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Políticas de crédito,

classificação de risco e
retorno em carteiras de créditos
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SUMÁRIO
O risco de crédito e as políticas de crédito ....................................................... 3

As políticas de crédito e os efeitos na gestão do risco de crédito ..................... 4

Análise de ambiente e tendências, e sua importância em políticas de crédito .. 5

Fundamento dos modelos de avaliação do risco de crédito ............................. 7

O negócio bancário e o retorno sobre o capital econômico ajustado ao risco


(Raroc) ....................................................................................................... 10

Exemplos e estudos de caso em crédito ........................................................ 12


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POLÍTICAS DE CRÉDITO, CLASSIFICAÇÃO DE RISCO E RETORNO EM


CARTEIRAS DE CRÉDITOS

O risco de crédito e as políticas de crédito

Às vezes, nos deparamos com propagandas de instituições financeiras


oferecendo crédito para diferentes públicos, chegando até a oferecer aos clientes com
restrições financeiras. Nós temos discutido, desde o início de nossas aulas, sobre o risco
de crédito e a importância de realizar uma análise de risco de crédito criteriosa para
evitar perda de capital em operações. Além disso, vimos que conceder crédito
corresponde a um investimento, e como todo investimento deve haver uma taxa de
retorno associada. Mas como entender uma instituição financeira que oferece crédito
para pessoas que possuem alto risco de crédito e até mesmo para aqueles com histórico
de default?

A resposta está na estratégia adotada pela instituição. A definição estratégica


da instituição diz muito sobre seu posicionamento e sua compreensão acerca das
características de seus clientes tomadores. O credor, vislumbrando uma taxa de retorno
no investimento em crédito, busca identificar oportunidades no mercado levando em
consideração os fatores econômicos, concorrenciais e culturais, e se posiciona de tal
forma que sua especialização otimiza o desenvolvimento de produtos específicos a
determinados segmentos. O credor passa a entender o comportamento do público-alvo,
a usar a mesma linguagem e a oferecer os produtos necessários por meio de uma
relação mais pessoal, exigindo, ao mesmo tempo, uma taxa de retorno equivalente ao
risco de crédito do tomador.

Nesse contexto, o credor estrutura toda a operação em crédito com vistas


ao perfil de tomador-alvo. A necessidade de formalizar os procedimentos e
diretrizes operacionais conduz à elaboração da política de crédito da empresa.
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Evidências de mercado

Considerações sobre as políticas de crédito de um dos


maiores bancos do país:
As políticas de crédito e risco de crédito visam a assegurar
uniformidade nas decisões, aperfeiçoar a administração do
risco de crédito, garantir a integridade dos ativos de crédito
e dos níveis adequados de risco e perdas, e elevar os
padrões de qualidade e o resultado do banco. As principais
políticas de crédito e risco de crédito adotadas pelo banco
tratam do retorno ajustado ao risco, dos limites máximos de
concentração, dos percentuais máximos de
comprometimento do patrimônio de referência, do processo
de análise de risco de crédito e do deferimento de operações
e de auditoria dessas práticas.

A política de crédito é um instrumento orientador dos termos e das


condições de uma operação de crédito, pela qual se estabelecem os critérios
qualificadores dos tomadores e as características dos produtos e serviços
oferecidos. Importante dizer que a política de crédito normatiza a concessão de crédito,
mas não concede o crédito; conduz a operação para o objetivo desejado, mas não é o
objetivo em si; rege a decisão do crédito, mas não decide.

Portanto, a política de crédito compreende as normas operacionais, a estratégia,


os objetivos a serem alcançados, as decisões, os limites de crédito, a análise de crédito
e a administração e controle do risco de crédito.

Por fim, cabe destacar que a política de crédito norteia cada etapa do ciclo de
crédito, discutidas na Unidade 1, e não é possível esperar uma operação bem-sucedida
em crédito sem o amparo de uma política de crédito bem definida.

As políticas de crédito e os efeitos na gestão do risco de crédito

A política de crédito adequada depende de aspectos inerentes à empresa e ao


mercado de atuação. Não há uma política de crédito que atenda a diversas empresas.
De acordo com a maturidade dos processos e o momento vivido pela empresa,
diferenças serão encontradas nas suas políticas.

