Você está na página 1de 24

ATAAAF – RA2

Resultado de Aprendizagem 2 Critérios de Desempenho

a) Compreende as principais preocupações que uma instituição financeira


demonstra na consideração e atribuição de financiamentos bancários,
descrevendo-as através do modelo dos 5 Cs do crédito (carácter, capacidade,
capital, colateral e condições da envolvente).
b) Identifica as principais instituições de crédito disponíveis em Moçambique ao
nível da Banca, instituições multilaterais, bem como de Fundos Privados de
Investimento
c) Identifica os principais elementos a considerar numa oferta de financiamento,
nomeadamente, a duração do financiamento, taxa de juro, nível de garantias
Analisar os requisitos de bem como os requisitos de natureza fiscal e legal para poder aceder a
solicitação de financiamento financiamento
d) Identifica os rácios e respectivos parâmetros de liquidez, endividamento e
capacidade de serviço de dívida que uma organização deve cumprir no
âmbito de um financiamento por capitais alheios
e) Descreve as principais componentes que devem constar de um plano de
negócios para obtenção de financiamentos, nomeadamente, descrição dos
empreendedores, do negócio, estratégia de marketing, estratégia de
operações, estrutura accionista, orçamento do projecto e plano de
financiamento, plano de implementação, estudo de viabilidade, análise de
risco e impacto do projecto

2.1. ATRIBUIÇÃO DE FINANCIAMENTOS BANCÁRIOS: PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES DE


UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Análise de Crédito é o momento no qual o agente cedente irá avaliar o potencial de retorno do tomador do
crédito, bem como, os riscos inerentes à concessão. Tal procedimento é realizado, também, com o objectivo de
ser possível identificar os clientes que futuramente poderão não honrar com suas obrigações, acarretando uma
situação de risco de caixa à organização.
Através da Análise de Crédito é possível identificar se o cliente possui idoneidade e capacidade financeira
suficiente para amortizar a dívida que se pretende contrair.
A análise de crédito é um processo organizado para analisar dados, de maneira a possibilitar o levantamento
das questões certas acerca do tomador do crédito. "Este processo cobre uma estrutura mais ampla do que
simplesmente analisar o crédito de um cliente e dados financeiros para a tomada de decisão com propósitos
creditícios" (BLATT, 1999, p. 93).
Segundo Santos (2000), o processo de análise e concessão de crédito recorre ao uso de duas técnicas: a técnica
subjectiva e a técnica objectiva ou estatística. A primeira diz respeito à técnica baseada no julgamento humano
e a segunda é baseada em processos estatísticos.
Em relação à primeira técnica, Schrickel observa que: "a análise de crédito envolve a habilidade de fazer uma
decisão de crédito, dentro de um cenário de incertezas e constantes mutações e informações incompletas".
(SCHRICKEL, 2000, p. 27). Ou seja, grande parte da análise de crédito é realizada através do julgamento do
agente de crédito, baseada principalmente na habilidade e experiência do mesmo.
Santos (2006), ainda explica que esta técnica baseia-se na experiência adquirida, disponibilidade de
informações e sensibilidade de cada analista quanto a aprovação do crédito.
A análise subjectiva do tomador do crédito é importante, visto que através da experiência do agente de crédito
é possível identificar factores de carácter, capacidade, capital e condições de pagamento. Porém, essa análise
não pode ser realizada de maneira aleatória, é preciso estar baseada em conceitos técnicos que irão guiar a
tomada de decisão
A análise ocorrerá conforme as necessidades do solicitante e dentro de um nível de risco aceitável, a partir de
documentação apresentada e análise da mesma, objectivando a maximização dos resultados da instituição,
segundo Schrickel (2000).
As instituições financeiras utilizam-se de bancos de dados, públicos e privados, para a avaliação do risco de
crédito, ou seja, da probabilidade de recebimento do montante emprestado ao cliente (consumidor de serviços
bancários). De acordo com a avaliação que é feita pelo banco, acedendo esses cadastros, estabelece-se a taxa
de juros a ser cobrada em um negócio bancário específico ou mesmo o banco pode deixar de conceder o
empréstimo.

ATAAAF – RA2 1/24


ATAAAF – RA2

As informações são obtidas junto a empresas e organizações que mantêm esses bancos de dados
informacionais. Em sua maioria, esses bancos de dados possuem apenas informações negativas, relativas à
inadimplência de dívidas.
Estas informações são obtidas na Central de Risco de Crédito nos Bancos Centrais que tem dupla finalidade:
a) Uma primeira e originariamente prioritária, de facilitar a supervisão bancária pelo Banco Central, ao
identificar com precisão as instituições financeiras com problemas em suas carteiras de crédito;
b) Uma segunda e não menos importante, que é a de registar informações para auxiliar as instituições
bancárias no processo de avaliação da concessão de crédito a seus clientes.
Relativamente as preocupações das instituições de crédito na concessão de crédito, Gitman (1997, p.696)
questiona: "A actividade de selecção de crédito de uma empresa busca determinar se deve ser concedido
crédito a um cliente e quais os limites quantitativos que devem ser impostos. Quais seriam as informações
necessárias e suas fontes para que se pudesse avaliar a capacidade creditícia de um cliente?”.
Assim, os cinco C's considerados serão descritos a seguir. O primeiro, o Carácter, segundo Berni (1999,
p.103), é a "Forma de agir e reagir da empresa diante de situações adversas; seriedade e esforços
empreendidos diante de crises”. Para Gitman (op.cit., p.696), é "O histórico do solicitante quanto ao
cumprimento de suas obrigações financeiras, contratuais e morais. Os dados históricos de pagamento e
quaisquer causas judiciais pendentes, ou concluídas contra o cliente seriam utilizados na avaliação do seu
carácter."Dessa forma, de forma concisa, o aspecto carácter é determinado pela intenção da empresa em
cumprir seus compromissos e pode ser medido por sua análise histórica.
A capacidade é o segundo C dos cinco c's descritos. Berni (1999, p.103) coloca:
"Será fundamental um conhecimento do cronograma de recebimentos e pagamentos da empresa [...]; Para
avaliar a capacidade de uma empresa, devemos considerar os seguintes aspectos: Informações: dados obtidos a
respeito da empresa e seus administradores, origem, conhecimento, relacionamento e actuação no mercado.
Tradição: tempo de permanência no negócio, respeito e qualidade dos produtos. Modus operandi: forma como
a empresa opera com bancos, clientes, fornecedores e funcionários. Dados Técnicos: facturação, nível de
vendas”. Para Gitman (1997, p.696), a Capacidade é "o potencial do cliente para quitar o crédito solicitado.
Análises dos demonstrativos financeiros, com ênfase especial nos índices de liquidez e de endividamento, são
geralmente utilizadas para avaliar a capacidade do solicitante de crédito”.
Dentro dessa óptica, a capacidade, nesse caso, significa a possibilidade de geração de caixa da empresa,
levando em consideração o conhecimento do seu nível tecnológico, seu limite de produtividade e,
principalmente, a qualificação de seus administradores.
O terceiro, o Capital, sobre ele, alerta Berni (1999, p.104): Algumas empresas não podem ser medidas pela
facturação, mas o capital, o património e os recursos próprios podem ser um óptimo determinante para o
crédito.
A forma como a empresa reaproveita seus lucros, o consequente aumento de capital, a constituição de reservas
pode auxiliar na viabilização do crédito.
Segundo Gitman (1997, p.696), é o Capital, "a solidez financeira do solicitante, conforme indicada pelo
património líquido da empresa. O total de exigíveis em relação ao património líquido, bem como os índices de
lucratividade são, frequentemente, usados para avaliar o capital do demandante de crédito”.
Em outras palavras, no caso de pessoas jurídicas, através da análise dos balanços pode se ter a exacta
dimensão do comportamento do capital, por outro lado, no caso das pessoas físicas, a acumulação de capital
mostra sua competência e, geralmente, o património imobiliário é o melhor indicador de uma história de
sucesso.
O quarto, os Colaterais são todos os tipos de activos que podem ser dados como garantia adicional em uma
operação de crédito. Gitman (1997, p.696) define como: "O montante de activos colocados à disposição pelo
solicitante para garantir o crédito.
Naturalmente, quanto maior, esse montante, maior será a possibilidade de se recuperar o valor creditado, no
caso de inadimplência. O exame do balanço patrimonial e a avaliação de activos em conjunto com o
levantamento de pendências judiciais podem ser usados para estimar os colaterais."
Berni (1999, p.104) reforça as ideias de Gitman e descreve que o colateral "vai informar-nos sobre as
garantias adicionais que poderão amparar uma linha de crédito”.
O último elemento dos cinco c's são as Condições. Gitman (op.cit., p.697) observa que: "As condições
económicas e empresariais vigentes, bem como circunstâncias particulares que possam afectar qualquer das
partes envolvidas na negociação.... fazem parte da avaliação das condições."
ATAAAF – RA2 2/24
ATAAAF – RA2

Berni (1999, p.104), discorda de Gitman e coloca que: "as condições da linha de crédito (modalidade, custo,
prazo e garantias) também são um parâmetro decisório do crédito”.
Contudo, a partir da colocação de Gitman as condições são, factores externos do mercado, ou circunstâncias
especiais, como sazonalidades, que podem alterar o desenvolvimento da operação.
"Os parâmetros básicos da concessão de crédito são avaliados mediante profunda análise da ficha cadastral do
cliente, a qual deverá contemplar um sistema de pontuação, visando a quantificar os parâmetros definidos e
atribuir pesos de acordo com a relevância de cada informação obtida. Conforme a pontuação obtida, a
concessão de crédito poderá ser automática, ou ser analisada de acordo com a política de crédito da empresa" (
NIKOLAY 2004, apud SECURATO 2002).
Dentro do que foi exposto, o sucesso financeiro de uma empresa depende directamente e intensamente das
práticas de concessão de crédito.

