
nização e a expansão das instituições educacionais públicas do Bra-
* BUTLER, Freedoms Given, Freedoms Won, p.33. Para ler mais sobre 0
sil. Mas, ao interpretarem a sociedade norte-americana e buscarem
relacionamento entre a brancura e a modernidade no Brasil, ver também o modelar as instituições brasileiras em suas equivalentes norte-ame-
ensaio de HANCHARD, M. Black Cinderella? Race and the Public Sphere ricanas, por que deixaram de examinar mais explicitamente as diná-
in Brazil. Public Culture 7, nº1, p.165-85, 1994; LESSER, Negotiating micas raciais das duas sociedades? Pelo menos um aluno sul-africano
National Identity; e ANDREWS, R. Blacks and Whites in São Paulo,
Brazil, 1988-1988. em Colúmbia fez isso: declarou que as iniciativas do Teachers College
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196 DIPLOMA DE BRANCURA 197
O QUE ACONTECEU COM OS PROFESSORES DE COR. DO RIO?
61
MURRAY, V., citado em FLEISH, The Teachers College
Club, p.56.
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Educação elementar
Entre 1931 e 1935, Anísio Teixeira efetuou uma das mais amplas
reformas educacionais nas escolas da cidade do Rio. Teixeira reuniu
os paradigmas do nacionalismo eugênico, da análise estatística, da
profissionalização e do racionalismo científico para criar uma fór-
mula e dirigir um programa de educação elementar universal no Rio
de Janeiro. A reforma expandiu rapidamente o número de escolas,
levando programas de saúde e educação aos subúrbios e atacando o
núcleo das reconhecidas deficiências da nação — o estado de degene-
ração e de inadequação eugênica e moral que se acumulou entre os
pobres na periferia das cidades. As escolas eram mais fortemente
atreladas a um “sistema” administrativo, eo Departamento de Edu-
cação era cada vez mais governado pelos princípios de racionalismo
científico emprestados da indústria. Seguindo o novo enfoque esta-
tístico, o Departamento de Educação iniciou um plano de expansão
que levou novas escolas ao subúrbios em rápido crescimento. Cen-
tenas de professores recém-treinados pelo Instituto de Educação
nas teorias e nas práticas cientifico-sociais mais modernas foram
enviados a essas escolas a fim de cumprir os desafios de criar
educação universal.
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DIPLOMA DE BRANCURA EDUCAÇÃO ELEMENTAR 201
200
Embora o treinamento de professores fosse alardeado como a chave entre políticas que espelhavam normas de raça, classe e gênero e o
da reforma educacional, tanto a estrutura quanto a operação do sis- público ao qual essas políticas eram dirigidas.
tema emsie, é claro, a condução real dos programas de educação e À medida que a população residencial do centro da cidade era
saúde também foram transformados. A extensão da reforma de empurrada para os subúrbios pelas reformas urbanas, as escolas que
Teixeira, e sua insistência na laicidade da educação pública, atraiu serviam a essa população foram sendo fechadas. O reduzido corpo
muitos críticos. Em 1935, os adversários de Teixeira ganharam força estudantil de três escolas foi acomodado no prédio de A Noite e,
política para expulsá-lo, com muitos de seus auxiliares, do sistema embora a diretora reclamasse da falta de adequação do local como
escolar. Mas a sucessão de religiosos e oficiais militares conserva- escola, reconhecia também que, como a população a quem a escola
dores que vieram a dirigir o sistema escolar da cidade na década servia vinha diminuindo, aquela instalação também desapareceria.
seguinte continuou a executar o esquema de reformas de Teixeira, e Apesar de a escola representar um capítulo que se encerrava na his-
o fizeram com surpreendentemente poucas alterações, além da intro- tória das comunidades que moravam no centro da cidade do Rio, era
dução da educação religiosa. Apesar de Teixeira ter iniciado a refor- uma das primeiras escolas criadas sob as diretrizes da Escola Nova
ma, ela foi concluída por seus adversários, o que reflete o consenso introduzidas por Anísio Teixeira na reforma que ele iniciou em 1931.
duradouro entre conservadores e progressistas sobre os paradigmas Do ponto de vista do pessoal e do material, a Escola Vicente Licínio
técnicos e científicos que deveriam governar a educação. Olhar para era um desastre. Sofria com a escassez de professores, e durante os
a reforma de Teixeira significa olhar para a corrente predominante na dois primeiros meses do ano escolar, os professores eram transferi-
educação pública brasileira no século XX no momento em que se dos de uma escola para a outra enquanto o quadro docente do Depar-
formou com base em paradigmas raciais, nacionalistas e científicos, tamento de Educação era distribuído pela cidade. Em consequência,
no início do século. a diretora observou, “raros não foram os dias em que a escola era
apenas um deposito de crianças”.? Outras dificuldades incluíam a
falta de carteiras — apenas duzentas para 557 alunos divididos entre
A escola na encruzilhada
Em 1933, o Departamento de Educação abriu uma escola no quinto 1 “Relatório apresentado pela diretora da escola Vicente Licínio (3-8) ao
Exmo. Sr. Superintendente da 3º circunscrição de ensino elementar, 1933”
andar do prédio no centro do Rio que abrigava o jornal A Noite. A
Arquivo Anísio Teixeira, FGV/CPDOC, pi33.00.00 (3/293). O nome
Escola Municipal Vicente Licínio foi uma instituição de transição,
do diretor não foi incluído no relatório. Como discutido no Capitulo 2, a
de vida curta que, no entanto, marcou a chegada de paradigmas renovação urbana e o mercado imobiliário em expansão vertiginosa força-
educacionais da Escola Nova e a saída da população residencial do ram os pobres a saírem em massa dos bairros centrais. Esses trabalhadores
centro, empurrada para os subúrbios do norte e oeste. As práticas pobres assentaram-se, em sua maior parte, nas Zonas Norte e Oeste da
cidade, que eram ligadas ao centro pela ferrovia. Levar novas escolas âque-
relatadas ao Departamento de Educação pela diretora da escola refle- la população foi o principal e mais bem-sucedido objetivo da administração
tem o modo pelo qual as teorias eugênicas moldaram a educação de Teixeira.
pública. As experiências ilustram também a conturbada 2 Ibidem.
intersecção
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202 DIPLOMA DE BRANCURA
EDUCAÇÃO ELEMENTAR 203
de 1920
Educação pública na década
iu em 1931 era
O sistema escolar cuja chefia Anísio Teixeira assum
mas nas mãos
o maior do Brasil e havia passado por uma série de refor
io Peixoto, em 1917,
de intelectuais de renome nacional, desde Afrân
reformas expandiram
até Fernando de Azevedo, em 1927. Essas
ipalmente para a
muito pouco o sistema escolar, e voltaram-se princ
o. Em
reorganização administrativa e a profissionalização do ensin
alu-
1931, o sistema escolar elementar tinha capacidade para 85 mil
nos, com outros 45 mil frequentando escolas particulares. A capa-
1931
cidade da escola pública era, na verdade, levemente menor em
do que havia sido em 1923. Anísio Teixeira estimava que o número
de crianças entre seis e doze anos na cidade fosse de 196 mil, ou seja,
mais de 60 mil crianças (quase um terço) não tinham acesso a ne-
nhum ensino público, mesmo com muitas escolas funcionando em
turnos matutino, vespertino e noturno.
Quem era excluído? O cronista fotográfico da cidade, Augusto
Malta, forneceu uma pista em uma crítica improvisada do padrão de
expansão das escolas na década de 1920. Em junho de 1925, Malta
foi enviado para fotografar a inauguração da Escola General Mitre,
na base da favela do Morro do Pinto, perto do centro da cidade. Lá
Q'.o- NZ-42-
fotografou um grupo inteiramente branco de alunos, bem-vestidos
com seus uniformes brancos engomados (ver Figura 4.2). Da mes-
Figura 4.1 Membro do pelotão de saúde de uma escola ensinando os alunos a
lavar o rosto, 1931. Coleção Augusto Malta, MIS, Secretaria de Estado de ma forma, professores e funcionários brancos e bem trajados cerca-
Cultura e de Esporte do Rio de Janeiro, 127m/f009282. vam os alunos. Mas, ao lado dessa fotografia, na mesma pasta no
arquivo de Malta, está outra — tirada do lado de fora da Escola Ge-
neral Mitre após a inauguração. Essa foto mostra crianças, muitas
enfrentou. Essa reforma pode ser dividida em três pontos: expansão delas afrodescendentes, muitas delas descalças, em pé do lado de fora
e racionalização sistemática do sistema escolar; implementação de da escola e olhando com curiosidade para o evento. Uma nota de Malta
critérios psicológicos, eugênicos, médicos e higiênicos para avalia-
ção e adoção de critérios de avaliação para distribuir os alunos pelo
* LIMA, A. O problema do prédio escolar, p.80.
sistema em expansão.
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207
206 DIPLOMA DE BRANCURA EDUCAÇÃO ELEMENTAR
Fonte:
escolares municipais em 1930.
Mapa 4.1 Localização dos prédios rela-
das construções escolares (Anexo ao
SAMPAIO, N. de. Plano regulador ca 1,
ca). Boletim de Educ ação Públi
tório do Diretor Geral de Instrução Públi
Figura 4.2. Inauguração da Escola Municipal Uruguay, 1925. Coleção nel, p.376, 1932.
Augusto Malta, MIS, Secretaria de Estado de Cultura e de Esporte
do Rio de
Janeiro, 127u/f009741.
do Pinto
está escrita ao pé da fotografia: “Um contingente do Morro
que não vai à escola? ...”
A flagrante discrepância entrea corea aparência dos alunos dentro
da Escola General Mitre e aqueles fora dela reflete a escassez de
oportunidades educacionais até a década de 1920. Como a escola
estava localizada perto do centro da cidade, ricos e pobres, negros e
brancos estavam física, embora não socialmente, próximos uns dos
outros. Outra forma de olhar para a disparidade no acesso é ver onde
se localizavam as escolas da cidade. Como mostra o Mapa 4.1, as
escolas da cidade estavam concentradas ao redor do centro e nos
bairros nobres adjacentes ao centro e na Zona Sul. Nos subúrbios,
onde a maior parte dos habitantes da cidade — os pobres e em geral
Norton
im pato dagre Daio não-brancos — morava, as escolas públicas eram raras. Nas favelas,
Figura 4.3. Um contingente do Morro do Pinto que não vai à escola? Comen- não havia escolas até a década de 1930. O sistema escolar também
tário de Augusto Malta sobre a inauguração da Escola General Mitre. Cole- alugava prédios para usar como escolas, embora não haja registros de
ção Augusto Malta, MIS, Secretaria de Estado de Cultura e de Esporte do sua quantidade ou localização. Críticas referentes a prédios alugados
Rio de Janeiro, 127u/f009742.
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208 DIPLOMA DE BRANCURA EDUCAÇÃO ELEMENTAR 209
Teixeira ecoava as críticas de Torres à sociedade brasileira: o sistema departamentos: Curricular, Matrícula e Frequência, Promoção e Clas-
escolar existente servia apenas para eliminar alguns alunos, excluindo- sificação de Alunos é Prédios e Aparelhamentos Escolares. Esses
Os de uma semi-elite parasita que estava arruinando o país. A prepara- departamentos respondiam diretamente a Teixeira, que definia seu
ção acadêmica que os alunos recebiam na escola ou expulsava-os ou próprio papel como de um “organizador, condutor ; racionalizador”
preparava-os para se tornarem estéreis burocratas. Teixeira rejeitava as da administração, estabelecendo sua orientação política eorientando e
aspirações de mobilidade social que levavam as pessoas às escolas, corrigindo a administração das escolas e a avaliação das crianças.
dizendo que as pessoas deviam se adaptar à classe em que nasceram No novo sistema de Teixeira, o conhecimento estatístico aumenta-
em vez de “[ganhar] o gosto das apparencias, dos ornamentos da vida va o controle administrativo sobre as escolas, porque, com informa-
letrada, e se tornarem descontentes com o trabalho honesto"1º ções municipais processadas por um escritório central, as políticas
O que, então, Teixeira achava que as escolas deviam ensinar? Elas municipais podiam ser aplicadas a um “systema escolar, e não um
deviam ensinar as crianças a “viver melhor”. Isso significava, primei- agglomerado de escolas funccionando independentemente”. Mas
ro, aprender noções de saúde e higiene (afinal, não havia nada mais construir um perfil estatístico do sistema educacional da cidade e de
importante do que aperfeiçoar a raça); tornarem-se trabalhadores seus alunos levava tempo. Em seu relatório de 1932, Teixeira la-
motivados e eficientes, e desenvolver hábitos de auto-aperfeiçoamen- mentou que o Serviço de Matrícula e Frequência (ou SMF) tinha
to, como habilidades de leitura e crítica. Os obstáculos a esse progra- dificuldades para construir seu mapa estatístico porque “[os dados
ma incluíam não apenas o currículo existente mas também os pais, antes de 1932 eram] incompletamente elaborados, ficando aquém
que sonhavam que seus filhos pudessem um dia se tornar doutores. das inducções que lhes deviam constituir o principal objectivo orien-
“Os paes vivem, rudemente, a ocupação diaria: a profissão, os habitos tador”. Teixeira lembrou também da resistência à centralização da
de casa e de sociedade, a propria comprehensão da vida nunca lhes administração baseada em indução estatística. Segundo sua opinião,
fizera vêr possibilidades de progresso dentro da propria classe se por o projeto do SMF mostrará “[frutos] que serão ainda maiores quan-
acaso fossem mais instruidos, mais educados”, declarou Teixeira. do estiverem completamente vencidos os obices ainda opostos pelo
Para Teixeira, como para a diretora da Escola Vicente Licínio, os antigo estado de cousas às necessidades de direção centralizada”.”
pais eram um obstáculo à educação das crianças. Em consegúência,
Teixeira concebeu um sistema escolar que resistia a pressões popula-
res, e administrava a educação pública por meio dos princípios cien- Construir mais escolas: o serviço de prédios e
tíficos e técnicos emprestados dos Estados Unidos. As decisões eram aparelhamentos escolares
feitas pela análise estatística de testes de inteligência, exames médicos
e pesquisas demográficas. O novo sistema escolar dividia-seem quatro Quando Teixei Ixeira tomou posse, quase um terço das das criançasças da
da c cida-
ê
T
z estava frequentando
d e entre seisi e doze anos não a escola. les o não
'
era T uma escolha pessoal: os sistemas áblico ee p particular
escolares público
!º TEIXEIRA, O systema escolar do Rio de Janeiro, p.311. —
20.
H Ibidem, p.309.
2 Ibidem, p.317.
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EDUCAÇÃO ELEMENTAR 215
214 DIPLOMA DE BRANCURA
Gráfico 4.1). problema do prédio escolar no Distrito Federal. Cultura Política 1 nº5, p-80,
1941; SENA, J. C. da C. Observações estatísticas sobre o ensino público
Enéas Silva, o principal arquiteto de Teixeira, resumiu o projeto
municipal. Revista de Educação Pública 2, nº4, p.697, 1944.
de suas escolas em três palavras: “saúde, higiene, economia”?! As
escolas forneciam serviços de saúde, transmitiam mensagens sobre
saúde e higiene por meio dos alunos a suas famílias e vizinhos, ser- pudessem dar a um passante uma idéia de posse e, portanto, controle
viam como centros cívicos para rituais nacionalistas e transmitiam sobre o prédio.
uma mensagem arquitetônica a todos os que passavam por elas, e Em contraste, a aparência art déco altamente estilizada das esco-
mais ainda aos que entravam por suas portas. Durante o Estado Novo, las padronizadas construídas por Teixeira era rica em mensagens
o estilo simples mas moderno das escolas ecoava o estilo político simbólicas a alunos, professores e o público em geral. Sua aparência
profissional e distante do sistema — as paredes sem enfeites do ex- cheia de curvas seguia a linguagem visual moderna e cosmopolita
terior não forneciam formas culturais de referência, nem imagens que dos filmes de Hollywood. Os prédios eram internacionalistas e, no
entanto, serviam como uma quebra visual com o passado. Projetados
para parecerem vagamente com os mais modernos navios transatlân-
'8 Ibidem, p.376.
ticos, com suas janelas em forma de clarabóia e frente semelhante a
O Mapa 4.1 mostra apenas construções escolares de propriedade da Prefei-
tura. Em virtude da falta de dados, ele não indica as localizações de dezenas uma proa, os prédios evocavam sonhos do futuro industrial do Brasil
de prédios ou salas alugadas usadas como escolas temporárias. (Figura 4.5).22
2? LIMA, A. O problema do prédio escolar, p.80.
2! Citado em OLIVEIRA, B.S. de. A modernidade oficial: a arquitetura das o,
escolas públicas do Distrito Federal (1928-1940). 1981. 200p. Tese (Dou- 2 . . DE, Teixeira ,
? Parauma análise detalhada do estilo arquitetônico das escolas de
torado) - FAU/Universidade de São Paulo. ver OLIVEIRA, A modernidade oficial.
]
EDUCAÇÃO ELEMENTAR 219
do ao Serviço de Testes e Escalas, embora seja um de administra- ai TEIXEIRA, O systema escolar do Rio de Janeiro, p3Zl.
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222 DIPLOMA DE BRANCURA 223
EDUCAÇÃO ELEMENTAR
2 “Psicologia Educacional - Curso de Didática”. Arquivo Lourenço Filho, z MEDEIROS, J. A. Ulisses Pernambucano de Mello Sobrinho, In:
CPDOC, PROG (0493). FAVERO; BRITTO (Eds.). Dicionário de educadores Brasileiros, p.472.
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224 DIPLOMA DE BRANCURA EDUCAÇÃO ELEMENTAR 225
ambiente. Em Minas Gerais, ela desenvolveu um sistema para medir Como diretor do STE, Alves via como sua responsabilidade
inteligência a fim de dividir os alunos em “classes homogêneas” com ma ordem social em erosão ancorando-a à ciência: o siste-
reforçar U
base em suas habilidades, como era feito no Rio de Janeiro e em São ma escolar devia ser organizado para reconhecer “o valor social de
Paulo. Antipoff também propôs “ortopedia mental” para crianças que cri ianças brilhantes”.” Alves achava que a psicologia diferencial
iam mal nos testes, e introduziu o uso do termo “excepcional” em seus tem-
m itigaria O exagerado igualitarismo que ele notara durante
a:
lugar de “retardado” para descrever crianças com deficiências de pos nos Estados Unidos. Ele explicav
aprendizado.
