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AULA 1

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Profª Franciele Lourenço


TEMA 1 – VISÃO GERAL DAS FINANÇAS

As finanças são vistas como, se não a área mais importante, uma das que
possui maior importância, de forma que devemos avaliar as receitas e despesas
e concluir se a maximização das riquezas e as decisões tomadas foram as mais
assertivas.
Nesse sentido, todo o processo de transferência de recursos que envolvam
pessoas e instituições, mercados e o próprio governo será de responsabilidade
da decisão financeira.
Nesta aula, trataremos da importância da administração financeira, seus
objetivos, as responsabilidades do administrador financeiro, conceitos gerais da
administração financeira e sua aplicação na prática.

1.1 Fundamentos e importância da administração financeira

Os modelos econômicos criados pelo capitalismo mundial aos poucos vão


moldando a forma com que nos relacionamos comercialmente. Por isso, é papel
dos administradores financeiros coletar dados, avaliar e analisar as receitas e
despesas obtidas, ou seja, é algo que faz parte da administração dos recursos
financeiros e da sua gestão, bem como as tratativas com as instituições que fazem
parte desse relacionamento.
Mas, afinal, por que estudar finanças?
As finanças fazem parte de todas as decisões diárias, seja de uma família,
empresa e/ou governo. É nelas que estão pautados o crescimento e o
desenvolvimento das atividades e oportunidades, e por serem muito amplas e
dinâmicas, afetam a vida de todos os indivíduos, independentemente de serem
eles pessoas físicas, jurídicas e/ou Estado.
Gitman (2010, p. 3) fala que “Finanças diz respeito ao processo, às
instituições, aos mercados e aos instrumentos envolvidos na transferência de
dinheiro entre pessoas, empresas e órgãos governamentais”.
Portanto, as decisões que envolvem principalmente o emprego do dinheiro,
em termos de ganhos e perdas, farão parte da administração financeira – por isso
sua importância.
Assim, Berk, Damazo e Harford (2010, p. 38) inserem o Princípio da
Avaliação, que “mostra como tornar os custos e benefícios de uma decisão
comparáveis, de maneira que você poderá ponderá-lo adequadamente”.

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Portanto, tendo em vista as opções, avaliar a que mais trará ganhos em
termos de segurança e eficiência dos recursos financeiros será o primeiro passo
a ser dado para uma boa administração financeira.
Então, a administração financeira

compreende o conjunto de atividades relacionadas com a gestão do


fluxo de recursos financeiros na organização e tem a dupla
responsabilidade de captar os recursos necessários às atividades da
empresa e alocá-los de forma a alcançar os objetivos organizacionais.
(Sobral; Peci, 2013, p. 557)

Por isso, as finanças estão divididas em duas grandes áreas: a dos serviços
financeiros e da administração financeira.
Gitman (2010, p. 3) diz que “os serviços financeiros dizem respeito à
concepção e oferta de assessoria e produtos financeiros”.
Por outro lado, Gitman (2010, p. 4) expõe que a administração financeira
diz respeito:

às atribuições dos administradores financeiros nas empresas. Os


administradores financeiros são responsáveis pela gestão dos negócios
financeiros de organizações de todos os tipos — financeiras ou não,
abertas ou fechadas, grandes ou pequenas, com ou sem fins lucrativos.

Sendo assim, em resumo, as finanças tratam de três questões importantes:

1) Quais investimentos você vai realizar em longo prazo? É a identificação do


orçamento de capital – das oportunidades que tragam custo-benefício à
organização, respeitando o tipo de negócio e suas necessidades
particulares.
2) Como conseguirá os financiamentos necessários? Consiste na análise da
estrutura de capital – ou seja, é a relação entre o exigível a longo prazo e
o patrimônio que a empresa possui para financiar suas operações.
3) Como será administrado o fluxo diário de operações da empresa? Essa
etapa consiste na administração do capital circulante – entradas e saídas
de recursos diários da empresa, que respondem dúvidas quanto a caixa,
estoques, crédito, empréstimos e assim por diante.

