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MATERIAL DIDÁTICO

INSTITUTO INDUSTRIAL E COMERCIAL EDUARDO MONDLANE - INHAMBANE

Qualificação: Certificado Vocacional em Electricidade Industrial Nível de QNQP: III (CV3)

Título do Modulo: Aplicar Fundamentos de Electrotecnia em Corrente Alternada Código do Módulo: UCEPI05301171 No de Créditos: 8

Horas por semestre: 80.0h Horas por semana: 4.0h Semestre: I Ano lectivo: 2020

Medir e calcular a tensão, corrente, desfasamento e impedância dos circuitos R, RL, RC e RLC ligados a uma fonte de corrente
Elemento de Competência 4:
alternada.

a. Análise de Circuitos de CA - Calcular a tensão, corrente, desfasamento, resistência, e impedância nos circuitos R, RL, RC, e RLC
ligados a uma fonte de alimentação em C.A;
Critérios de desempenho:
b. Fazer a medição da tensão, corrente, desfasamento, resistência, e impedância nos circuitos R, RL, RC, e RLC ligados a uma fonte de
alimentação em C.A.

Evidência de que o candidato é capaz de correctamente, ligar instrumentos de medição num circuito, selecionar as escalas de leitura
Evidências requeridas:
apropriadas, e ler/interpretar correctamente as grandezas obtidas.
1. INTRODUCAO AO ESTUDO DE NUMEROS COMPLEXOS
1.1. Números complexos na forma retangular ou cartesiana

Um número complexo na forma retangular (cartesiana) é composta por uma parte real e uma parte
imaginaria. Em números complexos na forma retangular, a parte real é representada no eixo dos x (eixo real)
e a parte imaginária é representada no eixo dos Y (eixo imaginário).

Seja: C = a + jb

Sendo que: C = é o número complexo; a = parte real do numero; b = parte imaginaria do numero

Exemplo 1: C = 5 + j3 Exemplo 2: C = 4 – j4

1.2. Números complexos na forma polar

Um número complexo na forma polar é um número composto por vetor e um angulo.

Seja: C = z ∠

C = é o número complexo na forma polar; z = é o modulo (comprimento) do vector; é o angulo de


vector com o eixo real.
Exemplo 1: C = 5 ∠ Exemplo 2: C = 5 ∠-

1.3. Conversão de números na forma Retangular para forma Polar

Seja C = a + jb, um número complexo na forma retangular, para converter na forma polar C = z ∠, temos:
𝐛
𝒛 = √𝒂𝟐 + 𝒃𝟐 , sendo o angulo igual a 𝛗 = 𝐚𝐫𝐜𝐭𝐠 𝐚.

Exemplo: converter o número complexo C = 60 + j80 para a forma polar.

C = 60 + j80 b
φ = arctg a
z = √602 + 802 φ = arctg
80
60
z = 100 φ = 53,13o
C = 100∠
1.4. Conversão de números na forma Polar para forma Retangular

Seja C = z ∠ um número complexo na forma polar, para converter para a forma retangular C = a + jb, temos:
C = z ∠
a = z . cos 
b = z . sen 

Exemplo: Converter os números complexos para a forma polar


a) C = 200 ∠ b) C = 30 ∠-2
C = a + jb C = a + jb
a = 200.cos 45o = 200 x 0,707 = 141,42 a = 30.cos (-240º) = 30 x 0,5 = - 15
b = 200.sen 45o = 200 x 0,707 = 141,42 b = 30.sen (-240º) = 30 x 0,866 = 25,98
C = 141,42 + j142,32 C = -15 + j25,98

NB: Em números complexos, no sistema retangular, j2 = -1

1.5. Adição e Subtração de números complexos


A adição (soma) ou subtração algébricas de números complexos deve ser feita sempre na forma
retangular. Não se somam ou se subtraem números complexos na forma polar. Uma transformação deve
ser feita antes desta operação algébrica.
A regra para soma ou subtração de números complexos na forma retangular é: Somam-se ou subtraem-se
algebricamente as partes reais e as partes imaginárias, separadamente.
Exemplo: efetuar as operações algébricas com números complexos, sendo C1 = 3 + j4 e C2 = 5+ j6:
a) C1 + C2 = (3 + j4) + (5 + j6) = (3 + 5) + (j4 + j6) = 8 + j10
b) C1 - C2 = (3 + j4) - (5 + j6) = (3 - 5) + (j4 - j6) = -2 – j2

