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AULA 5

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Profª Lorena Lucena Furtado


CONVERSA INICIAL

Olá aluno! É importante entender como as empresas se organizam a fim


de realizar a captação de recursos para atingir os seus objetivos estratégicos,
executando projetos relavantes ao crescimento dos negócios. Logo, para esta
aula serão apresentados alguns conceitos fundamentais sobre como a gestão
administrativa deve estar atuando junto às decisões de financiamento, sendo que
estas estão diretamente relacionadas as suas decisões sobre investimentos.
Para isso, serão colocadas primeiramente algumas formas teóricas e
práticas que ajudam a administração na escolha da sua estrutura de capital, que
nada mais é do que a identificação dos atores que trarão os recursos a fim de dar
continuidade ao negócio e fazer com que seus projetos de investimento sejam
realizados.
Posteriormente, serão identificadas as formas de alavancagem, que podem
ser tanto atreladas diretamente ao uso de recursos de terceiros quanto atreladas
à atividade normal da empresa. São fatores que tem o seu lado positivo desde
que o gestor tenha em mãos um planejamento financeiro adequado para a sua
atividade.
Após tais características, esta aula será encerrada com quais são as
formas presentes de financiamento tanto em um curto prazo quanto em um longo
prazo. Ou seja, o destaque está na administração de caixa, de obrigações com
terceiros, com o patrimônio dos sócios, entre outros títulos que podem ser emitidos
de acordo com a natureza da empresa.

CONTEXTUALIZANDO

Sabe-se que é constante a tomada de decisões dentro das entidades,


sejam relacionadas às questões operacionais ou financeiras. De modo geral,
essas decisões são realizadas tendo como base uma prospecção do cenário
econômico e político do país, além daquelas relacionadas ao setor de atuação da
entidade. Mas quais análises podem ser realizadas em termos de fontes de
financiamento para as empresas?
Dessa forma, para esta aula serão realizadas as seguintes perguntas:
como é realizada a escolha de estrutura de propriedade? A empresa sempre terá
ao seu alcance recursos de caixa? Porque escolher a dívida como fonte de

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financiamento? Quais alavancagens estão presentes na gestão das entidades?
Como a alavancagem pode influenciar as decisões de financiamento da empresa?
Nessa linha, espera-se contribuir com o conhecimento adequado sobre a
gestão de recursos tanto de curto prazo quanto de longo prazo.

TEMA 1 – ANÁLISE DA ESTRUTURA DE CAPITAL

Para o gestor financeiro, entender sobre a estrutura de propriedade


importa, uma vez que este saberá a quem deverá as obrigações sobre
informações a respeito do negócio, bem como saberá as questões relativas à
política de distribuição de dividendos, política de financiamentos e de
investimentos.
A estrutura de capital nada mais é do que a forma como a empresa é
financiada. Ou seja, com capital advindo do patrimônio líquido diretamente
relacionado aos sócios ou reintegrações de lucros do período, ou com capital
advindo de terceiros sendo aqueles diretamente relacionados a empréstimos
bancários, leasing, debêntures, entre outros títulos.
A diferença principal entre estes dois componentes está no fato de que a
estrutura de capital relacionada ao patrimônio líquido dá aos sócios e acionistas
majoritários o direito sobre a administração da empresa. Já a forma de estrutura
de capital relacionada a terceiros não dá ao proprietário do título o direito sobre a
propriedade da entidade limitando a este apenas o direito a receber partes do fluxo
de caixa da entidade uma vez que estarão presentes taxas ou valores a serem
pagos estabelecidos em contratos prévios.

