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PROPÓSITO
Compreender o processo de análise de demonstrativos financeiros de empresas para o
subsídio de decisões corporativas e análises de agentes no mercado financeiro.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo, tenha em mãos recursos computacionais com acesso a planilhas
eletrônicas (Excel) e calculadora para efetuar o cálculo dos indicadores a serem utilizados no
desenvolvimento da análise dos demonstrativos financeiros.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Listar os indicadores utilizados para a análise tanto dos prazos médios dos principais
componentes do ativo e do passivo circulante quanto dos ciclos operacional e financeiro das
empresas
MÓDULO 3
Nomear os indicadores utilizados na análise do capital de giro das empresas, bem como sua
aplicação e interpretação
INTRODUÇÃO
Antes de iniciarmos o estudo deste tema, devemos entender o que constitui uma análise de
demonstrativos financeiros. Ela costuma ser definida como um tema de interesse de diversos
agentes atuantes no meio corporativo e no mercado financeiro.
Este tema discutirá a utilização de indicadores como suporte à análise da situação financeira
de curto prazo de empresas. Isso, em termos práticos, consiste na averiguação da capacidade
de as corporações honrarem os compromissos firmados com fornecedores e outras obrigações
contidas no passivo circulante. Adicionalmente, nossa análise vai procurar dimensionar a
necessidade de recursos onerosos para o financiamento de estoques e clientes da empresa.
No módulo 2, discutiremos a análise de prazos médios e ciclos das contas do ativo e passivo
circulantes. Por fim, no módulo 3, esmiuçaremos o emprego de indicadores do capital de giro e
sua relação com o ciclo financeiro das empresas.
MÓDULO 1
Quando dizemos que uma empresa desfruta de boa situação econômica, isso significa que ela
possui boa capacidade de gerar resultados, ou seja, lucros, em relação às receitas geradas ou
aos recursos investidos.
Fonte: Pormezz/Shutterstock
O conceito associado à saúde financeira verifica outra dimensão das corporações. Essa
situação tem relação com a capacidade de as empresas honrarem seus compromissos com
fornecedores, além de outras obrigações, como, por exemplo, impostos, salários e obrigações
trabalhistas, aluguéis e contas a pagar de forma geral.
É possível dizer que uma empresa em boa situação econômica é, potencialmente, uma
empresa em boa situação financeira, mas dependendo, principalmente, dos prazos
necessários para recebimentos de suas vendas e do pagamento de suas obrigações, isso pode
não ser verdade.
Imaginemos, por exemplo, o caso de uma empresa varejista que esteja iniciando suas
operações. Semanalmente, ela vende R$10.000 a seus clientes e lhes concede prazos de 60
dias para o pagamento.
Também podemos supor que os custos relativos às vendas sejam da ordem de 40% das
receitas pagas à vista, não havendo outros tipos de gastos a considerar. Por hipótese, a
empresa não acumulou estoques no período analisado. Após oito semanas de operação, ela
teria registrado, conforme demonstra o quadro a seguir, um lucro de R$48.000.
Enquanto os pagamentos aos fornecedores foram efetuados à vista (fazendo com que gastos e
pagamentos fossem coincidentes no período analisado), as receitas geradas semanalmente
somente foram recebidas 60 dias após a venda (mais do que 8 semanas).
Dessa forma, nenhum recebimento foi efetuado nesse intervalo de tempo. Isso fez com que a
organização precisasse buscar recursos onerosos (provenientes de sócios ou credores) para
pagar seus fornecedores – ou, por outro enfoque, para financiar suas vendas.
ATENÇÃO
Ignorando eventuais custos financeiros relativos aos recursos onerosos tomados para o
financiamento das vendas, a situação financeira da empresa varejista se equilibraria após 15
semanas. Podemos verificar isso na figura 2.
Em outras palavras, a boa situação econômica da empresa varejista permitiu que, após 15
semanas de operação, o fluxo de caixa acumulado se tornasse positivo. Mas isso a obriga a
manter constantemente recursos (R$32.000 referentes às oito semanas de fluxos negativos)
para financiar suas operações.
