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ESPECIAL PINI 60 ANOS

A evolução do gesso
Criada e consagrada há
mais de um século, a
tecnologia drywall vem
substituindo a alvenaria
convencional nas
vedações internas de
edifícios e residências

POR GISELE C. CICHINELLI

O drywall nasceu como uma solução capaz de resistir aos incêndios que
destruíam as vilas e cidades dos Estados Unidos no final do século 19. Feito a partir
de chapas de gesso fixadas a estruturas de perfis de aço galvanizado, o sistema
podia suportar duas horas sob a ação intensa do fogo. Desde então, seu uso
expandiu-se e logo no começo do século 20 passou a ser usado como sistema de
revestimento interno de edifícios consagrados como o Empire State Building,
executado em estrutura metálica em 1931.
Por aqui, o sistema só passou a ser fabricado em 1972, mais de meio
século depois da sua invenção, quando a primeira fábrica nacional foi instalada em
Petrolina, Pernambuco. Entretanto, seu uso era restrito à aplicação de forros de
áreas comerciais e residenciais. "Havia um completo desconhecimento do sistema
por parte dos usuários", lembra o engenheiro Álvaro Villagran, presidente da
Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas para Drywall.
Com a abertura do mercado nacional nos anos 90 e a chegada das
principais multinacionais fabricantes de chapas para drywall, o mercado se
desenvolveu consideravelmente. Graças às vantagens como flexibilidade e rapidez
de execução, o sistema passou a ser utilizado na construção racionalizada. "Hoje o
nome drywall ultrapassou o produto e pode tanto designar as chapas quanto o
sistema construtivo propriamente dito", explica Carlos Roberto de Luca, consultor
técnico da associação.

Novos usos, novas aplicações


Do uso como divisórias às chapas para revestimentos, paredes e forros
capazes de oferecer conforto acústico e até mesmo a purificação do ar do
ambiente. Muito mais do que evoluções tecnológicas significativas, o mercado
assistiu nos últimos anos a um avanço considerável nas possibilidades de aplicação
do produto.
"A princípio, o drywall era usado como divisória em empreendimentos
comerciais, principalmente onde se pretendia obter um aspecto de alvenaria na
divisão de ambientes evitando a configuração dos modelos convencionais
modulares e com perfis aparentes", relembra José Luis Gonçalvez, membro do
comitê técnico da Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas para Drywall.
Na década de 1990, com o boom da construção de flats, hotéis,
edificações comerciais e salas de cinemas em grandes shoppings, o drywall
consagrou-se como solução capaz de conjugar apelo estético e boa performance
acústica a excelente resistência mecânica e ao fogo. Além disso, vantagens como
limpeza e rapidez na montagem vieram ao encontro das necessidades do então
novo mercado de construção racionalizada, onde a velocidade de execução era
quesito obrigatório.
Para atender às especificidades desse segmento, as placas de gesso
passaram a receber aditivos químicos que conferiram certas características às
chapas. Isso permitiu a criação de produtos como as chapas RU, indicadas para
áreas úmidas (banheiros e cozinhas) e as chapas RF, para situações nas quais há
necessidade de alta resistência ao fogo. "A evolução do drywall é expressiva e
impulsiona o mercado de subsistemas para construção racionalizada", afirma
Salvador Duarte, membro do comitê técnico da Associação Brasileira dos
Fabricantes de Chapas para Drywall.
Quanto às dimensões, as chapas não sofreram alterações significativas.
Mas no quesito peso, elas se tornaram mais leves permitindo que o valor do frete e,
conseqüentemente, o preço final do produto (um entrave para sua popularização)
sofresse uma importante redução. Mas, quando o assunto é o custo do sistema, as
opiniões ainda se dividem. Os fabricantes garantem que o valor de uma parede
drywall é similar ao de uma parede de alvenaria convencional. O arquiteto Henrique
Cambiaghi ressalta, no entanto, que para serem executadas de modo eficiente - ou
seja, levando em conta um sistema de isolamento acústico adequado - tal solução
se torna inevitavelmente mais cara. O preço é um dos principais empecilhos para a
disseminação do produto no mercado residencial, nicho que ainda resiste em
assimilar a relação custo-benefício do sistema. "As pessoas relutam em aceitar o
drywall, principalmente no segmento residencial, mas sem dúvida é um caminho
para o futuro", acredita o projetista de cálculo Ricardo França.
A rapidez de montagem, a facilidade para fazer reparos e a flexibilidade
de layout são os principais apelos dos fabricantes para tentar quebrar a barreira do
preconceito. "Uma saída é tentar vendê-lo como parede flexível, pronta a ser
rapidamente removida para promover a ampliação da sala ou de outras áreas",
observa Cambiaghi.

