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Práticas de Fundações

e Obras de Terra
Profª. Gabriela Azambuja Mendes

Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:
Profª. Gabriela Azambuja Mendes

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

M538p

Mendes, Gabriela Azambuja

Práticas de fundações e obras de terra. / Gabriela Azambuja


Mendes. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

208 p.; il.

ISBN 978-65-5663-073-1

1. Fundações (Engenharia). – Brasil. Centro Universitário Leonardo


Da Vinci.

CDD 624.15

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! Desejamos convidá-lo a estudar o Livro Didático
de Práticas de Fundações e Obras de Terra. Este livro abordará os principais
conceitos relacionados aos tipos de fundações e obras. Está dividido em
três unidades: Unidade 1 – Geotecnia de fundações, Unidade 2 – Fundações
e, por fim, a Unidade 3 – Requisitos de qualidade e obras complementares.
Além disso, serão disponibilizadas leituras complementares associadas à
prática dos temas estudados, aprofundando os conceitos e tendo uma visão
mais ampla da vida profissional.

A Unidade 1 apresenta os principais conceitos de fundações,


divididos em fundações superficiais e profundas. Em seguida, o foco será as
investigações geotécnicas utilizadas em campo, analisando qual a fundação
ideal para cada terreno e seu solo estudado. Por fim, serão apresentadas as
principais classificações de solos e métodos de estabilização dos maciços.

A Unidade 2 abordará as fundações, suas capacidades de carga


e dimensionamento. Inicia-se apresentando fórmulas e métodos para
determinação da capacidade de carga de estacas. Em seguida, apresentam-
se os dimensionamentos geométricos de sapatadas (e seus tipos), de tubulão
e também de estacas. Por fim, a unidade encerra com o foco nos recalques da
fundação, de grande importância na engenharia, e os métodos de precisão.

A Unidade 3 terá, como objetivos, a verificação da qualidade e do


desempenho das fundações e as incertezas em relação a essa estrutura e
coeficiente de segurança. Impactos ambientais das fundações também serão
tema desta unidade, que finaliza conceituando as diversas obras de terra
complementares na construção civil.

Esperamos que você, acadêmico, consiga se dedicar a esta disciplina


e se aprofundar ainda mais em cada conceito para que esteja preparado para
o futuro profissional.

Boa leitura e bons estudos!

Profª. Gabriela Azambuja Mendes


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES............................................................................. 1

TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA........................................................ 3


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES.................................................................................................... 3
3 FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS........................................................................................................... 5
3.1 BLOCO.............................................................................................................................................. 6
3.2 RADIER............................................................................................................................................. 6
3.3 SAPATA............................................................................................................................................. 7
4 FUNDAÇÕES PROFUNDAS............................................................................................................. 9
4.1 ESTACAS.......................................................................................................................................... 9
4.1.1 Estacas de deslocamento....................................................................................................... 9
4.1.2 ESTACAS ESCAVADAS...................................................................................................... 10
4.2 TUBULÃO....................................................................................................................................... 15
4.3 CAIXÃO.......................................................................................................................................... 18
5 ATIVIDADE PRÁTICA 1.................................................................................................................. 19
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 22

TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS.................................................................. 25


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 25
2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA................................................................................................... 25
3 STANDARD PENETRATION TEST (SPT)................................................................................... 26
3.1 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO................................................................................................ 31
3.2 SPT-T................................................................................................................................................ 34
4 O ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU)................................................................. 35
4.1 EQUIPAMENTOS DE ENSAIO................................................................................................... 35
4.2 RESULTADOS DO ENSAIO........................................................................................................ 38
4.3 RELAÇÕES ENTRE SPT E CPT................................................................................................... 40
5 ENSAIO DA PALHETA.................................................................................................................... 41
5.1 PROCEDIMENTOS..................................................................................................................... 41
5.2 RESULTADOS DO ENSAIO................................................................................................. 42
6 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO................................................................................................... 43
7 ATIVIDADE PRÁTICA 2 ................................................................................................................. 44
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 47
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 48

TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA................................... 51


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 51
2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS .................................................................................................... 51
3 MECÂNICA DOS SOLOS NA ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES......................................... 54
4 ESTABILIZAÇÃO DE MACIÇOS................................................................................................. 55
4.1 INJEÇÕES..................................................................................................................................... 55
4.2 CONGELAMENTO DO SOLO.................................................................................................. 57
5 INTERAÇÃO SOLO-FUNDAÇÃO................................................................................................. 58
6 ESTABILIDADE DE TALUDES....................................................................................................... 58
6.1 MÉTODOS DE ANÁLISE DA SEGURANÇA DOS TALUDES.............................................. 62
7 ATIVIDADE PRÁTICA 3.................................................................................................................. 72
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 74
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 76
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 77

UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES............................................................................................................ 79

TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA........................................................................................ 81


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 81
2 RESISTÊNCIA DE UMA ESTACA................................................................................................. 81
3 FÓRMULAS DINÂMICAS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE ESTACAS.........83
3.1 FÓRMULA DE BRIX..................................................................................................................... 83
3.2 FÓRMULA DOS HOLANDESES (WOLTMANN)................................................................... 84
3.3 FÓRMULA DO ENGINEERING NEWS RECORD.................................................................... 84
3.4 FÓRMULA DE HILEY.................................................................................................................. 84
4 MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE
ESTACAS................................................................................................................................................. 87
4.1 MÉTODO DE AOKI E VELLOSO............................................................................................... 87
4.2 MÉTODO DE DÉCOURT E QUARESMA................................................................................. 91
5 PROVA DE CARGA PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE ESTACAS............ 94
6 ATIVIDADE PRÁTICA..................................................................................................................... 96
7 ATIVIDADE PRÁTICA..................................................................................................................... 97
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 99
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 100

TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO.............................................................. 103


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 103
2 DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES RASAS................................................................. 103
2.1 DIMENSIONAMENTO DE SAPATAS..................................................................................... 103
2.1.1 Sapatas isoladas.................................................................................................................. 104
2.1.2 Sapatas associadas.............................................................................................................. 106
2.1.3 Sapatas de divisa................................................................................................................. 109
3 DIMENSIONAMENTO DE TUBULÃO...................................................................................... 113
4 DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS........................................................................................ 114
4.1 EFEITO DE UM GRUPO DE ESTACAS................................................................................... 117
5 ATIVIDADE PRÁTICA................................................................................................................... 121
6 ATIVIDADE PRÁTICA................................................................................................................... 122
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 123
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 124

TÓPICO 3 — RECALQUES............................................................................................................... 125


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 125
2 RECALQUES EM FUNDAÇÕES .................................................................................................. 125
2.1 MÉTODOS DE PREVISÃO DE RECALQUE . ........................................................................ 127
2.2 CAUSAS DO RECALQUE.......................................................................................................... 130
2.2.1 Rebaixamento do lençol freático...................................................................................... 130
2.2.2 Solos colapsíveis................................................................................................................. 131
2.2.3 Escavações em áreas adjacentes à fundação................................................................... 131
2.2.4 Vibrações.............................................................................................................................. 131
2.2.5 Escavações de túneis.......................................................................................................... 131
3 TIPOS DE MOVIMENTO DE UMA FUNDAÇÃO................................................................... 131
4 DANOS ÀS EDIFICAÇÕES........................................................................................................... 132
5 ATIVIDADE PRÁTICA .................................................................................................................. 134
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 135
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 137
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 138

UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES............. 141

TÓPICO 1 — VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO................................ 143


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 143
2 APRIMORAMENTO DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL................................... 143
3 QUALIDADE E INCERTEZAS PARA FUNDAÇÕES............................................................... 144
3.1 A QUALIDADE PARA INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS E PARÂMETROS................ 144
3.2 ESPECIFICIDADES PARA OBRAS DE FUNDAÇÕES.......................................................... 145
3.3 REGIÃO DO TERRENO............................................................................................................. 145
3.4 QUALIDADE NO PROCESSO DE PRODUÇÃO................................................................... 146
3.4.1 Fundações Diretas por Sapatas, Blocos e Radiers.......................................................... 146
3.4.2 Fundações Profundas por Tubulões................................................................................ 146
3.4.3 Fundações Diretas por Estacas Moldadas In Loco........................................................ 147
4 COEFICIENTES DE SEGURANÇA.............................................................................................. 148
5 REFORÇOS NAS FUNDAÇÕES................................................................................................... 148
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 152
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 153

TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE................................................................... 155


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 155
2 IMPACTOS AMBIENTAIS DE FUNDAÇÕES........................................................................... 155
2.1 RUÍDOS......................................................................................................................................... 155
2.2 VIBRAÇÕES................................................................................................................................. 156
2.3 CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA E DO AR............................................................................... 158
2.4 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS.................................................................................................... 159
3 IMPACTOS AMBIENTAIS EM BARRAGENS.......................................................................... 159
4 ATIVIDADE PRÁTICA 9................................................................................................................ 165
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 166
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 167

TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES................................................................................ 169


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 169
2 CONTENÇÃO DE SOLOS............................................................................................................. 169
2.1 MUROS DE ARRIMO................................................................................................................. 169
2.2 MUROS DE GRAVIDADE.......................................................................................................... 170
2.3 MURO DE PEDRA...................................................................................................................... 170
2.4 MUROS DE CONCRETO CICLÓPICO.................................................................................... 171
2.5 MUROS DE GABIÕES................................................................................................................ 172
2.6 MUROS DE SACOS DE SOLO-CIMENTO.............................................................................. 173
2.7 MURO DE SOLO-PNEUS........................................................................................................... 174
2.8 MUROS DE FLEXÃO.................................................................................................................. 175
2.9 MUROS DE CONTRAFORTES................................................................................................. 175
2.10 MURO ANCORADO NA BASE.............................................................................................. 176
2.11 MUROS REFORÇADOS COM GEOSSINTÉTICOS............................................................. 176
3 CORTINA ATIRANTADA.............................................................................................................. 178
4 SOLO GRAMPEADO...................................................................................................................... 179
5 TERRA ARMADA............................................................................................................................ 180
6 INFLUÊNCIA DA ÁGUA............................................................................................................... 181
7 ESCORAMENTOS........................................................................................................................... 183
7.1 ESCORAMENTO DE MADEIRA.............................................................................................. 184
7.2 ESCORAMENTO METÁLICO.................................................................................................. 184
7.3 ESCORAMENTO DE CONCRETO........................................................................................... 185
7.4 DIFICULDADES DE EXECUÇÃO DOS ESCORAMENTOS................................................ 186
7.5 DANOS INDUZIDOS ................................................................................................................ 187
8 MURO DE ARRIMO – DIMENSIONAMENTO........................................................................ 188
8.1 PERFIL RETANGULAR.............................................................................................................. 188
8.2 PERFIL TRAPEZOIDAL............................................................................................................. 188
9 DIMENSIONAMENTO PARA SOLOS NÃO COESIVOS UTILIZANDO A TEORIA DE
RANKINI............................................................................................................................................... 189
10 ATIVIDADE PRÁTICA 10............................................................................................................ 196
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 198
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 200
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 201
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 205
UNIDADE 1 —

GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar e classificar as fundações em superficiais ou profundas;


• assimilar os conceitos de fundações superficiais e seus subtipos, como
bloco, radier e sapata;
• assimilar os conceitos de fundações profundas e seus subtipos, como es-
taca, tubulão e caixão;
• definir as etapas da investigação geotécnica;
• conhecer os principais processos de investigação, como o Standard Pene-
tration Test (SPT), Ensaio de Cone (CPT), Piezocone (CPTU), Ensaio de
Palheta e o Ensaio Pressiométrico;
• conhecer os principais materiais que compõem o solo;
• avaliar as técnicas de estabilização de maciços rochosos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA


TÓPICO 2 – INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS
TÓPICO 3 – PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico, abordaremos os conceitos de fundações, suas
terminologias e seus subtipos.

A geotecnia é uma das áreas da engenharia civil que aplica os diversos


conhecimentos da engenharia no projeto e execução dos elementos das
construções, necessitando da análise do comportamento de solos e/ou rochas. É
necessário proceder com a identificação e classificação das diversas camadas que
compõem o substrato a ser analisado, além da avaliação das suas propriedades
relacionadas à engenharia (QUARESMA et al., 1998).

O foco será a engenharia de fundações, ou seja, é preciso analisar o que


há abaixo das estruturas que vemos nas cidades, partindo do seguinte princípio:
toda obra de engenharia (sejam casas, edifícios, pontes, aeroportos, barragens
etc.) necessita de uma base sólida e estável para cumprir adequadamente a sua
finalidade.

A engenharia de fundações é uma arte que se aprimora pela experiência,


com o comportamento das fundações devidamente observado e
interpretado. Por outro lado, todo desenvolvimento de técnicas de
projeto e de execução das fundações depende do entendimento dos
mecanismos de comportamento dos solos (PINTO, 1998, p. 51).

Dentro desse contexto, será analisada a atuação do engenheiro geotécnico,


além da importância da investigação geotécnica na engenharia. É preciso conhecer
os principais processos de investigação e quais parâmetros do solo, como
resistência e estabilidade, realizando um planejamento, e como essas informações
são transmitidas em laudos e relatórios.

2 ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES
O projeto e a execução de fundações, ou seja, a engenharia de fundações,
requerem conhecimentos de geotecnia e cálculo estrutural. Em geral, a estrutura
calculada por um engenheiro estrutural, que supõe que os apoios são indeslocáveis,
resultando em um conjunto de cargas (forças verticais, forças horizontais e
momentos), é passada ao projetista de fundações. Com o auxílio de uma série de
elementos e informações, ele projeta as fundações da obra. Acontece que, essas
fundações, quaisquer que sejam, quando carregadas, solicitarão o terreno que

3
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

se deforma. Dessas deformações, resultam deslocamentos verticais (recalque),


horizontais e rotações. Com isso, a hipótese usual de apoios indeslocáveis fica
prejudicada, e nas estruturas hiperestáticas, que são a grande maioria, as cargas
inicialmente calculadas são modificadas. Chega-se, assim, ao conhecido problema
da interação solo-estrutura.

Todo projeto de fundações contempla as cargas aplicadas pela obra e


a resposta do solo a essas solicitações. Os solos são muito distintos entre si e
respondem de maneira muito variável, por isso, toda experiência transmitida
pelas gerações de construtores sempre se relaciona ao tipo de solo existente.
O engenheiro de fundações deve participar da análise desse problema com o
engenheiro estrutural.

Na engenharia de fundações, o profissional lidará com um material com


o qual pouco pode atuar, ou seja, tem que aceitá-lo tal como ele se apresenta,
com suas propriedades e comportamentos específicos. Assim, desde o início da
concepção e do projeto de uma obra, devem ser levadas em conta as condições do
solo no cálculo. Pode assegurar-se que a economia da obra muito ganharia.

Nos projetos de engenharia, qualquer tomada de decisão é fundamentada


em uma previsão. Segundo Velloso e Lopes (2011), o esquema do processo de
previsão em engenharia geotécnica é definido em etapas.

FIGURA 1 – ESQUEMA DO PROCESSO DE PREVISÃO

4
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

FONTE: Velloso e Lopes (2011, p. 3)

A avaliação das previsões é indispensável, ou seja, examiná-las e interpretá-


las em função dos seus resultados são ações fundamentais para o estudo.

Um dos primeiros cuidados do projetista de fundações deve ser o emprego


da terminologia correta. Do latim “fundare”, significa apoiar, firmar, fixar. Chama-
se fundação a parte de uma estrutura que transmite ao terreno subjacente a carga
da obra.

De acordo com Cintra e Aoki (2010), a fundação pode ser observada como
um sistema composto, não apenas pelo elemento estrutural, mas pelo maciço
de solo. O objetivo do sistema é fazer a interação entre o elemento de fundação
e o solo, ocorrendo a transmissão ao solo das cargas recebidas da edificação,
promovendo, dessa forma, as condições mínimas de segurança da estrutura. Os
principais tipos de fundações podem ser reunidos em dois grupos:

• Fundações superficiais.
• Fundações profundas.

Algumas obras possuem características específicas que impõem um certo


tipo de fundação. Outras podem permitir uma variedade de soluções. Assim, é
necessário um estudo das alternativas existentes, além de uma escolha baseada
em menor custo e menor prazo de execução (VELLOSO; LOPES, 1998).

3 FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
As fundações superficiais, também conhecidas como fundações diretas ou
rasas, são empregadas em camadas do subsolo abaixo das estruturas capazes de
suportar as cargas. No grupo, incluem-se: bloco, radier, sapata, grelha etc.

5
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

3.1 BLOCO
Segundo a norma NBR 6122 (ABNT, 2019), algumas definições são dadas
às fundações superficiais:

Bloco: elemento de concreto, apresentado a seguir, dimensionado de


modo que as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo concreto, sem
necessidade de armadura. É caracterizado por uma altura relativamente grande,
importante para que trabalhem essencialmente com a compressão.

FIGURA 2 – BLOCO DE FUNDAÇÃO

FONTE: Teixeira e Godoy (1998, p. 227)

3.2 RADIER
Radier: elemento de fundação que abrange parte ou todos os pilares de
uma estrutura, distribuindo seus carregamentos.

A utilização de sapatas corridas é adequada economicamente enquanto


a sua área em relação à da edificação não ultrapasse 50%. Caso contrário, é mais
vantajoso reunir todas as sapatas em um só elemento: radier.

O fato de o radier ser uma peça inteiriça pode conferir uma alta rigidez, o
que, muitas vezes, evita grandes recalques diferenciais (BRITO, 1987). Uma outra
vantagem é que sua execução cria uma plataforma de trabalho para os serviços
posteriores, impondo a execução precoce de todos os serviços enterrados na área
do radier, como instalações hidrossanitárias.

6
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

FIGURA 3 – DETALHES CONSTRUTIVOS DE UM RADIER LISO

FONTE: <http://blogpraconstruir.com.br/etapas-da-construcao/radier/>. Acesso em: 12 set. 2019.

Quanto ao sistema estrutural, os radiers ainda podem ser divididos em


quatro diferentes classificações:

• Radiers lisos.
• Radiers com pedestais ou cogumelos.
• Radiers nervurados.
• Radiers em caixão.

FIGURA 4 – TIPOS DE RADIERS

FONTE: Velloso e Lopes (1998, p. 215)

3.3 SAPATA
Sapata: elemento de fundação superficial, de concreto armado,
dimensionado de modo que as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo
emprego de armadura especialmente disposta para tal fim. Possui pequena altura
em relação às dimensões da base. Ao contrário dos blocos, que trabalham por
compressão simples, as sapatas trabalham a flexão.

7
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

Segundo Velloso e Lopes (1998), as sapatas podem assumir a forma


quadrada (B=L, em que a dimensão lateral é a mesma da base), sapata corrida
(L>>B) e sapata retangular (para segurança nos cálculos geotécnicos, utiliza-se
L ≤ 5B). Ainda, as sapatas podem ser associadas em razão das disposições dos
pilares.

Sapata corrida: elemento sujeito à ação de uma carga distribuída


linearmente (parede) ou pilares ao longo de um alinhamento (às vezes, baldrame).
Um exemplo é apresentado a seguir.

FIGURA 5 – SAPATA CORRIDA

FONTE: <https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQSlahQMdViPofIC--IW26S-
DkKmUq9IcSJdcJLSdaWLM9pxj0L9dA&s>. Acesso em: 14 set. 2019

Sapata associada: recebe a carga de parte dos pilares da obra. Um ponto


que a difere do radier (recebe todos os pilares) é que os pilares na sapata associada
não, necessariamente, precisam estar alinhados. É, basicamente, a sapata mais
comum de um pilar.

8
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

FIGURA 6 – SAPATA ASSOCIADA

FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-Oa6-akATYzY/TkPxuOXwFzI/AAAAAAAAAP4/2ukbZAH1zbo/
s320/funda%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019.

Sapata isolada: são aquelas que, através da sua base, transmitem, para o
solo, a carga de um pilar.

4 FUNDAÇÕES PROFUNDAS
São as fundações que transmitem as cargas por efeito de atrito lateral
(resistência de fuste) do elemento com o solo e/ou por efeito de ponta. Os
principais tipos são: estaca, tubulão e caixão.

4.1 ESTACAS
Estacas: elementos de fundação profunda executados por ferramentas ou
equipamentos, execução esta que pode ser por deslocamento, por escavação ou,
ainda, mista. São elementos estruturais esbeltos quando comparados aos blocos
(ABNT, 2019).

4.1.1 Estacas de deslocamento


Estacas de deslocamento são introduzidas no solo por um processo que
não promova retirada de um material. O processo pode ser por cravação ou
prensagem, ou seja, desloca horizontalmente o solo, dando lugar à estaca que
ocupará o espaço.

Exemplos de estacas de deslocamento são as pré-moldadas em concreto


armado, estacas metálicas, de madeira, apiloadas de concreto e as estacas que são
concretadas in loco dentro de um tubo de revestimento, de aço.
9
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

a) Estacas pré-moldadas em concreto: são estacas constituídas de segmentos


de concreto pré-moldado ou pré-fabricado e introduzidas no terreno por
golpes de martelo de gravidade, explosão, hidráulico ou martelo vibratório.
Segundo Melhado et al. (2002), são estacas que podem ser de concreto armado
ou protendido. Como problemas de transporte e equipamento, possuem
limitações de comprimento.
b) Estaca metálica ou aço: estaca cravada, constituída de elemento estrutural
produzido industrialmente, podendo ser de perfis laminados ou soldados,
trilhos soldados ou estacas tubulares (ABNT, 2019). Segundo Melhado et al.
(2002), pode ser cravada em quase todos os tipos de terreno, atingir grande
capacidade de carga, trabalha bem a flexão e, se utilizada em serviços
provisórios, pode ser reaproveitada várias vezes.

As estacas metálicas são soluções com grande capacidade de carga,


aliadas à facilidade de cravação. O metal deve resistir à corrosão, seja por sua
constituição ou realização de um tratamento adequado.

Quando não for realizado tratamento no perfil de aço, considera-se uma


redução de 1,5 mm (1/16”) na espessura do perfil, para cálculo da capacidade de
carga. Multiplicada a área da seção transversal do perfil pela taxa admissível do
aço (1200 Kg/cm²), obtém-se a capacidade de carga da estaca. O comprimento da
estaca poderá ser determinado através do ensaio de penetração estática.

c) Estaca de madeira: é utilizada desde os tempos remotos como elemento de


fundação. As madeiras mais utilizadas são de eucalipto, aroeira, maçaranduba,
peroba-do-campo etc. São utilizados troncos de árvores, preferencialmente
retos e regulares, cravados no solo por choque. Ainda, devem contemplar os
requisitos de durabilidade e resistência (CAPUTO; CAPUTO; RODRIGUES,
2015).

4.1.2 ESTACAS ESCAVADAS


Estacas escavadas são executadas in situ através da perfuração do terreno,
com remoção do material (solo), com ou sem revestimento e fluído estabilizante,
ou seja, ao serem executadas, substituem o solo, removendo e dando lugar à
estaca que ocupará um espaço do solo removido.

Exemplos de estacas escavadas são as Strauss, Franki, raiz, hélices


contínuas, estacas tipo broca, estações, estacas injetadas etc.

a) Estaca Strauss: executada por perfuração do solo com uma sonda ou piteira
e revestimento total com camisa metálica, realizando-se o lançamento do
concreto, além da retirada gradativa do revestimento com o apiloamento do
concreto (ABNT, 2019).

10
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

O procedimento executivo inicia com a abertura no solo, através de


uma sonda (piteira) para introdução dos tubos metálicos segmentados, os quais
são rosqueados entre si, até que atinjam a profundidade prevista em projeto.
Sequencialmente, é realizada a concretagem da estaca “in loco”. Na etapa, o
revestimento metálico é retirado do solo e, paralelamente, ocorre o apiloamento do
concreto. A seguir, são apresentados os equipamentos utilizados no procedimento
executivo.

FIGURA 7 – EQUIPAMENTOS PARA EXECUÇÃO DE ESTACA STRAUSS

FONTE: <https://www.totalconstrucao.com.br/wp-content/uploads/2019/04/Estaca-Strauss-
-Sonda-ou-Piteira.jpg>. Acesso em: 14 set. 2019.

As estacas Strauss apresentam uma reduzida trepidação, o equipamento


utilizado é rústico, simples e de fácil locomoção no canteiro de obras. Durante a
percussão, o método permite a retirada de amostragens do solo.

Os aspectos negativos do procedimento executivo estão relacionados à


geração de lama no canteiro de obras, aos problemas vinculados à qualidade e
resistência do concreto quando produzido “in loco” e à dependência de mão de
obra para a montagem do tripé, troca dos tubos etc.

b) Estaca Franki: moldada in loco e executada por cravação, por meio de


sucessivos golpes de um pilão, de um tubo de ponta fechada por uma bucha
seca constituída de pedra e areia, previamente firmada na extremidade inferior
do tubo por atrito. A estaca possui base alargada e é integralmente armada
(ABNT, 2019).

No processo executivo, é utilizado um equipamento do tipo bate estacas,


o qual realiza os golpes de um pilão no solo, até que este atinja a profundidade
prevista em projeto. A etapa seguinte consiste em alargar a base da estaca (bulbo)
através do apiloamento de um material granular (bucha seca), cujo tamanho é
definido em projeto. A armadura é posicionada no interior da estaca, sendo que,

11
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

neste tipo de estaca, sempre haverá uma armadura mínima. Posteriormente,


é realizada a concretagem. O concreto é introduzido no interior da estaca e,
posteriormente, é realizada a compactação, com a retirada do tubo.

FIGURA 8 – PROCEDIMENTO EXECUTIVO DA ESTACA FRANKI

FONTE: Adaptado de Pereira (2017)

DICAS

Confira a animação sobre o processo executivo de estacas Franki. FONTE:


https://www.youtube.com/watch?v=bGv8f-Vaczk.

c) Estaca raiz: estaca armada e preenchida com argamassa de cimento e


areia, moldada in loco, executada através de perfuração rotativa ou rotopercussiva.
Revestida integralmente, no trecho em solo, por um conjunto de tubos metálicos
recuperáveis (ABNT, 2019).

Segundo Pereira (2017), a estaca raiz se caracteriza por apresentar elevada


tensão de trabalho ao longo do fuste (coluna que liga a base e o topo), inteiramente
armado em todo seu comprimento.

São estacas com capacidade de carga alta (até 140 tf), apresentam recalques
reduzidos, podem ser executadas inclinadas e em todo tipo de terreno e causam
mínima perturbação sonora. No entorno, os equipamentos utilizados possuem

12
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

porte médio, permitindo, dessa forma, execução em áreas com limitação de espaço.
Alguns efeitos negativos da implementação da estaca raiz estão relacionados ao
custo elevado, ao alto consumo de aço e cimento e à presença de água no canteiro
de obras.

O processo executivo de estaqueamento se constitui em quatro etapas


fundamentais:

1ª etapa) Perfuração do solo: nesta etapa, o terreno é perfurado através de um


tubo de aço, este que rotaciona com uma carga axial para baixo. A água aplicada
no processo de perfuração é injetada no interior do tubo e retorna externamente,
removendo, dessa forma, o material desagregado pela coroa.
2ª etapa) Colocação da armadura: após todo o material desagregado ser removido,
posiciona-se a armadura no interior da estaca.
3ª etapa) Injeção de argamassa: nesta etapa, inicia-se a injeção de argamassa de
cimento e areia, com um consumo mínimo de 600 Kg de cimento por metro cúbico
de argamassa.
4ª etapa) Retirada dos tubos com complemento de argamassa: finalizando o
processo de execução da estaca raiz, os tubos de perfuração são removidos do
solo por meio de ar comprimido, e a estaca é complementada com argamassa,
preenchendo todo o espaço perfurado.

A Figura 9 exemplifica o procedimento executivo:

FIGURA 9 – PROCEDIMENTO SEQUENCIAL DE EXECUÇÃO DE ESTACA RAIZ

FONTE: Adaptado de Pereira (2017)

A figura a seguir exemplifica o processo de execução da estaca raiz nos


Terminais Integrados: Norte (Itoupavas) e Oeste (Águas Verdes), na cidade de
Blumenau/SC.

13
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 10 – EXECUÇÃO DE ESTACA RAIZ

FONTE: <https://seel.com.br/galeria-de-fotos/galeria-fundacoes>. Acesso em: 14 set. 2019.

d) Hélice Contínua: conforme descreve a NBR 6122 (ABNT, 2019), a estaca hélice
contínua é moldada in loco, executada por meio da introdução, no terreno,
por rotação, de um trado helicoidal contínuo e com injeção de concreto pela
haste central do trado. Simultaneamente, com a retirada, após a concretagem,
é inserida a armação. Velloso e Lopes (2010) apontam que a colocação da
armadura, no processo executivo da estaca hélice contínua, é feita após
o término da concretagem, com introdução por operários. Com isso, um
dos pontos de atenção durante a execução das estacas está relacionado ao
fornecimento de concreto bombeado, apresentando características inerentes ao
processo executivo, principalmente no que diz respeito ao slump test. Assim,
é fundamental o estudo logístico da região para que não haja interrupção no
fornecimento durante a concretagem da estaca.

A seguir, é possível observar um resumo das estacas.

14
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

QUADRO 1 – RESUMO DAS ESTACAS E SUAS CLASSIFICAÇÕES

Concreto
Pré-moldada Metálica De deslocamento
Madeira
Franki De deslocamento
Estacas Raiz Sem deslocamento
Broca
Moldada in loco
Strauss
Escavadas
Hélice
Escavada com lama
FONTE: Adaptado de Campos (2015)

4.2 TUBULÃO
É elemento de fundação profunda, escavado no terreno em que, pelo
menos, na etapa final, há descida de pessoas, que se faz necessária para executar
o alargamento de base. Ainda, pode haver a limpeza do fundo da escavação, uma
vez que neste tipo de fundação as cargas são transmitidas preponderantemente
pela ponta. Os tubulões podem ser agrupados em dois grupos: tubulões a céu
aberto e os que empregam ar comprimido.

a) Tubulão a céu aberto: consiste em um poço aberto manualmente ou


mecanicamente (com trado rotativo) em solos coesivos (secos), de modo que
não haja desmoronamento durante a escavação, e acima do nível d’água.
Quando há tendência de desmoronamento, reveste-se o furo com alvenaria
de tijolo, tubo de concreto ou tubo de aço. O fuste (poço) é escavado até a cota
desejada, a base é alargada e, posteriormente, enche-se de concreto (BRITO,
1987).

O processo executivo inicia-se com a escavação do fuste. Na parte inferior,


é escavada uma base (B) com diâmetro igual ou maior a três vezes o diâmetro
do fuste (B≥3df), sendo que o diâmetro mínimo do fuste deve ser de 70 cm. Em
seguida, são colocadas as armaduras e, posteriormente, é feita a concretagem. A
seguir, é possível observar o procedimento executivo.

15
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 11 – PROCEDIMENTO SEQUENCIAL DE TUBULÃO A CÉU ABERTO

FONTE: <http://www.basestrauss.com.br/tubulao.html>. Acesso em: 14 set. 2019.

b) Tubulão a ar comprimido (pneumático): é utilizado quando existe água,


são exigidas grandes profundidades e existe o risco de desmoronamento das
paredes. No caso, a injeção de ar comprimido nos tubulões impede a entrada
de água, pois a pressão interna é maior, sendo a pressão empregada no máximo
de 3 kg/cm² (30 metros de coluna d’água), limitando a profundidade em 30m
abaixo do nível. Assim, é possível que sejam executados, normalmente, os
trabalhos de escavação, alargamento do fuste e concretagem.

São também executados com camisas pré-moldadas, em módulos, que


variam de 3m a 4m, com uma cravação feita manualmente em um espaço confinado,
utilizando ar comprimido (CAMPOS, 2015). Essa camisa também oferece uma
segurança ao operário durante a descida manual em um solo. Portanto, o tubulão
trabalha com sua “estrutura” fechada para que, em nenhum momento, exista a
presença de água dentro do ambiente de escavação (MARANGON, 2018).

Os tubulões pneumáticos são, atualmente, pouco empregados no mundo


todo, devido aos riscos e custos envolvidos. No Brasil, observa-se uma tendência
de redução de utilização do método (ALONSO; GOLOMBEK, 1998).