Verificaremos mais adiante que o prazo no qual o fluxo ficou deficitário, necessitando de
recursos para o financiamento das vendas, é denominado ciclo financeiro. Veremos ainda que
o montante de recursos onerosos necessário para esse financiamento é chamado de
necessidade de capital de giro.
A gestão financeira de curto prazo — também chamada por muitos de gestão de capital de giro
— é uma das áreas mais relevantes das finanças corporativas de todas as empresas.
Essa gestão é especialmente importante para empresas de pequeno e médio porte que não
desfrutam do mesmo acesso a financiamentos que as de grande porte. Além do binômio risco
e retorno, há um terceiro elemento relevante nela: a liquidez.
OS ÍNDICES DE LIQUIDEZ
O primeiro passo para uma boa gestão financeira de curto prazo é analisar a situação
financeira da empresa. Tradicionalmente, isso ocorre por meio de indicadores denominados de
índices de liquidez.
FÓRMULA 1
Ativo circulante
Liquidez corrente =
Passivo circulante
Como podemos observar nesta fórmula, o índice de liquidez corrente (LC) compara o ativo
circulante (AC) com o passivo circulante (PC).
AC é formado pelo disponível e pelos ativos que a empresa espera converter em dinheiro no
prazo de até um ano da data de fechamento do balanço patrimonial (BP). Já PC pode ser
entendido como as obrigações que a organização possui com vencimento em prazo igual ou
inferior a um ano da data de fechamento do BP.
Uma LC igual ou superior a 1 seria um indício de uma boa situação financeira, pois ela indicaria
que o PC estaria “coberto” pelo AC. Já uma LC abaixo de 1 poderia ser interpretada como um
indício de fragilidade financeira.
A principal crítica ao índice LC é que nem todos os componentes do AC possuem a mesma
velocidade de conversão em caixa. Como exemplo, temos o montante investido em estoques,
que deve ser primeiramente vendido e recebido até poder ser incorporado ao disponível da
empresa.
FÓRMULA 2
Para atender às críticas efetuadas à LC, foi criado o índice de liquidez seca (LS), que, como
pode ser verificado nesta fórmula, deduz no numerador os estoques do AC. Dessa forma, a LS
apresenta quanto cada R$1 das obrigações contidas no PC está coberto pelo AC, não
considerando a dependência da venda dos estoques da empresa.
FÓRMULA 3
Dispon velí
Liquidez imediata =
Passivo circulante
Por fim, verificamos, nesta fórmula, que, no numerador da liquidez imediata (LI), somente são
consideradas as disponibilidades, ou seja, caixa, bancos e aplicações financeiras. Isso
evidencia quanto a empresa dispõe de recursos livres para a quitação imediata das obrigações
contidas no PC.
1.399.900 786.398
2.812.680 1.966.115
1.275.873 795.035
2.812.680 1.966.115
O índice LC de 20X2 de 1,10 aponta que, para cada R$1 de obrigações de curto prazo, a
empresa possuía uma cobertura de R$1,10 de recursos investidos no AC. Por sua vez, o índice
LS de 0,77 indica que, para cada R$1 de obrigações contidas no PC, somente R$0,77 estariam
sendo cobertos por ativos de curto prazo – e isso se não considerarmos a dependência da
venda de estoques.
Por fim, o índice LI de 0,46 sugere que, para cada R$1 de obrigações de curto prazo, a Fábrica
de Embalagens possuía em 20X2 R$0,46 de recursos disponíveis para cobertura.
COMENTÁRIO
Apesar de ser popular e amplamente utilizada no mercado, a análise dos índices de liquidez
pode, em muitos casos, não ser conclusiva, podendo até mesmo ser considerada inadequada
– nestes casos, ela precisa ser complementada por informações adicionais.
Verificaremos nos próximos módulos que o emprego dos índices de liquidez, em conjunto com
os indicadores de prazos médios, os ciclos e o capital de giro, possibilita uma análise mais
completa e esclarecedora da situação financeira das empresas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1) PODEMOS AFIRMAR QUE O OBJETIVO DA ANÁLISE DA SITUAÇÃO FINANCEIRA DE
CURTO PRAZO DAS EMPRESAS É:
E) Analisar a rentabilidade dos investimentos de curto prazo delas que ficam registrados no
ativo circulante.