Logo, as finanças no geral tratam de serviços financeiros que são


conduzidos por meio de uma gestão de negócios, sejam eles de cunho financeiro
ou não, ou ainda, informações sobre aquisição, controle e emprego dos recursos
financeiros organizacionais.

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Portanto, Ross et al. (2013, p. 8) dizem que o objetivo da administração
financeira é “ganhar dinheiro ou agregar valor para os proprietários”. Podendo
ainda, segundo Ross et al. (2013, p. 9), pensar em: “Sobreviver, evitar problemas
financeiros e falência, superar a concorrência, maximizar as vendas ou a
participação de mercado, minimizar os custos, maximizar os lucros e manter o
crescimento constante dos lucros”.
Quanto às decisões da administração financeira, temos a seguir uma figura
básica organizacional de uma empresa estadunidense:

Figura 1 – Quadro organizacional de uma empresa estadunidense

Fonte: Ross et al. (2013, p. 3).

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É interessante mostrar que no topo do quadro organizacional da empresa
estadunidense encontra-se o Conselho Administrativo (CA), seguido do
Presidente do Conselho Administrativo e o Diretor Presidente (CEO). Aqui, o CA
deve fiscalizar o CEO. A seguir temos o quadro organizacional de uma empresa
brasileira:

Figura 2 – Quadro organizacional de uma empresa brasileira

Fonte: Ross et al. (2013, p. 4).

No quadro organizacional de uma empresa brasileira percebemos que, em


seu topo, estão os acionistas, que elegem um Conselho Fiscal. Este irá trabalhar
junto com o Conselho de Administração, dando sequência às demais funções.
E, quando se fala em representação de interesses empresariais, é o
administrador financeiro que ficará encarregado das decisões diárias, escolhendo
as mais apropriadas ao tipo de negócio, respeitando um planejamento e previsão
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das necessidades, o financiamento e suas alternativas de fontes de recursos, o
controle dos resultados e o investimento/aplicação dos resultados financeiros
(Maximiniano, 2012).
Logo, o administrador financeiro tomará decisões, com base dos dados
colhidos no Balanço Patrimonial. No caso das tomadas de decisões que envolvem
investimentos, o Ativo Circulante e o Ativo Imobilizado serão seus direcionadores,
quanto as decisões de financiamentos, o Passivo Circulante e as Dívidas de
Longo Prazo e o Patrimônio Líquido serão utilizados para as tomadas de decisão.
Ross et al. (2013, p. 2): “A função do administrador financeiro é comumente
associada a um alto executivo da empresa, como um vice-presidente de finanças
ou um diretor financeiro (em inglês, chief financial officer – CFO)”.

Esse administrador financeiro tem como funções a formulação de uma


estratégia financeira para a empresa e suas subsidiárias, a
representação da organização perante órgãos públicos e instituições
financeiras e a direção dos departamentos, unidades ou pessoas que
desempenhem tarefas relacionadas com a gestão de recursos
financeiros na organização. (Sobral; Peci, 2013, p. 560)

E por mais que haja vários departamentos financeiros com objetivos e focos
diferentes dentro da mesma empresa, todos possuirão interdependência, afinal, em
termos gerais, o objetivo maior será o mesmo – ganhar dinheiro.

TEMA 2 – OBJETIVOS ESTRATÉGICOS DE UMA EMPRESA

Os objetivos estratégicos de uma empresa serão aqueles que darão


direcionamento às atividades da empresa, impulsionado por metas e objetivos
empresariais de longo prazo.

2.1 Objetivos e metas

“Os Objetivos são os resultados desejados, que orientam o intelecto e a


ação. São os fins, propósitos, intenções ou estados futuros que as pessoas e as
organizações pretendem alcançam, por meio da aplicação de esforços e recursos”
(Maximiano, 2012, p. 122).
Dentro do processo de tomada de decisão, os objetivos podem ser vários,
e ainda podem se desdobrar em outros objetivos, que muito provavelmente irão
se interligar uns aos outros. Conforme Maximiano (2012, p. 123), os objetivos
interligados formam uma hierarquia ou cadeia de meios e fins, tal como segue:

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Figura 3 – Objetivos em hierarquia

Objetivo
final
Objetivo Objetivo
intermediário intermediário

Ponto de Objetivo
partida intermediário

Fonte: Maximiano (2012, p. 123).

