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Curso de Cálculo 1

Prof. Marcelo Furtado

Aula 03 - Continuidade

Objetivos da aula:
Entender o conceito de continuidade
Aprender os exemplos clássicos de funções contı́nuas
Utilizar o Teorema do Valor Intermediário para aproximar
raı́zes de funções complicadas
O conceito de continuidade

Considere f uma função definida em um intervalo aberto contendo


o ponto x = a. Dizemos que f é contı́nua em x = a se

lim f (x) = f (a).


x!a

Para que f seja contı́nua em x = a, é necessário que:


1 exista o limite lim f (x);
x!a
2 o limite acima seja igual a f (a).

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Mais um exemplo de descontinuidade
A função g cujo gráfico
está esboçado ao lado não é
contı́nua em x = 0. De fato

lim g (x) = 2 6= 1 = g (0).


x!0

Esse exemplo mostra que o valor da função no ponto é importante


para o conceito de continuidade

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Continuidade nos extremos de um intervalo

Se f está definida em um intervalo do tipo [a, b], dizemos que f é


contı́nua em x = a se

lim f (x) = f (a).


x!a+

De maneira análoga, definimos continuidade no ponto x = b,


utilizando neste caso o limite pela esquerda.

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Funções contı́nuas

Dizemos que uma função é contı́nua quando ela for contı́nua em


todos os pontos do seu domı́nio.
Se p(x) = b0 + b1 x + · · · + bn x n e a 2 R, então

lim p(x) = p(a)


x!a

e, portanto, polinômios são funções contı́nuas.


p(x) p(a)
Se p e q são polinômios e q(a) 6= 0, então lim = .
x!a q(x) q(a)
Logo, toda função racional é contı́nua.

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Limite das funções trigonométicas na origem
_
Como sen(↵) = AS e ↵ = AB

0 < sen(↵) < ↵, se ↵ 2 (0, ⇡/2).

Logo, lim+ sen(↵) = 0.


↵!0

Fazendo = ↵, obtemos

lim sen( ) = lim+ sen( ↵) = lim sen(↵) = 0


!0 ↵!0 ↵!0+

e portanto concluı́mos que lim sen(↵) = 0.


↵!0

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Limite das funções trigonométicas na origem
Uma vez que sen2 (↵) + cos2 (↵) = 1, temos que
p
cos(↵) = 1 sen2 (↵), se ↵ 2 ( ⇡/2, ⇡/2).

Assim,
p p
lim cos(↵) = lim 1 sen2 (↵) = 1 02 = 1.
↵!0 ↵!0

Finalmente,
sen(↵) 0
lim tan(↵) = lim = = 0.
↵!0 ↵!0 cos(↵) 1

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Continuidade da função seno
Vimos que
lim sen(↵) = 0, lim cos(↵) = 1.
↵!0 ↵!0
Se a 2 R, então a mudança x = ↵ + a fornece

lim sen(x) = lim sen(↵ + a)


x!a ↵!0
= lim [sen(↵) cos(a) + sen(a) cos(↵)]
↵!0
= 0 · cos(a) + sen(a) · 1 = sen(a),

e portanto o seno é contı́nuo em qualquer ponto a 2 R.

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Agora é a sua vez
Usando o mesmo argumento do seno e a fórmula

cos(↵ + a) = cos(↵) cos(a) sen(↵)sen(a),

mostre que o cosseno é contı́nuo em qualquer ponto a 2 R. De


fato,

lim cos(x) = lim cos(↵ + a)


x!a ↵!0
= lim [cos(↵) cos(a) sen(↵)sen(a)]
↵!0
= 1 · cos(a) 0 · sen(a) = cos(a).

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Exemplos básicos

São contı́nuas as seguintes funções:


polinômios (em particular, as funções constantes);
funções racionais, isto é, quociente de polinômios;
potências do tipo x r , com r 2 R;
seno e cosseno.
Veremos posteriormente que são também contı́nuas:
a função exponencial e x ;
a função logarı́tmica ln(x).

