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Cartógrafos para toda a Terra

produção e circulação do saber


cartográfico ibero-americano:
agentes e contextos

Cartógrafos para toda la Tierra


producción y circulación del saber
cartográfico iberoamericano:
agentes y contextos
Cartógrafos
para toda a Terra
produção e circulação do saber
cartográfico ibero-americano:
agentes e contextos

Cartógrafos
para toda la Tierra
producción y circulación del saber
cartográfico iberoamericano:
agentes y contextos

Francisco Roque de Oliveira (org.)

Volume 1

Lisboa 2015
Cartógrafos para toda a Terra. Produção e circulação do
saber cartográfico ibero-americano: agentes e contextos

Cartógrafos para toda la Tierra. Producción y circulación


del saber cartográfico iberoamericano: agentes y
contextos
Biblioteca Nacional de Portugal – Catalogação na
organizador Publicação
Francisco Roque de Oliveira
Cartógrafos para toda a Terra
Cartógrafos para toda a Terra : produção e circulação
comissão editorial
do saber cartográfico ibero-americano : agentes e
Francisco Roque de Oliveira, Guadalupe Pinzón Ríos, contextos = Cartógrafos para toda la Tierra : producción
Maria Helena Esteves, Maria Joaquina Feijão, Miguel y circulación del saber cartográfico iberoamericano :
Rodrigues Lourenço, Zoltán Biedermann agentes y contextos / org. Francisco Roque de Oliveira.
– Lisboa : Biblioteca Nacional de Portugal : Centro de
revisão Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa : Centro
de História d’Aquém e d’Além-Mar da Universidade
Daniel Paiva
Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores, 2015. –
2 v. : il.
editores Livro eletrónico.
Biblioteca Nacional de Portugal (bnp) | Centro de Estudos
Geográficos da Universidade de Lisboa (ceg-ul) | Centro ISBN 978-972-565-529-0
de História d’Aquém e d’Além-Mar da Universidade Nova
de Lisboa e da Universidade dos Açores (cham, unl/uaç) cdu 528(46)”15/19”(091)(042)(0.034)

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de História d’Aquém e d’Além-Mar da Universidade Nova
de Lisboa e da Universidade dos Açores
In Memoriam
Antonio Carlos Robert Moraes
volume 1
Cinquenta e um ensaios ibero-americanos de História da Cartografia 15
Francisco Roque de Oliveira
Rumos da História da Cartografia 23
Francisco Contente Domingues

Parte i
Os cartógrafos e as suas fontes
Los cartógrafos y sus fuentes
Fontes de origem portuguesa utilizadas por Piri Reis no Prefácio do Kitab
i-Bahrye, 1526 37
Rui Manuel Loureiro
Alonso de Santa Cruz: argumentos para considerarle el autor del Atlas de
El Escorial 47
Antonio Crespo Sanz
Isabel Vicente Maroto
Nacimiento y evolución de la cartografía matemática en España. Las
libretas de campo de tres cosmógrafos: Esquivel, Labaña y Santa Ana 81
Antonio Crespo Sanz
Los mapas lícitos de publicar en Amberes. Redes, agentes y fuentes
cartográficas usadas por Abraham Ortelius para el «Pervviae Avriferæ
Regionis Typvs. Didaco Mendezio auctore», 1584 115
Sebastián Díaz Ángel
Producción y circulación del saber cartográfico entre Europa e Italia
a finales del siglo xvi y principios del xvii. Modelos geográficos y
cartográficos para representar a la Tierra 149
Annalisa D’Ascenzo
Percursos do engenheiro António Carlos Andréis em Cabo Verde,
1765-1779 171
Maria João Soares
¿Original o copia? La colección de Pedro De Angelis y la circulación de la
cartografía en el Río de la Plata, 1827-1853 199
Teresa Zweifel
Parte ii
Tecnologia cartográfica e disputas territoriais
Tecnología cartográfica y disputas territoriales
La línea de frontera brasileña en el mapa de Juan de la Cruz y Olmedilla
de 1775 219
José Andrés Jiménez Garcés
A outra face das expedições científico-demarcatórias na Amazônia:
o coronel Francisco Requena y Herrera e a comitiva castelhana 243
Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno
Iris Kantor
O padre Francisco Xavier Éder e as Missões de Moxos 265
István Rákóczi
Mário Clemente Ferreira
Trazos a ciegas: los mapas políticos de Sudamérica en tiempos de las
revoluciones independentistas latinoamericanas 287
Carla Lois
O território contestado entre a França e o Brasil no âmbito das Sociedades
Geográficas Nacionais 317
João Paulo Jeannine Andrade Carneiro
O delineamento da Estrada Real desde a serra de Rio Maior a Leiria em
1791 339
Ricardo Charters d’A zevedo
La evolución de la representación cartográfica de las Islas Pontinas en el
virreinato de Nápoles – siglos xvi-xviii 357
Arturo Gallia
Proyección inglesa sobre las Islas del Pacífico novohispano a través de sus
mapas y diarios de viaje – siglo xviii 371
Guadalupe Pinzón Ríos
España y la legitimación de sus colonias decimonónicas en el Pacífico a
través de los mapas de Francisco Coello 391
David Manzano Cosano
Parte iii
A construção territorial do Brasil
La construcción territorial del Brasil
Análise semiótica da dimensão imaterial da cartografia histórica brasileira:
o sentido territorial do Estado do Paraná no século xviii 413
Estevão Pastori Garbin
Fernando Luiz de Paula Santil
Cartografia Histórica da Capitania de Minas Gerais nos mapas de
José Joaquim da Rocha do século xviii 429
José Flávio Morais Castro
Território e História. Caminhos, vilas e cidades em Goiás no século xviii 447
Lenora de Castro Barbo
Rômulo José da Costa Ribeiro
Cartografia de terras e gentes: a guerra aos povos indígenas nas capitanias
de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia no início do século xix 465
Maria Hilda Baqueiro Paraíso
Caio Figueiredo Fernandes Adan
Colonização e cartografia no sul do Brasil oitocentista: o exemplo de
Emil Odebrecht 487
Enali de Biaggi
Cartografia e experiência histórica no Império do Brasil 511
Leandro Macedo Janke