1.1 Qual a melhor escolha?

Para saber qual a estrutura de capital mais adequada, algumas


observações podem ser realizadas. Mas não há um modelo padrão que qualquer
empresa possa empregar em seu negócio e que identifique se naquele
determinado momento deverá haver a escolha de um em detrimento do outro.
A princípio, é importante que a entidade identifique no seu ambiente
questões relacionadas ao seu planejamento estratégico, se a entidade pode
assumir obrigações quanto a garantias contratuais aos seus credores ou
investidores. Além de identificar qual a sua projeção de fluxo de caixa, uma vez
que esta característica tende a apresentar ao gestor se com os resultados
financeiros advindos das atividades operacionais a empresa é capaz de se

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financiar em um longo prazo, ou se em determinado momento será melhor estar
com recursos vindos de terceiros uma vez que são de mais fácil acesso.
Existem algumas abordagens na teoria sobre finanças que podem ajudar o
gestor a entender melhor sobre como a escolha da estrutura de capital impacta
na imagem da entidade: Teoria Convencional e a Teoria advinda de Modigliani e
Muller.
Para a Teoria Convencional, aumentando o nível de endividamento com
terceiros, os custos de capital próprio e de terceiros irão aumentar colocando a
empresa em risco de ter maiores dívidas em detrimento dos seus retornos,
podendo causar o que se chama de insolvência. A definição de tal teoria coloca
que o custo do capital total da empresa (CMPC) irá permanecer constante até um
determinado ponto de endividamento, crescendo a partir de então. Nessa teoria é
identificado que o valor da empresa é impactado pela forma como a sua estrutura
de capital é definida.
Logo, é defendido que exista um ponto de equilíbrio entre capital próprio e
de terceiros. Porém, a entidade deve levar em consideração que em uma
economia inflacionária as taxas de juros e a economia do país podem oscilar
dificultando a previsão para aquele ponto de equilíbrio definido em determinado
momento (Assaf Neto, 2014).
Já a Teoria de Modigliani e Muller coloca que a gestão da empresa não
será afetada pela forma como esta é financiada. Ou seja, o que importa para o
investidor é apenas o seu fluxo futuro positivo de caixa. Logo, o valor da entidade
independe do financiamento por capital próprio ou capital de terceiros (Modigliani
e Miller, 1958).
Porém, para os autores, a defesa de tal teoria está concentrada em um
ambiente onde não existem custos contratuais, não há presença de tributos e
todas as informações estão disponíveis para que o gestor tome a sua decisão.

1.2 Custo e vantagens para a escolha da estrutura de capital

É importante que o gestor tenha presente para a escolha da estrutura de


capital alguns custos que podem ser incorridos, pois são informações relevantes
e que estão diretamente ligadas aos fluxos de caixa, receitas e despesas gerados
pelos negócios.
Se a entidade escolhe estar sendo financiada por capital próprio, ou seja,
capital advindo dos sócios, é importante ter como destaque que os riscos

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assumidos, caso existam oscilações ou perdas no negócio, serão apenas destes.
Caso a empresa opte por abrir capital, colocar ações no mercado acionário, ali
estarão custos associados principalmente à elaboração de relatórios com
informações necessárias à análise dos investidores. Esses custos de informações
são necessários uma vez que reportam ao mercado a saúde financeira dos
negócios para que o acionista decida se irá comprar ou vender as ações da
entidade, fazendo com que exista o que se chama de liquidez de tais títulos (Assaf
Neto, 2014).
A vantagem em ter uma política priorizando capital do patrimônio líquido é
que, no caso de existir futuras sazonalidades e imprevistos, a empresa poderá
contrair dívidas com mais tranquilidade.
Caso a empresa opte em reter recursos de terceiros, os custos incorridos
serão principalmente relacionados a cláusulas contratuais. Para empréstimos com
bancos, o comum está em fixação de taxas de juros que estabelecem para a
empresa um passivo financeiro, também conhecido como passivo oneroso. Da
mesma forma, a emissão de debêntures que são títulos para pagamento de
dívidas ou financiamento de empréstimos, e o leasing associado à obtenção de
bens para a execução das atividades operacionais da entidade, acarretam para a
empresa uma despesa relacionada a pagamentos monetários enquanto perdurar
o contrato.
Neste caso, a vantagem para obter capital de terceiros está no fato de que
disciplina os gestores para trabalhar a fim de garantir o pagamento das obrigações
de acordo com o estabelecido nos contratos.