2.2. AS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO DISPONÍVEIS EM MOÇAMBIQUE

As Instituições Financeiras exercem função de grande importância, relacionada com o crescimento e com o
desenvolvimento económicos, em especial ao actuar na captação de recursos e na concessão de créditos, com
o respectivo spread bancário, além dos demais serviços prestados. Portanto, são os agentes económicos que
propiciam o fomento à produção de riquezas, ao financiar actividades produtivas.
Por tal motivo, é inimaginável concebermos uma economia de mercado, nos moldes actuais, sem a presença
de Instituições Financeiras fortalecidas.
O sistema financeiro caracteriza-se como ferramenta indispensável para o progresso de uma economia de
mercado, sendo certo que a existência de um sistema de crédito estruturado e eficiente é premissa
indispensável para o desenvolvimento económico e, por consequência, social.
O sistema bancário moçambicano está a registar assinaláveis transformações acompanhando os
desenvolvimentos internacionais do sector. Estas transformações consubstanciam-se no desenvolvimento de
novos produtos financeiros, investimento em infraestrutura tecnológica, modernização e expansão dos canais
de distribuição (ATMs, abertura de mais agências) com vista a responder à enorme e crescente procura pelos
serviços bancários.
Desse universo do sistema bancário, em termos de propriedade os capitais nacionais representavam 26,7 por
cento sendo o remanescente, capitais estrangeiros. Portugal e África do Sul representam em conjunto 44,4 por
cento dos capitais totais e 60,6 por cento dos capitais estrangeiros.
A presença de bancos de capitais estrangeiros tem trazido enormes vantagens para o sistema bancário em
termos de gestão, transferência de tecnologia, conhecimentos, bem como observância de padrões elevados de
actividade bancária definidos nos países de origem.
O quadro que se segue mostra a evolução das instituições financeiras nos últimos dois anos em Moçambique.

Tipo de Instituição 2009 2008


Bancos 14 14
Microbancos 3 1
Cooperativas de Crédito 6 6
Sociedades de Locação Financeira 1 1
Sociedades de Investimento 1 1
Sociedades Emitentes ou Gestoras de Cartões de Crédito 1 1
Casas de Câmbio 20 22
Organizações de Poupança e Empréstimo 9 4
Operadores de Microcrédito 95 72

ATAAAF – RA2 3/24


ATAAAF – RA2

Instituições Financeiras por Tipo

1. Bancos Comerciais
African Banking Corporation Mozambique, SA (BancABC)
Banco Comercial e de Investimentos, SA (BCI)
Banco Internacional de Moçambique, SA (Millennium BIM)
Banco Terra, SA
Barclays Bank Moçambique, SA
First National Bank Moçambique, SA (FNB)
ICB – International Bank Of Commerce
KfW IPEX-Bank GmbH
Mauritius Commercial Bank Moçambique, SA (MCB)
Moza Banco, SA

2. Instituições Financeiras de Desenvolvimento


ADIPSA (Apoio ao Desenvolvimento de Iniciativas privadas no Sector Agrário)
African Development Bank (ADB)
African Management Services Company (AMSCO)
AGRIFUTURO
Belgian Investment Company for Developing Countries (BIO)
Danish International Development Agency (Danida)
DEG- Deutsche Investitions- und Entwicklungsgesellschaft
Development Bank of Southern Africa (DBSA)
Dutch Ministry of Foreign Affairs
European Investment Bank (EIB)
Ex-change Mozambique
Industrial Development Corporation of South Africa (IDC)
International Finance Corporation (IFC)
NORSAD
Norwegian Investment Fund for Developing Countries (NORFUND)
PROPARCO

3. Bancos de Microfinanças
Banco Oportunidade de Moçambique, SA (BOM)
Banco ProCredit, SA
Banco Tchuma, SA
Socremo - Banco de Microfinanças, SA

4. Operadores de Microfinanças
AfricaWorks
Agência de Desenvolvimento Económico da Província de Manica (ADEM)

ATAAAF – RA2 4/24


ATAAAF – RA2

Associação de Desenvolvimento Sócio Económico de Matutuíne (HLUVUKU)


Associação de Técnicos e Profissionais em Desenvolvimento Rural (kukula)
Associação Kwaedza Simukai Manica
Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural (AMODER)
Associacão Phambeni Makweru (APHAMA)
Cooperativa de Crédito Micro-Empresários de Angónia (CCMEA)
Fundo de Desenvolvimento da Mulher (FDM)
Kulima
OPHAVELA
Projecto HOPE Moçambique
The Hunger Project Mozambique
Fundos de Capitais de Risco/Private Equity
African Century
Aureos Capital
Lonrho Plc
MARIS Capital
Whatana Investments

5. Mecanismos Alternativos de Financiamento


Bolsa de Valores de Moambique

Evolução de agências autorizadas de bancos


Província 2009 2008
Cidade de Maputo 157 146
Província de Maputo 34 32
Gaza 24 19
Inhambane 29 21
Sofala 37 32
Manica 21 16
Tete 20 17
Zambézia 17 14
Nampula 42 32
Cabo-Delgado 10 8
Niassa 10 6
Total 401 343

Os dados indicam que em Moçambique temos o seguinte quadro:


• número de instituições bancárias em funcionamento no país totaliza 14 bancos;
• total de operadores de microcrédito licenciados e em exercício incrementou indicava até 2009, um
total de 96 unidades;
• número de agências de bancos em funcionamento incrementou para perfazer um total de 352 em
todo o país de um total de 401 autorizadas;
• total de ATM´s e POS´s somavam 620 e 4,668, respectivamente.
O aumento do número de agências bancárias, principalmente nos distritos, (2009 em 51 distritos) revela
por um lado, que as instituições de crédito têm respondido positivamente ao apelo do Governo de
Moçambique, de expandir os serviços financeiros às zonas rurais, e, por outro, à necessidade de abranger
maior número da população, de alargar a base de clientes e captar poupanças.

ATAAAF – RA2 5/24


ATAAAF – RA2

Uma instituição multinacional de forte presença em Moçambique é a Corporação Financeira Internacional,


da sigla inglesa (IFC) é fundada em 1965.
A IFC é um exemplo de capacidade de adaptação do Grupo do Banco Mundial. O período em que aparece
o IFC, na história de pensamento económico, era marcado pela transição do Keynesianismo que concede
ao Estado um papel relevante para o período dos liberais e neoliberais com Milton Friedman a cabeça e
recuperada uma das máximas de Schumpeter small is beautiful (o pequeno é giro,). Estes trazem o agente
económico privado para a figura de proa, motor e peça indispensável para o crescimento e
desenvolvimento económicos. Esta instituição é criada, por isso, para contribuir, activamente, no
crescimento económico nos países em desenvolvimento através de criação e fortalecimento do sector
privado com (i) empréstimos directos a este sector, (ii) participações financeiras em empreendimentos
privados, (iii) prestar assistência técnica tanto aos governos como ao sector privado no esforço de
promoção, crescimento e afirmação deste sector. Segundo estatísticas do Banco Mundial, da carteira total
de investimentos da IFC, 16% está na África sub-sahariana. Em Moçambique vai crescendo o número de
exemplos de participação desta instituição. Aliás, a criação de escritórios desta instituição no país é mais
uma prova desse comprometimento.

2.3. PRINCIPAIS ELEMENTOS A CONSIDERAR NA CONCESSÃO DE UM


FINANCIAMENTO

A concessão de crédito é um dos pilares do desenvolvimento económico,


com grande repercussão nos indicadores sociais.
Quanto às operações bancárias, a elevação do grau de garantia é uma das
condições para a redução dos encargos ao tomador final, em virtude da
diminuição do risco, criando assim cenário favorável à universalização
de acesso ao crédito.
Em Moçambique, a concessão de crédito é actividade exercida por
Instituições Financeiras, encontrando-se prevista no texto constitucional,
bem como devidamente regulamentada por meio de normas
infraconstitucionais, sob a fiscalização do Banco Central.
A importância da concessão de crédito é apontada por Keynes e Kalecki, os dois fundadores do estudo da
macroeconomia, os quais entendem que, em uma economia de mercado desenvolvida, empresários e
consumidores podem gastar conjuntamente acima de suas receitas correntes, desde que haja um sistema de
crédito. Até então, a crença dominante era que o crescimento da renda da comunidade e dos lucros
empresariais dependia da disposição de um grupo social, especialmente dos empresários (mas também dos
consumidores, do governo ou dos estrangeiros) de gastar acima de sua renda corrente, isto é, de colocar
mais dinheiro na economia do que as receitas auferidas.
O crédito bancário movimenta a economia, garante o comércio e a fluidez dos mecanismos de troca. “A
confiança subsistente entre homens de comércio nas suas relações mercantis é o crédito, conforme definiu
Henry Thornton no século XIX [...] Haverá pouca confiança e crédito e, igualmente, pouco comércio,
numa sociedade na qual a lei e o senso moral são fracos e, em consequência, o direito de propriedade
privada é inseguro”. A certeza e o amparo jurídico às relações é pressuposto indispensável ao
desenvolvimento económico, em especial para a universalização de acesso ao crédito com redução da taxa
de juros.
A questão comporta ainda uma intervenção valorativa: se de um lado as Instituições Financeiras são vistas
por alguns segmentos da sociedade como verdadeiros agiotas institucionalizados, é inegável que se
constituem agentes económicos essenciais por permitirem o acesso ao crédito, elemento que fomenta a
actividade e o crescimento económico, de relevante função social.
Muitos factores interferem na concessão de crédito e na composição dos encargos incidentes, mas, por
certo, a certeza e a liquidez do título representativo da operação, bem como a existência de garantias,
trazem reflexos na fixação da taxa de juros e do spread bancário (ou seja, “a diferença entre as taxas de
juros de aplicação – empréstimos – e de captação”) e demais encargos incidentes, com base na maior ou
menor probabilidade de recuperação pelo credor.

