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ADMINISTRAÇÃO

DO CAPITAL DE
GIRO

Fernanda Rocha de Aguiar


Administração financeira
de curto prazo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever a função financeira de uma empresa.


 Identificar as operações financeiras de curto prazo.
 Relacionar as fontes de capital para operações de curto prazo.

Introdução
Em tempos de grande competitividade, e nem sempre em cenários de
economia aquecida, as empresas precisam se reinventar para administrar
suas finanças. É importante que elas possam vender seus produtos e
serviços em tempo hábil, de forma que o capital fique disponível para
realizar investimentos ou para cobrir os custos de novas vendas.
Nem sempre, porém, há essa circulação de recursos em caixa, per-
mitindo garantir o equilíbrio entre bens e obrigações. Isso obriga as
empresas a buscarem alternativas para o seu giro de capital, com ope-
rações de curto prazo.
Neste capítulo, você vai estudar a função financeira de uma empresa
e as operações financeiras de curto prazo. Por fim, você vai compreender
a relação entre as fontes de capital e as operações de curto prazo.

1 A função financeira de uma empresa


As empresas oferecem produtos e serviços em troca da maximização de retorno
aos seus acionistas ou donos do negócio. Pode-se dizer que o “coração” de
uma organização é a administração financeira. Por isso, decisões acertadas
de investimento e de financiamento são fundamentais para o seu crescimento.
Adquirir esse recurso (o dinheiro) a um custo aceitável e investi-lo em aplica-
2 Administração financeira de curto prazo

ções que acrescentem valor é, sem dúvida, o principal objetivo dos gestores
financeiros (SILVA, 2013).
Braga (1995) aponta que a função financeira abrange as atividades relacio-
nadas com a gestão dos fundos movimentados por todas as áreas da empresa.
Essa função é responsável pela obtenção dos recursos necessários e pela
formulação de uma estratégia voltada para a otimização do uso desses fundos.
Há dois elementos básicos da função financeira de uma empresa: a obtenção
dos recursos nas condições mais favoráveis possíveis e a alocação eficiente
desses recursos na empresa. Cabe ressaltar que a função financeira não é uma
função independente. Os fluxos financeiros são sempre a contrapartida dos
fluxos de bens ou de serviços — fluxos físicos (SILVA, 2013).
Nesse contexto, destacam-se duas teorias sobre o objetivo das organizações.
Na primeira, a abordagem de stakeholder, as tomadas de decisões devem
estar alinhadas com os objetivos de todas as partes interessadas na empresa,
como proprietários, credores, funcionários, fornecedores, clientes e o Estado
(SILVA, 2013). A segunda teoria prevê a maximização da riqueza dos acionistas
e se desenvolveu a partir das teorias econômica e financeira. Sob essa visão,
a gestão da organização busca a maximização do valor de mercado total da
firma (do patrimônio líquido e das dívidas), o que, por conseguinte, aumenta
a riqueza dos proprietários (ASSAF NETO, 2010).
Ross et al. (2013) explicam que, nas organizações menores, a função finan-
ceira normalmente é realizada por um contador, e somente quando a empresa
cresce, ganha setores e profissionais específicos para a tomada de decisão
de suas finanças, como um administrador financeiro. Segundo os autores,
essa administração proporciona maximizar o lucro e o valor de mercado do
capital dos proprietários. Para tornar esse conceito mais palatável, os autores
apontam que a função financeira pode ser entendida a partir de três grandes
áreas: orçamento de capital, estrutura de capital e administração financeira
de curto prazo.
O orçamento de capital é “o processo de planejamento e gerenciamento de
investimentos” (ROSS et. al., 2010, p. 2). Nesse orçamento, os administradores
financeiros tentam identificar boas oportunidades de investimento para a
empresa. No entanto, a preocupação desses administradores não deve ser
apenas o quanto eles vão receber pelo investimento que farão. A sua função
vai além dessa perspectiva, pois eles devem analisar o tamanho, o tempo e o
risco dos fluxos de caixa futuros, para que possam prever possíveis incertezas
e agir de maneira adequada, sem perda de capital da empresa.
Essa é a essência do orçamento de capital, e o administrador financeiro é,
por assim dizer, um tomador de decisões quanto aos investimentos que serão
Administração financeira de curto prazo 3