16
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

FIGURA 12 – TUBULÃO A AR COMPRIMIDO

FONTE: Fogaça (2012, p. 12)

De acordo com Albiero e Cintra (1998) e Alonso e Golombek (1998), os


tubulões apresentam vantagens como:

• Custos de mobilização e desmobilização inferiores aos custos referentes aos


bate-estacas e outros equipamentos, influenciando nos custos totais.
• Os ruídos e vibrações são de baixa intensidade durante o processo executivo.
• Durante a escavação, o engenheiro de fundações pode observar e classificar o
solo retirado e compará-lo com as condições de subsolo previstas em projeto.
• O diâmetro e o comprimento dos tubulões podem ser modificados durante a
escavação para compensar condições de subsolo diferentes das previstas.
• Durante as escavações, solos com pedras e matacões podem ser atravessados,
especialmente em estacas de grande diâmetro, sendo possível a penetração em
rochas.
• É possível apoiar cada pilar em um fuste único, no lugar de diversas estacas,
eliminando a necessidade de bloco de coroamento.
• As escavações podem atravessar solos com pedras e matacões, especialmente
se existem grandes diâmetros com penetração de vários tipos de rocha.

17
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

4.3 CAIXÃO
Caixão: elemento de fundação de forma prismática, concretado na
superfície e instalado por escavação interna. No geral, de volumes muito maiores
que os tubulões.

ATENCAO

Qual será o sistema de fundação utilizado no prédio mais alto do mundo?


Você já conheceu o radier estaquiado?
O radier estaqueado consiste em associações de uma estaca, ou grupo de estacas, com um
elemento de fundação superficial (sapata, radier) ou bloco de coroamento, com ambas as
partes contribuindo para a transmissão das cargas ao maciço de solo.
A diferença básica entre o radier estaqueado e os grupos convencionais é que, nesses
últimos, o elemento de ligação bloco de coroamento não está em contato com o solo.
Dentre os casos em que se empregou esse tipo de fundação, destaca-se o edifício mais alto
do mundo, localizado em Dubai, nos Emirados Árabes, denominado Burj Khalifah, com 828
m de altura. Esse edifício está apoiado sobre um radier estaqueado com 3,5 m de espessura,
sobre 194 estacas escavadas de 1,5 metro de diâmetro.

FIGURA 13 – EDIFÍCIO BURJ KHALIFA

FONTE: <https://www.burjkhalifa.ae/en/the-tower/gallery/>. Acesso em: 14 set. 2019.

18
TÓPICO 1 — TIPOS DE FUNDAÇÕES E TERMINOLOGIA

FIGURA 14 – PERSPECTIVA DO RADIER ESTAQUEADO DO BURJ KHALIFA

FONTE: Hernéndez (2014, p. 7)

5 ATIVIDADE PRÁTICA 1
OBJETIVOS

• Analisar uma situação de campo em que é necessário realizar uma fundação


profunda.
• Analisar um relatório de cravação e, paralelamente, um relatório de sondagem
para a mesma região.
• Determinar o comprimento de cravação das estacas.
• Verificar as camadas mais resistentes e a implicação no processo executivo.

Imagine que você é o engenheiro geotécnico responsável pelo projeto de


fundação de uma edificação residencial multifamiliar com seis pavimentos. O
terreno está localizado distante de outras edificações e, financeiramente, o sistema
executivo de fundação profunda com estacas pré-moldadas se apresenta atrativo.
No terreno em que será realizada a execução do projeto, foi realizado laudo de
sondagem, cravação de uma estaca-teste, o relatório de cravação e o laudo de
sondagem em determinado local do terreno.

Chama-se diagrama de cravação o número de golpes do martelo na estaca,


necessários para cravar um dado comprimento de estaca. Esse número de golpes
tem uma relação direta com a nega: dividindo-se o comprimento escolhido pelo
número de golpes do martelo, tem-se a nega média do comprimento (VIEIRA,
2006). Normalmente, especifica-se nega para o comprimento de cravação nos dez
últimos golpes do pilão na estaca.

19
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

Responda:

1 Você recomenda que seja realizado o estaqueamento utilizando que


profundidade? Caracterize o solo onde a estaca será apoiada.

2 Partiremos do pressuposto de que a estaca pré-moldada parou de descer entre


a profundidade de 17,25 metros e 18,50 metros. Qual ação você tomaria em um
canteiro de obras?

FIGURA 15 – RELATÓRIO DE CRAVAÇÃO

FONTE: Vieira (2006, p. 49)

20
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A fundação pode ser observada como um sistema composto pelo elemento


estrutural e pelo maciço de solo.

• Os principais tipos de fundações podem ser reunidos em dois grupos:


fundações superficiais e profundas. Bloco, radier e sapata são considerados
fundações superficiais. Estaca, tubulão e caixão são considerados fundações
profundas.

• Bloco é um elemento de concreto dimensionado de modo que as tensões


de tração resultantes sejam resistidas pelo concreto, sem necessidade de
armadura. Altura relativamente grande, importante para que seja trabalhada a
compressão.

• Radier é um elemento de fundação que abrange parte ou todos os pilares


de uma estrutura, distribuindo seus carregamentos, podendo ser liso, com
pedestais ou cogumelos, nervurado e/ou em caixão.

• A sapata é um elemento de concreto armado, dimensionado de modo que


as tensões de tração resultantes sejam resistidas pelo emprego de armadura
especialmente disposta. Possui pequena altura em relação às dimensões da
base. Ao contrário dos blocos, que trabalham por compressão simples, as
sapatas trabalham a flexão. Pode ser corrida, associada ou isolada.

• Uma estaca é executada por ferramentas ou equipamentos, execução esta que


pode ser por deslocamento, por escavação ou mista. É um elemento estrutural
esbelto quando comparado aos blocos. Pode ser classificada em estaca pré-
moldada em concreto, metálica ou aço, madeira, Strauss, Franki, raiz e hélice
contínua.

• O tubulão é um poço aberto manualmente ou mecanicamente (com trado


rotativo) em solos coesivos (secos), de modo que não haja desmoronamento
durante a escavação, e acima do nível d’água. O tubulão pode ser a céu aberto
ou pneumático.

• O caixão tem forma prismática, concretado na superfície e instalado por


escavação interna.

21
AUTOATIVIDADE

1 A partir dos procedimentos executivos para estacas, analise as afirmativas


a seguir:

I- São moldadas in loco, armadas em todo o seu comprimento.


II- O furo é preenchido com argamassa mediante bomba de injeção.
III- Não devem ser executadas em solos muito duros ou muito compactos, ou
quando houver ocorrência de matacões.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Sentença I, somente.
b) ( ) Sentença II, somente.
c) ( ) Sentença III, somente.
d) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
e) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

2 Com relação aos procedimentos executivos estabelecidos na NBR 6122:2019 –


Projeto e Execução de Fundações, relacionados ao uso de estacas pré-moldadas
de concreto, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) Se forem utilizadas para obras permanentes, devem ser protegidas


contra o ataque de fungos.
b) ( ) As tensões na cravação devem ser limitadas a 80% da tensão de
escoamento do aço.
c) ( ) Podem ser emendadas através de anéis soldados.
d) ( ) A concretagem deve ser feita no mesmo dia da perfuração, através de
um funil.
e) ( ) Não devem ser utilizadas em areias submersas.

3 Indique o item CORRETO a respeito da execução de fundações profundas:

a) ( ) Um dos problemas executivos da estaca tipo Franki corresponde ao


estrangulamento do fuste em solos granulares.
b) ( ) Os tubulões pneumáticos, a exemplo do tipo Gow, são utilizados
para escavação abaixo do lençol freático com o uso de ar comprimido.
c) ( ) A característica principal das estacas Strauss refere-se ao uso de
bentonita para a estabilização da escavação.
d) ( ) Durante a escavação de um tubulão, tanto o seu diâmetro quanto seu
comprimento podem ser alterados, caso as condições do subsolo sejam
diferentes das previstas.
e) ( ) Em uma estaca hélice, a armação é inserida logo após a execução da
cavidade pela hélice espiral. Em seguida, realiza-se o procedimento de
concretagem.

22
4 Ao observar as estacas a seguir, assinale a que contém as seguintes
características: não permite alívio significativo do terreno, tornando
possível sua execução em solos coesivos ou arenosos, na presença ou não de
lençol freático; elevada produtividade, que exige a central de concreto nas
proximidades do local de trabalho; é executada sobre pressão controlada e
seu processo executivo é isento de vibrações e ruídos.

a) ( ) Estaca Mega.
b) ( ) Estaca Franki.
c) ( ) Estaca Raiz.
d) ( ) Estaca Strauss.
e) ( ) Estaca Hélice Contínua.

23
24
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, serão apresentados os principais processos de investigação
do subsolo para estruturas, além de informações que podem ser obtidas desses
processos.

Para a elaboração de um projeto de fundações ou obras de terra, é


necessário ter conhecimento do local e do subsolo, para que se conheça os tipos
de solo existentes, a profundidade e a resistência da camada, além da localização
do nível d´água, caso exista. Essas informações são obtidas a partir de ensaios
laboratoriais de investigação geotécnica.

2 INVESTIGAÇÃO GEOTÉCNICA
O engenheiro projetista de fundações deve se envolver com a investigação
do solo desde o início. Devem ser identificadas e classificadas as diversas
camadas que compõem o substrato a ser analisado, além de suas propriedades de
engenharia. Na prática, frequentemente, isso não acontece, e o engenheiro recebe
um conjunto de sondagens, além de informações sobre a estrutura. Assim, caso
ocorram eventuais dúvidas que impeçam a execução do projeto, as sondagens
devem ser consideradas como uma investigação preliminar (VELLOSO; LOPES,
2011).

Para uma investigação geotécnica, é necessário relacionar diversos fatores,


como características do meio físico, complexidade da obra e riscos envolvidos.
Então combinados, deverão determinar a estratégia a ser utilizada para o projeto
(SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). Assim, segundo Velloso e Lopes (2011), é
necessário definir as etapas da investigação. São elas:

• Investigação preliminar.
• Investigação de projeto ou complementar.
• Investigação para execução.

A primeira etapa, a investigação preliminar, tem como objetivo conhecer


as principais características do solo. São executadas apenas sondagens para
a percussão. O espaçamento entre as sondagens (também chamado de malha)
costuma ser regular (com espaçamento de 1 furo a cada 20 metros, por exemplo,

25
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

sem que os pontos estejam alinhados) e a profundidade deve caracterizar o


embasamento rochoso. Após a fase, o engenheiro já deverá ter alguma ideia do
tipo de fundação que deverá ser utilizado (VELLOSO; LOPES, 2011).

Na investigação complementar, são executadas mais algumas sondagens,


fazendo com que o total de pontos investigados contemple o mínimo de
exigências normativas. O objetivo é esclarecer as características relevantes do solo
do ponto de vista do comportamento de fundações (VELLOSO; LOPES, 2011).
Podem ser realizadas sondagens mistas ou especiais para retiradas de amostras
indeformadas.

Para qualquer situação, devem existir, no mínimo:

a) duas sondagens para área de projeção em planta do edifício até 200 m²;
b) três sondagens para área entre 200 m² e 400 m².

Por fim, a fase de execução visa confirmar as condições de projeto em


áreas consideradas críticas ou em regiões com grande variação de solo na obra.

Um programa de investigação bem concebido, com avaliação correta


e precisa dos parâmetros do solo, pode ocasionar um ótimo desempenho na
construção, além da otimização entre custo e benefícios da obra.

Os principais processos de investigação geotécnica são:

a) O Standard Penetration Test (SPT).


b) O Ensaio de Cone (CPT) e Piezocone (CPTU).
c) Ensaio de Palheta.
d) Ensaio Pressiométrico.

3 STANDARD PENETRATION TEST (SPT)


O Standard Penetration Test (SPT), também conhecido por sondagem de
simples reconhecimento ou sondagem de solo para percussão, é a ferramenta
geotécnica mais trivial conhecida, e é aplicada, praticamente, no mundo todo.
É um indicativo da densidade de solos granulares e aplicado também para
ser identificada a consistência de rolos coesivos e rochas brandas (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012). A sua execução está normalizada pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT, 2001) e as recomendações constantes, tanto para o
equipamento quanto para o procedimento, devem ser rigorosamente seguidas
para a obtenção de resultados comparáveis com ensaios em outros lugares.

26
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

A sondagem para percussão com SPT é um recurso valioso que pode


facilitar a seleção do tipo de fundação, não importando o porte da obra. Há
influência nos padrões de segurança, qualidade, economia, e a variação do solo
de um determinado ponto de estudo para outro torna necessária a execução de
sondagens em todos os projetos de fundações.

O SPT é uma medida de resistência dinâmica conjugada para uma


sondagem de simples reconhecimento. A perfuração é obtida por tradagem e
circulação de água, sendo utilizado um trépano de lavagem como ferramenta
de escavação. Amostras representativas do solo são coletadas a cada metro de
profundidade por meio de amostrador padrão com diâmetro externo de 50
mm. O procedimento de ensaio consiste na cravação do amostrador no fundo
de uma escavação (revestida ou não), com uma queda de peso de 65 kg a uma
altura de 750 mm. O valor N SPT é o número de golpes necessário para fazer o
amostrador penetrar 300 mm após uma cravação inicial de 150 mm (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012).

Schnaid e Odebrecht (2012) apresentam os equipamentos e seus


componentes necessários para a realização do ensaio SPT. Os equipamentos que
fazem parte do sistema são compostos por seis partes: a) amostrador, b) hastes,
c) martelo, d) torre ou tripé de sondagem, e) cabeça de bater e f) conjunto de
perfuração.

a) Amostrador: possui três partes distintas – cabeça, corpo e sapata. A cabeça possui
uma válvula de esfera em um orifício de drenagem que permite a saída da água
de dentro das hastes e a consequente retenção da amostra de solo dentro do
amostrador. Já o corpo é formado por um tubo bipartido, que permite a inspeção
tátil e visual das amostras, sendo necessário ser inspecionado periodicamente e
substituído sempre que necessário. A amostra coletada no corpo do amostrador
deve ser acondicionada em recipiente hermético e enviada ao laboratório para
a classificação do solo, como características granulométricas, cor e presença de
matéria orgânica. O amostrador possui dimensões bem definidas, não existindo
tolerâncias na norma brasileira. O amostrador padrão tem diâmetro externo
de 50,8 mm ± 2 mm e diâmetro interno de 34,9 mm ± 2 mm. Por fim, a sapata
ou bico deve ser de aço temperado e estar isento de trincas, amassamentos,
ondulações, denteações, rebordos ou qualquer tipo de deformação que altere a
seção e que comprometa o ensaio.

27
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 16 – AMOSTRADOR PADRÃO

FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 26)

b) Hastes: são tubos mecânicos providos de roscas em suas extremidades,


permitindo a ligação por meio do uso de um elemento de conexão. Devem
ser lineares. Apresentando desgastes ou algum empenamento, devem ser
substituídas. Hastes que não estão em seu estado perfeito podem transferir
parte da energia fornecida pelo golpe do martelo para a parede da perfuração,
exigindo, assim, mais golpes para a cravação do amostrador.

c) Martelo: constituído de aço, e com massa de 65kg, é o elemento que aplica o


golpe na cabeça de bater, haste e amostrador. Deve ser de forma prismática
ou cilíndrica, tendo encaixado, na parte inferior, um coxim de madeira dura
(peroba rosa ou equivalente). Pode ser maciço ou vazado, segundo a NBR 6484
(ABTN, 2001). O martelo maciço deve ter uma haste de 1,20 m de comprimento
fixada na face inferior, no mesmo eixo da simetria longitudinal. A haste deve
ter uma marca visível, distando de 0,75 m da base do coxim de madeira. Se a
escolha do martelo for o vazado, a peça deve ter um furo central de 44 mm de
diâmetro. No caso, a cabeça de bater deve ser dotada, na parte superior, de
uma haste de 33,4 mm de diâmetro e 1,20 m de comprimento, com uma marca
distando 0,75 m do topo da cabeça.

28
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

FIGURA 17 – DIMENSÕES DE UM MARTELO

FONTE: Adaptado de ABNT (2001)

29
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

d) Torre ou tripé de sondagem: com cerca de cinco metros de altura, é montado


sobre os pontos de sondagem predefinidos.
e) Cabeça de bater: o quarto elemento componente é cilíndrico, de aço maciço e
tem como objetivo promover a transferência de energia do golpe do martelo
para a haste. A exigência é quanto à constituição: deve haver um tarugo de aço
de (83 ± 5) mm de diâmetro, (90 ± 5) mm de altura e massa nominal entre 3,5 kg
e 4,5 kg (ABNT, 2001).
f) Sistema de perfuração: os trados manuais, como os do tipo helicoidal e do tipo
concha, são normalmente usados para a abertura do furo de sondagem. No
sistema mecanizado, a perfuração é executada com a introdução de um tubo
com um helicoide na sua parte externa, o chamado tubo hollow auger. Este,
além de facilitar a perfuração, promove o revestimento do furo de sondagem.

FIGURA 18 – EQUIPAMENTO DE SONDAGEM SPT

FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 25)

30
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

3.1 PROCEDIMENTOS DE ENSAIO


Para a realização do ensaio, é determinada, na planta da área, a posição
dos pontos a serem sondados. O recomendado é colocar as sondagens em pontos
estratégicos, como nas proximidades da edificação. Em qualquer caso, deve-se
evitar que a locação dos pontos esteja alinhada, para que se obtenha uma variação
dos planos de corte (QUARESMA et al., 1998). Cada furo de sondagem deve ser
marcado com a cravação de um piquete de madeira ou material apropriado,
sendo necessária uma identificação do furo, servindo de referência de nível para a
execução da sondagem e posterior determinação de cota através do nivelamento
topográfico.

Para o início da sondagem, coloca-se, sobre o terreno, a torre (ou tripé).


No topo da torre, monta-se um conjunto com roldanas e cordas, que auxiliará
no manuseio das hastes e levantamento do martelo. Com o auxílio de um
trado, perfura-se até um metro de profundidade. A perfuração manual acima
do nível do lençol freático deve ser executada com trados helicoidais. Abaixo,
usa-se um sistema de circulação de água, bombeado pelo interior das hastes até
a extremidade inferior do furo, na cota em que é posicionado o trépano para
desintegração do solo.

É recolhida uma amostra representativa do solo, chamada de amostra


zero. Em seguida, em uma das extremidades da haste, acopla-se o amostrador.
Com o amostrador devidamente posicionado no fundo da perfuração, coloca-
se, cuidadosamente, o martelo sobre a cabeça de bater (conectada à composição
da haste) e mede-se a penetração da composição decorrente do peso próprio do
martelo. Se for um valor representativo, registra-se. Caso não seja, marcam-se três
segmentos de 15 cm sobre a haste e inicia-se a cravação, sendo contado o número
de golpes necessário para a cravação de cada segmento. Por exemplo, 5/15, 6/15
e 9/15. O número de golpes NSPT nos projetos de fundação é a soma dos valores
correspondentes aos últimos 30 cm de penetração do amostrador.

Observe, a seguir, um exemplo de um perfil geológico apresentado a


partir do ensaio de SPT.

31
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

GRÁFICO 1 – PERFIL GEOLÓGICO A PARTIR DO ENSAIO DE SPT

FONTE: <https://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2018/01/Sondagemm.jpg>.
Acesso em: 6 set. 2019.

É apresentado, em muitos casos, o número de golpes na penetração dos


30 cm iniciais. É uma forma de avaliação caso existam diferenças elevadas. Caso
existam, pode ter ocorrido deficiência na limpeza do fundo do furo da sondagem
ou amolgamento (perda de resistência) do solo.

Outro caso é referente a quando, com a aplicação do primeiro golpe do


martelo, a penetração for superior a 45 cm. O resultado da cravação do amostrador
deve ser expresso pela relação do golpe com a respectiva penetração (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012).

Em alguns casos, é necessário observar os critérios de paralização do


ensaio: a) quando, em 3 m sucessivos, forem obtidos 30 golpes para penetração
dos 15 cm iniciais do amostrador padrão; b) quando, em 4 m sucessivos, forem
obtidos 50 golpes para penetração dos 30 cm iniciais do amostrador padrão; e c)
quando, em 5 m sucessivos, forem obtidos 50 golpes para a penetração dos 45 cm
do amostrador padrão.

32
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

A profundidade a ser atingida pela perfuração depende do porte da obra. A


resistência do solo, o tipo de obra e as características de projeto podem influenciar
e exigir sondagens mais profundas. Além disso, é de primordial importância a
determinação do nível da água. Assim, durante o processo de perfuração, ao ser
observada a presença de água, deve-se interromper o ensaio e anotar a cota da
profundidade.

Terminada a sondagem, o nível d’água deve ser observado até que se


estabilize, ou em um período mínimo de 24 horas. O nível da água pode ser
anotado no dia de realização do ensaio SPT e é confirmado no dia seguinte,
evitando influências do procedimento sobre a determinação do nível.

A norma NBR 6484 (ABNT, 2001) traz uma relação dos estados de
compacidade e de consistência dos solos.

QUADRO 2 – COMPACIDADE E CONSISTÊNCIA DOS SOLOS

Índice de resistência à
Tipo de solo Classificação
penetração NSPT
≤4 Fofa (o)
5a8 Pouco compacta (o)
Medianamente
Areia e siltes arenosos 9 a 18
compacta (o)
19 a 40 Compacta (o)
>40 Muito compacta (o)
≤2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
6 a 10 Média
argilosos
11 a 19 Rija
>19 Dura
FONTE: Adaptado de ABNT (2001)

Vamos fazer um exercício juntos?

Você foi contratado pela construtora XY para executar um ensaio de


sondagem SPT. Calcule o valor do N do SPT para o furo 3 de sondagem do
Edifício Manchester.

33
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

QUADRO 3 – FURO 3 DO EDIFÍCIO MANCHESTER

Profundidade de Número de golpes/penetração do amostrador (cm)


sondagem (m)
1,00 a 1,45m 5/15 5/15 6/15
2,00 a 2,45 6/15 6/15 6/15
3,00 a 3,45 7/15 8/15 9/15
4,00 a 4,45 7/15 8/15 9/15
5,00 a 5,45 20/15 27/15 25/15
6,00 a 6,45 41/15 - -
FONTE: O autor

R.: O índice de resistência corresponde ao número de golpes, do martelo de 65 kgf


(ou 65 kg) caindo de 75 cm de altura, necessários para cravação dos últimos 30 cm
do amostrador padrão no solo.
Durante a penetração dos 15 cm iniciais do amostrador padrão, se for obtida uma
penetração menor ou igual que 15 cm, e o número de golpes do martelo for maior
ou igual a 30 golpes, é possível parar a penetração e prosseguir a sondagem.
Assim, surge a seguinte forma:

QUADRO 4 – FURO 3 DO EDIFÍCIO MANCHESTER

Profundidade de Número de golpes/penetração do


N (SPT)
sondagem (m) amostrador (cm)
1,00 a 1,45m 5/15 5/15 6/15 11
2,00 a 2,45 6/15 6/15 6/15 12
3,00 a 3,45 7/15 7/15 8/15 15
4,00 a 4,45 7/15 8/15 9/15 17
5,00 a 5,45 20/15 27/15 25/15 52
6,00 a 6,45 41/15 - - 41/15
FONTE: O autor

3.2 SPT-T
A sondagem simples associada ao torque é denominada SPT-T. O torque é
aplicado na parte superior da haste, de modo a rotacionar o amostrador cravado
no terreno. Assim, a medida, obtida através de um torquímetro (ferramenta
mecânica de medição de torque), fornece um dado adicional à resistência para
a penetração. A interpretação da medida permite a determinação do atrito ou
adesão amostrador – solo, conforme a Equação 1.

Eq. 1

34
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

FT é o atrito lateral ou adesão, em kg/cm²; T é o torque em kgf.cm, e h é


a penetração do amostrador do solo. A definição do atrito lateral é útil para a
determinação das características físicas do perfil do solo.

4 O ENSAIO DE CONE (CPT) E PIEZOCONE (CPTU)


O ensaio de cone (CPT – Cone Penetration Test) foi desenvolvido na
Holanda, por volta de 1930, no Laboratório de Mecânica dos Solos de Delft, com
o objetivo de investigar solos moles. Também é denominado de ensaio de cone
holandês ou ensaio de penetração estática ou “quase estática” (devido à forma de
cravação).

No Brasil, o ensaio tem sido utilizado desde o final da década de 1950,


porém, na época, a experiência no país era limitada a um número relativamente
baixo de casos. Apenas por volta de 1990 que houve um interesse crescente pelo
ensaio de CPT, impulsionado por pesquisas realizadas por diversas universidades.
Atualmente, o ensaio é executado comercialmente por diversas empresas da
América Latina (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012).

4.1 EQUIPAMENTOS DE ENSAIO


O ensaio é simples: basicamente, é feita a cravação, no terreno, de uma
ponteira cônica com velocidade lenta e constante (por isso, o termo “estática” e
“quase estática”), medindo a resistência encontrada na ponta e a resistência por
atrito lateral (VELLOSO; LOPES, 2011). A velocidade constante fica por volta de
20mm/s +/- 5mm/s e a seção transversal do cone costuma ser de 10cm², podendo
chegar a uma seção maior em equipamentos mais robustos.

Os ensaios são padronizados e existe diferença entre equipamentos e a


forma de operação, podendo ser classificados em três categorias, segundo Schnaid
e Odebrecht (2012):

a) Cone mecânico: é caracterizado pela leitura das forças transmitidas através das
hastes, utilizando células analógicas (anéis dinamométricos) para a resistência
da ponta cônica (qc), do atrito ou da adesão lateral (fs).
b) Cone elétrico: são utilizadas células de carga instrumentadas eletricamente e
em substituição às células de carga analógicas, medindo qc e fs diretamente na
ponteira.
c) Piezocone: além das células de carga, o equipamento inclui sensores de pressão
para registro da poropressão. Também há inclusão de sensores de inclinação e
sísmicos.

35
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 19 – SENSORES DE PRESSÃO PARA REGISTRO DA POROPRESSÃO

FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 68)

Para execução do ensaio, é necessário compreender alguns dos


equipamentos básicos, como os de cravação, detalhamento das ponteiras
utilizadas, além da interpretação dos resultados.

O equipamento de cravação é uma estrutura de reação na qual é montado


um sistema de aplicação de cargas. Pode ser utilizado um sistema hidráulico,
além de uma válvula reguladora de vazão para controle preciso da velocidade de
cravação. Por meio de hastes de um metro, ocorre a penetração. Esses conjuntos
podem ser utilizados em terra (onshore) e em água (neashore e offshore).

No primeiro caso, o conjunto de equipamentos pode ser montado em


caminhões, tratores sobre rodas ou veículos especiais. A reação é obtida pelo peso
próprio do equipamento e/ou pela fixação no solo de hélices de ancoragem.

36
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

FIGURA 20 – EXEMPLO DE ENSAIO MECÂNICO

FONTE: Adaptado de Mayne (2007, p. 6)

No sistema em água, existem diversas configurações do sistema de


cravação, sendo que se diferem entre si devido à profundidade em que se encontra
o leito marinho, podendo ser utilizadas plataformas, elevatórios, embarcações
ou sistemas submergíveis (SCHNAID, 2009). Os sistemas submergíveis podem
ser considerados muito simples, operados com auxílio de mergulhadores para
execução de sondagens.

Os tipos de ponteira também devem ser analisados. Há, comercialmente,


diversos tipos variando sua dimensão, configurações interna e externa, além
dos sistemas de alimentação e de transmissão de dados. Quanto à dimensão
externa (área da ponta cônica), é comum o uso de ponta com 10 cm², adotada
como padrão pela referência internacional IRTP (International Reference Testing),
embora existam maiores ou menores. As ponteiras apresentam partes distintas e
compostas em cone, com diâmetro entre 35,3 mm e 36 mm e ângulo de 60o, luva e
filtro (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012).

37
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 21 – PONTEIRAS DE 2 CM², 10 CM², 15 CM², 40 CM²

FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 70)

Quanto ao sistema de transmissão de dados, costumam ser utilizados


meios automáticos, por programas computacionais, para gerenciamento das
informações. As ponteiras mais modernas também apresentam um conversor
analógico digital para transmissão de dados de forma digital. Devido ao número
de sistemas comercialmente disponíveis, podemos citar: sistemas que utilizam
cabo elétrico, sistemas por wireless, sistemas armazenados na própria ponteira
e transferidos posteriormente e sistemas com armazenamento em tempo real,
também por wireless.

4.2 RESULTADOS DO ENSAIO


Nos ensaios CPT, as medidas normalmente realizadas são a resistência de
ponta (qc) e o atrito ou adesão lateral (fs). A razão de atrito é definida como Rf,
sendo utilizada na classificação dos solos. As medidas de resistência à penetração
são calculadas de acordo com o efeito de poropressões que estão atuando em
áreas desiguais da geometria do cone, sendo necessário conhecer as pressões
neutras da base do cone u2,. Assim, calcula-se a resistência real do ensaio pela
Equação 2.

Eq. 2

Em que a = AN/ AT.

38
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

FIGURA 22 – CORREÇÕES PARA O ENSAIO DE CONE

FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 83)

Resultados de ensaios de cone, como qc, fs e Rf, são dispostos de maneira


que se apresentem as medidas com relação à profundidade. As medidas ao longo
da profundidade, associadas às poropressões, apresentam grande precisão com
relação à classificação da camada de solo.

Com relação aos piezocones, medem-se as poropressões originadas


durante o processo de cravação e, assim, define-se um novo parâmetro muito
útil para a classificação dos solos, conhecido como Bq, determinado através da
Equação 3:

Eq. 3

Em que uo são as pressões e é a tensão vertical.

39
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 23 – ENSAIO TÍPICO CPT

FONTE: Schnaid e Odebrecht (2012, p. 73)

4.3 RELAÇÕES ENTRE SPT E CPT


Os ensaios de SPT e CPT são os procedimentos de investigações geotécnicas
mais investigados no mundo. Assim, é interessante que exista uma possibilidade
de correlacionar as medidas de NSPT e qc.

Existem diversas metodologias de correlações. No Brasil, existem


correlações baseadas em muitos dados tanto para solos do Rio de Janeiro como para
São Paulo. Velloso e Lopes (2010) correlacionaram, em seu estudo, a resistência
à penetração do cone (qc) do ensaio CPT com a resistência à penetração (NSPT) do
ensaio SPT através da Equação 4. Os valores de “k” estão dispostos a seguir, em
que são apresentados também os valores para o coeficiente α, denominado razão
de atrito. O parâmetro relaciona o atrito lateral do cone (fs) com a tensão de ponta
(qc), variando de acordo com o tipo de solo atravessado pelo cone (QUARESMA
et al., 1998).

Eq. 4

Em que k é o coeficiente de correlação entre NSPT e qc.

40
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

QUADRO 5 – VALORES DE K E α

Valores de k para qc em MPa e valores de razão de atrito α


para dimensionamento de estacas via Aoki-Velloso
Solo K α
Areia 1,00 1,4
Silte 0,40 3,0
Silte arenoso 0,55 2,2
Argila 0,20 6,0
Argila arenosa 0,35 2,4
Argila siltosa 0,22 4,0

FONTE: Adaptado de Aoki e Velloso (1975)

5 ENSAIO DA PALHETA
O ensaio da palheta, também conhecido como vane test, é comumente
utilizado para a determinação da resistência ao cisalhamento não drenado (Su) em
depósitos de solos moles, a uma velocidade de rotação constante e padrão, com
uma palheta cruciforme em profundidade predefinida. A medição do torque T
versus rotação determina os valores Su do solo natural e amolgado.

O ensaio foi desenvolvido na Suécia, por John Olsson, por volta de 1919.
Ao longo dos anos, sofreu aperfeiçoamentos e modificações até alcançar, no fim
da década de 1940, a forma que é utilizada nos dias de hoje (QUARESMA et al.,
1998).

5.1 PROCEDIMENTOS
É utilizada uma palheta de seção cruciforme que, ao cravar-se em argilas
saturadas de consistência mole, é submetida a um torque para cisalhar o solo por
rotação em condições de não drenagem.