C) Permite analisar quanto cada R$1 de passivo circulante está coberto pelas disponibilidades
da empresa.
D) Permite o entendimento de até que ponto os ativos que a empresa pretende converter em
caixa no prazo de um ano cobrem as obrigações de curto prazo dela.
1) Podemos afirmar que o objetivo da análise da situação financeira de curto prazo das
empresas é:
O índice de liquidez seca consiste na razão entre o ativo circulante deduzido dos estoques e do
passivo circulante. Ele pode ser interpretado como a capacidade de os ativos de curto prazo da
empresa cobrirem as obrigações contidas no passivo circulante, não considerando a venda de
estoques.
MÓDULO 2
Listar os indicadores utilizados para a análise tanto dos prazos médios dos
principais componentes do ativo e do passivo circulante quanto dos ciclos operacional e
financeiro das empresas
O SIGNIFICADO DO CICLO FINANCEIRO
Neste vídeo, conceituaremos o ciclo financeiro e seus componentes, bem como sua ligação
com a necessidade de capital de giro da empresa.
Essas informações podem ser obtidas de duas formas distintas: a partir de relatórios gerenciais
(internos) ou pela estimativa de dados extraídos dos demonstrativos financeiros das empresas
(também acessíveis para agentes externos).
A estimativa do prazo médio de estoques (PME) pode ser efetuada pela verificação de quantas
vezes, no decorrer do período analisado, os estoques da empresa giraram. Observemos as
fórmulas a seguir:
FÓRMULA 4
Prazo médio de estoques = 360/Giro de estoques
FÓRMULA 5
Giro de estoques = Custo das vendas (ano)/estoques
FÓRMULA 6
Estoques
Prazo m é dio de estoques = Custo das vendas (ano)
x 360
Observamos na fórmula acima que o PME pode ser estimado mediante o uso da informação
dos estoques (contida no ativo circulante do BP) e dos custos de vendas anuais (encontrada na
DRE da empresa).
COMENTÁRIO
Caso a empresa atue no setor comercial, o custo das vendas será denominado custo das
mercadorias vendidas (CMV); já para as empresas industriais, a denominação adequada seria
custo dos produtos vendidos (CPV).
Supondo que os dados da DRE sejam referentes a períodos inferiores a um ano, será
necessária a alteração do número de dias considerado na equação. Para os resultados
trimestrais, deve-se multiplicar a razão entre estoques e custos de vendas por 90; para os
mensais, por 30.
A estimativa do prazo médio de recebimentos (PMR) pode ser efetuada pela verificação de
quantas vezes, no decorrer do período analisado, os recebíveis relativos às vendas da
empresa (conta Clientes do ativo circulante) giraram. Você deve ter percebido que isso ocorre
de forma análoga ao que foi demonstrado no cálculo do PME.
FÓRMULA 7
Prazo médio de recebimentos = 360/Giro de clientes
FÓRMULA 8
Giro de clientes = Receita bruta (ano)/Clientes
FÓRMULA 9
Prazo m é dio de recebimentos = Clientes
De forma similar à que foi relatada no caso do PME, deve-se analisar a pertinência do uso da
última informação disponível do saldo da conta Clientes ou de médias do período analisado.
Além disso, o mesmo ajuste no número de dias considerado na equação precisa ser efetuado
caso os dados da DRE sejam referentes a períodos inferiores a um ano.
O mesmo raciocínio empregado para o cálculo do PME e do PMR pode ser utilizado para a
obtenção da expressão referente ao prazo médio de pagamento a compras (PMC):
FÓRMULA 10
Prazo médio de pagamento de compras = 360/Giro de fornecedores
FÓRMULA 11
Giro de fornecedores = Compras (ano)/Fornecedores
FÓRMULA 12
Prazo m é dio de pagamento de compras = Fornecedores
Compras (ano)
x 360
Observamos na fórmula 12 que o PMC pode ser estimado utilizando a informação tanto da
conta Fornecedores (contida no passivo circulante do BP) quanto das compras anuais.