feitos, seja uma nova loja a ser aberta, a compra de uma nova máquina, a
implantação de um software ou a expansão de uma parte de uma loja. De uma
forma ou de outra, a decisão deverá ser pautada nas variáveis apresentadas no
contexto do investimento, e essa não é uma ação simples.
Gitman (2010) indica que, ao decidir fazer um investimento de longo prazo,
uma empresa pode comprometer boa parte de seu dinheiro, e a decisão deve
ser muito bem ponderada. Para tanto, surge a necessidade de estabelecer mé-
todos para a melhor escolha entre as opções de investimentos, e essa análise
se encontra no orçamento de capital.
Já a estrutura de capital é a estrutura financeira de uma empresa e deve
combinar de maneira equilibrada as contas que precisam ser pagas a longo
prazo e o patrimônio que ela tem para sustentar o financiamento de suas
operações. Na contabilidade, essa visão de equilíbrio ocorre na comparação
entre as chamadas contas de ativo e passivo.

A contabilidade de uma empresa deve ser devidamente apurada mensalmente, para


que, ao final do ano em exercício, tenha-se a declaração dos seus resultados no balanço
patrimonial. O balanço recebe esse nome porque justamente compara o patrimônio
da empresa, que se divide em ativos (bens e direitos, como as contas a receber), com
os seus passivos (obrigações e contas a pagar). Um relatório contábil demonstra a
posição financeira e econômica dessa organização. A estrutura do capital analisa essa
comparação e pode ser compreendida analogamente como o corte de uma pizza,
uma vez que o capital da empresa também é fatiado. Ou seja, ela demonstra qual
porcentagem do fluxo de caixa está na mão dos credores (contas a pagar da empresa)
e quanto vai para os acionistas ou donos do negócio (dinheiro em caixa ou em ativos).
A ponderação sobre essas considerações deve ser feita pelo administrador financeiro.

Na análise da estrutura de capital, o administrador financeiro deve decidir a


combinação de financiamentos e quais fontes serão utilizadas para se conseguir
o dinheiro. As obrigações que devem ser pagas a longo prazo são chamadas
de exigível a longo prazo e podem representar despesas consideráveis, no caso
de empréstimos e financiamentos de muitas parcelas, que ultrapassam o ano
que está em exercício. O administrador financeiro deverá fazer as devidas
análises e considerar qual é o tempo de retorno do investimento, para que não
haja uma despesa longa sem ganhos sustentáveis para a empresa. Além disso,
4 Administração financeira de curto prazo

é preciso avaliar a seleção de credores e qual é o melhor tipo de empréstimo,


e isso cabe ao administrador financeiro (ROSS et al., 2010)
A administração financeira de curto prazo, também chamada de adminis-
tração do capital circulante, por sua vez, refere-se ao ativo circulante e ao
passivo circulante da empresa. Isso quer dizer que as análises financeiras serão
baseadas em ganhos de curto prazo, dentro do exercício vigente, no próprio
ano. Os autores mencionam algumas perguntas que devem ser respondidas
sobre o capital circulante (ROSS et al., 2010, p. 4), apresentadas a seguir.

1. Quanto de caixa e estoque deve ser mantido?


2. Devemos vender a crédito? Nesse caso, quais condições devemos ofe-
recer e para quem serão concedidas?
3. Como obteremos o financiamento de curto prazo necessário? Compra-
remos a crédito ou tomaremos empréstimos de curto prazo e pagaremos
as compras em dinheiro? Se fizermos empréstimos de curto prazo,
como e onde devemos fazê-los?

Essas são algumas questões que a administração financeira de curto prazo


leva em consideração.