As medidas das palhetas são padronizadas, sendo: 130 mm de altura e 65


mm. A haste, fabricada com aço, deve ser capaz de suportar os torques aplicados
e de conduzir a palheta até as profundidades estipuladas.

O ensaio da palheta pode ser realizado no interior de uma perfuração


prévia ou sem perfuração prévia. No primeiro caso, o equipamento pode estar
suscetível a erros em razão dos atritos mecânicos e da translação da palheta. A
perfuração é feita previamente, com diâmetro de 75 mm, e deve estar estável para
evitar desmoronamento. Já no ensaio sem perfuração prévia, os resultados podem

41
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

apresentar melhor qualidade. É realizado em solos com baixa consistência, em


que a cravação estática pode ser obtida a partir do nível do terreno. Durante a
cravação, a palheta é protegida por uma sapata, e o tubo de proteção é mantido
centralizado para redução dos atritos mecânicos. Durante a aplicação do torque,
o tubo de proteção fica estacionário (QUARESMA et al., 1998).

Após a introdução da palheta no interior do solo, na profundidade ideal,


o torquímetro é posicionado, zeram-se os instrumentos e aplica-se o torque. O
intervalo permitido entre o fim da cravação e o início da rotação é de 5 minutos.
Após a aplicação do torque máximo, dez revoluções completas na palheta são
realizadas e repete-se o ensaio em até cinco minutos.

FIGURA 24 – CONJUNTO PALHETA E TORQUÍMETRO

FONTE: Velloso e Lopes (2011, p. 45)

De forma prática, algumas recomendações para que o ensaio seja eficiente


devem ser seguidas, como:

a) nSPT menor ou igual a 2 (resistência de penetração qc menor ou igual a 1000 kPa);


b) solo predominantemente argiloso;
c) ausência de lentes de areia.

5.2 RESULTADOS DO ENSAIO


A partir do torque medido, determina-se a resistência ao cisalhamento
não drenada do solo (Su), conforme a equação 5:

Eq. 5

42
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

Em que M é o torque máximo medido, e kNm e D são o diâmetro da


palheta utilizada, em metros.

6 ENSAIO PRESSIOMÉTRICO
O ensaio pressiométrico (PMT) consiste na expansão de uma sonda ou
célula cilíndrica instalada em um furo executado no terreno. A célula, comumente
chamada de borracha, expande-se com a injeção de água pressurizada. A partir da
variação de volume, há medição na superfície do terreno com a pressão aplicada
(VELLOSO; LOPES, 2011).

Segundo Schnaid e Odebrecht (2012), existem três métodos/equipamentos


bem conhecidos:

a) Pressiômetros em pré-furos: a sonda é inserida em um furo de sondagem


previamente escavado. A sonda é composta de um núcleo cilíndrico e três células
independentes. A central é preenchida com água procedente do volumímetro e
as externas (células de guarda) são preenchidas de gás comprido. As células se
expandem radialmente, aplicando pressão nas paredes do furo.
b) Pressiômetros autoperfurantes: o método minimiza os efeitos de perturbação
do solo ao redor da sonda.
c) Pressiômetro cravado: a penetração do terreno é forçada por meio de
procedimentos de cravação.

O pressiômetro, qualquer que seja a escolha, necessita de um rigoroso


controle de execução e procedimentos para calibração.

A interpretação dos resultados permite conhecer o estado de tensões


iniciais e propriedades de deformação (elásticas) do solo. O Módulo de Young (E),
pressiométrico e o módulo cisalhante (G) podem ser obtidos a partir da equação 6:

Eq. 6

Em que VM é o volume médio da sonda, ∆p é a variação de pressão e ∆v


é a variação de volume.

43
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

7 ATIVIDADE PRÁTICA 2
OBJETIVOS

• Verificar o número de ensaios de sondagem exigido para uma edificação de


acordo com a norma NBR 8036 (ABNT, 1983).
• Identificar dados no laudo de sondagem.
• Caracterizar o solo de acordo com a classificação de consistência.
• Identificar, no relatório, o limite da sondagem realizada.

Você, engenheiro civil, trabalha em uma construtora que iniciará um novo


empreendimento. Trata-se de um edifício residencial, com 12 pavimentos, e área
total de 10.800 m². A área de projeção da edificação possui 25x40 m².

Dada atenção ao laudo de sondagem das figuras a seguir, no ponto SP-01,


algumas informações foram omitidas.

1 Para o empreendimento mencionado, quantos pontos de sondagem são


necessários para o dimensionamento das fundações?

2 Qual é a profundidade do nível d´água para a sondagem apresentada?

3 Na profundidade de 16 metros, qual é o valor do NSPT e o tipo de solo? Qual é


a classificação da consistência do solo?

4 Na profundidade de 28 metros, qual é o valor do NSPT e o tipo de solo? Qual é


a classificação da consistência do solo?

5 Qual é o limite apresentado (em metros) para a sondagem realizada?

44
TÓPICO 2 —INSTRUMENTAÇÕES GEOTÉCNICAS

FIGURA 25 – PERFIL DE SONDAGEM SP-101

FONTE: O autor

45
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 26 – CONTINUAÇÃO PERFIL DE SONDAGEM SP-101

FONTE: O autor

46
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• É necessário definir as etapas de uma investigação geotécnica. Consistem


em uma investigação preliminar, investigação de projeto ou complementar e
investigação para execução.

• Um programa de investigação bem concebido, com avaliação correta e precisa


dos parâmetros do solo, pode ocasionar um ótimo desempenho na construção,
além da otimização entre custo e benefícios da obra.

• Os principais processos de investigação geotécnica são o Standard Penetration


Test (SPT), Ensaio de Cone (CPT) e Piezocone (CPTU), ensaio de palheta e o
ensaio pressiométrico.

• O Standard Penetration Test (SPT), também conhecido por sondagem de simples


reconhecimento ou sondagem de solo para percussão, é a ferramenta geotécnica
mais trivial conhecida, e é aplicada, praticamente, no mundo todo.

• O Ensaio de Cone (CPT) é simples: basicamente, é feita a cravação, no terreno,


de uma ponteira cônica com velocidade lenta e constante (por isso, o termo
“estática” e “quase estática”), medindo a resistência encontrada na ponta e a
resistência por atrito lateral.

• Os ensaios de SPT e CPT são os procedimentos de investigações geotécnicas


mais investigados no mundo. Assim, existe uma possibilidade de correlacionar
as medidas de NSPT e qc.

• O Ensaio da Palheta, também conhecido como vane test, é comumente utilizado


para a determinação da resistência ao cisalhamento não drenado (Su) em
depósitos de solos moles, a uma velocidade de rotação constante e padrão, com
uma palheta cruciforme em profundidade predefinida. A medição do torque T
versus rotação determina os valores Su do solo natural e amolgado.

• Por fim, o Ensaio Pressiométrico (PMT) consiste na expansão de uma sonda ou


célula cilíndrica instalada em um furo executado no terreno.

47
AUTOATIVIDADE

1 A sondagem Standard Penetration Test (SPT) é um tipo de sondagem que visa


caracterizar o solo que servirá como parte de um elemento de fundação de
uma edificação. Sobre a forma de determinação do índice de resistência
(N), assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O índice N é determinado como sendo a soma do número de golpes


requeridos para primeira e terceira etapas de penetração de 15 cm (do
amostrador padrão), adotando-se os números obtidos nessas etapas,
mesmo quando a penetração não tiver sido de exatos 15 cm.
b) ( ) O índice N é determinado como sendo a média do número de golpes
requeridos para a segunda e terceira etapas de penetração de 15 cm (do
amostrador padrão), adotando-se os números obtidos nessas etapas,
mesmo quando a penetração não tiver sido de exatos 15 cm.
c) ( ) O índice N é determinado como sendo a soma do número de golpes
requeridos para primeira e segunda etapas de penetração de 15 cm (do
amostrador padrão), adotando-se os números obtidos nessas etapas,
mesmo quando a penetração não tiver sido de exatos 15 cm.
d) ( ) O índice N é determinado como sendo a média do número de golpes
requeridos para primeira e terceira etapas de penetração de 75 cm (do
amostrador padrão), adotando-se os números obtidos nessas etapas,
mesmo quando a penetração não tiver sido de exatos 75 cm.
e) ( ) O índice N é determinado como sendo a soma do número de golpes
requeridos para segunda e terceira etapas de penetração de 15 cm (do
amostrador padrão), adotando-se os números obtidos nessas etapas,
mesmo quando a penetração não tiver sido de exatos 15 cm.

2 A sondagem de simples reconhecimento para percussão, SPT (Standard


Penetration Test), é normalizada no Brasil pela NBR 6484. Assinale a
alternativa correta:

I- “N” se refere ao índice de resistência à penetração, cuja determinação se dá


pelo número de golpes correspondente à cravação de 45cm do amostrador
padrão após a cravação inicial de 15cm;
II- O ensaio é capaz de ultrapassar e posicionar o nível d'agua, além de ser de
baixo custo e de fácil execução;
III- Há como inconvenientes os fatos de não medir a resistência à penetração
do solo e não poder ser realizada em locais de difícil acesso.
IV- Não ultrapassa matacões e blocos de rocha e pode ser detida por
pedregulhos ou solos muito compactos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.

48
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
e) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

3 Uma construtora possui três terrenos, todos em cidades diferentes. O


primeiro mede 20m por 30m, o segundo 30m por 60m e o terceiro 25m
por 40m. No primeiro terreno, pretende executar um prédio com área
construída de 4800m², sendo sua área de projeção de 800m². No segundo
terreno, pretende executar um prédio com área construída de 1400m²,
sendo sua área de projeção de 350m². No terceiro terreno, pretende executar
um prédio com área construída de 6000m², sendo sua área de projeção de
2.000m².

De acordo com a prescrição normativa vigente, determine o número mínimo


de furos de sondagem que deverá ser executado para os três terrenos.
a) ( ) 13 furos.
b) ( ) 14 furos.
c) ( ) 15 furos.
d) ( ) 16 furos.
e) ( ) 17 furos.

49
50
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E
OBRAS DE TERRA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, serão apresentados os principais materiais que compõem
os terrenos de fundação. Serão apresentados também tipos de deslizamentos de
terra existentes, além de procedimentos de estabilização de solos.

Segundo Pinto (1998), todo projeto de fundações contempla as cargas


aplicadas pela edificação e a resposta do solo a solicitações. Os solos são muito
distintos entre si e respondem de uma maneira muito variável, por isso, a
importância do conhecimento a respeito do comportamento de cada tipo de solo.

Os sistemas utilizados compreendem técnicas variadas e são de extrema


importância para a viabilização de construções, de modo geral. Problemas de
instabilidade são frequentes, observando-se os numerosos acidentes ocorridos
iminentes e previstos em todas as épocas do ano e em todas as partes do mundo.

2 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS


Segundo Caputo, Caputo e Rodrigues (2015), dos pontos de vista técnico e
construtivo, os materiais que compõem os terrenos de fundação agrupam-se nos
seguintes grupos:

a) Rochas: materiais de origem natural, duros, consolidados e compactos,


provenientes da crosta terrestre ou da litosfera.
b) Blocos de rocha, matacões e pedras.
c) Rochas alteradas: normalmente encontram-se acima ou próximas de rochas
firmes, no entanto, apresentam vestígios de alteração, possivelmente fissuras
ou fendas preenchidas com outros materiais.
d) Solos: são materiais originados pela meteorização das rochas, pela ação de
agentes transformadores. Caso os solos permaneçam no local da rocha de
origem, denominam-se solos residuais ou autóctones; caso tenham sido
transportados pela ação de agentes, como água, vento, gravidade, chamam-se
solos sedimentares; caso os solos tenham origem orgânica, de natureza vegetal
ou animal, são denominados de solos de formação orgânica.
e) Pedregulhos: são solos constituídos por grãos minerais com dimensões entre
76 mm e 4,8 mm.

51
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

f) Areias: solos constituídos por grãos com dimensões entre 4,8 mm e 0,05
mm. Classificam-se em grossas, médias e finas. Quanto à compacidade,
são classificadas em fofas ou soltas, mediamente compactas e compactas.
Apresentam elevado ângulo de atrito interno.
g) Siltes: solos constituídos por grãos com dimensões entre 0,05 mm e 0,005 mm.
Quando secos, formam torrões facilmente desagregáveis.
h) Argilas: solos coesivos constituídos por grãos minerais com dimensões
inferiores a 0,005 mm. Apresentam plasticidade e fraca permeabilidade. São
classificadas como muito moles, moles, médias, rijas e duras.
i) Bentonitas: são argilas ultrafinas formadas através da alteração química de
cinzas vulcânicas. Predomina-se a montmorilonita na sua composição.
j) Turfas: são solos constituídos por partículas fibrilares de material carbonoso
e de matéria orgânica coloidal. São encontrados em zonas pantanosas, e o
material é fofo. Não é plástico e combustível.
k) Solos concrecionados: são massas de solo cujo grãos foram ligados por cimento
natural (argiloso, calcário, ferruginoso etc.).
l) Solos superficiais: Localizados logo abaixo da superfície do terreno natural,
constituem a “terra vegetal”. São formados por uma mistura de areia, silte ou
argila, ou por uma combinação de tais solos com matéria orgânica.

No projeto de fundações, é fundamental o conhecimento sobre os materiais


que constituem o solo, assim como esses materiais estão dispostos no perfil do
solo. Os estratos que compõem o solo podem ser mais ou menos paralelos ou
irregulares, formados por cunhas ou lentes. Nos estratos heterogêneos, podem
ser previstos recalques diferenciais.

FIGURA 27 – ESTRATIFICAÇÃO DOS TERRENOS

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 171)

52
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

É importante verificar a inclinação dos estratos para evitar deslizamentos.

FIGURA 28 – INCLINAÇÃO DOS ESTRATOS DE SOLO

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 172)

É importante que seja determinado o nível do lençol freático. Assim,


pode-se designar a água que se move livremente no terreno, submetida à ação da
gravidade e preenchendo os vazios do solo.

FIGURA 29 – NÍVEL DO LENÇÓL FREÁTICO

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 172)

De acordo com Caputo, Caputo e Rodrigues (2015), a fixação da fundação,


observando um perfil de solo, normalmente não é fácil de se determinar.

53
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 30 – PERFIL DE SOLO ALEATÓRIO

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 173)

Situação 01: as três camadas A, B e C possuem satisfatórias características


de resistência. No caso, é possível realizar a implantação da fundação na camada
A para qualquer tipo de estrutura e valor de carga.
Situação 02: apenas a camada A é resistente. No caso, só devem ser
apoiadas, nesta camada, fundações de estruturas leves, cuja carga deve ser
determinada por uma análise de recalques.
Situação 03: a camada A é de fraca resistência e a B é resistente. Para a
situação, deve ser realizada uma fundação profunda, com foco no peso-limite da
estrutura através de um estudo de recalques, principalmente se a camada C for
de fraca resistência e de grande espessura.
Situação 04: as camadas A e B são pouco resistentes e a camada C é
resistente. No caso, a fundação deve ser apoiada na camada C.

Dependendo da carga transmitida pela edificação e da capacidade do solo


em resistir perante solicitações, outras situações de apoio das fundações podem
ser previstas. Por exemplo, uma camada pouco resistente pode ser suficientemente
rija para resistir aos esforços transmitidos por uma edificação leve.

3 MECÂNICA DOS SOLOS NA ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES


O solo, na engenharia de fundações, pode ser considerado como material
de construção, pois é frequentemente utilizado em obras, como aterros, barragens,
pavimentos de rodovias, aeroportos etc. No entanto, o solo deve contemplar
exigências requeridas pelo projeto, ou ser submetido a um tratamento, para
adquirir as características e propriedades.

Com relação à mecânica dos solos, a principal propriedade solicitada é


a resistência do solo, variando o ângulo de atrito interno e/ou a coesão. Para
alteração dos fatores, é feita a atuação nos seguintes parâmetros: granulometria,
compacidade e umidade, conforme Caputo, Caputo e Rodrigues (2015):

a) Granulometria: o incremento de grãos de fração grossa, como pedregulhos e


areia, contribui para o atrito interno dos solos. Por outro lado, o incremento de
grãos de fração fina, como silte e areia, influi na coesão do solo.

54
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

b) Compacidade: é obtida através da compactação dos solos, cujo objetivos


são melhorar a resistência, diminuir a permeabilidade, porosidade e
compressibilidade. O efeito da compactação depende da energia despendida
e do teor de umidade do solo. Para determinar o grau de compactação de um
solo constituído por material granular e não coesivo (areias), é utilizado um
índice de Compacidade Relativa (CR). Quando o solo está na sua compactação
máxima, CR = 100%, com índice de vazios mínimo, pelo contrário, quando o
solo estiver na sua compactação mínima, CR = 0%, o índice de vazios é máximo,
e o solo apresenta-se o mais fofo possível.
c) Umidade: atua predominantemente na coesão do solo. No estado de umidade
ótima, o solo atinge a massa específica aparente seca. Sob ações de compactação,
poderá atingir o seu grau de compactação máximo. A umidade ótima pode
ser obtida através de ensaios de laboratório, conhecidos como Ensaios de
Compactação Proctor, regulamentados pela norma brasileira NBR 7182 (ABNT,
2016).

4 ESTABILIZAÇÃO DE MACIÇOS
Segundo Caputo, Caputo e Rodrigues (2015), o termo estabilização
designa qualquer processo ou tratamento capaz de melhorar a estabilidade de
um maciço terroso ou rochoso. Como procedimentos, citaremos as injeções e
congelamento do solo.

4.1 INJEÇÕES
As injeções são procedimentos em maciços rochosos e terrosos,
melhorando as propriedades, como resistência e impermeabilização.

O processo teve origem atribuída ao engenheiro francês Berigny, e


a primeira aplicação do procedimento remonta ao ano de 1802 (CAPUTO;
CAPUTO; RODRIGUES, 2015). O avanço significativo para aplicação da técnica
de injeção de cimento foi promovido por Thomas Hawksley, em 1876, quando
este empregou, como critério, essa técnica, para obturar as fissuras das rochas da
fundação de uma barragem de terra (GLOSSOP, 1961).

Alguns tipos de injeções empregadas são constituídos de materiais como:


cimento, argila, produtos betuminosos e silicatização.

a) Injeção de cimento: o processo consiste na injeção de uma calda de cimento no


terreno através de tubos com a ponta aberta ou com as paredes perfuradas. O
procedimento normalmente é realizado em solos granulares, limitando o seu
emprego em solos cujo diâmetro efetivo é superior a 1,0 mm (D10% > 1,0 mm).

55
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

Um dos sistemas de injeção de nata de cimento em solos é o Jet grouting. A


técnica consiste em realizar um furo, através de uma máquina do tipo perfuratriz,
até que a profundidade atinja a cota estipulada em projeto. Posteriormente, é
injetada, de baixo para cima, a calda de cimento, através de jatos associados a
movimentos rotativos e ascendentes.

FIGURA 31 – PROCEDIMENTO EXECUTIVO DO JET GROUTING

FONTE: <http://pet.ecv.ufsc.br/wordpress/wp-content/uploads/2013/07/05.jpg>. Acesso em: 3


mar. 2020.

DICAS

Configuração da animação sobre o processo executivo de Jet Grouting.


FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=KgXRN5WDpk.

56
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

b) Injeção de argila: no procedimento, são utilizadas as argilas bentonitas, pois


formam suspensões que se mantêm líquidas quando agitadas, recuperando a
sua resistência coesiva quando voltarem para o estado de repouso.
c) Injeção de produtos betuminosos: uma emulsão betuminosa, constituída de
uma dispersão de asfalto no solo, é injetada no solo.
d) Silicatização: no processo, são realizadas injeções separadas de soluções de
silicato de sódio e de cloreto de cálcio. Quando entram em contato, solidificam
o maciço, aumentando a resistência mecânica.

4.2 CONGELAMENTO DO SOLO


O sistema de congelamento do solo foi idealizado pelo engenheiro alemão
Pötsch para a perfuração de poços em locais de mineração (CAPUTO; CAPUTO;
RODRIGUES, 2015). O procedimento é uma solução onerosa, empregada somente
em casos difíceis de fundação, em solos moles e saturados de água. Nos países
de clima ameno e quente (como no Brasil), o sistema necessita de uma central de
refrigeração.

A técnica consiste em instalar, no terreno, tubos congeladores, pelos


quais circularão um líquido refrigerante, nitrogênio líquido e salmoura, os quais
atuarão para congelar o solo e estabilizar o maciço enquanto o processo durar.

Para a criação de uma massa de solo congelado, é necessário realizar uma


linha de tubos horizontais, verticais ou inclinados, os quais devem ser perfurados.
No tubo, o líquido refrigerante é introduzido, o qual entra pela tubulação interna
e sai através do tubo externo.

FIGURA 32 – SISTEMA DE CONGELAMENTO DO SOLO

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 363)

57
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

5 INTERAÇÃO SOLO-FUNDAÇÃO
A análise da interação solo-fundação é imprescindível para a determinação
de deslocamentos reais da fundação e dos esforços internos.

Segundo Velloso e Lopes (2011), os fatores que afetam as pressões de


contato dependem, principalmente:

• Características das cargas aplicadas – resultante das pressões de contato deve


ser igual e oposta à resultante das cargas.
• Rigidez relativa fundação-solo – quanto mais flexível a fundação, mais as
pressões de contato refletirão o carregamento.
• Propriedades do solo – afetam as pressões de contato, e a resistência do solo ao
cisalhamento determina as pressões máximas nos bordos.
• Intensidade das cargas – pela teoria da elasticidade, as pressões nos bordos de
uma sapata rígida são infinitas. Assim, com o aumento da carga, as pressões nos
bordos se mantêm constantes. Na parte central, há um aumento de pressões.

6 ESTABILIDADE DE TALUDES
Taludes compreendem quaisquer superfícies inclinadas que limitam um
maciço de terra, rocha ou mesclados. Podem ser naturais, como as encostas, ou
artificiais, como os taludes de corte e aterros (CAPUTO; CAPUTO; RODRIGUES,
2015). A seguir, podem ser visualizados os principais elementos que constituem
um perfil de talude.

FIGURA 33 – PERFIL DE UM TALUDE GENÉRICO

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 379)

De acordo com Caputo, Caputo e Rodrigues (2015), os maciços terrosos


podem se apresentar instáveis. A movimentação de terra é classificada em três
grandes grupos:

58
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

• Desprendimento de terra ou rocha: é um movimento de terra localizado, em


que uma porção de um maciço terroso ou de fragmentos de rocha se destaca do
resto do maciço, caindo livre e rapidamente, acumulando-se onde estaciona.

FIGURA 34 – QUEDA ROCHOSA

FONTE: Highland e Bobrowsky (2008, p. 10)

FIGURA 35 – TOMBAMENTOS

FONTE: Highland e Bobrowsky (2008, p. 12)

• Escorregamento: também conhecido como deslizamento, é o deslocamento


rápido de uma massa de solo ou de rocha que, rompendo-se do maciço, desliza
para baixo e para o lado, ao longo de uma superfície de deslizamento. Caso o
movimento seja acompanhado de uma rotação ou de uma translação, serão
denominados, respectivamente, de escorregamento rotacional e escorregamento
translacional. Se a superfície de deslizamento passar pelo pé do talude, será
denominado escorregamento superficial ou ruptura de talude, se passar por
um ponto afastado do pé do talude, será denominado de escorregamento
profundo ou ruptura de base.

59
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 36 – DESLIZAMENTO ROTACIONAL

FONTE: Highland e Bobrowsky (2008, p. 15)

FIGURA 37 – DESLIZAMENTO TRANSLACIONAL

FONTE: Highland e Bobrowsky (2008, p. 18)

• Rastejo: caracteriza-se pelo deslocamento lento e contínuo de camadas


superficiais sobre camadas mais profundas.

DICAS

Confira outros tipos de movimentos de massa em: https://www.gfdrr.org/sites/


default/files/publication/Deslizamentos_M5DS_0.pdf.

A escala de Varnes classifica os movimentos maciços terrosos em função


das velocidades:

60
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

FIGURA 38 – ESCALA DE VARNES

FONTE: Adaptado de Caputo, Caputo e Rodrigues (2015)

Guidicini e Nieble (1984) definem agentes e causas para os


escorregamentos, os quais são apresentados a seguir:

QUADRO 6 – AGENTES E CAUSAS

AGENTES
Efetivos
Predisponentes Preparatórios Imediatos
Complexo geológico, Pluviosidade, erosão pela Chuvas intensas, fusão
complexo morfológico, água e vento, congelamento do gelo e neves, erosão,
gravidade, calor solar, e degelo, variação da terremoto, ondas,
tipo de vegetação. temperatura, dissolução vento, ação do homem.
química, ação de fontes e
mananciais, oscilação do
freático, ação de animais e
antrópica.
FONTE: Adaptado de Guidicini e Nieble (1984)

61
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

QUADRO 7 – AGENTES E CAUSAS

CAUSAS
Internas Externas Intermediárias
Efeito das oscilações Mudanças na geometria Elevação do nível
térmicas, redução do sistema, efeitos de piezométrico em massas
dos parâmetros vibrações, mudanças “homogêneas”, elevação
de resistência por naturais na inclinação das da coluna de água
intemperismo. camadas. em descontinuidades,
rebaixamento rápido do
lençol freático. Erosão
subterrânea retrogressiva
(piping), diminuição do
efeito de coesão aparente.
FONTE: Adaptado de Guidicini e Nieble (1984)

6.1 MÉTODOS DE ANÁLISE DA SEGURANÇA DOS TALUDES


Os taludes, de forma geral, são formados por diversos tipos de solos,
os quais possuem características distintas. Para determinar os esforços que
atuam na superfície de ruptura, partindo do princípio de que o esforço normal
atuante sobre a superfície de ruptura advém do peso do solo localizado acima da
superfície, o corpo “potencialmente” deslizante é dividido em lamelas e, dessa
forma, é possível determinar o esforço normal atuante.

Alguns métodos foram desenvolvidos para análise de segurança dos


taludes, como: método de Fellenius e método de Bishop.

No método de Fellenius, considera-se que não há iteração entre as várias


lamelas, ou seja, as resultantes das forças laterais em cada lado da lamela são
colineares e de igual magnitude, o que permite eliminar os efeitos dessas forças,
considerando o equilíbrio na direção normal. A única iteração entre as lamelas
advém da consideração da ruptura progressiva, que sempre ocorre quando há
ruptura de qualquer massa de solo. O fato é considerado implicitamente nos
parâmetros de resistência do solo, coesão e sem e atrito. O valor da pressão neutra
ao longo da superfície de ruptura é obtido traçando-se a rede de percolação. Em
cada ponto dessa superfície, toma-se o valor da carga piezométrica (MARANGON,
2018).

62
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

FIGURA 39 – SUPERFÍCIE DE RUPTURA DE UM TALUDE

FONTE: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/8888/8888_3.PDF>. Acesso em: 9 set. 2019.

O fator de segurança é dado pela equação 7:

Eq. 7

Sendo:

FS = fator de Segurança;
W = peso total da lamela;
b0 = b/cos α;
b = largura da lamela;
ø’ = ângulo de atrito efetivo do solo;
c’ = coesão efetiva do solo;
u = poropressão média na base da fatia.

O procedimento é repetido em diversas posições na superfície de ruptura.


O menor valor encontrado para o FS corresponde ao fator de segurança crítico.

Já no método de Bishop Simplificado, havendo qualquer esforço externo


ao talude (uma sobrecarga ou berma no pé do talude, por exemplo), considera-se
a sua interferência, incluindo-a no somatório de momentos. No método de Bishop,
leva-se em conta a iteração entre as várias lamelas. Há como hipótese: a resultante
das forças entre as fatias é horizontal. O método é regido pelas equações 8 e 9.

63
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

Eq. 8

Sendo:

Eq. 9

A solução advém de um processo iterativo, em que o fator de segurança


FSi é arbitrado. O cálculo se repete até que o valor de FS se iguale ao valor arbitrado
(FSi).

Com relação ao método de Fellenius, o método de Bishop apresenta


resultados mais próximos aos métodos mais rigorosos.

EXEMPLO 1

Para o talude a seguir, determinar o coeficiente de segurança do


deslizamento correspondente ao centro de rotação locado de acordo com
Fellenius.

FIGURA 40 – PERFIL DO TALUDE

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 207)

No caso, o terreno foi dividido em 12 lamelas e foi adotado um raio de


15,5 m para a determinação da área de ruptura. O ponto “O” é determinado
através da intersecção de linhas com o raio de 15,5 m, partindo dos pontos “A”
e “B”. Sequencialmente, é realizada uma demarcação no centro de cada lamela,
indicando um vetor correspondente para o centro de massa. A partir do ponto de
intersecção entre a face de ruptura e o centro de massa de cada lamela, é traçada
uma linha (raio) até o ponto “O”.

64
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

Tendo sido pedido o coeficiente de segurança correspondente ao centro


de rotação locado pela tabela de Fellenius, portanto, escorregamento superficial,
os ângulos α e β são para talude 1:2, α = 35° e β = 25° (obtenção através de um
transferidor).

FIGURA 41 – MÉTODO DE FELLENIUS NO PERFIL DE TALUDE

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 208)

As fatias 1 e 12 se aproximam de um triângulo. Dessa forma, o peso da


fatia (com espessura de 1,0 m) é calculado pela área do triângulo multiplicando
pelo peso específico do material. As demais fatias se aproximam de um trapézio,
assim, o peso é calculado pela área do trapézio multiplicada pelo peso específico
do material.

65
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

QUADRO 8 – RESULTADOS

No da Altura Largura Componentes


Peso total da fatia (KN)
fatia da fatia da fatia Normal Tangencial

1 2,3 2 30,0 -21,0

2 4,25 2 108,0 -54,0

3 5,85 2 177,0 -57,0

4 7,2 2 238,0 -43,5

5 8,3 2 287,0 -15,0

6 9,15 2 322,0 27,0

7 9,75 2 342,0 75,0

8 10 2 342,0 123,0

9 8,9 2 309,0 165,0

10 7,45 2 243,0 180,0

11 5,3 2 165,0 171,0

12 0 2,7 71,0 111,0

Totais 2634,0 661,5


FONTE: O autor

Assim:

∑N = 2634,0 KN
∑T = 661,5 KN

O comprimento total do trecho de ruptura pode ser calculado pela


equação 10:

Eq. 10

66
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

Sendo:

r = raio da circunferência de ruptura;


α° = ângulo interno da circunferência que envolve a área de ruptura.

Sendo que 112° = ângulo interno da seção de ruptura (obtido através de


um transferidor).

Assim, o fator de segurança é calculado a partir da simplificação da


equação 7. No caso, equação 11:

Eq. 11

Sendo:

φ = ângulo de atrito interno;


C = coesão do solo;
L = comprimento do trecho de ruptura.

EXEMPLO 2 (UTILIZANDO PLATAFORMA CAD)

Um talude foi executado com um ângulo de 30° com relação à superfície


horizontal do terreno. A cota final do talude é de 5,0 metros. Considere que a
superfície de ruptura avança 4,0 m e horizontalmente além do topo do talude.
Divida a superfície de ruptura em 8 lamelas e considere um raio de 10 metros
para a região da superfície. Qual é o fator de segurança do talude?

Dados do solo:

C = 15 KN/m²
Ø = 30°
ɣ = 18 KN/m³

Obs.: Para solucionar o problema de forma prática, utilize uma plataforma


CAD para o desenho do talude, medidas, ângulos e áreas.

67
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

FIGURA 42 – PERFIL DO TALUDE

FONTE: O autor

E
IMPORTANT

No Software Autocad, digite a tecla TAB após os comandos de linha e após


digitar o comprimento da linha. Assim, você conseguirá indicar o ângulo que deseja traçar.

A partir do pé do talude (ponto A), faça uma circunferência com 10 metros


de raio e outra circunferência igual a partir do fim da área de ruptura (ponto C).
O ponto em que as circunferências se encontram é denominado de ponto “O”.