A política de crédito está intimamente ligada com as aplicações de recursos de


natureza operacional, representando frequentemente a parcela mais expressiva dos
ativos de uma instituição financeira. Além disso, a política estabelece o nível máximo de
risco aceitável na carteira, ou seja, o apetite do credor a riscos.

O apetite a riscos corresponde ao nível e tipo de risco a que o credor está


disposto a
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expor sua operação para atingir os objetivos definidos na política de investimento e


posicionamento de mercado. O apetite é motivado por diversos fatores, dentre eles a
avaliação da exposição ao risco vis-à-vis a estratégia, o controle de concentração da
carteira por tomador, os índices de liquidez, a meta de solvência, dentre outros.

Curiosidade
Reporte de apetite a riscos de um dos maiores bancos do país:
O apetite a riscos da organização é definido pelo conselho de
administração, que é subsidiado por um comitê, sendo
controlado por diversos limites de riscos. O apetite a riscos está
alinhado à estratégia da organização, demonstrando o
engajamento da estrutura de governança na sua definição e
acompanhamento. O processo de acompanhamento dos riscos
é corporativo, sendo considerado desde o processo
orçamentário da organização.

A política de crédito formaliza os parâmetros e processos para a realização de


vendas a crédito e em operações bancárias. A partir dos elementos fundamentais para
a concessão e o monitoramento do crédito, a política torna a gestão do risco da carteira
mais ou menos desafiadora, a depender do esforço necessário para analisar e
acompanhar cada perfil de tomador.

Uma política de crédito pode ser mais expansiva ou mais restritiva, e


alterações no rigor da política impactam a contribuição marginal sobre o lucro
total da operação. Diante disso, a contribuição marginal deve sempre ser positiva para
satisfazer o racional de maximização do retorno sobre o investimento.

As variações nos padrões de concessão tendem a gerar mudanças no volume


de vendas ou na demanda por contratos e, por consequência, produzir mudanças na
perda financeira esperada com os tomadores de crédito.

Análise de ambiente e tendências, e sua importância em políticas de crédito

O ambiente de mercado é a combinação das condições econômicas,


geográficas e culturais, bem como das decisões de governo e de regulação e da
concorrência. Um ambiente imprevisível eleva o risco de crédito dos tomadores e,
consequentemente, o risco das carteiras.

As empresas precisam de uma perspectiva econômica estável a fim de elaborar


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e oferecer produtos e serviços para o mercado. Em economias em que a taxa básica de


juros, a inflação, a taxa de crescimento da atividade econômica, dentre outros, apresenta
instabilidade ao longo do tempo, mais restritiva tende a ser a política de crédito dos
credores.

Exemplo de mercado

Efeitos da perspectiva econômica em uma grande


operação de varejo no Brasil:
Com base nos níveis históricos de inadimplência e nas
incertezas do contexto macroeconômico (inflação,
taxas de juros, cenários de retração nas linhas de
crédito, nível de emprego, massa salarial, etc.),
consideramos a provisão para perdas em crédito como
uma estimativa contábil crítica, que requer julgamento
na constituição da provisão de perdas.

As decisões de governo e de reguladores de mercado definem a liberdade de


atuação das empresas e servem de alicerces ao ambiente econômico. Excesso ou falta
de controle das agências reguladoras, bem como a intervenção do governo nos
mercados, sensibilizam a oferta de produtos de crédito nos mercados. Como exemplo,
podemos citar uma restrição de capital imposta pelos reguladores de mercado às
instituições financeiras, a qual pode produzir uma retração do apetite a risco e diminuir
a oferta de crédito aos clientes mais arriscados. O resultado pode ser uma oferta menor
de capital para projetos de investimento de novas empresas, para clientes com menor
capacidade de comprovar rendimentos formais, operações de microcrédito, etc. Aliás,
um bom exemplo de uma decisão de regulação que acarreta em restrição de capital
para operações de crédito é decorrente do Acordo de Basileia, acolhido e aplicado no
mercado brasileiro pelo Banco Central do Brasil com o objetivo de dar mais segurança
ao sistema financeiro.