TEMA 2 – ALAVANCAGEM FINANCEIRA

De modo geral, o gestor financeiro deve trabalhar com a melhor estrutura


que possa maximizar a riqueza dos acionistas. Para isso, conta com a escolha da
estrutura de capital. Por exemplo, a empresa pode se ver diante de um contexto
em que a prospecção em termos de crescimento de vendas futuras seja alta, e ter
de decidir se naquele momento é melhor ser financiada por um empréstimo
bancário com taxas que irão comprometer o seu fluxo futuro de caixa, ou se é
melhor permanecer com recursos próprios esperando que no futuro exista a
entrada de recursos no caixa devido à alta nas vendas e, dessa forma, o projeto
de investimento venha a ser realizado no futuro.

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Nos termos empregados pela gestão financeira, existe a figura da
alavancagem financeira sendo esta a capacidade da entidade trabalhar
diretamente com recursos de terceiros de forma a trazer um melhor desempenho
com tais recursos no valor atribuído para os investidores.
Para Morante e Jorge (2012) o cálculo da alavancagem financeira pode ser
realizado através do uso de dados contábeis, sendo a fórmula como a que segue:

𝑅𝑂𝐸
𝐺𝐴𝐹 =
𝑅𝑂𝐴

Onde:

 𝐺𝐴𝐹 = grau de alavancagem financeira;


 𝑅𝑂𝐸 = relação entre o lucro líquido;
 𝑅𝑂𝐴 = retorno sobre o ativo.

O cálculo do lucro líquido é realizado utilizando o lucro líquido de um


período sobre o patrimônio líquido de determinado período:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑅𝑂𝐸 =
𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜

Pode-se dizer que essa é uma medida de rentabilidade sem ter como base
dados qualitativos e que são importantes como a questão do capital de giro da
entidade que é um indicativo de fluxo de caixa e de valores disponíveis para a
continuidade dos negócios.
Já no retorno sobre o ativo, a fórmula deve conter o lucro antes das
despesas financeiras sobre o ativo total de um determinado período:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙
𝑅𝑂𝐴 =
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙

Considera-se como uma medida de riqueza para capital próprio e para


capital de terceiro, sem levar em consideração questões qualitativas como o
passivo oneroso da entidade.
Utilizando a métrica GAF, teremos os seguintes resultados:

 GAF maior que 1 (um) – existe um valor que denota que o capital de
terceiros contribuiu para a geração de valor para o investidor.
 GAF menor que 1(um) – indica prejuízo com o uso de capital de terceiros
sem obter retorno para com o investidor.

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 GAF igual a 1 (um) – o uso de capital de terceiros não resultou nem em
retornos positivos ou negativos para o acionista.

Nesta forma de analisar o grau de alavancagem financeira estão abordados


dados qualitativos que podem não estar apresentando de maneira completa se a
empresa está utilizando em excesso ou não valores de terceiros.
A principal questão a ser analisada na prática será no sentido de identificar
se tomando um maior número de capital de terceiros a empresa venha a conseguir
auferir melhores retornos. Ou se é melhor permanecer apenas com recursos
internos, sejam relativos à caixa ou recursos advindos dos sócios, no qual podem
trazer retornos favoráveis invalidando a escolha por capital de terceiros.

2.1 Influência do imposto de renda

Quando se analisa a questão da contração de dívidas e as suas vantagens


quanto a questões tributárias, o gestor leva em consideração o fato de que as
despesas financeiras com dívidas reduzem o valor a ser pago com o imposto de
renda. Isso se deve ao fato de que na apuração do resultado do exercício, primeiro
será calculado o lucro operacional, ou seja, o lucro advindo puramente do ativo
da entidade sem interferência de recursos de terceiros; e posteriormente será
calculado o lucro líquido após a dedução do imposto de renda.
Focando na questão das despesas financeiras, veja um exemplo.