ATAAAF – RA2 6/24


ATAAAF – RA2

Os direitos reais de garantia ganham destaque, pois com a vinculação de um bem ao cumprimento de uma
obrigação, ocorre a elevação do nível de garantia. No entanto, deve-se levar em consideração as
formalidades envolvidas para a regular constituição do gravame, ou seja, o custo-benefício em relação ao
montante da operação objectivada.
As garantias reais são representadas pela obrigação acessória que uma pessoa assume perante o credor,
vinculando um bem ao cumprimento da obrigação principal, caso o devedor não pague ou não possa
cumprir com o pactuado.
As garantias reais são dotadas de “realidade”, conforme prelecciona Pontes de Miranda, pois conferem ao
seu titular, credor da obrigação, um poder particular e dependente, suficiente para apreender o bem
outorgado, “se estiver em poder de terceiro para fazer valer aquela razão creditória e aqueles direitos de
preferência a qualquer outro credor”.
A análise cadastral do cliente é importante para definir o êxito de uma operação, ou seja, de aumentar as
chances de recuperação de crédito. No entanto, é inquestionável que a aptidão dos instrumentos para
formalização da operação é factor relevante.
A análise do risco envolve vários aspectos. Inicialmente, o risco está relacionado à figura do tomador e à
possibilidade de concretizar a operação nos moldes pleiteados. Mas a análise também compreende a
avaliação dos juros e demais encargos a serem fixados, bem como a escolha do instrumento que será
adoptado para a formalização.
Outro elemento exigido no financiamento é o aval que é instituto de direito comercial e corresponde à
garantia que é dada por terceiro estranho ao título de crédito, pela qual se prende à obrigação cambial, isto
é, fica solidariamente vinculado ao título avalizado, pelo compromisso que assume de pagar a importância
que nele se contem, quando não a pague o devedor, que é por ele garantido.
O aval corresponde a uma garantia cambial, firmada por terceiro – o avalista – ao avalizado, garantindo o
pagamento do título. O avalista pode ser um terceiro estranho ao título ou alguém que já seja obrigado.
O avalista assume uma obrigação igual à de seu avalizado, tanto quanto aos efeitos, como no que tange às
consequências.
Duas são as características principais do aval: de um lado, a autonomia; de outro, a equivalência. O avalista
assume, perante o credor do título, uma obrigação autónoma, mas equivalente à do avalizado. Ou, para
dizer o mesmo, por termos diversos, o aval é dotado de autonomia substancial e acessoriedade formal.
Outro elemento do financiamento é a hipoteca. A palavra hipoteca é derivada do grego hypothéke onde
teve origem este instituto jurídico, cujo significado é coisa entregue pelo devedor, por exigência do credor,
para garantia de uma obrigação.
Conforme Silvio Rodrigues, a hipoteca “é o direito real que recai sobre um imóvel, um navio ou um avião,
que, embora não entregues ao credor, o asseguram, preferentemente, do cumprimento da obrigação”.
Assim sendo, não paga a dívida, cabe ao credor o direito de executar o bem dado em garantia, para com o
produto apurado em praça satisfazer o cumprimento, preferentemente e com exclusão dos outros credores,
que só terão direito às sobras, se houver. É um contrato acessório, pressupondo a existência de um contrato
ou uma obrigação principal por ele garantido.
De se considerar ainda a definição do mestre Washington de Barros Monteiro, pela qual a hipoteca é
direito real, declarado por lei de modo expresso. Como direito real, vincula o bem gravado, acompanha-o
sempre onde quer que se encontre, aderindo à coisa.
As principais características da hipoteca são:
a) objecto gravado deve ser de propriedade do devedor ou de terceiro;
b) devedor ou terceiro continua na posse do imóvel hipotecado;
c) É indivisível, pois a hipoteca grava o bem na sua totalidade, não acarretando exoneração
correspondente da garantia o pagamento parcial da dívida;
d) Tem carácter acessório (garante uma dívida principal; não existe garantia sem uma obrigação
principal);
e) A modalidade convencional, é negócio solene;
f) Confere ao seu titular direito de preferência e de sequela;
g) Assenta-se em dois princípios: o da especialização e o da publicidade.

ATAAAF – RA2 7/24


ATAAAF – RA2

São diversas as instituições financeiras que podem atender as micro e pequenas empresas, formais. Tanto
os bancos públicos quanto os privados possuem alternativas de serviços e produtos financeiros adequados
ao segmento. Além disso, as Cooperativas de Crédito e as Instituições de Microcrédito têm
sistematicamente aumentado o número de operações com empreendimentos de pequeno porte.
Nestas instituições financeiras existem inúmeras soluções (linhas) de crédito para empréstimos de capital
de giro e para financiar projectos de investimento, com ou sem capital de giro associado.
Para saber qual a linha de crédito é mais adequada, deve-se buscar estas alternativas perante os agentes
financeiros, identificando suas características e condições. A primeira pesquisa deve ser realizada na
instituição de relacionamento do cliente e, se estender para outros agentes financeiros.
É função das instituições financeiras decidirem sobre a aprovação ou não da solicitação de empréstimo,
bem como liberar os recursos financeiros para as microempresas e empresas de pequeno, médio e grande
porte.
Para essa decisão, os bancos executam, pelo menos, as seguintes tarefas:
a) Análise do cadastro da empresa, dos sócios e dos avalistas;
b) Enquadramento da operação de acordo com suas soluções / linhas de crédito;
c) Definição das garantias sobre o financiamento e negociação com o interessado;
d) Análise de crédito de acordo com o projecto de viabilidade económica e financeira;
e) Aprovar ou recusar o pleito do financiamento.

Análise cadastral

A análise cadastral refere-se ao processo de análise dos dados de identificação dos clientes. Conforme Blatt
(1999) evidencia, o sucesso da concessão do crédito depende de informações confiáveis a respeito do
cliente. Santos (2006) complementa, dizendo que:
"O levantamento e a análise das informações básicas de crédito são requisitos fundamentais para a
determinação do valor do crédito, prazo de amortização, taxas de juros e, se necessário reforço ou
vinculação de novas garantias." (SANTOS, 2006, p. 47).
Os bancos só devem conceder empréstimos (crédito) a tomadores se possuírem adequadas e não restritivas
informações cadastrais. Schrickel (2000) reafirma todos estes factos, dizendo que as instituições de crédito
devem munir-se de elementos informativos essenciais e indispensáveis sobre o potencial tomador do
crédito, antes de manter qualquer tipo de relacionamento concreto ou formalizar alguma operação de
crédito.
Porém, todas as instituições de crédito devem atentar para o sigilo das informações colectadas pelos
agentes de crédito. Schrickel (2000) sugere que as informações e documentação pessoal devem ser
mantidas arquivadas sobre minucioso controle. Tal atenção é necessária para que ocorra sigilo das
informações e para que melhor lhe permita o controle, manuseio e actualização dos dados.
Os dados que deverão ser identificados para análise, segundo Santos (2006), deverão ser os seguintes:
• Escolaridade;
• Estado Civil;
• Idade;
• Idoneidade;
• Moradia (se própria ou alugada e tempo de residência);
• Número de dependentes;
• Renda (principal e complementar);
• Situação legal dos documentos; e
• Tempo no actual emprego ou actividade exercida.
Para a empresa são exigíveis as demonstrações financeiras do último exercício (balanço, demonstrações de
resultados, fluxo de caixa). Os estatutos da empresa e os corpos sociais, moradia, NUIT são outros dados
cadastrais exigidos. Normalmente os bancos solicitam o balancete do último período e outra que é verificar
na Central de Risco do Crédito para ver o cadastro da empresa.
As demonstrações financeiras são sínteses elaboradas, segundo normas específicas, dos valores e
informações contidos em registos contábeis da empresa com os seguintes demonstrativos:

ATAAAF – RA2 8/24


ATAAAF – RA2

• Balanço Patrimonial (BP), que retrata a posição patrimonial da empresa em determinado momento;
• Demonstração de Resultados do Exercício (D.R. E), que mostra como se formou o lucro ou o
prejuízo em determinado período;
• Demonstração das Mutações do Património Líquido, que apresenta as variações de todas as contas
do Património Líquido ocorridas entre dois períodos;
• Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR), que evidencia a variação ocorrida
no Capital Circulante Líquido (activo circulante – passivo circulante), de um período para outro.
A análise por meio de índices é usada para comparar o desempenho e a situação de uma empresa com
outras empresas, ou consigo mesma ao longo do tempo, envolve os métodos de cálculo e a interpretação
dos índices financeiros, para avaliar o desempenho e a situação da empresa, a análise por meio de índices
não envolve meramente a aplicação de uma fórmula a dados financeiros, para se obter um determinado
índice. O mais importante é a interpretação do valor do índice.”(GITMAN, 1997, p. 102, 103)”.
Santos (2006) ainda defende que no processo de análise de crédito deve-se considerar todas as informações
relacionadas com a situação financeira do cliente, pois a análise conjunta dos dados irá fornecer
informações mais precisas para a tomada de decisão. Para Schrickel (2000), o agente de crédito deve
atentar para a seguinte documentação legal:
• Certidão de Casamento, se casado (a);
• Bilhete de Identidade (BI);
• Número Único de Identificação Tributária (NUIT);
• Cópia da Declaração de Imposto de Rendimento
• Declaração de Bens
• Comprovante de rendimentos;
• Comprovante de residência;
• Procurações (se aplicável)
• Ficha Cadastral preenchida e assinada.
Por fim, Blatt (1999) explica que a ficha cadastral é um resumo da vida do cliente, por meio da qual o
credor tem a possibilidade de obter um conhecimento inicial sobre o mesmo. Ele ainda define como “[...]
um conjunto de informações financeiras e não financeiras que subsidiam o processo decisório de crédito,
auxiliando na avaliação [...] do cliente. (BLATT, 1999, p. 78).