volume 2

Parte iv
Cartografia e história urbana
Cartografía e historia urbana
«[O] Melhor Patrimonio do Estado»: representações não-portuguesas
das cidades da Província do Norte do Estado da Índia, séculos xvi-xix 551
Joaquim Manuel Rodrigues dos Santos
As cidades (in)visíveis: a representação urbana em mapas do Brasil 571
Renata Malcher de Araujo
Vera Domingues
Sobre a biografia da Planta da Villa de Maceió e a cartografia do
engenheiro inglês Carlos de Mornay em Alagoas 601
Maria de Fátima de Mello Barreto Campello
A Porto Alegre Imperial 621
Daniela Marzola Fialho
A cartografia da expansão da cidade de São Paulo no período de
1881 a 2001 639
Reinaldo Paul Pérez Machado
Iara Sakitani Kako
Buenos Aires, mapas y expansión. Cartografía y saberes urbanos en la
construcción de la ciudad moderna 657
Graciela Favelukes
Reinterpretaciones cartográficas: del origen a la Granada del xviii 675
Ana del Cid Mendoza
Da evolução urbana à geografia histórica do Rio de Janeiro: uma análise da
produção de Mauricio de Almeida Abreu 691
Pedro de Almeida Vasconcelos

Parte v
Horizontes da cartografia náutica ibero-americana
Horizontes de la cartografía náutica iberoamericana
La Casa de Contratación de Sevilla, el Padrón Real, las cartas de marear y
los inicios de la ciencia moderna 709
Mauricio Nieto Olarte
La cartografía en los libros españoles de cosmografía, siglo xvi 731
Mariano Cuesta Domingo
La cartografía náutica española en el siglo xvii: transición de arte a ciencia 757
Alfredo Surroca Carrascosa
La cartografía en los libros españoles de náutica, siglo xviii 779
José María Blanco Núñez
A Náutica na Reforma da Universidade de Coimbra, 1772: o fim do
cargo de cosmógrafo mor e o nascimento das academias de ensino náutico
Nuno Martins Ferreira 799

Troncos particulares de léguas: alternativa à carta de Mercator 821


António Costa Canas
El problema de los mapas náuticos con doble escala de latitud 843
Simonetta Conti
A cristalização de um modelo: as Filipinas na cartografia portuguesa,
1554-1580 865
Miguel Rodrigues Lourenço

Parte vi
Cartografias híbridas e imagens literárias
Cartografías híbridas e imágenes literarias
Topónimos/serpiente: sacralización del paisaje en las Relaciones
geográficas, crónicas y documentos pictóricos del siglo xvi en México 901
Ángel Julián García Zambrano
Imaginar Nuevo México en 1602. La representación de la tierra incógnita:
encuentros y desencuentros cartográficos en la América colonial 927
Amaia Cabranes Rubio
Cartografías de lo interno. Lo subterráneo en la construcción mítica de la
Granada contrarreformista 949
Francisco Antonio García Pérez
Os sertões: de realidade geográfica a imagem literária 971
André Heráclio do Rêgo
El Sudeste Asiático europeo a través de la cartografía literaria: la literatura
de viajeros españoles a Filipinas durante el siglo xix 981
José María Fernández Palacios
Angola na cartografia colonial e na escrita de António Lobo Antunes 1003
Fabiana D’Ascenzo

