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Administração Financeira

O Administrador Financeiro

Como praticamente toda a ciência, as finanças corporativas incorporaram em seu escopo as grandes
evoluções do mundo contemporâneo. Seus métodos de avaliação e conteúdo conceitual assumiram um caráter
bem mais abrangente, elevando sua importância para as empresas. O administrador financeiro, por seu lado,
passou a ser mais exigido, identificando uma necessidade de especialização e atualização cada vez maiores.
A crescente complexidade do mundo dos negócios determinou, ainda, que o responsável pela área
financeira desenvolvesse uma visão mais integrativa da empresa e de seu relacionamento com o ambiente
externo. O conhecimento restrito às técnicas e os instrumentos da administração financeira já se mostram
insuficientes no atual mundo dos negócios, necessitando o executivo de maior sensibilidade relativa a outros
valores e informações estratégicos.
O processo de tomada de decisões reflete a essência do conceito de Administração. Reconhecidamente,
administrar é decidir, e a continuidade de qualquer negócio depende da qualidade das decisões tomadas por
seus administradores nos vários níveis organizacionais. E essas decisões, por sua vez, são tomadas com base em
dados e informações viabilizados pela Contabilidade, levantamentos do comportamento do mercado e do
desempenho interno da empresa.
Esse processo decisorial básico ao sucesso de toda empresa vem assumindo complexidade e riscos cada
vez maiores na economia brasileira. Desequilíbrios nas taxas de juros, desajustes de mercado, ausência de
poupança de longo prazo, intervenções nas regras de mercado da economia, comportamento das taxas de
inflação, desafios do crescimento da economia, entre outros aspectos, vêm exigindo uma capacidade mais
questionadora e analítica das unidades decisórias. Conceitos financeiros consagrados em outros ambientes
econômicos costumam encontrar enormes dificuldades de adaptação em nossa realidade empresarial,
demandando um conjunto de ajustes e reflexões nem sempre seguidos pelo mercado.

Funções do Administrador Financeiro

É de suma importância que o profissional da área seja uma pessoa extremamente dinâmica, voltada tanto para o
ambiente interno para o ambiente externo da empresa. Ele precisa conhecer a empresa como um todo: sua
estrutura, sua missão, seu negócio, todo seu ciclo operacional e financeiro, as relações existentes entre as áreas
e departamentos, etc.
Além disso, ele deve estar atento:

 Às tendências da economia;
 Aos juros praticados pelo mercado;
 Em conhecer seus concorrentes, observando sua atuação;
 As decisões políticas que podem, direta ou indiretamente, afetar a empresa;
 Em entender a globalização econômica e sua interferência nas decisões;
 Em fazer o uso constante de novas tecnologias de controle e informática;
 Minimizar riscos com o não recebimento dos valores;
 Controlar prazos concedidos (reavaliação de créditos a clientes);
 Adotar políticas de cobrança mais eficaz;
 Em buscar sempre atualizar-se e capacitar-se.

Dentro do ambiente empresarial, a administração financeira volta-se basicamente para as seguintes


funções:
a) planejamento financeiro, o qual procura evidenciar as necessidades de expansão da empresa,
assim como identificar eventuais desajustes futuros.
Por meio do planejamento, ainda, é possível ao administrador financeiro selecionar, com maior margem
de segurança, os ativos mais rentáveis e condizentes com os negócios da empresa, de forma a estabelecer mais
satisfatória rentabilidade sobre os investimentos;
b) controle financeiro, o qual se dedica a acompanhar e avaliar todo o desempenho financeiro da
empresa. Análises de desvios que venham a ocorrer entre os resultados previstos e realizados, assim como
propostas de medidas corretivas necessárias, são algumas das funções básicas da controladoria financeira;
c) administração de ativos, que deve perseguir a melhor estrutura, em termos de risco e retorno,
dos investimentos empresariais, e proceder a um gerenciamento eficiente de seus valores. A administração dos
ativos acompanha também as defasagens que podem ocorrer entre entradas e saídas de dinheiro de caixa, o que
é geralmente associado à gestão do capital de giro;
d) administração de passivos, que se volta para a aquisição de fundos (financiamento) e o
gerenciamento de sua composição, procurando definir a estrutura mais adequada em termos de liquidez,
redução de seus custos e risco financeiro.

