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USJ – Universidade de São José

Apostila de Administração Financeira

Acadêmico:

Prof. Lissandro Wilhelm

2010
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Administração Financeira

“Todas as atividades empresariais envolvem recursos financeiros


e orientam-se para a obtenção de lucros.” (BRAGA, 1995, 23)

A grande força sobre que alicerçar-se a nova rebeldia é a ética


universal do ser humano e não do mercado, insensível a todo
reclamo das gentes e apenas aberta a gulodice do lucro. (PAULO
FREIRE, 1996, 129)

A Administração Financeira é a área da Administração que cuida dos recursos


financeiros da empresa. Está preocupada com dois aspectos importantes dos recursos
financeiros: a rentabilidade e a liquidez. Isso significa que o Administrador Financeiro
procura fazer com que os recursos financeiros sejam lucrativos e líquidos ao mesmo tempo.
Os dois objetivos da Administração Financeira, portanto, são: o melhor retorno
possível do investimento (rentabilidade ou lucratividade) e a rápida conversão em dinheiro
(liquidez).

Ênfase no Fluxo de Caixa (Gitman, p.12)

A função principal do contador é desenvolver e fornecer dados para medir o


desempenho da empresa, avaliar sua situação financeira e pagar impostos. O contador, usando
certos princípios padronizados e geralmente aceitos, prepara as demonstrações financeiras
com base na premissa de que as receitas devem ser reconhecidas por ocasião das vendas e as
despesas, quando incorridas. Este método contábil é geralmente chamado de regime de
competência.
O administrador financeiro, por outro lado enfatiza o fluxo de caixa, ou seja, entradas
e saídas de caixa. Ele mantém a solvência da empresa, proporcionando os Fluxos de Caixa
necessários para honrar suas obrigações e adquirir e financiar os ativos circulantes e fixos,
necessários para atingir a meta da empresa. Ao invés de reconhecer receita no ponto de
vendas e despesas, quando incorridas, reconhece receitas e despesas somente com respeito a
entradas e saídas de caixa.
Exemplo: A Cia. Fox vendeu dez carros por 12.000 reais. Esse mesmo carro custou
para a companhia 9.500 reais. Embora a Fox tenha pago integralmente pela mercadoria
adquirida, realizou as vendas a prazo, logo, ainda tem que receber dos seus clientes.

Perspectiva Contábil Perspectiva Financeira


Companhia Fox Companhia Fox
DRE para o ano findo em 31/12 Fluxo de Caixa para o ano findo em 31/12
(+) Receitas de Vendas $120.000 (+) Entrada de caixa $0.000
(-) Despesas $ 95.000 (-) Saída de caixa $ 95.000
(=) Lucro Líquido $ 25.000 (=) Fluxo Líquido de caixa $(95.000)

Comparando as duas demonstrações, pode-se perceber que, enquanto sob o ponto de


vista contábil a empresa é lucrativa, de acordo com a ótica financeira é um fracasso. Sem
entradas adequadas de caixa para saldar suas obrigações, a empresa não sobreviverá apesar do
seu nível de lucros.
Ao administrador financeiro compete olhar além das demonstrações financeiras de sua
companhia para perceber problemas que estão surgindo ou já existem. A falta de fluxo de
caixa originou-se de contas a receber não cobrada.
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Tomada de Decisão

Os deveres do executivo financeiro diferem dos do contador, pois este dedica-se,


basicamente, à coleta e apresentação de dados financeiros. O executivo financeiro avalia as
demonstrações do contador, desenvolve dados adicionais e toma decisões com base em
análises subseqüentes (toma suas decisões baseado em suas avaliações que deverão
contemplar os riscos e retornos inerentes). O papel do contador é prover dados consistentes
que sejam desenvolvidos e interpretados com facilidade, sobre operações passadas, presentes
e futuras da empresa. O administrador financeiro usa estes dados, seja em sua forma bruta,
seja depois de fazer certos ajustes e análises, como um importante insumo ao processo de
tomada de decisão financeira. Obviamente, isso não quer dizer que os contadores jamais
tomem decisões e que os administradores financeiros jamais coletem dados.