Essas compras, aliás, podem ser estimadas em função do custo das vendas anuais (CMV ou
CPV) e da variação dos estoques:
FÓRMULA 13
Compras (ano i) = Variação de estoques (ano i) + CMV (ano i)
Em que:
FÓRMULA 14
Prazo m é dio de pagamento de compras = Fornecedores
Para exemplificar o processo de estimação dos prazos médios (PME, PMR e PMC),
aplicaremos a seguir as fórmulas 6, 9 e 14 nos dados referentes ao BP e à DRE da Fábrica de
Embalagens dos anos 20X1 e 20X2. Essas informações, conforme demonstra o quadro 6,
foram extraídas respectivamente dos quadros 2, 3 e 5.
20X2 20X1
Quadro 6: Cálculo dos prazos médios (PME, PMR e PMC) da Fábrica de Embalagens em
20X1 e 20X2.
Por fim, o aumento de 33 dias no PMC sugere que a Fábrica de Embalagens conseguiu uma
ampliação dos prazos de pagamento com seus fornecedores, atenuando, em parte, o impacto
do aumento do PME e PMR.
Uma análise conjunta do impacto da variação dos três indicadores pode ser efetuada, como
veremos a seguir, a partir do cálculo dos ciclos operacional e financeiro.
O ciclo operacional (CO) consiste no período que tem início no momento da chegada de
mercadorias (no caso de empresas comerciais), matérias-primas ou outros insumos de
produção (no caso de indústrias) e termina com o recebimento das vendas efetuadas aos
clientes.
Podemos dizer que, matematicamente, o CO constitui a soma dos prazos médios de estoques
e de recebimentos:
FÓRMULA 15
Ciclo operacional = Prazo médio de estoques + Prazo médio de recebimentos
CO = PME + PMR
FÓRMULA 16
Ciclo financeiro = Ciclo operacional – Prazo médio de pagamento de compras
CF = CO – PMC
FÓRMULA 17
CF = PME + PMR – PMC
Quando o CF de uma empresa é positivo, isso é um indício de que os fornecedores são pagos
antes do recebimento das vendas efetuadas aos clientes, o que gera um impacto negativo na
geração de um fluxo de caixa no decorrer do ciclo.
COMENTÁRIO
Um CF negativo significa que uma empresa recebe os recursos provenientes das vendas de
seus clientes anteriormente ao pagamento de seus fornecedores, não necessitando de capital
de giro. Pertencentes (em parte) aos fornecedores, esses recursos livres podem ser utilizados
em aplicações de curto prazo e gerar ganhos adicionais à empresa.
Como é possível observar pela análise do quadro 7, o efeito combinado dos prazos médios
(PME, PMR e PMC) implicou o aumento do descasamento de prazos do pagamento de
fornecedores e do recebimento das vendas entre os exercícios de 20X1 e 20X2.
Conforme destacamos no final do módulo 1 e no início deste módulo, a análise dos prazos
médios e dos ciclos é complementar à avaliação dos índices de liquidez. No caso da Fábrica
de Embalagens, ela contradiz as inferências realizadas a partir dos resultados apresentados no
primeiro módulo deste tema.
Os prazos médios e os ciclos têm como fraqueza a incapacidade de avaliar a composição das
fontes de financiamento utilizadas pela empresa para o financiamento da NCG, mesmo eles
sendo mais contundentes e conclusivos que a análise dos índices de liquidez. Destacaremos
no próximo módulo que essa análise pode ser efetuada pelo estudo dos indicadores de capital
de giro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
ESTOQUES = R$200
FORNECEDORES = R$300
CLIENTES = R$150
A) 90 dias
B) 70 dias
C) 110 dias
D) 30 dias
E) 50 dias
B) Quando o ciclo financeiro é negativo e as vendas aumentam, ela precisa de mais capital de
giro.
C) Quando o ciclo financeiro é positivo e as vendas aumentam, a empresa necessita de mais
capital de giro.