2 Operações financeiras de curto prazo


Assaf Neto (2010) reforça que a administração financeira de curto prazo é assim
chamada porque se relaciona com a gestão do capital de giro. As operações
mais comuns nessa área de finanças se referem aos investimentos em créditos
a clientes, ao gerenciamento do caixa e à estrutura dos passivos correntes.
Além disso, Gitman (2010) destaca que é papel do administrador financeiro
buscar o equilíbrio entre rentabilidade e risco, avaliando as contas do ativo
e passivo circulantes com operações de curto prazo. Entende-se aqui como
curto prazo as operações que ocorrem em um ano ou menos.
Vieira (2008) aponta que administrar ativos e passivos consiste em gerir
as contas desses grupos no balanço patrimonial, conforme apresentado no
Quadro 1.
Administração financeira de curto prazo 5

Quadro 1. Exemplo de contas do ativo e do passivo circulantes no balanço patrimonial

Ativo total Passivo total

Ativo circulante Passivo circulante


 Disponível  Fornecedores
 Aplicações financeiras  Empréstimos e financiamentos de
 Contas a receber curto prazo
 Estoques  Obrigações fiscais
 Despesas antecipadas  Ordenados e salários a pagar
 Provisões

Ativo não circulante Passivo não circulante


 Realizável a longo prazo  Empréstimos e financiamentos de
 Investimentos longo prazo
 Imobilizado  Debêntures e outros títulos de
 Intangível dívida

Patrimônio líquido
 Capital social
 Reservas (de capital e de lucros)

Fonte: Adaptado de Caixe (2015).

Como se observa no Quadro 1, do lado esquerdo do balanço patrimonial


estão as contas do ativo circulante e do ativo não circulante. O primeiro
representa as contas cujos recursos circulam em tempo menor, dentro de um
ano. Como exemplo, temos a conta Disponível, que é a conta Caixa ou, mais
especificamente, onde se encontra o dinheiro em espécie da empresa, nor-
malmente em alguma conta bancária. Também se encontram nesse grupo as
contas Aplicações Financeiras e Contas a Receber, que se referem ao dinheiro
disponível que entra e circula nas operações financeiras da empresa, seja
como rendimento de aplicações ou como recebimento de produtos vendidos
aos clientes.
No lado direito do balanço, estão as obrigações que circulam também em
curto prazo e se encontram no grupo do passivo circulante. Exemplos dessas
contas são Fornecedores e Empréstimos e Financiamentos, que represen-
tam saídas de caixa em curto prazo para que a empresa possa cumprir suas
obrigações.
Diante dessa abordagem, é importante que se entenda que o capital de giro
se refere aos recursos que circulam ou que giram em determinado período.
Esses recursos correspondem a uma parcela dos ganhos da empresa, que é
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aplicada em seu ciclo operacional. Podemos citar o exemplo de uma indústria