Em se tratando de termos gerais, os objetivos devem ser obtidos com base


em números e indicadores que serão alcançados por meio da determinação de
metas, que consistem na durabilidade do projeto. Por exemplo, o desenvolvimento
de um protótipo de um novo veículo em 6 meses (meta), e alcançar
posteriormente, a venda de 100 mil carros por dia (objetivo).
Portanto, os objetivos são mais gerais do que as metas, pois o primeiro
consiste no que se pretende fazer; já o segundo expressa quantitativamente como
serão atingidos os objetivos. Para isso, temos os planos (que definem o passo a
passo de como os objetivos e metas serão postos em prática) e o planejamento
estratégico (define as alterações que ocorrerão, para o plano obter sucesso).
Segundo a Regra de Ouro n. 7 de Júlio (2005, p. 107), “a estratégia é o
caminho para você alcançar, o mais rápido possível, seu objetivo”.
O processo de desenvolvimento de estratégias se inicia com a definição do
primeiro passo, que consiste no autoconhecimento, ou autoanálise, que permitirá
conhecer a si próprio, no caso a sua organização e avaliar seus pontos fracos e
fortes.
Em seguida, Júlio (2005) diz que devemos avaliar a realidade da empresa.
Essa fase se utiliza da Regra dos seis Cs:

1) Companhia: analisar os pontos fracos e fortes da empresa.


2) Concorrentes: listar os pontos fracos e fortes de seus concorrentes. Não
devemos esquecer de limitar a análise ao ramo no qual estamos inseridos.
3) Canais: classificar os principais canais de vendas diretos e indiretos, não
esquecendo de levantar os canais existentes e como eles enxergam sua
empresa como fornecedora.
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4) Consumidores finais: conhecer as necessidades, desejos e hábitos, bem
como a escala de valores.
5) Custos: entender a contabilidade gerencial e de custos, analisando seus
lançamentos, tempo de retorno, margem de lucro, preços, impostos etc.
6) Contexto: analisar e monitoras o ambiente de negócios e suas prováveis
mudanças.

Por essa razão é dito:

Se você conhecer o inimigo e a si mesmo, não precisa temer o resultado


de uma centena de batalhas. Se você conhecer a si mesmo, mas não o
inimigo, para cada vitória você também sofrerá uma derrota. Se não
conhecer nem o inimigo, nem a si mesmo, você sucumbirá em todas as
batalhas. (Sun-Tzu, 2007, p. 39)

Já a administração estratégica é composta por quatro etapas:

1) Pensar estrategicamente: entender o problema empresarial e suas


múltiplas dimensões.
2) Planejar estrategicamente a atuação da empresa: compreender e utilizar
de forma eficaz os recursos.
3) Executar eficazmente as estratégias definidas: atuar mediante o
desenvolvimento de suas capacidades de liderança, informação, motivação
e coordenação de esforços dentro e fora da organização.
4) Controlar os resultados estratégicos obtidos: acompanhar e avaliar as
estratégias adotadas, verificando se estão sendo eficazes e se necessitam
de correções e/ou adaptações.

Assim, a estratégia é adotada de múltiplas dimensões, e em seu bojo temos


assuntos dos mais variados, cabendo aqui trazer apenas aqueles que, em termos
gerais, tragam apenas suas etapas cronológicas.
Dessa forma, pensar estrategicamente é a capacidade de entender um
problema empresarial e seus múltiplos desdobramentos.

TEMA 3 – AMBIENTE DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

Assim como outros departamentos, a administração financeira se


desenvolve em um cenário de certa complexidade, por estar ligada não só ao
ambiente interno, mas também externo à organização. No entanto, o objetivo
principal é alocar de forma eficiente os recursos produtivos na economia como um
todo.