Saiba mais

O Comitê de Basileia tem o objetivo de melhorar a


qualidade da supervisão bancária em todo o mundo.
Trata-se de um conjunto abrangente de medidas
desenvolvidas para fortalecer a regulamentação, a
supervisão e o gerenciamento de riscos do setor
bancário.
https://www.bis.org/bcbs/

As características culturais e geográficas afetam a forma de atuação dos


credores e, muitas vezes, definem a sobrevivência da operação. Nos últimos anos,
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observamos que algumas instituições financeiras estrangeiras empreenderam grandes


esforços para atuar no mercado brasileiro, porém sem sucesso, vendendo seus ativos
no país ou simplesmente desativando suas operações. Os motivos em grande parte
estão relacionados com a dificuldade de as instituições oferecerem produtos e serviços
alinhados com a cultura local, considerando a grande dimensão geográfica brasileira e
seus contrastes. Estabelecer políticas de crédito sem um profundo entendimento da
cultura em cada região do país é uma tarefa desafiadora.

Associado a todos os aspectos já discutidos, há o efeito concorrencial na política


de crédito. Um provedor de crédito precisa entender como seus concorrentes operam,
seus pontos fortes e fracos, o segmento de mercado explorado e seus diferenciais. A
partir dessas identificações, o credor pode desenvolver uma política de crédito
competitiva com os demais participantes, explorando, também, mercados não
atendidos.

Fundamento dos modelos de avaliação do risco de crédito

Os modelos de avaliação de risco de crédito são usados para evidenciar o risco,


estimado em probabilidade, de um tomador ficar inadimplente e impor perda de capital
ao credor. Eles são usados em grande escala no mercado para discriminar os tomadores
de crédito.

Os modelos buscam evidenciar as variáveis significativas para a


identificação do risco de crédito dos tomadores, das quais podemos citar as
características intrínsecas do tomador, o comportamento de pagamento ao longo do
tempo, a capacidade financeira e os efeitos dos cenários micro e macroeconômicos nas
condições financeiras dos tomadores.

Os modelos de avaliação do risco são fundamentais para uma operação de


crédito, uma vez que todo tomador possui uma probabilidade de inadimplência, mesmo
aqueles indivíduos e empresas com elevadas receitas, baixos endividamentos e
comprometidos com as obrigações financeiras. Quando um credor define seu apetite a
risco de crédito, ele estima o percentual de perda financeira potencial que a carteira
pode incorrer para cada perfil de tomador. Nesse contexto, é estimado um percentual
de perdas para os tomadores mais arriscados e, também, para os menos arriscados, e
produtos de crédito são estruturados exigindo taxas de juros condizentes com
cada nível de risco.
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Essa explicação desconstrói o ditado popular segundo o qual os bons pagadores


pagam taxas de juros mais caras em seus contratos, pois pagam pelos maus pagadores.
Nenhum tomador de crédito pode ser considerado livre de risco, portanto, todos os
tomadores pagam taxas de juros condizentes com seu nível de risco. O ditado popular
só é verdade quando, por exemplo, um tomador com ótima avaliação de risco de crédito
aceita pagar a prazo por um bem em uma loja que vende essencialmente para clientes
com alto risco de crédito, como uma loja de itens populares. Nesse caso, o tomador de
baixo risco de crédito frequentemente paga uma taxa de juros correspondente a um
tomador de maior risco de crédito. Resumo da história, tomadores com boa classificação
de risco de crédito devem buscar operações de crédito em credores que cobram uma
taxa de juros correspondente ao risco do tomador.

Os modelos de avaliação de risco de crédito só conseguem fornecer bons


resultados, pois contam com processos estruturados de acesso e coleta das variáveis
relevantes. De posse dos dados, lançam mão de análises estatísticas e matemáticas
para elaborar modelos que estimam as probabilidades de default dos tomadores.

O processo estruturado de acesso e coleta dos dados está baseado nos Cs do


crédito. Isso mesmo, os Cs do crédito, que estudamos na Unidade 1, cumprem um papel
fundamental na concepção dos modelos de avaliação de risco de crédito utilizados no
mercado, pois são eles que norteiam a coleta das variáveis de risco e, de forma flexível,
permitem criar modelos de avaliação de risco de crédito adequados a cada perfil de
tomador.

