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Pedro Sabino
pedro.sabino@cefetmg.com
1º semestre de 2023
4 Exercícios
A administração financeira de curto prazo diz respeito, sobretudo, à análise de decisões que afetam
ativos e passivos circulantes. Frequentemente, ela é chamada de administração do capital de giro
ou administração do circulante.
Não obstante, destaca-se que não há uma definição universal para “finanças de curto prazo”. No
geral, as decisões financeiras de curto prazo envolvem entradas e saídas de caixa no prazo de um
ano1 . Ilustrativamente, alguns questionamentos de curto prazo são:
1
A delimitação de um ano não costuma ser seguida por empresas cujo ciclo produção-venda-produção ultrapasse caracteristi-
camente este prazo (como estaleiros), prevalecendo o ciclo operacional.
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Introdução
O capital de giro
De forma abrangente, o conceito capital de giro (ou capital circulante) envolve a identificação
de recursos que giram (circulam) várias vezes em determinado período. Por exemplo, um capital
alocado no disponível pode ser aplicado inicialmente em estoque, assumindo posteriormente a
venda realizada ou a forma de realizável (crédito, se a venda for realizada a prazo) ou novamente
de disponível (se a venda for realizada à vista).
Isto posto, existem diferentes metodologias de cálculo, cada uma delas refletindo uma interpre-
tação desse conceito conforme os critérios e a natureza da análise desenvolvida. A seguir, serão
exploradas medidas de capital de giro como:
Em um sentido mais amplo, o Capital de Giro representa os recursos demandados por uma em-
presa para financiar suas necessidades operacionais, desde a aquisição de matérias-primas até
oo recebimento pelo produto acabado, período denominado de ciclo financeiro.
Destaca-se que os elementos que compõem o ativo circulante não costumam apresentar sin-
cronização temporal equilibrada em seus níveis de atividade.
Nesse aspecto, uma possível segmentação do Capital de Giro é entre fixo (ou permanente) e
variável (sazonal). Algumas sugestão de como mensurar o variável?
Por um lado, o capital aplicado em giro possui baixa rentabilidade frente as demais aplicações nas
demais contas do ativo (especialmente o Ativo Permanente). Por outro, um investimento inade-
quado em giro pode causar problemas financeiros sérios, resultando na insolvência da empresa.
Em vista disso, o objetivo da administração do capital de giro é estabelecer um equilíbrio entre
rentabilidade e risco, visando aumentar o valor da empresa.
Para tanto, é preciso mensurar o montante de capital de giro adequado. Adiante, serão apresen-
tadas alguns conceitos de capital de giro e, concomitantemente, suas fórmulas.
Nesse processo, a administração do capital de giro trata dos ativos e dos passivos correntes (curto
prazo) de forma interdependentes. Um primeira leitura (teórica) acerca deste envolve a compara-
ção das constas patrimoniais relacionadas. Uma visão mais completa também considera os fluxos
operacionais e financeiros da empresa. Nesta aula, ambas as formas de análise serão desenvolvi-
das.
Como resultado da maior preocupação com a administração do capital de giro, foram aprimoradas
as técnicas de controle e gerenciamento dos valores circulantes, tornando esse segmento de es-
tudo mais especializado e, também, mais complexo. Em linha, essas técnicas de controle serão
exploradas nas aulas posteriores.
O Capital Circulante Líquido é a interpretação mais simples e usual de Capital de Giro, definida
pela fórmula
CCL = Ativo Circulante − Passivo Circulante,
ou, de modo alternativo,
CCL > 0 (AC > PC): indica folga de liquidez, pois existe uma “sobra” de recursos de longo
prazo para suprir eventuais necessidades da empresa.
CCL < 0 (AC < PC): indica a presença de dívidas de curto prazo financiando aplicações
de longo prazo. Situação que determina um aperto de liquidez da empresa, principalmente,
ao se observar que parte das dívidas vencerá em prazos inferiores aos dos retornos dos
investimentos realizados.
CCL = 0 (AC = PC): ocorre quando há total igualdade entre os prazos e os valores dos recur-
sos captados e aplicados pela empresa. A empresa não trabalha com recursos de longo prazo
financiando seus ativos circulantes, ou seja, não apresenta folga financeira. As aplicações de
curto prazo estão totalmente financiadas com fundos de mesma duração e a posição de liq-
uidez não apresenta folga alguma.
Balanço Patrimonial
Ativo Circulante 150.000 Passivo Circulante 130.000
Realizável a Longo Prazo 50.000 Exigível a Longo Prazo 80.000
Ativo Permanente 120.000 Patrimônio Líquido 110.000
Total do Ativo 320.000 Passivo + PL 320.000
Qual é o valor do CCL? O sinal do CCL obtido está indicando o que? Ainda, você consegue
antecipar uma limitação nessa leitura? Sem recorrer a outros indicadores, é possível melhorar
isso?
Adicionalmente, há decisões que não impactam o CCL, tais como: pagamentos de dívidas de
curto prazo que reduzem o Ativo Circulante e o Passivo Circulante no mesmo volume; compras de
estoques a vista; e, aquisições de bens fixos por meio de financiamentos de longo prazo.