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São instituições financeiras e mercados: Mercado de Capitais, Taxas de
Juros e Retornos Requeridos e a Tributação de Pessoa Jurídica, que fazem parte
do ambiente operacional da empresa.
Sobre as instituições financeiras, Sobral e Peci (2013) a caracterizam como
um subsistema de intermediação “cuja função é intermediar transferências de
recursos entre agentes geradores de poupança e agentes carente de capital”.
Entre algumas instituições financeiras estão: as Instituições de Crédito a
Curto prazo; as Instituições de Crédito de Médio e Longos Prazos; as Instituições
de Crédito para Financiamento de Bens e Consumo Duráveis; o Sistema
Financeiro de Habitação; Instituições de Intermediação no Mercado de Capitais;
as Instituições de Seguros e Capitalização e; as Instituições de Arrendamento
Mercantil (Fortuna, 1999).
Para isso, o Sistema Financeiro se faz importante por ser um “conjunto de
instituições, instrumentos e mercados agrupados de forma harmônica, com a
finalidade de canalizar a poupança das unidades superavitárias até o investimento
demandado pelas deficitárias” (Pinheiro, 2016, p. 36).
Aliás, o sistema financeiro pode assumir três funções básicas na economia
(Pinheiro, 2016):

1) Facilitar a designação temporal (e espacial) de recursos;


2) Levar a poupança a uma forma de investimento mais produtivo;
3) Facilitar a gestão de ricos por meio da redistribuição e diversificação de
investimentos.

Já o Mercado de Capitais é conceituado como o local onde são negociados


valores mobiliários, como ações (capital social de uma empresa, subdivididos em
frações), commercial papers ou notas promissórias comerciais (títulos de dívidas
para captação de recursos de curto prazo) e debêntures (valores mobiliários
representativos de dívida de médio e longos prazos) (Kerr, 2011), ou seja, são
transações de longo prazo, que envolvem agentes deficitários e superavitários.
Taxas de Juros e Retornos Requeridos indicam o custo de tomar fundos
em relação a retorno requerido, que é o custo do emissor, envolto pelo risco de
inadimplência.

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Figura 4 – Maximização do preço da ação

Alternativa Aumenta
Administrador Retorno?
de decisão o preço Sim Aprovar
Financeiro Risco?
financeira da ação?

Não

Rejeitar

Fonte: Gitman (2010, p. 14).

Tendo em vista que todos que se encontram no mercado transacionando


buscam liquidez no menor prazo o possível, vale a pena optar por valores que
levem em consideração a taxa de juros real, que é aquela que desconta o valor
da inflação. Em contrapartida, a taxa de juros sem risco é aquela que leva em
consideração a taxa de juros real mais a expectativa inflacionária.
Sabemos que o risco é proporcional ao retorno, porém devemos nos ater a
que tipo de investimentos estamos realizando e quando pretendemos auferir tais
ganhos, para que, assim, o administrador financeiro chegue próximo de um
resultado real.
E a Tributação de Pessoa Jurídica diz respeito à incidência de impostos,
que poderá incidir sobre rendimentos provenientes de ganhos ordinários e de
capital.
Os ganhos ordinários incidem sob empresas, caracterizadas como uma
sociedade por ações, e que serão obtidos por meio da venda de bens e serviços.
São os chamados lucro normal ou operacional. Neste caso, a alíquota utilizada é
a alíquota média, paga sobre o resultado ordinário de uma empresa (Gitman,
2010). Seu cálculo é obtido por meio da seguinte fórmula:

𝐼𝑀𝑃𝑂𝑆𝑇𝑂 𝑃𝐴𝐺𝑂
ALÍQUOTA MÉDIA =
𝑅𝐸𝑆𝑈𝐿𝑇𝐴𝐷𝑂 𝑇𝑅𝐼𝐵𝑈𝑇Á𝑉𝐸𝐿

Ou seja, é a divisão do imposto de renda pelo lucro tributável, enquanto


que a alíquota marginal representa a alíquota à qual é tributado o resultado
adicional, também chamado de lucro adicional (Gitman, 2010).

No processo de apuração do resultado tributável, quaisquer juros


recebidos pela empresa são considerados parte do resultado ordinário.