GABARITO
1) A análise dos prazos médios dos componentes do ativo e passivo circulantes é uma
importante ferramenta para o entendimento da situação financeira de curto prazo de
empresas. Esses indicadores podem ser calculados a partir de informações contábeis
encontradas no balanço patrimonial e na demonstração de resultado. Considere que a
organização ABC apresentou, no último exercício dela, os seguintes saldos em suas
demonstrações financeiras:
Estoques = R$200
Fornecedores = R$300
Clientes = R$150
Com base nessas informações, podemos afirmar que o prazo médio de recebimentos da
ABC é de:
PMR = 90 dias.
2) Para que se possa mensurar o efeito combinado dos prazos médios de estoque,
recebimento e compras, é necessário calcular os ciclos operacional e financeiro. Em
relação a esses indicadores, é possível afirmar que:
MÓDULO 3
Faremos ainda uma abordagem alternativa para o cálculo dos prazos médios e dos ciclos.
Além de mais completa e precisa, ela permitirá a visualização funcional da relação entre a
NCG, as receitas e os componentes do CF.
Matematicamente, a necessidade de capital de giro pode ser calculada pela diferença entre os
ativos operacionais de curto prazo (AOCP) e os passivos operacionais de curto prazo (POCP):
FÓRMULA 18
NCG = AOCP – POCP
FÓRMULA 19
AOCP = Ativo circulante – Disponível
FÓRMULA 20
POCP = Passivo circulante – Empréstimos, financiamentos e dividendos
Na fórmula 19, são abatidas do ativo circulante as seguintes disponibilidades: caixa, bancos e
aplicações financeiras de curto prazo. Portanto, restam somente os investimentos em ativos
gerados pela dinâmica operacional da empresa: estoques, clientes e outros direitos, como, por
exemplo, adiantamento a fornecedores e impostos a recuperar.
ATENÇÃO
Dessa forma, é possível afirmar que poucos tipos de negócios conseguem operar sem
investimentos em estoques e clientes (além de outros tipos de AOCP), os quais, por sua vez,
exigem uma contrapartida de financiamentos (registrada no passivo da corporação).
Para facilitar nosso entendimento, recorreremos aos dados contidos nos demonstrativos
financeiros da Fábrica de Embalagens. Faremos isso reestruturando os itens do ativo circulante
para o reconhecimento do AOCP:
AOCP
816.436 444.423
Ativo não circulante 1.412.780 1.179.718
2.812.680 1.966.115
O quadro 8 apresenta uma versão reorganizada do ativo dos anos de 20X1 e 20X2, estando
subdivido em três grupos: disponível, AOCP e ativo não circulante (ANC).
Cabe ressaltar que o ANC corresponde aos investimentos de longo prazo da empresa.
O ANC é composto tanto por ativos que a empresa pretende converter em dinheiro
somente em prazo superior a um ano (realizável em longo prazo) quanto por aqueles que
ela intenciona manter em caráter permanente.
20X1
20X2
Observaremos mais adiante que essa forte elevação (acréscimo de 84%) se deve
prioritariamente ao crescimento do ciclo operacional. Ela também foi acentuada, ainda que de
modo marginal, pelo crescimento das receitas da Fábrica de Embalagens no período
analisado.
Esses investimentos no AOCP implicam uma contrapartida de financiamentos que deve ser
registrada no passivo da empresa, sendo fundamental a análise de sua composição. De forma
similar à efetuada com o ativo, reestruturaremos agora os elementos do passivo da Fábrica de
Embalagens. Isso nos permitirá um entendimento mais preciso das fontes utilizadas para o
financiamento do AOCP.
O quadro a seguir apresenta uma versão reorganizada do passivo dos anos 20X1 e 20X2 da
Fábrica de Embalagens:
POCP
343.680 204.858
Este quadro demonstra que o passivo reorganizado da Fábrica de Embalagens foi subdividido
em três grupos:
Cabe observar que o montante de financiamento não oneroso (POCP) é função direta dos
prazos para o pagamento dessas obrigações e do volume de operações da empresa.