Análise de idoneidade

Já a análise de idoneidade consiste no levantamento e análise de informações relacionadas à idoneidade do


cliente com o mercado de crédito. Segundo Santos (2006), esta análise baseia-se na colecta de informações
sobre o solicitante do crédito junto às empresas especializadas na gestão de risco de crédito.
Para Santos (2006), a análise da idoneidade deve ser um das primeiras informações averiguadas, pois caso
o cliente não possua informações negativas as demais informações poderão ser colectadas e analisadas para
a análise do risco total.
A idoneidade do cliente pode ainda ser classificada em quatro categorias, conforme Santos (2006):
• Não Restritivos: quando não há informações negativas sobre o cliente no mercado de crédito;
• Alertas: quando há registos antigos no mercado de crédito, já solucionados, que não impedem a
concessão de novos créditos. Apenas ocorre a exigência de uma análise mais criteriosa por parte do
agente de crédito;
• Restritivos: indicam que o cliente possui informações desabonatórias no mercado de crédito. São
exemplos: registos de atrasos, renegociações e geração de prejuízos a credores. Podem ser
classificadas como de carácter subjectivo (de uso interno de instituições do mercado de crédito) ou
de carácter objectivo, tais como protestos, registos de cheques sem fundo, acções de busca e
apreensão, dentre outros; e
• Impeditivos: são apontamentos que impedem que pessoas físicas actuem como tomadores de
crédito, a exemplo de bloqueios de bens, proibições legais de concessão de crédito, dentre outros.
• No caso das empresas, a sua idoneidade é atesta através dos seus órgão sociais e para pequenas
empresas é através dos seus próprios proprietários (sócios).

ATAAAF – RA2 9/24


ATAAAF – RA2

Análise financeira

Em relação à análise financeira, Blatt (1999) explica que a mesma é primordial para a determinação das
forças e fraquezas financeiras do cliente, a partir das informações das demonstrações financeiras do
mesmo. A análise da renda total do cliente e posterior análise de compatibilidade com os créditos
pretendidos é uma fase de vital importância no processo de análise dos riscos de crédito.
Para Black; Morgan (apud Santos, 2006), deve ser dada atenção especial à análise da renda, pois
consideram existir relação directa entre a renda e a taxa de inadimplência de pessoas físicas. Santos (2006)
ainda diz que é de suma importância determinar o valor exacto da renda e a sua regularidade, bem como a
probabilidade de continuar sendo recebida. Desta maneira é possível identificar factores que poderão vir a
prejudicar o futuro pagamento da dívida contraída.
Autores como Santos (2006), Blatt (1999) e Schrickel (2000) definem os Demonstrativos de Pagamento,
Declaração de Imposto de Renda e Extractos Bancários como as melhores fontes de informações sobre a
renda do cliente.
Os Demonstrativos de Pagamento, fornecidos pelos empregadores dos solicitantes de crédito, constituem-
se na fonte mais utilizada pelas instituições de concessão de crédito. A Declaração do Imposto de Renda é
uma fonte alternativa de dados que possibilita um melhor cálculo sobre a renda média mensal do
solicitante, segundo Santos (2006).
No caso de pessoas físicas autónomas ou profissionais que trabalhem em actividades sazonais, o agente de
crédito deve tomar especial cuidado com discrepâncias na renda média mensal do cliente. Para Santos
(2006), nessa situação, a comprovação da renda é de extrema dificuldade e por isso o agente de crédito
deve se basear em cálculos aproximados a partir de demonstrativos bancários, tais como extratos de contas
bancárias.
É sugerido, por Santos (2006), a construção de um Balanço Patrimonial adaptado do solicitante do crédito,
por parte do agente de crédito. Tal instrumento visa a uma melhor visualização dos activos e passivos a fim
de determinar a situação financeira e capacidade de pagamento do cliente.
Os activos representam os bens, tanto financeiros como patrimoniais, dos clientes. São colocados em
ordem de liquidez, iniciando pelos activos que melhor possam ser convertidos em receita imediata,
representados por valores em conta corrente, salário e outros, até os activos menos líquidos, como por
exemplo, veículos e imóveis. Os passivos representam todos os compromissos que o cliente assumiu com o
mercado de crédito ou para a compra de bens e serviços. São organizados de maneira a iniciar pelos de
maior solvência (imediata) até os de maior prazo de pagamento.
Segundo Santos (2006), quanto maior for o saldo do activo total em relação ao passivo total, maior será a
capacidade de o cliente honrar as dívidas adquiridas. Neste caso, o património líquido, calculado pela
diferença entre o total dos activos e o total dos passivos, será um excelente indicador da riqueza do cliente
e, por conseguinte, da capacidade de pagamento do mesmo.
Para as empresas, o mérito económico-financeiro do projecto (estudo de viabilidade) com a análise dos
indicadores de viabilidade mais importantes (Taxa Interna de Retorno e o Valor Actual ou Presente
Líquido assim como Tempo de Recuperação do Capital Descontado).
Adicionalmente, a empresa apresenta as demonstrações financeiras para se calcular os rácios financeiros de
solvência, endividamento, liquidez para se apurar o mérito financeiro e capacidade para amortização da
dívida.

Análise de relacionamento

A análise de relacionamento baseia-se principalmente na análise realizada sobre as informações extraídas


do histórico do relacionamento do cliente com o credor e o mercado de crédito. Quando o cliente já é
conhecido da instituição de concessão de crédito, é possível extrair informações de créditos adquiridos
anteriormente, taxas de juros aplicadas, frequência de utilização, pontualidade na amortização, entre outros.
Santos (2006) acredita que essa análise de relacionamento auxilia na análise da idoneidade do cliente e
pode garantir uma decisão mais favorável ou não à concessão do crédito. Contudo, aponta a dificuldade
dos agentes de crédito de conseguirem informações precisas junto a outras instituições de crédito devido à
necessidade de manter sigilo sobre as operações com que trabalham. Conhecer o património dos clientes é

ATAAAF – RA2 10/24


ATAAAF – RA2

importante no processo de análise de crédito, principalmente para que seja possível vinculá-lo em contratos
de crédito sempre que for verificada a existência de algum risco maior.

Análise patrimonial

A análise patrimonial é frequentemente utilizada para a avaliação das garantias que os clientes podem
oferecer para vincularem ao contrato de concessão, segundo Santos (2006). O autor define garantia como a
vinculação de um bem que assegure a liquidação do crédito caso o tomador não honre suas dívidas.
Entretanto, Blatt (1999) defende que a concessão do crédito não pode estar atrelada ao bem disposto como
garantia, pois assim a organização estaria comprando um bem que não é de interesse.
Santos (2006) complementa dizendo que a finalidade da garantia é evitar que factores imprevisíveis
impossibilitem a quitação do crédito adquirido pelo solicitante. O Banco Central estabelece que as
instituições financeiras que trabalham com a concessão de crédito devem exigir dos solicitantes garantias
suficientes para garantir o retorno do capital utilizado na operação.
Porém, fica a cargo da instituição de concessão de crédito definir quais garantias serão aceitas, bem como a
real necessidade das mesmas para a realização da operação de crédito. Além disso, Santos (2006) diz que
as garantias reais (bens) devem ser correctamente analisadas para se verificar a possibilidade de solvência
das mesmas, assim como seu valor de mercado real e a existência de acções legais que impeçam que sejam
utilizadas.

Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade é uma fase extremamente importante do processo de análise de concessão de


crédito. É através dela que o agente de crédito ou analista financeiro irá monitorar a situação
macroeconómica a fim de prever situações que poderão aumentar o nível de risco da operação.
Santos (2006) cita como exemplo o acompanhamento de taxas de juros. Esses aumentos podem
desencadear redução do nível de actividade económica e até recessão, reduzindo a capacidade de geração e
retenção de caixa das pessoas físicas, comprometendo a capacidade de pagamento das mesmas.
É importante que os analistas de crédito acompanhem a situação do mercado a fim de prever situações de
desequilibro na economia que poderão acarretar um aumento na inadimplência de suas carteiras de crédito.
Blatt (1999) explica que uma correcta avaliação do mercado pode ajudar a definir quais taxas serão
praticadas, quais prazos de pagamento são mais favoráveis e em quais situações, o solicitante poderá vir se
tornar inadimplente.

2.4. OS RÁCIOS E RESPECTIVOS PARÂMETROS DE LIQUIDEZ, ENDIVIDAMENTO E


CAPACIDADE DE SERVIÇO DE DÍVIDA DE UMA ORGANIZAÇÃO

Um rácio financeiro é uma razão valores escolhidos do relatório e contas de uma empresa, com o objectivo
de determinar alguma característica financeira dessa empresa, seja a sua solvabilidade, risco, nível de
valorização ou qualidade como investimento.
Existem muitos rácios já utilizados de forma sistemática para determinar a condição financeira de uma
empresa. Esses rácios possuem utilidade tanto para pessoas internas à empresa (gestão da empresa) como
para entidades exteriores (investidores, analistas, financiadores, fornecedores e clientes).
Os valores utilizados para calcular os rácios são provenientes maioritariamente de documentos produzidos
pela empresa:
• O balanço;
• A demonstração de resultados e;
• O mapa de cash flow.
Podem ainda ser necessários valores oriundos de entidades externas como:
• Valores produzidos em mercados (cotações, taxas de juro, etc);
• Dados macroeconómicos;

ATAAAF – RA2 11/24


ATAAAF – RA2

• Valores respectivos a empresas concorrentes na mesma indústria ou no mercado em geral, para


efeitos de comparação.
Os rácios financeiros facilitam a optimização da proporção de capitais alheios no financiamento da
empresa. Comparando os valores dos rácios financeiros com os de outras empresas do mesmo sector,
podemos igualmente averiguar a razoabilidade do nível de endividamento da empresa.

Os rácios financeiros permitem:


• Estabelecer o nível de valorização de uma empresa;
• Comparar esse nível ao de empresas no mesmo sector;
• Comparar esse nível a empresas de sectores diferentes;
• Comparar o nível de avaliação de sectores;
• Comparar o nível de avaliação de mercados;
• Comparar o nível de avaliação de produtos financeiros diferentes;
• Comparar a evolução de uma mesma empresa em períodos de tempo diferentes;
• Quantificar factos / características da empresa;
• Apontar indícios / detectar anomalias;
• Fazer comparações no tempo e no espaço.