Parte vii
História da cartografia e divulgação de fundos cartográficos
Historia de la cartografía y divulgación de fondos cartográficos
Francisco de Borja Garção Stockler versus António Ribeiro dos Santos:
os primeiros estudos de cartografia antiga em Portugal, 1805-1817 1025
Francisco Roque de Oliveira
A edição de Portugaliae Monumenta Cartographica
e o seu significado político 1055
Carlos Manuel valentim
El mapa geológico de México. La presencia de uma nueva
disciplina en el México del siglo xix 1077
Lucero Morelos Rodríguez
José Omar Moncada Maya
Projeto «Atlas Histórico da Bahia Colonial»: promoção e difusão do
saber cartográfico 1105
Erivaldo Fagundes Neves
Maria Hilda Baqueiro Paraíso
Caio Figueiredo Fernandes Adan
André de Almeida Rego
Raquel de Matos Cardoso do Vale
Elane Fiúza Borges
Jocimara Souza Britto Lobão
Projeto «Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Geraes,
1927: estudos críticos» 1121
Maria Lúcia Prado Costa
Maria Aparecida Seabra de Carvalho
Maria de Lujan Seabra de Carvalho Costa
A importância da cartografia para o estudo da evolução da orla costeira: o
exemplo do trecho Buarcos-Cova (Figueira da Foz, Portugal) 1135
Joana Gaspar de Freitas
João Alveirinho Dias
António Mota Lopes
Helena Kol
Herramientas tecnológicas para la difusión y el estudio de los fondos
cartográficos de la Fundación Luis Giménez Lorente 1155
Jesús Palomar Vázquez
Fernando Buchón Moragues
Território e História.
Caminhos, vilas e cidades em Goiás
no século xviii

Lenora de Castro Barbo


Consultora Legislativa da Câmara Legislativa do Distrito Federal

Rômulo José da Costa Ribeiro


Faculdade Universidade de Brasília – Planaltina - fup

Introdução

Inicialmente, Goiás era território pertencente à Capitania de São Paulo e


quando ganhou autonomia – 1748 – abrangia o atual Triângulo Mineiro, o
Estado do Tocantins, parte do Mato Grosso e Maranhão (Figura 1).
Este artigo apresenta os primórdios da evolução da ocupação do terri-
tório goiano por meio da análise de nove mapas históricos do período de
1750 até 1778. A partir dos documentos cartográficos, observa-se, nesses
cerca de 30 anos, a transformação do espaço. Por meio de exercícios de
reconstituição de dados provenientes dos mapas antigos, utilizando-se o
Sistema de Informações Geográficas - sig como ferramenta base para a
busca do conhecimento do território, a pesquisa explora o processo de
alteração dos limites da Capitania de Goiás e registra os caminhos existen-
tes à época. A seriação dos documentos cartográficos permite, ainda,
acompanhar a transformação do território e o estabelecimento de povoa-
dos, a fim de se identificar quais permaneceram e quais desapareceram no
processo histórico de evolução da região.
Para ampliar o conhecimento do território da Capitania de Goiás,
foram utilizados dados sobre as paisagens extraídos dos relatos dos cronis-
tas e viajantes que exploraram a região e documentaram suas impressões
por meio de diários, relatórios, literatura e iconografia.
A toponímia de sítios e acidentes geográficos assinalados nos docu-
mentos cartográficos e ao longo dos relatos de diversos cronistas, que
exploraram o Planalto Central no século xviii, se repetiram como muita
frequência. Graças aos relatos, que citavam nominalmente os pontos trans-

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Figura 1. Mapa do Brasil, localizando a situação geográfica aproximada da Capitania de Goiás no
século xviii, [2012].

postos, podemos reconhecer hoje os locais por onde andaram, visto que
muitos ainda conservam o mesmo topônimo.
O desafio do trabalho ora apresentado foi reconstituir a forma como se
articulava a ocupação na Capitania de Goiás no século xviii, por meio de
documentos cartográficos. Para tanto, se desdobrou nos seguintes objeti-
vos específicos: acompanhar e assinalar a transformação do território de
Goiás, com base nos apontamentos da cartografia histórica; e investigar e
registrar os caminhos, as povoações e as vilas em Goiás, no século xviii.
O trabalho se realizou em três etapas. A primeira consistiu no levanta-
mento e seleção dos documentos cartográficos do século xviii a serem
estudados. Na segunda etapa, os mapas históricos foram convertidos em
formato digital e georeferenciados. A terceira etapa foi a digitalização indi-
vidual em tela dos limites da capitania; das estradas e caminhos registrados
e dos sítios assinalados em cada um dos nove mapas.

