Você está na página 1de 5

RESUMO: As Resoluções Resultantes do Acordo de Basiléia III no Brasil

Autoria: Felipe Vassoler de Lima Teixeira

● O Comitê de Supervisão Bancária de Basileia (BCBS) foi criado dentro do BIS


(Bank for International Settlements) a fim de estabelecer normas focadas na aumentar
a resiliência das instituições financeiras para garantir a estabilidade do sistema
financeiro global, prevenindo crises e protegendo consumidores e investidores. Esse
comitê emite Acordos (Acordo de Basiléia) desde 1988 para:
- Obrigar as instituições financeiras do mundo todo a manterem níveis mínimos
de capital para arcar com os riscos ligados às suas operações de empréstimo e
investimento.
- Fazer instituições financeiras levarem em consideração alterações nas
condições econômicas de cenários futuros para fazer avaliações de créditos
individuais e de suas carteiras e avaliar o quão expostas ao risco estariam em
condições de estresse.

● Tipos de Riscos:
- Risco de Mercado: possibilidade de perdas ligadas à flutuações nos preços
dos ativos (commodities, moedas, títulos)
- Risco de Liquidez: risco de uma instituição não-cumprimento de obrigações
financeiras em prazo acordado
- Risco de Crédito: risco de um agente não pagar o que deve em uma transação
financeira, como em empréstimos ou títulos

● Principais Componentes de Modelos de Cálculo do Risco de Crédito:


- Probabilidade de Inadimplência(PD - probability of default): chance de
um cliente PF ou PJ se tornar inadimplente durante o tempo de exposição ao
crédito, a qual é calculada por meio de ratings e modelos como regressão
logística e análise de sobrevivência que levam em consideração fatores como
função do histórico de crédito, condição da economia e do setor específico e
outras variáveis que podem afetar a capacidade do devedor de cumprir sua
obrigação contratual.
- Exposição na Inadimplência (EAD - exposure at default): montante de
recursos comprometidos em um empréstimo ou qualquer outro produto de
crédito no momento em que o devedor se torna inadimplente, sendo dada
pelos limites do devedor, garantias ligadas ao contrato dele, etc.
- Perda em Caso de Inadimplência (LGD - loss given default): corresponde à
proporção representada pelas perdas decorrentes da inadimplência em relação
ao valor total do crédito, podendo ser calculada em função de preços de
mercado ou valor do fluxo de caixa descontado e da qualidade do crédito.

● O Acordo da Basiléia III (2010) surgiu após 2008, ano em que veio à tona a crise
decorrente de empréstimos subprime nos EUA, com o objetivo de estabelecer critérios
mais restritos para o capital e a liquidez das instituições financeiras a fim de melhorar
a gestão dos riscos, prevenir novas crises e incentivar a estabilidade financeira em
escala global.

● No cenário brasileiro, o Acordo da Basiléia III foi refletido pela atualização das
normas regentes das abordagens padronizada e IRB. A abordagem padronizada foi
revista pela Resolução 229/2022 e a abordagem IRB, pela Resolução 303/2023. O
foco do presente resumo são informações sobre a Resolução 303/2023, logo, julga-se
conveniente introduzir brevemente a abordagem IRB abaixo.

● Abordagem Padronizada de Cálculo do Capital Regulamentar: abordagem em


que as instituições financeiras usam classificações de risco de crédito que são
definidas pelo regulador (no caso do Brasil, o BCB) para atribuir o grau de exposição
do crédito às classes de riscos, com uma ponderação de risco de crédito específica
para cada tipo distinto de ativo, de modo que o requisito de capital final é dado pelo
produto do montante exposto ao risco pela ponderação de risco correspondente ao tipo
do ativo.