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Mensuração do Capital de Giro
Dessa forma, essa medida revela o volume de capital próprio da empresa que está financiando o
ativo circulante e o realizável a longo prazo.
Ele é, essencialmente, uma medida de liquidez, revelando o montante de recursos próprios que
estão financiando, no primeiro caso, o ativo circulante e o realizável a longo prazo. Implicitamente,
assume-se que o PL visa financiar o ativo permanente e, assim, o CGP identifica a origem do
financiamento dos demais ativos - o que é um tanto limitado, dado que não há um “carimbo” entre
as contas do PL e as do Ativo.
Nesta decomposição, observa-se quais contas são cíclicas (o circulante operacional) e não-cíclicas
(o circulante financeiro e o permanente). O circulante operacional é diretamente relacionado com
a atividade da empresa, sendo impactado pelo volume de negócios e/ou pelas características
do ciclo operacional. Portanto, esse grupo de contas mantêm uma coerência maior com o ciclo
operacional da empresa. Em particular, o saldo entre o Ativo Circulante Operacional e o Passivo
Circulante Operacional obtém-se o Ativo Circulante Operacional Líquido, que representa a efetiva
Necessidade de Investimento em Capital de Giro (NIG).
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Mensuração do Capital de Giro
Portanto, define-se:
Logo, se a empresa apresentar um fluxo de saídas de caixa mais rápidas do que o de entradas, a
NIG será positiva, identificando a necessidade permanente de investimento no seu giro. Por outro
lado, uma NIG negativa indica que os passivos estão financiando não só os ativos operacionais
mas também outros ativos - é o caso de uma empresa que adquire mercadoria com pagamento
em 40 dias, mas recebe pela venda desta antes desse prazo.
Logo, a NIG é influenciada pelo ciclo financeiro (tempos entre entradas e saídas de caixa) e pelo
volume de atividades (produção e vendas), que são características do negócio, além de possível
sazonalidade.
Ela indicada a necessidade de investimento que deve ser coberta basicamente por passivos per-
manentes (exigível a longo prazo e patrimônio líquido).
ou,
SD = Ativo Financeiro − Passivo Financeiro,
Este SD funciona como uma reserva financeira da empresa para fazer frente a eventuais expan-
sões da necessidade de investimento operacional em, principalmente nas atividades sujeitas à
sazonalidade.
Calcule o CCL, a NIG, a NTFP e o SD! Compare os quadros financeiros das duas estruturas!
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Mensuração do Capital de Giro
NIG × CCL
Uma relação que pode ser obtida a partir das definições anteriores é que:
Calcule os valores do CCL e da NIG! Conforme o CCL, há folga financeira nessa empresa? Há
recursos de curto prazo financiando necessidades operacionais permanentes?
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Mensuração do Capital de Giro
NIG × CCL
O Ciclo Operacional representa o intervalo de tempo em que não ocorrem ingressos de recursos
financeiros na empresa, demandando-se capital para financiá-lo. Neste, as medidas de prazo
médio são similares aos indicadores de Atividade - aula 3. Quanto maior for o tempo total do ciclo,
maior será a necessidade de investimento em giro. Em especial, empresas, como construtoras
costumam apresentar um ciclo operacional caracteristicamente mais longo, exigindo a presença
de volume maior de financiamento de capital de giro.
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Ciclo Financeiro e Necessidade de Investimento em Giro
Uma observação importante neste ciclo é que as necessidades financeiras não são constantes ao
longo do tempo, geralmente sendo crescente conforme a evolução no ciclo. Isto posto, o estudo
mais aprofundado dessas etapas será realizado ao longo das próximas aulas.
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Ciclo Financeiro e Necessidade de Investimento em Giro
Segundo este gráfico, para manter o equilíbrio financeiro, basta a empresa financiar suas neces-
sidades variáveis com dívidas de curto prazo e utilizar os recursos de longo prazo para financiar
todas suas necessidades financeiras permanentes - inclusive o circulante permanente. Todavia,
destaca-se que esta é uma abordagem bem
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Administração onde o mínimo de recurssos
Financeira de longo
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Ciclo Financeiro e Necessidade de Investimento em Giro
A adoção desse tipo de abordagem é altamente impactada pelo custo do crédito de longo prazo,
geralmente mais caro que o de curto prazo.
Por fim, uma abordagem de financiamento bem mais agressiva é utilizar recursos de curto prazo
para financiar não só o capital de giro sazonal como também parte das necessidades permanentes.
Ciclos e NIG
Adequando a leitura gráfica dos ciclos à medida de NIG tem-se, por exemplo:
Nesta, inclusive os valores realizáveis a longo prazo foram considerados como Ativo Permanente.
Ainda, destaca-se que a NIG pode ser decomposta em permanente e sazonal e, neste con-
texto, tem-se uma fórmula alternativa para a NTPF, dada por:
NTFP = NIG Permanente + Ativo Permanente,
onde a empresa pode optar por financiar a NIG sazonal com passivos financeiros de curto prazo.