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Os dividendos recebidos, recebem tratamento diferenciado. Esse
tratamento atenua o efeito da bitributação, que se dá quando os lucros
já tributados de uma empresa são distribuídos como dividendos em
dinheiro aos acionistas, que devem pagar sobre eles imposto de renda
a uma alíquota de até 15%. Dessa forma, os dividendos que a empresa
recebe por deter ações ordinárias e preferenciais de outras empresas, e
que representem uma participação inferior a 20%, permitem um
abatimento de 70% para fins fiscais. (Gitman, 2010, p.25-26)

Os de capital consistem na diferença entre o preço de compra e venda de


um ativo não circulante.
Gitman (2010, p. 26) explica que para as sociedades por ações, os ganhos
de capital são somados ao resultado ordinário e tributados às alíquotas normais,
com alíquota marginal máxima de 39%.

TEMA 4 – ÉTICA EMPRESARIAL

A ética na maioria das vezes relaciona-se com os interesses. Interesses


estes que foram sendo moldados com o passar dos anos e na década de 1970
ganharam uma forma mais estruturada por meio do Código de Conduta ou
também chamado de Código de Ética.
Os Códigos de Ética começaram a ser implantados nas empresas como
uma forma de limitar o comportamento humano, neste caso, dos colaboradores.
E, a partir daí, várias empresas imprimiram uma série de livretos e cartilhas que
vinham a ensinar “boas maneiras” aos seus colaboradores. Na verdade, esses
códigos consistiam em proibir e punir o comportamento alheio.
A partir da década de 1990, nasce um novo código, baseado nas premissas
da cultura e valores individuais de cada empresa. Tornando o colaborador, de
certa forma, mais participativo e com condições de diálogo e, impondo direitos e
deveres para empresa versus colaborador, para que haja o bom relacionamento
entre ambos.
No entanto, deve-se reforçar que, somente o Código de Ética não basta:
para que a empresa garanta o aceite e utilização por parte de todos, há a
necessidade de que todos entendam o papel exercido e colaborem para o bom
funcionamento das atividades.
Lanzarin (2002, p. 25) explica que:

Apesar de o código de ética profissional servir para coibir procedimentos


antiéticos, este não é seu principal objetivo. Seu objetivo primordial é
expressar e encorajar o sentido de justiça e decência em cada membro
do grupo organizado. Um código de ética deve indicar um novo padrão
de conduta interpessoal na vida profissional de cada trabalhador que
esteja exercendo qualquer cargo na organização. A condição prioritária
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para se ter um código de ética efetivo é a liderança dentro da
organização. Isso não significa, entretanto, que esse conjunto de
procedimentos deve ser imposto de cima para baixo, da Administração
para o funcionário, mas que os administradores se disponham a segui-
lo antes de todos. Deve haver consenso no grupo sobre o conteúdo do
condigo de ética. Seus preceitos devem atingir todos os membros do
grupo organizado.

Sendo assim, as empresas vêm aderindo ao Código de Ética à medida que


se trata de uma mão de via dupla, na qual tanto a empresa possui seus direitos e
deveres.
Portanto, a ética se consolida na aplicação diária de valores e princípios
claros, coerentemente exercitados por sócios, administradores, executivos,
funcionários e terceiros (IBGC, 2015).
E ainda, a atuação ética dos indivíduos permite que as melhores práticas
conduzam as organizações à boa governança, reduzindo suas chances de
fracasso e aumentando as de sucesso (IBGC, 2015).
Gitman (2010, p. 15) observa que:

A Ética empresarial se refere aos padrões de conduta ou julgamento


moral aplicáveis a quem se dedica a atividades comerciais. Em finanças,
a violação desses padrões pode assumir muitas formas: “criatividade
contábil”, gestão de lucros, projeções financeiras enganosas, insider
trading, fraude, remuneração excessiva aos executivos, opções
retroativas e pagamento de propinas.

Quanto à chamada Criatividade Contábil, é uma prática dita ilícita, que fere
os princípios éticos da Ciência Contábil, pois consiste numa avaliação patrimonial
e em resultados positivos nas Demonstrações contábeis que são irreais.