● Abordagem IRB de Cálculo do Capital Regulamentar (Internal Ratings-Based):


os modelos IRB basicamente utilizam informações que vem do sistema interno de
cada banco sobre a classificação de risco dos devedores, os quais estão divididos por
faixas de risco, para alimentar a fórmula que é utilizada para calcular o capital
regulamentar relacionado ao risco de crédito - o qual, por sua vez, é usado como base
para cálculo do máximo de risco e de endividamento que uma instituição é autorizada
assumir.
- Para esse cálculo, emprega-se um modelo VaR(Value at Risk) de Crédito, com
IC de 99,9% e o período de um ano, onde VaR será dado pelo produto entre o
valor total da carteira de ativos de crédito, o z-score relativo ao intervalo de
confiança e o desvio-padrão das perdas dos ativos da carteira de crédito (o
cálculo desse desvio-padrão envolve o vetor de pesos relativos de cada ativo
na carteira em relação ao total dela e a covariância entre as perdas de crédito).

- Vantagem: por levar em consideração parâmetros internos de cada instituição,


como a Probabilidade de Inadimplência(PD, probability of default) e a Perda
Dada Inadimplência(LGD, Loss Given Default), a IRB permite que a
estimação do risco de crédito da carteira de clientes de cada instituição seja
mais precisa e os requisitos de capital sejam melhores alinhados ao risco de
crédito individual da instituição financeira.

- Desvantagem: a IRB depende da aprovação do BCB (regulador local) para


que possa ser utilizada e é muito mais complexa de ser implementada porque
exige que a instituição que a use tenha mais recursos e dados para alimentar os
cálculos de risco de crédito, o que aumenta os custos de conformidade
regulatória. Devido à alta PD dos bancos brasileiros, pesquisadores
(SCHECHTMAN, 2003 & YANAKA, 2009) explicam que a metodologia IRB
leva à adesão de exigências ainda mais conservadoras do que os próprios
requerimentos regulatórios brasileiros e, por meio de simulações, concluem
que ela não traz economia de capital.

● Mudanças feitas na Abordagem Padronizada pela Resolução 229/2022:


- Aumento do número de Fatores de Ponderação de Risco (FPR) → ao invés
dos antigos FPRs de 20, 50 e 100%, a nova resolução permite a categorização
das instituições financeiras em 3 diferentes níveis de risco (A, B e C) e em
FPRs que variam de 20% a 150%, aumentando a especificidade permitida para
avaliação dos fatores de risco.
- Diminuição de 85% para 65% do FPR de PJ não financeira de direito privado
que apresenta baixo risco de crédito.
- Ajuste de Avaliação de Crédito (CVA) passa a ser contabilizado na parcela de
risco de mercado ao invés daquela de risco de crédito.

● Mudanças feitas na Abordagem IRB pela Resolução 303/2023:


- Introdução da possibilidade de uso parcial da abordagem IRB → ao invés de
ter que decidir ou não pelo uso da IRB para todos os ativos com os quais a
instituição financeira trabalha, a nova resolução permite que a instituição
escolha qual abordagem (padronizada ou IRB) usar para cada categoria de
ativos (ou seja, por nível de seu portfólio), permitindo que as instituições
tomem essa decisão de modo a maximizar a eficiência e otimizar o capital
delas.
- Criação de pisos para alguns parâmetros → PD agora tem piso de 0.05%

Referências

BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS. Basel II: International Convergence of


Capital Measurement and Capital Standards: A Revised Framework - Comprehensive
Version. Basiléia, 2006.

BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS. Basel III: A global regulatory


framework for more resilient banks and banking systems. Basiléia, 2010.

OLIVEIRA, G. C.; FERREIRA, A. N. Basileia III: Concepção e implementação no Brasil.


Revista Tempo do Mundo, v. 4, n. 1, p. 115-146, 2018. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/revistas/index.php/rtm/article/view/4. Acesso em: 2 abr. 2023.

SCHECHTMAN, R. VIII – Simulação dos Efeitos de Basiléia II (IRB) para


Requerimentos de Risco de Crédito Utilizando Dados da Central de Risco. Economia
Bancária e Crédito, p. 78, 2003.

TSUBAKI, E. Basileia III e a implementação de sistemas internos de classificação do


risco de crédito no Brasil: Uma avaliação dos benefícios e desafios. São Paulo, 2023.
YANAKA, G. M. Modelo Interno de Risco de Crédito de Basiléia II: Possíveis impactos
no capital mínimo exigido dos bancos. Tese (Doutorado), 2009.

Você também pode gostar