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Curso: Administração/Ciências Contábeis

Disciplina: Análise das Demonstrações Financeiras

Administração do Capital de Giro


Administração do Capital de Giro

Um dos grandes desafios de toda entidade é manter a situação financeira equilibrada,


de tal forma que os compromissos assumidos sejam cumpridos com o menor impacto
possível na rentabilidade da organização. Para tanto, três instrumentos fundamentais
são apresentados: Capital Circulante Líquido (CCL), Necessidade de Capital de
Giro (NCG) e Saldo em Tesouraria (ST).
Índice Capital Circulante Líquido

O que é CCL?
Conforme Blatt (2001), o CCL também é
denominado de capital de giro líquido (CGL) e
representa o excesso financeiro empresarial, ou
seja, a folga ou falta de ativos circulantes em
contrapartida aos passivos circulantes.
Índice Capital Circulante Líquido

O ativo circulante aborda algumas contas, como, por exemplo, a soma das contas a
receber, dos estoques, dinheiro em caixa, dinheiro em banco, aplicações financeiras e
duplicatas a receber.

O passivo circulante envolve algumas contas, como, por exemplo, fornecedores,


contas a pagar, folha de pagamento, encargos sociais, impostos a pagar, empréstimos a
pagar e demais dívidas vencíveis dentro do prazo de um ano, ou seja, 12 meses.
Índice Capital Circulante Líquido

A fórmula usada para calcular o CCL é definida da seguinte forma (BLATT, 2001, p.
99):

CCL = CGL = AC – PC

Ou

CCL = (PNC + PL) – ANC


Índice Capital Circulante Líquido

Onde:

CCL: capital circulante líquido


CGL: capital de giro líquido
AC: ativo circulante
PC: passivo circulante
PNC: passivo não circulante
PL: patrimônio líquido
ANC: ativo não circulante
Índice Capital Circulante Líquido

Através do CCL fica evidente a falta ou o excesso do ativo circulante relativo ao


passivo circulante. Desse modo, quanto mais elevado for o CCL ou CGL, melhor será
para a empresa, já que a partir desse resultado ela possui um excesso financeiro, o que
não representa uma folga de caixa.

O resultado adquirido com o CCL corresponde à proporção em que o passivo


circulante financia o ativo circulante. O uso do CCL busca evidenciar se há
estabilidade entre risco e rentabilidade.
Índice Capital Circulante Líquido

Observe os possíveis resultados para o CCL e o que eles indicam:

CCL > 0: quando o CCL for maior que 0 significa que o ativo circulante é maior que o
passivo circulante, o que resulta em um índice de liquidez corrente maior que 1.

Analisando o Quadro 1, é possível constatar no exemplo que o ativo circulante é


relativamente maior que o passivo circulante, o que representa que o CCL da empresa
é positivo e que ela possui uma folga financeira.
Índice Capital Circulante Líquido
Índice Capital Circulante Líquido

CCL = 0: quando o valor do CCL for igual a 0 resultará em um índice de liquidez


corrente igual a 1.

Observando o Quadro 2, verifica-se que o ativo circulante é equivalente ao passivo


circulante, ou seja, possui a mesma proporção.
Índice Capital Circulante Líquido
Índice Capital Circulante Líquido

CCL < 0: quando o resultado obtido do CCL for menor que 0, significa que o ativo
circulante é menor que o passivo circulante, resultando em um índice de liquidez
corrente menor que 1. Nesse caso, o CCL é negativo.

Ao analisar o Quadro 3, observa-se que ao contrário do Quadro 1, o passivo circulante


é maior que o ativo circulante, significando que a empresa não possui excesso ou folga
financeira.
Índice Capital Circulante Líquido
Índice Capital Circulante Líquido

Calculando o CCL
De acordo com Saporito (2015), ao calcular o CCL pode-se obter um
resultado positivo, negativo ou nulo. Ao adquirir um resultado negativo,
constata-se que essa empresa possui um risco mais elevado da sua operação,
já que ela possui obrigações de curto prazo que são superiores aos ativos de
curto prazo.