Os rácios podem ser classificados pela área que analisam, por exemplo:
• Rácios de bolsa - medem o nível de avaliação da empresa atribuído pelo mercado de capitais;
• Rácios de rendibilidade - medem a capacidade da empresa gerar lucros e remunerar o accionista;
• Rácios de endividamento - medem o nível de endividamento da empresa, e respectiva capacidade
de lhe fazer face;
• Rácios de liquidez - medem a liquidez da firma e respectiva capacidade de fazer face aos
compromissos;
• Rácios de actividade - medem a eficiência da empresa no seu ciclo produtivo.
Antes de partir para a análise dos rácios financeiros propriamente dita convém decompor os diferentes
tipos de capitais alheios em função do seu custo (se tem ou não de suportar juros) e da sua permanência na
empresa. Desde logo, é importante fazer esta análise por três razões principais:
✓ Em primeiro lugar, porque os passivos que suportam juro expõem a empresa ao risco de variação
de taxas de juro, sendo sem dúvida interessante analisar o impacto que uma variação significativa
nas taxas de juro terá nos custos da empresa;
✓ Em segundo, porque quanto maior for a proporção dos custos de financiamento que suportam juro
no total do activo da empresa, maior vai ser o seu custo de financiamento, pelo que haverá que
avaliar até que ponto a empresa tem capacidade de cumprir com as suas obrigações perante bancos
e outras instituições de crédito;
✓ Em terceiro, porque, como já mencionamos, convém haver um certo equilíbrio entre passivos e
activos de longo prazo na empresa, sendo de evitar o financiamento de activos de longo prazo
recorrendo a empréstimos de curto prazo.
Então, em termos visuais teríamos:

ATAAAF – RA2 12/24


ATAAAF – RA2

No passivo de longo prazo encontramos normalmente empréstimos bancários cujo vencimento é superior a
um ano e empréstimos que os sócios fazem à sociedade (os chamados suprimentos). Estes empréstimos
servem para financiar os activos de longo prazo, tais como terrenos, máquinas e outros bens duradouros.
Na maior parte dos casos, estes empréstimos estão sujeitos a juros.
No passivo de curto prazo temos os empréstimos bancários necessários para fazer face a necessidades de
tesouraria e a investimento em fundo de maneio, tais como mercadorias e matérias-primas. Além destes
empréstimos de curto prazo, as empresas recorrem também a créditos cedidos pelos fornecedores sob a
forma de prazos de pagamento alargado, tal como vimos no artigo anterior. As facilidades de pagamento
cedidas por fornecedores não costumam estar sujeitas a juros, sendo uma das formas preferidas de
financiamento de empresa.
E quanto ao financiamento por capitais próprios, qual será o seu custo? Embora os sócios da empresa não
possam exigir o pagamento de juros pelo investimento que realizam na empresa, será legítimo assumir que
esperem obter lucros. Seja sob a forma de dividendos seja pela valorização do património da empresa, os
sócios esperam sempre um retorno do seu investimento.
E porque os sócios se expõem a um risco maior do que os credores da empresa (em caso de falência ou
dissolução da empresa, os sócios são os últimos a serem ressarcidos do investimento que realizaram,
depois de cumpridas as obrigações com todos os credores e na maioria dos casos a falência conduz a uma
situação em que nada sobra após liquidadas as dívidas perante terceiros), vão certamente exigir uma taxa
de retorno superior à taxa de financiamento por capitais alheios. Não poderia ser de outra forma, pois em
função de maior risco, os investidores esperam retornos superiores, caso contrário não teriam incentivo
para se exporem, preferindo activos de nível de risco inferior com o mesmo retorno.
É então legítimo assumir que o financiamento por capitais próprios é mais oneroso do que o financiamento
por capitais alheios. E sendo assim, seria fácil de concluir que o custo médio ponderado do capital (a média
ponderada entre custo de capitais próprios e alheios) é menor quanto maior for a proporção de capitais
alheios na empresa. Acontece, no entanto, que a partir de um certo grau de endividamento, alguns
problemas vão sendo criados, levando os credores a exigir um juro maior pelos empréstimos que concedem
à empresa.
Esses problemas são normalmente associados à perda de controlo de gestão da empresa, que é posta em
causa quando o grau de endividamento é muito elevado, ou seja, quando a empresa se endivida em excesso
começa a ser difícil de manter o controlo sobre ela, pois os credores vão ganhando influência na gestão.
Por outro lado, os credores apercebendo-se do maior nível de risco a que se expõem quando financiam a
empresa, vão exigir taxas de juro maiores e levantando mais obstáculos à concessão de crédito.
Então, como podemos ver no gráfico seguinte, é verdade que o custo médio ponderado do capital (k)
diminui à medida que a proporção de capitais alheios aumenta (D/E), até um certo limite. A partir desse
limite, o custo médio ponderado do capital volta a aumentar, pelas razões expostas.

2.4.1. Principais rácios financeiros

Solvabilidade total - expressa a capacidade da empresa para satisfazer os compromissos com terceiros, à
medida que se vão vencendo.

ATAAAF – RA2 13/24


ATAAAF – RA2

• Um valor superior a 1, significa que o valor do património é suficiente para cobrir todas as dívidas
da empresa.
• Um valor inferior a 1, significa que a empresa está impossibilitada de satisfazer todos os seus
compromissos com meios próprios.

Autonomia financeira - expressa a participação do capital próprio no financiamento da empresa.

• Um valor inferior a 1/3, significa uma excessiva dependência de capitais alheios.


• Um valor maior ou igual a 1/3, representa um bom grau de autonomia financeira.

Dependência financeira - expressa a participação dos capitais alheios no financiamento da empresa, ou


seja, o nível de endividamento.

• Rácio de autonomia + Rácio de dependência = 1

Liquidez geral - expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas obrigações a curto prazo com os
activos circulantes.

• Um valor superior a 1, significa que a empresa pode utilizar activos líquidos para pagar as dívidas
a curto prazo.
• Um valor inferior a 1, significa que a empresa tem dificuldades de tesouraria.

Liquidez reduzida - expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas dívidas a curto prazo com os
activos circulantes, sem contar com as existências.

• Consideram-se bons os valores entre 0,9 e 1,1.


Se houver uma diferença muito grande entre a liquidez geral e a liquidez reduzida, significa que
existem stocks "mortos", com elevados custos para a empresa.

Liquidez imediata - expressa a capacidade da empresa satisfazer as suas dívidas a curto prazo, apenas com
as disponibilidades.

• Um valor superior a 0,9 poderá ser demasiado elevado e significar uma má aplicação dos fundos
de tesouraria.

ATAAAF – RA2 14/24


ATAAAF – RA2

2.5. PRINCIPAIS COMPONENTES DE UM PLANO DE NEGÓCIOS PARA OBTENÇÃO DE


FINANCIAMENTO

Antes de lançar qualquer projecto, seja ele desenvolvido através de uma nova empresa ou através de uma
empresa já existente, é útil sistematizar, planear e reflectir sobre tudo aquilo em que tem vindo a pensar.
Um plano de negócios assume-se como um instrumento que permite analisar a viabilidade de um
determinado projecto empresarial. Elaborar um plano de negócios é, portanto, fazer uma reflexão sobre os
custos, a rentabilidade e a exequibilidade do referido projecto.
Com efeito, ainda que não esteja no imediato à procura de financiamento externo, a elaboração de um
Plano de Negócios é útil, na medida em que constitui uma grelha de acção e orientação para o
empreendedor e para o seu staff. Além disso, quanto mais cedo estiver concluído, mais cedo estará apto a
apresentar a sua proposta a potenciais investidores. Um Plano de Negócios é uma parte de um processo
mais vasto - a implementação da sua ideia! O ideal é ver um plano como uma parte essencial de todo um
processo de criação de valor, porque mesmo o melhor dos planos é desperdiçado se ninguém o seguir e
implementar.
Existem algumas qualidades num plano que fazem com que seja mais provável que este possa trazer
resultados:

SIMPLES

OBJECTIVO
PLANO ACÇÕES RESULTADOS
REALISTA

COMPLETO
AFINAÇÃO

Um dos primeiros erros a evitar é fazer um Plano só para apresentação de uma proposta ou candidatura.
O Plano deve ser pensado, desde o início, como o documento que traduz a estratégia que queremos
implementar e que será a base da vida da Empresa nos primeiros tempos da sua existência.
Um Plano de Negócios será difícil de avaliar e/ou implementar a menos que seja Simples, Objectivo,
Realista e Completo. Mesmo que seja todas estas coisas, um bom plano precisará sempre de alguém que o
supervisione e/ou implemente.
O plano depende dos empreendedores e das suas equipas, particularmente durante o processo de
compromisso e lançamento, e durante a implementação que se irá seguir.
O sucesso da implementação começará, assim, com um bom plano.

Existem elementos que tornam mais provável que o plano seja bem sucedido. Algumas pistas
essenciais para a construção de um bom plano incluem:
1. O plano é simples? É de fácil entendimento e execução? Transmite os seus conteúdos de forma
fácil e prática?
2. O plano é objectivo? Os seus objectivos são concretos e mensuráveis? Inclui acções específicas e
actividades, cada uma delas com datas limite, pessoas responsáveis e orçamentos detalhados?
3. Inclui um modelo financeiro sólido e bem fundamentado?
4. O plano é realista? Inclui todos os elementos necessários?
Não existe propriamente um número de páginas ideal, dependendo isso do grau de complexidade do
produto ou do historial da empresa (partindo do princípio que o Plano só é apresentado a investidores
algum tempo depois do arranque do projecto). No entanto, lembre-se de dois aspectos essenciais.