que produz bens para serem vendidos no mercado em que atua. Ao vender esses
bens, nem sempre seus clientes pagarão pelas mercadorias em tempo hábil
para que entre o faturamento necessário para aquisição de matéria-prima, para
que a indústria possa continuar a fabricação dos seus produtos em seus ciclos.
Logo, a empresa precisa de capital de giro para empregar em seus custos e
despesas, até que novos valores estejam disponíveis no caixa da empresa. No
entanto, nem sempre ela possui esses recursos à disposição, o que lhe exige
buscar capital para ser pago em curto prazo (até um ano).
Caciatori Jr e Iarozinski Neto (2006) destacam que as maiores causas de
falência das empresas, especialmente as pequenas e médias, referem-se à
falta de uma tomada de decisão assertiva na gestão financeira de curto prazo,
principalmente quanto ao capital de giro. De acordo com Vieira (2008), quanto
maior o prazo de uma operação, mais elevado tende a ser o seu risco, uma
vez que o investidor ou a instituição financeira ficarão mais tempo com seu
dinheiro comprometido com os destinos da organização.
Nessa lógica, podemos mencionar que os ativos de longo prazo tendem
a oferecer retornos maiores do que os de curto prazo; e os passivos de longo
prazo tendem a possuir custos de capital mais elevados do que os de curto
prazo (CAIXE, 2015). O gestor financeiro deve escolher com cuidado qual
operação financeira deve ser realizada. Se a tomada de decisão pender para
ativos em prazos maiores, pode haver incremento de rentabilidade, mas isso
compromete a capacidade de pagar as contas que a empresa possui, ou seja,
a sua liquidez. Por isso, a utilização de fontes de curto prazo é mais comum
na busca de uma solução imediata para a falta de liquidez.
As aplicações e as obrigações de curto prazo da empresa podem ser classi-
ficadas em permanentes, quando são cíclicas, ou sazonais, quando são flutu-
antes. As contas cíclicas estão relacionadas de forma direta com a atividade da
empresa. Ao contrário, as contas sazonais não estão vinculadas diretamente à
atividade empresa, sendo determinadas por variações temporárias que ocorrem
nos seus negócios (VIEIRA, 2008). Esse autor e demais pesquisadores sobre
o tema indicam três tipos de estratégias de curto prazo, descritas a seguir.

a) Aplicação agressiva: os recursos das empresas são financiados pelo


capital de terceiros. Essas aplicações envolvem baixo investimento de
capital de giro e elevado volume de financiamento e podem, portanto,
levar à maior rentabilidade; porém, os riscos de insolvência e de captação
de recursos mais caros também aparecem. Uma forma de analisar o
quanto uma empresa utiliza as estratégias de buscar recursos a curto
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prazo de forma agressiva é a relação entre o ativo circulante (de curto


prazo) com os ativos totais da empresa. Um volume menor de ativos
circulantes representa uma política agressiva de gestão do capital de
giro. Isso se explica porque o ativo não circulante é composto de má-
quinas, equipamentos, marca, software e instalações e deveria ser de
onde vêm os lucros da empresa com o melhor uso. Quanto menos se
investir no ativo circulante, menos financiamentos, menos juros e maior
a parcela para ser usada no ativo não circulante; assim, mais máquinas
podem ser compradas, ocorre maior expansão da empresa, e há menos
dívidas a serem pagas. Portanto, embora o crédito de curto prazo seja
geralmente mais arriscado do ponto de vista da empresa, ele pode ser
obtido mais rapidamente e pode apresentar acordos mais flexíveis e
menos onerosos. No entanto, em países como o Brasil, cuja taxa de juros
é alta, o custo dessas operações é alto, o que leva muitas empresas a
terem dificuldades financeiras (WESTON; BRIGHAM, 2000).
b) Aplicação conservadora: nesse caso, todos os ativos da empresa são
bancados por recursos de longo prazo. O resultado dessas estratégias
é o contrário da anterior: ela oferece o menor retorno e a maior liqui-
dez para a empresa. Há baixo volume de financiamentos, diminuindo
consideravelmente o risco das operações. Um volume maior de ativos
circulantes em relação ao ativo total resultaria, portanto, em uma po-
lítica conservadora da gestão do capital de giro, o que significa que a
empresa financia suas operações com maior volume de recurso de longo
prazo ou capital próprio. O Brasil possui poucas opções de recursos
de longo prazo disponíveis, sendo as mais usuais o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social e a emissão de títulos de dívida,
os chamados debêntures (DE OLIVEIA et al.,2006). A escolha dessa
estratégia de financiamento depende das características da conjuntura
econômica e do seu setor de mercado e dos objetivos estabelecidos por
sua gestão.
c) Aplicação moderada: nesse tipo de aplicação, apenas o ativo flutuante
é financiado por recursos de terceiros de curto prazo, sendo as demais
aplicações patrocinadas pelo patrimônio líquido e pelo passivo não
circulante. Entendem-se como flutuantes as contas de curtíssimo prazo
do ativo circulante, como caixa, bancos e aplicações financeiras de
curto prazo.
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Quando observamos o balanço patrimonial de uma empresa, podemos constatar os