Quanto maior o total do CCL da empresa, menor risco ela apresentará, ou


seja, ela terá menor probabilidade de insolvência técnica.
Índice Capital Circulante Líquido

O Quadro 4 apresenta o resultado adquirido para o CCL no ano de 2013 e no


ano de 2014. No ano de 2014, o ativo circulante prevaleceu sobre o passivo
circulante, onde o resultado do CCL foi de R$ 100.000. Para chegar nesse
resultado, foi preciso coletar os dados do ativo circulante e passivo circulante
e aplicar a fórmula do CCL.
Índice Capital Circulante Líquido
Índice Capital Circulante Líquido

CCL = AC – PC

Ano 2014
CCL = 300.000 – 200.000 = 100.000

Ano 2013
CCL = 257.000 – 170.000 = 87.000
Índice Capital Circulante Líquido

A variação do CCL do ano de 2013 para o ano de 2014 foi de R$ 13.000,00, e


isso pode ser visualizado ao comparar os dois períodos (R$ 100.000 – R$
87.000).
Índice Capital Circulante Líquido

Quando aplicada a fórmula do CCL será obtido um resultado que pode ser
favorável ou desfavorável para a empresa. Ao obter um CCL positivo se
identifica que o total dos investimentos de curto prazo, como, por exemplo,
caixa, clientes, entre outros, é maior que as obrigações que constam no
passivo circulante e que estão compreendidas dentro do curto prazo, como,
por exemplo, fornecedores, empréstimos bancários, entre outros.
Índice Capital Circulante Líquido

Ao calcular o CCL, o resultado de um CCL positivo identifica o equilíbrio


financeiro empresarial, conforme demonstra o excesso de recursos financeiros
de longo prazo, como obrigações e capital próprio, que são investidos no
curto prazo. Desse modo, um CCL positivo demonstra a capacidade de
solvência que a empresa possui no curto prazo, assim como as decisões
estratégicas, dado que os investimentos de longo prazo são financiados por
recursos financeiros também de longo prazo.
Índice Capital Circulante Líquido

Aplicando o índice de CCL


Através da aplicação do índice de CCL, se realiza a análise dos recursos
financeiros empresariais vencíveis no curto prazo e, desse modo, se
necessário, criam-se estratégias para fins de controlar o fluxo de caixa da
empresa.
Índice Capital Circulante Líquido

O gestor financeiro estabelece algumas medidas simples, porém eficientes,


para refletir de forma relevante no resultado financeiro da empresa, como, por
exemplo:

• „Delegação de funções específicas, onde o colaborador responsável pela


movimentação do caixa não execute outras atividades.
• „Realizar um controle de fundo fixo com o intuito de pagar dívidas de
pequenos valores diários da empresa, não utilizando, desse modo, os valores
disponíveis no caixa para todos os gastos.
• „Aplicar um controle diário referente aos pagamentos e recebimentos, o que
antes não era efetuado.
Índice Capital Circulante Líquido

O uso do CCL permite identificar essas situações e possibilita que a empresa


crie melhorias. Quando o CCL apresenta resultado negativo, significa que o
ativo circulante é menor com relação ao passivo circulante, desse modo a
empresa possui CGL negativo.
Necessidade de Capital de Giro (NCG)

O Ativo Circulante é composto de duas partes: (a) uma parte relativa ao giro
do próprio negócio (operacional) e que é cíclica, pois é necessária para a
manutenção das atividades básicas da entidade; e (b) outra parte não ligada às
atividades operacionais, tendo como regra a sazonalidade (itens financeiros).

Com o Passivo Circulante ocorre da mesma forma, ou seja, existem itens


recorrentes em função da operação da empresa e itens onerosos, que não estão
ligados diretamente à atividade operacional da empresa.
Necessidade de Capital de Giro (NCG)

Portanto, é “importante analisar a composição do capital circulante líquido,


verificando-se quais os componentes operacionais e quais os itens financeiros
do ativo e do passivo circulantes, analisando-se, dessa forma, a necessidade
de capital de giro e como ela está sendo financiada [...]” (MARTINS; DINIZ;
MIRANDA, 2018, p. 187).
Necessidade de Capital de Giro (NCG)

Em geral, as principais contas componentes dos grupos operacional e


financeiro do circulante são as seguintes:

• Ativo Circulante Operacional: clientes, diminuídos da provisão para


devedores duvidosos, adiantamentos a fornecedores, estoques, impostos a
recuperar (IPI, ICMS), despesas antecipadas etc.
• Ativo Circulante Financeiro: disponibilidades, aplicações financeiras,
créditos de empresas coligadas ou controladas etc.
Necessidade de Capital de Giro (NCG)

• Passivo Circulante Operacional: fornecedores, impostos (PIS/COFINS,


ICMS, IPI, IR, CSSL), adiantamentos de clientes, salários e encargos
sociais, participações de empregados, despesas operacionais a pagar etc.
• Passivo Circulante Financeiro: empréstimos e financiamentos de curto
prazo, duplicatas descontadas, dívidas com coligadas e controladas etc.
Necessidade de Capital de Giro (NCG)

Pela diferença entre Ativo Operacional e Passivo Operacional, tem-se


a Necessidade de Capital de Giro (NCG).