FIGURA 43 – MÉTODO DE FELLENIUS: ETAPA 01

FONTE: O autor

A partir do ponto “O”, faça uma circunferência com 10 metros de raio que
abranja os pontos A e C. A área delimitada entre a circunferência e o talude será
a superfície de ruptura.

68
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

FIGURA 43 – MÉTODO DE FELLENIUS: ETAPA 01

FONTE: O autor

Divida a superfície de ruptura em oito lamelas, conforme o enunciado.


No caso, foi determinada a distância horizontal de 2,0 metros para as lamelas 1-6.
Sequencialmente, obtenha a área de cada lamela.

FIGURA 45 – MÉTODO DE FELLENIUS: ETAPA 03

FONTE: O autor

Posicione uma linha vertical no centro de cada uma das lamelas.

FIGURA 46 – MÉTODO DE FELLENIUS: ETAPA 04

FONTE: O autor

69
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

A partir do ponto “O”, é necessário traçar uma linha até o ponto de


intersecção entre a linha central da lamela com a superfície de ruptura. Observe
que o ângulo interno da superfície de ruptura é de 86°.

FIGURA 47 – MÉTODO DE FELLENIUS: ETAPA 05

FONTE: O autor

Prolongue as linhas e obtenha o ângulo entre a linha desenhada e o eixo


vertical (linha no centro da lamela).

FIGURA 48 – MÉTODO DE FELLENIUS: ETAPA 06

FONTE: O autor

Organize os dados obtidos, conforme seguem:

70
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

QUADRO 9 – ORGANIZAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS

Área (w) Peso = Ângulo α N = w * cos α T = w * sem α


Área * ɣ
1 1,705 30,69 15° 29,64 -7,94
2 4,693 84,47 4° 84,26 -5,89
3 6,855 123,39 8° 122,19 17,17
4 8,170 147,06 20° 138,19 50,30
5 7,960 143,28 32° 121,51 75,93
6 4,573 82,31 47° 56,14 60,20
7 0.3869 6,96 60° 3,48 6,03
SOMATÓRIO 555,41 KN 195,80 KN
FONTE: O autor

Observação: O esforço tangencial é negativo para as lamelas 1 e 2, pois está no 3º


quadrante.

FIGURA 49 – 3º QUADRANTE

FONTE: O autor

O comprimento “L” é calculado por:

O fator de segurança:

71
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

7 ATIVIDADE PRÁTICA 3
OBJETIVOS

• Aplicação do método de Fellenius para obtenção do coeficiente de segurança


de taludes.
• Resolução de um problema aplicando conhecimentos de trigonometria.
• Verificar o equilíbrio de forças em cada lamela.

Um talude foi executado com um ângulo de 35° com relação à superfície


horizontal do terreno. A cota final do talude é de 8,0 metros. Considere que a
superfície de ruptura avança 5,0 m horizontalmente além do topo do talude.
Divida a superfície de ruptura em 10 lamelas e considere um raio de 12 metros
para a região da superfície. Qual é o fator de segurança do talude?

Dados do solo:

C = 18 KN/m²
Ø = 35°
ɣ = 18 KN/m³

FIGURA 50 – PERFIL DO TALUDE

FONTE: O autor

Organize os dados obtidos, conforme seguem:

72
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

QUADRO 10 – COMPILAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS

Área (w) Peso = Área * ɣ Ângulo α N = w * cos α T = w * sem α


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
SOMATÓRIO
FONTE: O autor

73
UNIDADE 1 — GEOTECNIA DE FUNDAÇÕES

LEITURA COMPLEMENTAR

Desastres ambientais, prevenção e mitigação: um estudo de caso da região de


Angra dos Reis/RJ

Gabriel Lousada
Heitor Farias

Os fenômenos naturais, em sua grande maioria fenômenos atmosféricos,


são conhecidos do homem desde os tempos mais remotos. No entanto, com o
crescimento da população mundial, os fenômenos naturais passaram a gerar
prejuízos ao homem, como perdas de bens materiais e de vidas. Assim, quando
causam impactos negativos, fenômenos naturais tornam-se desastres ambientais.

O município de Angra dos Reis, no Estado do Rio de Janeiro, vem se


destacando pela ocorrência de grandes desastres naturais em decorrência de
deslizamentos, ocasionados por totais pluviométricos muito altos.

Devido aos processos migratórios existentes na região, a expansão


da cidade começou a ocorrer de forma desordenada. A população de menor
poder aquisitivo, que não possuía condições de se estabelecer nas regiões
de planície do município, por conta do elevado valor do solo urbano, passou
a ocupar irregularmente as encostas íngremes. Esse processo levou ao intenso
desmatamento das encostas e, consequentemente, ao aumento da instabilidade.
Esse fator, aliado a eventos de elevada precipitação, comuns na região devido à
localização e disposição da Serra do Mar, foram responsáveis por uma série de
movimentos de massa com resultados desastrosos.

Dentre os principais movimentos de massa ocorridos na região, destacam-


se dois que tiveram graves consequências.

O deslizamento ocorrido em 9 de dezembro de 2002, no qual houve uma


precipitação total de 275 mm, volume equivalente à média de 2 meses de chuva
na região. A área mais afetada foi o bairro de Japuíba, em especial a região de
Areal, onde o volume de água captado por uma encosta levou ao deslizamento
de, aproximadamente, 20 toneladas de rochas, solo e árvores de grande porte,
causando a destruição de mais de 70 casas no bairro e deixando 40 vítimas fatais.

Outro evento que merece destaque foram os deslizamentos ocorridos


em janeiro de 2010, que provocaram a morte de 53 pessoas, sendo 32 vítimas do
deslizamento na Praia de Bananal, em Ilha Grande, e 21 vítimas no deslizamento
do Morro da Carioca, próximo ao centro de Angra dos Reis. A Pousada Sankay,
localizada na região, foi soterrada. Na ocasião, entre os dias 30 de dezembro de
2009 e 1 de janeiro de 2010, o município de Angra dos Reis enfrentou uma chuva
de 417 mm. O índice representa o dobro da média histórica registrada no mês de
dezembro na região.

74
TÓPICO 3 —PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS E OBRAS DE TERRA

É importante registrar que os deslizamentos atingiram vários bairros do


município, inclusive na Ilha Grande, causando estragos que causaram mortes e
deixaram desabrigados, independentemente de classe social.

OBSERVAM-SE, AO FUNDO, AS CICATRIZES DEIXADAS NA ENCOSTA APÓS O DESLIZAMENTO


DE 2010 EM ANGRA DOS REIS (RJ)

FONTE: <https://docplayer.com.br/docs-images/45/6396646/images/page_6.jpg>. Acesso em:


9 set. 2019.

POUSADA SANKAY NA ENSEADA DO BANANAL

FONTE: <https://docplayer.com.br/docs-images/45/6396646/images/page_6.jpg>. Acesso em:


9 set. 2019.

FONTE: LOUSADA, G.; FARIAS, H. Desastres ambientais, prevenção e mitigação: um estudo de


caso da região de Angra dos Reis/RJ. Revista Continentes (UFRRJ), v. 3, n. 5, p. 131-149, 2014.

75
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A principal propriedade solicitada nos solos é a resistência, a qual se obtém


variando o ângulo de atrito interno e/ou a coesão.

• Para alterar o ângulo de atrito interno e/ou a coesão dos solos, é preciso atuar
nos seguintes parâmetros: granulometria, compacidade e umidade.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

76
AUTOATIVIDADE

1 O método de Fellenius ou das fatias, em que se despreza a reação entre as


fatias adjacentes do solo, consiste em ser admitida uma superfície circular
de ruptura e ser feito o cálculo de um fator de segurança para diversos
centros de rotação, a partir das condições de equilíbrio das fatias e da
resistência de cisalhamento ao longo da superfície. O fator de segurança a
ser adotado será o (a):

a) ( ) Maior valor obtido para as diversas circunferências.


b) ( ) Menor valor obtido para as diversas circunferências.
c) ( ) Valor obtido para a circunferência de maior raio.
d) ( ) Valor obtido para a circunferência de menor raio.
e) ( ) Média aritmética dos valores obtidos para as diversas circunferências.

2 O que se pode considerar como um indicativo de rastejo iminente de massa


de solo superficial?

a) ( ) Rochas fraturadas.
b) ( ) Fendas de tração no solo.
c) ( ) Afloramentos rochosos.
d) ( ) Vegetação seca.
e) ( ) Vegetação de porte com troncos inclinados.

3 Em um mapa de risco geotécnico de uma região, NÃO corresponde uma


informação cujo registro é considerado relevante:

a) ( ) Histórico de sismos.
b) ( ) Histórico de erosão.
c) ( ) Histórico de inundações (cheias).
d) ( ) Altitude média da região.
e) ( ) Ocorrência de falhas geológicas.

4 O que NÃO corresponde a uma técnica de reforço (melhoria) do terreno?

a) ( ) Uso de geossintéticos.
b) ( ) Jet grouting.
c) ( ) Solo grampeado.
d) ( ) Sondagem.

77
78
UNIDADE 2 —

FUNDAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os métodos para determinar a capacidade de carga de estacas;


• determinar a capacidade de carga de estacas pelos métodos dinâmicos e
semiempíricos;
• dimensionar fundações rasas, como sapata isolada, sapata associada e sa-
pata de divisa;
• dimensionar tubulões;
• dimensionar estaca;
• calcular o recalque de uma superfície retangular pelo método de Schlei-
cher.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – CAPACIDADE DE CARGA


TÓPICO 2 – DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO
TÓPICO 3 – RECALQUES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

79
80
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

CAPACIDADE DE CARGA

1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico, abordaremos o conceito de capacidade de carga
em estacas. Considere uma estaca cravada em um determinado solo, com
comprimento L. No topo da estaca (cabeça), será aplicada uma carga vertical
P, de compressão. Imagine que a carga é progressivamente aumentada. Com a
aplicação gradativa da carga aplicada, são mobilizadas tensões resistentes por
adesão ou atrito lateral entre o solo e o fuste da estaca, assim como tensões
resistentes normais na base ou na ponta da estaca (CINTRA; AOKI, 2010).

A determinação da capacidade de carga de estacas pode ser feita por


fórmulas dinâmicas, estáticas, métodos semiempíricos ou provas de carga. Neste
tópico, abordaremos algumas formulações e metodologias utilizadas.

2 RESISTÊNCIA DE UMA ESTACA


A resistência de uma estaca é composta por duas parcelas: resistência de
ponta (Rp) e resistência de atrito lateral (Ra), conforme equação 12:

R = Rp + Ra Eq. 12

Se Rp >> Ra, costuma-se dizer que a estaca trabalha de ponta. Se Ra >>


Rp, diz-se que a estaca trabalha por atrito (flutuante). O atrito negativo na estaca
ocorre quando o solo se desloca mais, e tal atrito pode sobrecarregar a estaca.

81
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 1 – ATRITO NEGATIVO EM ESTACAS

FONTE: Caputo e Caputo (2015, p. 284)

A determinação da capacidade de carga de uma estaca isolada pode ser


feita por fórmulas dinâmicas, estáticas, métodos semiempíricos ou provas de
carga. Quanto à capacidade de carga de um grupo de estacas, é obtida através de
relações entre comprimento, diâmetro, espaçamento (de centro a centro de cada
estaca) e tipo de solo que serve de suporte.

82
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

3 FÓRMULAS DINÂMICAS PARA DETERMINAÇÃO DA


CAPACIDADE DE ESTACAS
As fórmulas dinâmicas avaliam a capacidade de carga das estacas a partir
dos dados obtidos durante a cravação. As formulações utilizam a medida da
“nega”, que é a penetração que a estaca sofre ao receber o golpe de um pilão no
fim da cravação (CAPUTO; CAPUTO, 2015).

A dedução das fórmulas dinâmicas é referenciada na igualdade entre a


energia de queda do martelo e o trabalho gasto durante a cravação da estaca,
conforme equação 13:

P*h = (R*e) + Z Eq. 13

Sendo:

P = peso do martelo (KN ou tf);


h = altura de queda (cm);
R = resistência oferecida pelo terreno para a penetração da estaca (KN ou tf);
e = nega;
Z = soma das perdas de energia durante a cravação (compressão do terreno, da
estaca, do capacete etc.).

A dificuldade para determinação da capacidade de carga está na


determinação do índice Z a partir das hipóteses admitidas para a avaliação de
tal parâmetro. Assim, foram desenvolvidos diversos procedimentos de cálculo.

3.1 FÓRMULA DE BRIX


Foi elaborada a partir da teoria do choque newtoniano. Na fórmula de
Brix, a elasticidade entre estaca e martelo é desprezada. Logo após o choque,
admite-se que o martelo se separa da estaca para realizar o segundo golpe, sem
auxílio na penetração da estaca. Havendo a adoção de um coeficiente de segurança
mínimo 5, a equação 14 (fórmula de Brix) pode ser utilizada para determinação
da capacidade de carga.

Eq. 14

Sendo:

R = resistência oferecida pelo terreno para a penetração da estaca (KN ou tf);


P = peso do martelo (KN ou tf);
Q = peso da estaca (KN ou tf);
83
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

h = altura de queda (cm);


e = nega.

3.2 FÓRMULA DOS HOLANDESES (WOLTMANN)


Segundo Caputo e Caputo (2015), a fórmula dos holandeses (Woltmann),
de uso muito generalizado, é obtida através da equação 13. Para a fórmula dos
holandeses, Chellis (1961) aconselha a aplicação de um coeficiente de segurança
15.

Eq. 15

3.3 FÓRMULA DO ENGINEERING NEWS RECORD


A fórmula do Engineering News Record (equação 16) é muito utilizada
na América do Norte. O coeficiente “c” é estabelecido em 2,5 cm para pilões de
queda livre e 0,25 cm para pilões a vapor. O coeficiente de segurança indicado é
6 (CAPUTO; CAPUTO, 2015).

Eq. 16

3.4 FÓRMULA DE HILEY


A medição do repique da estaca, obtida no momento da obtenção da
nega, foi empregada na fórmula de Hiley (equação 17). A utilização do repique
– deslocamento elástico medido no topo da estaca (c2 + c3) – foi sugerida por
Chellis (1961).

FIGURA 2 – OBTENÇÃO DE NEGA E REPIQUE

FONTE: Caputo e Caputo (2015, p. 287)

84
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

O valor de K varia 0,15 para estacas pesadas, martelos leves e coxins


macios, e 0,68 para estacas leves, martelos pesados e coxins duros (CAPUTO;
CAPUTO, 2015).

Eq. 17

Sendo:

C = C1 + C2 + C3;
C1 = perda de energia por compressão do capacete;
C2 = perda de energia por compressão da estaca;
C3 = perda de energia por compressão do terreno;
K = rendimento do golpe do martelo.

Segundo Velloso e Lopes (2010), podemos estimar a carga mobilizada por


Chellis (1961), conforme equação 18, sendo (L) o comprimento da estaca embutida
no solo, (E) o módulo de elasticidade do concreto e (A) a área transversal da estaca.

Eq. 18

DICAS

Confira a obtenção de nega e repique no vídeo a seguir: https://www.youtube.


com/watch?v=MvFd2ShjR1s.

• EXEMPLO 1

No projeto de fundação de uma edificação residencial de quatro


pavimentos, você precisa determinar qual será a medida da nega para controle da
cravação das estacas. A carga do pilar é de 20 tf e, através do laudo de sondagem,
foi determinado que o comprimento de cravação será de 22 metros. Alguns dados
são preestabelecidos:

Altura de queda livre do martelo (h) = 100 cm;


Peso do martelo = 3,5 tf;
Estaca de concreto, quadrada, com dimensões de 20x20 cm;
Peso específico do concreto = 25 KN/m³.

85
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Solução:

Primeiramente, é necessário calcular o peso total da estaca:

Qestaca = (volume) x ɣconcreto;


Qestaca = (0,20 x 0,20 x 22) x 25 KN/m³;
Qestaca = 22 KN = 2,2 tf;

Utilizaremos a fórmula de Brix e consideraremos o coeficiente de


segurança = 5. Dessa forma, a fórmula será multiplicada por .

Logo, e = 0,83 cm

Nos 10 últimos golpes, a estaca deve penetrar até 0,83 cm no solo.

Utilizando a fórmula dos holandeses, e considerando um coeficiente de


segurança = 10, temos o seguinte resultado:

Logo:

e = 1,07 cm.

Para a fórmula dos holandeses, temos uma nega 0,24 cm maior. A seguir,
encontra-se um modelo de relatório de cravação de estacas.

FIGURA 3 – RELATÓRIO DE CRAVAÇÃO DE ESTACAS

FONTE: <https://www.ecivilnet.com/dicionario/images/repique.jpg>. Acesso em: 15 set. 2019.

86
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

4 MÉTODOS SEMIEMPÍRICOS PARA DETERMINAÇÃO DA


CAPACIDADE DE ESTACAS
De acordo com Velloso e Lopes (1998), a engenharia de fundações no Brasil
pode ser descrita como a geotecnia do ensaio SPT. Os pesquisadores e engenheiros
da área de geotecnia desenvolveram métodos de capacidade de carga utilizando o
resultado do ensaio SPT. Os métodos semiempíricos são baseados em correlações
empíricas com os resultados de ensaios realizados in loco.

No Brasil, o primeiro método de estimativa de cargas de estacas foi


proposto por Aoki e Velloso, em 1975. Posteriormente, foi desenvolvido o método
de Décourt-Quaresma, em 1978, o método de Pedro Paulo Costa Velloso, em 1979,
e o método de Urbano Rodriguez Alonso, em 1996. Esses métodos de previsão
determinam as resistências lateral e de ponta e, com seus respectivos coeficientes
de segurança, a carga admissível (CRUZ; BOTTINO; COELHO, 2016).

4.1 MÉTODO DE AOKI E VELLOSO


O método de Aoki e Velloso (1975) foi desenvolvido a partir de um estudo
comparativo entre resultados obtidos através de provas de carga em estacas e do
ensaio de solo SPT. O método pode ser utilizado com os dados do ensaio SPT e
do ensaio CPT (VELLOSO; LOPES, 2010).

Para a determinação da capacidade de carga, deve-se, primeiramente,


determinar a área lateral da estaca, conforme equação 19:

Al = ∑p + ∆l Eq. 19

Em que:

p = perímetro da seção transversal do fuste da estaca;


∆l = trecho onde se admite ql constante;
ql e qp = parâmetros que diferenciam os métodos semiempíricos.

Aoki e Velloso (1975) desenvolveram um método que prevê o uso de


diferentes tipos de seções e execuções. A capacidade de carga do solo Qpu, na
cota de apoio da estaca, é dada pela equação 20:

Eq. 20

O atrito lateral Qlu (equação 21) entre a estaca e o solo é definido como:

Eq. 21

87
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Em que:

Sp = área de ponta;
Qpu = resistência de ponta unitária medida no ensaio de SPT;
fs = resistência lateral unitária;
F1 e F2 = coeficientes de correção que levam em consideração o tipo de estaca e o
efeito de escala.

Para o cálculo da capacidade de carga Qu de estacas isoladas, Aoki e


Velloso (1975) estimaram, pelo método semiempírico, a equação 22:

Eq. 22

Em que:

Np = índice de resistência à penetração na cota de apoio da fundação;


Nl = índice de resistência à penetração ao longo do fuste da estaca, com obtenção
a partir do SPT;
α = atrito do cone com a tensão de ponta;
p = perímetro da seção transversal do fuste da estaca;
Δl = trecho onde se admite ql constante;
k = coeficiente em função do tipo de solo correlacionado entre os ensaios de CPT
e SPT.

Os coeficientes de proporcionalidade foram desenvolvidos para que o


método pudesse atender a diversos tipos de estacas.

QUADRO 1 – COEFICIENTE K E RAZÃO DE ATRITO A DO MÉTODO AOKI-VELLOSO

SOLO K(kPa) α (%)


pura 1000 1,4
siltosa 800 2,0
silto argilosa 700 2,4
AREIA argilosa 600 3,0
argilo siltosa 500 2,8
puro 400 3,0
arenoso 550 2,2
areno argiloso 450 2,8
SILTE argiloso 230 3,4
argilo arenoso 250 3,0

88
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

pura 200 6,0


arenosa 350 2,4
areno siltosa 300 2,8
ARGILA siltosa 220 4,0
silto arenosa 330 3,0
FONTE: Aoki e Velloso (1975, p. 371)

QUADRO 2 – FATORES DE CORREÇÃO F1 E F2


Tipo de estaca F1 F2
Franki 2,50 2 F1
Metálica 1,75 2 F1
Pré-moldada 1+D/0,80 2 F1
Escavada 3,0 2 F1
Raiz, hélice contínua e ômega 2,0 2 F1
FONTE: Cintra e Aoki (2010, p. 26)

• EXEMPLO 2: Cintra e Aoki (2010)

Considere estacas pré-moldadas de concreto, com diâmetro de 33 cm,


carga de catálogo de 750 KN e comprimento de 12 m. Ainda, cravadas em local
com a ponta da estaca na cota de -13 metros. Determine a previsão de carga dessa
fundação utilizando o método Aoki-Velloso.

Nspt médio por camada de solo:

Determinar os valores de F1 e F2 para a estaca pré-moldada:

Determinar a resistência lateral por camada de solo:

Camada 1: areia fina/média, argilosa, marrom.


De -1 a -6 metros (desconsiderar primeiro metro).
Comprimento da camada = 5 metros.
Logo, k=600 e α = 3%
Nspt médio 1 = 3,2.
89
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Resistência lateral:

Camada 2: areia fina, argilosa, avermelhada.


De -6 a -11 metros.
Comprimento da camada = 5 metros.
Logo, k=600 e α = 3%
Nspt médio 2 = 7,2.

Resistência lateral:

Camada 3: areia, argilosa, variegada.


De -11 a -13 metros.
Comprimento da camada = 2 metros.
Logo, k=600 e α = 3%
Nspt médio 3 = 8.

Resistência lateral:

Resistência lateral total = Qlu1 + Qlu2 + Qlu3


Qlu = 449,99 = 450 KN.

Resistência de ponta:
Nspt = 14 (na ponta da estaca = cota -13).

Capacidade de carga:
Q = Qlu + Qpu = 450 + 509,5 = 959,5 KN.

90
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

4.2 MÉTODO DE DÉCOURT E QUARESMA


O método de Décourt e Quaresma, desenvolvido em 1978, tem, como
característica, o dimensionamento das capacidades de carga e de ponta
separadamente (VELLOSO; LOPES, 2010). O número de golpes apresentado e
o tipo de solo são variáveis que definem a resistência de ponta rpu, dada pela
equação 23:

rpu = C * Npm Eq. 23

Sendo que:

Npm = média aritmética dos valores de SPT;


C = coeficiente relacionado ao tipo de solo.

Décourt e Quaresma, em 1982, aperfeiçoaram o método e desenvolveram


a equação 24 para resistência lateral (Qlu):

Eq. 24

Sendo que:

Nl = valor médio dos valores de SPT ao longo do fuste da estaca.

Os valores de SPT menores que 3 devem ser considerados como 3, e os


valores acima, no máximo, até 50. Acima desse valor, considerar 50.

A capacidade de carga Qu de apenas uma estaca é obtida pela fórmula


semiempírica (equação 25):

Qu = C*Npm*AP + 10*(Nl/3 + 1)*Al Eq. 25

Em que:

C = coeficiente para resistência de ponta em função do tipo de solo;


Npm = valor médio do NSPT na ponta da estaca, o imediatamente anterior e o
imediatamente posterior;
Ap = área da ponta da estaca;
Al = área do fuste da estaca;
Nl = valor médio do NSPT ao longo do fuste da estaca.

A seguir, encontram-se os valores do coeficiente “C” para a resistência de


ponta. Após, os valores de atrito médio com relação ao N médio ao longo do fuste
da estaca.

91
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

QUADRO 3 – VALORES DO COEFICIENTE “C”

Tipo de solo C (KN/m²)


Argilas 120
Siltes argilisos (alteração de rocha) 200
Siltes arenosos (alteração de rocha) 250
Areias 400
FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 314)

QUADRO 4 – VALORES DE ATRITO MÉDIO

N (médio ao longo do fuste) Atrito lateral (tf/m²)


≤3 2
6 3
9 4
12 5
≥15 6
FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 314)

Décourt, em 1996, acrescentou os coeficientes “α” e “β” na fórmula de


capacidade de carga, conforme equação 26. A finalidade da inclusão foi estender
o método para que outros tipos de fundações pudessem ser dimensionados.
Inicialmente, o método de Décourt era aplicado apenas às estacas de deslocamento
(CRUZ; BOTTINO; COELHO, 2016). Os coeficientes adotados pelO Autor estão
dispostos a seguir.

Qu = α*C*Npm*AP + Al* β *∑10*(Nl/3 + 1) Eq. 26

QUADRO 5 – VALORES DE A E B EM FUNÇÃO DO TIPO DE ESTACA E DO TIPO DE SOLO

Solo Tipo de estaca


Escavadas Escavada Hélice Raiz Injetada
(bentonita) contínua
α Β α β α β α β α β
Argilas 0,85 0,8* 0,85 0,9* 0,3* 1,0* 0,85* 1,5* 1,0* 3,0*
Solos 0,6 0,65* 0,6 0,75* 0,3* 1,0* 0,6* 1,5* 1,0* 3,0*
intermediários
Areias 0,5 0,5* 0,5 0,6* 0,3* 1,0* 0,5* 1,5* 1,0* 3,0*
* Valores apenas orientativos diante do reduzido número de dados disponíveis.
**Para estacas pré-moldadas de concreto, metálicas e tipo Franki α = β = 1.

FONTE: Adaptado de Décourt (1998)

92
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

• EXEMPLO 3:

O exemplo de Cintra e Aoki (2010) será solucionado pelo procedimento


semiempírico de Décourt e Quaresma.

Resistência lateral:

Camada 1: areia fina/média, argilosa, marrom.


De -1 a -6 metros (desconsiderar primeiro metro).
Comprimento da camada = 5 metros.
Logo, β = 1 (estaca pré-moldada).
Nspt médio 1 = 3,2.

Resistência lateral:

Camada 2: areia fina, argilosa, avermelhada.


De -6 a -11 metros.
Comprimento da camada = 5 metros.
Logo, k=600 e α = 3%
Nspt médio 2 = 7,2.

Resistência lateral:

Camada 3: areia, argilosa, variegada.


De -11 a -13 metros.
Comprimento da camada = 2 metros.
Logo, k=600 e α = 3%
Nspt médio 3 = 8.

Resistência lateral:

93
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Resistência lateral total = Qlu1 + Qlu2 + Qlu3


Qlu = 359,40 KN.

Resistência de ponta:
Npm C = 16+14+9 /3 = 13.
C = 400.
α = 1,0.
Qpu = α*C*Npm*AP

Capacidade de carga:
Q = Qlu + Qpu = 359,4 + 444,76 = 804,16 KN.

5 PROVA DE CARGA PARA DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE


DE ESTACAS
Segundo Caputo e Caputo (2015), a prova de carga constitui o único
método capaz de fornecer um valor incontestável da capacidade de carga de
uma estaca. Em grandes obras, é de suma importância que os resultados obtidos
através das fórmulas dinâmicas ou estáticas sejam comprovados por meio de,
pelo menos, uma prova de carga direta da estaca.

A norma NBR 12131 (ABNT, 2006) descreve o método de ensaio de prova


de carga estática em fundações. Segundo a norma, o dispositivo de aplicação de
carga consiste, basicamente, em aplicar esforços estáticos à estaca e registrar os
deslocamentos correspondentes.

A execução de provas de cargas estáticas de desempenho, no decorrer do


estaqueamento, é definida segundo norma NBR 12131 (ABNT, 2006):

QUADRO 6 – QUANTIDADE DE PROVAS DE CARGAS

A
B
Tensão de trabalho abaixo da
Número total de
qual não serão obrigatórias
estacas da obra a
Tipo de estaca provas de carga, desde que o
partir do qual serão
número de estacas da obra seja
obrigatórias provas
inferior à coluna (B), em MPa b
cd de cargab c d

Pré-moldada a 7,0 100


Madeira - 100
Aço 0,5 fyk 100

94
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

Hélice, hélice de
deslocamento, hélice
5,0 100
com trado segmentado
(monitorada)
Estacas escavas com ou
5,0 75
sem fluido ø ≥ 70 cm
≤ ø 310 mm = 15,0
Raiz 75
≥ ø 400 mm = 13,0
Microestaca 15,0 75
Trado vazado
5,0 50
segmentado
Franki 7,0 100
Escavadas sem fluído ø
4,0 100
< 70 cm
Strauss 4,0 100
a
Para o cálculo da tensão de trabalho, consideram-se estacas vazadas como
maciças, desde que a seção vazada não exceda 40% da seção total.
b
Os requisitos citados são válidos para as seguintes condições (não
necessariamente simultâneas):
- áreas onde haja experiência prévia com o tipo de estaca empregado.
- onde não houver particularidades geológico-geotécnicas.
- quando não houver variação do processo executivo padrão.
- quanto não houver dúvida quanto ao desempenho das estacas.
c
Caso as condições aqui citadas não ocorram, devem ser feitas provas de
carga em, no mínimo, 1% das estacas, observando-se um mínimo de uma
prova de carga (conforme ABNT NBR 12131), qualquer que seja o número de
estacas.
d
As provas de cargas, executadas exclusivamente para avaliação de
desempenho, devem ser levadas até que se atinja, pelo menos, duas vezes
a carga admissível ou até que se observe um deslocamento que caracterize
ruptura. Caso exista prova de carga prévia, as provas de cargas de
desempenho devem ser levadas até que se atinja, pelo menos, 1,6 vezes a carga
admissível, ou até que se observe um deslocamento que caracterize ruptura.
FONTE: Adaptado de ABNT (2019)

DICAS

Observe a aplicação da prova de carga estática em https://www.youtube.com/


watch?v=AaSjFvBsGu8.

95
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

A coleta de dados, durante o ensaio de prova de carga, não pode sofrer


influência de vibrações externas, pois são obtidas medidas de deslocamentos com
pequenas grandezas. No decorrer do ensaio, devem ser paralisadas as atividades
de descarga de materiais, trânsito de caminhões e a operação de equipamentos
que gerem ruídos e vibrações. Dessa forma, é fundamental que tal etapa esteja
contemplada no cronograma de atividades. A seguir, são apresentadas imagens
do procedimento de prova de carga.

FIGURA 4 – ENSAIO DE PROVA DE CARGA

FONTE: <http://www.engesol.eng.br/images/servicos/prova-carga/prova-principal.jpg>; <http://


www.engesol.eng.br/images/servicos/prova-carga/sistema.jpg>. Acesso em: 15 out. 2019.

6 ATIVIDADE PRÁTICA
Observe os seguintes objetivos:

• Analisar um laudo de estaqueamento e identificar as informações fornecidas.


• Calcular a capacidade de carga da estaca utilizando a fórmula de Brix.
• Calcular a capacidade de carga da estaca utilizando a fórmula dos holandeses.

Uma estaca-teste foi cravada em um terreno arenoso. O laudo de cravação


foi elaborado durante o teste, e é necessário determinar alguns parâmetros para
o dimensionamento da capacidade de carga da estaca. Em atenção ao laudo de
cravação, responda:

a) Qual é o comprimento cravado da estaca?


b) Quais são os valores da nega e do repique para os últimos 10 golpes?
c) Utilize as fórmulas de Brix e a fórmula dos holandeses (Woltmann) para
determinar a capacidade de carga da estaca.

96
TÓPICO 1 —CAPACIDADE DE CARGA

FIGURA 5 – RELATÓRIO DE ESTAQUEAMENTO

FONTE: O Autor

7 ATIVIDADE PRÁTICA
Observe os seguintes objetivos:

• Análise do perfil do solo através de um laudo de sondagem;


• Aplicação dos conceitos de resistência de ponta e atrito lateral.
• Determinação da capacidade de carga de estacas através do método
semiempírico.

Com relação ao laudo de sondagem realizado, determine a capacidade


de carga de uma estaca quadrada com dimensões 22x22 cm e cravada com
profundidade de 15 metros. Utilize os métodos de Aoki e Velloso e de Décourt
Quaresma. Compare os resultados obtidos.