No Rio de Janeiro, Anísio Teixeira iniciou o mais amplo expe- Se a democracia deve ser a forma de governo da sociedade — e
rimento com testes de inteligência e avaliação recrutando Lourenço isso parece incontestavel, a despeito da subversao da ordem que se
Filho para dirigir o Instituto de Educação e Isaías Alves para chefiar nota em quasi todos os paizes — ella precisa basear-se em nova
o novo STE e lecionar psicologia no Instituto. Alves, que estudou ordem educacional, que dê, aos mais capazes, opportunidade para
com Teixeira no Teachers College, começou a adaptar vários exames subir a postos de orientação.
de inteligência e maturidade, desde o Teste ABC de Lourenço Filho O grave embaraço que se tem oferecido à democracia é a falsa
até o Teste Coletivo de Inteligência de Terman e a Escala de Inteli- noção da igualdade, baseada em valores sociaes e economicos, tão
gência Binet (ou Q.I.). Notavelmente, a palavra utilizada universal- forte na historia politica e educacional dos Estados Unidos duran-
mente por Alves, Lourenço Filho e outros para os exames psicológicos te todo o século XIX.
que instituíram era test (ou, às vezes, teste). Essa transliteração ilus- Naquele paiz, o governo foi sempre resultado do suffragio e
tra a extensão em que ambos os educadores treinados nos Estados participou da mediania dos cidadãos que se formaram na intensa
Unidos, como Teixeira e Alves, e educadores treinados no Brasil, vida de igualdade que se formou na fronteira, onde patrão e em-
como Lourenço Filho e Campos, baseavam-se em teorias pedagógi- pregado, marido e mulher, entregues à lucta contra o indio,os peri-
cas importadas dos Estados Unidos. De setenta citações nas orien- gos da floresta semeada do typho ou da malaria e à lucta pelo ouro,
tações do Teste ABC de Lourenço Filho, 45 vinham de fontes não podiam pensar na selecção social que se evidencia ainda hoje
norte-americanas.” na sociedade francesa, tão estavel e tão imbuida de cultura ...
Homens criados na vida agraria da America olhavam receosos
Para as nações sedimentadas da Europa, e a escola devia ser um
centro de ação socializante em que crianças de todos os gráos de Os resultados do teste de Terman por categoria racial são mos-
riqueza recebessem a mesma instrução. trados nos Gráficos 4.2, 4.3 e 4.4. Dos alunos que efetuaram o Teste
Desse modo a escola havia de desenvolver a mediocridade, ou ABC, 14% eram mulatos e 8% eram negros. Dos 7.060 alunos que
seja, o nivelamento de todas as capacidades no plano medio.” fizeram o Teste Coletivo de Inteligência de Terman, apenas 3%eram
negros e 13% eram mulatos. O motivo pelo qual Alves dispunha de
Alves oferecia sua tese do “limite” para sustentar sua hipótese tão poucos alunos de cor para avaliar era que seus testes eram realiza-
de que dos na escola elementar do Instituto de Educação e na Escola Argen-
tina, ambos no bairro rico da Tijuca. Dos 7.060 alunos, dois foram
todos os grupos humanos apresentam uma distribuição normal de classificados como negros e ricos e 16 foram classificados como mu-
individuos, de capacidade intellectual extremamente differenciada latos e ricos. Em contraste, 487 brancos se adequavam a esse padrão.
que exige orgãos especiaes nos sistemas de instrucção, a fim de se Em 1934, um novo diretor de testes e medidas, J. P. Fontenelle,
aproveitarem todas as actividades no sentido do progresso social e iniciou a aplicação anual do Teste ABC a todos os alunos que entra-
economico. vam no primeiro ano. Fontenelle fora um médico ativo no movi-
mento em defesa da saúde pública e saneamento durante a década de
Por meio da ciência, ele pôde definir essa diferenciação natural, 1920. Seus testes, aplicados em 22.400 alunos, confirmaram a ten-
e o sistema escolar pôde então aplicar uma ordem científica à popu- dência estabelecida por Alves dois anos antes: os alunos brancos
lação em crescimento explosivo da capital federal. obtinham pontuações mais altas (com 3,5 pontos), seguidos pelos
Alves efetuou um teste experimental em 1932, repetindo o Teste
ABC de 1928 de Lourenço Filho em 1.879 alunos, e o Teste Cole-
tivo de Inteligência de Terman em 7.060 alunos. Alves tabulou e
analisou os resultados por raça e classe social, algo que Lourenço
Filho resistira a fazer em sua pesquisa de 1928, explicando que “não E Superior
E superior
negros pobres (57 pontos comparados a 35 pontos), enquanto o Teste
Mulato | Médio
ABC colocava os brancos no topo, os negros na base e os mulatos
[inferior
Branco como categoria intermediária.
Quando Alves escreveu sobre a “capacidade intellectual extre-
(o) 1,000 2,000 3,000 4,000
mamente differenciada” dos alunos, definia a diferença pela raça e
Gráfico 4.3 Origem racial de alunos testados no Teste Coletivo de Inteligên- pela classe, A cor da pele de uma criança ou o brilho da riqueza apenas
cia de Terman em 1932. Fonte: ALVES, I. Testes coletivos de inteligência confirmavam o que os testes mostravam. Para educadores como
(Terman Group Test) e sua aplicação nas escolas públicas. Boletim de Edu- Alves, os testes padronizados estabeleciam distinções entre alunos
cação Pública 1, nº1, p.421, 1932.
que espelhavam diferenças mais amplas na sociedade brasileira. Eles
pensavam em raça e classe como condições sociais semelhantes, e
usavam os termos quase de modo intercambiável para definir as
Inferior
deficiências. Alves e Fontenelle empregavam definições de classe e
E Toto! raça a fim de definir as diferenças inatas que os programas de testes
4,166
Médio EM Preto que eles projetavam iam medir: ser pobre ou não-branco explicava
= Mulato deficiências no desenvolvimento.
so6
Superior . [] Branco
488 4
+ +
4
+
4
+
4
|
[o 1,000 2,000 3,000 4,000 5,000
Medidas na Escola General Trompowsky
Gráfico 4.4 Origem de classe de alunos testados no Teste Coletivo de Inte-
ligência de Terman em 1932. Fonte: ALVES, I. Testes coletivos de inteligên- Em 1935, o relatório da diretora da Escola General Trompowsky
cia (Terman Group Test) e sua aplicação nas escolas públicas. Boletim de mostra como testes e medidas eram aplicados nas escolas.” Ao lon-
Educação Pública 1, nº1, p.421, 1932,
go da reforma de quatro anos de Anísio Teixeira, as escolas foram
reorganizadas para acomodar salas de aula “homogêneas” separadas.
A homogeneização, o termo que os educadores utilizavam em suas
mulatos (3,4) e, finalmente, pelos negros (3,3).3 Alves e Fontenelle avaliações, dividia os alunos segundo linhas de aptidão medidas pelos
mostraram pouca relutância em utilizar a raça como categoria testes. Nesse relatório, contudo, a diretora da Escola Trompowsky
de
análise de suas medidas, e todas as pontuações do Teste ABC mostrou explicitamente como medidas de classe social eram mistu-
e do
Teste Coletivo de Inteligência de Terman refletiram
a estratificação
34 q
Escola General Trompowsky”. Arquivo Anísio Teixeira, CPDOC,
* Ibidem, p.86. pi35.00.00.
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230 DIPLOMA DE BRANCURA 231
EDUCAÇÃO ELEMENTAR
Como as duas turmas de alunos “pobres” mostram, não é de mesmo tempo que as crianças mais remediadas passavam para O
surpreender que os alunos das classes baixas fossem instáveis e re- terceiro ano. Se ficassem na escola, eles seriam deslocados e estig-
petissem constantemente. Os alunos pobres entravam na escola com matizados como lentos ou crianças-problema. O enfoque da Escola
a mesma idade que os ricos, entre seis e sete anos de idade, mas não Nova de Teixeira exigia que a escola se adaptasse à “realidade social”
eram ensinados a ler. Em vez disso, seus professores viam seu pri- de sua comunidade, mas essa realidade era definida por meio de
meiro ano como um tempo de ajuste à escola. Como uma das pro- pressuposições inquestionadas sobre raça e classe.
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232 DIPLOMA DE BRANCURA EDUCAÇÃO ELEMENTAR 233
3 o
Gráfico 4.5 Alunos no sistema escolar do Rio de Janeiro, por raça e classe * CARDOSO, O. B. Curso de especializ ação em problemas de primeira série
social. Fonte: TEIXEIRA, A. O sistema escolar do Rio de Janeiro, D.F.: Re- — organizado pela Secretaria Geral de Educação e Cultura para o magisté-
rio primário no 2º semestre de 1943. Revista de Educação Pública 1, nº4
latório de um ano de administração. Boletim de Educação Pública 1, nº4,
p.324, 1932. p.576, 1943.
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234 DIPLOMA DE BRANCURA EDUCAÇÃO ELEMENTAR 235
20.000 +
nos durante a década seguinte, essa pesquisa forneceu bases para
15.000 +
aplicação de critérios médico-pedagógicos para medidas que eram
10.000 +
5.000 +
usados com testes de aptidão psicológica.
No decorrer da década de 1930, a classificação que Teixeira
o] T
Peida Jet 1932 1933 1934 introduziu expandiu-se a partir do Teste ABC para incluir outros
grau 2º grau 3º grau 4º grau 5º grau
critérios eugênicos. Em 1936, Bastos D' Avila explicou o modo pelo
Gráfico 4.6 Número de primeiranistas em 1930 que passaram para anos mais qual as três seções do IPE (Antropometria, Ortofrenia e Higiene
avançados. (Observação: este gráfico mostra os alunos que levaram apenas Mental, e Testes e Medidas) trabalhavam juntas. Segundo ele:
um ano para completar cada ano escolar. Posteriormente, a taxa de repetência
diminuiu, mas apenas levemente: em 1930, os quintanistas constituíam 4,6%
dos estudantes do ensino elementar, e em 1935 constituíam 6,3%.) Fonte:
TEIXEIRA, A. Educação pública: sua organização e administração. % Tbidem, p.587, 590.
Rio de
toa Oficina Gráfica do Departamento de Educação do Distrito % “Secção de Antropometria”, 16 out. 1936. Arquivo Lourenço Filho,
Federal
4. p.131. CPDOC, IPE (0010).
|
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236 DIPLOMA DE BRANCURA EDUCAÇÃO ELEMENTAR 237
a Secção de Antropometria estuda o habito do escolar (seu desen- renia adaptados dos nazistas
e enfoques de higiene mental e ortof
volvimento fisico) e assinala o tipo em que se cataloga, fornece a extensão em que os educadores
alemães. Essas me didas refletiam
informes seguros sobre seu temperamento, enquanto deixa à Seção s e da Europa: todas as fer-
emprestavam idéias dos E stados Unido
ra exceção do Teste ABC.
ramentas analíticas eram estrangei s, com
de Ortofrenia a parte que interessa ao caracter e à de Tests, que se
nia como pratica-
Essas medidas também refletiam o padrão da euge
prende à inteligencia: completa-se destarte harmonicamente e in-
e tempe-
do no Brasil: desenvolvimento físico, caráter, inteligência
tegralmente o estudo do escolar pelas quatro faces que o delimitam
de
na concepção de Pende.* ramento podiam ser quantificados e manipulados - eram formas
avaliar deficiências e traçar caminhos para tratá-las.
Nicola Pende era um dos líderes da escola italiana de criminologia Visões de raça higiênicas, sociológicas e psicológicas, uma visão
na virada do século. A declaração de D' Avila mostrava como a medi- estatística do mundo e racionalismo científico combinaram-se para
ção de alunos no sistema escolar inspirava-se na medicina legal. criar um sistema de ensino público dirigido de cima a baixo segun-
Com o Teste ABC e as pontuações de Q.I., o registro do aluno do paradigmas modernos. Esses valores combinavam uma origem
incluía a “ficha antropométrica” medindo seu desenvolvimento fi- comum em discussões sobre ideologia racial e identidade nacional
sico e fenotípico, assim como uma “ficha de ortofrenia e higiene com um senso europeu e norte-americano de tecnicismo; tudo isso
mental”, criada pela seção chefiada pelo antropólogo Arthur Ramos. se somava e atuava conjuntamente com bastante facilidade no siste-
Em um texto similar ao relatório de D' Avila sobre antropometria, ma escolar. Mais ainda, essas práticas modernas fizeram que o
Ramos explicou que a “ficha de ortofrenia” seguia o padrão dos re- discurso original sobre raça e identidade fosse aplicado à política
gistros utilizados em clínicas psicológicas nos Estados Unidos e na educacional e às práticas escolares. À vida cotidiana das escolas
Alemanha — registros reunidos no auge da eugenia mendeliana na- do Rio, a começar da decisão sobre onde colocar um aluno até ati-
queles países.*? vidades tão cotidianas e privadas como escovar os dentes e lavar
O desenvolvimento e o potencial educacionais de um aluno as mãos, era efetuada em uma lógica solidamente enraizada no
eram
avaliados por meio de um conjunto de registros baseados discurso sobre raça. Práticas diferentes nas próprias escolas e no
em ampla
coleção de medidas médicas e científico-sociais, sistema como um todo reforçavam uma a outra em sua expressão de
que iam do Teste
Coletivo de Inteligência de Terman à Escala de
Binet de Q.I., ao valores raciais.
Teste ABC de Lourenço Filho, às facetas do caráter Um ensaio escrito durante o Estado Novo em uma publicação
humano de Pende
do Departamento de Educação retratou bem a síntese de raça, medi-
cina, nacionalismo e nacionalidade ao explicar a necessidade e a
38 .
Bastos D'Avila a Lourenço Filho, 16 abr. 19 . viabilidade de um programa de ortodontia para os alunos. O ensaio
, - 1936. Ar quivo Lourenço Filho,
CPDOC, IPE (0042).
traçou o perfil do tratamento ortodôntico de uma aluna de uma escola
39
Ver PENDE, N. Scienzia Del'Orto .
o .
genesi. B ergamo: . Instituto Italiano elementar, apresentando-a como: “Dylma de Carvalho - Escola
AA Grafiche,
D'Arti 1939.
40 Arthur
Ramos a Lourenço Filho, 18 abr, 1936,
Manoel Bonfim — 10 anos, cor branca, 1,32 m, 26 quilos de pêso,
i :
Lourenço Filho,
CPDOC, IPE (0044). Arquivo malalimentada e pobre. Aspecto geral, não obstante, bom. Brasileira.
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238 DIPLOMA DE BRANCURA 239
EDUCAÇÃO ELEMENTAR
at Condições
a ,
de serviços :
odontológicos para alunos pobres. Revista de Educa-
são Pública 1, nº1, p.40, 1943,
Digitalizado com CamScanner
UM
A Escola Nova no Estado Novo
een
DR
2 43
mo
e primeiro-ministro do Ministério concentrado nos
da Educação e Saúd
(MES), fo; qu i es ta na rrativa ti vesse se sob
nomeado para suceder Teixeira. Como Cam
pos era o ; Embora até à po lí ti ca s e pr áticas racializadas
ri aç ão de
ideólogo de direita no círculo de Vargas, s Poderoso
mentos importantes dac a educaciona |, a expe
riên-
o prefeito opa lista Pedro gu il o de re fo rm
te tran
Ernesto Batista o escolheu na esperanç
a de que ele salva Sse seu Bo- um proces so bastan mm e n es te capítulo inverte
m essa
a de Pasc ho al Le
verno da repressão anticomunista. Francisc claea históri ssista
o Campos | Passou ç ão da ed uc aç ão pú bl ica no Rio de progre
ansi
pe rspectiva. A tr
sua
dos
gestão esboçando a Constituição autoritári
a e corporati vista do Es- am en te m il it ar iz ada foi, na superfici e, um
à dir eitista e ampl ileira. En-
tado Novo e, após sua proclamação, em novembro de 1937, assum:
tu rb ul en to s da hi st óri a da educação bras
, Miu
momento s mais ticas que
o Ministério da Justiça a fim de pô
ti € on tr ov ér si as po lí ticas e ideológi cas, as polí
tretanto, sobas
Em
ei fevereiro de
de os ; until bos dr dor od
emme, diretor de educação racio nalização, ciênci
a e profissionali zação per-
com raça,
profissional e técnica (daqui em diante referido
como ensino
lidavam
intac tas. A importân
cia interna e a In-
maneceram, de modo geral,
to, a
vocacional) do Departamento de Ed ã À ou reneg ociada. Com efei
fluênci a da raça não foi desafiada o nacio-
brevivido à onda| de perseguição, » Jájá que
que sua
si eos
nomeação Mem
fora e so
confir- conflituosa pol ítica educacional reforçou ainda mais om odel
mada por Francisco Campos. Mas, à medida que formando linhas de batalha
círculo se fechava nalista cugênico e técnic o de educação,
ao redor do prefeito Pedro Ernesto, os cursos vocacionais
oferecidos ue duraram por mais de meio
q
entre progressistas e conservadores
pelo Departamento de Educação para os apoiadores sindicalistas do debate sig nificativo sobre
século, mas que se desviaram de qualquer
prefeito passaram a servir para acusar Pedro Ernesto deter simpatias o papel da raça na educação pública.
uma iro-
comunistas. Lemme tornou-se um alvo. Segundo Lemme, depois No espaço político, a perseguição de Lemme revela-se
táxi.
de um longo dia entrevistando candidatos para um cargo no Depar- nia ainda mais importante do que sua amargura por ter pago O
tamento de Educação, ele se virou para receber a última pessoa sen- Diferentemente de outros educadores, depois de seu tempo na cadeia
tada nos bancos do lado de fora de seu escritório, um homem que se Lemme se tornou um severo crítico da tecnicização, da adoção sem
identificou como inspetor da Desps. Seu encontro iniciou-se de modo questionamento dos valores norte-americanos e do desrespeito pelas
agradável: o agente da Desps disse que, como via que Lemme estava implicações raciais da política educacional. Ele relatou que, depois
ocupado, esperaria até o fim do dia para falar com ele. Quando che- de estudar na Universidade de Michigan em 1939, começou a per-
goua hora, o agente convidou Lemme a dar um passeio até a sede da ceber que a educação progressista de Dewey privilegiava uma visão
Desps para responder a algumas perguntas. Cansado, Lemme suge- homogênea de classe média que ignorava “a história violenta dos
riu que pegassem um táxi. Ele foi interrogado sobre os cursos voca- índios, dos negros, dos imigrantes e do movimento operário".? Lemme
cionais para sindicatos e acabou sendo detido por razões políticas
por diversas vezes nos 16 meses seguintes. Em suas memórias, ele
cissidentes, assim como sua participação em uma univer
ironizou ter pago pela corrida que o deixaria preso.! sidade na prisão
montna a em 1935 por detentos que davam palestras
em suas áreas de espe
idade,
cialidad e, além
alé de cursos de educação ã geral para detentos com menos
edu-
Cação,
Ibidem,€ um impres sionan te sinal de vida so
! LEMME, P. Memórias. Rio de Janeiro: Cortez/Inep, 1988. p.241, v.2. p.127. ba repressão da era Vargas.
