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Neste capítulo, trataremos das técnicas e estratégias de gestão do capital de giro e do ativo

circulante. Primeiro, discutiremos os fundamentos do capital de giro líquido e, em seguida,


demonstraremos o ciclo de conversão de caixa. O restante do capítulo tratará da
administração de estoques, das contas a receber e dos recebimentos e pagamentos no
contexto do ciclo de conversão de caixa.
FUNDAMENTOS DO CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO

O balanço patrimonial da empresa fornece informações, de um lado, sobre a estrutura de


seus investimentos, e, de outro, sobre a estrutura de suas fontes de financiamento. As
estruturas escolhidas devem levar consistentemente à maximização do valor do
investimento dos proprietários na empresa.

Administração financeira de curto prazos Entre os principais componentes da estrutura


financeira de uma empresa estão o nível do investimento em ativo circulante e o de
financiamento com passivo circulante. Nas indústrias norte -americanas, o ativo circulante
responde por cerca de 40% do ativo total; o passivo circulante representa aproximadamente
26% do financiamento total. Portanto, não deve surpreender que a administração financeira
de curto prazo — a gestão do ativo e do passivo circulante — seja uma das atividades mais
importantes e que mais consome tempo do administrador financeiro. Um estudo com
empresas listadas na Fortune 1000 revelou que mais de um terço do tempo dedicado à
administração financeira é gasto com a gestão do ativo circulante e cerca de um quarto
com a gestão do passivo circulante.1 O objetivo da administração financeira de curto prazo
é gerenciar cada elemento do ativo circulante (estoques, contas a receber, caixa e títulos
negociáveis) e de seu passivo circulante (contas a pagar a fornecedores, despesas e
empréstimos bancários a pagar) para atingir um equilíbrio entre rentabilidade e risco que
contribua positivamente para o valor da empresa. Este capítulo não trata do nível ótimo de
ativo circulante e passivo circulante que se deve ter. Essa questão está em aberto na
literatura de finanças. Aqui, começaremos abordando o capital de giro líquido para tratar
da relação básica entre ativo circulante e passivo circulante e, depois, usaremos o ciclo de
conversão de caixa para tratar dos principais aspetos da administração do ativo circulante.
No capítulo seguinte, abordaremos a administração do passivo circulante.

Capital de giro líquido

O ativo circulante, comumente chamado de capital de giro, representa a porção do


investimento que circula, de uma forma para outra, na condução normal dos negócios. Esse
conceito abrange a transição recorrente de caixa para estoques, destes para os recebíveis e
de volta para o caixa. Na qualidade de equivalentes de caixa, os títulos negociáveis
também são considerados parte do capital de giro.

O passivo circulante representa o financiamento de curto prazo de uma empresa, uma vez
que inclui todas as dívidas vincendas (isto é, a pagar) em um ano ou menos. Essas dívidas
normalmente abrangem valores devidos a fornecedores (contas a pagar), funcionários e
governo (despesas a pagar), além de bancos (empréstimos bancários), entre outros.

Como vimos no Capítulo 8, o capital de giro líquido é normalmente definido como a


diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante de uma empresa. Quando o ativo
circulante supera o passivo circulante, a empresa tem capital de giro líquido positivo.
Quando o primeiro é inferior ao segundo, tem -se capital de giro líquido negativo.

A conversão dos estoques para recebíveis e destes para caixa fornece os recursos para
pagar o passivo circulante. As saídas de caixa do passivo circulante são relativamente
previsíveis. Ao incorrer em uma obrigação, a empresa sabe quando será devido o
pagamento correspondente. Mais difíceis de prever são as entradas de caixa — a conversão
do ativo circulante em formas mais líquidas. Quanto mais previsíveis as entradas de caixa,
menor o capital de giro líquido necessário. Como a maioria das empresas é incapaz de
conciliar com certeza as entradas e as saídas de caixa, costumam manter um ativo
circulante mais do que suficiente para cobrir as saídas associadas ao passivo circulante. De
modo geral, quanto maior a margem pela qual o ativo circulante supera o passivo
circulante de uma empresa, maior sua capacidade de pagar as contas à medida que se
tornem devidas

Compensação entre rentabilidade e risco

Há uma compensação entre a rentabilidade da empresa e seu risco. Rentabilidade, neste


contexto, é a relação entre as receitas e os custos gerados pelo uso dos ativos de uma
empresa — tanto circulantes quanto fixos — em atividades produtivas. Pode -se aumentar
os lucros (1) aumentando -se as receitas ou (2) reduzindo -se os custos. O risco, no
contexto da administração financeira de curto prazo, é a probabilidade de que a empresa
não consiga pagar suas contas à medida que vençam. Nesse caso, ela é considerada
tecnicamente insolvente. Supõem -se, de modo geral, que, quanto maior o capital de giro
líquido, menor o risco. Em outras palavras, quanto mais capital de giro líquido a empresa
tiver, menor o risco de tornar -se tecnicamente insolvente. Usando essas definições de
rentabilidade e risco podemos demonstrar o intercâmbio entre os dois por meio das
variações no ativo circulante e passivo circulante.