1.6. Multiplicação de números complexos


A multiplicação de números complexos deve ser feita na forma polar. Não é recomendável a multiplicação
na forma retangular, embora possa ser realizada.
A regra para multiplicação de números complexos na forma polar é: Multiplicam-se os módulos e somam-
se algebricamente os ângulos.
Exemplo: Multiplique os dois números complexos, sendo C1 = 10∠45º e C2 = 20∠30º.

C1 x C2 = (10∠45º) x (20∠30º) = 10x20 ∠(45º +30º) = 200 ∠75º

1.7. Divisão de números complexos


A divisão de números complexos deve ser feita na forma polar. A regra para divisão de números complexos
na forma polar é: Dividem-se os módulos e subtraem-se algebricamente os ângulos.
Exemplo: efetuar as operações algébricas com números complexos, sendo C1 = 10∠45º e C2 = 20∠30º.
𝑪𝟏 𝟏𝟎∠𝟒𝟓º 𝟏𝟎
𝑪𝟏: 𝑪𝟐 ⟹ = = ∠(45º -30º) = 0,5 ∠15º
𝑪𝟐 𝟐𝟎∠𝟑𝟎º 𝟐𝟎
2. CIRCUITOS SIMPLES EM CORRENTE ALTERNADA
2.1. Circuitos Resistivos

Consideremos o circuito da figura 1.

Quando se liga o circuito, sua resposta é imediata: surge uma corrente


elétrica que percorrerá a resistência e se estabelece uma tensão nos
terminais dela, ambas no mesmo hemiciclo.

Em corrente alternada, valem as mesmas leis que se aplicam à corrente


contínua. A corrente que surgirá no circuito segue a lei de Ohm.
Fig. 1: Circuito CA com resistência
Em um circuito resistivo, a tensão e a corrente estão em fase ou a corrente
R. e a tensão possuem o mesmo ângulo de fase.

Pelo gráfico, é possível escrever as equações para a tensão e corrente no


circuito: u(t) = umax . sen (t +) e u(t) = umax ∠

i(t) = imax· sen (t+) e i(t) = imax ∠

Aplicando a lei de Ohm, obtém-se:


𝐮(𝐭) 𝒖𝒎𝒂𝒙
R= → R= ∠ 
𝐢(𝐭) 𝒊𝒎𝒂𝒙

A potência real ou ativa é aquela dissipada por elementos resistivos do circuito, e


Fig. 2: Gráfico da tensão e da corrente é calculada como: Preal = I.R 2

alternadas em circuito resistivo.

2.2.Circuitos Capacitivos

Capacitor ou condensador é um componente que armazena cargas elétricas num campo elétrico,
acumulando um desequilíbrio interno de carga elétrica. A propriedade que estes dispositivos têm de armazenar
energia elétrica sob a forma de um campo eletrostático é chamada de capacitância ou capacidade (C)

Consideremos o circuito da figura 3.

Quando se liga o circuito, o capacitor está totalmente descarregado:


sua tensão é zero (nula) e a corrente elétrica é máxima.

Isso significa que há uma desfasagem de 90° entre a tensão e a


corrente, ou seja, a corrente está adiantada em relação à tensão,
mantendo-se assim enquanto o circuito estiver ligado. Quando a tensão
Figura 3: Circuito CA com Capacitor C sobre o capacitor for nula, a corrente será máxima e vice-versa. Os
gráficos da figura 4 representam essa situação ao longo de um período.
A equação para tensão no circuito é assim escrita:

u(t) = umax . sen (t +) e u(t) = umax ∠

Substituindo na segunda fórmula de tensões os valores de tensão do


gráfico, temos: u(t) = 20 ∠  V.