O relato de Lemme de seus meses na cadeia com influentes intelectuais
244 DIPLOMA DE BRANCURA A ESCOLA NOVA HO ESTADO HOVO 245
também passou a encarar os testes de inteligência como um sistema «o durante O Estado Novo, mostram a falta de consenso em certas
injusto que objetivava desenvolver hierarquias sociais, Essas críti. cação
da política educacional. Mas os novos administradores con-
áreas
cas foram expressas depois das reformas educacionais e da saída de de Teixeira (quejáin-
jnuara matrabalhar utilizando os esquemas
ti uitas das medid. as nacion
. .
alista e
Teixeira do sistema escolar. A única dissensão da época em Telação s e discip qe
linares abraçadas
cluíiam m au: ;
ao tecnicismo de Teixeira que Lemme notou foi uma resistência em lo Estado Novo) com apenas duas exceções: a introdução da edu-
nome de alguns professores do Instituto de Educação à excessiva pelo
cação religiosa nas Escolas ea reintrodução de uma prática paterna-
importação de terminologia em inglês. lista de atender a pedidos populares de favores e intercessões no
Embora as críticas de Lemme à reforma de Teixeira parecessem sistema escolar. Essa última prática Contratada diretamente o
ter sido únicas e posteriores às próprias reformas, elas vão ao âmago racionalismo científico, o tecnicismo ea profissionalização defendi-
das implicações racializadas do programa de Teixeira. Essa crítica das pelos progressistas, mas, não obstante, colocava o sistema esco-
não foi, de modo algum, submetida a debate em 1935 ou durante o
lar mais em contato com as correntes dominantes de populismo e o
Estado Novo, e Lemme foi preso, na verdade, por sua participação
paternalismo das políticas sociais da época e, em um sentido limi-
em programas educacionais projetados por sindicalistas aliados ao
tado, tornava as escolas mais atentas ao público.
prefeito Pedro Emesto. Depois que foi libertado, Lemme trabalhou O que Estado Novo mudou na vida dos brasileiros, ou na orga-
como inspetor escolar no estado do Rio de Janeiro e, em 1938, tor- nização do país? O que esse momento histórico significou em termos
nou-se pesquisador do então recém-formado Instituto Nacional de
da institucionalização do discurso racial? O Estado Novo lançou-se à
Estudos Pedagógicos (Inep). Segundo o biógrafo de Lemme, este saiu
construção de prédios, mas, pelo menos no caso da educação, o regime
do Inep em 1942 porque discordava do tecnicismo da visão educa- apenas deu uma nova face ao nacionalismo eugênico do Brasil. A os
cional de Lourenço Filho. Radicalizado por sua experiência como aspectos que mais caracterizavam o Estado Novo — como o naciona-
prisioneiro (depois de 1945, Lemme tornou-se ativo no Partido lismo em efervescência; a mobilização da juventude em cerimônias
Comunista do Brasil) e discordando do tecnicismo de influência públicas, que ecoavam as do fascismo europeu; e a implementação de
norte-americana que moldava a educação brasileira, Lemme ficou políticas públicas que impediam tanto a mobilização popular quanto
isolado e foi esquecido. Ele ganhou destaque outra vez na área da a participação política — tudo isso foi plantado nos anos entre a eleva-
educação brasileira apenas na década de 1980, quando a própriaárea ção de Vargas ao poder em 1930 e o advento do Estado Novo. O Estado
abraçou correntes pedagógicas marxistas. Novo foi um ponto de mudança na história brasileira? Com certeza ele
As batalhas entre a Igreja e os educadores progressistas, assim deu maior visibilidade às práticas e ideais que haviam emergido nas
como os programas educacionais executados pelos oficiais militares
décadas anteriores e continuou a expansão e a consolidação dessas
que detinham todos os principais cargos do Departamento de Edu-
práticas. Assim, o sistema de ensino público do Rio tornou-se mais
paternalista, o papel da raça tornou-se mais fixo e as ligações entre
Ibidem, p.130. educação, raça e nacionalismo, mais evidentes.
* BRANDÃO, Z. Paschoal Lemme. In: FÁVERO; BRITTO A importância desse período está em como a Igreja e os militares
(Eds.). Dicio-
nário de educadores no Brasil. p.426-34.
ratificaram os aspectos técnicos da educação pública e deram seguên-
PO
O instrumento para à acultu ção europé
ra
;
como um
À LP Pao Les. A brancos € para a preservação da dis
ciplina social em escolas onde alunos
vez mais. O aluno presumivel-
de divers as raças conviviam cada
a-Lobos aprendia não apenas
mente bran co imaginado por Vill
7 VILLA-LOBOS,
H. Educação Musical. In: À presença de
Rio de Janei Villa-Lobos. TT
—————
ro: Museu Villa-Lobos, 1991. p.8,
v.13 | Ibidem, p.12.
Ibidem, p.2. 0
o VILLA-LOBOS, Canto orfeônico, p.1.
13 Norma
1 Ibidem. Fraga, entrevis: tada por Jerry Dávi
la, 13 Jul. 2000
2 VILLA-LOBOS, H. Educação Musical, p.8.
EÊêAO
sas. a
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252 DIPLOMA DE BRANCURA A ESCOLA NOVA NO ESTADO NOVO 253
; 1 932 -1942
Em vez disso, para Fraga aquele era um dia da juventude por 5 . | Ever tos usicais nacion
| alistas
, T: abela
causa das reuniões musicais no estádio do Vasco da Gama, que con
Localização e evento Número
tavam coma presença de Vargas, “Chefe da Nação”. Fraga adorava de alunos
os eventos pela música e as multidões: pes
Clube 18.000
24 de outubro de 1932 Estádio do Fluminense Futebol
Bandeira) 2.000
Eu achava ótimo aquele negócio de ir para o Campo de Santana Largo do Russel (Dia da
19 de novembro de 1933 9.000
Estádio do Fluminen se Futebol Clube
aprender a marchar, uma atração minha de adolescente, então eu lá bro de 1933
26 de nove (Dia da Música)
queria saber o que é que era raça, se era raça, se era preta, se era 8.238
7 de setembro de 1934 Escolas do 9º. Distrito (Dia da Pátria)
branca, se era ... eu queria era participar daquelas comemorações 7.000
7 de setembro de 1934 Largo do Russel (Dia da Pátria)
que eu achava o maior barato. 7.238
7 de setembro de 1934 Campo do São Cristóvão (Dia da Pátria)
800
Teatro Municipal
8 de novembro de 1934
Ainda assim, ela admitiu que alguns dos alunos “deviajá haver (Cultura e Amizade entre as Nações)
alguns que detestavam, [porque] era mais ou menos obrigatório”. 15 de novembro de 1934 Estádio do Botafogo 1.500
(Proclamação da República)
Largo do Russel (Dia da Bandeira) 3.000
19 de novembro de 1934
7 de julho de 1935 Estádio do Vasco da Gama 30.000
Comunismo e catolicismo (Congresso de Educação)
16 de agosto de 1935 Instituto de Educação (Concerto educativo) 1.200
Para além da continuidade nos componentes racial e nacionalista da 22 de agosto de 1935 Instituto de Educação (Concerto educativo) 1.300
educação, sérias disputas políticas e filosóficas fervilhavam. A prin- 29 de agosto de 1935 Teatro João Caetano (Concerto educativo) 1.200
cipal era o conflito entre os Pioneiros da Escola Nova e os defensores 7 de setembro de 1935 Esplanada do Castelo (Dia da Pátria) 30.000
da ressurgente Igreja Católica quanto ao lugar da instrução religiosa 15 de setembro de 1935 Conferência Pan-Americana da Cruz Vermelha 2.000
nas escolas públicas. Para os pioneiros, não havia lugar para a ins- 10 de outubro de 1935 Teatro João Caetano (Concerto educativo) 700
trução religiosa nas instituições públicas laicas. Para os ativistas ca- 19 de novembro de 1935 Largo do Russel (Dia da Bandeira) 3.000
tólicos da década de 1930, uma escola pública sem instrução religiosa 19 de julho de 1936 Homenagem ao presidente da República 1.500
não estava educando. Essa divergência, que surgiu na discussão sobre 7 de setembro de 1936 Esplanada do Castelo (Dia da Pátria) 25.000
24 de setembro de 1936 Audição para intercâmbio com o 1.200
os artigos relativos à educação na Constituição de 1934, escalou a
Coro dos Meninos de Viena
um nível de briga política ferrenha, em que os ativistas católicos acu-
10 de outubro de 1936 Teatro João Caetano (Festival da Criança) 1.200
saram, com sucesso, educadores da Escola
Nova de serem comunis- 17 de outubro de 1936 Teatro Municipal 1.200
tase de se oporem ao programa de educação religiosa
e moral como (Cruzada Nacional da Educação)
uma salvaguarda da “paz social” no Brasil. 19 de novembro de 1936 Esplanada do Castelo (Dia da Bandeira) 8.000
Du 27 de novembro de 1936 Praça Mauá 2.000
Quais eram as raízes da oposição '* Maria Yedda Linhares, entrevistada por Jerry Dávila, 17 jul. 2000. Ver
católica à educação leiga? Mari
a
Yedda Linhares, que dirigiu duas vezes o sistema escolar muni também WEBBER, E. Peasants into Frenchmen: The Modemization
do Rio de Janeiro na década
cipal Rural France, 1870-1914. Stanford: of
de 1980 e o sistema escolar Stanford University Press, 1976; e
Início da década de 1990, estadual no NEEDELL,J. D.A Tropical Belle Epoque: Elite Culture and Somiety in
iniciou sua carreira na edu .
Tum-of-the-Century Rio de Janeiro. Cambridge: "
Cambridge iversit
University
nofinal da déc cação na capital
ada de 1930. Ela trabalhou Press, 1991,
com Anísio Teixeira quando
político para
amplo dos líderes católicos para cunhar um novo papel ver Teixeira estava nas mãos
social. local. A decisão de conservar ou remo
si como defensores da ordem não do ministro Capanema.
organização lobista do interventor da cidade, Pedro Ernesto,
Alceu Amoroso Lima, diretor da influente ra Municipal, por parte
Capanema em A oposição local cresceu também na Câma
católica, o Centro Dom Vital, escreveu ao ministro principalmente Olímpio
o entre Igreja, de representantes da Liga Eleitoral Católica,
1935 para pedir a remoção de Teixeira e definir a relaçã de Mello, padre populista de Bangu, subú
rbio do oeste da cidade.
os.
Estado e paz social proposta pelos conservadores católic Um dos líderes desse movimento, Átila
Soares, apresentou uma
ementação da educa-
proposta em maio de 1935 requisitando a impl
Consentirá o governo em que ... sob a sua proteção, se prepare ção religiosa. A disputa legislativa rapidame
nte mesclou-se a con-
uma nova geração inteiramente impregnada dos sentimentos mais a direitaea esquerda.
frontos políticos mais amplos surgidos entre
contrários à verdadeira tradição do Brasil e aos verdadeiros ideais Escola Nova viram-se
Teixeira e outros defensores progressistas da
com uma frequên-
. de uma sociedade sadia? ... Eis porque lhe escrevo estas linhas, cada vez mais isolados politicamente, e acusados
resumindo nossa conversa de ontem, para lhe dizer da grande in- No calor do debate
cia cada vez maior de praticar O comunismo.?
quietação que nos assalta nesta hora, e do que esperamos do patrio- a Teixeira, declarando
municipal sobre a medida, Soares telegrafou
tismo dos nossos dirigentes para a defeza do patrimonio moral do
amento de
Brasil e do seu futuro como nacionalidade cristã. pezames pela sua nefasta ação bolchevisante no depart
os
educação. A nação brasileira não poderá ficar à mercê de inimig
o
Amoroso Lima prosseguia pedindo a substituição de Teixeira insidiosos como você, cujo objectivo é desmantelar e esphacelar
por homens que ella tem de mais precioso? a paz social.?!
de toda confiança moral e capacidade technica (e não a sectarios A oposição rebelou-se até mesmo dentro da liderança do sistema
como o diretor do Departamento Municipal de Educação) ? tudo escolar. Isaías Alves, que desenvolvera o programa de testes de in-
teligência no sistema escolar do Rio depois de ter estudado no
são tarefas que o governo deve levar adiante immediata e infatiga-
Teachers College de Columbia, também acusou os líderes da Escola
velmente, pois delas depende a catholicidade das instituições e à
Nova de serem comunistas. Em 1937, em um ataque ao diretor do
paz social.!º
Instituto de Educação, Lourenço Filho, Alves afirmou que
Um aspecto curioso da carta é que foi dirigida por um líder leigo bolchevismo é muito difícil encontrar num educador ... mas
católico ao ministro da Educação federal para atacar um sistema escolar
bolchevizante o educador o é involuntáriamente, todas as vezes
Azevedo apontava para a linguagem codificada de um “retorno à Os registros não sugerem que essa oportunidade tenha surgido.
tradição” como um meio de atacar o projeto educacional progressista. Recusar favores a homens tão poderosos quanto Chateaubriand pode
Essa linguagem surgia frequentemente tanto em reportagens de jornal ter ajudado os processos de profissionalização e racionalização siste-
quanto nos registros do sistema escolar durante o Estado Novo. mática, mas certamente não aliviou o isolamento crescente de Teixeira.
Anísio Teixeira recebeu o impacto da reação católica. Por diver- “Teixeira levou essa falta de tato à sua luta com a Igreja Católica,
sos motivos, na frase de Michael Conniff, Teixeira virou um pára- a quem se referia como a “Inquisição”.?* O ex-seminarista via como
raios. Ele era “pedante e desdenhava os políticos”, não prestava os sua missão proteger seus alunos do dogmatismo supersticioso que a
Igreja representava. Ele refletia:
favores políticos que outras elites influentes lhe pediam, era intran-
sigente na questão da educação religiosa e tornou-se um franco de-
fensor do prefeito Pedro Ernesto quando sua coalizão de governo se 26 CONNIFF, Urban Politics in Brazil, p.149.
fragmentou e radicalizou. Teixeira não tinha talento como político, E») Carta de Anísio
ísio Teixeira
Teixo; a Assis Chateaubriand,
10 mar. 1932. Arquivo
Anísio Teixeira, CPDOC, 32.02.17 (0450).
28
25 Farta Memorando sem data, Produção Intelectual". Arquivo Anísio Teixeira,
de Fernando de Azevedo a Anísio Teixeira, 26 ago.
1933. Arquivo CPDOC, 31/35.00.00 (0681).
Anísio Teixeira, CPDOC, 33.8.26 (0340).
marcado pela ciencia, pela invenção e pela modificação da vida federal cada
Freitas emergiu como o interlocutor entre o governo
pelo homem, tão cheio de prodigios humanos que qualquer deles progressistas.
vez mais conservador e autoritário e os educadores
sozinho faria de quem o possuisse na antiguidade nada menos que o e deixado-o
Embora sua estratégia para salvar Teixeira tivesse falhad
um deus, como se explica que tenham ressurgido, com foros de lidade ou de
“seriamente ameaçado, aquí, de ficar reduzido à imobi
aceitabilidade e mesmo com agressividade, tantos sistemas de su- a mediar as ten-
ser obrigado a pedir exoneração”, Freitas continuou
perstição e de confessado obscurantismo??? profun-
dências cada vez mais divergentes. Por um lado, ele estava
tava em
damente empenhado na educação pública. Por outro, acredi
Sua decidida recusa de aceitar a educação religiosa deu à Igreja um Estado forte e saudava o desvio rumo ao autoritarismo. Apesa
r
o alvo em seu esforço de construir seu papel como defensora da “paz de não ter conseguido salvar Teixeira do “dissabor de penosas sur-
social”, e isso custou a ele a chefia do programa que organizara com presas”, ele conseguiu atrair Lourenço Filho para a direção do Inep
tanto esforço. em 1938, e convenceu Fernando de Azevedo a escrever o clássico
De 1933 em diante, ficou cada vez mais claro para aqueles que Cultura brasileira como introdução ao Censo da década de 1940.
o cercavam que a posição de Teixeira como chefe do sistema escolar Mesmo em 1936, depois de Teixeira estar exilado no estado de sua
do Rio estava se tornando politicamente insustentável. O estatístico família, a Bahia, Freitas escreveu:
federal Freitas buscou uma saída para Teixeira dividindo as direto-
rias dos serviços educacional e agrícola, conservando ambas. Com Mas não perdi ainda a esperança, senão de me fazer substituir
essa barganha — aprovada pelo ministro da Agricultura Juarez Távora, pelo Anísio, ao menos atraí-lo ... para o campo da estatística, onde
mas rejeitada pelo ministro da Educação Washington Pires (1932- ele brilhará mais tranquilamente, e sem deixar de servir à educa-
1934) —, Freitas iria dirigir o serviço de estatísticas agrícolas en- ção nacional.?!
quanto Teixeira dirigiria o programa de estatística educacional. Freitas
explicou o plano mais tarde a Azevedo: Apesar do ambiente político cada vez mais hostil, Teixeira levou
suas reformas em frente e fincou pé em relação à educação religiosa.
Quando ha tempo senti que a situação do Anísio já se estava
Mas vínculo apontado entre a educação laica e o bolchevismo pelos
tornando difícil à testa do Departamento de Educação, tentei con-
conservadores católicos serviu como pretexto para a remoção de
Teixeira e sua equipe após o fracassado golpe comunista de novem-
correr para que êle se transferisse para um outro sector de ativida-
de, + me menos em evidencia,
I ER é certo, mas de onde a sua poderosa atuaçãox
30 Carta de Mário
E Augusto Teixeira
o. de Freitas a Fernando de Azevedo, 2 jan.
1936. Coleção Freitas, AN, AP 48, Caixa 11, Pasta 32.
Pa, agr
j essividade do obs cura ntism
o”. A rquivo Anísio Teixeira (À C 3% Ibidem.
bro de 1935. Poucos dias após a Intentona, Teixeira apresentou sua da de-
Ele descrev euo “experimento
carta de demissão e refugiou-se na segurança do estado de sua famí. tado” queera o Estado Novo. tentado sem
ão no Brasil qu e havia sido
lia, a Bahia. Ele explicou que tentara evitar os conflitos de classe mocracia por meio da educaç
, e lamentou que: “você ten
ha visto
criados pela urbanização e industrialização, resolvendo as “tremen- muito sucesso no Rio de Janeiro”
fascismo cor rompido e dos mais;
das perplexidades do momento histórico que vivemos”. Perguntava a real face do Brasil moderno — um
degradantes .. . que está dando vida e form
a às nossas mais censura-
retoricamente, “que outra alternativa se abre para a pacificação .
o sistema escolar que Teixeira
conciliação dos espiritos? ”.* veis potencialidades”.” Enquanto isso,
seu novo diretor.
Com a saída de Teixeira o sistema escolar perdeu muitos de seus reformara recebeu Francisco Campos como
talentosos intelectuais e administradores. Alguns, como Paschoal
Lemme, foram presos. Alguns saíram por vontade própria. Em 1º de
A Reforma Dodsworth
dezembro, um grupo de auxiliares de Teixeira pediu demissão em pro-
testo por sua saída. Sua demissão foi acompanhada por uma carta que
Depois das tumultuosas batalhas para controlar o governo da cidade,
dizia: “Dr. Anisio Teixeira se manteve absolutamente alheio a qualquer
que resultaram na prisão de Pedro Ernesto em maio de 1936 e em
ideologia politica subversiva da ordem constitucional, exclusivamente
uma breve e instável gestão do padre Olímpio, Getúlio Vargas esco-
voltado à cultura nacional, pela educação e só coma educação” .3 Embora
lheu Henrique Dodsworth, um obscuro administrador, para dirigir
outros, como Lourenço Filho e J. P. Fontenelle, tivessem permanecido a cidade. Segundo Conniff, Dodsworth foi “escolhido por Vargas para
em seus cargos, o agrupamento de educadores da Escola Nova que ten- estabilizar e se possível despolitizar a administração local enquan-
tou criar um modelo de sistema escolar baseado no mérito, no acesso to as conspirações para o Estado Novo prosseguiam”.* Embora
democrático e em uma pedagogia moderna se desfez ao mesmo tempo Dodsworth houvesse tido posições anti- Vargas no passado — sua ficha
que o Brasil dava um passo decisivo rumo à ditadura autoritária. na Desps de Filinto Múller o descrevia como “revolucionário em
Do exílio no estado da Bahia, Teixeira escrevia a um diplomata 1932, ao lado de São Paulo” —, ele havia sido deputado federal por
norte-americano, pedindo ajuda para acabar com o “fascismo embo- muito tempo e sempre se identificara com as facções políticas mais
conservadoras na cidade.