Dentre os modelos mais utilizados de avaliação estão os modelos de


pontuação de risco de crédito, credit scoring; os modelos de classificação de
risco de crédito, credit rating; e os modelos de cadastro positivo. Isso mostra que
os Cs do crédito são muito mais interessantes do que costumamos pensar.

Classificação de crédito (credit scoring e credit rating)

O objetivo dos modelos quantitativos de pontuação de crédito, credit


scoring, é discriminar tomadores entre dois grupos: o grupo dos que são
susceptíveis a restituir a obrigação financeira assumida, ou seja, aqueles com baixa
probabilidade de default, e o grupo dos maus pagadores, que deve ter o crédito
negado por causa da alta probabilidade de descumprimento da obrigação financeira.

O primeiro modelo de pontuação de crédito aplicado em grande escala no


mercado, e muito usado até hoje, é o modelo de análise discriminante linear, um método
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paramétrico simples, porém muito funcional.

Já os modelos de classificação de risco de crédito, credit rating, realizam uma


análise profunda do perfil de risco do tomador com base nos aspectos contidos em cada
C do crédito. Como resultado, apresentam uma classificação de risco de crédito do
tomador frente a uma escala de probabilidade de default. Os modelos de
classificação de risco de crédito são, tradicionalmente, elaborados e aplicados no
mercado pelas agências de classificação de risco.

Agências de classificação de risco

As agências de classificação de crédito desempenham um papel importante no


mercado financeiro por meio da produção e distribuição de informações de risco de
crédito de tomadores aos participantes no mercado. Credores, investidores, emissores
e reguladores usam as informações fornecidas pelas agências em suas decisões. Por
exemplo, os ativos soberanos, emitidos pelo Tesouro Nacional, contam com a
classificação das agências para atrair investidores locais e estrangeiros. Do mesmo
modo, as classificações de empresas e produtos privados de crédito têm sido decisivas
para a atração de empresas e indivíduos dispostos a emprestar capital à iniciativa
privada.

As agências de classificação de riscos fornecem o serviço de avaliação


da capacidade dos tomadores frente às obrigações assumidas, atuando como
provedores de informação de risco que reduzem os custos de obtenção e análise
de informações, aumentam o número de potenciais tomadores e favorecem a
liquidez dos mercados. Além disso, oferecem o serviço de monitoramento, que
influencia os tomadores a manter uma gestão financeira responsável a fim de evitar o
rebaixamento de suas notas de crédito.

Saiba mais

As agências de classificação de riscos


mais conhecidas atualmente são Standard
& Poor’s, Moody’s e Fitch Ratings. Elas
fornecem suas metodologias de avaliação
e podem ser conhecidas em:
www.standardandpoors.com
www.moodys.com
www.fitchratings.com.br
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As classificações de crédito produzidas pelas agências também desempenham


um papel importante na regulação do mercado financeiro. No âmbito do Acordo de
Basileia, as instituições financeiras recorrem às avaliações de crédito das agências para
calcular seus requisitos de capital.

Cadastro positivo

O cadastro positivo visa a reduzir a assimetria de informação no mercado de


crédito. Novamente, estamos resgatando conceitos importantes discutidos em aulas
anteriores. Na Unidade 2, nós entendemos que o esforço dispensado pelos credores na
análise e avaliação do risco de crédito dos tomadores justifica-se no alto nível de
assimetria de informação existente em uma operação de crédito. Pois bem, o cadastro
positivo busca melhorar a identificação das condições atuais dos tomadores, permitindo
aprimorar os cálculos das probabilidades de descumprimento das obrigações.

O cadastro positivo complementa a análise dos modelos de análise de


risco de crédito baseados em dados históricos, na medida em que os credores
observam não apenas o histórico de pagamento dos tomadores, mas, também, o
pagamento em dia das obrigações correntes. Nesse sentido, o cadastro positivo
permite uma análise conjunta do risco de crédito, contrapondo informações passadas
com informações presentes, oferecendo uma percepção mais abrangente do risco do
tomador.