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Álgebra das funções contı́nuas

Teorema 1
Se f e g são contı́nuas no ponto no ponto x = a, então são
também contı́nuas neste ponto as funções

1 (f + g )(x) = f (x) + g (x);


2 (f g )(x) = f (x) g (x);
3 (f · g )(x) = f (x)g (x);
✓ ◆
f f (x)
4 (x) = , desde que g (a) 6= 0.
g g (x)

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Álgebra das funções contı́nuas

Teorema 2
Se g é contı́nua em x = a, f é contı́nua em y = g (a) e a
composição (f g ) está bem definida em um intervalo aberto
contendo a, então

lim (f g )(x) = lim f (g (x)) = f (g (a)) = (f g )(a),


x!a x!a

e portanto a composta é contı́nua em x = a.

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Exemplos
Todas as funções abaixo são contı́nuas:
p x
1 + x 2, sen(e x ), x 2 ln(1 + x)
cos(x)
sen(x)
a função tangente tan(x) =
cos(x)
as demais funções trigonométricas
1 1 cos(x)
sec(x) = , cossec(x) = , cotan(x) =
cos(x) sen(x) sen(x)

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O imposto de renda em um paı́s imaginário
O imposto I (r ), em milhares, pago por quem tem uma renda de r
milhares é 8
< 0,
> se 0 < r  10,
I (r ) = 0, 1 · r , se 10 < r  20,
>
:
0, 2 · r , se r > 20.

Bruto Imp. Renda Lı́quido


9.900,00 0,00 9.900,00
10.100,00 1.010,00 9.090,00

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Nova regra para a 2a faixa
Aqueles que ganham mais de 10 mil e até 20 mil vão pagar 10% da
renda menos um valor fixo de k mil
8
< 0,
> se 0 < r  10,
I1 (r ) = (0, 1 · r k), se 10 < r  20,
>
:
0, 2 · r , se r > 20.

Objetivo
Escolher o valor de k de modo que o gráfico não apresente um
salto em r = 10.

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Calculando o valor da dedução
8
< 0,
> se 0 < r  10,
I1 (r ) = (0, 1 · r k), se 10 < r  20,
>
:
0, 2 · r , se r > 20.

Vamos calcular os limites laterais em r = 10:

lim I1 (r ) = lim 0 = 0, lim I1 (r ) = lim+ (0, 1·r k) = 1 k.


r !10 r !10 r !10+ r !10

Para que o limite exista, devemos escolher k = 1.

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Imposto corrigido

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Agora é a sua vez

Aqueles que ganham mais 20 mil vão pagar 20% da renda menos
um valor fixo de b mil. Logo
8
< 0,
> se 0 < r  10,
I2 (r ) = (0, 1r 1), se 10 < r  20,
>
:
(0, 2r b), se r > 20.

1 Calcule os limites laterais em r = 20


2 Determine b para que o gráfico não salte em r = 20

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Agora é a sua vez

Os limites laterais são

lim I2 (r ) = lim (0, 1r 1) = 1,


r !20 r !20

lim I2 (r ) = lim+ (0, 2r b) = 4 b.


r !20+ r !20

Para que o limite exista (e portanto não ocorra um salto) os limites


laterais precisam ser iguais. Isso ocorre se b = 3.

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Agora é a sua vez
Calcule a e b sabendo que a função abaixo é contı́nua
8
> 2
<x + a, se x < 2,
g (x) = b 6, se x = 2,
>
:ax + 3, se x > 2.
Os limites laterais em x = 2 são (4 + a) e (2a + 3). Como o limite
no ponto x = 2 existe, 4 + a = 2a + 3, isto é, a = 1. Além disso,

5 = lim g (x) = g (2) = b 6,


x!2

e portanto b = 11.
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Lei de Boyle
A Lei de Boyle-Morriet afirma que, à tempera-
tura e massa constantes, a pressão absoluta e o
volume de um gás confinado são inversamente
proporcionais.