Dodsworth tinha uma longa carreira como médico e educador,
2 Esboço escrito à mão da carta de renúncia de Anísio Teixeira a Pedro Ernesto. tendo trabalhado como inspetor escolar, professor de física e quími-
3 A carta foiassinada por Afrânio Peixoto, ex-reitor da Universidade do Dis- ca e, finalmente, diretor do Colégio Pedro II. Dodsworth formou-se
trito Federal, que havia sido organizada por Teixeira; A. Carneiro Leão, ex-
diretor do Departamento de Educação do Rio; Roberto Marinho de Azeve-
do, diretor da Escola de Ciências da Universidade do Distrito Federal;
Rascur ho de carta
Gustavo Lessa, diretor do Instituto de Pesquisas Educacionais; Mário de sem data de Anísio Teixeir
1 ia ao di p lomata nor te-ameri-
cano Barnette . Arqui Vi (e) Anísio I eixeira 1 CPDOC
Brito, diretor da Escola Secundária do Instituto de Educação; Paulo Ribei- y 36/
6 45.00.00 (0952) .
CONNIF F, Urban
ro, chefe da Divisão de Prédios e Aparelhamentos Escolares; e Celso Kelly, 36 Dossiêva . Politics im Brazil, p.150 2.
de Henrique Dodsworth. Coleção Filinto Múller,
secretário de Educação do estado do Rio de Janeiro. Arquivo Anísio Teixeira, CPDOC
Biografias. ,
CPDOC, 35.12.01 (0919).
Ferr
explicou o diretor da educação primária, coronel Jonas Correia.” A educação nas mãos dos militares
A ênfase de Dodsworth sobre “valores espirituais e tradições nacio-
seu governo da cidade,
A reforma educacional de Dodsworth, como
nais”, contudo, desviava-se do trabalho de Teixeira e Azevedo.
sistemas exis-
A retórica sobre tradição, argumentava Azevedo, era linguagem ci- foi pragmática. Ele evitou iniciativas ousadas, fez os
políticas da
frada contra os aspectos modernos, sociais, da Escola Nova.! Os tentes funcionarem de modo mais eficiente e manteve as
oficiais
jornais elogiavam a reforma como uma “expressão da moderna pe- cidade fora dos holofotes nacionais. Dodsworth escolheu
dagogia social”, alcançando “fins” adaptados à realidade social por militares para sucederem Francisco Campos como diretor do De-
“meios” desenvolvidos por Azevedo e Teixeira. Com efeito, à partamento de Educação e Lourenço Filho como diretor do Instituto
imprensa ressaltou a ligação entre a reforma de Henrique Dodsworth de Educação. Os militares que preencheram os cargos administrati-
e as de Teixeira e Azevedo: vos mais altos na educação emprestaram ao sistema escolar o tom
disciplinar e nacionalista do Estado Novo. Mas, de modo geral, esses
oficiais não desviaram significativamente o sistema escolar da dire-
id CORREIA, J. Reorganização do ensino primário do Distrito Federal: expo-
ção que lhe fora dada por Teixeira e Lourenço Filho.
sição de motivos do Decreto nº 7.718, de 5 de fevereiro de 1944. Revista de
Educação Pública 2, nº1, p.103, 1944,
Ibidem, p.103-4.
>:
morais, a
Depois que Francisco Campos completou seu trabalho de reda. E
ação em q ue o espírito cívico, os sentimentos
uma ger
ção da Constituição do Estado Novo e deixou o Departamento de a alma e a pujança de vigor físico sejam capazes de in-
fortaleza d Ê .
Educação do Rio, Dodsworth nomeou o coronel Pio Borges para fui eficazmente, na manutenção da Paz, na preservação das con-
ulr,
Brasil.”
dirigir o sistema escolar. Entre as reformas de Borges inclui-se a quistas da ciencia e na garantia da vida e do progresso do
abolição da educação clássica nas escolas secundárias vocacionais da
oficial, o Eitonel Jonas Cor-
cidade. Isso havia sido uma inovação de Teixeira, que oferecia à sob a gestão de Borges, mais outro
o Priménio: Correia, antigo
alguns alunos das poucas escolas vocacionais da cidade um grau reia, dirigiu O Departamento de Ensin
ntes os programas
equivalente ao das escolas secundárias clássicas particulares que pre- professor do Colégio Militar, tornou mais eficie
mento
paravam as elites para as universidades. Os currículos clássicos de nutrição, saúde e higiene das escolas, coordenou o trata
os níveis nutricionais
haviam sido implementados apenas em algumas escolas vocacionais médico e dentário em todo o sistema e estudou
Correia substi-
antes da demissão de Teixeira — curiosamente, duas das três eram dos alunos para adaptar o almoço nas escolas. Jonas
1942. Sua admi-
escolas femininas, o que, com o Instituto de Educação, dava às mu- tuju Pio Borges como diretor do sistema escolar em
as escolas.
lheres uma vantagem em termos de oportunidades educacionais.“ nistração levou a mobilização do tempo de guerra para
Fechar esses programas eliminava a única oportunidade de uma A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial forneceu uma opor-
educação pública clássica fora do Instituto de Educação e do Colégio tunidade para promover o nacionalismo entre os alunos e exigir dis-
Pedro II. Com essa mudança, a escola secundária do Instituto teve ciplina da parte deles. Por exemplo: as escolas ecoavam o apelo de
seu nome alterado para Colégio do Instituto de Educação. A mudan- Vargas de que todos os cidadãos deviam contribuir para a vitória do
ça do nome resolveu a incoerência de haver apenas uma escola pú- Brasil por meio de sua “Disciplina, Aplicação, Discrição e União”.
blica secundária dando diplomas reconhecidos na universidade. Nas escolas, a guerra foi um veículo para a transmissão das lições do
Borges também reestruturou a administração do sistema escolar Estado Novo. E, sob essas circunstâncias, a presença de oficiais
criando o Departamento de Educação Nacionalista (DEN) em 1940. militares na administração de escolas civis ressaltava as exigências
O DEN consolidou a educação física, os cantos orfeônicos e a edu- nacionalistas e disciplinares da época.
cação moral e cívica. Isso racionalizou a administração dos compo- Correia transformou os programas eugênicos em um sistema
nentes mais abertamente nacionalistas, eugênicos e disciplinares do mais coerente, que não apenas buscava o desenvolvimento saudável
currículo de Teixeira de 1932. Chefiado por outro oficial, o tenente- das crianças, como também utilizava avaliações sobre sua saúde na
coronel Moacyr Toscano, o trabalho do DEN era prepar avaliação acadêmica do aluno, assim como pretendiam fazer os testes
ar
padronizados, dando uma orientação “médico-pedagógica àclas
E “ mn 4 1 nas Ma -
as 0
Carta de Edgar Pereira da Silva à Getúlio Vargas, 24 set. 1941.
Coleção 4 a
. do Departamento de Educaçãoã Nacionalis
º ER ii AGC, Caixa 15 — Educação, 1939-1945 (11418). Comemoração= do aniversário
. ta.
olégio do Instituto de Educação. Revist DO 1, a Revista de Educação Pública 1, nº1, p.136-7, 1943.
p.143, 1943. evista de Educação Pública 1, n
Ibidem, p.137.
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274 DIPLOMA DE BRANCURA A ESCOLA NOVA NO ESTADO NOVO 275
s eme-
sificação e distribuição dos alunos.” À filosofia médico
Os ofici ais mili
tares continuaram os programas de teste
os
gica chegou ao extremo de segregar alunos ou cem da edida que esses programas atingiam a maturidade,
prejudio e didas e, à m inar os padrões de mau
colas. A suposição de que crianças doentes podiam ais começaram à exam
pesquisadores educacion
va. Uma questão cha-
saúde de crianças saudáveis separava as mais ricas e mai bean E ue o sistema de medidas revela
desempenho q nos de nove
que os aluno s — como os alu
de suas colegas mais pobres e muito vezes mais escuras. Os ei mou-lhes à aten ção: por
Escola General
uavam no primeiro ano na
de saúde agora se juntavam aos de inteligência e maturidade a anos de idade que contin que, dos cem
to? Seus dados mostravam
fornecer as bases sob as quais se implementava a degregação nai Trompowsky — repetiam tan .” Esse
as, 33 mil repetiam a cada ano
escolas do Rio. Os alunos pobres costumavam ser «reconhecidos mil alunos das escolas públic ais na déca-
dos pesquisadores educacion
como doentes (sífilis, parasitas, adenopatia, anemia), anti-sociais problema ocupou à agenda desempe-
de alunos apresentavam mau
em seu comportamento devido a razões hereditárias ou culturais e da de 1940. Alguns grupos sa desse
era a cau
testes ou na escola. Qual
indiferentes à educação”.*” A sistematização desses julgamentos nho constantemente nos ores ambien-
explicitamente de se mp en ho ? Ser ia des nutrição? Saúde ruim? Fat
como base para a distribuição de alunos contornava mau
hereditário?
a diferenciação por classe ou raça, mas produzia o mesmo efeito. tais? Seria cultural? Ou rri-
dico-Pedagógico nacional, oco
Durante o Estado Novo, análises de raça, saúde e desempenho O consenso do Congresso Mé toma
dequearepetição de ano era sin
educacional acompanhavam os programas de testes e medidas. Os do em São Paulo em 1941, foio e
o eugênica entre saúde e capacidad
resultados dessas análises foram compartilhados com educadores no de doença. Seguindo a correlaçã ble -
avam soluções médicas para pro
Rio de Janeiro e em todo o Brasil por meio da Revista de Educação intelectual, os educadores busc
ges, secretário da Educação do
Pública, Esses ensaios revelam uma tendência constante de identi- mas acadêmicos. O coronel Pio Bor idiu o
ros anos do Estado Novo, div
ficar o mau desempenho educacional com pobreza, desnutrição, município durante os primei
ico-Pedagógicos (DMPs). Como
inadequação cultural e raça. O enfoque analítico adotado por esses sistema escolar em 15 Distritos Méd
to de Educação Primária, coronel
pesquisadores revelava a extensão em que um sistema educacional explicou o diretor do Departamen
baseava suas Medidas de desempenho e mérito em normas estabele- Jonas Correia:
ndas pelo movimento eugenista, que, por sua vez, baseava-se em
do, é, assim, médico-peda-
ierarquias de raça e classe. Em última análise, o sistema escolar O problema, como está equaciona
é rias do currículo
vesti la a estratificação
ificaçã social
1 dominante
: em roupagem científica. gógico. De fato, aprenderá sempre mal as mat
r de doenças ou .. . com dentes
escolar, a que fica obrigado, portado
cariados ou infeccionados.'?
49 Fon-Fon,
, p.20,
P.20, 1941. - Coleçã
Coleção Henrique
i D -
4 Educação, 1939-1945 (04106) À Pdsmorih, AGE, ao º
NUNES,
s1
NUNES C. A escola redescobre a cidade:
i reinterpretação da modernidade a FOMERO, Medicina e educação, p.360. 15 -
h, AGC, Caixa
o
pedagógica no es paço urbano carioca,
Ê 1910-1935. Niterói: UFF, 1993. pgs p.20, 1941. Coleção Henrique Do: dswort
ucação, 1939-1945 (04106).
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276 DIPLOMA DE BRANCURA A ESCOLA NOVA NO ESTADO NOVO 277
Ele se vangloriou de que o sistema escolar do Rio era a mais êsses indispensáveis para avaliação das causas do desajustamento
. s4
completa expressão no Brasil da união entre educação e medicina, da criança.
A nova rede de DMPs analisava e tratava os motivos biológicos, hi-
giênicos e médicos para o mau desempenho, Todos esses alunos recebiam uma ficha especial de “Criança-
Os alunos eram avaliados não apenas em seu desempenho aca- Problema”, registrando os diversos tratamentos administrados, as-
dêmico, mas quanto a seu estado de saúde e nutrição. Correia van- sim como suas condições de vida, hábitos nutricionais e vida familiar.
gloriava-se do enfoque médico-pedagógico chamando-o de “uma Segundo Antônio Maria Teixeira e E. Corrêa de Azevedo, autores do
solução brasileira para um problema brasileiro”. O problema estava relatório sobre o 5º DMP, uma análise dessas fichas de “Criança-
na possibilidade de as crianças doentes serem admitidas nas escolas Problema” revelou que a maioria das crianças desajustadas era sub-
da cidade. Esses nutrida. Eles explicaram que a principal razão dessa subnutrição era
o “binômio pobreza + ignorância”. Um ciclo vicioso parecia exis-
inúmeros meninos doentes, atacados de molestias seríssimas, lo- tir: como os alunos eram subnutridos demais para aprender, ficavam
graram ingressar nos nossos estabelecimentos, e estavam consti- ignorantes como seus pais, que, por sua vez, não sabiam como
tuindo ora um motivo de perigo à saúde dos colegas, ora um objeto alimentá-los corretamente. Por trás do leite reforçado que essas crian-
de escárneo dos seus companheiros.” ças recebiam, havia um conjunto de pressuposições e julgamentos
que culpava a pobreza e a ignorância da família por suas deficiências.
Mau desempenho na escola era relacionado à doença. Os alunos Se os médicos do 5º DPM identificavam subnutrição no elegante
que iam mal nas provas eram encaminhados ao médico do DMP. bairro de Copacabana, as condições em regiões mais pobres do Dis-
Em 1942, alunos do 5º DMP, que cobria os bairros da Zona Sul trito Federal eram consideravelmente piores. Em relatório de 1944
do Rio, foram divididos em categorias de aprovados, aprovados por intitulado “Desenvolvimento Cefálico e Subnutrição”, Joaquim
margem mínima e não-aprovados. Os alunos não-aprovados eram Thomaz, do Serviço Antropométrico, descrevia o estado de subnu-
enviados para a clínica médica situada no Colégio Cócio Barcelos, trição de alunos na região extremo-oeste, semi-rural de Guaratiba.
em Copacabana, com suas fichas psicológicas e suas mães. Lá o alu- Eram filhos de agricultores pobres e iletrados e, em geral, portado-
no passava por uma avaliação médica que incluía a verificação de sua res de parasitas endêmicos na região. Segundo Thomaz, metade das
higiene mental e ambiente social. Sea mãe não acompanhasse a crian- crianças era subnutrida e, em consequência, estagnavam em seu
ça, o secretário da escola visitava a casa da criança aprendizado. Ele descreveu-as como “repetentes contumazes, com
cinco, seis anos na primeira série, com baixo índice de fadiga e QI . «2! 88 Ter oficiais chefiando o sistema escolar significava
de simpatia - chave:
inferior ao normal”.º ue colocar ho mens leais e conservadores em cargos-
mais do q
Thomaz chegou a uma curiosa conclusão sobre o papel da Taça
introduzia valores milit
ares e nacionalistas. Uma ex-estudante lem-
quando confrontado à subnutrição e às doenças endêmicas. Ele ex- alvorada soava e todos se reuniam”.
bra-se de qu e “o toque da . NR
plicou que, como em outros estudos do Serviço Antropométrico, a No próprio Instituto de Educação, a militarização e o ar nacio-
am no dia-a-dia.
avaliação desses alunos revelava um grau maior de subnutrição entre nalista, disciplinar do Estado Novo se introdusit
inetito de
crianças brancas do que em negras, com um número intermediário Uma publicação de 1941 da Sociedade Literária do
o fenômeno político
Educação, Instituto, revela a extensão em que
entre os “mestiços”. Thomaz sugeriu que, sendo todos os fatores
r. Entre as foto-
iguais, as crianças negras “[têm] maior resistência ... às condições que foi o Estado Novo infiltrou-se na cultura escola
dos em pé, em for-
do meio, às intempéries, à parca alimentação etc.”*” Argumentando grafias de alunos brancos do curso normal posta
ando Vargas
que os negros estavam mais bem adaptados à pobreza, Thomaz mação militar e segurando bandeiras, havia artigos elogi
s o
implicitamente identificava a negritude à miséria. Pior ainda, sua e discutindo o “momento de efervescência nacional”. Apena
análise — como muitas outras do Serviço Antropométrico — desqua- primeiro número da revista foi preservado na biblioteca do Institu-
lificava o alto nível de desempenho educacional de estudantes de cor to, e não se sabe com clareza se outros números foram publicados.
reduzindo-os a uma melhor adaptação à miséria. Também não se sabe o grau em que este único número revela a cul-
tura dos alunos do Instituto, ou se reflete apenas as exigências ideo-
lógicas do regime. Qualquer que seja o caso, Instituto ecoava a
Estado Novo no Instituto de Educação ideologia oficial que prevalecia no sistema escolar e nas administra-
ções do Instituto.
O Instituto de Educação também foi dirigido por um oficial militar Um artigo discutia a revisão do hino do instituto. Sob instruções
que continuou a trajetória iniciada pela reforma de 1932. Em 1939, do coronel Tito, Theobaldo Recife, professor de educação moral e
o coronel Arthur Rodrigues Tito, instrutor da Escola Militar, foi cívica, trocou a letra original do hino de 1886 por uma nova letra
nomeado em substituição a Lourenço Filho quando este saiu para refletindo valores da época e um tom mais apropriado às grandes
dirigir o Inep. Como os outros militares no sistema escolar, ele não comemorações cívicas em moda. O último refrão do hino resume
tinha treinamento pedagógico, mas havia feito carreira na instrução perfeitamente o novo significado: “Do mais puro civismo a centelha
militar. A biografia oficial de Tito na história do Instituto de 1954 1 Todoo nosso Instituto ilumina; / E a grandeza da Patria se espelha /
descreveu-o assim: “Energico mas afavel, manteve uma disciplina
louvavel, sem usar dos métodos prussianos, e das alunas, teve
gran- ———..
7
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286 DIPLOMA DE BRANCURA 287
A ESCOLA NOVA NO ESTADO NOVO
”—u |
Norte, Senador Camará, assinaram uma petição a Dodsworth requi. osta ao prefeito, o diretor do Spae, Raul Penna Firme,
Em sua resp queo terreno era muito pequeno e dois terrenos adja-
sitando a construção de uma escola no bairro com capacidade par. argumentou
700 alunos. Eles se queixavam de que as escolas mais prósiaad
centes — que E
ão eram dos peticionários, nem do proprietário de terras
ficavam a dois ou três quilômetros de distância e tinham
“instala. Vieira Alves —
precisariam ser comprados.. Como, mostra o mapa
ções sanitárias insuficientes e precárias”, Essas escolas não tinham do por ele, O prédio da escola ocuparia uma área menor do que
anexa
vagas para todas as crianças de Senador Camará que queriam oterreno ori ginal, mas devido ao projeto do prédio (coerente com o
frequentá-la, então algumas crianças precisavam ir a uma escola ain- plano homogêneo para novas construções durante a administração
da mais distante, em Bangu, enfrentando “as intempéries do tempo: Dodsworth), excederia os limites do terreno disponível (ver Mapa 5.1).
o frio, a chuva, o sol causticante”.” Teve similar destino uma petição de um empregado de uma
Os moradores de Senador Camará não procuraram o gabinete do sociedade cooperativa, a Companhia Confiança Industrial, de fazer
prefeito de mãos vazias. Sua campanha para obter uma escola datava com quea Prefeitura rebatizasse uma escola existente em memória
no mínimo de 1940, quando haviam assegurado a doação de vários de Carlos Alberto de Menezes, um sindicalista. Em uma carta de
terrenos adjacentes do construtor imobiliário dos subúrbios, Cristó- 1944 a Dodsworth, a sociedade justificou seu pedido com base no
vão Vieira Alves, “grande proprietário e amigo do povo desta pito- apoio dele à escola. A sociedade explicou que ela fornecera tanto o
resca localidade”.”* Embora não haja mais informações sobre como,
especificamente, os moradores obtiveram a cessão das terras, a lin-
guagem em que eles descrevem Alves sugere que tenham recorrido
a tradicionais apelos paternalistas. Eles propuseram ceder osterre-
nos para a Prefeitura, que construiria a escola e ficaria com sua pro-
priedade — ao contrário das duas escolas mais próximas, que ficavam
em prédios alugados pela Prefeitura. Os moradores já haviam resol- --- Escola
E Área adquirida
vido o problema mais difícil que a Prefeitura enfrentava na constru- D] Área necessária
º Ibidem.
vincente, o administrador que tratou da petição respondeu que a escola Isso Iria
escola vocacional.
já fora batizada como Virginia Pinto Cidade em homenagem à pri-
r uma
meira formanda de escola normal do Rio, e não seria rebatizada. s sagrados do Paiz, tal o de cria
[salvaguardar] os interesse
A Prefeitura não tinha interesse em ter uma de suas escolas batizadas preparada e apta a enfrentar as duras contingencias da
geração nova R .
com o nome de um sindicalista, mesmo que o sindicato tivesse sido vida e trabalhar pelo engrandecimento, cada vez maior, do Brasil.
o responsável pela fundação e manutenção da escola.?