Sistema completo
Vale lembrar que o sistema completo, tal como é oferecido hoje, é
relativamente novo no país. Atualmente encontra-se uma vasta linha de acessórios
com produtos específicos que vão desde vasos sanitários com saída horizontal a
caixas de luz. Buchas e fixações para drywall também são encontradas com
facilidade nas prateleiras das grandes redes de supermercado. "O mercado nacional
possui todas as peças para atender tanto às construtoras quanto ao consumidor
final", garante Omair Zorzi, também membro do comitê técnico da associação.
Pontos falhos no início da disseminação do sistema, a mão-de-obra
qualificada e assistência técnica capaz de atender rapidamente ao consumidor
também deram um salto de qualidade e quantidade. "No começo, a mão-de-obra
era escassa e até mesmo importada dos Estados Unidos e da Europa, mas isso já
mudou", lembra Villagran.
De olho na qualidade
Itens importantes para garantir o bom desempenho do sistema, os
componentes também passaram por uma verdadeira revolução quanto ao
desempenho e qualidade. Principalmente após a criação, em 2003, do Programa
Setorial de Qualidade (PSQ Drywall) quando componentes como chapas de gesso
acartonado, perfis metálicos, massas e fitas para juntas, parafusos de fixação e os
pendurais para forro passaram a ser alvo de diagnósticos e avaliações constantes.
Atualmente, o programa conta com a maioria dos fabricantes de insumo
do setor. No entanto, o segmento de perfis para drywall merece destaque. "Houve
uma melhora de qualidade significativa do produto após o início do programa",
lembra Cláudio Mitidieri, pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do
Estado de São Paulo). A produção de perfis passou a obedecer à norma brasileira,
utilizando chapas zincadas adequadas (espessura de 0,50 mm e tipo Z275) para
sua produção. Outra conquista relevante foi a gravação da marca e de informações
importantes (como espessura e tipo) nos perfis.
O setor de massas também teve avanços, com a definição de produtos
em conformidade com a norma norte-americana da ASTM que passará a integrar o
conjunto de normas brasileiras para drywall. Para as fitas também serão adotados
os parâmetros da norma norte-americana. "Com os parafusos estamos fazendo um
trabalho mais minucioso a fim de definir o critério de análise da durabilidade desse
item", revela Mitidieri.

Normas de desempenho
Até 2001, o mercado tinha como parâmetro para especificação as
normas estrangeiras, em especial as francesas - foi quando se elaborou o primeiro
conjunto de normas técnicas brasileiras. Diferentemente da norma européia, a
nacional restringe-se às chapas tipo Standard
(resistentes à umidade e ao fogo).
Uma das grandes novidades do texto
normativo é a possibilidade de selecionar tipologias,
detalhes construtivos ou formas de acoplamentos em
função do desempenho esperado. "O foco muda do
produto para o desempenho requerido do sistema",
lembra o relator e compilador dos textos normativos
João de Valentim, da empresa Hexagrama.
Em 2005, a novidade foi a especificação
para perfis destinados a sistemas drywall. Em outros
países já existem normas técnicas para outros
componentes do sistema, como as normas ASTM para
massas de rejuntamento, que brevemente serão
incorporadas à normalização brasileira.

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