valores do ativo circulante e do passivo circulante. Se compararmos esses dois valores,
observamos qual é a capacidade de caixa que a empresa tem frente às obrigações que
precisa pagar. A equação que verifica o ativo circulante menos o passivo circulante se
refere ao capital circulante líquido da empresa, conhecido como CCL. Nessa análise,
quanto mais elevado for o CCL, melhor para a empresa, pois mais liquidez ela possui.
No Quadro 2, observamos que a diferença entre o ativo circulante e o passivo cir-
culante é de R$ 337.000,00. A conclusão sobre o seu CCL é que a empresa pode arcar
com suas operações por meio de dinheiro próprio. Mas, se a realidade apresentada
não fosse essa, e sim um CCL negativo, provavelmente a empresa teria que buscar
recursos de terceiros, por meio de empréstimos ou financiamentos, para honrar seus
compromissos (contas a pagar).

Quadro 2. Exemplo de ativo e passivo circulantes de uma empresa, para análise do seu
CCL

Ativo Passivo

Caixa – R$ 20.000 Bancos a pagar – R$ 35.000

Clientes a receber – R$ 450.000 Fornecedores a pagar – R$ 370.000

Estoques – R$ 280.000 Salários a pagar – R$ 8.000

Total ativo circulante – R$ 750.000 Total passivo circulante


– R$ 413.000

Fonte: Adaptado de Ferreira (2016).

Tipos de operações financeiras de curto prazo


As operações financeiras de curto prazo, que acontecem para garantir a liquidez
da organização, ocorrem dentro do mercado monetário, onde acontecem as
transações de curto e curtíssimo prazo, envolvendo principalmente as institui-
ções financeiras. Quem regula esse segmento é o Banco Central do Brasil, que
realiza a política monetária principalmente por meio de redescontos, depósito
compulsório e operações no mercado aberto (SANTOS, 2001).
Administração financeira de curto prazo 9

Ross et al. (2010) indicam que a liquidez de uma empresa pode crescer
com o aumento da venda de mercadorias à vista, o aumento do patrimônio
líquido (lançamento de ações) ou a busca por soluções imediatas de valores
disponíveis em caixa, por meio dos empréstimos de curto prazo.
A administração de curto prazo existe, portanto, para que haja dinheiro
em caixa para suprir a empresa de valores em seu ciclo de caixa. É importante
destacar que o ciclo de caixa é representado pelo tempo que a empresa leva
entre pagar por sua matéria-prima, pela compra de produtos e os profissionais
de serviços até a entrada de pagamento relativo às vendas de seus produtos
ou seus serviços aos clientes (GITMAN, 2010). Portanto, quanto maior é esse
ciclo, mais recursos a empresa precisa ter para continuar operando. Assim,
para reduzir o tempo do ciclo de caixa, a empresa precisa receber mais cedo
e pagar mais tarde. Se a empresa não consegue diminuir seus estoques e
tampouco receber as contas de seus clientes, deverá fazer uso de operações de
curto prazo, como aplicações financeiras, empréstimos bancários ou factoring.

3 Fontes de capital para operações de curto


prazo
Assaf Neto (2010) destaca que as empresas precisam estabelecer que tipo de
riscos pode ser assumido em relação à solicitação de créditos, uma vez que,
dependendo da opção, poderão ocorrer danos à saúde financeira da empresa.
É comum que as empresas tenham financiamentos de curto prazo à sua dis-
posição, mas sempre serão avaliadas quanto ao seu histórico e ao número de
vezes que elas tomaram dinheiro de terceiros, podendo ser exigidas garantias,
dependendo do caso.
Na contabilidade, as contas do ativo são financiadas por contas do passivo:
origens e aplicações de recursos. No passivo, encontramos os recursos que
financiam a atividade empresarial: recursos próprios e recursos de terceiros.
O capital próprio é o recurso dos proprietários especificados na conta de
Patrimônio Líquido (RAIFUR et al., 2009)
A prática de buscar o capital de terceiros é universalmente utilizada, por
representar uma alternativa às empresas que não conseguem subsistir apenas
com seu capital próprio. Se o custo do capital de terceiros é menor, torna-
-se vantajoso utilizá-lo, o que não exclui o endividamento que essa decisão
proporciona.
As fontes de financiamento de curto prazo utilizado para financiar o capital
de giro das empresas estão divididas em duas categorias: o crédito comer-
10 Administração financeira de curto prazo