Enquanto as tentativas de mudar o modo pelo qual o sistema es- O gabinete de Vargas remeteu a carta a ii que, por sua
colar fazia as coisas geralmente fracassavam, petições em favor de
vez, a enviou ao superintendente da escola. O diretor de educação
uma exceção ou favores especiais às vezes davam certo. Um exemplo
vocacional permitiu que as crianças fossem matriculadas no Colégio
foi o pedido de uma dona de casa, Felicidade Rodrigues, a Getúlio
Cardeal Leme. Felicidade Rodrigues conseguiu colocar seus filhos
Vargas, para que seus dois filhos obtivessem vaga em uma escola na escola apelando para o Estado como um patrono, uma estratégia
vocacional. Rodrigues era analfabeta e ditou a carta a uma amiga.
empregada por dezenas de cartas no arquivo de Dodsworth.
Como outros suplicantes, Rodrigues enfatizou sua extrema pobreza Em um caso, os suplicantes não eram pessoas de fora, mas sim
—ela e os dois filhos moravam em um único quarto em uma pensão professoras de uma das escolas vocacionais da cidade, a Escola Orsina
em Laranjeiras, e ela não podia pagar uma escola para eles. Em da Fonseca. Elas passaram por cima da superintendente da escola e
consequência, embora os filhos tivessem onze e nove anos de idade,
encaminharam diretamente ao prefeito um pedido de ampliação da es-
ainda eram basicamente analfabetos. cola, com a ocupação do primeiro andar vago do prédio da Prefeitura
À estratégia de Rodrigues foi argumentar que, sem educação, os cujo segundo andar utilizavam. A escola vocacional abrigava tanto cur-
filhos seriam um prejuízo para a sociedade. Ela sos primários para crianças mais novas quanto cursos vocacionais de
explicou que, en-
quanto ela trabalhava o dia todo, eles “perambulavam pelas ruas”, datilografia, estenografia e costura para mulheres. Localizava-se em uma
uma situação que “não poderá mais perdurar, pois não [quero
ver área central, e a maioria dos alunos eram filhos de imigrantes sírios.
meus] dois filhos encaminhados na malandragem”. Analfabetos
e As professoras ressaltaram o papel pioneiro da escola na educa-
dados ao vício, essas crianças seriam uma vergonha
não apenas para ção de mulheres:
Sua mãe, mas “prejuizos para a Nação, pois, por certo, quando ho-
Na época em que foi fundada pela inclita batalhadora, profes-
DD sora Leolinda Daltro, em julho de 1910, não havia no País e, quiça,
% Cartada Companhia
Confian sa Industrial a Henrique Dodsworth, =
0
1944. Coleção Henriq 24 nov.
ue Dod sworth, AGC, Caixa 108 - Educação
1945 (16948) , 1939- él Carta de Felicidade Rodrigues a Getúli
o Vargas, 27 jun. 1941. piora
Henrique Dodsworth, AGC, Caixa
108 — Educação, 1939-1945 (07
na América Latina, outra instituição destinada à mulher com dicional como estava prestes a ser demolida sem que as professo-
, as adic
suas características técnicas, profissionais, artísticas e científica
8, ras soubessem. .
A educação continuou sendo um recurso em escassez no final do
No entanto, mais espaço era necessário, porque o andar ocupado
Estado Novo, apesar dos esforços constantes para expandir sua ca-
pela escola estava atulhado, de modo não-higiênico, o que aumenta-
pacidade. Os termos de acesso à educação pública eram rigidamente
va as dificuldades para as mulheres jovens, da classe trabalhadora
controlados por administradores cuja ampla autonomia foi primeiro
que estudavam lá. O pedido foi encaminhado pelo gabinet
e de encorajada pelo positivismo de Teixeira e depois pelo autoritarismo
militar. Mas na educação pública, como em qualquer sistema, havia
Dodsworth para Maria de Lourdes Cardoso, a superintendent
e do
distrito, quem apoiou a idéia e a transmitiu ao inspetor de constru- espaço para negociação. O público respondeu à autoridade tecnocrática
ções.”* O inspetor relatou que o primeiro andar estava em condiçõ
es com estratégias de negociação que haviam funcionado durante sécu-
deploráveis, mas que o espaço atulhado de modo não-higiênico
do Jos. Confiando na reprodução das relações clientelistas, as pessoas
segundo andar era o problema mais grave: a expansão beneficiaria
que buscavam acesso à educação enviavam pedidos aos tecnocratas.
a escola. Finalmente, o diretor do Spae aprovou a idéia e devolveua
Seus apelos reconheciam o desnível de poder entre eles e a autorida-
petição ao gabinete do prefeito com notas de aprovação de todos de a quem se dirigiam, e identificavam um aspecto dos interesses
os
administradores responsáveis. No final das contas, o pedido
foi oficiais ou agenda a que seu pedido servia. O peticionário apresen-
rejeitado. O gabinete do prefeito enviou a petição aprovada para o tava o favor como uma forma de reforçar ou perpetuar os poderes
gabinete encarregado da renovação do plano urbano. Os engenheiros dagueles a quem humildemente apelavam. Os administradores muitas
da Prefeitura que estavam planejando evacuar parte do centro da vezes reagiam favoravelmente a esses pedidos e, nesses momentos,
cidade para construir a avenida Presidente Vargas relataram que todo o sistema beneficiava a todos os envolvidos.
o prédio onde a escola estava localizada “é atingido pelo Projeto Esses pedidos mostram um sistema cujas características básicas
nº3.481... deverá ser demolido para a execução dos projetos elabo- haviam-se tornado um fato da vida diária para mais de cem mil alu-
rados”.” À Escola Orsina da Fonseca não só não conseguiria o espaço nos, milhares de professores e suas famílias. Independentemente de
como essas características eram julgadas pelos participantes, as ja-
78 «pais
nelas abertas pelos pedidos a Dodsworth e Vargas mostram uma
Petição sobre o Aluguel do Térreo da Escola de Ciências,
sões Orsina da Fonseca, 13 de fevereiro de 1941".
Artes e Profis-
aceitação tácita do panorama da educação pública como um espaço
Cardoso identificou-se
como uma professora da escola elementar nomeada para a fiscaliza
ção do governado por saúde, higiene, nacionalismo, disciplina e trabalho.
18º Distrito. Ela ocupava um papel não diferente do de
outras mulheres Os pedidos apresentam o sistema escolar uniformemente como um
que começavam a lecionar, e fora promovida a postos administrativos conjunto de benefícios e refletem tentativas de obter ou ampliar 0
no
sistema escolar. Coleção Henrique Dodswor
th, AGC, Caixa 108 — Edu- acesso a eles. As mesmas estratégias eram também evidentes entre
cação, 1939-1945 (05172).
Carta de Fernando Pereira da Silva da Comissão a elite da educação pública, os alunos do Colégio Pedro II. Os pe-
do Plano da cidade ao
secretário de Educação, 9 set. 1941, Coleç
ão Henrique Dodsworth, AGC, didos também eram um passo atrás na técnica de gerenciamento do
Caixa 108 — Educação, 1939-1945 si istema escolar. Embora o sistema
a x se submetesse à von -
(05172). escolar não
|O
tade popular, ele se vergava para atender a políticas de concessão de
favores. Essa foi a mudança mais profunda nas políticas educaci
o-
nais entre o período de Teixeira e o Estado Novo. Uma mudanç
a
que, apesar da ostensiva tecnicização do regime ditatorial, introdu.
ziu políticas educacionais em maior conformidade com as políticas
Com porta mento bra nco:
paternalistas e populistas do período.
m transformadas em um ato de
sus
Arquivo Gustavo Capanema, CPDOC, Correspondênci “Registro das Penas Disciplinares impostas aos alunos do Colégio a o
a, GC/GABA-
GLIA, F. (0466). BARROS, O, de. Preconceito e educaçã
o no Governo H, 1934", registro de Rio de Janeiro, 16 nov. 1940. Arquivo do Colégio
Vargas (1930-1945). Rio de Janeiro: Colégio Pedro II, unidade Marechal Floriano.
Pedro II, 1987. p. II.
i ido ao
glia uma lista comn todos os alunos
mente dev
blica que visava a evocar os sentimentos de
nacionalism O eTespeito exigi iu de Raja Gaba
Capanema exi
pela autoridade. Além disso, o Colégio Pedr ca do diretor de
o Il era a úni ca escola no judeus da escol h Ma
is do que isso, revogou à políti
ur. Kipp
país administrada diretamente pelo governo
federal, e servia como nao marc ar exame s durante feriados judaicos, como o Yom
modelo para a educação secundária em todo 1a contra
o país. Seus alunos re- A toleran!
1 -
1940. Arquivo
cepções opostas quanto ao fluxo de poder em uma sociedade demo-
o Capanema,
av:
E"
|
ifi cad o
ia
“gn o simbólico
lo, mas oional, tornou
lo nac
um ora do curri -
de orientad os alunos deviam se com
escola de via fazer, de como À cola duranteteos
dirigiu o Institut
fim do Estado Novo. o de Ed do quear éme deviam
e aspirar. Como O diretor da es
Venâncio Filho, Del ga Ucação no a que
imôni 150º aniver-
Raja Gabaglia, declarou na cerimônia de sao
port
do de Carvalho
Leãoe Raja Gab aglia lecionaram també o “semin
pd la em 1937, que o Colégio Pedro ILera
sário da escola,
E
11
da nacionalidade
»
A
poucos
osa ... basta con viver
: na espos
escola, que dava para a ave a dig
nida Marechal Florian as e su para sentir,
riódicos de antagonismo dos professor
o, Incidentes pe Colégio-Padrão ...
speito ão
es do Colé or tudo quanto diz re
S1o em relação ao
regime foram registrados pelo MES, que mantin haa escola sob es. os recentes episódios
da Es-
trito controle. Os
erizava o2 dede sprezo que
Característico do estado de segurança nacional judicosaicos cara ct
os 'uda
relaçã o às priorida
des do regi-
del: depois: de 1934, tanto a Desps de Filinto Múlle que Va Tgas pre.
sidiu mostravam em
nn or
por
1
asis — acusaçõesnd
rentou
esssoa
en
tado por elementos comunistas”, e ordenou a Raja
Gabaglia que s
bém m t
tod o d o s
os os tipo s de ataques pes
as tam a
proibisse os alunos de participarem da demonstr réptil, 1
l fascista ica tólico.!*É Sobrevivendo
ou anttica
ação. Raja Gabaglia -
situação
rejeitava esse tipo de interferência na escola. Ele responde rau ter pulso fi fir me sobbre a delicadaão
u que seus esses ataques, ot
o mostro
alunos não eram responsáveis pela manifestação e insistiu que ário,o, invocou sua p proe
j da escola. Quando necessári
“no política ncia
Colégio ... reina perfeita disciplina, não existindo no referido esta- invocava com mais irequê
família Vargas. Mas a defesa que ele
o eram modelarmente
belecimento nenhum elemento perturbador ... os alunos do Colég
io eraa sua insistência de que os alunos do Colégi
o alunos do Co-
Pedro II são todos norteados pelos altos princípios cívicos em boa disciplinados e nacionalistas. O comportament dos
frutava
hora difundidos pelo benemérito Chefe da Nação".!3 légio era um dos principais motivos pelos quais a escola des
s
A autonomia dos catedráticos era um problema parao MES. Um desse raro grau de autonomia institucional tão próximo aos centro
a
do poder político. Atos de indisciplina eram muito raros, quando
Apvp
documento anônimo enviado a Capanema discutia a existência de
l e-
uma facção anti-Vargas entre os professores da escola. O informante ocorriam, eram punidos com severidade. À cultura estudanti refl
anônimo acusava: “O Colégio Pedro II é atualmente um ninho de tia uma aceitação entusiástica e a aprovação da agenda política e ideo-
udantis,
descontentamento com o governo. Nele se fala alto e bom som contra
lógica do regime Vargas, testemunhada nos jornais est
o regime de renovação do Brasil, dos seus governantes, e em especial atividades escolares e atividades extracurriculares.
2 SEGISMUNDO, Excelências do Colégio Pedro II, p.58. E N BARRETO, Contribuição para a história da escola pública, p.3.
18 Carta de Raja Gabaglia a Gustavo Capanema, 10 nov. 1941. Arquivo a Gustavo Capanema, 28 out. 1942.
Carta de Antônio Figueira de Almeida
Arquivo Gustavo Capanema, CPDOC, 35.10.18g (184).
Gustavo Capanema, CPDOC, 41.10.11 (290).
Doro 309
308 DiriOMA DE BRANCURA BRANCO: AS ESC OLAS SECUNDÁRIAS
avam para
De olho no prêmio: alunos elite do Colégio migr
do Colégio à medida que ulares, suas vagas € ram ocupadas por crianças de
Ame “
neficiavam da
Suas famílias se be
A existência de um corpo estudantil no Colégio que asse operária. ial dos filhos,
ganhar com o regime Vargas era sint tinha mu;uito a para a ascensão soc
omática d às mais ampl minho viável
formações na sociedade brasileira quea as trans-
o, ou no turn o di
urno do Colégio, que
ntece deram a Revolu Externat
ção de Externa to era o pri
ncipal com-
1930. A mudança da escola refletiu uma m Internato. O
evol ução no papel da
edu- o m partilhava os mesmos
cação em processo desde a década de 1920. esc olas, mas o Internat co
a Quando a escola foi as duas send o exclusivamen-
organizada como “escola padrão” no final do século XIX, 80% dos am € cu rr íc u lo. Era menor, continuava
professores Í de fora do Rio quanto da
pró-
brasileiros ii analfabetos. A educação secundária
era um privilé- po in o € at endi a tanto a alunos men te
o de permanecer exclus iva
te masc ul
gio disponível apenas para uma pequena do Internat
elite. O estudo de Mário pria- cida de.. A escolha
cidade | |
Augusto Teixeira de Freitas de 1946 com pessoas de act eri zou . nte div
à cresce isão entre as escolas.
24 anos de idade ulin o car ilias
orfanato para crianças de fam
masc
mostrou que em todo o Brasil apenas 4% haviam comple
tado o en- O Internato era uma espécie de ui-
ambos os pais. Era uma instit
sino secundário.! de elite que haviam perdido um ou
am pouco
Na década de 1920, as mudanças no significado da educação ção mais conservadora, cuja identidade e pedagogia mudar
estavam registradas nas matrículas da escola. O Colégio começou que foi se tornan do mais pro-
no decorrer do século, uma diferença
incêndio no
a aceitar mulheres e a atender a um público mais popular. Tanto a nunciada até o fechamento do Internato, depois de um
educação pública quanto a particular se expandiram, e a rede de escolas início da década de 1960. A essa altura, ele continuava sendo uma
secundárias particulares em expansão absorveu um número crescen- pequena escola para meninos, enquanto o Externato possuía quatro
te de crianças da elite. Diferentemente do sistema escolar público, filiais co-educacionais na cidade.
muitas das escolas particulares eram bastante conservadoras. Em O anuário de 1936 do Internato reflete a cultura conservadora,
1933, durante o debate sobre a educação na convenção constitucional, de elite, que a escola manteve nos anos Vargas (ver Tabela 6.1).
por exemplo, o conservador Sindicato dos Educadores Brasileiros fez Metade dos alunos eram descritos como “ama com ardor o Brasil”,
campanha contra “a propaganda de professores mal-orientados ... “é patriota exaltado”, “será um grande cientista” ou “imagina-se
[agindo] contra os elementos perniciosos que, até então, eram tole- Capitão [0] Blood” ."'8, O anuário registra também a tristeza de dois
rados no exercício de cargos de importância ao lado do govêrno”. unos por não se terem tornado militares devido a deficiências de
Esse ataque, dirigido contra os Pioneiros da Escola Nova, contou
Yisão ou “circunstâncias contrárias".1º Os alunos eram encaminha-
.
com o apoio de 39 escolas particulares, muitas delas católicas.” dos : a.
Para carreiras militares pelos diretores do Internato. Como diretor
tº , Fil
a Es Protagonizado pelo
leção Freitas, AN, AP 48, Caixa 55, Pasta 15.
l ator Errol Flynn. (N.T.)
7 Centro de Cultura e Civismo: Sindicato dos Educadores Brasileiros. Rio H, À un;nidade€1936-Colégio
São Cristóvão. Pedro H- Internato”. Arquivo do Colégio Pedro
Ilustrado, edição especial, Homenagem às Classes Conservadoras, 1940. idem.
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310 DiriOMA DE BRANCURA LAS SECUND
ariasDORIO 311
O BR AN CO : AS ESCO
MENT
MPOR TA
lente ao salário mínimo de um mês. Mesmo famílias mais pobres Ne Ison de Salles Pereira Estado do Rio de Janeiro Pai morto Químico Industrial
demais havia
podiam pagar a escola, e para aqueles que eram pobres k lewton de Oliveira Ribeiro Distrito Federal Engenhana Militar
as taxas em Vivos
outros recursos disponíveis. Muitos alunos pagavam On
do Mury Knust Estado do Rio de Janeiro Vivos Químico industrial
Orlando Pereira do
E Santo Academia Militar
Distrito Federal Pai morto
Th YTSO da Sil
Academia Militar
Colégio Pedro JE — Inter- Pai médico
» MONTEIRO, €. de R. Relatório do Diretor do Zi“mar Pont Va tomes Itararé, SP
Saúde, Relativo
ro da Educação e €s Ramos, Paraíba Pai médico Engenharia Naval
nato, ao Excelentíssimo Senhor Minist
Colégio Pedro II, 1944.
aos anos de 1938 a 1943. Rio de Janeiro: o Pedro Fonte: Pur= “T .. , EN
Arquivo do Colégi 1996-- Colégio Pedro II, Internato”. Arquivo do Colég
io
2 “Turma de 1936 - Colégio PedroII - Internato”. Pedro | |, uniDede
dade São Cristóvão.
11, unidade São Cristóvão.
