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Formas de financiamento e origens do

capital de giro

Professor Doutor Adriano Mussa


1. Origens de variação da Necessidade de Ivestimento em Giro

Agora que já sabemos o quão relevante são as consequências de uma variação da Necessidade de Investimentos em Giro (NIG),
vamos discutir um pouco quais podem ser as principais origens dessas variações. Começaremos compreendendo as origens do
crescimento da NIG, sendo que as origens de sua diminuição podem ser entendidas por pura analogia.
Se a NIG é dada pela diferença entre o Ativo Circulante Operacional (ACO) e o Passivo Circulante Operacional (PCO), um
aumento do ACO ou uma diminuição do PCO levam a um aumento da NIG. A figura a seguir ilustra essa relação:

ACO

NIG
(ACO – PCO)

PCO
Figura 1| A relação de ACO e PCO com o crescimento da NIG.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Considerando que, de forma simplificada, as principais contas do ACO são Contas a Receber e Estoques, podemos concluir
que uma elevação do saldo dessas contas levaria a um aumento de ACO que, por sua vez, elevaria a NIG.

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Da mesma forma, considerando que a principal conta do PCO, de forma também simplificada, é Fornecedores, uma
diminuição do saldo dessa conta levaria a uma redução do PCO, o que, por sua vez, também elevaria a NIG. A figura a
seguir ilustra essa relação:

Figura 2 | A relação de Contas a Receber, Estoques e Fornecedores com o crescimento da NIG.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para continuarmos com o nosso raciocínio, é importante relembrarmos as fórmulas de prazos médios:
 Prazo Médio de Recebimento(PMR) = Contas a Receber / Receitas Diárias.

 Prazo Médio de Estoques (PME) = Estoques / Custos Diários.

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 Prazo Médio de Pagamento (PMP) = Contas a Pagar / Compras Diárias. Lembrando que as compras não são
encontradas no balanço patrimonial, sendo necessário estimá-las por meio da fórmula: Compras = Custos – Estoque
inicial + Estoque final.
Se considerarmos essas fórmulas, podemos reescrevê-las de outra forma, isolando o saldo das rubricas Contas a Receber,
Estoques e Fornecedores. Multiplicando cada equação em cruz, obteremos:

 Se PMR = Contas a Receber / Receitas Diárias, logo: Contas a Receber = PMR × Receitas Diárias.

 Se PME = Estoques / Custos Diários, logo: Estoques = PME × Custos Diários.

 Se PMP = Contas a Pagar / Compras Diárias, logo: Fornecedores = PMP × Compras Diárias.

Vamos analisar essas expressões uma a uma, começando com Contas a Receber. Se Contas a Receber = PMR × Vendas Diárias,
é fácil perceber que há dois direcionadores de Contas a Receber: o PMR e o nível de receitas. Assim, se o PMR crescer,
mesmo que se mantenha o volume de receitas, o saldo de Contas a Receber crescerá, o ACO crescerá e a NIG aumentará.
Da mesma forma, se a empresa mantiver o PMR sem modificações, mas aumentar o PMR, o ACO e, consequentemente,
a NIG subirão.
Observando a fórmula Estoques = PME × Custos Diários, podemos concluir que, se a empresa aumentar o PME, ainda que
mantenha o nível de Custos Diários, o saldo de Estoques e, consequentemente, a NIG crescerão. E se a empresa aumentar

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os Custos Diários, ainda que mantenha o patamar de PME sem modificações, o saldo de Estoques e, consequentemente,
a NIG também crescerão.
Por fim, analisando a fórmula Fornecedores = PMP × Compras Diárias, percebemos que uma diminuição no PMP ou uma
redução do volume de compras levaria a uma queda do saldo da rubrica Fornecedores, acarretando aumento da NIG.
A figura a seguir ilustra essas relações:

PMR
Contas a
Receitas Receber
ACO
PME
Estoques NIG
Custos (ACO – PCO)

PCO
PMP
Fornecedores
Compras

Figura 3 | A relação dos prazos médios e do nível de atividade com o crescimento da NIG.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observando a Figura 3 é possível concluir, portanto, que há duas grandes origens de variações (em nosso caso, de aumento)
da NIG: piora de prazos ou aumento do nível de atividades da empresa. Explicando:

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 Se considerarmos que aumento no PMR, aumento no PME e diminuição no PMP levam ao aumento de NIG, podemos
dizer de forma genérica que uma piora nos prazos médios que envolvem capital de giro leva a um aumento da NIG.
De forma análoga, redução no PMR, redução no PME e aumento no PMP, ou seja, uma melhora nos prazos médios que
envolvem capital de giro, levam a uma queda de NIG.

 Se considerarmos que aumento das magnitudes de receitas, aumento dos valores de custos e diminuição das magnitudes
de compras levam ao aumento de NIG, podemos dizer que o nível de atividade da companhia também afeta sua NIG.
Assim, aumento de nível de atividade tende a elevar a NIG, e queda no nível de atividade tende a reduzir a NIG.

Existem, essencialmente, duas formas de variar a NIG:


 Alterações de prazos – PMR, PME e PMP.
 Alterações de nível de atividade.

2. Fontes de financiamento da NIG

Nessa seção, abordaremos as fontes de financiamento da NIG, especialmente as discussões sobre as fontes de curto e longo
prazos e sua relação com o nível de risco da gestão de capital de giro das companhias.
Para começar, vamos relembrar as separações do Ativo e Passivo Circulantes em suas partes operacionais e financeiras a fim de
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trazermos o conceito de Saldo em Tesouraria (ST) e a relação do Capital de Giro Líquido (CGL) com a NIG.