Quadro 1 – Despesas financeiras

Vendas 120.000.00
(-) Custos dos produtos vendidos 30.000,00
= Lucro bruto 90.000,00
(-) Despesas com vendas 10.000,00
(-) Despesas administrativas 20.000,00
= Lucro operacional 60.000,00
(-) Despesas financeiras 15.000,00
= Lucro antes de IR e Contribuição Social 45.000,00
(-) provisão para IR 15.300,00
= Lucro Líquido 29.700,00

Quando analisada a questão da tributação, caso a empresa não estivesse


com despesas operacionais, haveria um total de provisão de IR de 20.400,00
(34% x 60.000,00). No entanto, a despesa financeira fez com que houvesse um
abatimento menor de 5.100,00 (34% x 15.000).
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Com a presença do retorno financeiro, a empresa tende a alterar o retorno
sobre o patrimônio líquido (ROE) que vem a ser o retorno dos acionistas. Apesar
de diminuir este, haverá menos despesas que irão impactar o fluxo de caixa da
entidade.

2.2 Passivos de funcionamento

Outro ponto importante a ser analisado para decisões sobre financiamento


com capital de terceiros vem a ser aqueles valores pagos referente a passivos
necessários à execução das atividades operacionais da entidade. As empresas
tendem a ter algumas obrigações que não lhe darão retornos monetários, e sim
dispêndios ao longo das suas atividades. Ou seja, valores que se não houver
atraso em seu pagamento não implicarão em encargos financeiros para a
empresa. É o caso de salários a pagar, fornecedores de mercadorias, impostos e
recolher, entre outros. Por não haver encargo esses passivos devem ser excluídos
do cálculo relativo à análise de despesas financeiras.
Por este motivo, Assaf Neto e Lima (2017) colocam o ROI (retorno sobre o
investimento) como uma forma de analisar a alavancagem financeira excluindo-
se do ativo total todos os passivos de funcionamento que não são onerosos:

𝐿𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙
𝑅𝑂𝐼 =
𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑑𝑒 𝐹𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

Com esta fórmula, o gestor identifica a rentabilidade trazida com o uso de


capital próprio ou capital de terceiros.

TEMA 3 – ALAVANCAGEM OPERACIONAL

A entidade precisa estar atenta às questões relacionadas à atividade


operacional, uma vez que esta influencia nos retornos relativos à atividade a fim
de elaboração de um produto ou prestação de serviço.
Logo, existe a análise do grau de alavancagem operacional, o qual
identifica como que a alteração em determinado volume de produção pode estar
impactando no resultado operacional da entidade. Se, por exemplo, a venda em
determinado período crescer 20%, como isto estará refletido no lucro operacional.
Para o cálculo deste item Assaf Neto e Lima (2017) inferem a seguinte
fórmula:

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𝑃𝑜𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜
𝐺𝐴𝑂 =
𝑃𝑜𝑟𝑐𝑒𝑛𝑡𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑛𝑎 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑛𝑜 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑎 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒

Deve-se lembrar que os custos fixos não sofrem variação com o aumento
do volume de produção. Logo, para aquelas entidades que dependem mais das
despesas fixas haverá maiores chances de ocorrer a alavancagem operacional.
Porém, a empresa terá maiores riscos uma vez que haverá maior variação dos
seus resultados operacionais. Por este motivo, é necessário que a empresa saiba
qual o seu ponto de equilíbrio para que tenha o controle de quanto poderá produzir
sem que isto impacte de maneira drástica nos seus resultados operacionais.
A seguir será discriminado um exemplo em que serão comparados dois
tipos de empresa: a empresa X com despesas fixas elevadas e a empresa Y com
despesas fixas pequenas:

Quadro 2 – Comparativo entre empresas X e Y

Empresa X Empresa Y
Receita com vendas 70.000,00 70.000,00
(-)Despesas variáveis 10.000,00 40.000,00
(-) Despesas fixas 40.000,00 10.000,00
= Resultado operacional 20.000,00 20.000,00