As Funções do Administrador Financeiro (Gitman, p.14)

Suas três funções primordiais são:

1. análise e planejamento financeiro


Esta função envolve a transformação de dados financeiros em uma forma que possa
ser usada para orientar a posição financeira da empresa, avaliar a necessidade de aumento da
capacidade produtiva e determinar que tipo de financiamento adicional deve ser feito.
2. administração da estrutura de ativo da empresa. (tomar decisões de
investimentos)
O administrador financeiro determina a composição e os tipos de ativos encontrados
no Balanço da empresa. A composição refere-se ao valor em dinheiro dos ativos circulantes e
fixos. Depois que a composição estiver fixada, o administrador financeiro precisa determinar
certos níveis “ótimos” de cada tipo de ativo circulante e tentar mantê-los. Deve também,
detectar quais são os melhores ativos fixos a serem adquiridos e saber quando os ativos fixos
existentes se tornarão obsoletos e precisarão ser modificados ou substituídos.

3. administração da estrutura financeira da empresa. (tomar decisões de


financiamentos).
Esta função é relacionada com o lado direito do Balanço da empresa. Duas decisões
importantes precisam ser feitas a respeito da estrutura financeira da empresa. Em primeiro
lugar, a composição mais adequada de financiamento a curto e longo prazo precisa ser
determinada. É uma decisão importante, pois afeta tanto a rentabilidade da empresa como sua
liquidez global.
Um segundo problema igualmente importante é saber quais as melhores fontes de
financiamento a curto ou longo prazo para a empresa, num dado momento.
As três funções do administrador financeiro são claramente refletidas no Balanço, que
mostra a posição financeira da empresa, em um dado momento. A avaliação dos dados do
Balanço pelo administrador financeiro reflete a posição financeira global da empresa. A fazer
tal avaliação, ele precisa inspecionar as operações da empresa, procurando áreas que mostrem
problemas e áreas que possam ser melhoradas. Ao administrar a estrutura do ativo da
empresa, na realidade ele está determinando a formação do lado esquerdo de seu Balanço. Ao
administrar sua estrutura financeira, está elaborando o lado direito do Balanço.

Cabem duas tarefas básicas à função financeira: (Braga, p. 26)


a). obtenção de recursos nas condições mais favoráveis possíveis; e
b). alocação eficiente desses recursos na empresa.
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A primeira tarefa é uma responsabilidade exclusiva da função financeira e envolve o


suprimento dos fundos demandados pelas operações normais da empresa e a captação de
vultosas somas para investimentos em projetos com longos períodos de maturação.
As fontes de recursos à disposição de uma empresa podem ser classificadas:
1. recursos próprios (capital integralizado, reservas, e lucros retidos) e recursos de
terceiros (compromissos assumidos e dívidas contraídas);
2. recursos permanentes (recursos próprios e dívidas de longo prazo) e recursos
temporários (compromissos e dívidas de curto prazo)
3. recursos onerosos (provocam despesas financeiras) e recursos não onerosos.
A segunda tarefa básica da função financeira diz respeito à alocação eficiente de
recursos. Isto envolve a constante busca da otimização no uso dos fundos para que seja
alcançada a rentabilidade desejada e preservada a capacidade da empresa pagar seus
compromissos nos vencimentos.

Áreas de Decisões Financeiras: (Braga, p. 33)


a) decisões de investimento;
b) decisões de financiamento; e
c) decisões relativas à destinação do lucro.

Decisões de Investimentos:
Referem-se tanto à administração do ativo quanto à implementação de novos projetos.
do ativo:
• estoque elevado de matérias primas;
• estoque elevado de produtos em elaboração;
• estoque elevado de estoque de produtos acabados;
• prazos dilatados de faturamento;
de novos projetos:
As grandes concorrências nas modernas economias de mercado obrigam as empresas a
se manterem tecnologicamente atualizadas. Nenhuma empresa pode sentir-se segura em uma
boa posição conquistada, porque a qualquer momento um concorrente poderá surgir com um
produto melhor e mais barato. Daí os investimentos em novos projetos.