NCG = AC - PC
(operacional) (operacional)
Saldo em Tesouraria

O saldo em tesouraria é obtido pela diferença entre ativo financeiro e


passivo financeiro, que sinaliza a política financeira da empresa. Se positivo,
indica que a empresa terá disponibilidade de recursos para garantir a liquidez
no curtíssimo prazo. Se negativo, pode evidenciar dificuldades financeiras
iminentes, principalmente se a situação for recorrente.

ST = AC - PC
(financeiro) (financeiro)

O Saldo em Tesouraria (ST) também é igual ao Capital Circulante Líquido


deduzido da Necessidade de Capital de Giro.
Saldo em Tesouraria

Composição do CCL, NCG e ST, bem como suas relações.

CCL = Ativo Circulante - Passivo Circulante

- = =
= Ativo Circulante - Passivo Circulante
NCG
operacional operacional
= + +
= Ativo Circulante - Passivo Circulante
ST
financeiro financeiro
Analisando CCL, NCG e ST

A análise do Capital Circulante Líquido, da Necessidade de Capital de Giro e do


Saldo em Tesouraria, de forma conjunta, poderá proporcionar importantes
evidências sobre a liquidez de um empreendimento no curto prazo.
Tipo/Item CCL NCG ST Situação
I + - + Excelente
II + + + Sólida
III + + - Insatisfatório
IV - + - Péssima
V - - - Muito Ruim
VI - - + Alto Risco
Analisando CCL, NCG e ST
Balanço Patrimonial da Cia. Grega
Analisando CCL, NCG e ST
Balanço Patrimonial da Cia. Grega
Analisando CCL, NCG e ST

Apresentação da CCL, NCG e ST da Cia. Grega.

Índice Fórmula Período 1 Período 2 Período 3


CCL Ativo Circulante – Passivo Circulante 2.370,00 2.355,00 2.819,00
NCG Ativo Circ. Operacional – Passivo Circ. Operacional 1.755,00 1.672,00 1.850,00
ST Ativo Circ. Financeiro – Passivo Circ. Financeiro 615,00 683,00 969,00
1 2 3
Ativo Circulante 3396,00 3615,00 4341,00
Passivo Circulante 1026,00 1260,00 1522,00
CCL 2370,00 2355,00 2819,00
Ativo Operacional 2330,00 2414,00 2596,00
Passivo Operacional 575,00 742,00 746,00
NCG 1755,00 1672,00 1850,00
Ativo Financeiro 1066,00 1201,00 1745,00
Passivo Financeiro 451,00 518,00 776,00
ST 615,00 683,00 969,00
Analisando CCL, NCG e ST
Interpretando o CCL e a NCG da Cia. Grega
Como pode ser notado, o CCL da Cia. Grega é positivo em todos os períodos, revelando que os recursos de curto
prazo (Ativo Circulante) são suficientes para fazer frente aos compromissos de curto prazo (Passivo Circulante) da
entidade. Além disso, o CCL melhorou significativamente no período 3, demonstrando que a situação financeira está
melhorando com o passar dos períodos.

A NCG é positiva e crescente entre os períodos “2” e “3”. Como pode ser percebido, as fontes de passivo operacional
não crescem na mesma proporção que os ativos operacionais, tornando necessária a busca de fontes onerosas de
financiamento para fazer frente às necessidades de investimento na operação. Houve uma queda na NCG no período
“2”, mas voltou a crescer no período “3”.

A evolução positiva das vendas fez com que os ativos operacionais da empresa aumentassem, embora os passivos
operacionais também tenham aumentado, mas estes foram em menor proporção. Ou seja, os acréscimos ocorridos nas
vendas, 68,2% no período “2” e 95,5% no período “3” tiveram por consequência os aumentos ocorridos no contas a
receber nos estoques, os quais contribuíram tanto para o aumento no CCL quanto na NCG.
Analisando CCL, NCG e ST
O Saldo em Tesouraria também é positivo em todos os períodos, revelando que os ativos financeiros de curto prazo
são suficientes para liquidar os passivos financeiros de curto prazo. Ou seja, em termos de capital de giro pode-se
dizer que a empresa é sólida.
Referências Bibliográficas

Alves, Aline. Análise das demonstrações financeiras [recurso eletrônico] / Aline Alves, Nathália Helena
Fernandes Laffin ; [revisão técnica: Laurise Martha Pugues]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018.

Eliseu Martins, Gilberto José Miranda, Josedilton Alves Diniz. Análise didática das demonstrações contábeis.
3. ed. – São Paulo: Atlas, 2020.

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