Suponha que haverá um aumento de 20% nas receitas de vendas. Logo, o


quadro ficará da seguinte forma:

Quadro 3 – Comparativo entre empresas X e Y

Empresa X Empresa Y
Receita com vendas 84.000,00 84.000,00
(-)Despesas variáveis 12.000,00 48.000,00
(-) Despesas fixas 40.000,00 10.000,00
= Resultado operacional 32.000,00 26.000,00

Comparando o resultado da empresa X nos dois quadros, tem-se uma


32.000,00 𝑥 100
variação de 160% ( ). Já na empresa Y, a variação foi de
20.000,00
26.000,00 𝑥 100
130% ( ). Ou seja, em condições onde há um custo fixo maior, a
20.000,00

tendência é que existam maiores variações nos resultados quando do aumento


do volume de vendas. Dessa forma, faz-se necessário calcular o ponto de
equilíbrio.
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Observa-se com o exemplo que empresas passam a ser mais alavancadas
quando os seus custos e despesas fixas são elevados. Logo, apesar do risco
pertinente, essas empresas de certa forma podem incorrer em maiores lucros
quando comparadas com aquelas com baixos custos fixos. Porém, correm
maiores riscos de ter prejuízos quando diminui as suas vendas em determinado
período.
Porém, outro ponto importante a ser avaliado é a margem de contribuição
do produto. Logo, observando o exemplo abaixo notamos que:

Quadro 4 – Comparativo entre empresas X e Y

Empresa X Empresa Y
Receita com vendas (um) 70,00 70,00
(-)Despesas variáveis 10,00 40,00
= Margem de contribuição 60,00 30,00
(-) Despesas fixas 40,00 10,00
= Resultado operacional 20,00 20,00

O Quadro 4 destaca que as empresas com menores custos variáveis terão


uma maior margem de contribuição do seu produto. Caso a empresa incorra em
um aumento de 10% dos seus custos e despesas variáveis e permaneça com os
mesmos custos fixos:

Quadro 5 – Comparativo entre empresas X e Y

Empresa X Empresa Y
Receita com vendas (um) 70,00 70,00
(-)Despesas variáveis 11,00 44,00
= Margem de contribuição 59,00 26,00
(-) Despesas fixas 40,00 10,00
= Resultado operacional 19,00 16,00

O que ocorrerá é que o lucro da empresa que tem uma menor margem de
contribuição unitária será afetado mais drasticamente com mudanças ocorridas
em seus custos variáveis (Assaf Neto e Lima, 2017). Logo, a empresa também
deve estar ciente de que os custos e despesas variáveis são fatores que podem
impactar os seus resultados. Se o aumento na Empresa Y em relação às
despesas variáveis fossem na ordem de 50%, a sua margem de contribuição seria
10,00, o que acarretaria um resultado operacional nulo. Já na Empresa X, 50% de

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aumento nas despesas variáveis resultariam em uma margem de contribuição de
55,00 e um resultado operacional unitário na ordem de 15,00.

TEMA 4 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO DE CURTO PRAZO

As decisões envolvendo financiamentos de curto prazo estão atreladas


basicamente à fonte advinda do caixa da entidade ou dos valores a disposição
para a continuidade dos negócios.
Porém, caso a empresa inicialmente tenha uma má formação do capital
social integralizado, a entidade pode ter dificuldades em ter um capital circulante
líquido comprometendo, dessa forma, suas operações e fazendo com que outras
fontes de recursos sejam necessárias para o seu financiamento como, por
exemplo, captação de empréstimos bancários (Morante e Jorge, 2012).
Nessa linha, primeiro é necessário que a empresa realize um planejamento
do seu caixa, caso, principalmente, ela venha a optar por se financiar com
recursos advindos prioritariamente das suas atividades. Ou seja, estabeleça como
será a sua política de decisões relacionadas aos valores disponíveis que são os
recursos monetários que irão circular para a consecução da atividade fim da
empresa.
Para isso, a empresa deve realizar previsões detalhadas de impostos a
pagar, vendas a realizar, despesas a pagar, entre outros itens que podem estar
atrelados à entrada e saída de caixa durante o andamento das atividades da
empresa.