Decisões de financiamento
Enquanto as decisões de investimentos envolvem importantes aspectos de natureza
não financeira, as decisões de financiamento constituem responsabilidade exclusiva do
administrador financeiro.
Refere-se à composição das fontes de recursos:
• qual deveria ser a proporção entre recursos permanentes e temporários ?
• quanto de recursos próprios e quanto de financiamentos de longo prazo ?
• o mercado reagiria bem ao lançamento de novas ações ?
• em vez de comprar ativos fixos, não deveríamos arrendá-los?

Destinação do lucro.
O lucro obtido em cada exercício social representa a remuneração do investimento dos
proprietários da empresa. Quanto desse lucro deve ser distribuído aos acionistas e quanto seria
retido para a expansão de novos negócios? Essa indagação revela que a política de
distribuição de dividendos está diretamente direcionada com as decisões de financiamento.
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Meta da Administração Financeira (Braga, p. 31)

O administrador financeiro deve realizar os objetivos dos proprietários da empresa. No


caso de sociedades anônimas, os proprietários da empresa normalmente não são os
administradores. Devem maximizar a satisfação dos proprietários-acionistas seja ela
representada pela maximização da riqueza (ou o preço da ação) ou pela maximização do lucro
(tornar máximo o lucro por ação)
Quando alguém se dispõe a investir sua poupança em uma empresa, em vez de aplicá-
la em alternativas mais seguras, está disposto a assumir certos riscos em troca de um aumento
no seu patrimônio ou riqueza pessoal.
Assim, pode-se admitir que o objetivo primordial de cada empresa é o de maximizar a
riqueza de seus proprietários. Essa riqueza é representada pelo valor de mercado da empresa,
ou seja, pelo preço que seria alcançado na venda dos direitos de participação no seu capital
social.
O fato de uma empresa não ter ações cotadas em bolsa não constitui impedimento na
determinação de seu valor de mercado. Simplificadamente, pode-se dizer que o valor de
mercado de uma empresa corresponde ao valor atual de seus lucros futuros. O que vale dizer
que o valor de mercado de uma empresa é determinado pela sua capacidade de gerar lucros
mediante o uso dos ativos, pela sua tecnologia e competência gerencial e pelo seu conceito
junto a credores e clientes.
Destarte, a meta da administração financeira constitui-se em algo mais amplo e mais
profundo do que a maximização dos lucros.
Para a maximização da riqueza, isto é, para o aumento de valor de mercado da
empresa, concorrem:
• perspectiva de longo prazo.
A empresa deve ser perpetuada e, para tanto, tem de realizar investimentos em
tecnologia, novos produtos etc. que poderão sacrificar a rentabilidade atual em troca
de maiores benefícios no futuro.
• valor do dinheiro no tempo.
Os projetos de investimentos envolvem fluxos de desembolsos e entradas de caixa.
Existem diversas técnicas para avaliar tais projetos e algumas delas transformam os
fluxos futuros de caixa em valores atuais, através de aplicação de determinada taxa de
desconto. Considerando o valor do dinheiro no tempo, a seleção de projetos a serem
implementados visará aumentar ou, pelo menos, manter o valor de mercado da
empresa.
• retorno do capital próprio
Os acionistas esperam ser remunerados através de dividendos e, principalmente pela
valorização de suas ações. A administração financeira deve atender essa expectativa.
• risco
O retorno deve ser compatível com o risco assumido. Maior risco implica a
expectativa de maior retorno
• dividendos
Deve ser adotada uma política de distribuição regular de dividendos,
independentemente das flutuações dos lucros, minimizando os efeitos negativos que
possam afetar as cotações das ações. A empresa não pode desapontar os acionistas que
apreciam receber dividendos periódicos.