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Histórico

Estado e território são dois conceitos profundamente entrelaçados no


mundo moderno, onde o Estado possui um espaço demarcado de exercí-
cio de poder, uma jurisdição. A construção política dessa jurisdição pressu-
põe um domínio territorial efetivo sobre uma porção da superfície terres-
tre, a qual se qualifica como base física desse poder, expresso num aparato
estatal (moraes, 2005: 51-52).
É preciso, no entanto, diferenciar a análise do território da análise da
formação territorial.
«Território e espaço não são noções equivalentes. O território,
com contornos e limites precisos é uma categoria histórica, cons-
truída socialmente. Para além das fronteiras naturais, a fronteira
política é sempre uma linha abstrata e convencionada por
alguns» (Bueno, 2009: 251).

No dicionário etimológico de Raphael Bluteau, em 1712, território apa-


rece como «o espaço de terra, nos contornos & jurisdição de huã cidade».
Estar nos contornos e sob a jurisdição de uma «cidade» significava ser
parte de um reino ou império. Por isso mesmo, apenas a Coroa tinha a
prerrogativa de fundar «cidades» em seus territórios. A partir de modelos
portugueses, as instâncias administrativas, jurídica e eclesiástica sobrepu-
nham seus territórios no espaço. As vilas tinham papel hierarquicamente
inferior às «cidades», mas superior às capelas e freguesias. Todas, igual-
mente, eram tentáculos metropolitanos na distante «Conquista», cum-
prindo papéis distintos na lógica da rede urbana (bueno, 2009: 252).
Cada novo caminho oficial, cada nova vila e cada nova alteração de tra-
çado urbano consistia na oficialização dos atos dos diversos atores envolvi-
dos no processo de colonização. A busca de novas fontes de riqueza foi
condicionada por essa interiorização, e cada passo foi oficializado ao sabor
dos interesses metropolitanos (bueno, 2009: 261).
Na primeira metade do século xviii, a Capitania de São Paulo funcio-
nava como entroncamento de trocas de longa distância com o sul e o cen-
tro-oeste. A partir da cidade de São Paulo, uma rede de caminhos irradiava-
-se em todas as direções. A cartografia do período demonstra a ampliação
da rede em direção a Mato Grosso e Goiás. O trajeto para as minas do
Mato Grosso era feito pelos rios Tietê e Paraná, ao passo que para Goiás

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era basicamente por terra. Se analisarmos os dados que a cartografia põe
em evidência, podemos dizer, em termos de história da urbanização,
que uma rede ínfima de «vilas» articulava um vasto território, amparada
por densa rede eclesiástica de capelas e freguesias, pousos e registros
(bueno, 2009: 276).
A Igreja e suas festas religiosas tiveram função social importante, e
quase exclusiva, nos núcleos urbanos do sertão. A capela constituiu-se
sempre em marco essencial dessas comunidades, em volta do qual se erguia
a estrutura social (freitas, 2007: 31 e 35).
Em função de sua centralidade territorial, a Capitania de Goiás assu-
miu posição estratégica tanto para as comunicações quanto para a expan-
são rumo às regiões de soberania ainda não definida, visto que sua capital,
Vila Boa, marcou a posição da Coroa Portuguesa mais a oeste da linha de
Tordesilhas.
O povoamento escasso do Planalto Central, que se elaborou dentro do
ciclo do ouro e, depois, do ciclo do gado, e sua economia rudimentar, em
especial por causa do isolamento e das comunicações árduas, não favore-
ciam o desenvolvimento de núcleos urbanos.
«Uns poucos decênios foram o suficiente para que se desarticu-
lasse toda a economia da mineração, decaindo os núcleos urba-
nos e dispersando-se grande parte de seus elementos numa eco-
nomia de subsistência, espalhados por uma vasta região em que
eram difíceis as comunicações e isolando-se os pequenos grupos
uns dos outros» (furtado, 2007: 134).