Assim, para algum k > 0 que depende do gás


em questão, vale
k
V = .
p

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O volume de um gás confinado
Para um certo gás, confinado em um pistão, vale o seguinte:
até a pressão crı́tica p = 100, o volume é dado por 200/p;
na pressão crı́tica o gás se liquidifica, havendo uma alteracão
brusca de volume. Depois disso, o volume passa a ser dado
pela função (2 0, 01 · p), até o pressão máxima p = 150.
8
< 200 , se 0 < p  100,
V (p) = p
:2 0, 01 · p, se 100 < p  150.

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O volume de um gás confinado
Como

lim V (p) = 2, lim V (p) = 1,


p!100 p!100+

não existe o limite no ponto


p = 100.
Logo, V não é contı́nua em p = 100. Ela é contı́nua em p = 150
pois
1
lim V (p) = lim (2 0, 01p) = = V (150).
p!150 p!150 2

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O Teorema do Valor Intermediário (TVI)

Suponha que a função f é contı́nua no intervalo fechado [a, b]. Se


y0 é um valor entre f (a) e f (b), então existe pelo menos um
x0 2 [a, b] tal que f (x0 ) = y0 .

f (b)

y0 O número x0 do enunciado
pode não ser único.
f (a) A continuidade é importante.
a x0 b

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Aproximando raı́zes com o TVI

Procuramos uma raiz para o polinômio


f (x) = x 3 + 4x 2 28.
Como

f ( 1) = 25 < 0 < 35 = f (3),

o gráfico de f liga os pontos A = ( 1, 25) e B = (3, 35) com


uma curva suave. O TVI nos garante a existência de uma raiz no
intervalo [ 1, 3].

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Aproximando raı́zes com o TVI

x f (x) Conclusão Raiz aprox. Erro


1 25
3 35 existe raiz em [ 1, 3] 1 2
1 23 existe raiz em [1, 3] 2 1
Em cada passo o erro reduz pela metade. A raiz que estamos
procurando vale aproximadamente 2, 1361.

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Exemplo 3. Seja P0 um ponto qualquer na superfı́cie da Terra, que vamos supor ser uma
esfera. A semi-reta que liga P0 ao centro da terra fura a superfı́cie em outro ponto P0! , que
chamamos de antı́poda do ponto P0 .
Vamos usar o TVI para provar o seguinte fato curioso: em qualquer instante de tempo,
existe um ponto sobre o equador da Terra cuja temperatura é a mesma do seu ponto antı́poda.

Seja então P0 um ponto fixo em cima do equador e O o centro


da terra. Dado outro ponto Pθ sobre o equador, os segmentos
OP0 e OPθ formam um ângulo θ ∈ (0, 2π), que vamos associar
P0!
ao ponto Pθ . Desta forma, podemos construir uma função T : O
[0, 2π] → R da seguinte forma θ
! P0 Pθ
temperatura no ponto Pθ , se 0 < θ < 2π,
T (θ) =
temperatura no ponto P0 , se θ ∈ {0, 2π}.

A intuição fı́sica nos permite afirmar que a função T é contı́nua, porque pontos próximos
na superfı́cie da terra têm temperaturas próximas. Vamos considerar agora a função contı́nua

g(θ) = T (θ) − T (θ + π), ∀ θ ∈ [0, π],

que mede a diferença de temperatura entre dois pontos antı́podas.


Note que

g(0) = T (0) − T (π), g(π) = T (π) − T (2π) = T (π) − T (0) = −g(0).

Se g(0) = 0, então a temperatura nos pontos P0 e Pπ são guais. Caso contrário, devemos
ter g(0) %= 0. Neste caso, como g(π) = −g(0), os sinais de g(0) e g(π) são opostos. Segue
então do TVI que g(θ0 ) = 0 par algum θ0 ∈ (0, π). Assim, os pontos Pθ0 e Pθ0 +π estão sob a
mesma temperatura.
O argumento acima permanece válido para qualquer outra medida escalar que varia
continuamente sobre a superfı́cie da Terra, por exemplo, a pressão, ou a elevação. Além
disso, não precisamos nos deslocar sobre o equador, mas sim sobre qualquer cı́rcunferência
máxima, por exemplo todas aquelas imaginárias que determinam a longitude de um ponto
na superfı́cie terrestre. !

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