Já a equação para a corrente no circuito é assim escrita:

Figura 4: Gráficos da tensão e da i(t) = imax . sen (t + °) e i(t) = imax ∠ °
corrente em circuito capacitivo
Substituindo na segunda fórmula de corrente os valores do gráfico,
temos: i(t) = 0,5 ∠ A.

A oposição que o capacitor oferece à passagem da corrente elétrica depende da frequência do sinal elétrico
aplicado. Essa oposição é chamada de Reatância Capacitiva (XC), medida em ohms e expressa por:

𝟏 𝟏
𝑿𝒄 = = [Ω]
𝛚. 𝐂 𝟐𝛑. 𝐟. 𝐂

Onde: 𝑿𝒄 − reatancia capacitiva; 𝝎 – Frequência angular; 𝑪 – Capacitância; 𝒇 – frequência normal da rede.

Aplicando-se a lei de Ohm podemos determinar a reatância capacitiva (XC) pela fórmula:

𝐮(𝐭) 𝒖𝒎𝒂𝒙 ∟𝟎° 𝒖𝒎𝒂𝒙 𝒖𝒎𝒂𝒙


𝑿𝒄 = ⟹ 𝑿𝒄 = ⟹ 𝑿𝒄 = ∟ (0o ) − (90o) ⟹ 𝑿𝒄 = ∟ −90o
𝐢(𝐭) 𝒊𝒎𝒂𝒙 ∟𝟗𝟎° 𝒊𝒎𝒂𝒙 𝒊𝒎𝒂𝒙

Substituindo na última fórmula da reactância capacitiva os valores de tensão e corrente do gráfico, temos:
𝒖𝒎𝒂𝒙 𝟐𝟎
𝑿𝒄 = ∟ −90o ⟹ 𝑿𝒄 = 𝟎,𝟓 ∟ −90o ⟹ Xc = 40 ∟ −90o ou Xc= -40j; (j= 90º)
𝒊𝒎𝒂𝒙

O diagrama fasorial do circuito capacitivo é demonstrado na figura 5.

Figura 5: Diagrama fasorial de circuito capacitivo

A figura mostra que a corrente elétrica em um circuito capacitivo adianta 90º em relação á tensão.

No exemplo anterior, considerando a frequência de 60 Hz, pode-se determinar o valor da capacitância C, cuja
sua unidade é Farad (F).

𝟏 𝟏 1 1
𝑿𝒄 = → 𝑪= → C= → C= → C = 0,0000663 F
𝟐𝝅. 𝒇. 𝑪 𝐗 𝐜 . 𝟐𝛑. 𝐟 40 .2π. 60 40 . 377

C = 66, 3 μF
NB: Nos circuitos capacitivos em tensão de CA, não há potência média dissipada, pois no hemiciclo positivo
o capacitor recebe energia do gerador e no negativo a devolve integralmente.

2.3. Circuitos Indutivos

Um indutor é um dispositivo elétrico passivo que armazena energia na forma de campo magnético,
normalmente combinando o efeito de vários loops da corrente elétrica.

O indutor pode ser utilizado em circuitos como um filtro passa baixa, rejeitando as altas frequências. Também
costuma ser chamado de bobina, chooper ou reator. Consideremos o circuito da figura 6.

No instante inicial (t = 0), o indutor está totalmente desenergizado;


logo, sua corrente elétrica é zero (nula) e toda a tensão do gerador está
aplicada nele. Nos instantes seguintes, a ação da corrente elétrica
sobre o indutor (campo magnético) dá origem a uma desfasagem de
90° entre a tensão e a corrente, ou seja, a corrente está atrasada em
relação à tensão, mantendo-se assim enquanto o circuito estiver
ligado.
De modo análogo assim como os capacitores, o indutor oferece
Figura 6: circuito com indutância oposição à passagem da corrente elétrica, mas, nesse caso, ela
L depende diretamente da frequência do sinal aplicado. Essa oposição
recebe o nome de reatância indutiva (XL), medida em ohms e
expressa por: XL = . L ⟹ XL = 2f. L

Lembrando o comportamento do indutor em CA, quando a tensão


sobre ele é nula, a corrente é máxima e vice-versa. Dessa maneira,
obtêm-se os gráficos da figura 7.