A contabilidade criativa gera informações imprecisas para a ciência


contábil e para os acionistas a prática tende a maximizar os retornos,
tendo em vista que os resultados gerados pela criatividade podem ser
mais “previsíveis” para o mercado acionário. Os retornos podem ser
majorados para os acionistas no primeiro momento, entretanto, pode
existir um aumento do risco tendo em vista que o mercado é capaz de
duvidar do verdadeiro desempenho da entidade”. (Sousa; Nascimento;
Bernardes, 2013, p. 5)

Portanto, a ética deve ser tratada como um processo de construção de


boas relações, de forma contínua, fazendo com que todos reflitam a respeito de
sua própria consciência, importância e comprometimento sobre o todo.

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TEMA 5 – APLICAÇÃO PRÁTICA: GOVERNANÇA CORPORATIVA E AS
MELHORES PRÁTICAS

Neste item será apresentado o conceito de governança corporativa – seus


objetivos, sua estrutura, princípios básicos, chamados de melhores práticas.

5.1 Governança corporativa

A aplicação da governança corporativa nas empresas funciona como um


código de conduta que acaba por facilitar não só as relações comerciais, mas traz
uma maior credibilidade em relação às empresas e aos investimentos.
Portanto, o objetivo da governança corporativa consiste em recuperar e/ou
garantir a confiabilidade aos acionistas, de tal modo que, sejam implantados
meios de garantir que os interesses dos envolvidos estejam sempre alinhados.
Afinal, como conquistar esse objetivo? Tendo a aderência dos atores as
condutas pré-estabelecidas e a transparência, favorecendo a redução e/ou
eliminação de conflitos de interesse, que acabam por impactar a eficiência
econômica, traduzida pela maximização de valor aos interessados.
E ainda, os agentes de governança têm papel relevante no fortalecimento
e na disseminação dos propósitos, princípios e valores da organização, com base
em direitos, deveres e responsabilidades exercidas por cada um dos agentes da
governança, tal como mostra a figura a seguir:

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Figura 5 – Contexto e estrutura do sistema de governança corporativa

Fonte: IBGC (2015).

Considerando as partes interessadas, temos primeiramente as relações


entre os stakeholders e os objetivos pelos quais a empresa se orienta, enquanto
que os principais atores tipicamente são: os acionistas (sócios), o Conselho de
Administração e a Alta administração (Diretoria).
Os sócios, em resumo, são detentores do capital social da empresa,
tratados de forma equitativa e possuem acesso às assembleias gerais para
prestação de contas, assim como a compra e venda de ações. Por isso, devem
ter interesses e objetivos bem alinhados, ser éticos e responsáveis, pois cada
ação que possuem lhes dá direito a voto.

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O Conselho de Administração, segundo o IBGC (2015),

é o órgão colegiado encarregado do processo de decisão de uma


organização em relação ao seu direcionamento estratégico. Ele exerce
o papel de guardião dos princípios, valores, objeto social e sistema de
governança da organização, sendo seu principal componente.

Além de ser considerado estratégico, faz a ponte entre a diretoria e os


sócios, cabendo a ele ser estratégico nas tomadas de decisões e no controle e
monitoramento do que está sendo realizado.
A alta administração cumpre a função social de todos os processos e
políticas necessários à viabilização e disseminação dos propósitos, princípios e
valores da organização. De acordo com o IBGC (2015): “É responsável pela
elaboração e implementação de todos os processos operacionais e financeiros,
inclusive os relacionados à gestão de riscos e de comunicação com o mercado e
demais partes interessadas”.
Outros participantes não menos importantes são: os funcionários,
fornecedores, clientes, bancos e outros credores, instituições reguladoras (como
a CVM, o Banco Central etc.), o meio ambiente e a comunidade em geral.
Dessa maneira, a governança corporativa, segundo o IBGC (2015),

é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas,


monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre
sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e
controle e demais partes interessadas.

Em complemento, pode-se dizer que a governança corporativa estabelece


regras e normas com o propósito de não deixar o poder somente com os diretores
internos das empresas, criando assim Conselhos de Administração e cedendo o
poder de decisão e opinião aos acionistas que investem na empresa.
Por isso, para todas as empresas, independentemente de tamanho/porte,
natureza ou controle aplicar os princípios da governança corporativa é de grande
valia, pois, acaba por converter os princípios em uma gestão de qualidade,
longeva e que produz valor econômico para a organização.
Além do mais, sua importância se consagra no fato de o interesse no tema
governança corporativa ter tido relevância, dados os colapsos econômicos de
grandes corporações dos EUA como a Enron Corporation e Worldcom e, pelo fato
das más práticas empresariais.