ATAAAF – RA2 15/24


ATAAAF – RA2

• Os potenciais investidores têm muitos outros documentos para ler (inclusivamente outros Planos
de Negócio), por isso não exagere no conteúdo do seu.
• mais provável é que os potenciais investidores não sejam especialistas no negócio proposto. Assim
sendo, seja claro e conciso, procurando focar-se naquilo que realmente interessa ao investidor:
como é que o seu negócio vai crescer e geral cash.
A partir do momento que existe uma sistematização escrita de todo o modelo definido, o empreendedor
pode ter uma ideia muito clara sobre se todos os aspectos financeiros e não-financeiros considerados não
põem em causa a viabilidade do projecto.

"Quem são essas pessoas afinal?"


Catorze perguntas "pessoais" que um plano de negócios deve responder

1. De onde são os fundadores?


2. Que escolas frequentam?
3. Onde trabalham, e para quem?
4. O que realizaram - ao nível profissional e pessoal - anteriormente?
5. Qual a sua reputação na comunidade empresarial?
6. Que experiência tem, directamente relevante, para a oportunidade que estão a tentar agarrar?
7. Que perícia, capacidades, conhecimentos têm?
8. Até que ponto são realistas, relativamente às probabilidades de sucesso do empreendimento e as
atribuições que vão enfrentar?
9. Quem mais é preciso estar integrado na equipa?
10. Tem preparação para recrutarem pessoal de alta qualidade?
11. Como é que vão reagir à adversidade?
12. Tem perfil para fazerem as inevitáveis escolhas difíceis que será necessário fazer?
13. Qual o empenho que depositam nesta iniciativa empresarial?
14. Quais são as motivações?

2.5.1. Criação do plano de negócio


Como referimos no início, existem inúmeras obras e textos disponíveis sobre a elaboração de Planos de
Negócios e recomendamos a leitura de algumas destas obras para aumentar a profundidade deste exercício.
No entanto, é possível sistematizar os passos essenciais para a sua elaboração e é esse caminho que lhe
mostramos aqui.
A estrutura base de um plano de negócios
i. Sumário executivo;
ii. O histórico da Companhia e/ou dos promotores;
iii. O mercado subjacente;
iv. A nova ideia e o seu posicionamento no mercado;
v. O Projecto/ Produto/ Ideia
vi. Estratégia Comercial;
vii. Projecções Financeiras;
viii. Gestão e controlo do negócio;
ix. Investimento necessário.

Sumário Executivo
Este é o capítulo mais importante de um plano de negócios. Deve sumarizar em não mais de 500 palavras
toda a apresentação, que será mais detalhada nos capítulos seguintes. O sumário executivo é a primeira
coisa a ser lida pelos potenciais investidores. Se o sumário executivo não for claro, pode desencorajar os
analistas de rever o plano completo. A maioria dos financiadores recebe muito mais pedidos de
financiamento do que aqueles em que pode investir, e por isso, não se dispõe a correr riscos potenciando
situações duvidosas.
Existe um perigo real de que o sumário executivo venha a falhar a sua missão, dado que ele é,
invariavelmente, o último capítulo a ser elaborado. Pode parecer que é uma coisa simples de ser escrita em
uma ou duas páginas. É normal ser preparado depois de um lento e laborioso trabalho de elaboração do

ATAAAF – RA2 16/24


ATAAAF – RA2

restante relatório, pelo que é compreensível que exista a tendência de o acabar o mais rapidamente
possível. Quem o escreve está confiante de que contemplou todos os aspectos mais importantes do
trabalho, e que, mesmo que alguma coisa falhe no sumário executivo, a informação se encontrará em
alguma das restantes partes do plano. No entanto, não deverá assumir que os potenciais financiadores
estarão dispostos a percorrer todo o relatório em busca de informações que considerem vitais.
Acima de tudo, dever-se-á ter presente que, nas poucas páginas do sumário executivo, deverá estar contida
a mensagem mais poderosa e persuasiva de todo o documento.
Por isso, é crucial o esforço extra de verificar que este se encontra completo e claro.
Será de grande utilidade que ele seja revisto por alguém que seja neutro e que goze da confiança de quem o
elaborou.
Só os números mais importantes deverão ser usados para tornar a situação o mais forte que seja possível.
Deverá ainda ser dada cuidadosa atenção para evitar erros de gramática e dispensáveis erros de escrita, uma
vez que estes tendem a ter um efeito negativo desproporcionado.

Pontos essenciais a focar no Sumário Executivo:


1. Qual é o nome do negócio e a sua área de actividade?
2. Qual a missão?
3. Qual é o âmbito do negócio e o mercado potencial para os seus produtos?
4. Porque constitui uma proposta inovadora e vencedora?
5. Quais os recursos, humanos e financeiros que são necessários?
6. Qual o prazo previsto para começar a apresentar lucros?
7. Quais são os pontos fortes e fracos do projecto?
8. Quais as suas referências e a sua experiência relevante para o projecto concreto?

O Histórico da Companhia e/ou dos seus Promotores


O histórico da companhia ou a experiência empresarial do empreendedor, devem ser apresentados.
Os pontos mais importantes a salientar são:
1. Como é que o projecto surgiu e como é que foi introduzido na companhia. É uma empresa nova ou
não e, se sim, porque é que se decidiu criar uma.
2. De que forma é que a experiência passada dos empresários pode contribuir para o sucesso do
projecto? Têm experiência de gestão? Conhecem em profundidade a área de negócio?
3. Quais são os pontos fortes e os pontos fracos do projecto na óptica dos seus promotores? 9

A Missão
A missão é uma declaração global que define os objectivos gerais da companhia, expressando os
propósitos fundamentais da gestão no seu conjunto, fornecendo linhas gerais de desenvolvimento. É o
ponto de partida para a definição dos objectivos fundamentais da companhia.
O principal objectivo desta declaração é dar resposta à seguinte questão: “Porque é que a companhia
existe?”, assim como dar aos empregados e parceiros uma noção clara do que é a empresa, melhorando os
seus objectivos de longo prazo e explicitando como o seu desempenho deve ser dirigido por forma a
alcançar esses mesmos objectivos.
Para além do nome, formato legal, etc, uma companhia define-se essencialmente pela sua Missão de
Negócio.

O Mercado Subjacente
O mercado é a “arena” onde os planos da empresa irão ser levados a cabo. É muito importante definir o
mercado para o novo produto em termos de dimensão, estádio de desenvolvimento, tipos de clientes e de
competidores.
Quantos clientes existem e qual a sua influência no mercado?

ATAAAF – RA2 17/24


ATAAAF – RA2

O tamanho do mercado ou o consumo anual do produto será definido em termos do âmbito do projecto em
consideração. O tamanho do mercado pode ser avaliado pelo nível do consumo do produto numa dada
cidade, país, grupo de países ou no mundo inteiro ou, alternativamente, em segmentos bem definidos de
clientes com determinadas características.
A acrescentar ao tamanho global do mercado, é importante ter claro o estádio de desenvolvimento do
mesmo.
Existe um padrão natural de evolução para a maior parte dos mercados e o estádio do ciclo em que o
mercado se encontrar irá afectar significativamente a estratégia de negócio que deve ser adoptada.
As fases típicas podem ser sumarizadas como se segue:
• Embrionário
• Crescimento
• Maturidade
• Declínio
Para ter dados mais concretos, procure as associações empresariais e outras que analisam e acompanham os
mercados relevantes para a sua ideia/produto. Procure publicações especializadas. Peça às Entidades
Financeiras com que trabalha para lhe fornecerem informação pública sobre esse mercado e as Empresas
que nele se movimentam. Se a dimensão do projecto o justificar, envolva Empresas de Estudos e Análise
de Mercado e faça análises específicas para este caso.
Garanta que a fundamentação que apresenta é sustentada em factos e, sempre que possível, em dados de
mercado criados por entidades credíveis.
A análise do mercado subjacente é essencial para dois efeitos:
• Fundamentar a viabilidade base da ideia/produto em causa;
• Traduzir o conhecimento específico dos promotores sobre o mesmo, um dos factores mais
fundamentais para os potenciais investidores.

A Nova Ideia e o seu Posicionamento no Mercado


Esta é uma apresentação sumária do negócio proposto e dos executivos que estão a fazer a candidatura ao
financiamento. O objectivo é dar confiança aos potenciais financiadores, fazendo-os crer que este é um
negócio financeiramente sustentável e que os executivos possuem as necessárias qualificações empresariais
e de gestão.
Qualquer parceiro/financiador tem de avaliar primordialmente três aspectos não financeiros da sua ideia:
• O produto/serviço e o seu mercado;
• Os recursos físicos e de produção necessários;
• A capacidade de gestão do negócio dos promotores.
Essencialmente, o avaliador tentará perceber se a equipa terá capacidade para transformar a nova ideia em
vendas que possam gerar a margem prevista.
A informação fornecida deverá incluir um sumário dos mais recentes resultados comerciais (para casos de
expansão), o estatuto legal do negócio previsto ou existente, um organigrama e a biografia dos executivos
realçando as experiências mais relevantes para o projecto em avaliação e os objectivos da empresa.
Se estamos a falar de um Start-up Plan não é, obviamente, possível basear a credibilidade e solidez no
histórico da empresa. Neste caso, será necessário colocar o ênfase no percurso dos seus sócios fundadores,
na sua capacidade para assumir os riscos decorrentes daquilo a que se propõem e para a implementação dos
planos definidos.
Se puder usar referências pessoais relevantes, indique-as garantindo que obtém antecipadamente a
autorização para tal.

O Projecto / Produto / Ideia


Resumo do projecto e sumário das actividades a serem desenvolvidas
Esta secção deve descrever duma forma curta mas completa o estádio de desenvolvimento do projecto,
sobretudo dos principais objectivos já atingidos.