Variação do ativo circulante

Podemos usar o quociente entre ativo circulante e ativo total para demonstrar como a
mudança do nível do ativo circulante de uma empresa afeta a relação entre rentabilidade e
risco. Esse quociente indica a percentagem circulante do ativo total. Para exemplificar,
admitiremos que o nível do ativo total permaneça inalterado.2 Os efeitos sobre a
rentabilidade e o risco de aumento ou diminuição desse quociente encontram -se resumidos
na parte superior da Tabela 14.1. Quando o quociente aumenta — ou seja, quando aumenta
o ativo circulante — a rentabilidade diminui. Por quê? Porque o ativo circulante é menos
lucrativo do que o imobilizado. O ativo imobilizado é mais lucrativo porque agrega mais
valor ao produto. Sem ele, a empresa não poderia gerar o produto.

O efeito risco, entretanto, diminui à medida que aumenta o quociente entre ativo circulante
e ativo total. O aumento do ativo circulante aumenta o capital de giro líquido, reduzindo,
assim, o risco de insolvência técnica. Além disso, à medida que descemos pelo lado do
ativo do balanço patrimonial, o risco associado aos ativos aumenta: o investimento em
caixa e títulos negociáveis é menos arriscado do que o investimento em contas a receber,
estoques e ativo imobilizado. O investimento em contas a receber é menos arriscado do
que o investimento em estoques e ativo imobilizado. O investimento em estoques é menos
arriscado do que o investimento em ativo imobilizado. Quanto mais próximo um ativo
estiver do caixa, menor será o seu risco. Os efeitos opostos sobre lucro e risco resultam da
diminuição do quociente entre ativo circulante e ativo total.

Variação do passivo circulante

Também podemos demonstrar como a variação no nível do passivo circulante de uma


empresa afeta a relação entre rentabilidade e risco, usando o quociente entre passivo
circulante e ativo total. Esse quociente indica a percentagem do ativo total financiada com
passivo circulante. Mais uma vez, supondo -se que ativo total permaneça constante, os
efeitos sobre a rentabilidade e o risco de aumento ou diminuição do quociente encontram -
se resumidos na parte inferior da Tabela 14.1. Quando o quociente aumenta, a
rentabilidade aumenta. Por quê? Porque a empresa usa mais financiamento com passivo
circulante e menos financiamento de longo prazo. O passivo circulante é mais barato
porque apenas a conta empréstimos bancários, que representa cerca de 20% do passivo
circulante de uma indústria típica, tem custo. As demais formas de passivo circulante são,
basicamente, dívidas sobre as quais a empresa não paga encargos ou juros. Entretanto,
quando o quociente entre passivo circulante e ativo total aumenta, o risco de insolvência
técnica também aumenta porque o aumento do passivo circulante reduz o capital de giro
líquido. Efeitos opostos sobre lucro e risco resultam de uma redução do quociente entre
passivo circulante e ativo total.

Cálculo do ciclo de conversão de caixa

O ciclo operacional (CO) de uma empresa é o período de tempo que vai do começo do
processo de produção até o recebimento de caixa resultante da venda do produto acabado.
O ciclo operacional abrange duas principais categorias de ativo de curto prazo: estoque e
contas a receber. É medido em tempo decorrido por meio da soma da idade média do
estoque (IME) e do prazo médio de recebimento (PMR).

CO = IME + PMR

Entretanto, o processo de produção e venda de um produto também inclui a compra a prazo


de insumos de produção (matérias -primas), resultando em contas a pagar a fornecedores.
Estas reduzem o número de dias de recursos de uma empresa comprometidos com o ciclo
operacional. O tempo até a quitação das contas a pagar a fornecedores, medido em dias, é o
prazo médio de pagamento (PMP). O ciclo operacional menos o prazo médio de
pagamento é chamado de ciclo de conversão de caixa (CCC) e representa o prazo pelo qual
os recursos da empresa ficam aplicados. A fórmula do ciclo de conversão de caixa é

CCC = CO – PMP

Substituindo a relação da Equação 14.1 na Equação 14.2, podemos ver que o ciclo de
conversão de caixa tem três componentes principais, como mostra a Equação 14.3: (1)
idade média do estoque, (2) prazo médio de recebimento e (3) prazo médio de pagamento.

CCC = IME + PMR – PMP (14.3)

Evidentemente, se a empresa alterar qualquer um desses períodos, afetará o valor dos


recursos comprometidos com a operação rotineira da empresa.

Exemplo:

A MAX Company, fabricante de pratos descartáveis, tem vendas anuais de $ 10 milhões,


custo das mercadorias vendidas de 75% das vendas e compras que correspondem a 65% do
custo das mercadorias vendidas. A idade média dos estoques (IME) é de 60 dias, o prazo
médio de recebimento (PMR) de 40 dias e o prazo médio de pagamento (PMP) de 35 dias.
Logo, o ciclo de conversão de caixa da MAX é de 65 dias (60 + 40 – 35). A Figura 14.1
apresenta o ciclo de conversão de caixa da MAX Company em uma linha de tempo. Os
recursos investidos pela MAX nesse ciclo de conversão de caixa (supondo- se um ano de
365 dias) são

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