RESUMINDO
Podemos dizer que, quanto maior o volume de vendas (e, consequentemente, a maior geração
de gastos) e o prazo de pagamento de fornecedores (entre outras obrigações), o POCP da
empresa também será maior.
Considerando que o POCP é não oneroso, é fácil defender que esta seria a melhor fonte de
financiamento para os recursos investidos no AOCP. Isso basicamente equivale a dizer, de
forma simplificada, que as empresas idealmente desejariam financiar seus estoques e clientes
com o prazo concedido pelos fornecedores delas.
No mercado, é possível notar que algumas organizações já conseguem fazer isso. Contudo,
para a grande maioria dos negócios, existe a necessidade de financiamento oneroso. É
justamente este tipo de financiamento — parcela do AOCP não coberta pelo financiamento do
POCP — que denominamos necessidade de capital de giro.
No quadro acima, notamos que a NCG da Fábrica de Embalagens sofreu uma forte elevação,
passando de praticamente R$240 mil em 20X1 para cerca de R$473 mil em 20X2 (crescimento
de 97%). Isso gerou uma necessidade de financiamento oneroso.
No entanto, a NCG não tem a habilidade de identificar qual tipo (de curto ou de longo prazo) é
utilizado para seu financiamento. A análise da composição das fontes de recursos onerosos
utilizados no financiamento da NCG, contudo, pode ser efetuada pelo estudo de outros dois
indicadores: o capital de giro líquido (CGL) e o saldo de tesouraria (ST).
Além disso, ela ainda passa a necessitar do financiamento não oneroso proveniente do seu
POCP. Já o financiamento oneroso pode advir de fontes de curto ou de longo prazo.
Diante dessa necessidade, caso os gestores pudessem optar pela escolha do tipo de fonte
onerosa utilizando como critério o prazo e o grau de exigibilidade, os recursos mais adequados
para o financiamento da NCG seriam os de longo prazo.
Formalmente, o CGL pode ser definido como a parcela dos recursos onerosos de longo prazo
da empresa que ficam disponíveis para o financiamento da necessidade de capital de giro.
Dessa forma, matematicamente, existem duas formas para o cálculo do CGL:
FÓRMULA 21
Capital de giro líquido = Ativo circulante – Passivo circulante
CGL = AC – PC
FÓRMULA 22
Capital de giro líquido = (Patr. Líquido + Passivo não circ.) – Ativo não circulante
Basta considerarmos que a soma do PL com o PNC consiste dos recursos onerosos de longo
prazo totais e que o ANC represente os investimentos de longo prazo: a diferença entre eles
aponta quanto a empresa dispõe de recursos onerosos de longo prazo livres para o
financiamento da NCG.
Para um melhor entendimento do cálculo e da interpretação do CGL, aplicaremos as fórmulas
21 e 22 nos dados financeiros da Fábrica de Embalagens dos anos 20X1 e 20X2 que estão
registrados nos quadros 2 e 3. Já o quadro 11 demonstra o cálculo do CGL da Fábrica de
Embalagens:
CGL = AC – PC
Quadro 11: Cálculo do capital de giro líquido (CGL) da Fábrica de Embalagens em 20X1 e
20X2.
Na realidade, um CGL negativo aponta que os investimentos de longo prazo (ANC) são
parcialmente financiados pelas obrigações de curto prazo (PC). A análise do CGL do ano 20X2
(R$124.028) sugere que a empresa conseguiu obter recursos de longo prazo captando-os com
sócios e terceiros.
FÓRMULA 23
Saldo de tesouraria = Capital de giro líquido – Necessidade de capital de giro
ST = CGL – NCG
Analisaremos a seguir o ST da Fábrica de Embalagens dos anos 20X1 e 20X2. Para isso,
utilizaremos a fórmula 23 nos resultados obtidos para a NCG e o CGL que foram registrados
respectivamente nos quadros 10 e 11.
ST = CGL – NCG
De posse das informações de NCG, CGL e ST dos anos de 20X1 e 20X2 da Fábrica de
Embalagens dos quadros 10, 11 e 12, já é possível efetuar um diagnóstico da situação
financeira de curto prazo.