cial e o crédito bancário. O crédito comercial é obtido espontaneamente, em


decorrência das vendas da empresa. Já o crédito bancário é o empréstimo
bancário que se torna uma fonte não espontânea de financiamento. Ele pode
ser feito em bancos, instituições financeiras ou administradoras de créditos.
A seguir, elencamos as principais modalidades de crédito bancário, apontadas
por Lemes Junior et al. (2002).

Factoring: é um tipo de financiamento em que a empresa vende as suas contas a


receber para terceiros. A empresa que compra esse ativo antecipa o pagamento
para a empresa. Ou seja, ela recebe por suas vendas antecipadamente por meio
dessa operação. Dessa forma, a empresa recebe em curto prazo um dinheiro
a que ela só teria acesso meses depois. Essas vendas possivelmente foram
realizadas a prazo, com pagamentos com cartão de crédito, entre outros. Na
operação, é descontada uma taxa de juros e de risco de crédito, proveniente do
risco de inadimplência. Para Soares (2010), a natureza jurídica do contrato de
factoring comporta ato civil e mercantil, bastando o endosso de títulos, sem
garantia aos títulos cedidos. Não há endosso para a responsabilização pelo
não pagamento, apenas pela seleção do crédito. Cabe ressaltar que não há, no
factoring, operação de crédito alguma, pois não envolve a confiança entre as
partes nem intervalo de tempo entre o negócio e a contraprestação: trata-se
de uma compra e venda de direitos.

Vendor: é um financiamento da venda com cessão de crédito. É a operação de


crédito indicada para aquisição de bens de consumo duráveis. O fornecedor
vende a prazo e recebe à vista, porém, assume o risco do não pagamento junto
à instituição financeira que financia a operação. O público-alvo da operação
de vendor é a empresa que precisa de prazo para liquidar uma transição co-
mercial; a outra parte, o fornecedor, que é o banco, tem acesso a linhas de
crédito com custos mais reduzidos. Rosseti et al. (2008) apontam que o prazo
da operação dura cerca de 30 a 90 dias, e a contratação ocorre por meio de uma
promessa de financiamento junto à equalização de taxas. Os autores alertam
que, apesar do menor custo de captação dessa operação, há uma desvantagem
a ser avaliada: a possibilidade de transferência da obrigação para a empresa
fornecedora, de cuja conta o banco debita o valor correspondente, no caso de
a empresa cliente não o pagar.

Compror: o compror é uma operação semelhante à citada anteriormente, mas,


em vez de ser realizada pelo vendedor, é feita pelo comprador, que passa a
ser o fiador do contrato com o banco. O banco efetua o pagamento à vista
Administração financeira de curto prazo 11

ao fornecedor, proporcionando a redução nos custos de produção e o melhor


planejamento do seu fluxo de caixa. Segundo a Federação Brasileira de Bancos,
os pagamentos podem ser efetuados por meio de crédito em conta, cheque
administrativo, documento de ordem de crédito (DOC), transferência eletrônica
disponível (TED), ordem de pagamento, pagamento com autenticação ou títulos
de cobrança. O público-alvo dessa operação são as empresas clientes, que, nas
compras à vista, conseguem descontos vantajosos de seu fornecedor. O prazo
mínimo do compror é de 30 dias, e a operação apresenta a vantagem de não
incidência de taxas de operações bancárias; porém, as taxas de juros são altas.

