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Elaine Jardim
Centro Universitário Central Paulista
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All content following this page was uploaded by Elaine Jardim on 15 September 2020.
Elaine Jardim1
Resumo
Abstract
This paper is about the insertion in the industrial patrimony of the Railway
Men Village from São Carlos city, the Coloninha FEPASA, undertaken by Companhia
Paulista de Estradas de Ferro, from 1884, in the corresponding period of economic,
social and urban provided by the coffee expansion to the west of São Paulo State.
In São Paulo context, the coffee economy was constituted in propulsive element
capable of creating the economic conditions and infrastructure needed to the
industrialization process and consequent urban development of the capital city as
much as the other cities belonging to the coffee producer zone.
Nesse período, São Carlos viveu a situação de expansão urbana para além do
eixo central, no entorno da primeira capela, com o surgimento dos cinco primeiros
bairros afastados do centro e a expansão da área central em sentido sudoeste, em
função da localização da Estação Ferroviária Central. A nova região formada no
entorno do Largo da Estação foi ocupada por casas comerciais, hotéis, pensões e
demais atividades relacionadas com a ferrovia. Esta também foi a região escolhida
para habitação pelos funcionários da ferrovia e por outros trabalhadores que dela
dependiam para as suas atividades.
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A Companhia Paulista e a habitação ferroviária
A Coloninha FEPASA
Figura 01: Mapa do Município de São Carlos com a localização da área da Coloninha FEPASA
Fonte: Elaborabo pela autora a partir de imagem do Google Maps (acesso em 15-10-2009)
O grupo mais antigo de casas apresenta indícios de ter sido construído entre
as últimas décadas do século XIX e o início do século XX. Segundo o relato de
alguns moradores, remanescentes ferroviários e seus descendentes, as construções
foram iniciadas em 1903, mesmo período da construção da Estação ferroviária
Central, inaugurada em 1908. Contudo, não foram encontrados registros oficiais
5
que comprovem a data da construção dessas edificações. Portanto, adotamos como
referência o período entre 1884 e 1928, correspondente à chegada da ferrovia e a
conclusão do processo de eletrificação da linha. A área conta ainda com edificações
de madeira de diferentes tipologias, casas de alvenaria de tijolo aparente, casas de
alvenaria de tijolo revestidas de argamassa, correspondendo a 30 edificações
originalmente destinadas à habitação, bem como outras 12 edificações destinadas à
subestação de energia elétrica, às oficinas, aos laboratórios, ao almoxarifado, ao
silo, à estação e às demais instalações ferroviárias.
De acordo com o mapa (Figura 02), observamos que o Grupo I é formado por
uma habitação isolada, destinada ao mestre-de-linha (1), três habitações
geminadas destinada aos trabalhadores de linha (2) e a Estação Ferroviária do
Hipódromo (3), construídas durante o período de implantação da ferrovia, entre
1884 e 1920. O primeiro ponto a ser observado é a diferenciação quanto à
implantação da casa do mestre-de-linha em relação às casas dos demais
funcionários.
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Enquanto a primeira habitação foi implantada em posição topograficamente
mais elevada, isolada no centro do lote e mais afastada da via férrea, as outras três
moradias foram implantadas de forma geminada, no alinhamento da via férrea e
próximas da Estação Hipódromo, deixando clara a questão da hierarquia funcional
transferida para a vida privada dos funcionários, conforme descrito por Correia
(2004) e Moreira (2007). Analisando as imagens a seguir, percebemos ainda
diferenças quanto às características arquitetônicas das duas tipologias (Figura 03).
Figura 04: Planta da casa do mestre-de-linha (A) e das casas geminadas (B).
Fonte: Levantamento da autora
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Figura 05: Casas de madeira – Implantação 5
Fonte: Levantamento da autora
O Grupo III corresponde às casas dos engenheiros (Figura 06) as quais foram
construídas entre os anos de 1920 e 1928, período correspondente ao processo de
eletrificação da linha e da construção da subestação de energia elétrica, do
almoxarifado e das oficinas. Neste caso, foi adotado o estilo industrial inglês, com
alvenaria de tijolos aparente e presença de alpendre. A casa do engenheiro-chefe
(8) apresenta volumetria composta de dois retângulos formando um “T”, telhado de
quatro águas intercaladas por um outro de três águas, que se unem em duas
águas-furtadas. A este conjunto se une um alpendre de duas águas, também
formando duas águas-furtadas. A cobertura de telha francesa apresenta beiral com
acabamento em estuque. A casa do engenheiro-residente (12) apresenta
volumetria retangular, telhado em duas águas, cobertura em telha francesa,
alpendre e segue o mesmo estilo industrial inglês com tijolos aparentes e ausência
de ornamentos.
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Figura 06: Casa de engenheiro – Implantação 12
Fonte: Levantamento da autora
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Figura 07: Casas dos eletricistas – Implantação 15
Fonte: Levantamento da autora
Considerações finais
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No que se refere especificamente à habitação ferroviária, percebemos ainda a
sua relação com a história do desenvolvimento, apogeu e decadência das ferrovias
no Brasil. O modo de produção ferroviário, que viveu seu apogeu entre o final do
século XIX e o início do século XX, a partir da década de 1930 passou a enfrentar
os problemas causados pela crise do café e pela Segunda Guerra, que dificultaram
a expansão ferroviária para outras áreas agrícolas. Na década de 1950, o
transporte rodoviário ganha força com a implantação da indústria automobilística
brasileira e o transporte ferroviário perde seu status de símbolo de eficiência e
modernidade para os automóveis e caminhões.
1: JARDIM, Elaine: Graduanda em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Central Paulista – UNICEP. Programa Voluntário de
Iniciação Científica CENIP/PROVIC, concluído em dezembro de 2010, sob a orientação do Prof. Ms. Ralf José Castanheira Flôres. E-mail:
elaineajardim@gmail.com, telefones 55 (16) 3361-4572 ou 55 (16) 9796-2992.
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