ATAAAF – RA2 18/24


ATAAAF – RA2

A ênfase deverá ser dada ao produto/serviço, incluindo temas como patentes e/ou licenças, bem como a
uma descrição exacta do processo produtivo.
Todas as actividades necessárias ao lançamento do produto devem estar descritas e, por cada actividade,
todas as acções necessárias. Este último item é de crucial importância, uma vez que esta é uma das áreas
onde os intervenientes tendem a ser demasiado optimistas, levando a que se subestimem os custos
envolvidos e/ou o tempo de desenvolvimento.
É essencial ser realista e ter em conta todas as possíveis dificuldades, para que estes factos possam ser
traduzidos nas projecções financeiras.
Como exercício de reflexão, e apesar de poder não ser explícito no plano de negócios, será aconselhável
para cada actividade ou acção estabelecer os intervenientes de quem estes dependem (no caso de recursos
externos), definir os possíveis constrangimentos, e como deverá cada um agir nesse contexto. Por outro
lado, deve ser considerado o tempo alocado a cada actividade, com e sem constrangimentos, e considerado
como tempo efectivo a soma dos dois.
Reserve sempre algum tempo e esforço adicional (20% do total) para problemas e desvios não previstos – a
chamada margem de risco de implementação.

Motivação e objectivos dos intervenientes no processo


O desenvolvimento de um projecto é com frequência comparado ao nascimento e crescimento de uma
criança. Se não lhe for dado amor nos bons e maus momentos não será possível obter o resultado desejado.
Normalmente, quando um projecto começa, só tem um activo: as pessoas que o promovem e a sua
motivação e força de vontade.
A motivação com que cada interveniente enfrenta o projecto e, em particular, o tempo que deseja atribuir-
lhe, são variáveis importantes para o sucesso do mesmo.
Os factores de motivação variam muito e podem resultar de afinidades com o projecto, da experiência
profissional, do conhecimento de mercado, da possibilidade de ganhar mais dinheiro e de considerações
pessoais de vária ordem como sejam da possibilidade de ser útil, da possibilidade de ser independente (não
ter de responder a um patrão), da possibilidade de criar empregos, etc.
Normalmente, é a complementaridade das várias motivações dos empreendedores que acaba por sobressair
ao longo do tempo e permitir o sucesso do mesmo.
Para minimizar problemas futuros, deixe claros, nesta secção, os níveis de envolvimento efectivos de cada
um dos promotores, o papel previsto, etc.

Pontos críticos no desenvolvimento do projecto

Devem ser, depois, mencionados os aspectos críticos do desenvolvimento do projecto ou seja, os aspectos
que podem condicionar o desenvolvimento do mesmo.
A reflexão sobre os pontos críticos permitirá antecipar as acções necessárias e os recursos que deverão ser
mobilizados, reduzindo o risco associado ao projecto. Por exemplo, se o fornecedor de determinado
material é fundamental para a empresa garantir o prazo de entrega ao cliente, isso torna-o diferente dos
outros fornecedores. Deve-se tentar conseguir uma parceria com o fornecedor ou tentar encontrar uma lista
de fornecedores alternativa que possam garantir o cumprimento dos prazos.
Por outro lado, a análise dos pontos críticos deve permitir que os promotores se preparem, mesmo que não
seja por escrito, para planos de contingência (ou seja, como agir se surgirem situações inesperadas), de
forma a minimizar os riscos do projecto.

O Produto / Serviço

Esta é, provavelmente, a secção em que o promotor está mais à vontade e o leitor menos familiarizado.
Devem ser feitos todos os esforços para explicar a tecnologia envolvida em termos simples e para explicar
a Proposta Única de Valor da invenção ou ideia. Esta preocupação é transversal ao Plano de Início de
Actividade, Plano de expansão e de Mudança de Actividade.

ATAAAF – RA2 19/24


ATAAAF – RA2

Esta secção deve responder a questões relacionadas com “o que é o produto ou serviço”, e “porque é que
todos o vão comprar”.

A Produção

No caso de produtos que implicam a existência de um processo produtivo físico, com materiais, máquinas,
etc., este processo deve estar detalhado em todas as componentes essenciais para o arranque e/ou
lançamento do projecto.
A produção pode implicar compromissos significativos com investimento de capital para espaço e
equipamentos, o que pode obrigar a financiamentos elevados.
Para uma pequena empresa ou associação, isto pode implicar riscos demasiado elevados que podem tornar
o projecto não atractivo para os potenciais financiadores.
É possível reduzir o capital exigido através de sub-contratação de produção a outras empresas e através de
instrumentos financeiros de aquisição/aluguer de certos tipos de equipamento e maquinaria. No entanto,
estas estratégias devem ser ponderadas contra a necessidade de se conseguir um nível de produção
suficientemente elevado e de qualidade, por forma a satisfazer os clientes. Os potenciais investidores irão
querer comprovar que foi conseguido um bom compromisso entre a contenção do capital necessário e as
soluções escolhidas, e analisar se estas soluções poderão originar problemas na produção e no
fornecimento de matéria prima quando a empresa começar a operar.
O plano deve identificar que mecanismos de controlo de produção estão previstos em áreas fundamentais
como o nível de stocks, matéria-prima e produto acabado.
Todos os custos associados à produção têm de ser claramente reflectidos nas projecções do Plano de
Negócios, de forma a produzir projecções de cash-flow fiáveis que resultam num plano sólido e adequado.
Em anexo ao plano de negócios e relativamente a esta secção, devem ser incluídas descrições técnicas
relevantes e licenças/patentes, quando aplicável.
• Será você a produzir o produto ou irá subcontratar esse trabalho?
• Qual é exactamente a maquinaria necessária e qual é o seu custo?
• Temos uma definição clara do processo produtivo?
• Quais são os custos de produção?
• Qual a quantidade de matéria-prima que tem de ser adquirida, será ela armazenada ou comprada?
Quais são os seus fornecedores? Que relações tem previstas com eles?
• Qual é o tempo de entrega após a ordem de compra?

Estratégia Comercial

Após termos definido claramente nas secções anteriores a Proposta Única de Valor do projecto, dever-se-
á demonstrar como a empresa pensa apresentá-la ao mercado.
O primeiro passo essencial e óbvio é estabelecer um preço para o produto. Se este é completamente novo,
isto poderá causar algumas dificuldades. No entanto, é normalmente possível determinar um preço com
base no valor acrescentado que o produto irá oferecer ao seu consumidor.
Agregando todos os custos associados à produção, marketing e distribuição do produto numa base unitária
criamos o valor mínimo para o produto. Este é o valor a partir do qual devemos depois estabelecer o valor
final com base em margens típicas de mercado ou análises de valor acrescentado percebido pelo Cliente.
Após definida a estratégia de Marketing, deverão ser definidos e implementados os circuitos e canais de
vendas que são a base do processo de comunicação com o potencial comprador.
Os elementos essenciais deste tipo de estratégias incluem:
• A identificação de um leque suficientemente grande de potenciais clientes;
• A criação de segmentos de clientes alvo, de acordo com critérios de segmentação a definir caso a
caso;
• A escolha dos canais que deverão ser explorados: directos como Vendedores, Canal Telefónico ou
Lojas
• Próprias ou indirectos como alianças com parceiros de distribuição, etc;

ATAAAF – RA2 20/24


ATAAAF – RA2

• Desenvolvimento dos elementos de Imagem e Comunicação;


• Desenvolvimento de uma Estratégia de Vendas eficaz, antecipando argumentos contra as
resistências e as objecções;
• Montagem e Formação das Forças de Vendas;
• Identificação das acções de Marketing relevantes.
Deverá assim ser criado um plano que contemple as acções a desenvolver, as forças de vendas a envolver,
os distribuidores, os agentes, formas de aconselhamento e a produção de meios publicitários adequados. A
gestão e monitorização deste plano tem de ser efectiva, por forma a assegurar que são executadas as acções
em causa, com a periodicidade certa, e que os resultados são devidamente alcançados.

2.5.2. Elementos financeiros do plano de negócios


Os elementos financeiros de um plano de negócios são basicamente os seguintes:
• Plano de investimento;
• Plano de financiamento;
• Balanço inicial;
• Conta de exploração provisional;
• Orçamento provisional de tesouraria.

Plano de Investimento

O plano de investimento corresponde à inventariação e avaliação dos elementos necessários para o


arranque da empresa. Os empréstimos obtidos são, frequentemente, função do plano de investimento e não
há nada pior que descobrir, durante a fase de arranque do negócio, que a dimensão financeira do
investimento foi calculada insuficientemente.
Os montantes incluídos no plano de investimento devem reflectir os preços reais
(incluindo o IVA) no momento do pagamento.
Estes montantes correspondem, de uma forma simplificada, ao somatório das seguintes despesas:
a) Investimento em capital fixo corpóreo;
b) Investimento em capital fixo incorpóreo e despesas plurianuais;
c) Fundo de maneio;
d) Imprevistos.

Cálculo das imobilizações corpóreas


Os edifícios, os equipamentos básicos, de transporte e administrativos, por exemplo, constituem elementos
corpóreos indispensáveis ao arranque e funcionamento normal da empresa, que acarretam necessariamente
despesas de investimento. O cálculo do montante respectivo poderá ser obtido, com alguma segurança,
listando, exaustivamente, todos os elementos que integram o activo fixo corpóreo da futura empresa,
pedindo orçamentos aos fornecedores (relativamente a investimentos em que tal se justifique) e fazendo
um cálculo aproximado para as restantes despesas.

Cálculo das imobilizações incorpóreas e despesas plurianuais


Integram-se aqui as despesas relativas à constituição da empresa (elaboração de estatutos, declarações,
registos e publicações) e ainda as correspondentes a trespasses, estudos e projectos, campanhas de
lançamento de novos produtos, patentes, marcas, alvarás, licenças, etc. As despesas plurianuais decorrem,
numa primeira instância, das despesas de coordenação e de fiscalização do projecto, mas também da
obrigatoriedade de pagamento de juros e de amortização dos empréstimos contratados.