Durante o século xviii, disseminaram-se povoações por todo o territó-


rio goiano. Os sítios dedicados à mineração fixaram-se às margens de rios e
córregos auríferos, em regiões de topografia acidentada; já aqueles vincula-
dos à pecuária, cresceram como apêndice das pousadas obrigatórias, nas
longas jornadas para transporte do gado, ou desenvolveram-se nas encruzi-
lhadas das estradas boiadeiras.
Contando com léguas de campos de pastagens naturais, os moradores
de Goiás recorreram à pecuária, uma atividade que dispensava a existência
de cativos numerosos e deu ao povoamento da região uma estrutura
diversa daquela que fora o da mineração. O boiadeiro, desde sempre, foi
uma figura típica da zona criadora do Brasil Central. Penetrava até as áreas

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pastoris mais afastadas para comprar o gado diretamente do criador e
retornava, em caminhadas de centenas de quilômetros, tangendo boiadas
para vender aos invernistas (silva bruno apud riedel, 1959: 17 e 30).
«A criação de gado [...] era uma atividade econômica de caracte-
rísticas radicalmente distintas das da unidade açucareira. A ocu-
pação da terra era extensiva e até certo ponto itinerante. O regime
de águas e as distâncias dos mercados exigiam periódicos deslo-
camentos da população animal, sendo insignificante a fração das
terras ocupadas de forma permanente» (furtado, 2007: 96).

Em Goiás, as vendas de gado, feitas por terra, acabaram gerando uma


articulação da economia, dessa vez com o circuito de tropas. Durante o
período da mineração, ali era o centro consumidor dos produtos trazidos
de mula. Nos primeiros tempos, com muita cata de aluvião, em pontos dis-
persos e distantes entre si, o abastecimento dependia inteiramente de tro-
peiros. (caldeira, 2009: 9-10).
As primeiras boiadas de Goiás vieram dos currais do São Francisco,
tendo o Conde de Sarzedas, já em 1732, constatado a presença clandestina
de gado oriundo do São Francisco e da Bahia (alencastre, 1979: 51). Em fins
do século xviii, os campos de pastagens naturais, do sul e do sudeste de
Goiás, foram ocupados por fazendeiros de gado, por meio de uma expan-
são que se fez em duas direções principais: uma procedente do sertão do
Nordeste, que tendo subido o rio São Francisco e se difundido pelo oeste
da Bahia, penetrou em terras goianas talvez pela zona do Urucuia; a outra,
procedente de Minas Gerais e de São Paulo, acompanhando o roteiro dos
mineradores primitivos (silva bruno apud riedel, 1959: 30). Devido ao con-
trabando, inicialmente, a Coroa restringiu as vias de circulação a um único
caminho, conforme Carta Régia, de 10 de janeiro de 1730, para melhor fis-
calizar e cobrar o direito de entrada e cessar o extravio de ouro (alencas-
tre, 1979: 49-50).
Geralmente, para a passagem de mercadorias, novos caminhos foram
abertos – uns oficiais, outros para dar vazão ao intenso contrabando. Em
Goiás, o tráfego era feito principalmente por terra, sendo muitos os incon-
venientes da demora – para ir e voltar ao Rio de Janeiro gastava-se de seis a
nove meses – principalmente por causa dos produtos perecíveis que estra-
gavam na viagem. Ao longo das estradas surgiam postos de descanso, onde

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se fazia algum comércio e, nos de maiores movimentos, foram se formando
novos povoados (keating, 2008: 182). Em 1819, segundo Saint-Hilaire (2004:
185-186) as opções de estradas eram mínimas e partiam de Vila Boa (hoje
cidade de Goiás) quatro estradas principais: uma dirigia-se para o leste e
depois para o sul, passando por Paracatu, através de Minas Gerais, até o
Rio de Janeiro; outra seguia na direção do oeste, para a Província de Mato
Grosso; uma terceira fazia ligação com São Paulo, na direção sul-sudeste; e
a quarta levava a todos os arraiais da Comarca do Norte de Goiás. Naquela
época, fosse sol ou chuva, rotas terrestres eram percorridas em redes ou em
mulas, por caminhos não calçados. Por água, a navegação em direção a São
Paulo era difícil, em razão do grande número de cachoeiras e corredeiras
dos rios Araguaia e Tocantins, como também havia muitas tribos indígenas
que dificultavam a viagem, tentando impedir a passagem do homem
branco (silva, 2004: 62-63).

Materiais e métodos

Material

Para mapear a capitania de Goiás e comparar com a base cartográfica atual,


foram utilizados os mapas base digitalizados e georeferenciados com base
no shape de bacia hidrográfica obtidos no site da Agência Nacional de
Águas-ana e no de sedes de municípios obtidos no Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Todos os ajustes foram realizados em ambientes do
Sistema de Informação Geográfica-sig.

SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


O Sistema de Informação Geográfica - sig é um sistema para a admi-
nistração, a análise e a exposição do conhecimento geográfico, o qual é
representado usando uma série de conjuntos de informações.
O sig abstrai conhecimento geográfico em cinco elementos básicos:
conjuntos e modelos de dados geográficos; mapas e globos; geoprocessa-
mento de modelos e programações; métodos de análise e fluxos de traba-
lho; e metadados.
Esses cinco conjuntos de informação são os elementos primários da
informação geográfica.

452 C A RTÓ G R A F O S PA R A TO DA A T E R R A
A computação digital permite a captura e compartilhamento de conhe-
cimento através de redes, tais como a internet. Simultaneamente, a tecnolo-
gia do sig está evoluindo e provendo uma metodologia crítica para enten-
der, representar, administrar e comunicar os muitos aspectos das paisagens
físicas e humanas, além de melhor entender a terra como um sistema.
Esse foi o sistema utilizado para sobrepor os elementos extraídos dos
mapas e realizar comparações.

ARCGIS
Arcgis é um dos produtos mais importantes da empresa Environmen-
tal Systems Research Institute – esri, que inclui tanto aplicação cliente como
servidor de dados. O arcgis não é apenas uma aplicação sig, mas um con-
junto de softwares para elaboração e construção de modelos e sistemas em
sig. Licença do Laboratório da fau/unb.

ARCMAP
O ArcMap é uma aplicação para visualização, elaboração e manipula-
ção de dados geográficos, que vem com o software de geoprocessamento
arcgis, da empresa esri. Através do software podemos georeferenciar os
mapas antigos em uma base cartográfica atualizada e extrair as informações
contidas de maneira localizada.

DOCUMENTOS CARTOGRÁFICOS
Ao todo, foram analisados nove documentos cartográficos do século xviii: 1
- O prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele tempo, e o menos dis-
tante da verdade da destrebuiçaõ desta Comarca,/e seos Arrayaes, mostrando o
caminho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal, e daqui ao Cuyabá, Mato
Groso, Rio da madeira, té o das Amazonas, por Angelo dos Santos Cardoso,
Secretário de Governo da Capitania de Goiás, de 1750; 2 - Mapa geral dos
limites da Capitania de Goiás, por Francisco Tosi Colombina, cartógrafo
italiano, de 1751; 3 - Mappa dos Sertões, que se comprehendem de Mar a Mar
entre as Capitanias de S. Paulo, Goyazes, Cuyabá, Mato-grosso, e Pará, de
autor desconhecido, de 17--; 4 - Mappa da Capitania de Goyazes, e de todo o
sertão por onde passa o Rio Maranhão, ou Tucantins, por Francisco Tosi
Colombina, de 17--; 5 - Carta da Capitania de Goyaz, por Angelo dos Santos
Cardoso, de 1753; 6 - Mapa Geral da Capitania de Goiás, por Angelo dos

L E N O R A D E C A ST R O B A R B O | R Ô M U L O J O S É DA C O STA R I B E I R O
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Santos Cardoso, de 1753; 7 - Mapa que mostra a capitania de Goiás e a região
ao sul até o rio da Prata, por Angelo dos Santos Cardoso, de 1755; 8 - Carta
de toda a porção d’América Meridional, que pareceo necessaria a manifestar a
viagem de 569 legoas commuas, que da escala e cidade do Rio de janeiro execu-
tou por terra, em 17 do mes de Mayo de 1772, para Villa Bella da Santissima
Trindade, o Governador e Capitão General do Estado do Mato Grosso e
Cuiabá, Luis d’Albuquerque de Mello Pereira e Caceres do Conselho de Sua
magestade Fidelissima que Deos o guarde, por ordem do Governador do
Mato Grosso e Cuiabá Luis d’Albuquerque de Mello Pereira e Caceres, de
1772; e 9 – Carta ou Plano Geographico da Captª. de Goyaz huma das do
centro da America Meridional, do Reino de Portugal que mandou construir o
Illmº e Excllmº Snr. José de Almda de Vasconcellos de Sovral e Carvalho Gov.or
e Cap. Gen. da dita Capit.ª do Dia 26 de Julho de 1777 até Maio de 78, que a
entregou, por Thomas de Souza, Sargento Mor do Regimento da Cavalaria
Auxiliar da Capitania de Goiás, de 1778 (Quadro 1).

Métodos

LEVANTAMENTO DE DOCUMENTOS CARTOGRÁFICOS


Inicialmente, foi realizada revisão de literatura, pesquisa histórica,
estudo específico na literatura de viagens, investigação documental e
estudo de cartografia. Os documentos cartográficos estudados foram sele-
cionados em acervos particulares, de instituições culturais, de universida-
des, de museus e da Biblioteca Nacional.
Posteriormente, os mapas do século xviii que guardavam informações
históricas e geográficas sobre a Capitania de Goiás foram digitalizados.