A função financeira compreende os esforços despedidos objetivando a formulação de


um esquema que seja adequado à maximização dos retornos dos proprietários das ações
ordinárias da empresa, ao mesmo tempo em que possa propiciar a manutenção de um certo
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grau de liquidez (ARCHER E D’AMBROSIO apud SANVICENTE).


Os dois objetivos da administração financeira, são assim resumidos:
A rentabilidade é alcançada à medida que o negócio da empresa proporcione a
maximização dos retornos dos investimentos feitos pelos proprietários ou acionistas.
Contudo, a rentabilidade máxima pode comprometer a liquidez da empresa, pois os
retornos estão submetidos a diferentes períodos de tempo.
Liquidez: capacidade que uma empresa tem de pagar suas dívidas nas datas dos
vencimentos.
Deve-se aplicar boa parte dos fundos disponíveis e manter inativa outra parte como
proteção ou defesa contra riscos de não se conseguir pagar algum débito. E esses fundos
inativos não produzem retorno aos investidores. Assim, a maximização da rentabilidade e da
liquidez, ao mesmo tempo, não é possível.
Daí o conflito entre a máxima rentabilidade e a máxima liquidez: Não é possível
maximizar os dois objetivos ao mesmo tempo, entretanto, a rentabilidade deve ter prioridade
sobre a liquidez.
Aplicar tudo, correndo o risco de não poder saldar compromisso em seus vencimentos,
ou deixar dinheiro parado para fazer face à suas dívidas?

LIQUIDEZ (Braga, p.29)

A liquidez de uma empresa é o grau de capacidade que ela tem, em determinado


momento, de atender os seus compromissos de curto prazo através da realização de seus
Ativos Circulantes.
As empresas não podem prescindir do crédito concedido por seus fornecedores e pelas
instituições financeiras. Deixando de liquidar seus compromissos financeiros nas datas
convencionadas, a empresa sofrerá restrições de crédito e terá dificuldades na manutenção do
ritmo normal de suas operações. A situação pode deteriorar-se até o ponto da decretação de
sua falência.
A insolvência de uma empresa pode surgir devido a excesso de imobilizações ou de
estoques, à concessão aos clientes de prazos muito longos para pagamentos, ou ainda, à
utilização de fontes de financiamentos inadequadas. Observa-se, então, que a capacidade da
empresa cumprir seus compromissos financeiros é afetada tanto pela composição das fontes
de fundos, quanto pela composição dos ativos.
Os estoques de matérias-primas precisam ser transformados em estoques de produtos
acabados e isso envolve certo período de tempo. Os estoques de produtos acabados
necessitam ser vendidos, implicando mais esforço e tempo. As duplicatas precisam ser
cobradas para transformar-se em numerário e novamente transcorre certo tempo relacionado
com o prazo de faturamento e alguns atrasos. Aí surgem algumas perdas relativas a créditos
incobráveis.
Enquanto esse processo se desenvolve, existem salários e outros compromissos que
têm de ser pagos em datas previamente determinadas. Surgem assim, os primeiros
descompassos nos fluxos de caixa que tem que ser previstos com certa exatidão para que
possam ser tomadas, em tempo hábil, as decisões pertinentes.
Uma empresa apresenta boa liquidez quando seus ativos e passivos são administrados
convenientemente. Não é necessário manter numerário parado em caixa para liquidar
compromissos a vencer em futuro próximo. Isto seria desaconselhável do ponto de vista da
rentabilidade, uma vez que tais recursos não são gratuitos. O importante é manter os fluxos de
entradas e saídas de caixa sob controle e conhecer antecipadamente as épocas em que irá
faltar numerário.
A administração da liquidez, é certamente, um dos problemas mais importantes
enfrentado pelo administrador financeiro, pois a administração dos Ativos e Passivos
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Circulantes está intimamente relacionada com o nível de riscos que a administração da