O negócio bancário e o retorno sobre o capital econômico ajustado ao risco


(Raroc)

O desenvolvimento do mercado de crédito brasileiro, em especial após a


estabilização monetária em 1995, impôs a necessidade de melhores procedimentos de
gestão do risco de crédito às instituições financeiras. Muitos são os exemplos de
companhias e bancos que não estão mais operando no mercado por terem feito uma
gestão inadequada de risco de crédito de seus tomadores.

As operações de crédito costumam ser os principais ativos de uma instituição


financeira e, frequentemente, correspondem a um valor superior ao seu patrimônio
líquido. Tamanha é a relevância das operações de créditos para uma instituição
financeira que procedimentos e metodologias para a avaliação do desempenho das
operações mostram-se essenciais para a manutenção das operações em longo prazo.

Nesse contexto, diversas metodologias foram criadas para oferecer aos


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credores melhores condições e procedimentos para avaliar a taxa de retorno de suas


carteiras vis-à-vis a exposição ao risco de crédito, dentre eles o modelo Raroc.

O Raroc (Risk Adjusted Return on Capital) é uma metodologia para cálculo


do retorno financeiro ajustado aos riscos assumidos que busca evidenciar os
ganhos ou perdas em operações de crédito a partir do risco de crédito das
carteiras. Sua expressão pode ser definida como:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑎𝑗𝑢𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜
𝑅𝐴𝑅𝑂𝐶 =
𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝑒𝑚 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜

O numerador da fórmula parte da soma do spread bancário com as taxas e


comissões, subtraindo a perda esperada por nível de risco de crédito do tomador e os
custos operacionais. Assim temos:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑎𝑗𝑢𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜 =

𝑆𝑝𝑟𝑒𝑎𝑑 + 𝑇𝑎𝑥𝑎𝑠 𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑖𝑠𝑠õ𝑒𝑠 − 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑎 − 𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑖𝑠

O spread em operações de crédito corresponde à diferença entre a taxa de juros


cobrada na operação de crédito ao tomador e o custo de captação de recursos pela
instituição. Essa diferença representa a remuneração do capital empregado na operação
de crédito.

As taxas e comissões são receitas complementares obtidas pela instituição na


operacionalização do contrato de crédito. Como exemplo de taxa em contrato, podemos
destacar a TAC, taxa de abertura de crédito cobrada pelas instituições no momento da
efetivação do contrato.

As perdas esperadas representam as expectativas dos credores quanto à


possibilidade de perdas financeiras em alguns contratos. As perdas são calculadas pela
probabilidade de default por nível de risco dos tomadores.

Por fim, os custos operacionais são decorrentes do processo de análise,


acompanhamento e operacionalização do contrato de crédito.

Já o denominador da fórmula do Raroc corresponde ao capital econômico


ajustado ao risco, estimado pelo modelo do Valor em Risco (VaR − Value at Risk). De
forma simplificada, por meio de uma base de dados históricos de inadimplência nos
contratos, o modelo estima a maior perda potencial da carteira, dado um nível de
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confiança de acordo com os níveis de risco dos tomadores sob condições normais de
mercado. Podemos expressar a equação do VaR da seguinte forma:

𝑉𝑎𝑅 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑖çã𝑜 ∗ 𝛼 (𝑁í𝑣𝑒𝑙 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑓𝑖𝑎𝑛ç𝑎)


∗ 𝜎 (𝐷𝑒𝑠𝑣𝑖𝑜 𝑝𝑎𝑑𝑟ã𝑜 𝑑𝑎𝑠 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠)

O Raroc é amplamente aplicado no mercado de crédito brasileiro e


frequentemente apresentado anualmente pelas instituições financeiras
juntamente com o capital econômico ajustado e o retorno ajustado ao risco das
carteiras.

Exemplos e estudos de caso em crédito

Nesta unidade, abordamos diversos conceitos que fazem parte do dia a dia das
empresas e instituições financeiras que concedem créditos. Para melhorar o
entendimento acerca dos procedimentos de gestão aplicados no mercado, nós vamos
analisar como um dos maiores bancos do país transmite ao mercado seus
procedimentos de análise e gestão de risco de crédito.