Assim, é possível, escrever as equações para a corrente e tensão no


circuito. A equação para tensão no circuito é assim escrita:
Figura 7: Gráficos da tensão e da
u(t) = umax . sen (t +) e u(t) = umax ∟
corrente em circuito indutivo.
Substituindo na segunda fórmula de tensões os valores de tensão do
gráfico, temos: u(t) = 24∠ V.

Já a equação para a corrente no circuito é assim escrita:

i(t) = imax . sen (t - ) e i(t) = imax ∟-

Onde: XL - reatância indutiva; 𝝎 – Frequência angular; L – Indutância; 𝒇– frequência normal da rede.

Substituindo na segunda fórmula de corrente os valores do gráfico, temos: i(t) = 4 ∟- A.


Aplicando-se nesse caso, a lei de Ohm podemos determinar a reatância indutiva (XL) pela fórmula:

𝐮(𝐭) 𝒖𝒎𝒂𝒙 ∟𝟎° 𝒖𝒎𝒂𝒙


𝑿𝑳 = ⇒ 𝑿𝑳 = ⟹ 𝑿𝑳 = ∟(0o ) + (90o)
𝐢(𝐭) 𝒊𝒎𝒂𝒙 ∟−𝟗𝟎° 𝒊𝒎𝒂𝒙

𝒖𝒎𝒂𝒙
𝑿𝑳 = ∟90o
𝒊𝒎𝒂𝒙

Substituindo na segunda fórmula os valores de tensão e corrente do gráfico, temos:


𝟐𝟒𝑽
𝑿𝑳 = ∟90o ⟹ 𝑿𝑳 = 𝟔 ∟90o Ω ou XL = 6j [Ω].
𝟒𝑨

O diagrama fasorial do circuito indutivo é ilustrado na figura 8.

Figura 8: diagrama fasorial de circuito indutivo.

A figura mostra que a corrente elétrica em um circuito indutivo atrasa 90º em relação á tensão.

Considerando a frequência de 60 Hz, pode-se determinar o valor da indutância cuja sua unidade é Henry (H):

𝟏 1 1
𝑿𝑳 = 𝟐𝝅. 𝒇. 𝑳 → 𝑳= → L= → L= → C = 0,442 mH
𝐗 𝐋 . 𝟐𝛑. 𝐟 6 .2π. 60 6 . 377

NB: Assim como o capacitor, o indutor em CA não apresenta dissipação de potência média, pois no hemiciclo
positivo recebe energia do gerador e no negativo a devolve integralmente.
3. ANÁLISE DE CIRCUITOS EM CORRENTE ALTERNADA

A partir de agora analisaremos os circuitos nos quais ocorrem com binações entre os três elementos básicos:
resistências, capacitores e indutores. O somatório dos efeitos de oposição à passagem de corrente é
denominada impedância, representada por Z. Para os três efeitos, Z é dada por:

𝒁 = √(𝑿𝑳 − 𝑿𝑪 )𝟐 + 𝑹𝟐

Esta passa a ser a equação geral para a impedância total do circuito, não importando sua configuração. À
impedância podem-se aplicar todas as leis de eletricidade conhecidas.

3.1. Circuitos RC
3.1.1. Resistência e Capacitor em série

No circuito RC série em CA, como no caso de corrente contínua,


também surge uma corrente cujo valor é proporcional à
impedância total do circuito. Essa corrente, por causa dos
dispositivos diferentes, tem desfasagem menor que 90° em relação
à tensão do gerador. No entanto, como prevalece a influência do
capacitor, a tensão está atrasada em comparação com a
corrente. Separadamente, a relação entre a tensão e a corrente
permanece em cada dispositivo.

Se um capacitor C for ligado em série com uma resistência R e a


uma tensão alternada senoidal, a tensão da fonte (U) será
Figura 9: circuito RC em série.
distribuída entre a resistência (UR) e o capacitor (UC), isto é, o
circuito se comportará como um divisor de tensão.