O GEOREFERENCIAMENTO DOS MAPAS


Geoprocessamento é o uso automatizado de informação que de
alguma forma está vinculada a uma determinada localização no espaço
geográfico, seja por meio de endereços, coordenadas ou outro tipo de
código. As ferramentas computacionais para geoprocessamento, chamadas
de Sistemas de Informação Geográfica, constituem um ambiente compu-
tacional em que se pode adquirir, gerenciar, analisar, sintetizar e apresentar
os dados referenciados em um modelo cartográfico (georeferenciados)
que interessam ao fenômeno a ser estudado, monitorados no tempo, além
de propiciar simulações de eventos. Ao integrar dados de diversas fontes e

454 C A RTÓ G R A F O S PA R A TO DA A T E R R A
Quadro 1. Documentos cartográficos analisados e comparados (1.ª parte)

ao criar banco de dados georeferenciados permitem realizar análises com-


plexas, possibilitando a visualização georeferenciada da informação histó-
rica, além da associação desta informação com a informação geográfica.
A cartografia, graças à participação de satélites e computadores, vem se
tornando cada vez mais um consistente Sistema de Informação Geográfica,

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Quadro 1. Documentos cartográficos analisados e comparados (2.ª parte)

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Figura 2. Carta ou Plano Geographico da Captª. de Goyaz huma das do centro da America Meridional, do
Reino de Portugal ... (bertran e faquini, 2002: 136-137). Mapa georeferenciado, com destaque dos
limites da Capitania de Goiás, suas povoações e caminhos. Exemplo do tratamento individual reservado
a cada um dos nove mapas em análise, [2012].

com vistas à coleta, ao armazenamento, à recuperação, à análise, à síntese e


à apresentação de informação sobre lugares, monitoradas no tempo.
O geoprocessamento pode ser utilizado como um instrumento de
construção de mapas georeferenciados, de associação entre base cartográ-
fica e banco de dados alfanumérico; também na realização de consultas
temáticas específicas e, sobretudo, na promoção da análise simultânea de
um número grande de eventos, tanto físicos, quanto sociais, econômicos
ou políticos.
Para a realização deste trabalho, o método escolhido consistiu na apli-
cação das ferramentas do geoprocessamento na delimitação dos limites da
Capitania de Goyazes, suas estradas e povoamentos por meio da análise da
cartografia histórica, resultando na reconstituição do passado com a ajuda
de tecnologias usualmente voltadas para o futuro.

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DIGITALIZAÇÃO EM TELA DAS INFORMAÇÕES DOS MAPAS
Habitualmente, para a digitalização em tela executa-se a chamada
Vetorização heads-up ou vetorização manual. Este processo envolve o esca-
neamento do documento original e o uso desta imagem como pano de
fundo em programas de tratamento de feições vetoriais, como, por exem-
plo, o Autocad, um software de desenho assistido por computador (Com-
puter Aided Design – cad). Dessa forma, obtêm-se vetores por meio da
digitalização sobre a imagem apresentada na tela do computador.
Na extração das informações, inicialmente, os mapas históricos foram
digitalizados e salvos em formato jpeg. Em seguida, foram georeferencia-
dos com base nos vetores de sedes de municípios do ibge e nos vetores de
rios ao 1:1.000.000 (Figura 2).

Resultados

A historiografia regional pode recompor diversos aspectos da vida social,


política e econômica de comunidades com base em pesquisa no acervo de
arquivos e instituições culturais, na cartografia histórica e nos relatos de
viajantes. De posse dos dados disponíveis nos documentos cartográficos, o
passo seguinte foi sobrepor e cotejar as informações.
O geoprocessamento está possibilitando um novo nível de entendi-
mento dos mapas históricos. Reconstituir da forma mais circunstanciada
possível essas informações é um desafio que pode se beneficiar com a utili-
zação dos recursos de geoprocessamento. Quando os mapas são convertidos
para o meio digital eles podem ser manipulados e combinados com outros
dados espaciais.
A maior dificuldade encontrada no desenvolvimento da reconstituição
foi compatibilizar diferentes mapas, feitos em diferentes escalas. A ausên-
cia de padronização cartográfica criou uma grande distorção nos elemen-
tos, tais como curvatura dos rios ou localização dos sítios.
Outro fator de distorção foi o processo de escaneamento de mapas his-
tóricos, por se tratar de papéis antigos, o que pode deformar a estrutura do
mapa.
Ainda assim, podemos afirmar que as dificuldades não criam impossi-
bilidades, pois, mesmo sem perfeita exatidão, o resultado trouxe confiabi-
lidade, permitindo clara observação e entendimento dos percursos e da
localização dos povoados. Esses resultados podem ser refinados, ajustados