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Isso colaborou para que, no ano de 2002, o governo estadunidense
aprovasse a Lei Sarbannes-Oxley, com o propósito de restaurar a confiança do
público em geral na governança corporativa.
Gitman (2010, p. 115) complementa dizendo que:

A Sarbanes-Oxley tem por objetivo eliminar os muitos problemas de


divulgação e conflitos de interesses que surgiram. Seus meios para
atingir esse objetivo são: estabelecimento de um conselho de
monitoramento do setor de contabilidade; regulamentos e controles mais
rígidos para processos de auditoria; penalidades maiores para
executivos culpados de fraude empresarial; maiores exigências de
divulgação contábil e diretrizes éticas aplicáveis aos diretores das
empresas; diretrizes firmes quanto à estrutura e composição dos
conselhos de administração; estabelecimento de diretrizes quanto a
conflitos de interesses envolvendo analistas; divulgação imediata e
obrigatória de venda de ações por parte de executivos; e aumento da
autoridade reguladora de títulos, além de maior orçamento para
auditores e investigadores.

Ademais, Gitman (2010) reforça que a governança corporativa serve para


estabelecer objetivos, desenvolver planos e realizá-los, e estabelecer
procedimentos de monitoramento do desempenho. Além de definir direitos e
deveres dos envolvidos, bem como regras e procedimentos de tomada de decisão
empresarial.
Com base nessas premissas, alguns princípios são adotados.

• Transparência: consiste na disponibilização de informações que sejam


do interesse de todos, independentemente se estas estiverem sujeitas
a leis ou regulamentos.
• Equidade e justiça: consiste no tratamento justo e equitativo a todos os
envolvidos, respeitando os direitos, deveres, necessidades, interesses
e expectativas dos envolvidos.
• Prestação de contas (accountability): consiste na prestação de contas,
que traz em seu bojo a responsabilização por seus atos e decisões.
• Conformidade ou Responsabilidade Corporativa: que agrega a
Participação, Estado de direito, Orientação por consenso das decisões,
Efetividade e eficiência, Ética e Responsabilidade Corporativa. Ou seja,
trata da conformidade econômica, social e cultural no curto, médio e
longo prazo.

E o que não pode faltar para uma boa governança é o estabelecimento de


uma hierarquia clara; a realização de reuniões de acompanhamento constantes;

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a formação de um Conselho e a transparência e facilidade nas transações
administrativas.
Assim, a governança corporativa beneficiará a empresa com o
Desenvolvimento Econômico Sustentável, Melhorias em seu desempenho e
Acesso às fontes externas de capital. Do contrário, sua não existência, poderá
colaborar para o Abuso de poder, Erros estratégicos e/ou Fraudes.
Lembrando que a governança corporativa não se trata de um código de
boas práticas, apenas do estímulo de reflexões e sugestões, para as práticas de
tomadas de decisão.

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REFERÊNCIAS

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empresariais. Porto Alegre: Bookman, 2010.

FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro:


Qualitymark, 1999.

GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. São Paulo: Pearson


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IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código das melhores


práticas de governança corporativa. São Paulo: IBGC, 2015. Disponível em:
https://conhecimento.ibgc.org.br/Lists/Publicacoes/Attachments/21138/Publicaca
o-IBGCCodigo-CodigodasMelhoresPraticasdeGC-5aEdicao.pdf. Acesso em:
23 mai. 2022.

JÚLIO, C. A. A arte da estratégia: pense grande, comece pequeno e cresça


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KERR, R. B. Mercado financeiro e de capitais. São Paulo: Pearson Prentice


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LANZARINI, E. J. Ética de negócios. Curitiba: UFPR, 2002.

MAXIMIANO, A. C. A. Fundamentos da administração: manual compacto para


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PINHEIRO, J. L. Mercado de capitais. São Paulo: Atlas, 2016.

ROSS, S. A. et al. Fundamentos de administração financeira. Porto Alegre:


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