A impedância do circuito RC é dada por: 𝒁 = √(𝑿𝑪 )𝟐 + 𝑹𝟐 ; Na


forma retangular temos: z = R – jXC.
𝐗𝐂
Na forma polar, z = Z∟𝝋, em que 𝛗 = 𝐚𝐫𝐜𝐭𝐠 é o ângulo de fase
𝐑

total do circuito.

Potências em circuitos RC de corrente alternada

Potência ativa (P) - É a potência dissipada pelas resistências do


circuito, na forma de calor. É a única
Figura 10: (a) Gráfico da tensão e da corrente
que pode ser medida diretamente com wattímetro. As demais
em circuito RC em série; (b) representação
potências exigem outros recursos, como voltímetro ou
polar da tensão e da corrente.
amperímetro.

P = UR·i
Potência reativa (Q) - Corresponde à potência Potência aparente (S) - É a potência total, fornecida pelo gerador
sobre o capacitor. ao circuito. S=U·i
Q = UC · i
S = P + jQ

3.1.2. Resistência e Capacitor em paralelo

No circuito RC em paralelo (figura 11), a tensão é a mesma do gerador nos vários dispositivos do circuito.
Apenas as correntes em cada um deles são diferentes, proporcionais a cada resistência ou reatância (figura
12). A corrente total no gerador é a soma vetorial das correntes individuais:

i = iR + jiC

Figura 11: Circuito RC em paralelo Figura 12: Gráfico da tensão e das correntes em
circuito RC paralelo
Em que:
𝒖 𝒖 𝒖
i= iR = IC =
𝒁 𝑹 𝑿𝒄

NB: A impedância total do circuito é calculada da mesma forma que se calcula a resistência equivalente em
paralelo.

3.2.Circuitos RL
3.2.1. Resistência e indutor em série

No circuito RL em série (figura 13), no instante inicial o indutor se comporta como circuito aberto, por causa
da variação do campo magnético. A tensão é máxima e a corrente nula. O fluxo do campo magnético produz
desfasagem de 90° entre a tensão e a corrente, ou seja, a corrente está atrasada em relação à tensão, como
apresentado na figura 14.
Figura 13: circuito RL em
série. Figura 14: (a) Gráfico das tensões e da Figura 14: diagrama fasorial de
corrente em circuito RL em série; (b) circuito RL em série.
representação polar da tensão e da corrente

Nesse circuito, observam-se as seguintes relações entre os parâmetros: 𝒁 = √(𝑿𝑳 )𝟐 + 𝑹𝟐 e na forma


retangular temos: z = R + jXL.

𝐗𝐋
Na forma polar, z = Z∟𝝋, em que 𝛗 = 𝐚𝐫𝐜𝐭𝐠 é o ângulo de fase total do circuito.
𝐑

𝒖
i = 𝒁 ⟹ i = I∟𝝋 constante para todo o circuito.

uR = i . R ⟹ uR = UR ∟𝝋

uL = i . XL ⟹ uL = UL ∟𝝋-90o

3.2.2. Resistência e indutor em Paralelo

No circuito RL em paralelo (figura 15), à parte certas características do indutor, seu comportamento mostra
alguma semelhança com o que ocorre no capacitor. Nesse caso, a corrente no indutor está desfasada de 90°
em relação à tensão do gerador, enquanto a corrente total apresenta desfasagem menor (figura 16).
Figura 16: Gráfico da tensão e das
Figura 15: circuito RL em Figura 17: diagrama fasorial de
correntes em circuito
paralelo. circuito RL em paralelo.
RL em paralelo.

A corrente no circuito é expressa pela soma vetorial:

i = iR + iL

3.3.Aplicações dos circuitos RL e RC em série

Uma das principais aplicações práticas para os circuitos RC e RL em série são os chamados fltros passivos.
Medimos a tensão em um dos componentes, que passa a ser denominada tensão de saída (US), em contraste
com a tensão de entrada ou do gerador (Ue).