ST –R$248.203 –R$348.728
Em 20X1, o CGL negativo (-R$8.638) indica que a empresa não dispunha de recursos
onerosos de longo prazo para o financiamento da NCG, revelando uma total dependência de
empréstimos e financiamentos do passivo circulante (também apontada pelo ST de -R$248
mil).
A análise do CGL do ano de 20X2 denota a melhora do volume de recursos de longo prazo
destinados ao financiamento de estoques e clientes. No entanto, a despeito do êxito na
captação de recursos de longo prazo, tais recursos não foram suficientes para a cobertura de
todo aumento verificado na NCG.
Resultado: isso implicou o agravamento da dependência das dívidas onerosas de curto prazo,
o que pode ser verificado pelo ST ainda mais deficitário que o de 20X1 (-R$349 mil).
COMENTÁRIO
O uso de linhas de crédito de curto prazo é comum nos mais diversos segmentos e portes de
empresas. Entre os instrumentos mais utilizados, destacam-se as contas garantidas e os
empréstimos para capital de giro e desconto de duplicatas, além da antecipação de cartões de
crédito.
Em geral, o custo desses recursos (taxa de remuneração) costuma ser superior aos
financiamentos mais longos. Dessa maneira, o ideal seria recomendar o uso desses
instrumentos para o financiamento da parcela variável da NCG (fruto das oscilações que
ocorrem no curtíssimo prazo), utilizando, para isso, os recursos de longo prazo (geralmente
mais baratos) para a porção “fixa” da NCG.
Como demonstraremos na próxima seção, empresas com ciclos financeiros grandes e com um
alto crescimento de vendas geralmente são mais suscetíveis a problemas de financiamento do
capital de giro.
A RELAÇÃO ENTRE NCG, VENDAS E CICLO
FINANCEIRO
Destacamos anteriormente que, entre outras formas de conceituá-la, a NCG pode ser definida
como o volume de recursos onerosos necessários para o financiamento do ciclo financeiro.
Essa definição nos permite inferir a existência de uma relação direta entre a NCG e o CF.
Além do CF, outro fator que pode gerar um impacto na NCG é o volume de vendas. Empresas
com ciclos financeiros positivos tendem a apresentar maiores necessidades de capital de giro à
medida que suas receitas aumentam.
Para comprovar essas relações, é possível construir uma abordagem alternativa para o cálculo
dos ciclos (CO e CF) e dos prazos médios a partir de informações oriundas dos componentes
da NCG e das receitas líquidas de venda.
Essa abordagem pode ser considerada mais completa, precisa e útil para as estimativas da
NCG em projeções futuras.
FÓRMULA 24
Ativo operacional de curto prazo
Ciclo operacional * = x 360
í
Receita l quida de vendas (ano)
FÓRMULA 25
Passivo operacional de curto prazo
Prazo m é dio de pagamento * = í
Receita l quida de vendas (ano)
x 360
FÓRMULA 26
Ciclo financeiro* = Ciclo operacional* – Prazo médio de pagamentos
AOCP POCP
CF * = x 360 – x 360
í
Receita l quida (ano) í
Receita l quida (ano)
FÓRMULA 27
Passivo operacional de curto prazo
Prazo m é dio de pagamento * = í
Receita l quida de vendas (ano)
x 360
Manipulando os termos da fórmula 27, é possível obter um modelo para o cálculo da NCG que
será apresentado na 28. Efetuando outro pequeno rearranjo na 27, é possível conferir ainda,
na fórmula 29, a proporcionalidade das razões entre a NCG e a receita líquida com o CF*.