Inicialmente podemos analisar como o banco observa as etapas do ciclo de


crédito:

Concessão: é a porta de entrada no relacionamento de crédito com o banco. Abrange a


análise do cliente e da operação. Na primeira, o banco utiliza métodos massificados e
personalizados, definindo a probabilidade de inadimplência e o limite de exposição. Quanto
à análise da operação, o banco busca compatibilizar a oferta de produtos de crédito
adequados ao perfil e à capacidade de pagamento do cliente.
Condução: compreende a fase de acompanhamento da aplicação dos recursos liberados,
o gerenciamento das garantias, entre outras ações. O principal objetivo nesta fase é a
prevenção contra a inadimplência dos ativos.
Cobrança: caracteriza-se pela utilização de mecanismos que asseguram o retorno dos
recursos emprestados, levando-se em conta algumas variáveis, como o relacionamento do
cliente com o banco, a minimização de custos e a utilização de mecanismos automatizados
de cobrança e recebimento de dívidas.
Recuperação: trata-se da fase em que o banco busca reduzir as perdas de crédito,
minimizar os custos de recuperação e aumentar a taxa de recuperação. Estão
contemplados nesta etapa o processo de cobrança extrajudicial, a terceirização
(contratação de empresas para prestar serviços de cobrança e recuperação de créditos
inadimplidos) e a cobrança judicial.
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Podemos observar, pelo texto apresentado, que os principais conceitos


abordados até agora em nossa disciplina são facilmente encontrados em operações
reais no mercado. Nós podemos identificar as considerações sobre cada etapa do ciclo
de crédito na perspectiva do banco analisado e, também, a visão da instituição sobre as
garantias nas operações de crédito, que servem como prevenção contra a
inadimplência.

Em outro trecho do relatório apresentado pelo banco, encontramos as


considerações sobre o procedimento de análise do risco de crédito do cliente:

Nos últimos anos, o risco de crédito passou a ser gerenciado por técnicas cada vez mais
sofisticadas e processos mais rigorosos na concessão de uma operação de crédito.
Em relação à análise de risco do cliente, o banco utiliza os modelos de credit scoring e
credit rating. No modelo de credit scoring, a instituição define os conceitos de
inadimplência, período de observação em que se avalia com base nas informações
cadastrais, a pontualidade no pagamento dos empréstimos, e o período de performance,
no qual se avalia se o cliente é bom ou mau pagador. O modelo credit rating é utilizado para
classificar as empresas em categorias de risco de crédito, associando critérios
quantitativos, qualitativos e a avaliação do analista de crédito.

Novamente nosso conteúdo é facilmente observado na prática de mercado. O


banco adota os modelos de credit scoring e credit rating, que foram discutidos nesta
unidade como procedimentos operacionais oficiais para análise do risco de crédito dos
tomadores.

A seguir podemos observar algumas considerações do banco acerca da gestão


da carteira:

A mensuração do VaR de Crédito fornece subsídios para a avaliação de risco e retorno da


carteira de crédito do banco, assim como para o processo de estabelecimento de limites
para a carteira de crédito. Sua avaliação tem auxiliado no processo decisório do banco,
trazendo informações históricas e permitindo analisar a tendência do comportamento do
risco. Além disso, sua utilização tem sido de grande valia na disseminação da cultura de
gestão do risco de crédito no banco.
No tocante à avaliação do retorno, os valores de PE (perda esperada) e CE (capital
econômico) servem como insumos para o cálculo do Retorno Ajustado ao Risco (Raroc).
A utilização do Raroc tem por finalidade subsidiar importantes processos decisórios no
banco. Seu acompanhamento na perspectiva histórica para os portfólios analisados tem
permitido que a avaliação de risco e retorno esteja presente nas decisões da instituição.

Podemos notar a atenção dedicada pela instituição ao monitoramento da taxa


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de retorno no investimento realizado em operações de crédito. Desde a Unidade 1,
estamos discutindo o racional de custo de oportunidade em investimentos em crédito, e
a publicação parcial apresentada corrobora o argumento de que o Raroc é amplamente
aplicado no mercado de crédito brasileiro.

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