Principais Decisões da Administração Financeira

Ao basear-se nas funções financeiras enunciadas, qualquer que seja a natureza de sua atividade
operacional, uma empresa é avaliada como tomadora de duas grandes decisões financeiras: decisão de
investimento - aplicações de recursos - e decisão de financiamento - captações de recursos.
Uma terceira decisão que envolve a alocação do resultado líquido da empresa, também conhecida por
decisão de dividendos, é geralmente incluída na área de financiamento por representar, em última análise, uma
alternativa de financiar suas atividades. Dividendo é uma decisão que envolve, fundamentalmente, a
distribuição de parte dos lucros aos acionistas, ou o custo de oportunidade de manter esses valores retidos,
visando lastrear seus negócios.
As decisões financeiras são tomadas pelas empresas de forma contínua e inevitável. A decisão de
investimento, considerada como a mais importante de todas, envolve todo o processo de identificação,
avaliação e seleção das alternativas de aplicações de recursos na expectativa de se auferirem benefícios
econômicos futuros. Por não se ter certeza da realização futura de lucros, a decisão de investimento envolve
risco, devendo ser avaliada em termos da relação risco-retorno.
As decisões de investimento criam valor e, portanto, mostram-se economicamente atraentes quando o
retorno esperado da alternativa exceder a taxa de retorno exigida pelos proprietários de capital (credores e
acionistas). É importante destacar que essas decisões inserem-se no âmbito do planejamento estratégico da
empresa, e são reflexo de planos futuros traçados para a condução dos negócios. Refletem, em outras palavras,
um compromisso com a continuidade do empreendimento.
As decisões de financiamento, por outro lado, preocupam-se principalmente com a escolha das
melhores ofertas de recursos e a melhor proporção a ser mantida entre capital de terceiros e capital próprio. O
objetivo central dessa decisão envolve a determinação da melhor estrutura de financiamento da empresa, de
maneira a preservar sua capacidade de pagamento e dispor de fundos com custos reduzidos em relação ao
retorno que se espera apurar de suas aplicações.
Na prática, as empresas têm a sua disposição variadas fontes de captação, tais como fornecedores,
instituições financeiras, acionistas etc., as quais apresentam diferentes condições de custo, amortizações, prazos
e garantias exigidas. Essas condições devem ser combinadas de forma a adequar o passivo às características de
rentabilidade e liquidez das aplicações desses recursos.
Essas duas grandes áreas de decisão das empresas devem apresentar-se de maneira bastante integradas
entre si. Enquanto as decisões de financiamento descrevem as taxas de retorno exigidas pelos detentores de
capital, as oportunidades de investimento centram suas principais avaliações nos retornos esperados.
Estabelecem-se, em essência, um portfólio de oferta de fundos disponíveis para investimento e outro de
alternativas de aplicação desses valores, devendo ocorrer, para a atratividade do negócio, uma taxa de retorno
esperada superior ao custo do financiamento.
A integração descrita entre as áreas de decisão ocorre inclusive com a política de dividendos. Uma
decisão de reter os lucros para reinvestimento implica necessariamente uma avaliação de que o retorno gerado
pela empresa supera o ganho que o acionista poderia obter na hipótese de dispor de seus lucros. Logo, a
reaplicação dos lucros empresariais pode somente ser justificada quando o retorno prometido pelos negócios
superar as taxas oferecidas por outras oportunidades equivalentes de investimento. Nesse inter-relacionamento
das decisões de investimento e de dividendos, é interessante observar que as oportunidades de aplicações de
fundos dos investidores (pessoas físicas) não coincidem necessariamente com as alternativas de investimentos
disponíveis às empresas.
Por outro lado, a inter-relação das decisões de financiamento com a de dividendos verifica-se pela
opção da empresa em manter maior ou menor volume de capital próprio financiando seus investimentos. Em
verdade, a decisão de distribuição ou não de lucros é uma decisão de financiamento mediante capital próprio, ao
reter resultados, ou mediante capital de terceiros, ao distribuir resultados.

Fatores das Decisões Financeiras

Para a tomada de decisões financeiras, dois fatores devem ser considerados:


a) econômico, com base na relação entre o retorno do investimento e o custo da captação. A
agregação de valor econômico em uma empresa somente se verifica quando o lucro operacional, apurado em
determinado momento, superar o custo total de capital da empresa; e
b) financeiro, identificado pela sincronização entre a capacidade de geração de caixa dos negócios
e o fluxo de desembolsos exigidos pelos passivos. O equilíbrio financeiro de uma empresa pressupõe uma
interdependência de prazos entre ativos e passivos, ou seja, a maturidade das decisões de investimento deve ser
compatível com a das decisões de financiamento.
É importante que se destaque, ainda, o risco associado às decisões financeiras tomadas pelas empresas,
o qual pode ser identificado segundo a natureza da decisão tomada:
a) risco econômico (operacional): inerente à própria atividade da empresa e às características do
mercado em que opera. Alguns exemplos: sazonalidade de mercado, tecnologia, concorrência, estrutura de
custos, qualidade dos produtos, variações nas taxas de juros etc.;
b) risco financeiro: reflete o risco associado às decisões de financiamento, ou seja, a capacidade
da empresa em liquidar seus compromissos financeiros assumidos. Empresas com reduzido nível de
endividamento apresentam baixo nível de risco financeiro; altos níveis de endividamento, por outro lado, ao
mesmo tempo em que poder promover maior capacidade de alavancar os resultados, denotar maior risco
financeiro.
O desempenho desses dois componentes de risco afeta evidentemente o risco total da empresa e seu
valor de mercado. Esses riscos não são tratados de forma independente, pois uma decisão financeira tende a
afetar a outra. Em termos práticos, a administração financeira preocupa-se com o equilíbrio na relação risco-
retorno de suas decisões, alcançando a máxima rentabilidade associada a um nível de risco que promova a
maximização do valor de mercado da empresa. A mensuração do risco da empresa é uma preocupação presente
em todas as decisões de administração financeira.