Ainda, como apresentado na discussão de cilos anteriormente, a empresa pode adotar aborda-
gens mais conservadores ou mais agressivas acerca da utilização de fontes de longo prazo para
financiar a NIG.
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Ciclo Financeiro e Necessidade de Investimento em Giro
A NIG é dimensionada a partir do ciclo financeiro da empresa. Uma vez calculado os prazos
médios das etapas, é possível determinar o número de dias (na média) da NIG dentro de um ciclo
através de
NIG(dias) = (PME + PMF + PMV + PMC) − (PMPF + PMPD) ,
onde, em termos anuais,
Matéria-Prima
PME (PM de Estocagem de Matéria-Prima) = Consumo de Matéria-Prima
× 360;
Produto em Elaboração
PMF (PM de Fabricação) = Custo dos Produtos Elaborados
× 360;
Produto Acabado
PMV (PM de Vandas) = Custo do Produto Vendido
× 360;
Duplicadas a Receber
PMC (PM de Cobrança) = Vendas
× 360;
Fornecedores a Pagar
PMPF (PM de Pagamento a Fornecedores) = Compras
× 360;
Despesas a Pagar
PMPD (PM de Pagamento das Despesas Operacionais) = Despesas Incorridas
× 360.
Considerando o ciclo no quadrimestre (PMs em 120 dias), calcule as medidas de PMs e, por fim,
aPedro
NIGSabino
em (pedro.sabino@cefetmg.com)
termos de número de dias. Administração Financeira 1º semestre de 2023 28 / 34
Ciclo Financeiro e Necessidade de Investimento em Giro
Isto posto, destaca-se que o número de dias do ciclo financeiro é de 40 dias, pois:
O cálculo anterior pode ser melhorado ao realizar alguns ajustes nos prazos dos ciclos financeiros
ao relacioná-lo diretamente com as vendas. Para tanto, considere que os seguintes PMs anuais:
Para Estoques:
Matéria-Prima Consumo de Matéria-Prima
PME(MP) = Consumo de Matéria-Prima × 360 × Vendas ;
Produto em Elaboração Custo dos Produtos Elaborados
PMF = Custo dos Produtos Elaborados × 360 × Vendas ;
PMV = CustoProduto Acabado Custo do Produto Vendido
do Produto Vendido × 360 × Vendas .
Logo, o Prazo Médio de Estocagem Total é dado por PME = PME(PV) + PMF + PMV.
Para Fornecedores:
Fornecedores a Pagar
PMPF = Compras × 360 × Compras
Vendas .
Despesas a Pagar Despesas Incorridas
PMPD = Despesas Incorridas × 360 × Vendas .
Exercícios Conceituais
1. Quando uma empresa possui um CCL negativo, é possível que o NIG seja positivo?
2. Para que o saldo do disponível aumente, mantendo o mesmo CCL, qual deverá ser o compor-
tamento da NIG?
3. Explique a relação entre o tamanho do ciclo operacional e financeiro de uma empresa e sua
NIG.
4. Mostre uma situação prática onde a NIG é negativa, utilizando para isso o conceito de ciclo
financeiro.
5. Explique o fato de empresas com NIG sazonal elevado demandar uma estrutura de financia-
mento mais conservadora.
Exercícios Conceituais
Respostas da 1. a 5.:
1. CCL = NIG + SD. Se o CCL é negativo, o NIG pode ser positivo desde que o saldo de
disponível seja negativo e menor que o CCL. Por exemplo, CCL = -100 e NIG = 50. Neste
caso, o SD será -150.
3. Empresas com elevados ciclos (operacional e financeiro) possuem uma NIG mais elevada.
4. Um exemplo seria uma empresa comercial que só vende a vista e consegue obter um prazo
longo para pagamento dos fornecedores. Além disto, o prazo de estocagem é reduzido. O
ciclo financeiro é dado por PME + PMC -PMPF. Como PMC = 0 e o PME é reduzido, o ciclo
financeiro será negativo.
Exercícios
8. Para uma necessidade de investimento em giro de R$ 450 mil, uma empresa possui vendas
médias de R$ 1.200 mil por mês. Nos próximos meses a empresa está prevendo um au-
mento nas vendas para R$ 1.500 mil. Mantendo as demais variáveis constantes, qual a nova
necessidade de investimento em giro?
Exercícios Conceituais
Respostas da 6. a 8.:
6. NIG = 7.200 +10.300 +1.200 -4.000 -9.000 -1.300 = 4.400; SD = 4.500 -5.000 -1.700 -3.000 =
-5.200; CCL = 18.200 -19.000 = -800, ou: CCL = 4.400 -5.200 = -800; NPTF = 4.400 +68.800
= 73.200.
7. NIG em R$ = 5 milhões +3 milhões -1,7 milhão = 6,3 milhões. O prazo médio de cobrança é
de 60 dias (5/30 × 360). Estoques em dias de vendas = 3/30 × 360 = 36; Fornecedores em
Dias de Vendas = 1,7/30 × 360 = 20. Assim, NIG em Dias de Vendas = 60 +36 -20 = 76 ou
6,3/ 30 × 360.
1.500
8. A NIG será 1.200
× 450= 563 mil.