Cálculo do fundo de maneio


A regra do equilíbrio financeiro mínimo é satisfeita quando o grau de liquidez das aplicações é, pelo
menos, igual ao prazo de exigibilidade dos fundos utilizados no seu financiamento, ou seja, quando o
capital ou activo circulante - que corresponde ao somatório do disponível, realizável a curto prazo e

ATAAAF – RA2 21/24


ATAAAF – RA2

existências, ou seja, aos elementos patrimoniais directamente ligados ao ciclo de exploração da empresa e
que, por isso, circulam incessantemente no seu interior - é igual ao exigível a curto prazo.
Contudo, esta regra não contempla a eventual ocorrência de rupturas na rotação dos elementos integrantes
do capital circulante, que venham a comprometer a liquidação do exigível a curto prazo na data do
respectivo vencimento, como, por exemplo, o atraso no recebimento de um crédito, o desencadear de uma
greve, etc.
Desta maneira, e no sentido de evitar as consequências resultantes dos desequilíbrios provenientes de
eventuais rupturas na rotação do capital circulante, não acompanhadas da automática readaptação do grau
de exigibilidade do passivo de curto prazo, imperiosa se torna a existência de uma margem de segurança.
O Fundo de Maneio é, em suma, a parcela de capitais permanentes que financia capitais circulantes, ou
seja, a margem de segurança de tesouraria advém do facto de um determinado montante do capital
circulante, com um grau de liquidez geralmente de curto prazo, ser coberto financeiramente por capitais
permanentes, caracterizados por um prazo de exigibilidade superior.
Embora na prática seja vulgar identificar o Fundo de Maneio com a Reserva de Segurança de Tesouraria, o
empresário deve estar consciente de que não significam o mesmo, já que o Fundo de Maneio é constituído
pela Reserva de Segurança de Tesouraria, pelo crédito concedido a clientes e pelas existências ao que se
subtrai o crédito obtido de fornecedores.
O Fundo de Maneio corresponde ao montante necessário para assegurar a actividade normal da empresa e
calcula-se do seguinte modo:
Reserva de Segurança de Tesouraria + crédito concedido + existências – crédito obtido de fornecedores
A Reserva de Segurança de Tesouraria representa o volume mínimo de disponibilidades necessário para a
empresa enfrentar, sem dificuldades, eventuais atrasos na ocorrência dos seus recebimentos e/ou
antecipações forçadas dos seus pagamentos. O crédito concedido representa o volume de meios financeiros
imobilizados na empresa, como resultado de as suas vendas não se efectuarem a pronto pagamento. Trata-
se, portanto, de crédito concedido a Curto Prazo, insusceptível de titulação ou, quando titulado, de difícil
mobilização imediata junto da banca comercial ou de sociedades de factoring.
Tratando-se de uma empresa comercial a rubrica crédito concedido é normalmente diminuta. Contudo, tal
premissa nem sempre é verdadeira. Veja-se por exemplo o caso de uma empresa de comércio por grosso
que tenha como clientes exclusivamente outras empresas. As existências (mercadorias) representam
normalmente um valor muito elevado.

Imprevistos
Independentemente do rigor do cálculo das rubricas anteriores, situações não previstas inicialmente, podem
alterar o montante global das necessidades de investimento. Estas situações prendem-se com desvios
qualitativos decorrentes de deficiências registadas nos projectos de instalação, na implantação dos
equipamentos, nas previsões relativas ao fundo de maneio, etc.

Plano de Financiamento
Determinado o montante do investimento necessário, haverá que reunir os meios financeiros, designados
por capitais, indispensáveis à sua cobertura. Esta operação deve realizar-se através da elaboração de um
plano de financiamento, o que corresponde à elaboração de um mapa de origem e aplicação de fundos. A
boa ou má estrutura financeira de uma empresa é geralmente consequência do modo como os seus bens
activos são financiados.
Antes de efectuar uma escolha entre os diferentes meios de financiamento que se podem apresentar à
empresa, o empresário não se deve esquecer que uma boa gestão exige que se pratique o princípio da
racionalidade económica, isto é, que se minimizem os meios para atingir os mesmos objectivos. Ora, neste
caso, os meios postos à disposição da empresa são os capitais, logo a sua utilização deve ser racional pois,
quer eles pertençam aos sócios ou accionistas, quer sejam emprestados, há que pagar dividendos ou
encargos financeiros.
De um modo geral, são os capitais próprios que devem cobrir os riscos da empresa e não os capitais
alheios, mesmo a longo prazo. Os empréstimos a médio e longo prazo dependem do cash-flow futuro da
empresa e podem ser considerados como uma antecipação à actividade da empresa. É então necessário que,

ATAAAF – RA2 22/24


ATAAAF – RA2

aquando do recurso a este tipo de financiamento, nos asseguremos primeiro da rentabilidade da operação
em causa e da possibilidade de gerar fundos suficientes que assegurem os pagamentos dos encargos fixos e
do reembolso do capital emprestado, segundo os prazos fixados. Numa primeira fase, quando a empresa se
encontra em constituição e arranque, todos os capitais (à excepção do capital social) são alheios à empresa,
já que esta, de per si, ainda não teve actividade e, portanto, não gerou qualquer receita.
Numa segunda fase, os meios de financiamento podem ser:
• Próprios da empresa (auto-financiamento);
• Exteriores.
Como vimos, o auto-financiamento representa o financiamento da empresa por ela própria, isto é, pelos
recursos financeiros que são libertos durante o seu funcionamento, e constitui um complemento
indispensável aos pedidos de empréstimos, pois as entidades financiadoras não aceitam correr a totalidade
dos riscos. Contudo, não nos devemos esquecer que o auto-financiamento tende a reduzir os dividendos
distribuídos, diminuindo, por isso, a rentabilidade dos investimentos efectuados pelos sócios/accionistas.
Ele deve ser usado com parcimónia.
Os meios financeiros exteriores à empresa podem tomar diversas formas, como por exemplo: aumento do
capital social, empréstimos a médio e longo prazo, que podem revestir a forma de empréstimos bancários
ou obrigacionistas, empréstimos de sócios, leasing, créditos a curto prazo, etc.
Em termos contabilísticos, podemos encontrar o capital próprio subdividido em:
• Capital social;
• Prestações suplementares;
• Reservas (de reavaliação, obrigatórias, especiais e livres);
• Resultados transitados.
E as dívidas a terceiros constituídas por:
• Crédito de fornecedores;
• Empréstimos bancários e obrigacionistas;
• Empréstimos dos sócios.

Balanço
O balanço, que é um documento estático, constitui para os economistas o "retrato" da situação económica e
financeira da empresa num dado momento. Poder-se-á dizer, também, que o balanço mostra de onde vem o
dinheiro da empresa (origens de fundos) e para onde vai (aplicações de fundos). Num balanço inicial da
empresa os elementos são pouco numerosos correspondendo as aplicações de fundos – ou seja, o Activo -
às despesas de estabelecimento (imobilizações incorpóreas) e aos investimentos corpóreos necessários ao
arranque da empresa e as origens de fundos (Capital Próprio + Passivo) aos capitais próprios e créditos dos
fornecedores.

Conta de Exploração Provisional


Representando o cálculo dos proveitos e dos custos da empresa para um dado período e permitindo prever
os resultados do projecto, a conta de exploração provisional é um documento indispensável do plano de
negócios. Esta peça contabilística, elaborada geralmente para um período de um a três anos, pode
igualmente ser utilizada como instrumento de gestão financeira após o arranque da empresa.
Neste caso, a sua periodicidade deve ser mensal, o que possibilita detectar mais rapidamente certas
anomalias como, por exemplo, uma baixa alarmante das vendas ou um aumento exagerado dos custos e
tomar as medidas correspondentes (aumentar a prospecção de clientes, diminuir certos encargos, etc.).
Tratando-se de um documento provisional é aconselhável que os cálculos sejam feitos em contos,
conseguindo-se assim uma leitura mais fácil com um grau de pormenorização suficiente. Os dois modelos
aqui apresentados são-no a título de exemplo e destinam-se a permitir ao futuro empresário ter uma
visualização simples dos custos e proveitos da sua empresa.

ATAAAF – RA2 23/24


ATAAAF – RA2

Orçamento Provisional de Tesouraria


Conhecida a previsão dos proveitos e dos custos surge agora a necessidade de conhecer os fluxos de
entrada e de saída de dinheiro, ou seja, de prever os montantes correspondentes aos recebimentos e aos
pagamentos. Essa previsão consegue-se através do orçamento provisional de tesouraria, cujo papel é o de
permitir ao empresário saber se a empresa vai gerar meios financeiros suficientes para liquidar as dívidas
que se vão vencer. As receitas e despesas relativas ao negócio surgem quase sempre de um modo desfasado
e por tal motivo é impossível calcular médias mensais a partir do montante previsto para as vendas anuais,
sobretudo se a actividade é sazonal. Por outro lado, o empresário vai ter que pagar os fornecimentos, os
salários, os encargos financeiros, etc., nos prazos acordados, independentemente da evolução das vendas.
No orçamento de tesouraria provisional, que deverá ser elaborado para um período mínimo de um ano de
actividade, inscrevem-se mês a mês ou eventualmente semana a semana, o saldo financeiro inicial, todos os
pagamentos que devem ser efectuados e todos os recebimentos previstos.

As notas que se seguem poderão ajudar na elaboração deste documento contabilístico:


1. Saldo financeiro no primeiro dia do mês: corresponde ao dinheiro existente em caixa e aos
depósitos bancários à ordem;
2. Recebimentos de vendas (IVA incluído): deverá fazer-se um cálculo aproximado dos montantes a
receber provenientes das vendas, tendo em consideração o Prazo Médio de Recebimentos;
3. Outras receitas: outros recebimentos esperados, designadamente, um empréstimo que ainda não
foi liberado, a venda de um carro ou de uma máquina, etc.
A análise do orçamento de tesouraria permite verificar se existem meses com “descobertos de tesouraria”,
calcular dos montantes financeiros necessários para cobrir essas situações e construir um saldo normal de
disponível. Com base no orçamento provisional de tesouraria é possível estudar as formas de
financiamento mais convenientes, em termos de tipos de financiamento, montantes e prazos.

ATAAAF – RA2 24/24

Você também pode gostar