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com o cruzamento das informações disponíveis e, de qualquer modo, já se
apresentam como norteadores para pesquisas de campo na procura por
remanescentes.
De modo geral, os mapas analisados registraram as rotas, tanto terres-
tres quanto fluviais que cortavam a Capitania. Algumas rotas anotavam a
indicação do número de léguas entre os sítios. Também, assinalaram Vila
Boa – capital e a única vila da Capitania de Goiás, os arraiais e aldeias da
região. A rede hidrográfica foi desenhada, assim como o relevo foi repre-
sentado de forma simbólica.
A partir dos elementos levantados, é possível reconstituir o itinerário
das estradas e caminhos que cruzavam a região e serviam como rotas de
comércio e de desenvolvimento. Percebe-se claramente, os eixos de ocupa-
ção no território: nos sentidos sudeste e sudoeste (Figura 3).
A análise comparativa entre os mapas selecionados permite acompa-
nhar a transformação do território e o estabelecimento das povoações
(Figura 4). Existe grande variação no número de sítios assinalados em cada
um: 1 - O prim.ro mais ajustado, total de 28 arraiais; 2 - Mapa geral dos limi-
tes da Capitania de Goiás, 49 localidades; 3 - Mappa dos Sertões, que se com-
prehendem de Mar a Mar, 29 sítios; 4 - Mappa da Capitania de Goyazes, e de
todo o sertão, 29 povoações; 5 - Carta da Capitania de Goiás, 50 localidades;
6 - Mapa Geral da Capitania de Goiás, 52 sítios; 7 - Mapa que mostra a capi-
tania de Goiás e a região ao sul até o rio da Prata, 34 arraiais; 8 - Carta de toda
a porção d’América Meridional, 28 locais; 9 - Carta ou Plano Geographico da
Capitania de Goyas, 49 sítios.
A seriação dos mapas permite constatar que os contornos originais da
Capitania se alteraram significativamente ao longo do século xviii (Figura 5).

Considerações finais

A pesquisa compreende a documentação cartográfica como fonte de


conhecimento histórico. Do ponto de vista da cultura material, os mapas
são interpretados como artefatos culturais e, portanto, históricos; dessa
forma, as peculiaridades da linguagem cartográfica revelam as concepções
de mundo, o estado do conhecimento científico, as convenções e os códi-
gos de representação próprios de cada período. A cartografia tem impor-
tante papel na produção e apropriação de territórios. Por diversas vezes,
detém informações não contidas em qualquer outra fonte escrita, tais

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Figura 3. Imagens dos limites da Capitania de Goiás extraídas dos documentos cartográficos do século xviii
e dos respectivos caminhos assinalados, [2012].

como nomes de locais, fronteiras e aspectos físicos que podem ter sido
modificados ou apagados pelo homem e pelo tempo.
Este artigo aponta a metodologia que possibilitou o georeferencia-
mento das estradas, povoações e limites registrados em documentos histó-
ricos do século xviii. O trabalho revelou informações contidas em mapas
da Capitania de Goiás em um nível de detalhamento até então inusitado e,
assim, contribuiu para um melhor conhecimento do processo histórico de
evolução da região. Com base nos elementos levantados, será possível, em
etapa futura, a reconstrução das estradas e caminhos que cruzavam a região
e serviam como rotas de comércio e de desenvolvimento.
As representações resultantes da pesquisa podem ser disponibilizadas
como documentos de consulta e dar início à construção de uma base de
dados, a partir da cartografia histórica, que reúna o maior número possível
de referências sobre a região da Capitania de Goiás, no século xviii. Por
meio de vários cruzamentos de dados possíveis, será possível produzir um
instrumento de pesquisa que forneça um acesso organizado e amplo a pes-
quisadores em diversas áreas do conhecimento, que se interessem pelo

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Figura 4. Imagens dos limites da Capitania de Goiás extraídas dos documentos cartográficos do século xviii
e dos respectivos povoados assinalados, [2012].

Figura 5. Imagens dos limites da Capitania de Goiás extraídas dos documentos cartográficos do
século xviii, [2012].

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assunto. E, ainda, apesar das limitações, essa metodologia poderá ser utili-
zada em documentos cartográficos de outros períodos e locais.

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