A análise é feita com base na influência da frequência sobre as reatâncias ora capacitivas, ora indutivas. A
𝐔𝐬
relação entre as tensões de saída e entrada é denominada ganho de tensão (AV), em que: 𝐀𝐕 = 𝐔𝐞

Um circuito RC em série com tensão de saída no capacitor (UC = US), como o da figura 18, é denominado filtro
passa-baixa, pois XC é muito maior que R em baixas frequências. Assim, praticamente toda a tensão de entrada
é aplicada ao capacitor.

O mesmo circuito RC em série com tensão de saída sobre a resistência R é chamado filtro Passa-alto, pois XC é
muito menor que R e, portanto, praticamente toda a tensão estará sobre a resistência do circuito.

A análise dos circuitos passa-baixo e passa-alto nos circuitos RL, é o inverso dos circuitos RC. Se substituir o
capacitor pelo indutor nas duas figuras, então temos um filtro passa-alto e passa-baixo respetivamente.

Nestes casos, podemos deduzir a frequência de corte (fc) como a frequência-limite de utilização do filtro ou a
𝟏 𝟏 𝐑
frequência para a qual o ganho de tensão é: AV = e 𝐟𝐜 = para filtros passa baixo RC e 𝐟𝐜 = para
√𝟐 𝟐𝛑𝐑𝐂 𝟐𝛑𝐋
filtros passa-baixo RL. Ou seja, quando a tensão de saída é 0,707 da tensão de entrada ou a potência de saída é a
metade da potência de entrada.

Figura 18: circuito RC em série - filtro passa-baixa e passa-alto respetivamente


3.4. Circuitos RLC
3.4.1. Resistência, Indutor e Capacitor em serie

Nesse caso, os três elementos básicos estão envolvidos na formação da


impedância total do circuito (figura 19). Conforme já analisado,
separadamente, a relação entre a tensão e a corrente em cada um deles é
mantida. A corrente no circuito e desfasagem de 𝜑 em relação à tensão do
gerador é única.
Em resumo:

Figura 19: Circuito RLC em série.  A tensão na resistência está em fase com a corrente no circuito.
 A tensão no capacitor está atrasada em 90° em relação à corrente no
circuito.
 A tensão no indutor está adiantada de 90° em relação à corrente no
circuito.
 Entre a tensão do indutor e a do capacitor há uma defasagem de 180°.

A impedância do circuito na forma retangular é dada por: z = R + j (XL –


XC) [Ω]; Na forma polar a impedância é dado por: z = Z∠𝝋
Figura 20: Tensões e corrente em
(𝐗 𝐋 − 𝐗𝐂 )
circuito RLC Em que: 𝐙 = √(𝐗 𝐋 − 𝐗 𝐂 )𝟐 + 𝐑𝟐 e 𝛗 = 𝐚𝐫𝐜𝐭𝐠 que é o angulo
𝐑

do circuito.

i = 𝒖𝒛 ⟹ i = I ∠ − 𝝋 constante para todo o circuito;

Tensão de resistor: uR = R.I ⟹ uR = UR ∠ − 𝝋

Tensão de indutor: uL = i.XL ⟹ uL = UL ∠ − 𝝋 + 𝟗𝟎°

Tensão do capacitor: uC = i.XC ⟹ uC = UC ∠ − 𝝋 − 𝟗𝟎°


Figura 21: diagrama fasorial de Tensão total pela soma vetorial: u = uR + uL + uC
circuito RLC.
Potencia ativa (W): P = UR . I ou P = S . cos 𝝋
Potencia reativa (VAr): Q = (𝑼𝑳 − 𝑼) . imax ou Q = S. sen 𝝋
Potencia aparente (VA): S = umax . imax e a soma vetorial é S = P + Q

Exemplo

Para o circuito da figura, dado u(t) = Resolução:


200·sen (377t + 30°) [V], determine: Dados: u(t) = 200·sem (377t + 30°) [V] ⟹ u(t) = umax . sen (t +)
a) O valor do capacitor e do indutor
umax = 200 ∠30° [V]; 𝜔 = 337 𝑟𝑎𝑑; R= 40Ω; XC = 40Ω; 𝑋𝐿 = 70Ω;
do circuito;
b) Os valores de Z e I na forma polar 𝟏 𝟏 𝟏 1
a) Xc = = ⟹ C = 𝛚. ⟹ C = 377 . ⟹ C= 0,0000663 F
𝛚.𝐂 𝟐𝛑 . 𝐟 . 𝐂 𝐗𝐂 40
e a equação de i(t);
⟹ C = 66,3 mF
c) Os valores de UR, UL e UC na
𝐗𝐋 70
XL = . L ⟹ L = ⟹ L= ⟹ L = 0,185676H ⟹ L = 185,676
forma polar; 𝛚 377
mH;
d) O diagrama fasorial;
e) A potência aparente, ativa e b) Na forma retangular: z = R + j (XL – XC) ⟹ z = 40 + j (70 – 40) ⟹ z
reativa. = 40 + j30 [Ω];

Na forma polar: 𝐙 = √(𝐗 𝐋 − 𝐗 𝐂 )𝟐 + 𝐑𝟐 ⟹ Z = √(70 − 40)2 + 402

⟹ Z = √(30)2 + 402 ⟹ ⟹ √900 + 1600 ⟹ Z = √2500


⟹ Z = 50 [Ω];
(𝐗 𝐋 − 𝐗 𝐂 )
O desfasamento do circuito é dado por: 𝛗 = 𝐚𝐫𝐜𝐭𝐠 ⟹ 𝝋=
𝐑
70−40 30
arctg ⟹ 𝝋 = arctg 40 ⟹ 𝝋 = arctg 0,75 ⟹ φ = 36,87º;
40

d) Diagrama fasorial Logo a impedância na forma polar é: Z = 50 ∠36,87º [V];


𝒖𝒎𝒂𝒙 200 ∠30°
I = imax = ⟹ imax = 50 ∠36,87° ⟹ 4 ∠-6,87° [A];
𝒛

A equação de i(t): imax . sen (t +) ⟹ i(t)= 4.sen (t - 6,87º) [A]

c) Os valores de UR, UL e UC na forma polar:

uR = I.R ⟹ uR = 4 ∠ − 6,87° . 40∠0° ⟹ uR = 160 ∠ − 6,87o ⟹ uR =


160 ∠-6,87o [V]

uL = i.XL ⟹ uL = 4 ∠ − 6,87° . 70∠90° ⟹ uL = 280 ∠ - 6,87o + 90o ⟹


uL = 280 ∠83,13o [V]

uC = i.XC ⟹ uC = 4 ∠ − 6,87° . 40∠ − 90° ⟹ uC = 160 ∠- 6,87o - 90o ⟹


uC = 160 ∠-96,87o [V]
e) A potência aparente, ativa e reativa.

Potência aparente: S = umax . imax ⟹ S = 200 ∠30° x 4 ∠-6,87° ⟹ S = 800 ∠(30° - 6,87°) ⟹ S = 800 ∠23,13°
[VA]

Potencia ativa: P = UR . I ⟹ P = 160 ∠-6,87o x 4 ∠-6,87° ⟹ P = 640 ∠(-6,87o - 6,87o) ⟹ P = 640 ∠-13,74o
[W]

Potencia reativa: Q = (𝑼𝑳 − 𝑼𝑪 ) . imax ⟹ Q = [(280 ∠83,13o) – (160 ∠- 96,87o)] x 4 ∠-6,87°

⟹ Q = 120 ∠-13,87º x 4 ∠ 6,87° ⟹ Q = 480 ∠ -6,87º [VAr]


3.4.2. Resistência, Indutor e Capacitor em paralelo

No circuito RLC em paralelo (figura 22), o cálculo da impedância total


segue regra semelhante ao da associação de resistores em paralelo, porém
sugere-se fazê-lo usando a lei de Ohm. Mais uma vez, as características
individuais dos diversos componentes são mantidas, mas a referência
passa a ser a tensão, que agora é o elemento fixo do circuito.
Desse modo:
𝐯 𝐯 𝐯 𝐢 = 𝐈𝐑 + 𝐈𝐋 + 𝐈𝐂
𝐢𝐑 = 𝐢𝐋 = 𝐢𝐂 =
𝐑 𝐗𝐋 𝐗𝐂 (Soma Vetorial)
Logo:
𝐕
z= 𝐢

Figura 22: Circuito RLC em paralelo.