:
]
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ANCURA
ComporT AME NTO BRANCO:
DIPLOMA DE BR AS ESCOLAS SECUNDÁRIAS DO RIO
312 313
doações de comercian
tes para um fundo a fim de
também procurava
1.000
anças mais
livros e material para as cri
comprar uniformes, sapatos, a
500
a e materiais observou que
beu bols
pobres.? Uma aluna que rece ão dos
a fim de evitar a estigmatizaç
ajuda era dada discretamente,
zar a importância da dife ren-
alunos que arecebiam e, assim, minimi
ça social na escola.”
mecanismos
O Colégio tornou-se cada vez mais um dos poucos
. A escola
de mobilidade social pela educação disponíveis na cidade
endo
abraçava esse papel, aumentando o tamanho das classes e oferec
física
cursos noturnos. Em 1933, a escola havia esgotado a capacidade
de seu prédio original, tendojá dividido os alunos em turnos matuti no
e vespertino. O único jeito de atender à demanda crescente era abrir
m m
um turno noturno. Como o diretor Henrique Dodsworth explicou, sexos Muma institui
Na época da Rev o Para ambos os
“am mulheres. Em o19350 de 1930, 14%, dos al
4 - unos do Ex
sendo o Colégio Pedro II o estabelecimento secundário que cobra ternato
ulas na escola
As classes noturnas fizeram o número de matríc
o aglo-
aumentar de 1.457 para 1.947. No final da década, o Colégi
se
merava 2.500 alunos em suas salas lotadas.* Naqueles anos, ele
ra um terço
aparência des sas j crian
N
Para muitos, a dificuldade em frequentar o Colégio apenas co- Proveito de sua educação.
I
3 Ibidem.
vo elias Penas Disciplinares”. Raja Gabaglia, 12 dez. 1939. Arqui-
2º DODSWORTH, Relatório, 1932-1933.
* Ibidem, So Pedro IL, unidade Marechal Floriano.
Digitalizado com CamScanner
RIO 31 7
316 DiPLOMA DE BRANCURA co: AS ESCOLAS sEcuNDÁRIAS DO
o |
de o Colégio Pedro II ser uma instituiç ” destrói e degrada ci e” . NH |
ão qua se total te-s e àà Es pé
roe- de O Arauto, public| ado em naabril de 1931,
smit
anme Se
O fato vá irotrnú
no indi íduo:
não significava que a raça não fosse importante no f uncionameno o a
ma perspectiva a um conjunto maior de tópicos. O nome
O pr me
na cultura da escola. Também não significava que a importância ' u o de Carvalho, Seme Jazbik, Alfredo
deua mes P
raça fosse sentida apenas pelos ocasionais alunos de cor que o fre. rnal, Lí ci
dos editores do jo ias estrangeiras €
quentavam. À cultura do Colégio refletia as relações entre raça, n e Jac ob Go ld berg, enc arnava as influênc
na- Tra nja
pane ma, mas o conteúdo do| jornal Ledeve
cionalidade e disciplina que caracterizavam a cidadania ea ascensão judaicas que alarmaram Ca ou
ilo. Por exemplo, ojornal ajud
social na era Vargas. ter deixado o ministro mais tranqu
os alunos que era com-
Exemplares de dois jornais estudantis mostram como alguns amoldar uma identidade corporativista para
a defender
alunos do Colégio reproduziam a ideologia de elite sobre eugenia e plementar ao papel da escola como modelo: “Destinado
a criação da “raça”. À edição de outubro de 1932 do jornal Pronome os interesses da classe estudantil, e, principalmente, os interesses
foi dedicada à “Semana Anti-Alcoólica”. A começar de 3 de outu- dos jovens alunos do Colégio Pedro II".*? A idéia de uma classe
estudantil ecoava a ordem social corporativista promovida pelo re-
bro, a “Semana Anti-Alcoólica” foi uma campanha nacional para atrair
gime Vargas, em que os direitos do indivíduo vinham de seu status
a atenção para os males do álcool e propagandear a adoção de uma
como membros de um grupo. Isso visava a despolitizar a população,
“Lei Seca”, trazendo a proibição do álcool dos Estados Unidos para
limitando a voz política a canais oficialmente reconhecidos. Assim,
o Brasil. Como o editorial do Pronome expressou: “Não quis a trabalhadores de um tipo de indústria eram representados por um
demonstrar
directoria de Pronome deixar de passar esse ensejo para único sindicato diante do Ministério do Trabalho, e a liderança des-
que também ella deseja cooperar pela eugenia de nossa raça, O que
de bebi- d ndicato concentrava toda a voz política de seus membros. O
nunca irá adiante se não conseguirmos a abolição da venda
º es e dos o Ea a semelhante em defesa de todos os estudan-
das alcoolicas no nosso paiz”.”
Todos os artigos detalhavam os efeitos perniciosos
do álcool “ Ostiposd es do Colégio em particular.
e a raçà.- gem e levantadas por O Arauto ilustram a lingua-
apenas sobre a pessoa que bebia, mas sobre a progenitura
e teses €X Ta e assimilacionista empregada
questão foi lançada acompanhada de imagens, metáforas cionava
pelos alunos do
, Mr . -
jornal rela
traídas dos movimentos higienista e eugenista. O u
Effeitos do Icooli
2000.
» MO“Pedro, nlhdeo
E € Pronome
Marechal 4, nº21 (7 out. 1932), Arquivo do Colégio
Floriano.
2) Norma Fraga, entrevistada por Jerry Dávila, 13 jul.
A Semana antialco ólica. Pronome 4, nº21 (7 out. 1932). Arquivo do Colé- Colégio Pedro II 1.da
3 a
, e Marechal Floriano.
gio Pedro II, unidade Marechal Floriano. Pirata do
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
nem pode,
a geração moderna, dynamica, realizadora, não deve,
e primeiro número de O Arauto, osal e
unos pediram a contra- desmerecer desta confiança que, na época corrente, lhe é dada
tação de um instrutor de educação física, argu
mentando que os alu- que constitue o resultado da moderna evolução. E não seriam os
nos da escola tinham “muito fraco desenvolvimento físico
”. Embora alunos do tradicional Colégio Pedro II, legítimo padrão do ensino
houvesse exceções, “a grande maioria, porém, é constituid
a por nacional, que iriam depreciar esta confiança.”
meninos franzinos, de capacidade thoraxica reduzida, costas abaula-
das, e alguns até formando corcunda. Isto em gente que estuda e que
O editorial ecoava o otimismo desencadeado pela Revolução de
amanhã será uma das forças vitaes da Pátria, é profundamente 1930, que ocorrera seis meses antes. Os jornalistas estudantes viam
constritador!” Capacidade torácica era uma das medidas antro- a si mesmos como os agentes dinâmicos da modernização da nação,
pométricas padrão pelas quais a vitalidade eugênica era avaliada. eidentificavam-se como o produto da revolução.
É notável que tais termos técnicos da ciência da eugenia houvessem Re Esse segundo número tratou novamente da questão da educação
se tornado lugar comum entre esses alunos.»
fsica. À seus prévios argumentos o segundo número acrescentava o
Os alunos argumentavam que a falta de atividade física durante endosso à idéi À
O à idéia, expresso pelos alunos do Colégio como um todo:
o dia escolar impedia que as refeições inadequadas que eles faziam
em casa fossem adequadamente digeridas. O resultado era que seus Autorizava-nos esta ins
istencia O interesse que o nosso ultimo
colegas “ficam fracos, enfezados ... e vão mais tarde dar razão a quem trabalho . «d espertou no seio: dos fra
nossos colegas. Formidável nu-
diga que o Brasil é um vasto hospital”. Ecoando o grito de guerra
* Ibidem.
5
1931). Editpa
or.ial, O Ar
Instrução física no Colégio Pedro II. O Arauto 1, nº1 (15 abr.
3
auto E, nº2( i égio Pe ,
Unidade Marechal Florian 4 maio 19
Arquivo do Colégio Pedro II, unidade Marechal Floriano. RPA AT
o.
JQUUBISUILO UIOD OpezI|eubia
3 1
ro para
eteu buscar dinhei “
mero de alunos... d . o e Carvalho prom que b re-
- Ceram-nos seu apoio integral e incondi
Ndicion
imi
1 com otimismo,
previu,
e ojornal
se fafazz nosno
campan
Pp ha aem
e
espor tes, como
p T ol do restabeleciment
o da
aln a
cialmente os
educa ção
Colégio. Corp Oral n
Al-
o”.
nt ados do mund
Q
izes mais adia
constr uída no terreno
Os alunos aplaudiram o ministro
Cam a de basquete foi
Pos por torn os
pois, uma quadr principal proje
to de cons-
e voltaram-se à revolução c Ornar a discipli. À qu adra foio
1 tória,
na obriga eume
os .
mm E omo outra Tazãorazã em favor pelos al un rio do diretor
da educação física: :dentificado
de
la du ra nt e aera Vargas. O relató
do na esco u como motivo
t rução efetua la de 1 930 a 1940 aponto
çã o da es co
sobre a administra vimento de 1930”,
= Lembre-se, Sr. Diretor, de que é o primeiro dirigente d cl ec im en to da educação fi sica “o Mo
para o estab to n ove anos antes.”
téio após a Revoluç e sendo
Sendo V. a Excia.
Revoluçoãodelegad
uma oobraa a
da de E ecoando o à pe
lo emitido por O Arau
são € reconstrucção ão. mbém re latou as ativ
idades d o curso de treinamento
Ojornal ta
obra no Colégio, compete-lhe reconstruir e regenerar o nr fidelidade à
tigo sobre o jurament o de
olégio, pré-militar na escola. Um ar
moral e material, e physicamente.'
bandeira despertou o comentário de que “aos novos rese rvistas no
sinceros parabéns” e
Externato Pedro II, O Arauto apresenta seus
a alu nos na vocação que
não só eram versados nas teorias eugenistas ostentava a reimpressão do texto do discurso de con
ambém relacionavam os tem ar
I I ae chamava os estudantes a “amar a Pátria e a família, a fim de torn
da educação de um modo que oo dama o Ee i o Brasil grandioso e forte”.'? Temas nacionalistas como esse eram
| A educação física foi o tema maiais recorrente
teddo jornal
Há NO, recorrentes, e as atividades dos alunos no curso pré-militar eram um
a
. No quinto
número, os editores relataram queo diretor da escola, Del gado de Car- assunto regular do jornal.
feira, concordara que “[o] desenvolvimento intelectual depende do Um dos poucos anúncios publicados em O Arauto foi o de uma
físico + mas que a escola carecia de instalações de atletismo”. O Araut conferência sobre eugenia: “No curso dos Estudos Brasileiros do
o
continuou sua campanha, consultando o dr. Oliveira Santos, “nosso Centro Nacionalista, o Sr. M. Pinto realiza a dissertação preambular
grande amigo, um dos principais elementos do mundo esportivo, vice- aoestudo da Eugenia, tendojá analisado as teorias de
Mendel sobre
presidente do Flamengo”, sobre o potencial de construção de instala- Lo
hereditarir iedade”.*!n e Esse anuncio . .
é curioso, já que anuncia uma pa-
ções de atletismo em um terreno adjacente à escola. Santos respondeu
queo terreno adjacente daria uma boa quadra de basquete, que, por sua
FTD
vez, também seria adequada a outras atividades físicas educativas.” s Ibidem.
9
“Relatóri o Sucint ai
1 o de Ocorrências o.
e Atividades Verificadas no Externato
do Colégio Pe :
Raja Gabaglia (Período de Novembro de 1930 a Novembro de 1940
* Instrucção physica no Collegio Pedro II. O Arauto |, nº2 (4 maio 1931). )”.
40 * Arquivo Gustavo Capanema, CPDOC,
, Arquivo do Colégio Pedro II, unidade Marechal Floriano. 35.10.18g (130)
PII, (0) Arau
; to 1, nº2 (4 maiato 1931), 1. Arquivo
Instrucção physica no Collegio Pedro IL. O Arauto 1, nº3 (1º set. 1931). “ Unidade
E N farechal Floriano. quivo do do Colégio
Colégio Pedro
Pe II,
Arquivo do Colégio Pedro II, unidade Marechal Floriano.
322 DIPLOMA DE BRANCURA COMPORTAMENTO BRANCO: AS ESCOLAS SECUNDÁRIAS DO RIO 323
lestra sobre genética mendeliana, que, segundo Nancy Stepan, “ten- tiplos usos também e ao trabalho feito pelo sistema es-
dia a ser marginalizada até o final da década de 30". É, portanto, colar do Rio: “Será destinado ao inquérito e [aos] exames clínicos
notável que os alunos do Colégio Pedro Il estivessem entre os pou-
necessários, bem como ao registro das pesquisas de laboratório”.
cos brasileiros versados não só nos aspectos técnicos das teorias Como o conjunto de dados que podia ser coletado pelo Colégio era
eugênicas dominantes, mas também nas contratendências do movi- insuficiente para estabelecer normas de desenvolvimento, eles se-
mento. É também notável que o anúncio presumisse que estudantes riam comparados aos dados coletados pela Associação Cristã de
do secundário, mesmo em um colégio de elite, se interessassem em Moços sob os mesmos métodos.
assistir a palestras sobre Mendel, hereditariedade ou eugenia, bem como A preocupação com questões de degeneração e desenvolvimento
que os organizadores da palestra buscassem a presença de alunos. eugênico permeavam o Colégio Pedro II. Como outros sistemas es-
A impressão que os jornais dos alunos dá é de que os alunos do colares, o seu serviço médico era orientado por princípios eugênicos
colégio viviam em um meio ambiente intelectual, social e cultural
sobre higiene, nutrição e desenvolvimento antropométrico. Em uma
impregnado de discurso racial eugenista e nacionalista bastante si-
extensão muito maior do que nas escolas públicas da Prefeitura, os
milar ao que caracterizava os discursos mais eruditos científicos,
alunos eram fluentes nas correntes e contracorrentes da eugenia.
médicos e intelectuais sobre “raça” no Brasil. Independentemente
Os cursos de educação física no Colégio eram tão claramente
de sua classe de origem, os alunos do Colégio eram, por sua mera
eugenistas quanto aqueles das escolas públicas da Prefeitura, mas
presença na instituição, convidados a assumir o papel de construto-
seu desenvolvimento surgiu mais devido a pressões dos alunos do
res da nação. Eram convidados para palestras sobre os alicerces cien- que por diretrizes federais. Além disso, a defesa da educação fisica
tíficos da eugenia, publicavam jornais e dialogavam sobre a feita pelos estudantes foi expressa corretamente na linguagem eugênica
necessidade de ferramentas de eugenia em sua escola. Pelo menos e nacionalista que era empregada nos círculos de elite.
alguns alunos, como os que escreveram em O Arauto e Pronome,
Os discursos de degeneração e eugenia logicamente iam além da
abraçavam esse papel em todas as suas formas eugenistas, discipli- cultura estudantil e da saúde escolar - eram um importante elemento
nares e nacionalistas, do currículo escolar; figuravam com destaque nos livros didáticos
Práticas eugenistas também foram introduzidas na administra-
que os professores do Colégio escreviam e entravam nas competições
ção do Colégio, de forma semelhante ao que acontecia nas escolas
pelas cátedras, quando estas ocorriam. Dois dos mais ilustres pro-
públicas da Prefeitura. Em 1933, o diretor do serviço médico do fessores da escola, Raja Gabaglia e Jonathas Serrano, eram também
Colégio, dr. Severino Gasparini, começou a manter registros da saú- autores dos principais livros didáticos de geografia e história. Os
de dos alunos, de seus hábitos alimentares e nutrição e de seu desen-
dois principais livros de Jonathas Serrano, História da civilização e
volvimento biométrico e morfofisiológico. Esses registros eram Epitome de história do Brasil adotavam uma perspectiva nacionalista,
organizados “nos mesmos moldes [usados no] Exército”. Seus
múl- Católica e eurocêntrica.
TD
s2 STEPAN, The Hour of
Eugenics, p.70. 4
* DODSWORTH, Relatório, 1932-1933.
“
A quinta edição de a História da civilização, publicada em 1939 Esse tom conservador e nacionalista se transmitiu à Epitome de
tratava de civilizações não-européias apenas como um fenômeno da história do Brasil, que retirou muito do conteúdo de história do Bra-
era pré-moderna. À era moderna era uma progressão eurocêntrica de
sil dos cinco volumes de História da civilização. Esse livro baseou-
organização nacional e desenvolvimento tecnológico, culminando se amplamente na experiência histórica católica e portuguesa. A seção
com um discurso de Franklin Roosevelt em 1933 sobre a necessi. sobre escravidão e influência africana não apenas reflete a perspec-
dade da paz mundial e a ascensão do fascismo na Itália. Serrano
tiva européia da obra como mostra o grau de penetração dos estereó-
descrevia o fascismo em tons simpáticos: tipos e imagens sentimentais do passado escravocrata do Brasil na
educação brasileira durante os mesmos anos em que Freyre as sin-
Em dez para onze anos o fascismo ergueu na Itália a potênci tetizou em suas obras clássicas.
a
respeitavel, com exército, marinha e aviação de primeira ordem, Em todo o livro, os afrodescendentes eram encarados como um
entusiasmo extraordinário pelo desenvolvimento de todos objeto exótico, estranho ao leitor (a quem o narrador imaginava como
Os re-
cursos do país e um sentimento de orgulho e admiração pelo ho- branco). A seção intitulada “A contribuição do negro em nosso meio”
mem que realizou transformação tão surpreendente. citava a imagem da mãe preta como “um fato comovente de nossa
história doméstica e social”. Com a mãe preta, o texto mencionava
O livro termina com uma citação de Mussolini: “A Pátria não é outras influências:
uma ilusão: é a maior, a mais humana, a mais pura das realidades”
.*
As crendices, as superstições, o amor da música e da dansa,
certa “negligência creoula”, resignação heróica na miséria, concep-
4
ção fatalista e leviana da vida, imprevidência unida ao trabalho ?
SERRANO, J. História da civilização (em cinco volumes,
1 . .. . 1. q .
para o curso se- tais, entre outras, as qualidades boas ou menos felizes que herda-
cundário). 5. ed. Rio de Janeiro: F. Briguet & Cia.,
1939. p.209. A reforma
Campos de 1931 acabou com a separação entre as discipl mos dos negros.
inas de história
universal e história do Brasil criando uma única
disciplina chamada ou de
história universal, ou de história da civilização, Essa Os afrodescendentes eram tratados como um elemento do pas-
disciplina devia dar
preferência à história brasileira em um
contexto da história mundial. sado, dos quais o autor e os leitores brancos herdaram certas carac-
O principal texto usado para essa disciplina era
o de Serrano, dividido em terísticas de preguiça e superstição que ecoavam a teoria de Arthur
cinco volumes (um para cada ano da educaç
ão secundária). O primeiro
v olume, citado,
3 e uma introduçã
era 1 5o geral que não discutia
; Ramos sobre a natureza pré-lógica da cultura afro-brasileira.
o Brasil. Recor-
rnaa biografias de figuras ilustr
es, seguidas por breves discu
ssões
dos con-
Serrano também apresentava uma imagem romantizada da es-
textos históricos dos eventos
de que haviam participado. A intenção era cravatura. Reconhecia a violência da escravatura
estimu lar oiáinteresse
foramdivid
apenas para estabe-
do ru pela história. Em anos posteriores, os livros lecer que a forma como os africanos “amontoados sem
E tdos em periodos de tempo explorados em
grande profundidade higiene”
temática e com a história brasileira em Posição
de destaque. Uma década TT
D>———
depois, a Reforma Capanema (1942) dividiu
novamente as disciplinas de 45 E
história lei
brasileira En
e história : SERRANO, J. Epitome de história do Brasil. 3. ed. (1933). F. Briguet &
mundial, dando preferência à história brasileira. Cia., 1941. p.164.