FÓRMULA 28
NCG =
CF*
360
í
x Receita l quida(ano)
FÓRMULA 29
NCG/Receita líquida (ano) = CF*/360
FÓRMULA 30
Componente AOCP
PM componente AOCP * =
360
í
x Receita l quida (ano)
FÓRMULA 31
Componente POCP
PM componente POCP * =
360
í
x Receita l quida (ano)
NCG/Receita + 15%
18% 33%
líquida (ano) (var. absoluta)
+ 97%
NCG R$240 mil R$473 mil
(var. relativa)
Dessa forma, é possível verificar que a maior porção do aumento da NCG de 20X1 para 20X2
diz respeito ao crescimento do CF*. Por isso, restou ao aumento das receitas um efeito
marginal, o que pode ser analisado pela decomposição do crescimento da NCG demonstrado
no quadro 16:
Podemos dizer que a aplicação da metodologia de cálculo do CF* nos dados financeiros dos
exercícios de 20X1 e 20X2 da Fábrica de Embalagens confirma a grande aplicabilidade dessa
abordagem em função de seu poder analítico e de sua correspondência com a NCG e seus
componentes.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1) OS INDICADORES DE CAPITAL DE GIRO PODEM SER UTILIZADOS PARA O
DIMENSIONAMENTO DO MONTANTE NECESSÁRIO PARA O FINANCIAMENTO
ONEROSO DO CICLO FINANCEIRO E A ANÁLISE DE SUA COMPOSIÇÃO. NESSE
SENTIDO, PODEMOS AFIRMAR QUE O CAPITAL DE GIRO LÍQUIDO INFORMA:
E) Quanto ela dispõe de recursos onerosos de longo prazo para o financiamento do saldo de
tesouraria.
O CGL consiste na diferença entre os recursos onerosos de longo prazo (patrimônio líquido e
passivos não circulantes) e os investimentos de longo prazo da empresa (ativo não circulante).
Dessa forma, ele pode ser interpretado como a quantidade que a empresa dispõe de recursos
onerosos de longo prazo livres para o financiamento da NCG.
Uma das vantagens da abordagem alternativa é o fato de ela ser mais completa, considerando
em seu cálculo todos os componentes da NCG no cálculo do CF*. No cálculo do CO*, todos os
componentes são contemplados diretamente pela aplicação da fórmula CO* = AOCP/Receita
líquida (ano) x 360, ou, de maneira alternativa, pela soma dos prazos médios de todos os
componentes.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos e discutimos neste tema as formulações e o uso dos principais indicadores na
análise da situação financeira de curto prazo de empresas. Inicialmente, abordamos o cálculo
dos índices de liquidez, que são considerados os indicadores mais tradicionais utilizados no
diagnóstico da saúde financeira.
Na sequência, abordamos a utilização dos prazos médios e ciclos. Tendo isso em vista,
demonstramos tanto as formulações dos prazos médios de estoques, recebimentos e
pagamentos de compras quanto a composição dos ciclos operacional e financeiro. Esses
dados foram aplicados a dois anos de uma empresa hipotética denominada Fábrica de
Embalagens.
Em seguida, apontamos os indicadores de capital de giro: a NCG, o CGL e o ST. Para isso,
demonstramos a aplicação deles no dimensionamento do montante de recursos onerosos para
o financiamento das atividades operacionais de curto prazo e a análise da composição das
fontes desses recursos. Fornecemos ainda exemplos da aplicação de fórmulas e da
interpretação dos resultados para todos os tipos de indicadores e metodologias apresentadas.
Por fim, destacamos a relação entre a NCG, o ciclo financeiro e as vendas mediante o
emprego de uma abordagem alternativa para o cálculo do CF.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços — um enfoque econômico-financeiro. 11.
ed. São Paulo: Atlas, 2015.
IUDÍCIBUS, S. de. Análise de balanços. 11. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2017.
RIBEIRO, O. M. Estrutura e análise de balanços fácil. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
EXPLORE+
Para se aprofundar um pouco mais em cálculo dos ciclos operacional financeiro, assista a dois
vídeos do professor Quintino no YouTube:
Para enriquecer seus conhecimentos sobre o capital de giro, veja este vídeo no YouTube do
professor Leonardo Hoffmam:
Explore o caso das Lojas Tendetudo, varejista de moda multimarcas que experimentou, no
biênio 20X1 e 20X2, uma forte expansão de receitas e lucros, para fixar os conceitos discutidos
no material e treinar a aplicação da análise da situação financeira de curto prazo.
CONTEUDISTA
Luiz Ozorio
CURRÍCULO LATTES