Desconto de títulos: é um adiantamento de recursos feito pelo banco aos


clientes, sobre valores referenciados em contas a pagar, antecipando, assim,
o fluxo de caixa do cliente. Essa operação resulta em uma negociação de um
título representativo de crédito, junto a um banco comercial, antes do seu
vencimento. Embora a propriedade dos títulos negociados seja transferida
para a instituição, a empresa é corresponsável pelo pagamento deles em caso
de não liquidação pelo devedor. Assim, o risco do não recebimento do título
não é do banco, e sim da empresa que efetuou o desconto. Lemes Júnior et al.
(2002) destacam as seguintes modalidades de desconto de títulos: desconto
de duplicatas, desconto de notas promissórias, empréstimo por contrato e
antecipação por recebíveis.

Hot money: trata-se de outra forma de empréstimo por contrato. Os emprés-


timos dessa modalidade são alternativas para o capital de giro de curtíssimo
prazo destinado a suprir necessidades momentâneas de caixa. Lemes Júnior
et al. (2002) destacam que os encargos financeiros desse tipo de operação são
cobrados pelo período do empréstimo, o que pode representar elevado custo
financeiro. Normalmente, as instituições financeiras costumam criar uma linha
de hot como um contrato que estabelece regras de empréstimo, o que facilita
a disponibilização dos recursos a serviço dos correntistas.

Contas garantidas: são uma alternativa para os momentos em que a conta


corrente da empresa tem saldo devedor; ela poderá contar com uma conta
vinculada, que faz saques automaticamente para que os débitos sejam supri-
dos. Para que essa solução seja efetivada, é necessário ajustar com o banco a
transferência da conta garantida para a conta corrente, que terá a incidência
do imposto sobre operações financeiras sobre esse saque. O sistema permite
que os juros devidos pelos excessos das contas correntes sejam cobrados
mensalmente, mas não é o mesmo que as transações de cheque especial. Nesse
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caso, a negociação prevê garantias, como aval dos sócios, duplicatas, penhor
mercantil e alienação fiduciária. A contratação implica abertura do limite
de crédito rotativo em instituição financeira, contrato de limite de crédito e
contrato de garantia (ROSSETI et al., 2008).

Crédito rotativo: para Lemes Júnior et al. (2002), o crédito rotativo tem um
funcionamento semelhante a uma conta corrente, com limite de crédito e prazo
preestabelecido. A empresa pode efetuar saques a descoberto dentro desse
limite sem maiores burocracias. O crédito rotativo estipula um limite máximo
sobre a quantia que pode ser emprestada, e os encargos financeiros são, nor-
malmente, altos, mas são pagos somente pelo período que a conta permanece
devedora. O capital de giro na forma de crédito rotativo é flexível, porque os
fundos podem ser sacados quando necessário e pagos quando disponíveis
durante o período do contrato. Os autores mencionam que o crédito rotativo é
pago à medida que a empresa recupera gradualmente seu capital por meio de
seu negócio. Outros créditos rotativos, porém, podem durar anos, desde que
tenham suficiente valor de liquidação para assegurar a dívida.
Diante dos cenários de instabilidade econômica, a administração financeira
exerce um importante papel nas estratégias empresariais. As organizações
precisam ajustar muito bem seus fluxos de entrada e saída de recursos, para
evitar prejuízos à rentabilidade ou aumento de riscos. Decisões imediatas,
como a utilização de fontes de capital de curto prazo, podem ser opções para
gerar recursos disponíveis à empresa, mas apresentam alto custo, especial-
mente em um país com altas taxas de juros, como o Brasil. Caberá ao gestor
financeiro realizar a análise sobre as fontes disponíveis para as operações
de curto prazo e avaliar as melhores alternativas, para oferecer segurança às
finanças organizacionais.
Administração financeira de curto prazo 13

ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro 9.


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14 Administração financeira de curto prazo

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