3.4.3. Ressonâncias

Em um circuito RLC, seja em série, seja em paralelo, a ressonância ocorre quando o efeito do capacitor é
anulado pelo efeito do indutor. Nesse caso, o circuito se comporta como circuito puramente resistivo. Isso
acontece em dada frequência, que passa a ser denominada frequência de ressonância (fr), determinada por:

𝟏 𝟏
XL = Xc ⇒2𝑳𝑓𝑟 = ⟹ 𝒇𝒓 =
𝟐𝛑𝐂𝑓𝑟 𝟐𝝅√𝑳𝑪

Ressalte-se que esse cálculo é o mesmo para os circuitos RLC em série e paralelo. No caso do circuito
RLC em série, verifca-se a menor impedância do circuito e, portanto, a maior corrente, quando:

Z = R ou Z = R ∟ (Ω)

Sendo:

V = Vmax∠𝟎° [V]

Então:
𝐕𝐦𝐚𝐱
Ir = Imax ∠0o = ∠0o [A]
𝐑

VRr = irR = 𝐕𝐑 𝐦𝐚𝐱 ∠0o [V]

VLr = irXL = 𝐕𝐋 𝐦𝐚𝐱 ∠90o [V]

VCr = irXC = 𝐕𝐂 𝐦𝐚𝐱 ∠-90o [V]


3.4.4. Correção do fator de potência

O circuito ressonante de baixa corrente é o desejo das concessionárias de energia, porém raramente ocorre,
sobretudo quando a frequência da rede é constante (f = 50 ou 60 Hz). As concessionárias estabelecem limite
para que não haja abuso em relação à corrente do circuito.

Uma forma de controlar esse excesso é limitando o valor do fator de potência. Hoje esse fator não deve ser
menor do que 0,92.

Na prática, a maioria dos circuitos tem predominância indutiva, devido à grande quantidade de dispositivos
constituídos de indutores, como motores, reatores, transformadores etc. Desse modo, quando o fator de
potência do circuito estiver abaixo do limite estabelecido (0,92), devem-se acrescentar capacitores em paralelo
ao gerador do circuito a fm de eliminar ou reduzir seu efeito. A medida do fator de potência é feita com um
instrumento denominado cosfímetro.

Do mesmo modo que no cálculo de fo (frequência de ressonância), podemos determinar o valor do capacitor
𝐏 (𝐭𝐠 𝛗𝟏 − 𝐭𝐠 𝛗𝟐 )
ou conjunto de capacitores a ser ligado ao circuito. O valor do capacitor é dado por: C = 𝟐 ;
𝛚𝐕𝐞𝐟

em que P é a potência ativa e Vef é a tensão da rede.

Figura 23: Circuito com introdução de capacitor;

Exemplo: Determine o valor do capacitor para corrigir o fator de potência para 0,95 de um circuito com Vef
do gerador igual a 220 V, potência ativa de 2,2 kW, frequência de 60 Hz e fator de potência 0,8.

Resolução: Cos 1 = 0,8 ⇒1 = 36,87º


Cos 2 = 0,95 ⇒2 =18,19º

ω = 2πf = 2.3,14.60 = 377 rad/s


𝐏 (𝐭𝐠 𝛗𝟏 − 𝐭𝐠 𝛗𝟐 ) 2200(𝑡𝑔 36,87° − 𝑡𝑔 18,19° ) 2200(0,75−0,33) 924
C= 𝟐 = = = = 50, 6x10-6F = 50, 6µF
𝛚𝐕𝐞𝐟 377.(220)2 18246800 18246800

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