97
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 6 – PERFIL DE SONDAGEM SP-01

FONTE: O Autor

98
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A determinação da capacidade de carga de estacas pode ser feita por fórmulas


dinâmicas, estáticas, métodos semiempíricos ou provas de carga.

• A resistência de uma estaca é composta por duas parcelas: resistência de ponta


(Rp) e resistência de atrito lateral (Ra).

• As fórmulas de Brix, dos holandeses (Woltmann), Engineering News Record e


de Hiley, embasadas nos dados obtidos durante a cravação, são utilizadas para
a determinação da capacidade de carga de estacas.

• Os pesquisadores e engenheiros da área de geotecnia desenvolveram métodos


de capacidade de carga utilizando o resultado do ensaio SPT.

• A norma NBR 12131 (ABNT, 2006) descreve o método de ensaio de prova de


carga estática em fundações.

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99
AUTOATIVIDADE

1 Para a determinação da capacidade de carga de estacas, um dos métodos


utilizados é o Decourt-Quaresma, que se baseia:

a) ( ) Exclusivamente, em resultados de ensaios de SPT, sendo aplicado


apenas em fundações executadas com estacas pré-moldadas de concreto
cravadas.
b) ( ) Exclusivamente, em resultados de ensaios de SPT, sendo aplicado em
fundações executadas com estacas cravadas ou escavadas.
c) ( ) No resultado de ensaios estáticos CPT, sendo aplicado em fundações
executadas com estacas cravadas ou escavadas.
d) ( ) No resultado de ensaios de SPT e CPT, sendo aplicado em fundações
executadas com estacas cravadas ou escavadas.
e) ( ) No resultado de ensaios de SPT e análise granulométrica das amostras
de solo, sendo aplicado apenas em fundações executadas com estacas
cravadas.

2 Com relação à capacidade de carga de fundações profundas, julgue as


proposições a seguir:

I- A capacidade de carga de uma estaca profunda é caracterizada pela carga


de colapso da estaca, determinada pela capacidade resistente do elemento
estrutural.
II- A capacidade de carga de uma fundação não se refere apenas à estaca ou à
sapata, mas também ao solo.
III- A avaliação da capacidade de carga de uma estaca, a partir dos dados
obtidos durante sua cravação, não pode ser utilizada para estacas moldadas
“in loco".
IV- A capacidade de carga de ruptura é a maior carga transmitida pela fundação
que o terreno admite, em qualquer caso, com adequada segurança à ruptura
e sofrendo deformações compatíveis com a sensibilidade da estrutura.
V- Os solos pouco compressíveis (compactos ou rijos) apresentam ruptura
bem definida, denominada ruptura generalizada.

Estão CORRETAS, apenas:


a) ( ) Sentenças II, III e IV.
b) ( ) Sentenças I, II e III.
c) ( ) Sentenças II, III, IV e V.
d) ( ) Sentenças I, II, III e V.
e) ( ) Sentenças II, IV e V.

100
3 Para que a escolha do tipo de fundação de uma estrutura seja adequada
às questões geotécnicas, alguns elementos devem ser considerados, como
a natureza, características do subsolo envolvido, grandeza, disposição
das cargas a serem transmitidas e o conhecimento dos variados tipos de
fundações, inclusive suas restrições técnicas. Todas as afirmativas estão
corretas, EXCETO:

a) ( ) As fundações rasas, como as sapatas isoladas, os tubulões e os


blocos de fundação, são empregadas quando o solo já possui capacidade
de suporte para receber o carregamento da obra em suas camadas
superficiais.
b) ( ) As fundações profundas são empregadas quando o solo somente
apresenta capacidade de carga em profundidade para receber o
carregamento advindo da obra. As estacas tipo “Strauss” e “Franki” são
exemplos desse tipo de fundação.
c) (   ) As placas de fundação, também conhecidas como “Radier”, são
exemplos de fundação rasa, esta que reúne, em um só elemento, a
transmissão das cargas de um conjunto de pilares ao solo.
d) (   ) Solos, cuja análise granulométrica apresenta uma grande quantidade
de argilas, são os mais indicados para que recebam as fundações profundas.

101
102
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

1 INTRODUÇÃO
Em todos os projetos de engenharia, é necessário ter conhecimento sobre os
materiais utilizados, sobre suas estruturas, suas propriedades físicas e mecânicas
para, então, partir para um dimensionamento. Em projetos de fundações, isso
não é diferente.

No tópico anterior, aprendemos sobre capacidade de carga das fundações


para iniciarmos o dimensionamento. Agora, você dimensionará os elementos de
fundações rasas, tubulões e estacas.

2 DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES RASAS


No dimensionamento das fundações rasas, é necessário encontrar a
geometria de base que proporcione uma tensão solicitante menor, ou seja,
é preciso garantir a segurança da fundação. Assim, a seguir, abordaremos o
dimensionamento de sapatas.

2.1 DIMENSIONAMENTO DE SAPATAS


Como visto na Unidade 1, Campos (2015) apresenta os quatro tipos
mais comuns de sapata, que podem ser classificados de acordo com a carga que
transferem ao solo:

a) Isolada: carga concentrada de um único pilar. Distribui a carga em duas


direções.
b) Associada: carga concentrada de mais de um pilar e transferida através de uma
viga que associa as sapatas.
c) Corrida: carga linear (parede).
d) De divisa: carga concentrada transferida através de uma viga que alavanca.

103
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

2.1.1 Sapatas isoladas


A área da sapata é dimensionada em função da carga aplicada (carga de
pilares ou de apoio de vigas baldrames) e da resistência do solo. As sapatas dos
pilares centrais isolados deverão ser únicas por pilar e seguir seus formatos. Por
exemplo, para um pilar quadrado com dimensões (B x L), a sapata será quadrada
(L = B).

A área da base de um bloco de fundação ou de uma sapata, quando sujeita


apenas a uma carga vertical, é calculada pela equação 27:

Eq. 27

Em que:

A = área da sapata;
P = carga proveniente do pilar;
pp = peso próprio da sapata;
σadm = tensão admissível do solo.

Como o peso da sapata depende de suas dimensões, e estas, por sua vez,
dependem do próprio peso, o problema só pode ser resolvido por tentativas,
isto é, estima-se um valor para o peso próprio e, com esse valor, dimensiona-se
a sapata. A seguir, verifica-se se o peso próprio real é menor ou igual ao valor
estimado, caso contrário, repete-se a operação (ALONSO, 2010). Na maioria dos
casos, o valor do peso próprio é pouco significativo e pode aplicar a equação 28.

Eq. 28

Para um pilar quadrado, tem-se que A = B X L = B X B = B2.

Conhecida a área “A”, a escolha do par de valores B e L, para o caso de


sapatas isoladas, deve ser feita de modo que:

1) O centro de gravidade da sapata coincida com o centro de carga do pilar.


2) A sapata não tenha nenhuma dimensão menor que 60 cm.
3) Sempre que possível, a relação entre os lados B e L deva ser menor ou, no
máximo, igual a 2,5.

Para o dimensionamento econô­mico, recomenda-se que os balanços da


sapata, nas duas dimensões em relação às faces do pilar, sejam iguais (x = y).
Recomenda-se também que, quando não houver limitação de espaço:

104
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Quando o pilar possui seção transversal quadrada ou circular, usa-se a


equação 29.

Eq. 29

Quando o pilar possui seção transversal retangular, usa-se a equação 30.

Eq. 30

B – Bo = 2d
L – Lo = 2d

Sendo que:

Bo e Lo = dimensões do pilar;
d = distância do pilar até a extremidade da sapata.

FIGURA 7 – EXEMPLO DE GEOMETRIA DE ESTACA RETANGULAR

FONTE: Adaptado de Alonso (2010, p. 3)

105
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

• EXEMPLO 1

Dimensionar uma sapata para um pilar de 30 x 100 cm e carga de 3 000


KN, sendo a taxa admissível no solo igual a 0,3 MPa. Deve-se utilizar a opção
mais econômica para o dimensionamento com balanços iguais.

= 10m² ou 100 000cm²


B – L = Bo – L0 = 100 – 30 = 70 cm
(70 + L). L = 100 000
L2 + 70 L – 100 000 = 0, logo L = 283cm, adotando-se múltiplo de 5 cm, L = 285cm.
B = 70 + L  B = 355cm

FIGURA 8 – DIMENSIONAMENTO PARA UM PILAR

FONTE: O Autor

2.1.2 Sapatas associadas


Quando as cargas estruturais forem muito altas em relação à tensão
admissível, pode ser inviável a utilização de uma sapata isolada para cada pilar.
Assim, utiliza-se uma única sapata para dois ou mais pilares: a sapata associada
(TEIXEIRA; GODOY, 1998). Também é chamada de sapata combinada ou
conjunta.

106
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

FIGURA 9 – EXEMPLO DE GEOMETRIA DE ESTACA RETANGULAR

FONTE: Adaptado de Alonso (2010, p. 5)

Para o dimensionamento, inicia-se com o cálculo das coordenadas x e y do


centro da carga, como podemos observar nas equações 31 e 32.

Eq. 31

Eq. 32

Dimensiona-se, então, a área da sapata associada, segundo a equação 33.

Eq. 33

• EXEMPLO

Os pilares 7 e 8, a seguir, são muito próximos um do outro, com distância


entre 2,30 m. As cargas dos pilares 7 e 8 têm valores aproximados. Dimensione
uma sapata associada com base retangular para transmitir a carga dos pilares ao
solo. σ = 500 KPa.

107
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 10 – DIMENSIONAMENTO PARA OS PILARES 7 E 8

FONTE: O Autor

RESOLUÇÃO

A distância entre os pilares, em planta, é de d1 = 2,30m. Será adotada a


base B = 1,0m.

Para a determinação do comprimento A da sapata associada, deve-se


determinar a coordenada x através da equação 31.

Para a determinação dos comprimentos L1 e L2, podemos calcular da


seguinte forma:

Adota-se L7 = 1,35m e L8 = 1,55m.

O comprimento A pode ser calculado como somatório das três distâncias.


Assim, A = 4,15 m.

108
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Para o cálculo da altura da sapata associada, pode-se afirmar que (A –


ap)/2 = c, em que ap é a largura do pilar e c a distância entre a face do pilar e a face
da sapata associada.

Para uma sapata rígida, tem-se que:

Em que c é o maior valor encontrado em relação aos dois pilares.

Para a sapata associada em questão, calcula-se:

c7 = (1,35 – 0,60)/2m = 1,05 e c8 = (1,55 – 0,70)/2 = 1,20m

2.1.3 Sapatas de divisa


Os pilares posicionados na divisa do terreno ficam excêntricos em relação
ao centro da sapata, surgindo um momento fletor, que pode ser absorvido por
uma “viga de equilíbrio”, vinculada à sapata de um outro pilar, interno na
edificação. A viga também atua transferindo a carga do pilar para o centro da
sapata da divisa.

Para o dimensionamento da sapata da divisa, a maneira mais conveniente


é aquela em que a relação entre os lados esteja compreendida entre 2 e 2,5. A
reação R, atuante no centro de gravidade da sapata, é calculada pela equação 34.

Eq. 34

Em que:

P1 = é a carga da sapata;
e = excentricidade;
d= distância entre o eixo da sapata da divisa e o eixo de uma segunda sapata, na
qual será dimensionada uma viga de equilíbrio.

109
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 11 - DESENHO ESQUEMÁTICO DE SAPATAS DE DIVISA

FONTE: O Autor

É possível nomear a segunda parcela adicional da equação de R como ∆P.


As incógnitas “e” e “d” não são resolvidas pela equação anterior. Para isso, adota-
se a sequência de cálculo pelas equações 35, 36, 37 e 38:

1 – Adota-se que L = 2B:

Eq. 35

2 – Com o valor de B adotado, calcula-se “e” e “∆P”:

Eq. 36

Eq. 37

3 – Com o valor de ∆P adotado, calcula-se R e, enfim, a área da sapata:

Eq. 38

110
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Observa-se se os valores de B e L têm relação menor que 2,5. Se sim, o


problema estará resolvido, caso contrário, é necessário repetir o processo.

EXEMPLO

Considere os pilares P1 e P2 com as cargas N1=1300 kN e N2=1500kN,


respectivamente. O pilar P1 está situado na divisa do terreno. Dimensione a
sapata do pilar P1. Considere a tensão admissível do solo de 350 kN/m².

FIGURA 12 – DESENHO ESQUEMÁTICO

FONTE: O Autor

1º - DETERMINE A DIMENSÃO b DA SAPATA:

2º - DETERMINE A EXCENTRICIDADE:

111
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

3º - DETERMINE A REAÇÃO DE APOIO NO CENTRO DA SAPATA:

4º - CALCULE A ÁREA DA SAPATA:

5º - DETERMINE A DIMENSÃO a DA SAPATA:

6º - CONFERÊNCIA:

Obs.: Para a determinação do momento máximo atuante, faça um esquema


estático para as cargas atuantes e os apoios. A viga de equilíbrio é dimensionada
para “combater” o momento gerado pela excentricidade do pilar de divisa em
relação ao centro de gravidade da respectiva sapata. Para o exemplo:

FIGURA 13 - DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS

FONTE: O Autor

112
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Observe que a reação R2 é negativa, dessa forma, a carga no pilar P2 deve


ser acima de 269,28 kN para não haver esforço de tração na sapata.

Para dimensionar a sapata do pilar P2, deve ser recalculada a carga


aplicada. Dessa forma, a nova carga referente ao pilar P2 é dada por:

N2’ = N2 + (0,5*R2)
N2’ = 1500 + (0,5* -269,28) = 1365,36 kN

3 DIMENSIONAMENTO DE TUBULÃO
Tubulão, como visto anteriormente, é um elemento de fundação profunda,
escavado no terreno em que, pelo menos na sua etapa final, há descida de pessoas.
A ação é necessária para executar o alargamento de base ou, pelo menos, a limpeza
do fundo da escavação, uma vez que, nesse tipo de fundação, as cargas são
transmitidas preponderantemente pela ponta. Os tubulões podem ser agrupados
em dois grupos: tubulões a céu aberto e os que empregam ar comprimido.

Assim como no dimensionamento de fundações rasas, o engenheiro


responsável pelo dimensionamento de um tubulão deve observar a resistência do
solo e as geometrias necessárias.

O fuste do tubulão, normalmente, é circular, adotando-se 70 cm de


diâmetro mínimo. Já a projeção da base do tubulão poderá ser circular ou em
forma de falsa elipse. A área da base é calculada, desprezando-se o peso próprio,
visto que esse valor é desprezível devido às incertezas dos métodos para o cálculo
da taxa admissível do solo.

Conhecida a carga P, que atua sobre a fundação, e a tensão admissível do


solo, pode-se calcular a área da base pela equação 39.

Eq. 39

O fuste do tubulão transfere as cargas transmitidas pelo bloco de ligação à


base, por isso, a tensão resistente que influenciará no seu dimensionamento será
a do concreto. Se a projeção da base for circular, o diâmetro seguirá a equação 40.

Eq. 40

113
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

No caso do tubulão, a tensão admissível é dada pela equação 41:

Eq. 41

Em que:

fck = resistência do concreto;


γf = 1,4;
γc = 1,6.

O peso próprio do tubulão não é considerado nos cálculos, pois, na fixação


da tensão admissível do solo, na cota de apoio, supõe-se a resistência lateral ao
longo do fuste igual ao peso próprio do tubulão.

Os tubulões de concreto armado são construídos no próprio local da


fundação. Podem ter seções de 4 metros de altura e uma espessura de parede não
inferior a 20 cm. A camada resistente do solo é alcançada à medida que é feita a
escavação abaixo do tubulão (CAPUTO; CAPUTO, 2015).

Exemplo:

Dimensione uma área da base e o diâmetro de um tubulão para uma carga


P = 295 t, com um concreto 100 kgf/cm2 e um solo com tensão admissível de 60 tf/
m2 na cota de apoio da base, sendo um pilar isolado.

Resolução:

A partir do enunciado e da equação 40, temos que:

D=

Para a área da base, temos:

4 DIMENSIONAMENTO DE ESTACAS
Os conhecimentos adquiridos no tópico de capacidade de carga de
estacas são fundamentais para o dimensionamento. Obtendo a sondagem do
solo, tipo de estaca e a profundidade exequível, é possível determinar a seção e a
quantidade de estacas que realizarão a transferência de cargas da estrutura para
o solo. Através da análise e interpretação do laudo da sondagem, é determinada a
máxima profundidade exequível (Lmáx), além da capacidade de carga (R).

114
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Para dimensionar uma estaca isolada, você precisará obter as caracte­


rísticas e os parâmetros dos solos e conhecer amplamente as metodologias
executivas para escolher o tipo mais adequado ao projeto e determinar a máxima
profundidade de apoio que podemos obter na obra.

A máxima profundidade exequível é obtida relacionando as sonda­gens


aos limites operacionais dos equipamentos disponíveis na região. Dessa forma,
adotamos o comprimento das estacas de acordo com a profundi­dade máxima e
obtemos a capacidade de carga (R) por métodos semiempí­ricos, além da carga
admissível (Padm), aplicando os fatores de segurança.

A seguir, serão apresentados alguns diâmetros de estacas utilizadas e


suas respectivas cargas nominais.

QUADRO 7 – DIMENSÕES E CARGAS NOMINAIS DE ESTACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO


E ESTACAS DE AÇO

ESTACAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO


Tipo de estaca Dimensão (cm) Carga nominal (KN)
Pré-moldada vibrada 20 x 20 250
quadrada 25 x 25 400
σ = 6,0 a 9,0 MPa 30 x 30 550
35 x 35 800
Pré-moldada vibrada Ø 22 300
circular Ø 29 500
σ = 9,0 a 11,0 MPa Ø 33 700
Pré-moldada Ø 20 250
protendida circular Ø 25 500
σ = 10,0 a 14,0 MPa Ø 33 700
Pré-moldada Ø 20 250
centrifugada (vazada) Ø 23 300
σ = 9,0 a 11,0 MPa Ø 26 400
Ø 33 600
Ø 38 750
Ø 42 900
Ø 50 1300
Ø 60 1700
Ø 70 2300
ESTACAS DE AÇO
Tipo de estaca Dimensão (cm) Carga nominal (KN)
Trilho TR 25 200
σ ≈ 80 MPa TR 32 250
TR 37 300
TR 45 350
TR 50 400

115
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Perfis I e H H 6” 400
σ ≈ 80 MPa I 8” 300
(correto: descontar I 10” 400
1,5 mm para corrosão I 12” 600
e aplicar σ ≈ 120
MPa)
FONTE: Adaptado de Velloso e Lopes (1998)

QUADRO 8 – DIMENSÕES E CARGAS NOMINAIS DE ESTACAS

ESTACAS ESCAVADAS
Tipo de estaca Dimensão (cm) Carga nominal (KN)
Broca 20 x 20 100
σ = 3,0 MPa 25 x 25 150
Strauss Ø 25 200
σ = 4,0 MPa Ø 32 300
Ø 38 400
Ø 42 500
Ø 45 650
Ø 50 800
Estacão (escavada com lama Ø 60 1100
bentonítica) Ø 80 2000
σ = 4,0 MPa Ø 100 3000
Ø 120 4500
Ø 140 6000
Ø 160 8000
Ø 180 10000
Ø 200 12500
Estaca diafragma ou 40 x 250 4000
“barrete” 50 x 250 5000
σ = 4,0 MPa 60 x 250 6000
80 x 250 8000
100 x 250 10000
120 x 250 12000
OUTROS TIPOS DE ESTACAS
Tipo de estaca Dimensão (cm) Carga nominal (KN)
Apiloada Ø 20 120
σ = 4,0 MPa Ø 25 200
Franki Ø 35 600
σ = 6,0 MPa Ø 40 750
Ø 45 950
Ø 52 1300
Ø 60 1700

116
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Raiz Ø 10 100 – 150


σ = 8,0 a 22,0 MPa Ø 12 100 – 250
Ø 15 150 – 350
Ø 20 250 – 600
Ø 25 400 – 800
Ø 31 600 – 1050
Hélice continua Ø 27,5 250 – 300
σ = 8,0 a 22,0 MPa Ø 35 400 – 500
Ø 40 500 – 650
Ø 50 800 – 1000
Ø 60 1100 – 1400
Ø 70 1550 – 1900
Ø 80 2000 – 2500
Ø 90 2550 – 3200
Ø 100 3150 – 3900
FONTE: Adaptado de Cintra e Aoki (2010)

4.1 EFEITO DE UM GRUPO DE ESTACAS


O efeito de um grupo de estacas ou tubulões consiste no processo de
interação das diversas estacas ou tubulões ao transmitirem ao solo as cargas que
são aplicadas. Essa interação ocasiona uma superposição de tensões, de tal forma
que o recalque do grupo de estacas ou tubulões, para uma mesma carga por estaca,
é geralmente diferente do recalque da estaca ou tubulão isolado (MARANGON,
2009). A seguir, serão apresentados os principais tipos de blocos, de 1 a 8 estacas.

117
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 14 – BLOCOS TÍPICOS DE 1 A 8 ESTACAS

FONTE: O Autor

Para estacas cravadas, a distância adotada entre o eixo da estaca da


extremidade até a borda do bloco equivale ao diâmetro da estaca, além de mais
15 centímetros (ø+15). A distância entre o eixo das estacas (L) é equivalente a
2,5 vezes o diâmetro. A distância (d) entre estacas em blocos triangulares ou
sextavados é obtida pela equação 42 (CAMPOS, 2015).

Eq. 42

Conforme Campos (2015), a capacidade do grupo de estacas depen­derá


da eficiência do grupo (eg), esta que é obtida pela equação 43:

Eq. 43

118
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Em que:

Pr, g - Carga resistente do projeto do grupo de estacas;


P - Carga resistente do projeto da estaca;
Ng - Número de estacas no grupo.

Segundo a regra de Feld, a carga de cada estaca introduzida no grupo


reduz em 1/16 a eficiência. É importante, em grupos de estacas, respeitar um
espaçamento mínimo entre o centro geométrico das estacas de 3 vezes o seu
diâmetro (MARANGON, 2009).

• EXEMPLO 1

Para o bloco de três estacas, calcule a eficiência do grupo considerando,


primeiramente, as estacas alinhadas (a) e, posteriormente, as estacas dispostas em
triângulo (b).

FIGURA 15 - BLOCOS DE TRÊS ESTACAS

FONTE: O autor

BLOCO 3a

Estaca 1 – Adjacente a 1 estaca;


Estaca 2 – Adjacente a 2 estacas;
Estaca 3 – Adjacente a 1 estaca;

2 estacas com 1 adjacente;


1 estaca com 2 adjacentes;

Eficiência = 1 – [(2*1/16 + 1*2/16) / 3] = 0,9167


eg = 91,67%

BLOCO 3b

Estaca 1 – Adjacente a 2 estacas;


Estaca 2 – Adjacente a 2 estacas;
Estaca 3 – Adjacente a 2 estacas;

119
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

3 estacas com 2 adjacentes;

Eficiência = 1 – [(3*2/16) / 3]
Eficiência = 0,875
eg = 87,5%

• EXEMPLO 2

Para os pilares de 110 tf, 160 tf e 220 tf, determine o número de estacas por
pilar. Serão utilizadas estacas quadradas de 20 x 20 cm com carga admissível de
40 tf.

Pilar 1: 110 tf

≈ 3 estacas.

Considerando o bloco triangular:

Eficiência = 1 – [(3*2/16) / 3] = 0,875


eg = 87,5%

Pilar 2: 160 tf

estacas.

Considerando o bloco quadrado:

Eficiência = 1 – [(4*3/16) / 4] = 0,8125


eg = 81,25%

Pilar 3: 220 tf

≈ 6 estacas.

120
TÓPICO 2 — DIMENSIONAMENTO GEOMÉTRICO

Considerando o bloco hexagonal:

Eficiência = 1 – [(4*3/16 + 2*5/16) / 6] = 0,7708


eg = 77,08%

5 ATIVIDADE PRÁTICA
Observe os seguintes objetivos:

• fixar o conceito de fundação rasa e optar quanto à melhor escolha;


• aplicar as equações matemáticas de dimensionamento de fundação;
• identificar o tipo de sapata para cada situação de pilar;
• dimensionar uma sapata de divisa e uma sapata isolada.

Você, como engenheiro civil especializado em fundações, deve


dimensionar as sapatas para a locação dos pilares P1 e P2 apresentados a seguir,
sendo a taxa admissível do solo 0,3 MPa.

FIGURA 16 - LOCAÇÃO DOS PILARES P1 E P2

FONTE: O Autor

121
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

6 ATIVIDADE PRÁTICA
Observe os seguintes objetivos:

• determinação da eficiência do grupo de estacas;


• aplicação da fórmula da regra de Feld;
• análise criteriosa das dimensões dos blocos utilizados;
• desenho utilizando proporções reais e escala.

Imagine que você é o engenheiro geotécnico de uma obra de um prédio


residencial. O engenheiro estrutural lhe forneceu a carga dos pilares de 80 tf,
120 tf, 150 tf e 200 tf. Tenha em vista que você definiu, em etapas anteriores do
projeto, a solução de estacas de concreto, executadas através de hélice contínua,
com diâmetro de Ø 35 cm e com 20 metros de comprimento. A carga admissível
é de 42,5 tf. Determine:

a) Número de estacas por pilar;


b) Desenhe os blocos utilizados;
c) Determine o volume de concreto a ser utilizado, considerando 10% de perda na
concretagem.

122
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Em todos os projetos de engenharia, é necessário ter conhecimento sobre os


materiais utilizados, suas estruturas, suas propriedades físicas e mecânicas
para, então, partir para um dimensionamento.

• A área de uma sapata é dimensionada em função da carga aplicada (carga de


pilares ou de apoio de vigas baldrames) e da resistência do solo.

• Na maioria dos casos, o valor do peso próprio das sapatas é pouco significativo
e pode ser aplicada a equação 28 para o cálculo da área da sapata:

Eq. 28

• Quando as cargas estruturais forem muito altas em relação à tensão admissível,


pode ser inviável a utilização de uma sapata isolada para cada pilar. Assim,
utiliza-se uma única sapata para dois ou mais pilares: a sapata associada.

• Para o dimensionamento da sapata de divisa, a maneira mais conveniente é


aquela em que a relação entre os lados é compreendida entre 2 e 2,5. A reação
R, atuante no centro de gravidade da sapata, é calculada pela equação 34:

Eq. 34

• O efeito de um grupo de estacas ou tubulões consiste no processo de interação


das diversas estacas ou tubulões ao transmitirem ao solo as cargas que são
aplicadas.

123
AUTOATIVIDADE

1 Dimensione uma sapata para um pilar de 30 x 30 cm e carga de 1 550 KN,


sendo a taxa admissível no solo igual a 0,3 MPa.

2 Dimensione uma sapata para um pilar de 40 x 90 cm e carga de 3 500 KN,


sendo a taxa admissível no solo igual a 0,3 MPa.

124
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

RECALQUES

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, serão apresentados os conceitos, os métodos de previsão de
recalques, o detalhamento e a obtenção dos parâmetros em laboratórios. Também
serão apresentadas situações práticas relacionadas ao tema.

2 RECALQUES EM FUNDAÇÕES
Conhecer as propriedades do solo é fundamental na engenharia civil,
pois, praticamente, tudo que se constrói necessita de uma base sólida, resistente
e não moldável. Contudo, algumas especificações dos solos devem ser previstas,
como o recalque.

O recalque consiste na deformação do solo quando é submetido a


esforços, provocando uma movimentação e, dependendo da intensidade,
podem existir sérios danos à estrutura. Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid
(2015), os problemas de fundações estão associados, principalmente, à ausência
de investigação, à investigação insuficiente ou ao erro de interpretação pelos
engenheiros responsáveis. Uma causa recorrente de trincas nas edificações é o
movimento de fundação. Os recalques das fundações devem ser estimados e
previstos na fase de projeto e controlados durante e após a execução da edificação.

As causas de recalque em solos podem ter diversas origens, como


rebaixamento do lençol freático, presença de solo colapsível, escavações em
áreas adjacentes, vibrações causadas por outras edificações, heterogeneidade do
subsolo, variações das cargas previstas em projetos etc.

No Brasil, as edificações da orla de Santos são sempre apresentadas e


servem de estudos de caso.

125
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

FIGURA 17 – PRÉDIOS NA ORLA DE SANTOS

FONTE: Milititsky, Consoli e Schnaid (2015, p. 12)

Conforme Milititsky, Consoli e Schnaid (2015), o recalque é classificado


em dois tipos: recalque absoluto e recalque diferencial. O absoluto é o recalque
que ocorre em um elemento de fundação isolado. Já o recalque diferencial
ocorre quando um elemento de fundação desloca e outro ou quando ambos são
deslocados, mas com intensidades diferentes. O segundo tipo de recalque deve
ter atenção extra e ser sempre evitado, pois a sua existência na edificação pode
ocasionar o aparecimento de manifestações patológicas e, em casos mais graves,
danos difíceis e onerosos de serem reparados.

Quanto à deformação sofrida pelo solo, o recalque pode ser dividido


em três grupos. O recalque de um elemento de fundação pode ser a soma do
recalque imediato (também conhecido como deformação elástica), recalque por
escoamento lateral e recalque por adensamento (lento) (CAPUTO; CAPUTO,
2015).

Os recalques por deformação elástica (ou instantâneos) decorrem de um


fenômeno geral: todo material se deforma quando carregado. São imediatos à
aplicação da carga e predominam em solos não coesivos (CAPUTO; CAPUTO,
2015).

Os recalques por escoamento lateral originam-se de um deslocamento das


partículas do solo das zonas mais carregadas para as menos solicitadas.

Os recalques por adensa­mento (ou recalques no tempo) são originados


da expulsão da água dos vazios do solo. São importantes no estudo de solos
argilosos. São processos lentos, devido ao baixo coeficiente de permeabilidade
da argila. Em geral, os recalques imediatos e por adensamento ocorrem de forma
simultânea.

126
TÓPICO 3 — RECALQUES

FIGURA 18 – RECALQUES DE UMA FUNDAÇÃO SUPERFICIAL SOB CARGA VERTICAL CENTRADA

FONTE: Velloso e Lopes (2010, p. 85)

Assim, o recalque total ou final pode ser descrito conforme equação 44:

Wf = WI + Qt Eq. 44

2.1 MÉTODOS DE PREVISÃO DE RECALQUE


Velloso e Lopes (2011) apresentam os métodos de previsão de recalques,
que podem ser divididos em três categorias:

a) Métodos racionais: os parâmetros de deformabilidade do solo são obtidos em


laboratório ou in situ e são combinados com modelos de previsão teoricamente
exatos.
b) Métodos semiempíricos: os parâmetros de deformabilidade são obtidos entre
correlações com ensaio in situ de penetração e combinados com modelos de
previsão teoricamente exatos.
c) Métodos empíricos: são utilizadas tabelas de valores típicos de tensões
admissíveis para diferentes solos. As tabelas apresentam tensões que são
associadas a recalques usualmente aceitos em estruturas convencionais.

De maneira geral, os valores dos recalques são obtidos de hipóteses que


se baseiam na Teoria da Elasticidade. Para uma superfície circular rígida, de raio
R, a equação é obtida por Boussinesq, conforme a equação 45:

Eq. 45

127
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Em que:

w = recalque;
p = pressão média aplicada;
µ = coeficiente de Poisson do solo;
E = Módulo de Young.

O recalque de uma superfície retangular flexível de lados B e L pode ser


estimado pela equação 46 de Schleicher:

Eq. 46

Em que:

I = fator de influência dependente da forma da área carregada e da posição em


que se calcula o recalque.

Para a camada de espessura infinita, os valores de I são dados a seguir:

QUADRO 9 – VALORES DE I

Forma da área Fator de influência I


carregada Centro Vértice Valor Médio
Quadrada 1,12 0,56 0,95
Retangular L/B = 2 1,52 0,76 1,30
Retangular L/B = 5 2,10 1,05 1,83
Retangular L/B = 10 2,54 1,27 2,20
Circular 1,00 0,64 0,85

FONTE: Adaptado de Caputo e Caputo (2015)

A equação de Schleicher é aplicável também para a fundação rígida:

128
TÓPICO 3 — RECALQUES

QUADRO 10 – VALORES DE I PARA A FUNDAÇÃO RÍGIDA

Forma da área Fator de influência I


carregada

Quadrada 0,88
Retangular L/B = 2 1,22
Retangular L/B = 5 1,72
Retangular L/B = 10 2,12
Circular 0,79
FONTE: Adaptado de Caputo e Caputo (2015)

• EXEMPLO 1:

Calcule o recalque da sapata, supondo-a rígida.