4.1 Capital Circulante Líquido

Uma das análises que podem ser realizadas para identificar de maneira
objetiva o comportamento do caixa da entidade vem a ser o que se denomina de
capital circulante líquido. Esta forma de análise apresenta dados extraídos
diretamente do Balanço Patrimonial identificando os recursos considerados como
ativo circulantes e as obrigações denominadas de passivos circulantes.
Com essas duas fontes de informações presentes em tais balanços, a
entidade consegue analisar em um curto prazo se existe uma relação positiva para
a entidade dos recursos disponíveis para a liquidação das suas obrigações a um
curto prazo. A forma de cálculo usual é a que segue:

𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜 = 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒 − 𝑃𝑎𝑠𝑠𝑖𝑐𝑜 𝐶𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒

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Um CCL positivo indica que a empresa terá como pagar as suas obrigações
e ainda permanecerá com recursos em caixa. Já um CCL negativo indica que a
empresa não poderá arcar com as obrigações naquelas datas de cálculo do CCL.
Por exemplo, suponha que a empresa tenha um ativo circulante de
10.000,00 e um passivo circulante de 8.000,00. Logo, haverá uma folga de
2.000,00 (𝐶𝐶𝐿 = 10.000 − 8.000 = 2.000) no caixa. Agora, se os valores fossem
invertidos com um ativo circulante totalizando 8.000,00 e um passivo circulante
totalizando 10.000,00. Nesse caso, haveria uma falta no caixa de -2.000,00
(𝐶𝐶𝐿 = 8.000 − 10.000 = −2.000).
É uma forma simples de identificar em uma data específica como está o
caixa da entidade. Porém, é necessário que existam informações complementares
relacionadas aos períodos para execução das duplicatas a receber, pagamento a
realizar, principalmente, para que a empresa se certifique de que prazos foram
estabelecidos para a entrada e saída de caixa.
Logo, para que o CCL se encontre com um saldo positivo, a empresa deve
estabelecer o seu ciclo operacional e o seu ciclo de caixa de forma que trabalhem
em conjunto para que não exista um prazo para recebimentos descombinado com
o prazo de pagamento dos fornecedores e demais obrigações.
Outros aspectos que devem ser levados em consideração quanto à política
adotada para o capital circulante. Eles se referem ao fato de que a entidade pode
em determinado período optar por imobilizar o recurso disponível em caixa. Ou
seja, a empresa poderá integrar no seu ativo imobilizado um novo bem fazendo
com que o seu CCL venha a diminuir. Logo, o gestor deve estar atento à questão
de se é melhor realizar tal prática ou se não seria mais vantajoso colocar recursos
de terceiros em longo prazo a fim de não impactar no CCL naquele momento.
Um CCL positivo traz vantagens consideráveis para as operações da
entidade. Mas pode ser o caso de que se na entidade existir um excesso de CCL,
talvez em determinado momento o mais indicado será colocar este valor a mais
em algum investimento que dê um certo retorno para a empresa.
Por estes motivos expostos e outros que permeiam as entidades nas
decisões de financiamento de curto prazo, é que se faz necessário um
planejamento do caixa.

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4.2 Administração de fatores de caixa