52
* Ibidem, p.235-6. GABAGLIA, F.A.R. Leituras geográficas (para o ensino secundário). Rio
? Ibidem, p.242. n d E Janeiro:
iro: .
F. Briguet ,
& Cia., 1933. p.116.
” SERRANO, J. História da civilização, p.197. Ibidem, pit.
É Ibidem, p.193.
º GÕES,
d F. Esbo $o para o ensino secundário. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica
Ibidem, p.119. o Departame nto de Educação, 1935
. p.21.
do Rio deviam ter também a opção de receber um diplo escolas públicas vocacionais (técnicas e profissionais) secun-
ma secundá A Esc
rio clássico. Mas, para os adeptos da Escola Nova, Construir uma | Tabela é dárias no Rio de Janeiro em 1940
sociedade democrática por meio da educação não significava apias
Tipo de Curso Alunos Formato
apagar as diferenças entre a educação vocacional intele
ctual, mas escola
rerter séculos
reverter sé de a uma cultura do trabalho e noções
A :
de hierarqu ia. | covalcant Comercial nato
a . . e Mista Externat
condicionadas pela instituição da escravideão. maro d
=D
. , "a é
se propôs a sua extinção”. Nenhuma receb ? TEIXEIRA, O sistema escolar do Rio de Janeiro,
eu uma avaliação favo- p.349.
técni-
o ais eram escolas
1931
1934
as es co la s vocacion
Escola
século , a ment-
Navi rada do mo es co la s de aperfe içoamento par
|
ra meninos, assim
co crochê, costura.
Amaro Cavalcanti 782 770
6 as pa
f in an ce ir os que apren diamligência . incapaci-
'
casP de baixos
nas r ecursos Ra In P
5420 ncia
“idades “femininas . Décadas. de negligê
o
Bento Ribeiro 292 285 di t
À
João Alfredo 292 323 275 outras habili das escolas a fornecer mais do que um atendimento
ma maioria
220 302 “coDã 59
Orsina da Fonseca 604 tara da escola”.*” Como Faria
544 32 de assistência social básico, como o sopão
Paulo de Frontin 478 6
R ivadávia Góes lamentava:
Corrêa.
aki 414 477 521
, .
por vezes um espetáculo
Santa Cruz - 260 2 24
263 | A escola povoada daqueles alunos é
180 237 , pré-tuberculosas mui-
Souza Aguiar
305 | de tristeza, pela desnutrição das crianças
187 182 todas. O nível mental des-
Visc. de Cairu
933 tas, de físico mofino e deformado quasi
416
Visc. de Mauá 221
reflexo desse estado psíco-social.”
sas crianças é, naturalmente, um
Total 3.066 3.796 (+ 24%) 4.603 (+ 21%)
ampliou a missão das
Quando o Departamento de Educação
Fonte: INEP. Oportunidades de educação na capital do país (Informações sobre itérios para admissão. Os
escolas vocacionais, instituiu novos cr
as escolas e cursos para uso de pais, professores e estudantes). Rio de Janeiro: nos moldes
| candidatos tinham de passar por exames d e admissão
dm prenda Nacional, 1941. p.58-64; TEIXEIRA, A. Educação Pública: sua Instituto
organização e administração. Rio de Janeiro: Oficina Gráfica do Depto. de | dos rigorosos exames utilizados para a escola secundá ria do
ntar (em-
Educação do Distrito Federal, 1935. p.149.
de Educação, e precisavam ter completado o ensino eleme
bora os internatos continuassem a fornecer alguma educação elemen-
rar a social para um pequeno
fa r, preservando seu papel de assistênci
núm ero de crianças
] igênci de um diploma
desprovid] as). SóSó a exigência 1 de
o
; . ; ensino el ementarjáA significava que menos de 10% dos alunos ini-
canti , atraíaí um corpo estudantilMs
misto, incluindo alunos ricos de | À ee ados.
a TES | ciando a escola elementar seri. am qualific Mas provavelmente
Copa c bana e Botafogo com alunos pobres do centro e dos subúrbios.
paca .
s
ndárias da
Prefeit bstáculo para frequentar uma das escolas secu
| 4
. o maior o
trêssol internatos serviam basicamente como orfanatos,
|
i
En quanto isso, ; o
. ro de vagas disponíveis durante a década
eituraer a que o núme
“di
“e , Faria. Góes, preju dicava
1 or do ensin: o secundário
par. o diret
o que, que, para
o programa de reforma. Ele se queixava: q— — -
58
G
o E no
para o ensino secundário, p.20.
ativa de matricular
A tentati ] alunos de classes sociais um PO uco “ A, O sistema escolar do Rio de Janeiro, p.348.
. GÓE S, Esboço para o ensino secundário,
mais alta s envolve quasi : uma ofensa à familia. Pôr meu filho em p.19.
S zaç ão,
OUCO mais de cios da colont
uma década, 50% mais estudantes foram
matriculad os em tempo força de trabalho1 nassimilável aos si
stemas de trabalho forçado, os |
n-
integral nas escolas vocacionais da Prefeitura. O
nú mero total de se esq uiv av
am do trabdaalho e os africanos forami
colonos brancos
alunos matriculados nas dez escolas vocacionai
. a
s em 1942 era um dos como os proc luto
roduz
pouco inferior à soma total do Colégio Pedro africanos:
Ile da escola secundá permane ntemente afetada pela introdução dos escravos
ria do Instituto de Educação. Essas escolas
não eram apenas modelos
nacionais — ofereciam a maioria das opções dispo
níveis no ensino O trabalho foi... trabalho escravo. A condição infamante do negro
público secundário na capital federal. Em contr
aste, a Prefeitura escravizado tinha que comunicar ao trabalho braçal, que lhe per-
oferecia tão pouco em termos de ensino secundário que era
quase tencia, caracteristicas sociais impagaveis.
desprezível. Suas escolas vocacionais eram mais um exercício de
filosofia educacional do que centros de aprendizagem para os mora- O desenvolvimento social e econômico da nação esteve ligado à
dores da cidade. exploração dos africanos, e a cultura do trabalho improdutivo que a
Embora a administração Teixeira não tivesse conseguido expandir escravidão desenvolveu: “O trabalho pertenceu ao escravo antes. Hoje
O sistema educacional vocacional, a expansão escolar teria significado se transfere aos que foram pobres, de origem humilde, aos menos
capazes”.
acima de tudo, satisfazer a necessidade democrática de oferecer o Faria Góes explicou que a abolição não resolveu o problema,
máximo de oportunidades educativas ao brasileiro e, por outro lado, gerando, em vez disso, maior desorganização social e econômica.
dar às differentes classes e ocupações um sentido de equivalencia Ecoando Alberto Torres, Faria Góes lamentava
que
de identidade e de prestigio social.
coma sua ultima
à a total, faziamos
etapa, a da abolição : .
ruir, com uma
Os alunos teriam uma escolha entre estudos clássicos e voca- EA) um sistema multi-centenario de trabalho do paiz, toda a
cionais, e os alunos do curso vocacional teriam o nível cultural ele- ase ômi :
Econômica de um povo ... o preto deslumbrava-se com a li-
vado pelos cursos clássicos também. A idéia chocou-se contra à berdade.
divisão tradicional entre o ensino vocacional e o clássico, QU TO
AE tm
Digitalizado com CamScanner
338 irioMa DE BRANCURA aa 339
ÁRIAS DO RIO
sECUND
MENTO
5 RANCO: : AS ESCOLAS
pORTA
. .
don Pa
Prosperidade
TOspe
nacional
.
dependia da “valor;
com
de elevar a educação vocacional
o homem brasileiro”. N , alorizaçãod campanha
“ sivoda
lássi que suplementassem ot rei-
as as Instituições ed jo) trabalho ncipal objetivo
blica f
cas Ucacionai Op rsos clássicos :
ica fracassaram n
S da Repú. ras escolas de cu ossibilidade de seguir uma
esseobjetivo: sncia de recursos
era dotê caclonalou fornecessem à P arenci
3
N . !
no
ficaram para trás
em seus programas vocacionais,
as mo o “nais masculinas
desejassem que e de
uma com-
diploma clássico credenciado pelo ME i obte ássicos em virtud
Preci. sava das es-
tudos. Essas escolas não recebiam
m Paga r pelos esÊ 0 1940, apenas uma
ver as elevadas s
de Educação, e o sistema escol
colaar não p
Como o Inst
it utHoo aviam sido adaptada
odia
custear esses do somadas
mas. Teixeira lamentava: Foi nece
ssária um a taxa
is pro
ás si co s. Al ém disso, às matrícu las
s cursos cl
cobrada dos alunos que desejassem especial, a aser
s femini nas (2.0
96) ultrapassavam, em
se guir O regime de s vocacionai
legislação las mis-
federal, para atender ao pagamento da ). Mesmo nas esco
fiscalização”. s masculinas (2.000
homens (489 a 340).º
es matriculadas do que
Em 1940, a taxa de matrícula
para os Programas vocaciona:
antagem no
de Cr$ 15, enquanto a taxa Para
o programa clássico era o
E
masculino estavam em desv
icas
maior do que o salário mínimo
mensal na indústria. Mesmo in ez fosse coincidência que as ún
”
m vagas para novas classes
vocacional custava mais do que vários ens
dias de salário industrial so
um trabalhador têxtil que recebesse esse dua
as mu-
salário teria de itsEina etanto, mesmo nas mistas,
fosse m escolas femininas. Entr
do que o salário de um mês para matricul o estudantil. Um
ar sua filha no programa lheres predominavam, formando 60% do corp
clássico das escolas públicas da Prefeitura, uma escola
uma taxa que não incluía menino adolescente no Rio que não pudesse pagar por
os custos de livros e outros materiais.” Prov
avelmente apenas as secundária particular tinha duas opções para continuar sua educa-
filhas de trabalhadores já especializados podiam pagar
pela educação ção. Podia competir por espaço no Instituto, mas dificilmente seria
secundária. Apagar as divisões entre o trabalho manual e
intelectual bem-sucedido; se fosse admitido, seria ridicularizado pelas meninas
não era tão fácil. para quem a escola havia sido projetada. Podia também se matricular
O que resultou da reforma, pelo menos no princípio, foi uma em um dos cursos vocacionais, onde havia cerca de 2.300 outros
maior disparidade nas oportunidades educacionais entre meninos e meninos matriculados. Ou podia competir por uma vaga no Colégio
meninas. Nas escolas secundárias da Prefeitura, os meninosjá esta- Pedro Ilou no Colégio Militar. O sistema escolar da Prefeitura
não
vam em desvantagem devido às regras que sustentavam que eles não ajudava muito.
podiam constituir mais do que 10% do corpo estudantil do Instituto NPor que que haviala maimais menin1 as nas escolas
da Prefeitura, e m mais e
Melhores o Portunidad
1 es para as menin1 as nas escolas? O
esc sistema
oolar tratay. aa educ
bo
o TEIAEISA, O sistema escolar do Rio de Janeiro ação
à secundárári
ia como uma priori
, p.347. dade distante.
INEP. Oportunidades de educação na capital do país (Inform
ações sobre as a Ornava escassos os recurso S para as escolas
secundárias, com a
escolas e cursos para uso de pais, professores e estudantes). Rio de Janeiro: exceção do Instit i uto, que, por sua vez, pr
Imprensa Nacional, 1941. p-60; WOLFE, J. Working Women, Working Sores Para oduzia os profes-
às escolas Primárias.
primári
Men: São Paulo and the Rise of Brazil's Industrial Working Class, 1900- O professorado era uma profissão
1955. Durham: Duke University Press, 1993. p.104. Segundo Wolfe, em
1940 o salário mínimo mensal em São Paulo era Cr$ 220 (cerca de US$ 13). “ CHIAB OTTO,y . En E
Arquivo Filinto Múller, CPDOC, Relatórios chp.SIPS Pasta 1, “A indús- tent. os dos
sino técnico-profis
si onal no Distrito Federal: movi-
est ab eleç
tnia do livro, Considerações Gerais”, | mentos e aproveitamen
21 nov. 1938 evista de Educa a Pi
to reg strado no ano de ) 12
ç ública O '
1, nº3 p.363 94 3 '
1
:
|
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Digitalizado com CamScanner
E
342 bdirioma DE BRANCU 343
RA DO RIO
LAS SECUNDÁRIAS
O BRANCO: AS ES CO
Amaro Cavalcanti
dantil na Escola
a
da ntil foi executad
ment
Tsos clássi cos d
autonomia estu
experiênci ade
as es
e eram professores (ou de a ud antil termi-
professo aa A escola on
co nd e o pr oj eto de autonomia est
que ues se dediica
cavvam a ensina t en são, o
| r mulheres em maior ex o Cavalcanti. Na Amar
o, fo ia Es co la Comerc al Amar -
nou fracassa
nd organizados e encarrega
os co ns el ho s estudantis era m se-
, es con
Cavalcanti s funções d a escola. Ess
n i s t raçã o de muitas da
dos da a d m i coraja m os que
va
am a disciplina dos alunos en
,
v i s i o n a v
lhos super olviam cursos suplemen tares e
a m f i c a n d o pa ra trás e desenv
estav
ulares. Co mo descreve a hist oriadora Clarice
tracurric
ativida des ex
Nunes, OS conselhos
cola Técni
sio Teix écniCPD
ei ra,
eixei ca Ama
OC, Cavalcanti”, documento sem data. Arquivo Aní-
ro pi32
& TEIXEIRA, O sistema escolar do Rio de Janeiro, p.348. /36.00.00.
mação de
cupadas na for
as “ainda preo .
aso calculado” As
massas num desc asses
rn o ent reas cl
m o autogove
as] mais
to justamente [n
a
O autogoverno não er
ito r ressaltava que
Josões”. ses de elite, e ci
tava a
terríveis exp
qu e nã o vin ham de clas
adequado à à Juno
s que
ersidade de Harvard de
pr esidente da Un iv
em ultima
observação de um
ida de qu ea au toridade tem que ficar,
“não pode haver dúv
res .
.
funcionários escola
bo!
Amd
72 INEP, Oportunidades de educação, p.60. Será nã .
Arquivo Prudente ão ensaiar ... o regime de anarquia para alcan-
nti”, documento sem data. o
73 “Escola Técnica Amaro Cavalca seguin- Sar o ideal nov
00.00. As citações dos parágrafos o de disciplina ... não abusemos do regime da
sio Teixeira, CPDOC, pi32/36. dade o
+ Não
liber-
o.
tes também vêm desse document 9 apresentemos prematuramente
à escola
inad a Escola Nova que
ente a doutri
ao s olhos desse monitor
sociedade que,
aticável. Asnoções
go v er no im pr
ornava o auto deixara à escola.
disciplinar, t a Ju nqueira S chmidt
Ma ri il da
Emil 935,
tor colidira m co
m a cultura estudant
do no vo di re
iss, ex-
de disciplina nte s, Antonio Houa
lc an t 1, eo líder dos estuda
Amaro Cava nova diretora.
cola com o estil o da
e ref lec tem amplamente
nt a me nt o da es
pressou O desconte
os contrastes
de classes da
ta, OS aluno s da Amar
o
. Em respos
vV ind socieda
do
lsou Hou aiss
, a meni Ina e a mocinh
A diretora expu
a
ndo a volta de seu líder. A
1 de pae TICO de
Botafogo, que se zanga e se Copacab
Assim que Teixeira foi expulso do sistema escolar, pouca atenção foi atualmente centenas de crianças dos subúrbios (Deodoro até Santa
dirigida à escola pública secundária. As reformas que ele iniciou Cruz e Nova Iguaçu) estão com os seus estudos paralis
ados por
avançaram apenas pela inércia institucional — uma escola vocacional deficiência de transportes, por grandes despesas em
viagens
masculina acrescentou o currículo clássico e as matrículas cresceram .
es tafantes, por falta de vagas, excessivo .
preço cobrado por colégios
em mais 25%, como nos anos de Teixeira. Mas as escolas secundá- Particulares etc.
rias da Prefeitura foram basicamente ignoradas até 1941, quando o
diretor do Departamento de Educação, coronel Pio Borges, eliminou Como dizia ele, todaare gião subu
las públ icas se rbana era desprovida de esco-
os cursos clássicos oferecidos pelas escolas vocacionais, dizendo que cundárias. Te ixeira
acrescentou: “Vossa Excia. pode
avaliar º gran
estava ajudando a colocar as escolas em “bases seguras e realistas , de benefício q
ue dêste ato resultará em favor de cente-
has de Crianç
concentrando-as no principal objetivo do treinamento industrial e as que serão
o s homens de amanhã”. A carta
era acom-
comercial.” Borges retirou o sistema escolar público do ensino clá
. 2 . o s . a às-
T
O
n
Carta d 9
capiitão Ric ar
doT ixei ada Costa et al.
a Henrique Dodsworth,
7 Carta do coronel Pio Borges a Henrique Dodsworth, 6 nov. 1941. h Maio 1945 - Coleçã
Henrique Dodsworth, AGC, Caixa 15 — Educação, 1939-1945 (11 á São, 1939.194 qro Henriqu ni e Dodswor
th, AGC, Caixa 15 — Educa-
da ci
nas bem populosas
br meses
E
ar es SO ea petição levaram três
prelimin
Esses pareceres cr iv an in ha d e Palmeira, a pe
tição subiu
os. Da es
entando
para serem reunid retário de Educação, Jona s Correia, enfr
ao gabinete do sec elho burocrático
sos. Embora a morosidade do apar
ainda mais atra caso em particular o te
mpo foi
t a s ve ze s en ervasnte, nesse çã a
fosse muitas Ante que a peti o pudesse ser rejeitad suma- |
deroso aliado.
tempo
s foi removido do poder, e em pouco
riamente, Getúlio Varga
aa |
o governo foi trocado.
olheu o diretor
O novo prefeito, Philadelpho de Azevedo, esc
com o na atual admini inistraçãào tudo se tem feito Raja Gabaglia do Colégio Pedro Il como novo secretário da Educa-
em prol das crian-
sas, quer quanto à parte sani
tária, quer quanto à pedagógi ção. Raja Gabaglia deu nova perspectiva ao insignificante programa
ca, estou
cer to [de] que os sign
| atáráriios verãão aquela sua aspi secundário do sistema escolar. Quatro meses depois que Palmeira
ração realizada e
com grande gáudio desta Chef rejeitou a petição, Raja Gabaglia apresentou ao prefeito Azevedo uma
ia.”
resposta retroativa: “A pretensão dos requerentes já foi atendida com
Era preciso mais do que o entusiasmo de Ribei a recente criação dos dois ginásios da Prefeitura”.*!
ro para construir
uma escola. Em meio ao caminho ascendente até o A nomeação de Raja Gabaglia como secretário da Educação do
Departamento de
Educação, a carta enfrentou a oposição de Luiz Palme o iniciou uma nova era na educação pública
ira, diretor do da cidade. Sua expe-
Hência no Colégio Pedro II lhe
Departamento de Ensino Técnico, que explicou ao prefeito ensinara que
que não
tinha nada contra a Prefeitura manter cursos secundários, desde que
O $inás
ginásiio, mini
ini strando o ensii no
eles não fossem dados em escolas vocacionais, por causa dos “resul- bási
ási co, pós-primário,
é im-
Prescindíve Lao adoles
tados negativos que foram obtidos com a experiência levada a efeito cente que carece de um fundam
ento inicial
na administração Anísio Teixeira”. Ele escreveu:
80
Memorando
* Ibidem. ção Hentiquede Dra
Luiz
pd Henrique Dodsworth, 3 ago. 1945.