B = 2,50 m.
I = 0,88.

Assim:

O recalque por escoamento pode ser determinado, segundo Caputo e


Caputo (2015), pelas equações 47, 48 e 49, de Kogler e Scheidig:

Eq. 47

Eq. 48

Eq. 49

Em que:

p = pressão;
c = coeficiente que depende do tipo de solo.

129
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

Os mesmos autores indicam os seguintes valores para c:

a) areia solta: 50 cm4/kg;


b) areia compacta: 6 cm4/kg;
c) areia argilosa compacta: 1 cm4/kg

Para o recalque por adensamento, pode-se pela equação 50:

Eq. 50

Em que:

h = espessura da camada compressível da argila;


E I = índice de vazios inicial;
K = índice de compressão, obtido pelo ensaio de adensamento;
po = pressão devida ao peso próprio do solo;
∆p = acréscimo de pressão devido à carga da fundação.

2.2 CAUSAS DO RECALQUE


Além das causas citadas anteriormente (instantânea, lateral ou pelo
tempo), existem outras que Teixeira e Godoy (1998) citam como recalque por
rebaixamento do lençol freático, por solos colapsáveis, escavações em áreas
adjacentes, vibrações e escavações de túneis.

2.2.1 Rebaixamento do lençol freático


É comum, na prática, haver o rebaixamento do lençol freático para a
execução de uma edificação. Caso exista uma camada compressível do solo, ocorre
um aumento das pressões geostáticas, independentemente do carregamento
externo.

Como o nível do lençol freático alcança áreas vizinhas, essas áreas estão
sujeitas ao recalque e a possíveis consequências às edificações. Se as edificações
possuírem fundações rasas ou apoiadas em estacas, ocorrerá recalque (TEIXEIRA;
GODOY, 1998).

130
TÓPICO 3 — RECALQUES

2.2.2 Solos colapsíveis


Existem solos que possuem, como característica, elevada porosidade.
Quando situados acima do lençol freático, têm suas partículas cimentadas entre si
por materiais ligantes, e são conhecidos como colapsíveis. Ao haver contato com
a água, ocorre a destruição dessa cimentação, ocasionando um colapso súbito da
estrutura do solo. Esse colapso é responsável por causar recalques.

Existem casos que podem gerar agravantes às fundações. No caso de


estacas, se estiverem inteiramente embutidas em solos colapsáveis, há perda
da capacidade de carga. Se apenas o fuste da estaca estiver no solo, ela será
sobrecarregada por tensões de atrito lateral negativo (TEIXEIRA; GODOY, 1998).

2.2.3 Escavações em áreas adjacentes à fundação


São comuns, na engenharia civil, ocorrências de escavações para
construções de solos. Mesmo com paredes escoradas, essas movimentações
de terra causam movimentos do maciço arrimado, causando recalques nas
edificações apoiadas.

2.2.4 Vibrações
Outra causa comum de recalque são as vibrações, devido à operação de
equipamentos, de desmonte de rocha não controlado e, até mesmo, devido ao
tráfego viário. As fontes de vibração, sempre que possível, devem ser monitoradas,
para que haja previsão correta dos recalques.

2.2.5 Escavações de túneis


Independentemente da técnica de engenharia utilizada para escavação,
ocorrerão recalques da superfície do terreno. Assim, as edificações próximas
estarão sujeitas à recalques que poderão danificá-las.

3 TIPOS DE MOVIMENTO DE UMA FUNDAÇÃO


A deformação do solo pode gerar movimentos (recalques) das fundações
e danos à estrutura, desde desconfortos estéticos a danos estruturais severos.
Quando falamos em movimentos das fundações, devemos conhecer algumas
definições associadas a esse comportamento.

131
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

A seguir, é possível visualizar melhor as definições de recalques (𝑠),


recalques diferenciais (𝛿𝑠), rotação (𝜃), deformação angular (𝛼), deflexões relativas
(∆), inclinação (𝜔) e distorção angular (𝛽).

FIGURA 19 – REPRESENTAÇÃO DOS TIPOS DE MOVIMENTOS EM FUNDAÇÕES

FONTE: Adaptado de Teixeira e Godoy (1998)

4 DANOS ÀS EDIFICAÇÕES
Diante das diversas causas dos movimentos de fundações, seria de
todo interesse a existência de limites aceitáveis. No entanto, diante da gama de
materiais e técnicas envolvidas nas construções, existe uma grande dificuldade.

O efeito de distorção angular é comum em edificações de pequeno porte,


nas quais se emprega estrutura convencional de aço ou concreto.

A seguir, são apresentados os critérios de Bjerrum, estes que procuram


estabelecer limites para a distorção angular em relação a diversos tipos de danos.

132
TÓPICO 3 — RECALQUES

FIGURA 20 – CRITÉRIOS DE DANOS

FONTE: Adaptado de Teixeira e Godoy (1998)

Velloso e Lopes (2010) classificam os danos causados pelo recalque da


fundação em três grupos:

a) Danos estruturais: são danos ocasionados aos elementos estruturais que


compõem os edifícios, como pilares, vigas e lajes. A extensão desse dano pode
ocasionar efeitos menos complexos, como o aparecimento de pequenas fissuras
nos elementos estruturais, ou até mesmo os efeitos de nível crítico, ocasionando
o colapso da estrutura.
b) Danos arquitetônicos: são os danos que afetam a estética da edificação, como
o aparecimento de fissuras e trincas em paredes e acabamentos. Esses danos
causam, principalmente, um desconforto visual, mas nem por isso devem ser
menosprezados.
c Danos funcionais: são danos que afetam a funcionalidade do edifício,
ocasionando refluxo ou ruptura do sistema de esgoto, empenamento das
esquadrias e desgaste de elevadores. Esses danos estão ligados ao desaprumo
do edifício causado pelo recalque excessivo da fundação.

133
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

NOTA

A Torre de Pisa é o caso mais conhecido com relação ao recalque. Sua


construção foi iniciada em 1173, e durou quase dois séculos. Sua fundação é do tipo
superficial, sobre um solo heterogêneo. Atualmente, o recalque é de 1,80 metros.

TORRE DE PISA

FONTE: O Autor

5 ATIVIDADE PRÁTICA
Observe os seguintes objetivos:

• Aplicação do método de Schleicher para o cálculo de recalque de uma superfície


retangular.
• Resolução de um problema aplicando as equações básicas de recalque.
• Verificar o impacto do recalque na edificação.

Você, como engenheiro civil, foi contratado para observar uma estaca de
uma edificação em que há um possível recalque. Utilizando os conhecimentos
adquiridos, calcule o recalque da sapata, supondo-a rígida.

134
TÓPICO 3 — RECALQUES

LEITURA COMPLEMENTAR

Prédios tortos de Santos: como eles estão hoje?

Edifícios construídos entre os anos 1950 e 1960 passaram a afundar na orla


de Santos a partir dos anos 1970. Ao todo, 65 prédios ficaram com suas estruturas
comprometidas, por causa de fundações rasas. Elas foram fincadas, a menos de
dez metros, para sustentar os empreendimentos em um terreno instável, em que
os fragmentos mais sólidos de rocha estão a mais de 50 metros de profundidade.
Resultado: com o passar do tempo, foram geradas inclinações de 50 cm a 1,80 m
entre a base e o topo. Somente em 2004, com a participação do poder público,
e com estudos técnicos de universidades como USP e Unisanta, pensou-se em
soluções para os prédios, que continuaram habitados.

Os estudos levaram 8 anos e, em 2012, se deu um longo trabalho de


recuperação que terminou em 2014. Os prédios, enfim, foram salvos.

O engenheiro civil Carlos Maffei, professor-titular da USP, que atuou na


recuperação de alguns edifícios – entre eles, os blocos A e B do Núncio Malzoni
–, avaliou o problema como “um erro conceitual de fundação”. A cidade de
Santos tem solo considerado de má qualidade para a construção de edifícios e,
assim, só perde para a Cidade do México, capital do México. Os prédios devem
ter fundações profundas, ainda que o custo seja mais elevado. “Imagino que,
na época, os construtores e incorporadores se convenceram que poderiam fazer
fundações rasas. Eles sabiam que iam recalcar, mas imaginavam que iam recalcar
uniformemente, o que não ocorreu”, diz Maffei.

Macacos hidráulicos

A solução para realinhar os edifícios foi usar macacos hidráulicos. No caso


do conjunto Núncio Malzoni, cada prédio pesava em torno de 6.500 toneladas.
Foram necessários catorze equipamentos hidráulicos para levantar as estruturas.
A cada dia, elas subiam cinco milímetros. Os vãos eram preenchidos com chapas
de aço, que serviram de suporte quando se alcançava o prumo, e os macacos eram
retirados. Em seguida, foram construídas estruturas de concreto que ligaram as
vigas antigas às novas estacas – essas, apoiadas em uma camada de solo rochoso a
55 metros de profundidade. “O grande desafio era mover, sem abalar a estrutura.
Usamos também sete vigas de concreto abraçando os pilares, para que todo o
bloco fosse deslocado, sem trincar”, explica Carlos Maffei.

A recuperação de cada prédio teve o custo de R$ 1,5 milhão. Antes de


serem reaprumados, os edifícios se tornaram “atração turística” na orla de Santos.
Alguns moradores pensaram em colocar à venda seus imóveis, mas eles chegaram
a desvalorizar até 75%, inviabilizando a possibilidade de venda. Por serem
edificações antigas, construídas há mais de 50 anos, e ocupadas, em sua maioria,
por idosos, a melhor solução – sob os aspectos econômico e social – foi realinhá-

135
UNIDADE 2 — FUNDAÇÕES

los. “A operação foi relativamente simples, mas porque houve coordenação.


Sem isso, poderia ter o superespecialista em estruturas, o superespecialista em
macaqueamento e o superespecialista em solos que não iria dar certo”, estima o
professor Carlos Maffei, que também já atuou em obras semelhantes em Novo
Hamburgo-RS e Recife-PE.

PRÉDIOS NA ORLA DE SANTOS - SP

FONTE: Adaptado de Santos (2015)

FONTE: SANTOS, A. Prédios tortos de Santos: como eles estão hoje? 2015. Disponível em:
https://www.cimentoitambe.com.br/predios-tortos-de-santos-como-eles-estao-hoje/. Acesso
em: 18 nov. 2019.

136
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os recalques das fundações devem ser estimados e previstos na fase de projeto


e controlados durante e após a execução da edificação.

• Quanto à deformação sofrida pelo solo, o recalque pode ser dividido em três
grupos: recalque de um elemento de fundação pode ser a soma do recalque
imediato (também conhecido como deformação elástica), recalque por
escoamento lateral e recalque por adensamento (lento).

• De maneira geral, os valores dos recalques são obtidos de hipóteses que se


baseiam na Teoria da Elasticidade.

• Como causas do recalque, podemos citar por rebaixamento do lençol freático,


por solos colapsáveis, escavações em áreas adjacentes, vibrações e escavações
de túneis.

• Os danos às edificações ocorridas do recalque podem ser estruturais,


arquitetônicos e funcionais.

CHAMADA

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AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

137
AUTOATIVIDADE

1 Quais os principais danos causados em uma edificação devido ao recalque?

2 O solo é constituído por um esqueleto de grãos sólidos ou por sua


macroestrutura, que contém em seus interstícios água e ar. A presença
desses interstícios constitui um maior ou menor grau de porosidade do
solo, conferindo uma característica de compressibilidade. Com a aplicação
de sobrecargas oriundas de fundações das obras de engenharia sobre os
solos compressíveis, podem vir a ocorrer recalques, que são deslocamentos
verticais descendentes dos elementos construtivos, ocasionando os
chamados recalques diferenciais, que podem causar danos às estruturas.
Considerando os diferentes tipos de recalques, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) O recalque por adensamento é aquele que ocorre em solos granulares


e resulta da dissipação do excesso de poro e pressão inicial com a
transferência de carga ao esqueleto sólido. Pode ocorrer em um longo
período de tempo.
b) ( ) O recalque secundário é aquele que ocorre sob tensão variável,
provocando a quebra dos grãos de argila, porém, sendo preponderante
nas areias de granulometria uniforme. Ocorre normalmente em longos
períodos de tempo.
c) ( ) O recalque imediato é aquele que ocorre logo após a aplicação do
carregamento ou sobrecarga, com parcela predominante nas areias. São
solos de elevada permeabilidade. Nos solos finos saturados, pode ocorrer
por deformação a volume constante.
d) ( ) O recalque por adensamento é o produto da compressibilidade do
solo, que se constitui em fenômeno puramente mecânico, não havendo
nenhuma relação com a composição iônica do fluido intersticial, ou seja, a
água presente nos poros do seu esqueleto sólido.

3 O estudo de recalques nos solos devido a fundações apresenta importância


no desempenho das edificações. A respeito do conceito de recalques, analise
as afirmativas:

I- Recalque imediato pode ser calculado pela teoria da elasticidade.


II- Recalque por adensamento primário ocorre em solos de baixa
permeabilidade (argilosos saturados), quando a pressão geostática efetiva
inicial, somada ao acréscimo da pressão decorrente da fundação, é superior
à pressão de pré-adensamento.
III- Recalque por adensamento secundário ocorre após o primário, sendo
verificado que, após a dissipação das pressões neutras, devidas ao
carregamento da fundação no solo, este, sob a ação da carga efetiva
constante, continua a se deformar.

138
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Estão corretas as afirmativas I, II e III.
b) ( ) Estão corretas as afirmativas I e III, apenas.
c) ( ) Está correta a afirmativa III, apenas.
d) ( ) Estão corretas as afirmativas I e II, apenas.
e) ( ) Estão corretas as afirmativas II e III, apenas.

139
140
UNIDADE 3 —

REQUISITOS DE QUALIDADE E
OBRAS COMPLEMENTARES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• avaliar as técnicas para aprimoramento da qualidade da construção civil;


• avaliar as especificidades das obras de fundação que atingem a qualidade
do processo;
• analisar os impactos ambientais causados por obras de fundações e por
barragens;
• conhecer os principais tipos de obras de contenção;
• dimensionar um muro de arrimo.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO


TÓPICO 2 – FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE
TÓPICO 3 – OBRAS COMPLEMENTARES

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

141
142
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO

1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico, abordaremos os conceitos de qualidade e
desempenho de fundações. Serão analisados conceitos da qualidade, enquanto
organização e gestão de especificações da engenharia de fundações.

Nos séculos passados, como não existiam técnicas avançadas para a


realização de fundações, muitas edificações foram construídas sobre escombros
de outras edificações ou sem análise do solo. Das construções que resistiram ao
longo dos anos, parte delas apresenta risco de colapso ou deformações que causam
desconforto ao usuário. Para evitar tais danos, faz-se necessária a verificação do
desempenho, além da qualidade das fundações das edificações.

Durante anos, considerou-se normal que alguns materiais (elétricos, por


exemplo) deveriam ser submetidos a ensaios e ao controle rigoroso de qualidade,
enquanto os processos associados a escavações, fundações e construções continuam
sendo executados por trabalhos com baixo nível de instrução, sem conceitos de
qualidade e sob precárias condições de trabalho (HACHICH; WOLLE, 2012).

2 APRIMORAMENTO DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO


CIVIL

Devido à globalização da economia e à livre concorrência, muitas


empresas já buscam aprimoramento da qualidade na construção civil. A gestão
consciente na construção civil já tem impactos positivos, também na engenharia
de fundações.

143
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 1 – GESTÃO CONSCIENTE ASSOCIADA A APRIMORAMENTOS

FONTE: Adaptado de Hachich e Wolle (2012)

3 QUALIDADE E INCERTEZAS PARA FUNDAÇÕES


A atuação profissional de um engenheiro de fundações é cercada
de dúvidas e incertezas. A geotecnia e o estudo de fundações desenvolvem
seus trabalhos a partir de materiais incertos, cujas características não são
necessariamente homogêneas, ao contrário das atividades nos diversos setores
industriais.

A qualidade das fundações do ponto de vista técnico, segundo Hachich e


Wolle (2012), pode ser analisada sobre os aspectos:

• Qualidade de projeto: envolve desde a escolha correta do tipo de fundação até


a qualidade das informações.
• Qualidade da execução: associada aos materiais utilizados, mão de obra
qualificada, controles de execução.
• Qualidade da fundação acabada: garante uma vida útil à fundação e
comprovação da qualidade das fundações acabadas conforme projeto.

3.1 A QUALIDADE PARA INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS E


PARÂMETROS
As incertezas nas fundações estão muito associadas com as investigações
geotécnicas, pois é impossível ter um conhecimento por completo do solo. Os
parâmetros de resistência dos solos são determinados a partir de ensaios, e
apresentam, inevitavelmente, erros de execução. Muitas vezes, as investigações

144
TÓPICO 1 — VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO

geotécnicas não são bem conduzidas e o projetista recebe informações erradas.


Além disso, devido a uma excessiva economia ou à má gestão da construção,
muitas vezes, não são realizadas investigações geotécnicas.

Os cálculos de capacidade de carga são realizados a partir de métodos que


procuram englobar o que realmente acontece com o solo, porém, sempre estão
associados a teorias e estimativas.

As cargas também contêm erros, sendo necessários coeficientes de


segurança.

3.2 ESPECIFICIDADES PARA OBRAS DE FUNDAÇÕES


A engenharia de fundações tem especificidades relacionadas à qualidade,
se comparada com as outras áreas da construção civil. Trabalha-se com o binômio
“conhecido x desconhecido”, ou seja, a fundação como elemento estrutural e o
maciço rochoso.

Não sendo possível ter controle total sobre as propriedades do subsolo, o


processo do projetista começa a partir do conhecimento parcial das características
do terreno e das propriedades dos materiais constituintes. O projeto é elaborado
seguindo as especificações técnicas e as normativas brasileiras em vigor. Como o
conhecimento do terreno é sempre limitado, permite-se que, durante a execução,
sejam feitas adequações e correções para ajustar a estrutura quanto às cargas
admissíveis e recalques esperados.

A engenharia de fundações pode ser dita “modus operandi”, ou seja,


diferente das outras áreas, em que a partir do que se projeta é que se escolhe os
materiais e insumos necessários (HACHICH; WOLLE, 2012).

3.3 REGIÃO DO TERRENO


Para um projeto completo de fundações, é necessário conhecer
profundamente as características físicas e composição do subsolo, além de suas
espessuras e características diversas.

Muitas obras estendem-se por grandes áreas, assim, é inviável o estudo


técnico de todo o terreno. O comportamento do solo pode variar significativamente,
podendo impactar na hora da execução. Por isso, para um projeto, o engenheiro
precisa definir regiões que possam ser consideradas uniformes, ou seja, uma
região representativa do terreno. A NBR 6122 (ABNT, 2019a) define região
representativa do terreno como uma área que apresenta pequena variabilidade
nas características geométricas, ou seja, com perfis com as mesmas camadas de
solo e pequenas variações de espessura e resistência.

145
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

3.4 QUALIDADE NO PROCESSO DE PRODUÇÃO


A execução de projetos de fundação é variada, devido aos diversos tipos
de estruturas de fundação. Diretamente, a qualidade e o controle do processo
também variam. A qualidade dos processos pode ser analisada, então, é dividida
em fundações diretas por sapatas, blocos e radiers, fundações profundas por
tubulões e fundações profundas por estacas moldadas in loco.

3.4.1 Fundações Diretas por Sapatas, Blocos e Radiers


Para determinado tipo de fundação, a execução envolve a etapa da
escavação e execução dos elementos estruturais.

A qualidade do processo está associada à execução dos projetos de forma


fiel, além do emprego de materiais adequados, das cotas de assentamento,
dimensão, quantidade e posicionamento das peças. São controles simples, por
inspeções visuais e medições diretas.

3.4.2 Fundações Profundas por Tubulões


Neste caso, a execução e sua qualidade também envolvem a etapa de
escavação e a concretagem.

Em tubulões a céu aberto, a concretagem é feita diretamente no solo,


sem a utilização de formas. Assim, é necessário um cuidado no lançamento e
adensamento do concreto, sempre evitando possíveis desbarrancamentos do
solo. Além dos cuidados já citados no item anterior, é preciso uma conferência
das armaduras antes do processo de concretagem. A seguir, apresentaremos
alguns dos possíveis riscos, como: queda de materiais, principalmente do balde
(lata) de terra; queda de pessoas; fechamento das paredes do poço; interferência
com redes hidráulicas, elétricas, telefônicas e de abastecimento de gás; inundação
e asfixia (FONSECA, 2010).

146
TÓPICO 1 — VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO

FIGURA 2 – TRABALHADOR ESCAVANDO UM TUBULÃO

FONTE: O autor

De maneira geral, para tubulões, deve-se ter um controle no processo


do trabalho sob ar comprimido, seguindo as diretrizes permitidas de trabalhos
associados a pressões aplicadas.

3.4.3 Fundações Diretas por Estacas Moldadas In Loco


Nas estacas moldas in loco, cada tipo apresenta um processo de furo, além
de variações no processo de concretagem, tornando o processo de controle de
qualidade diversificado.

Em algumas, há riscos de fechamento por desbarrancamento do solo


(como as estacas escavadas, por exemplo). Em outras, o risco de estrangulamento
do fuste ao se retirar o tubo de revestimento (como em estacas Strauss e algumas
Franki). A presença de água no solo também limita o modo em que é possível
executar cada tipo de estaca.

Como os processos variam, podem existir diretrizes básicas de cuidado


para cada estaca.

Nas estacas brocas, deve-se ter cuidado na qualidade para evitar


desbarrancamentos durante a escavação e verificações em relação ao diâmetro,
profundidade e escavações abaixo do nível da água.

Nas estacas Strauss, atenção à presença de água ou lama no fundo do furo,


controle da limpeza do fundo e verificações da profundidade e verticalidade das
estacas. Também deve-se evitar areias e solos moles para garantir o correto uso
da fundação.

Nas estacas Franki, deve-se ter controle, principalmente, em solos


argilosos e moles logo abaixo do nível do lençol freático.

147
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

Por fim, para estacas raiz, o cuidado está na injeção de água durante a
perfuração, para evitar lavagem e carreamento do solo, além de verificações
contínuas da profundidade. As demais estacas moldadas in loco seguem as
mesmas diretrizes de controle de processos das citadas anteriores.

Para essas fundações diretas, é perceptível que, para garantir a qualidade


no processo, é preciso haver a utilização de equipamentos que garantam um bom
desempenho, além do emprego de materiais corretos.

4 COEFICIENTES DE SEGURANÇA
Há requisitos exigíveis para a segurança das estruturas usuais na
construção civil. A verificação de possíveis colapsos é conhecida como estados
limites de uma estrutura. Os estados limites últimos podem ser vários (perda de
capacidade de carga e instabilidade elástica ou flambagem). Existem os estados
limites últimos (ELU), que estão associados a colapsos parciais, e os estados
limites de utilização ou de serviço (ELS), vistos quando ocorrem deformações ou
fissuras que podem comprometer a obra.

Para as fundações, como há diversas incertezas já vistas anteriormente, é


necessário estipular um coeficiente de segurança. Terzaghi e Peck (1948) indicam
alguns fatores.

QUADRO 1 – VALORES DO COEFICIENTE DE SEGURANÇA

Tipo de ruptura Obra Coeficiente de segurança


Cisalhamento Obras de terra 1,3 a 1,5
Estrutura de arrimo 1,5 a 2,0
Fundações 2,0 a 3,0
Ação da água Subpressão 1,5 a 2,5
Erosão interna 3,0 a 5,0
FONTE: Adaptado de Terzaghi e Peck (1948)

5 REFORÇOS NAS FUNDAÇÕES


O reforço de fundação é utilizado quando se deseja realizar escavações
abaixo do nível de fundações existentes ou quando ocorrem modificações no
comportamento dos solos.

148
TÓPICO 1 — VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO

Esses reforços podem ser permanentes, caracterizados por uma


intervenção definitiva, devido ao problema apresentado pela fundação. Também
podem ser provisórios, que são aqueles reforços que auxiliam na execução do
reforço permanente (GOTLIEB, 1998).

Os reforços podem ser divididos em escoramento da estrutura existente,


escoramento das escavações, que terão que ser feitas durante o serviço e, por fim,
a execução da nova fundação.

Para o escoramento de uma estrutura cuja fundação será reforçada, pode-


se construir uma viga em balanço, atirantada a uma estronca inclinada contra a
parede e apoiada em nichos.

FIGURA 3 – REFORÇO DE FUNDAÇÃO EXISTENTE COM VIGA E TIRANTES

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 366)

Quando as escavações são necessárias, executa-se um reforço, a fim


de que eventuais desmoronamentos não comprometam a obra. As escavações
devem ser mínimas, alternadas e feitas em pequenas cavas, também conhecidas
como “cachimbos”.

Quando as escavações são em trincheiras, ainda existe um outro tipo


de técnica. Escava-se a área central para construir parte da nova fundação, que
servirá de apoio para escoras inclinadas.

149
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 4 – FUNDAÇÃO NOVA COM APOIO

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 366)

Por fim, quando se fala de reforço de fundação, o objetivo é o aumento da


profundidade da estrutura atual ou aumento de suas dimensões. Para aumento
da profundidade, o processo inicial começa instalando as novas fundações em
pequenos poços escavados abaixo das fundações existentes. Cravam-se estacas
Mega por meio de macacos hidráulicos que encontram reação na estrutura. A
transferência de carga para as novas fundações é feita através de calços (ou cunhas
de concreto). Deve haver, então, a retirada do macaco hidráulico e concretagem
do espaço remanescente.

FIGURA 5 – ESQUEMA EXECUTIVO DE UMA FUNDAÇÃO COM ESTACA MEGA

FONTE: Caputo, Caputo e Rodrigues (2015, p. 368)

150
TÓPICO 1 — VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE E DO DESEMPENHO

NOTA

Estaca Mega: também conhecida como estaca de reação, consiste na


introdução de cilindros metálicos ou de concreto sobre a fundação existente. O macaco
hidráulico é o principal equipamento utilizado para execução da estaca e tem, como apoio,
a própria base da fundação. Com o peso próprio da construção, a carga é transferida do
equipamento para o cilindro metálico ou de concreto, fazendo com que seja empurrado
para o solo (CALISTO; KOSWOSKI, 2015).

151
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Muitas edificações foram construídas sobre escombros de outras edificações ou


sem análise do solo. Das construções que resistiram ao longo dos anos, parte
delas apresenta risco de colapso ou deformações que causam desconforto ao
usuário. Para evitar tais danos, são necessárias a verificação do desempenho e
qualidade das fundações das edificações.

• A qualidade das fundações do ponto de vista técnico pode ser analisada sobre
os aspectos de projeto, da execução e da fundação acabada.

• A engenharia de fundações tem especificidades relacionadas à qualidade.


Além disso, trabalha-se com o binômio “conhecido x desconhecido”, ou seja, a
fundação como elemento estrutural e o maciço rochoso.

• A execução de projetos de fundação é variada devido aos diversos tipos de


estruturas de fundação. Diretamente, a qualidade e o controle do processo
também variam.

• Para garantir a qualidade no processo, deve-se ter: uma execução dos projetos
de forma fiel, emprego de materiais adequados, das cotas de assentamento,
dimensão, quantidade e posicionamento das peças. São controles simples, por
inspeções visuais e medições diretas.

• O reforço de fundação é utilizado quando são realizadas escavações


abaixo do nível de fundações existentes ou quando ocorrem modificações
no comportamento dos solos. Esses reforços podem ser permanentes ou
provisórios.

• Os reforços podem ser divididos em escoramento da estrutura existente,


escoramento das escavações, que terão que ser feitas durante o serviço e, por
fim, a execução da nova fundação.

152
AUTOATIVIDADE

1 Uma edificação começou a apresentar trincas. Após a execução de


sondagens, constatou-se que se trata de solo colapsível e que a fundação
original é do tipo rasa. Assinale a solução mais indicada para o reforço de
fundação da edificação.

a) ( ) Estaca Franki.
b) ( ) Estaca Mega.
c) ( ) Estaca pré-moldada.
d) ( ) Estaca escavada.
e) ( ) Sapata.

2 A qualidade do processo de execução de fundações pode ser analisada


sobre os aspectos:

a) ( ) De projeto, de estética e de estabilidade.


b) ( ) De projeto, da execução e da fundação acabada.
c) ( ) Estabilidade, ruído e estética.
d) ( ) De projeto, de custo e estética.
e) ( ) Das investigações geotécnicas, da mão de obra de qualidade e se os
custos não foram exorbitantes.

3 O reforço de fundação, um processo para aumentar a resistência e estabilizar


as fundações de um edifício existente, pode ser necessário por múltiplas
razões, exceto:

a) ( ) Novas construções próximas a um edifício podem perturbar o solo em


volta de suas fundações.
b) ( ) As fundações existentes podem nunca ter sido adequadas para suportar
suas cargas, ocasionando excessivo recalque do edifício ao longo do tempo.
c) ( ) Novas construções próximas a um edifício podem exigir que suas
fundações sejam levadas mais a fundo.
d) ( ) Uma mudança no uso do edifício ou adições podem sobrecarregar as
fundações existentes, desde que a fundação seja de sapata isolada.

153
154
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE

1 INTRODUÇÃO
A construção civil é responsável por uma parte significativa dos impactos
negativos causados ao ambiente. O canteiro de obra responde por uma grande
parcela, podendo causar interferências nos meios físico, biótico e antrópico.

Quando se fala, especificamente, das obras de fundações, pode-se dizer


que os impactos ambientais são menores se comparados com outras obras, como
de pavimentação e terraplanagem, e outras, que afetam áreas superficiais e
expostas. Ainda assim, a questão de gestão ambiental merece atenção (HACHICH;
WOLLE, 2012).

2 IMPACTOS AMBIENTAIS DE FUNDAÇÕES


As obras de fundação são localizadas em terrenos limitados e apresentam
grande estabilidade ao longo dos anos. Assim, sapatas, tubulões, estacas etc.
localizam-se em áreas restritas a serem ocupadas por alguma edificação, logo, o
impacto da implantação da fundação sempre estará associado à implantação de
uma obra.

Essas obras também possuem grande estabilidade, pouca deterioração e


são pouco afetadas pelas intempéries, fenômenos climáticos, ou mesmo variação
de cursos de água, inundações que sempre afetam a fauna e a flora da região
próxima (HACHICH; WOLLE, 2012).

Quanto aos impactos ambientais de fundações, podemos associá-los


aos efeitos decorrentes da execução, como os ruídos, vibrações resultantes da
cravação de estacas, contaminação da água e do ar e, por fim, disposição de
resíduos durante as escavações.

2.1 RUÍDOS
As obras de construção civil, sem dúvida, trazem diversos incômodos aos
vizinhos. A engenharia de fundações não é a maior geradora de ruídos, mesmo
assim, o uso de estacas e os compressores de ar comprimido são incômodos
que não podem ser negligenciados e que precisam de tratamento adequado
(HACHICH; WOLLE, 2012).
155
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

No país, não há uma legislação específica que normaliza o controle de


ruídos em canteiros de obra. Assim, utiliza-se a NBR 10151 (ABNT, 2019) –
Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas
– Aplicação de uso geral como referência.

NOTA

O ruído é uma mistura de vibrações, medidas em uma escala logarítmica em


uma unidade chamada decibel (dB). Acima do limiar da percepção dolorosa, podem ser
produzidos danos ao aparelho auditivo. A capacidade de causar danos à audição depende
também do tempo de duração de exposição.

Segundo Hachich e Wolle (2012), o ruído da cravação de estaca geralmente


depende de alguns fatores, como:

a) condições da máquina;
b) manutenção;
c) local de instalação;
d) volume de serviço;
e) material e o tipo de solo que está sendo cravada a estaca;
f) especificações técnicas do tipo de fundação, como altura de queda do martelo
e o seu peso.