De forma geral, existem outros fatores a serem geridos para a boa


qualidade do caixa da entidade. De acordo com Morante e Jorge (2012), a
empresa deve administrar o capital de giro, o disponível da entidade, as questões
de duplicatas a receber e os estoques de produtos. Além de identificar a
necessidade real de capital de giro em determinado momento.
Para o capital de giro, a entidade deve estar atenta a fatores como quais
recursos estão presentes girando pelas atividades operacionais e se
concretizando em valores monetários. Neste tópico, devem ser relacionadas
também as questões relativas ao ciclo operacional e financeiro.
Para a gestão do disponível Morante e Jorge (2012, p.42) identificam como
sendo aqueles “[...] ativos cuja característica seja a sua transformação em dinheiro
ou liquidez imediata, de forma natural e sem interferências de terceiros”. Logo,
estão integradas as contas de caixa, banco, aplicações financeiras de curto prazo,
entre outras que podem ser convertidas de maneira imediata em recursos
monetários.
Para a gestão das duplicatas a receber, o gestor deve estar atento a sua
política de crédito junto aos clientes. A empresa deve encontrar um ponto onde
sejam estabelecidos prazos oportunos tanto para a empresa quanto para o cliente.
Para isso, é importante que tenham informações acerca do mercado, do cenário
em que a empresa se encontra, das condições da empresa em relação aos riscos
relacionados ao capital de giro, entre outras pertinentes à adoção de uma política
de crédito.
Quanto ao estoque de produtos, devemos lembrar que esta é uma conta
que integra o ativo da empresa. Logo, deve-se adotar uma política de estoque na
qual exista uma definição de quando deverão ser realizadas as compras para que
não venha a existir um excesso de estoque ou uma falta deste.

TEMA 5 – DECISÕES DE FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO

Existem algumas opções para a capitalização da empresa relacionada à


decisão de financiamento de longo prazo. Longo prazo, no sentido de que os
recursos alocados e dispendidos, assim como os seus retornos, serão sentidos
em um período maior que aqueles de curto prazo. Ou a empresa se financia com

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capital próprio ou realiza a reinversão de lucros, ou a empresa realiza
financiamentos junto a terceiros.
Uma das formas encontradas para a obtenção de recursos com capital
próprio vem ser através da abertura de capital, onde a entidade coloca ações no
mercado acionário e obtém como retorno valores para dar andamento aos seus
investimentos.
Para a captação de recursos de terceiros, as empresas têm algumas
opções ao seu dispor: emissão de debêntures, leasing financeiro e operacional,
empréstimos bancários, entre outros títulos que revertem para a empresa valores
para a execução dos seus projetos de investimento.

5.1 Financiamento por capital próprio

Para a decisão por financiamento com capital próprio, as empresas podem


ter as seguintes opções: capital dos sócios, cotas, ações ou reinversão de lucros.
O capital dos sócios são aquelas integralizações que ocorrem no início das
atividades indicado no estatuto da empresa. Se for uma empresa limitada, o
registro de tal integralização será como cota. Caso seja uma empresa de
sociedade anônima (capital aberto ou fechado), o registro da integralização será
denominada como ação. A sociedade anônima pode ser tanto de capital fechado
quanto de capital aberto, sendo que a última terá as suas ações negociadas no
mercado acionário.
Damodaram (2007) destaca que este tipo de capital confere ao proprietário
direito sobre a gestão da empresa e suas decisões, além de poder ter os seus
retornos através de dividendos e outras entradas que poderão ser conseguidos
durante a atividade do negócio.
Quanto à reinversão de lucros, as empresas podem optar em colocar
determinada parte dos lucros auferidos em um período na reserva de lucros a fim
de realizar a sua utilização em períodos posteriores em projetos de investimento
ou em outras atividades destacadas no estatuto da empresa. Essa também passa
a ser uma fonte de financiamento para as empresas.
De forma geral, optar apenas por este tipo de financiamento requer que,
em geral, as empresas tenham um bom fluxo de caixa, o que dependerá da
atividade do negócio. Além do mais, caso a empresa não tenha o seu capital
aberto, o risco das operações e das atividades financeiras da empresa será
totalmente atribuído aos sócios.