Medição do objetivo da empresa

Na evolução descrita da administração financeira, que desemboca no objetivo contemporâneo de


maximização da riqueza de seus proprietários de capital, evidencia-se uma preocupação na forma como a
empresa é avaliada e no impacto que cada decisão financeira determina sobre a riqueza. A mensuração mais
precisa do objetivo de maximização da riqueza pode ser desenvolvida com base em algumas propostas
elaboradas por diferentes segmentos.
Um objetivo muitas vezes sugerido, inclusive pela teoria econômica, é a maximização do lucro. Esse
objetivo, que denota uma medida de eficácia econômica, está sujeito a diversos questionamentos e restrições.
Dentro do âmbito da administração financeira, o lucro, conforme determinado pelos princípios
contábeis consagrados, não define a efetiva capacidade financeira de pagamento da empresa, pois seu critério
de apuração é baseado no regime de competência, e não no de caixa.
Mais relevante, ainda, é o fato de o lucro contábil não levar em consideração o risco inerente à
atividade da empresa. Em verdade, o lucro é uma medida de desempenho que, quando projetada no futuro, não
leva em conta os riscos associados aos fluxos esperados de rendimentos.
É importante que se ressalte ainda que o lucro não representa o efetivo desempenho da empresa,
constituindo-se, mais corretamente, num dos parâmetros de medição desse desempenho. Uma empresa é
avaliada pelo todo, por seu potencial de lucro, tecnologia absorvida, qualidade de seus produtos, estratégias
financeiras, preços, imagem, participação de mercado etc., e não somente por um único componente.
De forma mais efetiva, o valor de uma empresa depende de seu desempenho esperado no futuro, do que
ela é capaz de produzir de riqueza, e não do custo de seus ativos. Os ativos são dimensionados pelo valor
despendido no passado quando de sua aquisição, tendo por objetivo único confrontá-los com as receitas de
vendas, visando apurar lucro, não revelando esses procedimentos contábeis nenhuma preocupação em medir
seu valor econômico de venda. A avaliação de uma empresa para a administração financeira, por seu lado,
volta-se para seu valor intrínseco, o qual é função, conforme foi esclarecido, dos benefícios econômicos
esperados de caixa, do risco associado a esses resultados e da taxa de retorno requerida pelos investidores.
São esses parâmetros decisórios - fluxos econômicos de caixa, risco e taxa de atratividade - definidos
com base nas expectativas do investidor com relação ao desempenho econômico esperado e de seu grau de
aversão ao risco, que determinam o valor de mercado de uma empresa. Essas expectativas podem alterar-se ao
longo do tempo e, geralmente, o fazem, ditadas principalmente por variações nas taxas de juros e no
comportamento da economia.
É necessário que se avalie, outrossim, que o processo de tomada de decisões financeiras seja
desenvolvido tendo sempre em conta o equilíbrio entre risco e retorno. Evidentemente, não se exige que a
empresa procure priorizar a minimização do risco, mas que trabalhe basicamente dentro da expectativa de
promover uma remuneração (retorno) condizente com o risco assumido.
Para maiores riscos, investidores racionais esperam auferir maiores retornos, e vice-versa. Essa
premissa básica deve ser levada em consideração pelo administrador financeiro ao avaliar o impacto das
decisões financeiras sobre o valor da empresa. E o objetivo da administração financeira vincula-se, em
conclusão, ao bem-estar econômico de seus proprietários, associado a um nível adequado de risco, de forma a
promover a maximização do valor de mercado da ação da empresa.

Exercícios

1) Comente as principais funções da gestão financeira.


2) Quais são as principais decisões da gestão financeira e quais são seus principais objetivos?
3) Comente sobre os fatores econômicos e financeiros que estão relacionados com a gestão financeira.
4) Comente sobre o risco econômico e financeiro envolvidos nas decisões financeiras.
5) Porque o lucro contábil não é uma boa medida para avaliar a maximização da riqueza dos proprietários
de capital?
6) Comente como pode ser avaliado o valor de mercado de uma empresa.

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