2.2 VIBRAÇÕES
A cravação de fundações provoca vibrações no terreno, estas que se
propagam a longas distâncias, afetando o solo e edificações vizinhas.

A vibração pode ser definida como um movimento oscilatório que pode


ser descrito usando o deslocamento, velocidade ou aceleração (DECKNER, 2013).
As oscilações podem desenvolver os seguintes tipos de movimento:

a) harmônico;
b) oscilatório;
c) aleatório;
d) transitório.

Nos casos de cravação de estacas, a condução de impacto gera vibrações


periódicas com uma onda do tipo transiente, atingindo uma edificação e gerando
oscilações transitórias (DECKNER, 2013). Outra característica importante com

156
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE

relação à vibração é a impedância da estaca e do solo, que apresenta a relação


entre a força e a velocidade da estaca. A impedância depende da seção transversal,
da densidade e da velocidade da propagação do material.

As vibrações são influenciadas, também, devido à energia aplicada:


quando maior, maior a vibração. Como a energia é crescente conforme o
tamanho da estaca (e o tamanho do material de cravação utilizado), o incômodo é
proporcional. Logo, estacas do tipo Franki, que provocam grandes deslocamentos
do solo, podem causar um maior impacto ambiental.

Certos danos às edificações também podem ser gerados. Edificações


de alvenaria, forros de gessos e pisos não armados são exemplos sensíveis às
vibrações. Danos em edifícios podem ser caracterizados, como:

a) danos superficiais, com fissuras menores que 1 milímetro de espessura no


reboco;
b) danos de pequena monta, com o aparecimento de trincas e quedas de
revestimentos;
c) danos de grande monta, com trincas em elementos estruturais, como vigas,
lajes e pilares.

Além da característica do solo, a resposta da edificação à vibração está


ligada ao tipo de fundação existente, à qualidade e idade da edificação, ao estado
de conservação do imóvel e suas frequências naturais e de amortecimento. O
número de pavimentos também influencia.

E
IMPORTANT

Fatores que influenciam na resposta da edificação à cravação de estacas:


a) tipo de fundação da edificação existente;
b) sua idade e estado de conservação;
c) frequências naturais existentes;
d) tipo de amortecimento da edificação;
e) número de pavimentos.

Head e Jardine (1992) indicam que as vibrações que geram danos


estruturais geralmente estão entre uma velocidade de 50 a 100 mm/s. Raramente,
velocidades menores que 2 mm/s causam algum dano à edificação (DECKNER,
2013).

157
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

A duração da vibração também deve receber atenção, uma vez que danos
mais severos podem ocorrer quando a vibração atingir a frequência natural do
edifício, ocasionando a ressonância. Contudo, mesmo para casas com frequência
natural de 10 Hz, a ressonância, para ser provocada por um bate-estaca, que possui
um curto período de vibração (0,2 a 0,3 segundos), só seria possível se o trabalho
de cravação de estacas superasse a frequência de 50 Hz, ou seja, 5 vezes superior
ao valor da frequência natural para 0,3 segundos de duração (WISS, 1967).

Com relação aos seres humanos, as vibrações causam incômodos e


desconforto para pessoas que se encontram na vizinhança. Para os trabalhadores,
há riscos de danos à saúde a longo prazo, devendo ser seguidas as recomendações
da legislação de segurança de trabalho.

2.3 CONTAMINAÇÃO DA ÁGUA E DO AR


A execução de fundação pode ser considerada quase nula em relação à
situação.

Com relação à poluição do ar, ocorre em poucos casos, como na emissão de


fumaça das máquinas de estacas que são movidas à diesel. Pode ocorrer, também,
por problema de manipulação, grande quantidade de pó de cimento e solo por
períodos breves e em etapas específicas da execução (HACHICH; WOLLE, 2012).

Já com relação à contaminação da água, podem ocorrer impactos


ambientais, devido à terraplanagem, causando erosão do solo, assoreamento de
cursos de águas e contaminação por materiais. Nas fundações, o uso de bentonita
é extremamente comum. As lamas bentoníticas são usadas para sustentar
escavações sem revestimento, garantindo uma estabilidade nas perfurações
a grandes profundidades. Contudo, quando a bentonita torna-se efluente e é
despejada em bueiros e galerias, não sedimenta e torna as águas turvas. Assim,
pode causar danos à flora e à fauna aquática.

Em alguns países, a disposição de bentonita é rígida, exige controle e


relatórios, além de punição severa caso as regras não sejam cumpridas. No Brasil,
a regulamentação ainda não é tratada com severidade.

158
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE

NOTA

A lama bentonítica é constituída de água e bentonita, uma rocha vulcânica


em que o mineral predominante é a montimorilonita. Possui efeito estabilizante e é eficaz
quando a pressão hidrostática da lama no interior da escavação é superior à exercida
externamente pelo lençol e granulometria do terreno. A coluna de lama exerce, sobre as
paredes da vala, uma pressão que impede o desmoronamento, formando uma película
impermeável denominada “cake”, a qual dispensa o uso de revestimentos.

2.4 DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS


A disposição dos resíduos é um grande problema nas grandes metrópoles.
Na construção civil, os principais materiais retirados das obras são os resíduos
sólidos e o solo escavado. Costumam ser materiais inertes, não perigosos e,
muitas vezes, reaproveitáveis.

Os solos escavados são sempre aproveitados na execução de aterros, sejam


aterros de boa qualidade para edificações futuras ou mesmo para recuperação de
áreas alagadiças, que venham a ser transformadas em áreas verdes ou que não
precisam de grande qualidade no material do solo.

O engenheiro de fundação e o engenheiro projetista devem considerar o


balanço entre o solo de corte e o aterro, otimizando a operação do deslocamento
e minimizando os impactos ambientais e o custo global da obra.

Os “bota-foras” tendem a cair em desuso, visando à sustentabilidade da


construção civil.

3 IMPACTOS AMBIENTAIS EM BARRAGENS


Como obras de terra que podemos citar, encontram-se as barragens de
terra. A barragem pode ser definida como um elemento estrutural, construída
transversalmente à direção de escoamento de um curso d’água, destinada à
criação de um reservatório artificial de acumulação de água (MARAGON, 2004).

A barragem de terra é o tipo mais usual no país, devido à topografia ser


favorável, com vales abertos e disponibilidade de terra. Um problema que exige
atenção é o piping. É um fenômeno que consiste no carregamento de partículas
de solo pela água em fluxo, numa progressão da jusante até a montante. A erosão
pode gerar cavidades no corpo das barragens e levá-las ao colapso. O piping pode
ser evitado com o controle da percolação e o controle do corpo da barragem

159
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

(aterro). O bloqueio da passagem de água pode ser feito incorporando filtros


verticais de areia, interceptando a saída de águas nas faces dos taludes de jusante
(MASSAD, 2010).

Nos últimos tempos, foram perceptíveis alguns impactos ambientais


causados pela má inspeção e manutenção das barragens. De acordo com o
histórico de acidentes de barragens, as principais causas de rompimento de
barragens são problemas de fundação, capacidade inadequada dos vertedouros,
instabilidade dos taludes, falta de controle de erosões, deficiência no controle e
inspeção pós-operação e falta de procedimentos de segurança ao longo da vida
útil da estrutura (MASSAD, 2010).

De acordo com Massad (2010), as barragens podem ter suas estruturas


colocadas em risco por diversos motivos técnicos, como:

a) Modificação da resistência da fundação: antes de uma barragem funcionar,


realiza-se um tratamento para reduzir o empuxo hidráulico e a permeabilidade,
até haver um valor aceitável. Se esse procedimento não for realizado por erro
do projetista ou por diminuição de cursos, a barragem pode não encher ou
causar problemas como o piping.
b) Erosão por extravasamento: as barragens costumam não suportar fluxo de
água sobre sua crista, portanto, é importante que sejam projetados vertedouros
para a água excedente. Se a água extravasar sobre a crista da barragem, haverá
erosão.
c) Erosão do paramento de montante por ondas: quando a barragem forma lagos
artificiais, esses lagos têm uma grande superfície de contato com o vento.
Ventos fortes formam ondas, podendo causar erosão e, até mesmo, ruptura da
estrutura. Por isso, recomenda-se proteger a barragem com um rip-rap, ou seja,
uma camada de fragmentos de rocha para o aumento da resistência.
d) Obstrução do filtro: a colmatação, ou seja, o preenchimento dos poros do filtro
pode ocorrer. Com isso, podem existir o aumento de pressão na barragem e,
novamente, o comprometimento da estrutura.

ATENCAO

Considerada a pior catástrofe já ocorrida em barragens, pode-se citar o caso


Vajont. Cerca de 3 mil pessoas morreram. A barragem italiana, construída próxima de
Veneza, era a maior do mundo, com cerca de 286 metros. O desastre aconteceu pois cerca
de 200 milhões de m³ de rochas escorregaram de um talude para dentro da barragem. O
impacto gerou uma expulsão de água rio abaixo. O movimento lento das águas passou
a ter uma velocidade de 30 m/s, provocando uma enorme onda que atingiu uma altura
impressionante de 40 m acima do anterior nível do reservatório. No mesmo instante,
uma onda gigante galgou por cima da barragem, atingindo uma altura de 99 m acima do
coroamento.

160
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE

FONTE: <https://damfailures.org/case-study/vajont-dam-italy-1963/>. Acesso em: 24 out.


2019.

DICAS

Veja o documentário no canal History Channel sobre a tragédia na Itália:


Vajont: Una Tragedia Italiana.

O Brasil sofreu o maior marco negativo socioambiental de sua história


nos últimos anos, devido a desastres ambientais associados a barragens. No
caso das barragens de mineração, elas surgiram para solucionar o problema do
destino dos rejeitos, que eram descartados sem normas ambientais no ambiente,
inclusive em cursos d’água de extrema importância para a população. De maneira
crescente, barragens de rejeito foram construídas e multiplicadas pelas empresas
mineradoras ao longo do último século. Um artigo publicado por Rico et al. (2008)
já avaliava os incidentes ocorridos na Europa. Eles analisaram 147 incidentes e
apontaram um conjunto de causas.

161
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 6 – CAUSAS DO ROMPIMENTO DE BARRAGENS

FONTE: Adaptado de Rico et al. (2008)

Em novembro de 2015, na propriedade da Mineradora Samarco, de


forma descontrolada ao meio ambiente, cerca de 34 milhões de metros cúbicos
de rejeitos da barragem de Fundão foram liberados na região de Mariana, Minas
Gerais. O colapso do barramento causou danos irreversíveis e de grande impacto
à sociedade e ao meio ambiente.

FIGURA 7 – COMO ERA A REGIÃO ANTES DO ROMPIMENTO DA BARRAGEM

FONTE: O autor

162
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE

FIGURA 8 – COMO FICOU A REGIÃO APÓS O ROMPIMENTO DA BARRAGEM

FONTE: O autor

Municípios localizados à jusante da estrutura foram destruídos,


provocando alta contaminação, elevada turbidez da água dos rios e restrição
quanto à utilização da água. Foram muitos danos, quase incalculáveis, como
danos culturais a monumentos históricos, fauna e flora da bacia hidrográfica
da região afetada, incluindo possível extinção de espécies endêmicas. Por mais
que a finalidade da barragem seja diferente das barragens comuns de terra, os
processos de monitoramento e o conjunto de instrumentação empregado seguem
as mesmas metodologias.

FIGURA 9 – REGIÃO DE MARIANA APÓS O ROMPIMENTO

FONTE: O autor

163
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

A barragem se rompeu na cota de 898 m. As causas do rompimento ainda


estão sendo investigadas. Algumas hipóteses que levaram a esse desastre são:

a) Entupimento do sistema de drenagem de líquido da barragem.


b) Existência de uma falha “princípio de ruptura”, devido ao aparecimento de
uma trinca. A situação era severa e necessitava de manutenção e providências,
conforme verificada pelos engenheiros projetistas responsáveis.
c) Aumento no ritmo da deposição de rejeitos. Nos anos anteriores, documentou-
se que o volume de rejeitos na barragem cresceu 83%, chegando a 55 milhões,
fator que contribuiria para desestabilização da barragem e ruptura.

Mais da metade do rejeito, 32 milhões de m³, foi derramado no meio


ambiente. Mais de um ano depois, os 18 milhões restantes continuavam sendo
levados em direção ao litoral do estado do Espírito Santo, pelo Rio Doce.

FIGURA 10 – RIO DOCE COM LAMA APÓS O DESASTRE

FONTE: O autor

O trajeto da lama provocou impactos ambientais de várias vertentes, como:

a) mortes de trabalhadores da empresa e moradores das comunidades afetadas;


b) desalojamento de populações;
c) assoreamento de cursos hídricos da região;
d) devastação de localidades e a consequente desagregação dos vínculos sociais
das comunidades;
e) destruição de edificações públicas e privadas;
f) destruição de áreas agrícolas e pastos, com perdas de receitas econômicas;
g) interrupção da geração de energia elétrica pelas hidrelétricas atingidas
(Candonga, Aimorés e Mascarenhas);
h) destruição de áreas de preservação permanente e vegetação nativa de Mata
Atlântica;
i) mortandade da biodiversidade aquática e fauna terrestre;
j) interrupção do abastecimento de água para a população local;
164
TÓPICO 2 — FUNDAÇÕES E O MEIO AMBIENTE

k) interrupção da pesca por tempo indeterminado, culminando também com a


interrupção do turismo;
l) perda de habitats naturais da região;
m) restrição ou enfraquecimento dos serviços ambientais dos ecossistemas;
n) alteração dos padrões de qualidade da água doce, salobra e salgada;
o) sensação de perigo e desamparo na população.

NOTA

Cerca de quatro anos depois, uma barragem de resíduos se rompe, desta vem,
em janeiro de 2019, no município de Brumadinho, em Minas Gerais. Ao se romper, nenhum
sinal de alerta foi emitido, culminando na morte de 256 vítimas. Questiona-se: como
aconteceram dois desastres naturais dessa proporção em um intervalo de tempo tão
pequeno, com consequências socioambientais tão graves, sem que ninguém fosse
incriminado? Existiram medidas preventivas técnicas capazes de evitar esses desastres?

4 ATIVIDADE PRÁTICA 9
OBJETIVOS

• Fixar o conceito de barragem e seus riscos para o meio ambiente.


• Incentivar o pensamento ambientalista e como engenheiro responsável de uma
barragem.
• Apresentar soluções viáveis com base nas técnicas de engenharia.

Você, como engenheiro civil, após analisar as notícias sobre os desastres


de barragem, o que acha que é viável para evitar que novos desastres ambientais
ocorram?

165
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Nas obras de fundações, pode-se dizer que os impactos ambientais são menores
se comparados com outras obras, como de pavimentação e terraplanagem,
que afetam áreas superficiais e expostas. Ainda assim, a questão de gestão
ambiental merece atenção.

• Podemos associar aos efeitos decorrentes da execução de fundação os ruídos,


as vibrações resultantes da cravação de estacas, a contaminação da água e do
ar e, por fim, a disposição de resíduos durante as escavações.

• O ruído da cravação da estaca depende de vários fatores, como condições da


máquina, manutenção, local de instalação, volume de serviço, do material e o
tipo de solo, além de especificações técnicas do tipo de fundação, como altura
de queda do martelo e o seu peso.

• A cravação de fundações de quaisquer tipos de estacas provoca vibrações no


terreno. Estas propagam-se a longas distâncias, afetando o solo e edificações
vizinhas.

• O Brasil sofreu o maior marco negativo socioambiental de sua história nos


últimos anos, devido a desastres ambientais associados a barragens. Pode-
se associar as causas dos impactos ambientais a: manutenção deficiente
das estruturas de drenagem, políticas frágeis governamentais, ausência de
monitoramento contínuo e controle durante a construção e a operação e falta
de regulamentação sobre os critérios de projetos específicos.

166
AUTOATIVIDADE

1 As barragens podem ter suas estruturas colocadas em risco por diversos


motivos técnicos. Cite quatro motivos.

2 O piping é um processo de erosão interna que pode ocorrer em diversas


obras de terra sob percolação. Uma das formas de se aumentar a segurança
quanto ao piping em barragens de terra é o emprego de:

a) ( ) Camada de filtração na transição entre materiais de granulometrias


muito diferentes.
b) ( ) Núcleo argiloso de baixa permeabilidade no trecho central da barragem.
c) ( ) Barreira de vedação (cut-off) quando a barragem for assente em rocha
fraturada.
d) ( ) Camada de enrocamento para proteção da face de montante.
e) ( ) Sistema de drenagem superficial no talude de jusante.

3 Com relação às vibrações causadas pelas fundações, certos danos às


edificações também podem ser gerados. Edificações de alvenaria, forros de
gessos e pisos não armados são exemplos sensíveis às vibrações. Diante do
exposto, como os danos em edifícios podem ser caracterizados?

167
168
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

OBRAS COMPLEMENTARES

1 INTRODUÇÃO
A realização de uma obra de fundações quase sempre envolve estruturas
de contenção. É frequente a criação de subsolos para estacionamento em
edifícios urbanos, de contenções de cortes ou aterros, muros de arrimo, criação
de plataformas e a instalação de dutos de utilidades em valas escoradas. Obras
de contenção do terreno estão presentes em projetos de estradas, de pontes,
de estabilização de encostas, de canalizações, de saneamento, de metrôs etc.
(VARELA, 2019).

A contenção é realizada pela introdução de uma estrutura ou de elementos


estruturais compostos que apresentam rigidez superior em relação ao terreno.
Neste tópico, apresentaremos os principais tipos de estruturas de contenção.

Neste tópico, serão abordados os tipos de contenções executadas em obras


de terra, como: muros de arrimo, escoramentos, cortinas, reforço com tirantes etc.

2 CONTENÇÃO DE SOLOS
Como exemplos de contenções de solo mais usuais, podemos citar os muros
de arrimo, muro de gravidade, muro de pedra, muro de concreto ciclópico, muro
de gabiões, de saco e solo cimento, de solo-pneus, muro de flexão, de contraforte,
ancorado na base e reforçado.

2.1 MUROS DE ARRIMO


A designação muro de arrimo está relacionada com qualquer estrutura
dimensionada e executada com a finalidade de conter uma determinada massa
de solo normalmente instável, ou seja, com a possibilidade de se movimentar,
rompendo-se por cisalhamento.

169
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

2.2 MUROS DE GRAVIDADE


Segundo Gerscovich, Danziger e Saramago (2016), os muros de gravidade
são estruturas, as quais, pelo peso próprio, se opõem aos empuxos horizontais.
Normalmente, são utilizados para conter desníveis pequenos ou médios, inferiores
a cerca de 5,0 metros. Podem ser constituídos de pedra, concreto (simples ou
armado), gabiões ou, ainda, pneus usados e preenchidos com areia.

FIGURA 11 – A) MURO DE PESO OU GRAVIDADE; B) MURO DE FLEXÃO

FONTE: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016, p. 67)

FIGURA 12 – TERMINOLOGIA PARA A DEFINIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO MURO

FONTE: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016, p. 67)

2.3 MURO DE PEDRA


Os muros de pedra são os mais antigos e numerosos. Atualmente, devido
ao custo elevado, os muros de pedra são utilizados com menor frequência,
principalmente os que possuem maior altura. Os muros podem ser executados
com pedras arrumadas manualmente, sendo que a resistência do muro resulta
do embricamento dos blocos de pedras. Esse muro apresenta vantagens
quanto à facilidade de construção e, dependendo das condições, dispensa o
uso de dispositivos de drenagem, pois o material é drenante (GERSCOVICH;
DANZIGER; SARAMAGO, 2016).

170
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 13 – CONTENÇÃO DO TIPO MURO DE PEDRA

FONTE: <http://diprotecgeo.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/04/AUTRALIAN-RETAININ-
G-WALLS-183-edited.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2019.

Os muros de pedra sem argamassa são recomendados para contenção de


taludes de até 2,0 metros de altura, sendo que a base do muro deve ter largura
mínima de 0,5 a 1,0 metros e ser apoiada em uma cota inferior à superfície
do terreno, reduzindo o risco de ruptura por deslizamento (GERSCOVICH;
DANZIGER; SARAMAGO, 2016).

Para a contenção de taludes com altura aproximada de 3,0 metros, devem


ser empregadas argamassa de cimento e areia para preencher os vazios dos blocos
de pedras, pois a argamassa provoca uma maior rigidez no muro, no entanto,
elimina a sua capacidade drenante. Dessa forma, é necessário implementar
dispositivos de drenagem, como dreno de areia ou geossintético nos tubos
barbacãs para o alívio de poropressões na estrutura de contenção (GERSCOVICH;
DANZIGER; SARAMAGO, 2016).

2.4 MUROS DE CONCRETO CICLÓPICO


Conforme Gerscovich, Danziger e Saramago (2016), os muros de concreto
ciclópico são estruturas constituídas de concreto com blocos de rocha em
dimensões variadas. Normalmente, são dimensionados com uma seção transversal
trapezoidal, com a largura da base aproximadamente 50% da altura do muro. Os
muros com faces inclinadas ou degraus podem trazer uma economia significativa
de material. Para muros com a face frontal plana e vertical, é recomendada uma
inclinação para trás (em direção ao aterro) de, pelo menos, graus com a vertical,
evitando a sensação ótica de uma inclinação do muro e tendendo ao tombamento
para frente.
171
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 14 – MURO DE CONCRETO CICLÓPICO

FONTE: <http://diprotecgeo.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/04/retaining-wall-with-we-
ep-holes.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2019.

Devido à impermeabilidade do concreto, é imprescindível a execução de


um sistema eficaz de drenagem.

2.5 MUROS DE GABIÕES


Os muros de gabiões são constituídos por gaiolas metálicas construídas
por fios de aço em malha hexagonal, galvanizados, os quais são preenchidos com
pedras. As dimensões usuais compreendem 2,0 metros de comprimento e uma
seção transversal com 1,0 metro de aresta. As principais características dos muros
de gabiões são a flexibilidade, que permite com que a estrutura se acomode
a recalques diferenciais, e a permeabilidade (GERSCOVICH; DANZIGER;
SARAMAGO, 2016).

172
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 15 – MURO DE GABIÃO

FONTE: <https://awacomercial.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/04/muro-de-gabiao-1.
jpg>. Acesso em: 14 dez. 2019.

Os gabiões normalmente são montados no local da obra e são costurados


por arames de aço com características similares ao material utilizado nas gaiolas,
no entanto, possuem diâmetro inferior, para melhor trabalhabilidade. As costuras
são executadas ao longo das arestas dos gabiões, tanto na lateral quanto na
vertical. Dessa forma, o muro comporta-se como uma estrutura monolítica, com
características geotécnicas uniformes, como rigidez e ângulo de atrito interno.
Os blocos de pedra utilizados para os gabiões devem ser íntegros e apresentar
uma granulometria uniforme, com diâmetro entre 1,0 e 2,0 vezes a dimensão da
malha. São consideradas, em projeto, as seguintes características geotécnicas para
os muros em gabião: peso específico = 17 kN/m³ e ângulo de atrito = 35 graus
(SAYÃO, 1999).

2.6 MUROS DE SACOS DE SOLO-CIMENTO


Os muros de sacos de solo-cimento são constituídos por camadas formadas
por sacos de poliéster ou similares, e são preenchidos por uma mistura de solo-
cimento com volume na ordem de 10:1 a 15:1 (solo:cimento). O solo utilizado
é, inicialmente, submetido a um peneiramento em uma malha de 9,0 mm, para
a retirada de pedregulhos. Em seguida, o cimento é espalhado, misturado e é
adicionada água em quantidade 1% acima da umidade ótima de compactação
Proctor normal. A mistura é colocada em sacos, preenchendo cerca de 2/3 do
volume (GERSCOVICH; DANZIGER; SARAMAGO, 2016).

As faces externas do muro podem receber uma camada de argamassa de


concreto magro para a proteção superficial contra a ação erosiva de intempéries.

173
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 16 – MURO DE SOLO-CIMENTO

FONTE: <http://diprotecgeo.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/04/36095dec05775de-
4c643311e51ba3b91.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2019.

2.7 MURO DE SOLO-PNEUS


Os muros de solo-pneus são construídos pelo lançamento de camadas
horizontais de pneus, os quais são amarrados entre si com uma corda ou arame e
preenchidos com solo compactado. Compreendem uma solução flexível, de baixo
custo e sustentável, pois reutilizam pneus descartáveis.

Sendo um muro de peso, os muros de solo-pneus estão limitados a alturas


inferiores a 5,0 metros e à disponibilidade de espaço para a construção da sua
base, com largura na ordem de 40% a 60% da altura final do muro (GERSCOVICH;
DANZIGER; SARAMAGO, 2016).

FIGURA 17 – MURO DE SOLO-PNEUS

FONTE: < http://diprotecgeo.com.br/blog/wp-content/uploads/2018/04/IMG_6148.jpg>. Aces-


so em: 14 nov. 2019.

174
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

2.8 MUROS DE FLEXÃO


Os muros de flexão são estruturas esbeltas e com seção transversal em
forma de “L”. Resistem aos empuxos por flexão, utilizando a parte do peso próprio
do maciço que se apoia sobre a base do “L”. São, de forma geral, constituídos de
concreto armado e a largura da base normalmente corresponde de 50% a 70% da
altura do muro. Para alturas superiores a 5,0 metros, é conveniente a utilização
de contrafortes para aumentarem a estabilidade contra o tombamento. Os muros
de flexão podem também ser ancorados na base com tirantes ou chumbadores,
melhorando a condição de estabilidade (GERSCOVICH; DANZIGER;
SARAMAGO, 2016).

FIGURA 18 – MURO DE FLEXÃO

FONTE: Ranzini et al. (1998, p. 504)

2.9 MUROS DE CONTRAFORTES


Possuem elementos verticais de maior porte, chamados de contrafortes,
destinados a suportar os esforços de flexão pelo engastamento na fundação. O
paramento do muro é formado por lajes verticais que se apoiam nos contrafortes
(RANZINI et al. 1998).

FIGURA 19 – MURO DE CONTRAFORTES

FONTE: Ranzini et al. (1998, p. 504)

175
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

2.10 MURO ANCORADO NA BASE


A base do muro é estabilizada através da ancoragem. A concepção
do projeto adota a carga de trabalho da ancoragem como uma das forças de
estabilização do muro. A solução do projeto pode ser utilizada quando, na
fundação do muro, há um material competente como rocha sã ou alterada, e
quando há limitação de espaço disponível para que a base do muro apresente as
dimensões necessárias para a estabilidade (SAYÃO, 1999).

FIGURA 20 – MURO DE CONCRETO ANCORADO NA BASE

FONTE: Sayão (1999, p. 21)

2.11 MUROS REFORÇADOS COM GEOSSINTÉTICOS


Os muros de solo reforçado se caracterizam pela implantação de reforços,
os quais são materiais como elevada resistência à tração e no interior de um
maciço de solo compactado.

Uma das principais aplicações dos geossintéticos é a de reforço e


estabilização de maciços de terra em obras de contenção de encostas e aterros. As
geogrelhas atuam como “armadura” do solo, ampliando a resistência do maciço.
As geogrelhas atuam aumentando a resistência aos esforços de tração e devem
ser dimensionadas para garantir que o maciço construído em solo compactado
não sofra o processo de instabilidade pela formação de cunha de ruptura
(GERSCOVICH; DANZIGER; SARAMAGO, 2016).

Os polímeros mais utilizados na fabricação de geossintéticos são:

• polietileno de alta densidade (PEAD);


• polipropileno (PP);
• poliéster (PET);
• poliálcool vinílico (PVA).

176
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

Os geotêxteis e as geogrelhas são os geossintéticos mais utilizados com a


função de reforço nos solos de aterros, taludes íngremes e estruturas de contenção.
As obras que aplicam tal tipo de reforço se caracterizam pelo lançamento e
compactação do aterro granular com as camadas de geossintéticos, estas que
servem como elementos de reforço para a garantia de estabilidade da obra. A
seguir, serão esquematizadas obras típicas de estruturas de contenção e aterros
íngremes reforçados com geossintéticos (PALMEIRA, 1999).

FIGURA 21 – ESQUEMAS TÍPICOS DE ESTRUTURAS EM SOLO REFORÇADO COM GEOSSINTÉTICOS

FONTE: Palmeira (1999, p. 4)

Algumas propriedades caracterizam os materiais geossintéticos e são


requisitos básicos para que o material seja utilizado como elemento de reforço
em uma obra geotécnica, como:

• Resistência e rigidez à tração compatíveis.


• Comportamento para fluência compatível.

177
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

• Grau de interação entre solo e reforço.


• Durabilidade compatível com a vida útil da obra.

DICAS

Verifique o sistema de contenção em solo reforçado que foi utilizado para


uma estrutura de contenção com 15 metros de altura, na Arena Corinthians: https://www.
youtube.com/watch?v=xSw7QTPWzSU.

3 CORTINA ATIRANTADA
A cortina atirantada é uma estrutura de contenção que possui uma
parede de concreto armado e tirantes, os quais são ancorados no terreno em
uma profundidade na qual tenha estabilidade, sem possibilidade de ruptura ou
movimentações desejadas.

Cortinas atirantadas são estruturas antigas, utilizadas no país desde 1957,


com grande influência do engenheiro Antônio da Costa Nunes, que desenvolveu
a tecnologia de chumbamento e ancoragem no solo, no Estado do Rio de Janeiro.
Entretanto, a disseminação da técnica ocorreu no início da década de 1970, muitas
vezes, substituindo os tradicionais muros de arrimos de gravidade e flexão.

Os tirantes são tracionados por macaco hidráulico até uma carga definida
em projeto e fixados na parede de concreto por meio de um sistema de placas e
porcas. A carga nos tirantes atuará contra a parede de concreto da cortina, sendo
responsável por se contrapor ao empuxo e garantir a estabilidade do solo armado.

A ancoragem não pode ser implantada em solos orgânicos moles, aterros,


solos coesivos (Nspt < 4) e aterros sanitários. Com a introdução das forças dos
tirantes, nenhuma superfície de escorregamento pode apresentar um fator de
segurança menor que 1,5.

As paredes de concreto possuem espessura, de modo geral, entre 20 cm e


40 cm, variando de acordo com as cargas dos tirantes e dos espaçamentos entre
as ancoragens. Os tirantes podem ser cordoalhas, fios ou monobarras de aço,
normalmente implantados com inclinação entre 15 e 30 graus com a horizontal.

O projeto de uma cortina deve garantir condições de segurança adequadas


durante todo o processo de execução da estrutura de contenção.

178
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

Com base na larga experiência adquirida com a construção de cortinas


atirantadas, os engenheiros brasileiros começaram a utilizar e adaptar-se ao solo
grampeado, devido à sequência executiva semelhante. O solo grampeado foi
desenvolvido na década de 1960 para aplicação em túneis convencionais (NATM)
e, no Brasil, foi utilizado pela primeira vez em 1970, durante a construção do
sistema de abastecimento de água cantareira em São Paulo. Desde então, tal
metodologia se tornou comumente utilizada em cortes para implantação de
subsolos e na contenção de taludes naturais com estabilidade insatisfatória.

FIGURA 22 – CORTINA ATIRANTADA SUSTENTANDO RODOVIA

FONTE: <https://www.aecweb.com.br/tematico/img_figuras/contencao-em-estrada$$13114.
jpg>. Acesso em: 14 dez. 2019.

4 SOLO GRAMPEADO
O solo grampeado é composto por dois elementos principais: os
chumbadores e o preenchimento. Os chumbadores são elementos semirrígidos
que promovem a estabilização do maciço, devido à resistência, à tração, e são
mobilizados em resposta ao movimento lateral e à deformação do solo. O grampo
é inserido em uma perfuração e, posteriormente, é realizado o preenchimento,
normalmente, com cimento e água. A calda de cimento tem a função de transferir
as tensões de cisalhamento da deformação do solo e das barras metálicas e as
tensões de tração para o solo envolvente, proporcionando certo nível de proteção
contra corrosão. O grampo é ligado ao paramento por meio de uma placa de apoio
e rosca, e a face, que não tem função estrutural, é realizada apenas com concreto
projetado, telas metálicas flexíveis ou executadas em talude natural. Estruturas de
estabilização com solo grampeado requerem equipamentos menos comparados
à cortina atirantada. Sua aplicação, em geral, apresenta maior custo-benefício, a
estrutura suporta pequenas deformações e a instalação é relativamente rápida. A
seguir, serão apresentadas as diferenças construtivas entre o solo grampeado e a
cortina atirantada.