Memorando de Secundino Ribeiro Júnior a Henrique Dodsworth, 7 jul. Cole-
a foras or » AGC, Caix' a 15 — Educação, 1939-194
1945, Coleção Henrique Dodsworth, AGC, Caixa 15 - Educação, 1939- arta de Raja Gaba
5
1945 (07243).
Pho de Azevedo, 14jan. 1946. Cole
ção
xa 15 — Educação, 1939-1945 (5696
).
ureira,
de cultura, + c com a qual poderá á entregar-se
a qualq u er atividad vim ent o da naç ão. O Gin ási o Barão do Rio Branco, em Mad
e vol iras”, enquanto
profissional.
receb eu o nome do “delimitador de nossas fronte
batizado com o nome
in Constant, em Santa Cruz, foi
Ginásio Benjam foram
Ele acredi tava
av quea educação secundária clássica que u ele Cha
h do “fundad or da Repúblic
a”. Da mesma forma como as escolas
pela definição
m ava g inasial, fosse fund
e de duas das figuras responsáveis
batizadas com o nom
amen tal l P para
r todas Ss h iinhas
a h de
d tr al Ja | ho do
e serviam
assim também essas escolas definiam
da nação modern a,
|
intelectua l a (6) industrial
l eao agrícola. V alendo - se de sua exper
Pp | 1ê ncia
ação.
Brasil, construído por meio da educ
como bases do nov o
C
noto égio Pedro IH, inici
inici ou sua administ
ini ração com um Progr
g ama EE
áreas cujos moradores “jamais pode-
:
s
* GABAGLIA,F.A.
AA, FA. RR,
. Ginásios
Ginási Munici pais. Revista
n de Educação Públic
3, nº4, p.489, 1945. ne a
* Ibidem, p.490.
O persistente fascínio
brasileiro pela raça
final da Se-
A eugenia perdeu a legitimidade científica após O
as e pressupost-
gunda Guerra Mundial, mas as instituições, prátic
ções a que ela deu origem — na verdade, seu espírito - sobrevivem.
Ibidem.
Ibidem, p.107.
Ibidem, p.108.
Ibidem.
N att
os brancos pos-
=
t rói um
a distância
dista estrutural que torna O Eondortoa j
iões e ele entregue um diploma de
algumas aras ocasiões
raem À
sivi el, embo juno de escola pública. Uiasão reforçada por meio
A divi
alun
bran co a um
ári mínimo
ão 逫 so comada a um salário íni 1
mensal fixado em
cação
da edu 2000 — o salário de muitos alunos de escola pública —
R$ 150 no ano
i iais sufocados pelas demandas sempre crescentes cria-
e de áreas rurais, onde os problemas da posse da terra
das porroig ram E ah a do sistema latifundiário colonial.
ima tiotadosná dedistância social mantidas pela educação
enero : Vo con T elmente ao longo do século XX, três
fases distintas dinar
De ntes
são aparentes inal
. No final século, a distância
do do século, nn é mantida
por uma forma de segregação entre aqueles que depe a
temas escolares públicos e aqueles que poderá pagar ii
particular. À cisão da educação em espaços públicos e piivados ocor-
reu durante as décadas de 1960 e 1970, quando o regime púilifar
mente de classe baixa
— negligenciou a educação primária e secundária eniquento esbanjava
+ por meio da miscigena
ção, ou socioecono mica-
mente, quando essas pes recursos em setores mais científicos — e menos políticos — da edu-
soas assumem posições
riqueza (“os mestiços de lidera nça ou cação superior. Enquanto em meados do século os salários dos pro-
de salão sã O tratados como
brancos” declara fessores eram uma marca de status e prestígio, mesmo comparando-se
Veja) - Os valores não pod
em ser i nvertidos, contudo:
não ganha diploma de neg a elite brasileira com os salários dos membros das Forças Armadas, na década de 1990
ro, eos não-brancos sentem pres
que conforto. O president sões mais do os salários dos professores estavam nos níveis mais baixos da estada
e Fern ando Henrique Cardoso
Com a miscigenação, o pode flertar
líder do Senado Magalhães pode do emprego formal. Ilustrando a profundidade da crise do salário
exibir seus
talismãs de candomblé
em seu gabinete no Senado porque dos professores, Paulo Maluf, que foi tanto governador do estado
h Omens seguros de seus patamare ambos são duanto prefeito da cidade de São Paulo, declarou publicamente que
s de poder, situação social e brancura.
N o Brasil contemporâneo, o con “as professoras não são mal remuneradas, são mal casadas". =
forto da elite branca é em part
mantido pela estrutura da e No início do século, uma forma diferente de segregação dividia
educação - Como em muitas nações - :
americanas, há uma estrit latino- àS Crian ças que tinh am acesso à. educação
- a:
a divisão entre educação pública e aquelas q ue não
ricos, a classe média,
particular para os
e mesmo pa Ta Os aspirant
es à classe média, e
educaç
TT
ão pública para os pobres Marta diz que Maluf é machista e sexista: Durante evento no Feia
. Comoosricoseos pobres dificil-
mente conv ivem na escola, cidade, a candidata do PT aproveitou que a maioria dos a
o convívio entre br ancos e não-branc
étambém mensuravelmente os
reduzido. O sistema educac “res para lembrar frases do pepebista e rebater críticas a program
ional cons- Folha de S. Paulo, 18 out. 2000, p.i3.
significava reescrever valores sociais que haviam hierarquia social. Velhas desigualdades eram vestidas em
funcionado ante. 1
cativo
a nie
riormente por meio da exclusão institucional. O upas.
status marginal dos novas TO : escolar
. . .
lo qual um sistem a p público lidava com raça
brasileiros pobres e não-brancos mudou pouco sob esse O modo pe
Novo arran-
jo, mas o modo pelo qual as instituições educacionais os papéis desempenhados pela ciência e o poder pú-
interagiam com se ilustra a
eclas
“eo NO
reforç o da marginalização institucional da população-
as hierarquias sociais mudou de modo significativo.
pica endente. Há outras formas de entender o processo. Os inte-
Os reformadores que pressionaram pela escola pública univer-
afrodesc ,
sale remodelaram o formato eo conteúdo da educação o fizera vêm, ca da vez mais, estudando outras instituições públicas
m em lectuaisis vem, . . O Da .
pe
para dissecarrao
a ope-
um contexto social que começara a encarar a cultura e o Polícia, , o Exército e o sistema judiciário
ci
meio am- co moa
na so ciedade brasileira. Esse enfoque é crucial
biente, em vez da biologia, como as raízes da diferença
racial. A raçãão dos valores deraça da
e a desigualdade raciais em uma sociedade
atenção devotada à educação pública nos anos do entreguerras ex- para entender a ex clusão
-segregação, onde a dis-
traiu energia, recursos e lideranças do movimento eugenista e do com o o Brasil, , ou nos Estados Unidos pós
movimento em defesa da saúde e da higiene, e as reformas educa- nação predomina mas O racismo não é imediatamente aparente.
aldade com
cionais foram propostas por muitos dos primeiros cientistas sociais Essas instituições locais revelam a operação da desigu
publica
do Brasil. O quadro de intelectuais e cientistas sociais de elite que mais eficácia do que as análises mais amplas de esfera
encabeçou a reforma e a expansão educacionais via a escola pública As escolas públicas do Brasil em meados do século são espaços
como um veículo para atingir diversos objetivos que se sobrepunham. privilegiados para tal análise, ponque se encontram Entreos poucos
Os objetivos principais eram a criação de uma força de trabalho espaços públicos onde pessoas de diferentes classes e cores interagiam
especializada e disciplinada, o saneamento das classes populares regularmente, mesmo que em termos estruturalmente desiguais, Es
brasileiras, a implantação de hábitos e costumes europeus eo desen- estudo levou em conta o modo pelo qual os formuladores de políticas
volvimento de uma identidade nacional coerente. moldaram esse espaço, assim como os tipos de limites e fronteiras
Juntos, esses objetivos se somaram para criar uma agenda para que inseriram nos sistemas que criaram. Essa análise da raça nas
o desenvolvimento nacional baseada em valores científicos e moder- escolas públicas do Rio de Janeiro e nas políticas educacionais bra-
nos. Não obstante, velhas suposições sobre raça persistiram nessa sileiras levanta diversas questões. O estudo se baseou no Rio, ED»
agenda. Os reformadores inscreveram seus próprios pressupostos bora examine dados de outros estados brasileiros. As práticas
sobre raça, cultura, gênero e saúde nas instituições que criaram. As educacionais diárias fora do Rio de Janeiro, especialmente em esta-
políticas sociais reconheciam diversas formas de diferenças sociais. dos com maior população afrodescendente, como a Bahia, merecem
Algumas dessas políticas visavam a reduzir essas distinções e outras consideração mais detalhada do que recebem aqui. Alguns estados,
pretendiam mantê-las, mas, em qualquer dos casos, essas políticas como Ceará, Amazonas e Pará, foram palco de uma ambiciosa refor-
desenvolver sis-
ma e expansão educacionais, tomando a iniciativa de
reificavam percepções de diferença social, criando uma metanarrativa
de raça que reforçava a desigualdade. Uma ordem social outrora temas educacionais rurais. . os
baseada na escravidão e na monarquia foi reinventad A Bahia é um caso marcante, porque recebeu a atenção de va
a como uma
ordem baseada na ciência e no mérito, sem alterar de modo signifi- Yeteranos do sistema escolar do Rio. Durante os anos do Estado
e Higiene Mental
sOHM: Serviço de Ortofrenia
entos Escolares
SPAE: Seção de Prédios e Aparelham
Escolares
STE: Serviço de Testes e Medidas
Bibliografia
Associações
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FIESP: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
IDORT: Instituto de Organização Racional do Trabalho
LBPPF: Liga Brasileira Pelo Progresso Feminino
À Entrevistas
Arquivos
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. 1999
idade Estadual de Campinas qi Ri
Cho 1, in J o1 ; d E 2000
AEL: Arquivo
1 Edgar Leuenroth, Univers
E e
qua é Janeiro, Jo
AGC: Arquivo Geral da Cidade, Rio de Janeiro r Maria Yedda Linhares, Rio de Janeiro, 17 jul. 2000
: : di se .
Umbelina de Mattos, , Rio de Janeiro, ' 12 ago.1999
Brasil, Rio de Janeiro
CPII: Arquiv
AN: Colégio Pedro IIl do
o Naciona
Fernando Segismundo, Rio de Janeiro, 5 ago. 1999
,
CPDOC: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contem- Sara Hauser Steinberg, Rio de Janeiro, 5 ago. 1999
porânea do Brasil, Fundação Getúlio Vargas Maria Cecília Teixeira, Rio de Janeiro, 13 jul. 2000
CUTC: Columbia University Teachers College
MIS: Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro Arquivos
Arquivo Edgar Leuernoth, Universidade Estadual de Campinas (AEL)
ro
Digitalizado com CamScanner
372 DIPLOMA DE BRANCURA BIBLIOGRAFIA 373
é : a y
Centro de Memória de Educação, Prefeitura do Rio de Janeiro
Jornais
Escola Municipal Argentina
ie V A Chibata
Escola Municipal Darcy Vargas
ço: ep Liberdade
ANes
Escola Municipal Getúlio Vargas
Escola Municipal Pedro Ernesto : Na
Vs Diário Carioca
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Elite
Fundação Getúlio Vargas (CPDOC) Getulino
Arquivo Pedro Ernesto Batista Jomal do Brasil
Arquivo (Manoel Bergstrom) Lourenço Filho Jornal do Comércio
Arquivo Gustavo Capanema Minas Gerais
Arquivo Filinto Muller O Alfinete
Arquivo Anísio Teixeira O Bandeirante
O Clarim d'Alvorada
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R
,
|
Digitalizado com CamScanner
ÍNDICE REMISSIVO 395
394 DIPLOMA DE BRANCURA
Pelotões de saúde,
204
65, 80, 81, 82, 202, gastos com educação no, 117, 124
Se
«rano, Jonathas, 26, 256, 303, 304, Escala de Binet (QI), 223, 224,
raça no, 122-4, 127, 134.46 234.7
Pende, Nicola, 69, 236
323-8
subúrbios do, 135-45, 199, 200, . a Teste ABC, 219-37
Penna, Belissário, 23, 58, 106, 317 Sifilis, 57, 274
207, 216, 259, 288, 313, 314, racia Teste de Terman, 68, 210, 224-9, 236
Pereira, Miguel, 54, 58 Ver também Degeneração
334, 344, 352 219 Testes psicológicos. Ver Testes de
Pernambuco (estado), 33, 65, 66, 118, Rio de Janeiro (estado), 122, 136, 244, Silva, Enéas, 216,
inteligência
119, 170, 175 Soares, Átila, 259
266, 311, 366 Alberto Thomaz, Joaquim, 277, 278
Pernambuco, Ulisses, 223 Sociedade dos Amigos de
Rio Grande do Norte, 33, 117, 118, 122 Tito, Arthur Rodrigues, 278, 279, 280,
Torres, 103-6
Pinto, Edgar Roquette. Ver Roquette Rio Grande do Sul, 118, 125, 160, 311
Pinto, Edgar Superintendência de Educação Musical 283
Rockefeller, John D., 166 Torres, Alberto, 98, 102, 103, 104,
e Artística (Sema), 251
Pinto, H. Sobral, 18, 19, 20 Rockefeller, Nelson, 48, 248
Ver também Villa-Lobos, Heitor 105, 106, 211, 212, 270, 328, 337
Pioneiros da Escola Nova, 168, 187 Roosevelt, Franklin, 324 Toscano, Moacyr, 272
252, 256, 257, 308 Roquette Pinto, Edgar, 30, 49, 50, 54,
Távora, Juarez, 106, 130, 264 Treinamento de professores, 32, 42,
Ver também filosofia educacional 67, 69, 97, 106, 326, 366
Taylorismo, 209, 210 55, 65, 89, 112, 113, 117,
da Nova Escola e definição de categorias raciais, 44
Ver também Racionalização 147-200, 363
Pires, Washington, 264 Ver também Museu Nacional de Teachers College da Universidade de Tuberculose, 53, 57, 110, 234, 317, 330
Prado Júnior, Antônio, 125, 131 Antropologia
Columbia, 67, 68, 166, 167, 195, Ver também Eugenia; Degeneração
PRD.5 (estação de rádio), 69, 190,
208, 211, 223, 224, 259, 301 racial
233, 282 Salgado, Plínio, 106
Teixeira, Anísio, 42, 43, 60, 65-70,
Professores, 38, 45, 55, 81-4, 112, Sampaio, Nereu de, 137, 138, 141,
106, 129, 161, 272, 293-4, 365-7 Unesco, 26, 38, 127, 142, 143, 366
119-21, 124, 133, 147-99, 219, 142, 145, 207, 214, 215, 216
atacado pelos católicos . Universidade do Brasil, 89, 108, 110,
280-4, 361 São Paulo (estado): revolta
Puericultura, 55, 169-75, 339
nacionalistas, 241, 242, 243-6, 331
constitucionalista, 305 252-66 Universidade de Columbia, 31, 50
crescimento urbano em, 124,
como diretor do Departamento de Universidade do Distrito Federal,
Raça brasileira, 21, 56, 67, 71, 78, 99, 133, 135
Educação do Rio de Janeiro, 187, 266
251, 356 discriminação racial em, 178-81 184.6
Raça como categoria científica, 29-36, educação em, 33, 54, 64, 111, estudos nos Estados Unidos, 163, Vargas, Getúlio, 12, 17, 33, 35, 48,
357, 358 112, 124-7, 219-24, 256, 262,
Racionalização, 34, 35, 42, 66, 204, 275, 285
176, 195 50, 56, 64, 70, 79, 84-6, 89.3, 95,
reforma da educação elementar 97, 99-100, 104, 106-8, 111,
210, 243, 263 escola normal de, 61, 116, 156, 168, por, 132, 204-40, 244, 269-71 115, 130-2, 171, 172, 180, 187,
Racionalização científica. Ver 173, 223, 262 reforma da educação secundária 191-3, 208, 239, 241, 243,
Racionalização gastos com educação em, 117, 124 Por, 301-4, 332.49 245-8, 251, 252, 255, 261, 267,
Racionalização sistemática. Ver política em, 99, 100 reforma do treinamento de
Racionalização 272, 273, 279, 280-93, 296,
Segregação racial, 16, 138-44, 195, professores por, 161, 163-76
Rádio. Ver PRD-S 301-9, 315-7, 321, 327, 328,
222, 274, 365 traduções e publicações de,
Ramos, Arthur, 26, 30, 67, 69, 70, 73, 186, 331, 336, 349, 351
Serviço de Estatistica da Educação e 210, 211
74,75, 76, 77, 127, 142,211, Vaz, Juvenil Rocha, 49, 50
Saúde (Sees), 101, 111 Terman, Lewis, 68, 165, 209, 224, Venâncio Filho, Francisco, 130, 283,
236, 325, 366 Serviço Nacional de Aprendizagem 225, 226, 227, 228, 229, 237
Recife, Theobaldo, 279 303, 304, 343
Comercial (Senac), 110 Teo e
Revolução de 1930, 33, 64,97,
pe de inteligência Vianna, Francisco Oliveira, 49, 50, 106
Serviço Nacional de Aprendizagem inteligência,
99-100, 106, 171, 208, 241, 255, 40, 68, 80, 177 Villa-Lobos, Heitor, 246-52
Industrial (Senai), 110 209-13, 219.35, 259, 273
296, 303, 308, 313, 314, 319, 327 Serviço do Patrimônio Histório e
Rio de Janeiro (cidade): 122.46 Críticas aos, 225, 244 Weinstein, Barbara, 34, 35, 111, 210
Artístico Nacional (Sphan), 109, 110
alfabetização no, 117, 123 Sociedade Eugênica de São Paulo, 54,
autonomia do, 208 59, 60
crescimento urbano no, 124, 127-38 Schmidt, Maria Junqueira, 343-7
favelas no, 128, 135, 139-46, 196,
Sergipe (estado), 33, 64, 112, 118,
205, 207, 208, 314 119, 175
Formato: 14 x 21 em
Mancha; 23,7 x 42,6 paicas
Tipologia: Horley Old Styl
e 10,5/15
Papel: Offset 75 g/m? (miolo)
Cartão Supremo 250 g/m?
(capa)
1º edição: 2006
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Edição de textos
Evandro Freire (Copidesque)
Regina Machado (Preparação de Original)
Marcelo Riqueti (Revisão)
Editoração Eletrônica
Join bureau (Diagrama
g ç ão)
io
é professor associado na Universidade
da Carolina do Norte em Charlotte. Tem
0787653 lecionado na Universidade de São Paulo
IFCH e na PUC-Rio sobre relações raciais no
UNI Cana
Brasil e nos Estados Unidos.
370.115 D289d
e
Pts
ISBN 85-7139-652-3
6
fólico Z
NESP Pd
0
9788571/396524
7
Ed .
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