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5.2 Financiamento por dívida

A diferença primordial no financiamento por dívida, quando comparado com


a fonte de financiamento por patrimônio líquido, está no fato de que no primeiro o
credor não tem direito a decisões administrativas da entidade e nem a dividendos.
O direito aqui está relacionado aos fluxos futuros de caixa, uma vez que haverá
taxas e encargos com a obtenção dos recursos de terceiros.
Além do fato de quando da contração de dívidas, os valores referentes ao
imposto de renda sofrerão redução, uma vez que as despesas financeiras para
este tipo de transação entrarão no computo da base de provisionamento de tal
tributo junto a Demonstração do Resultado do Exercício.
Essa taxa é cobrada uma vez que a empresa, ao estar inserir recursos na
empresa, requer como contrapartida recursos financeiros, uma vez que estará
assumindo riscos de, por exemplo, a empresa passar por um período de
sazonalidade e não cumprir com as suas obrigações. Para Padoveze (2016, p.
267), “são consideradas fontes de recursos de terceiros as obrigações emitidas
pela empresa ou os empréstimos e financiamentos contraídos que tenham
remuneração financeira, com juros ou prêmios”.
De forma geral, podemos definir as dívidas como abaixo:

 Empréstimo bancário – são valores contraídos no qual a sua contratação


deixa pré-determinada uma taxa a ser paga periodicamente. Geralmente a
sua vantagem está no fato de ter maior facilidade de contratação
 Debêntures – são títulos colocados a fim de obter valores para o
pagamento de dívidas ou para o financiamento de investimentos. Conferem
ao debenturista um prêmio ou juros, sendo que podem dar o direito de
conversão em ações ou não.
 Leasing - este tipo de financiamento está atrelado geralmente à obtenção
de bens imóveis, pagando para o contratante um valor pelo aluguel deste.
O operacional tem por característica que, ao final do período contratado, o
bem será devolvido para o contratante. Já o financeiro dá o direito de que
ao final do contrato o bem ficará com o contratado tendo o dispêndio de um
valor residual.
 Bônus – títulos de dívida no qual conferem ao proprietário o direito em
receber uma renda fixa. Geralmente este tipo de transação está presente
junto a empresas estrangeiras.

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Foram colocadas algumas características de como a empresa pode captar
recursos para fins de financiamento em longo prazo. Mas, deve-se colocar a
importância de estabelecer uma política de financiamento da empresa para que
esta saiba o momento de ser capitalizada com recursos de terceiros, os fluxos de
caixa futuros que serão impactados com tais escolhas, a melhor forma de
capitalização, entre outros itens atrelados ao cenário econômico, político e do
setor de atuação.

FINALIZANDO

Nesta aula o aluno pode verificar que a escolha da estrutura de capital da


empresa não é uma tarefa fácil, uma vez que demanda a projeção de fluxos de
caixa, questões relacionadas à gestão tributária, as perspectivas do setor e da
economia.
Logo, para facilitar a sua escolha o planejamento financeiro torna-se
necessário. Além deste planejamento, o gestor deve entender como os custos
fixos e variáveis podem comprometer os resultados futuros de fluxos de caixa da
empresa, uma vez que devem ser trabalhadas as melhores formas de prazos de
pagamento e recebimento, além da margem de contribuição do que está ali sendo
produzido. Para isso, existe a figura do grau de alavancagem que possibilita que
tal atividade seja melhor executada.
Por fim, existem formas específicas de se financiar. Seja através de
patrimônio líquido advindos dos sócios, ações colocadas no mercado,
empréstimos bancários, debêntures, entre outros. Todos têm custos associados
no qual podem comprometer tanto o fluxo de caixa, quanto o patrimônio líquido
da entidade.

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REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2014.

ASSAF NETO, A; LIMA, F. G. Fundamento de administração financeira. 3.


ed. São Paulo: Atlas, 2017.

BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. Administração financeira: teoria e


prática. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2016

DAMODARAM, A. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed. Dados


eletrônicos. Porto Alegre: Bookman, 2007.

HOJI, M. Administração Financeira Na Prática. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

MORANTE, A. S.; JORGE, F. T. Administração Financeira. 1 ed. São Paulo:


Atlas, 2012.

PADOVEZE, C. L. Administração financeira. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2016.

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