179
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 23 – SOLO GRAMPEADO E CORTINA ATIRANTADA

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Sistemas-de-drenagem-em-solo-gram-
peado-e-cortina-atirantada-8-A-drenagem_fig1_317151041>. Acesso em: 14 dez. 2019.

5 TERRA ARMADA
O sistema de contenção do tipo terra armada tem, como característica,
a introdução de fitas metálicas no material de retroaterro. Essas fitas atuam
como elementos de reforço, com o objetivo de conferir resistência à tração ao
solo do retroaterro. Os muros de terra armada consistem na associação de solo
compactado e as armaduras metálicas, além de um paramento externo vertical,
composto por placas de concreto sem função estrutural. As armaduras ou fitas
metálicas são elementos flexíveis que trabalham com a tração e devem possuir
resistência adequada à corrosão. As fitas metálicas são elementos fixados às placas
do paramento externo através de parafusos. O sistema de contenção é patenteado
(SAYÃO, 1999).

O sistema de estabilização de taludes é constituído por três elementos


principais: os reforços, o solo do aterro e os painéis do paramento exterior
(geralmente, pré-fabricados), também denominados de elementos de pele. As
principais funções dos reforços são a mobilização por atrito de tensões tangenciais
ao longo da sua superfície e a resistência aos esforços de tração. Como os reforços
estão envoltos em solo, é fundamental realizar uma análise do material utilizado
nos requisitos de resistência à tração, ductilidade, durabilidade e coeficiente de
atrito com o solo.

A seguir, poderemos observar os aspectos construtivos da estrutura de


terra armada.

180
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 24 – SISTEMA DE TERRA ARMADA

FONTE: <https://www.galaxcms.com.br/imgs_redactor/1066/files/22310175_694797797376457
_6705613695350413262_n.png>. Acesso em: 14 dez. 2019.

6 INFLUÊNCIA DA ÁGUA
Muitos acidentes que envolvem muros de contenção estão relacionados
com o acúmulo de água no maciço. A existência de uma linha freática no maciço
é altamente desfavorável, aumentando substancialmente o empuxo total, sendo
que, o acúmulo de água, ocasionado pela deficiência de drenagem, pode duplicar
o empuxo atuante (GERSCOVICH; DANZIGER; SARAMAGO, 2016).

A presença de água pode provocar efeitos de forma direta e indireta.


De forma direta, quando o empuxo atua no tardoz e, indireta, quando há uma
redução de resistência do maciço ao cisalhamento. A diminuição de resistência
pode ser caracterizada pela redução da tensão efetiva, ou seja, quando o solo está
saturado, ou pela redução da coesão aparente.

O efeito direto é considerado de maior intensidade, podendo ser eliminado


ou atenuado por um sistema eficaz de drenagem.

Os sistemas de drenagem superficiais, como canaletas transversais,


canaletas longitudinais de descida (escada), caixas coletoras etc., devem ser
capazes de captar e conduzir as águas que incidem na superfície do talude,
considerando toda a bacia de captação. Os sistemas de drenagem subsuperficiais,
como drenos horizontais, trincheiras drenantes longitudinais, drenos internos
de estruturas de contenção, filtros granulares e os geodreno, têm como função
controlar as magnitudes de pressões de água e/ou captar fluxos que ocorrem no
interior dos taludes.

181
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

Projetos de drenagem superficial devem captar as águas que incidem na


superfície do talude, considerando não só a área da região estudada, mas toda a
bacia de captação.

Segundo Ranzini et al. (1998), o sistema de drenagem deve contemplar os


seguintes princípios básicos:

• Impedir o acúmulo de água junto ao tardoz interno do muro.


• A rede de percolação deve conter linhas de fluxo verticais, na região da cunha
potencial de ruptura.
• O sistema drenante deve ser também filtrante, para que, dessa forma, afaste o
perigo de colmatação ou entupimento, que resultaria em perda parcial ou total
da eficiência do sistema de drenagem, impedindo, também, o carreamento do
maciço.
• O sistema de coleta e o desvio das águas que escoam na superfície do terreno
devem ser separados das águas. Após se infiltrarem, irão atingir o sistema
interno de drenagem para evitar que vazões elevadas e o carreamento de
detritos sejam conduzidos para o sistema interno de drenagem.

Durante a construção de um muro de arrimo, deve-se acompanhar,


cuidadosamente, a construção dos drenos, observando o posicionamento do
colchão de drenagem e garantindo que, durante o lançamento do material, não
haja contaminação ou segregação.

O sistema de drenagem de um muro de arrimo em concreto armado pode


ser executado com as seguintes etapas:

01) Impermeabilização do muro com materiais cristalizantes ou com Manta


Asfáltica;
02) Instalação de um tubo dreno (tubo perfurado) revestido com
camisa Geotêxtil. O tubo drenante é instalado no pé do muro, para que
realize o encaminhamento da água para um ponto de saída, caixa coletora,
canal ou rede pública.
03) Instalação do geocomposto drenante (bidim) ao longo da área do muro de
arrimo, de forma a cobrir o tubo dreno. A etapa pode ser realizada com uma
camada em brita no 1.
04) A última etapa consiste em compactar o solo atrás do muro de arrimo.

182
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 25 – DESENHO ESQUEMÁTICO DE DRENAGEM EM MURO DE ARRIMO

FONTE: <http://geofoco.com.br/wp-content/uploads/2014/06/drenagem-muto-de-arrimo.jpg>.
Acesso em: 14 dez. 2019.

7 ESCORAMENTOS
De acordo com Ranzini et al. (1998), os escoramentos compõem-se pelos
seguintes elementos:

• Parede: é a estrutura que está em contato direto como solo a ser contido.
Normalmente, é vertical e composta por materiais como madeira, aço ou
concreto.
• Longarina: é um elemento linear, longitudinal, no qual a parede se apoia. De
modo geral, é disposta horizontalmente e pode ser constituída por vigas de
madeira, aço ou concreto armado.
• Estroncas ou escoras: são elementos de apoio das longarinas, sendo
perpendiculares. Podem ser constituídas por barras de madeira ou aço.
• Tirantes: são elementos lineares introduzidos no maciço contido e ancorado
em profundidade por meio de um trecho alargado, denominado bulbo. Os
tirantes trabalham à tração e podem suportar as longarinas em substituição às
estroncas.

Os escoramentos podem ser classificados de acordo com o material


utilizado.

183
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

7.1 ESCORAMENTO DE MADEIRA


Os escoramentos de madeira são mais comumente usados na contenção de
paredes de valas destinadas ao assentamento de tubulações de redes finas de água
ou esgoto. São normalmente empregados em profundidades abaixo de 4 metros
e podem ser construídos com pranchas verticais ou horizontais, dependendo do
solo a ser contido e da profundidade a ser atingida. Em casos de solos finos,
não coesivos (areias e siltes), em que haja necessidade de evitar carreamento de
material, as pranchas verticais podem ter encaixes “macho-fêmea”, sendo tal tipo
de escoramento chamado de especial (RANZINI et al., 1998).

FIGURA 26 – ESCORAMENTO DE MADEIRA

FONTE: <http://twixar.me/vTFm>. Acesso em: 14 dez. 2019.

As pranchas devem formar uma parede contínua, dependendo das


características geotécnicas do maciço e do fluxo de água do lençol freático,
podendo, também, em situações favoráveis, haver espaços intercalados. Por essa
característica, tais escoramentos são conhecidos como contínuos ou descontínuos
(RANZINI et al. 1998).

7.2 ESCORAMENTO METÁLICO


As estacas-pranchas são perfis de aço laminados com seções planas ou
em forma de “U” ou “Z” com encaixes longitudinais ou de concreto armado, do
tipo “macho-fêmea”, permitindo construir paredes contínuas pela justaposição
das peças que são encaixadas e cravadas sucessivamente. As paredes possuem
estanqueidade limitada pela permeabilidade das juntas (RANZINI et al. 1998).

184
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 27 – EXECUÇÃO DE ESTACA PRANCHA

FONTE: <http://www.embrafe.com.br/cravacao-estaca-prancha-metalica>. Acesso em: 14 dez. 2019.

7.3 ESCORAMENTO DE CONCRETO


As paredes-diafragma são caracterizadas pelo procedimento executivo,
em que a concretagem é realizada submersa, feita com tremonha em trincheiras
escavadas, relativamente estreitas, cuja estabilidade, durante a escavação, é
obtida pela introdução de uma suspensão de bentonita em água. A suspensão
estabilizante, denominada “lama-bentonítica”, permite a introdução da armadura
e o preenchimento da escavação com concreto (RANZINI et al. 1998).

185
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 28 – PAREDE-DIAFRAGMA

FONTE: <https://www.aecweb.com.br/tematico/img_figuras/Parede-diafragma-1-gran$$9368.
jpg>. Acesso em: 14 dez. 2019.

7.4 DIFICULDADES DE EXECUÇÃO DOS ESCORAMENTOS


A fuga de solos finos não coesivos situados abaixo do nível do lençol
freático é uma das dificuldades oriundas da falta de estanqueidade. Tal problema
pode ser evitado pelo rebaixamento adequado do lençol freático por meio de
um sistema munido de filtros capazes de impedir o carreamento das partículas
sólidas. Quando tal carreamento não é impedido, há a possibilidade da formação
de vazios com o perigo de colapso instantâneo ou de recalques imprevisíveis que
podem ocorrer até em pontos relativamente distantes da vala, como no caso de
solos com lentes de areia ou calhas fósseis (RANZINI et al. 1998).

No caso de pranchas verticais, a maior dificuldade reside no ajuste entre


pranchas justapostas, do tipo “macho-fêmea”. Para evitar fendas e aberturas, é
importante que seja respeitada uma sequência de cravação que force uma prancha
contra o encaixe da que foi cravada anteriormente.

Nas paredes-diafragma, a maior dificuldade consiste em não perder a


lama bentonítica, nos casos em que a escavação provoca o rompimento acidental
de algum conduto enterrado. No caso, o preenchimento da vala com areia deve
ser imediato, para impedir um colapso ao redor do elemento que está sendo
escavado.

O detalhe mais importante da execução advém do conceito de que o


escoramento deve, tanto quanto possível, suprir o confinamento dado pelo próprio
solo antes da escavação, ou seja, deve ser capaz de impedir deslocamentos laterais
além dos que ocorrem inevitavelmente, no intervalo de tempo que decorre entre
a escavação e a instalação do escoramento. O escoramento deve ser instalado o
mais rapidamente possível, tendo em vista que os deslocamentos laterais evoluem
com o tempo, e devem ser evitados espaços vazios entre a parede do escoramento
e o maciço escorado (RANZINI et al., 1998).

186
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

7.5 DANOS INDUZIDOS


Conhecidos os deslocamentos de curto ou longo prazos, induzidos pela
execução de contenção de terreno natural escavado, conclui-se o dimensionamento
geotécnico com a estimativa de danos em utilidades ou em edificações vizinhas à
contenção. As deformações, ao longo do tempo, ocasionam recalques diferenciais
ou/e deformações laterais de tração.

A classificação dos danos é definida em função da espessura das


trincas. É subjacente, a essa classificação, a distinção entre os danos funcionais,
arquitetônicos e estruturais, em função da magnitude e intensidade das trincas.

QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO DE DANOS EM EDIFICAÇÕES


Classe de Espessura aproximada
Descrição dos danos
danos das Trincas (mm)
Desprezíveis Trincas capilares < 0,1
Trincas estreitas de fácil reparo.
Muito
Trincas na alvenaria externa, < 1,0
pequenos
visíveis sob inspeção detalhada.
Trincas facilmente preenchidas.
Várias fraturas pequenas no interior
da edificação. Trincas externas
Pequenos < 5,0
visíveis e sujeitas à infiltração.
Portas e janelas emperrando um
pouco nas esquadrias.
O fechamento das trincas requer
significativo preenchimento. Talvez
seja necessária a substituição 5,0 a 15,0 ou várias
Moderados de pequenas áreas de alvenaria trincas com mais de 3,0
externa. Portas e janelas mm
emperradas. Redes de utilidade
podem estar interrompidas.
Necessidade de reparos envolvendo
remoção de pedaços de parede,
especialmente sobre portas e
janelas. Esquadrias de portas e 15,0 a 25,0 e em função
Severos
janelas fora do esquadro. Paredes do número de trincas
fora do prumo, com eventual
deslocamento de vigas de suporte.
Utilidades interrompidas.
Reparos significativos envolvendo
reconstrução parcial ou total. Usualmente > 25,0.
Muito severos Paredes requerem escoramento. Também em função do
Janelas quebradas. Perigo de número de trincas.
instabilidade.
FONTE: Ranzini et al. (1998, p. 511)

187
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

O desempenho de uma contenção depende do sistema utilizado e das


características do terreno, das condições do lençol freático, das condições das
construções vizinhas, do espaço disponível para a sua implantação, ou seja, são
inúmeros fatores que devem ser levados em consideração na escolha do sistema
a ser utilizado.

8 MURO DE ARRIMO – DIMENSIONAMENTO


Para o dimensionamento de muros de arrimo, devemos partir de um
perfil anteriormente estabelecido. Apresentaremos o pré-dimensionamento de
muros de arrimo de acordo com o proposto por Varella (2019).

8.1 PERFIL RETANGULAR


Muro em alvenaria de tijolos:
b = 0,40 h;

Muro de alvenaria de pedra ou de concreto ciclópico:


b = 0,3 h;

FIGURA 29 – MURO DE ARRIMO COM PERFIL RETANGULAR

FONTE: A autora

8.2 PERFIL TRAPEZOIDAL


Concreto ciclópico:

b0 = 0,14 h;
b = b0 + h/3;

188
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 30 – MURO DE ARRIMO COM PERFIL TRAPEZOIDAL

FONTE: A autora

9 DIMENSIONAMENTO PARA SOLOS NÃO COESIVOS


UTILIZANDO A TEORIA DE RANKINI
Considerações: não existe atrito vertical entre o solo e o muro; o solo é
homogêneo e sem sobrecarga; o método é proposto por Rankini apud Marangon
(2018).

1ª ETAPA – DETERMINAR OS COEFICIENTES DE EMPUXO

Sendo que:
Ka – Coeficiente de empuxo ativo.
Kp – Coeficiente de empuxo passivo.
φ – ângulo de atrito do solo.

2ª ETAPA – CÁLCULO DOS EMPUXOS

189
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

Sendo que:
Ea – Empuxo ativo.
Ep – Empuxo passivo.
γs – Peso específico do solo.
h – Altura do local de aplicação do empuxo (varia em função do tipo de empuxo).

3ª ETAPA – MOMENTOS DEVIDO AOS EMPUXOS

Momento = Empuxo multiplicado pelo braço de alavanca.


Momento de tombamento (Mt) = Ea*c.
Momento resistente (MRep) = Ep*a.

Sendo que:
c = distância do centro de gravidade do empuxo ativo até a base do muro.
a = distância do centro de gravidade do empuxo passivo até a base do muro.

Verificar as distâncias “a” e “c”.

FIGURA 31 – MURO DE ARRIMO TRAPEZOIDAL

FONTE: O autor

190
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

4ª ETAPA – PESO DO MURO

P = γc * Area seção transversal * 1

Sendo γc o peso próprio do material utilizado.

O peso é considerado para cada metro linear de muro. Para perfis trapezoidais,
dividir a área da seção transversal em figuras geométricas conhecidas.

FIGURA 32 – DETALHES DE PROJETO DE MURO DE ARRIMO TRAPEZOIDAL

FONTE: O autor

5ª ETAPA – MOMENTO PROVENIENTE DO PESO DO MURO

Momento Resistente em função do peso (MRw) = ∑(P*d)

Para o exemplo:
MRw = P1*x + P2*y + P3*z

6ª ETAPA – VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO

De acordo com o que será exposto a seguir, o fator de segurança mínimo a ser
utilizado na pior situação de dimensionamento é de 1,5.

191
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

FIGURA 33 – NBR 11682

FONTE: O autor

FS ≥ 1,5

7ª ETAPA – VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO

FS ≥ 1,5

S = Força de atrito.

8ª ETAPA – VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA PARA RUPTURA DO SOLO

σmáx ≤ σadm

σr – Tensão de ruptura.
σadm – Tensão admissível do solo = σr/2 (considerando um fator de segurança
igual a 2).
σmáx – Tensão máxima do muro no solo.
e = excentricidade (ideal que esteja no núcleo central da base do muro, para que
atuem apenas esforços de compressão).
V = forças verticais atuantes.

192
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

EXEMPLO:

Dimensione o muro de contenção com as seguintes características:

Solo: areia
Tensão admissível areia = 200 kPa
Peso específico do solo γ = 17 kN/m³
Material: concreto ciclópico
Peso específico do concreto ciclópico γ = 24 kN/m³
Ângulo de atrito φ = 35°
Coesão do solo = 0 (areia)

Considerar o pré-dimensionamento a seguir. As medidas são consideradas em metros.

FIGURA 34 – PERFIL DO MURO DE ARRIMO

FONTE: A autora

193
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

1ª ETAPA – DETERMINAR OS COEFICIENTES DE EMPUXO

2ª ETAPA – CÁLCULO DOS EMPUXOS

3ª ETAPA – MOMENTOS DEVIDO AOS EMPUXOS

Momento = Empuxo multiplicado pelo braço de alavanca.


Momento de tombamento (Mt) = Ea*c.
Momento resistente (MRep) = Ep*a.

Mt = 112,46*(6,4*1/3) = 262,40
MRep = 31,36*(1/2) = 31,365

4ª ETAPA – PESO DO MURO

5ª ETAPA – MOMENTO PROVENIENTE DO PESO DO MURO

Momento Resistente em função do peso (MRw) = ∑(P*d)


MRw = P1*x + P2*y + P3*z
MRw = [(0,5*6)*(0,5/2 + 3,6)] + [(3,2*6/2)*(0,4 + 3,2*2/3] + [(4,1*1)*(4,1/2)]*24
MRw = 1062,6 kN.m

194
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

6ª ETAPA – VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA AO TOMBAMENTO

O fator de segurança mínimo a ser utilizado na pior situação de dimensionamento é


de 1,5.

FS ≥ 1,5

7ª ETAPA – VERIFICAÇÃO DE SEGURANÇA AO DESLIZAMENTO

FS ≥ 1,5

8ª ETAPA – VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA PARA RUPTURA DO SOLO

σmáx ≤ σadm

σr – Tensão de ruptura; – AREIA MEDIANAMENTE COMPACTADA = 200 KPa.


σadm – Tensão admissível do solo = σr/2 (considerando um fator de segurança
igual a 2).
σadm = 100 kPa.
σmáx – Tensão máxima do muro no solo.
e = excentricidade (ideal que esteja no núcleo central da base do muro, para que
atuem apenas esforços de compressão).

195
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

Considerando os coeficientes de segurança envolvidos no dimensionamento, o


muro está dimensionado para o tipo de solo. A critério do projetista, as dimensões
do muro podem ser alteradas para diminuir a tensão máxima e trabalhar, ainda
mais, a favor da segurança.

10 ATIVIDADE PRÁTICA 10
OBJETIVOS

• Compreender o método de dimensionamento de muro de arrimo.


• Praticar o uso das fórmulas que envolvem o método proposto por Rankini.
• Verificar como a alteração nas dimensões do muro influencia no
dimensionamento e nas verificações de segurança.

O engenheiro, inúmeras vezes, precisa criar quadro em software para


auxiliar no dimensionamento de elementos estruturais. Dessa forma, desenvolva
um quadro de dimensionamento de muros de arrimo utilizando o software
Microsoft Excel ou similar. Considere o muro trapezoidal em concreto ciclópico.
O exposto a seguir exemplificará um modelo, cuja entrada de dados é simples e o
dimensionamento é desenvolvido em etapas.

196
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

QUADRO 3 – DIMENSIONAMENTO DE MUROS DE ARRIMO

FONTE: O autor

197
UNIDADE 3 — REQUISITOS DE QUALIDADE E OBRAS COMPLEMENTARES

LEITURA COMPLEMENTAR

LUZIA NAS ALTURAS

Um exemplo conhecido de reforço de fundações é a obra da capela Santa


Luzia, em São Paulo.

Projetada pelo arquiteto italiano João Bianchi, a capela foi inaugurada em


1922 nas dependências do Hospital e Maternidade Umberto I.

A construção que rendeu notícias e imagens pelo Brasil é parte do canteiro


de obras aberto em 2015 pelo grupo francês Allard, que investe na reforma de
prédios históricos e faz deles empreendimentos comerciais. Diante da imposição
pelo decreto de tombamento do mais alto grau de proteção à capela de Santa
Luzia e à Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, edificação vizinha, optou-
se por mantê-la exatamente no local onde está, mesmo durante a escavação de
31 metros abaixo dela para a construção de oito andares de subsolo. A estrutura
sob a capela de Santa Luzia será integrada ao subsolo da torre comercial de cinco
andares a ser erguida ao lado.

O procedimento ocorreu com escavações que removiam o solo abaixo


dela, sendo uma técnica pioneira no Brasil, prevista no projeto assinado pelos
engenheiros Mario Franco e Carlos Eduardo Moreira Maffei. O primeiro passo
para o trabalho foi a demolição de um prédio de quatro andares que ficava à frente
da igreja, em setembro de 2016. Já sem o edifício, os engenheiros responsáveis
isolaram a área a ser escavada com contenções de concreto, construídas com 31
metros de profundidade. Pretendia-se garantir a estabilidade do solo. A primeira
etapa por ali foi a construção das oito estacas que compõem a nova fundação
da capela e suportam suas 1.075 toneladas. Foram abertos oito buracos de 54
metros de profundidade e 1 metro de diâmetro no solo, quatro de cada lado da
edificação, depois preenchidos com 54 metros cúbicos de concreto, processo que
levou cinco dias de trabalho. Em seguida, o piso da capela foi demolido (será
restaurada com os materiais originais após a conclusão da fundação). Concluída
a etapa do piso da igreja, foi feita uma escavação em volta da capela, até que
ficasse totalmente aparente a sua fundação original, 1,5 metro abaixo do solo,
e as extremidades das oito estacas. Os engenheiros executaram sete valas em
cada lado da fundação original da capela e passaram vigas no nível do piso da
edificação. As sete vigas abaixo da capela estão apoiadas nas estacas da nova
fundação. A seguir, preencheu-se, com concreto, uma laje, onde a capela passaria
a se sustentar.

Abaixo da nova plataforma de concreto, restava, ainda, um pedaço da


fundação original da capela, ainda apoiado diretamente no solo. Embora a igreja
já estivesse sobre a laje de concreto, a sustentação de seu peso não havia sido
integralmente transferida para a plataforma. Para separar a antiga base da capela
do solo e deixá-la apoiada somente sobre a nova estrutura, sem causar possíveis

198
TÓPICO 3 — OBRAS COMPLEMENTARES

fissuras, utilizou-se um jato de água de alta pressão, processo conhecido como


hidrojateamento, para tirar cerca de 7 centímetros de terra sob a fundação
original. Já sem contato com o solo, a capela passou a se apoiar somente na laje de
concreto, sustentada pelas oito estacas fincadas com 54 metros de profundidade.
Em seguida, de baixo para cima, entre as lajes construídas, serão feitas outras três,
que completarão, enfim, os oito andares. Destinadas a suportar toda a estrutura,
as estacas seguem mais 23 metros solo abaixo.

CAPELA SANTA LUZIA E PROCESSO DE ESCAVAÇÃO PARA NOVA FUNDAÇÃO

FONTE: Adaptado de Revista Veja (2018)

FONTE: REVISTA VEJA. Luzia nas alturas. 2019. Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/
capela-suspensa-santa-luzia-hospital-matarazzo-umberto-i/. Acesso em: 15 out. 2019.

199
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Das contenções de solo mais usuais, podemos citar os muros de arrimo, muro
de gravidade, muro de pedra, muro de concreto ciclópico, muro de gabiões, de
saco e solo-cimento, de solo-pneus, muro de flexão, de contraforte, ancorado
na base e reforçado com geossintéticos.

• O muro de arrimo está relacionado com qualquer estrutura dimensionada


e executada com a finalidade de conter uma determinada massa de solo
normalmente instável, ou seja, com a possibilidade de se movimentar e
rompendo-se por cisalhamento.

• Os muros de gabiões são constituídos por gaiolas metálicas construídas por fios
de aço em malha hexagonal, galvanizados, os quais são preenchidos com pedras.

• Os muros de solo reforçado se caracterizam pela implantação de reforços,


os quais são materiais com elevada resistência à tração, no interior de um
maciço de solo compactado. Os polímeros mais utilizados para a fabricação de
geossintéticos são Polietileno de Alta Densidade (PEAD), polipropileno (PP),
PET e Poliálcool vinílico (PVA).

• A cortina atirantada é uma estrutura de contenção que possui uma parede


de concreto armado e tirantes, os quais são ancorados no terreno em uma
profundidade na qual tenha estabilidade, sem possibilidade de ruptura ou
movimentações desejadas.

• O sistema de contenção do tipo terra armada tem, como característica, a


introdução de fitas metálicas no material de retroaterro. Essas fitas atuam como
elementos de reforço, com o objetivo de conferir resistência à tração ao solo do
retroaterro.

• Os escoramentos compõem-se por parede, longarina, escoras e tirantes. Podem


ser de madeira, metálicos ou de concreto.

CHAMADA

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200
AUTOATIVIDADE

1 O talude rodoviário exposto a seguir, apesar de ter um fator de segurança


(FS) quanto à ruptura de 3,4, tem apresentado problemas, pois, quando
chove, partículas de solo são deslocadas pelo fluxo superficial da água.
Essas partículas se depositam sobre o acostamento, e a pista faz assorear os
mananciais vizinhos.

Considerando a situação apresentada, a solução CORRETA para o problema é:

a) ( ) Aumento da inclinação do talude, método mais simples e barato para


escoar a água com mais eficiência.
b) ( ) Introdução de drenos horizontais profundos (DHPs), os quais retirarão,
com eficiência, a água que escoa sobre o talude.
c) ( ) Regularização do terreno, introdução de vegetação, utilização de
geomantas ou biomantas e de drenagem superficial com o uso de canaletas
e escadarias hidráulicas.
d) ( ) Adoção de sistema do tipo solo atirantado, com a finalidade de reforçar
o talude e, assim, aumentar o coeficiente de segurança.
e) ( ) Capinação periódica do terreno para facilitar o escoamento das águas
pluviais.

2 Muros de contenção ou muros de arrimo podem ser classificados em:

a) ( ) Os muros do tipo gabião como muros à flexão.


b) ( ) Os muros mistos de concreto e blocos como muros de gravidade.
c) ( ) Os muros do tipo concreto armado como muros à flexão.
d) ( ) Os muros do tipo concreto armado como muros de gravidade.
e) ( ) Os muros do tipo gabião como muros à flexotração.

201
3 No que diz respeito aos tipos de gabiões utilizados em obras de contenção,
é CORRETO afirmar que:

a) ( ) O gabião-caixa, de formato cilíndrico, é um material de fácil aplicação e


indicado para obras emergenciais, em locais de difícil acesso, com presença
de água ou em solos de baixa capacidade portante; o gabião-colchão
retangular é caracterizado por grande área e pequena espessura, servindo
para revestimento de canais, barragens em terra, proteção de encostas
e obras hidráulicas em geral; o gabião-saco, de formato cilíndrico, é um
material de fácil aplicação, indicado para obras emergenciais, em locais
de difícil acesso, com presença de água ou em solos de baixa capacidade
portante.
b) ( ) O gabião-caixa, mais difundido, tem forma de prisma retangular e é
indicado como estrutura de contenção por gravidade, em barragens,
canalizações, apoios de pontes e proteção contra erosão; o gabião-colchão,
retangular, é caracterizado por grande área e pequena espessura, servindo
para revestimento de canais, barragens em terra, proteção de encostas
e obras hidráulicas em geral; o gabião-saco, de formato cilíndrico, é um
material de fácil aplicação, indicado para obras emergenciais, em locais
de difícil acesso, com presença de água ou em solos de baixa capacidade
portante.
c) ( ) O gabião-caixa, retangular, é caracterizado por grande área e pequena
espessura, servindo para revestimento de canais, barragens em terra,
proteção de encostas e obras hidráulicas em geral; o gabião-colchão, mais
difundido, tem forma de prisma retangular e é indicado como estrutura
de contenção por gravidade, em barragens, canalizações, apoios de pontes
e proteção contra erosão; o gabião-saco, com formato cilíndrico, é um
material de fácil aplicação, indicado para obras emergenciais, em locais
de difícil acesso, com presença de água ou em solos de baixa capacidade
portante.
d) ( ) O gabião-caixa, mais difundido, tem forma de prisma retangular e é
indicado para obras emergenciais, em locais de difícil acesso, com presença
de água ou em solos de baixa capacidade portante; o gabião-colchão,
retangular, é caracterizado por grande área e pequena espessura, servindo
para revestimento de canais, barragens em terra, proteção de encostas e
obras hidráulicas em geral; o gabião-saco, mais difundido, tem forma de
prisma retangular e é indicado como estrutura de contenção por gravidade,
em barragens, canalizações, apoios de pontes e proteção contra erosão.
e) ( ) O gabião-caixa, pouco difundido, tem forma de prisma retangular e é
indicado para obras de contenção com baixa capacidade portante; o gabião-
colchão, retangular, é caracterizado por uma grande área e uma pequena
espessura, servindo para revestimento de canais, barragens em terra,
proteção de encostas e obras hidráulicas em geral; o gabião-saco, mais
difundido, tem forma de prisma retangular e é indicado como estrutura de
contenção por gravidade, em barragens, canalizações, apoios de pontes e
proteção contra erosão.

202
4 Em diversos tipos de obras, torna-se necessário realizar serviços de
contenção de taludes. Considerando a figura a seguir, representativa
de um muro realizado totalmente em concreto armado, assinale a
alternativa CORRETA:

a) ( ) A figura representa estruturas de contenção conhecidas como muros de


peso ou muros de gravidade.
b) ( ) A figura representa estruturas de contenção realizadas através do uso
de estacas-prancha de concreto armado.
c) ( ) A figura representa estruturas de contenção conhecidas como solo
envelopado.
d) ( ) A figura representa estruturas de contenção conhecidas como cortinas
atirantadas.
e) ( ) A figura representa estruturas de contenção conhecidas como muros
de flexão ou muros leves.

5 Quando implantamos edificações em uma encosta, naquelas que possuem


uma declividade pronunciada, ao optarmos pelo contato total da base da
edificação no terreno, devemos criar uma plataforma de apoio da futura
edificação, que poderá provocar um desequilíbrio no arranjo natural da
estrutura do solo local. Uma das soluções para evitar esse desequilíbrio é
optarmos, de forma parcial, ou total, por estruturas denominadas muros
de arrimo.

Sobre os tipos de implantação em edificações em locais de terreno acidentado


(encostas), analise as seguintes sentenças:

I- Comparadas à técnica de muros de arrimo, as técnicas de suavização de


taludes são as que menos impactam no equilíbrio natural do terreno da
encosta.

203
II- Muros de arrimo são estruturas utilizadas para conter o empuxo do solo
de uma encosta, quando executamos um corte transversal ao sentido de
um talude dessa encosta.
III- Os muros de arrimo devem ser utilizados quando temos um grande espaço
de terreno disponível para a implantação da edificação, pois se tratam de
estruturas que necessitam de grande espaço para serem implantadas.
IV- Em ambos os casos, tanto na técnica de suavização de taludes, como na
utilização de muros de arrimo, devemos levar em conta formas corretas de
direcionar o fluxo das águas superficiais nos terrenos acidentados.

Estão CORRETAS as afirmativas:


a) ( ) I, II e III.
b) ( ) II e IV.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I, III e IV.
e) ( ) II, III e IV.

204
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