Ativo Circ. Ativo Circ.


Ativo Circulante = +
Operacional Financeiro
- - -

Passivo Circ. Passivo Circ.


Passivo Circulante = +
Operacional Financeiro

CGL = NIG + ST

Figura 4 | Relação CGL, NIG e ST.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observe, na Figura 4, que, nas duas primeiras linhas, o Ativo Circulante e o Passivo Circulante estão separados em suas partes
operacionais e financeiras, gerando, na primeira linha, o Ativo Circulante Operacional (ACO) e o Ativo Circulante Financeiro
(ACF) e, na segunda linha, o Passivo Circulante Operacional (PCO) e o Passivo Circulante Financeiro (PCF).
Se subtrairmos a primeira linha da segunda, obtemos a terceira linha de nossa ilustração, que contém:

 AC – PC = CGL, conceito que já conhecemos.

 ACO – PCO = NIG, conceito que também já conhecemos.

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 ACF – PCF = ST, que é um conceito novo. Então, vamos detalhá-lo um pouco mais. O ACF é composto essencialmente
pelo caixa e seus equivalentes e pelas aplicações financeiras de curto prazo. O PCF é composto pelos valores principais de
dívida onerosa de curto prazo. Se considerarmos que, em tese, o ACF (caixa e seus equivalentes e aplicações financeiras)
tem que ser usado para o pagamento do PCF (principal de dívidas onerosas de curto prazo), então a diferença entre eles
é o que chamamos de Saldo em Tesouraria (ST). A lógica é simples: o ACF tem que pagar o PCF, prioritariamente, e
o que sobrar é o verdadeiro saldo que a empresa tem em sua tesouraria, podendo ser utilizado para outras
finalidades.
Assim, se AC – PC = CGL, se ACO – PCO = NIG e se ACF – PCF = ST, por diferença temos que: CGL = NIG + ST, que é a
última linha da Figura 4. Essa expressão nos ajuda a compreender as fontes de financiamento da NIG que a empresa utiliza.
A NIG é necessidade de recursos onerosos que a empresa tem para financiar a sua operação, o seu capital de giro. O CGL pode
ser entendido como fonte de longo prazo, dado que ele significa investimentos (ativos) que vencem no curto prazo, mas que
são financiados por recursos de longo prazo. Assim, lemos o CGL como a magnitude de financiamento da NIG que vem de
recursos de longo prazo. A figura a seguir ilustra essa relação.
Ativo Passivo
Circulante Circulante Recursos de curto prazo
(AC) (PC)
Capital de Giro Líquido (CGL) =
AC-PC

Recursos de longo prazo

Figura 5 | O CGL como fonte de recursos de longo prazo.


Fonte: Elaborada pelo autor.

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E o ST, que é obtido pela expressão ACF – PCF, representa fontes de recursos de curto prazo financiando a NIG. Assim,
lemos o ST como a parcela de recursos de curto prazo que financiam a NIG. Se o ST for positivo, está sobrando recursos no
ACF e, portanto, a NIG é financiada por recursos de longo prazo e não há recursos de longo prazo financiando a NIG. Se o ST
for negativo, há recursos de curto prazo financiando a NIG e o ST representa exatamente a parcela de recursos de curto prazo
que financia a NIG.

CGL = NIG + ST

Fonte de Necessidade de Fonte de


recursos de recursos recursos de
longo prazo onerosos curto prazo

Figura 6 | As duas fontes de financiamento da NIG: recursos de curto e longo prazos.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Assim, em termos de risco, em situações de NIG positiva, dizemos:


 Se o CGL for maior do que a NIG, o ST será positivo, sinalizando que a NIG é integralmente financiada por recursos
de longo prazo e indicando uma situação de baixo risco no financiamento do capital de giro.
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 Se o CGL for positivo, mas menor do que a NIG, o ST será negativo, sinalizando que a NIG é financiada por recursos
de longo e de curto prazo e indicando uma situação de risco mais elevada no financiamento do capital de giro.

 Se o CGL for negativo, o ST será negativo, sinalizando que a NIG é integralmente financiada por recursos de curto
prazo e indicando uma situação de elevadíssimo risco no financiamento do capital de giro.

3. Overtrade e efeito tesoura

O efeito tesoura acontece quando a empresa apresenta aumento de NIG e manutenção (ou queda) do CGL, saindo de
uma situação em que o CGL é maior do que a NIG e, portanto, o ST é positivo, para uma situação em que o CGL passa a
ser menor do que a NIG e, portanto, o ST fica negativo.
Em outras palavras, o efeito tesoura ocorre quando a empresa sai de uma situação em que a NIG é integralmente
financiada por recursos de longo prazo (gestão conservadora), para uma situação em que a empresa passa a ter recursos
de curto prazo, parcial ou totalmente, financiando a NIG (gestão agressiva).
Esse movimento em geral é gerado por um aumento da NIG causado por aumento do nível de atividade da companhia
(overtrade). Isso ocorre porque é comum, nas organizações, prestarmos bastante atenção aos prazos, descuidando ou até
vendo com bons olhos crescimentos do nível de atividade e esquecendo sua consequência nociva na NIG. Como a empresa
nem sempre consegue obter fontes de longo prazo de forma ágil para financiar esse incremento de NIG, acaba utilizando

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recursos de curto prazo, gerando o efeito tesoura.

A figura a seguir ilustra o efeito tesoura:

NIG

CGL

Tempo

Figura 7 | O efeito tesoura.

Fonte: Elaborado pelo autor.

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