empresa está disposta a enfrentar. Vejamos em termos de possibilidades extremas: quanto
maior for a concentração de investimentos da empresa em ativos líquidos, como Caixa, títulos
de pronta liquidez, em relação ao volume de suas dívidas de curto prazo, maior será sua
liquidez e, portanto, menor o nível de riscos que estará assumindo. Em outro extremo,
teríamos o direcionamento do investimento para os ativos de longo prazo de realização,
deixando uma proporção menor de ativos líquidos para cobertura de dívidas de curto prazo.
Neste caso, o risco será maior, pois o pagamento pontual das dívidas a curto prazo dependerá
de novos financiamentos e da velocidade da realização dos Ativos Circulantes menos líquidos
como Estoques e Duplicatas a Receber.

RENTABILIDADE (Braga, p.30)

Os especialistas em Teoria de Administração Financeira têm definido o objetivo


básico dessa área como a maximização do valor atual da riqueza do acionista (proprietário)
Conforme BRAGA, (1992, p.30), “a rentabilidade é o grau de êxito econômico obtido
por uma empresa em relação ao capital nela investido”.
Para que a taxa de rentabilidade, taxa de retorno seja bem avaliada, deve-se cotejá-la
com a expectativa dos acionistas que envolve a consideração do risco assumido e das demais
oportunidades de ganho existentes no mercado para o mesmo grau de risco.
Tal risco pode ser associado à possibilidade das vendas declinarem devido a uma
retração de mercado ou aos esforços bem sucedidos da concorrência. Como parte das
despesas operacionais irá manter-se constante, o lucro operacional acusará uma redução em
maior proporção do que a queda verificada nas receitas de vendas. Este é o tipo de risco
decorrente das atividades operacionais.
Outro aspecto a considerar refere-se à diferença entre a taxa de rentabilidade das
operações e a taxa que refletiria o custo médio ponderado dos empréstimos e financiamentos.
Quando essa diferença for negativa, o retorno dos proprietários sofrerá um impacto altamente
desfavorável, caracterizando um risco financeiro.
A conjugação desses riscos determina um risco global suportado pelos proprietários da
empresa. Se houver queda nas receitas de vendas, o lucro operacional declinará mais do que
proporcionalmente e o lucro líquido será duplamente afetado.
“O equilíbrio entre a liquidez adequada e a rentabilidade satisfatória constitui
constante desafio enfrentado pela Administração Financeira”. ROBERTO BRAGA (1995, p.
31).
Esse conteúdo de Introdução a Administração Financeira foi elaborado com base nos livros:
BRAGA, Roberto. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1995.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 7ª Ed. São Paulo: Harbra, 2002.
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1. O papel da área de Finanças e da Administração Financeira (Texto complementar)

Fayol (1970, p.17) definiu o conjunto de operações das empresas em seis grupos, também
chamados de funções, a saber: técnica, comercial, de segurança, de contabilidade, administrativa e
financeira. Dessas, as duas últimas podem ser definidas como: 1) a função administrativa engloba a
previsão, a organização, a coordenação e o controle das atividades da empresa; 2) a função financeira
engloba a procura e a gerência de capitais da empresa, pois sem a sua intervenção, nada se faz na
empresa.
Braga (1989, p.23) já define que cada empresa pode ser visualizada como um sistema que
multiplica os recursos financeiros nela investidos, e a função financeira é responsável pela obtenção
dos recursos necessários e pela formulação de uma estratégia voltada para a otimização do uso desses
fundos.
Ao administrar um negócio, seja um modesto empreendimento ou uma grande sociedade
anônima, muitas funções diferentes estão envolvidas, como a renovação dos produtos, a abertura de
novos pontos, o marketing e o atendimento aos clientes são pontos críticos para o sucesso de uma
empresa. Mas são as finanças que fazem com que tudo isso aconteça; é o que dirige todo o resto. Sem
capital que atenda às necessidades da empresa, seja para financiar seu crescimento ou para atender às
alterações do dia-a-dia, não pode se desenvolver e testar novos produtos, criar campanhas de
marketing, comprar matéria-prima, manter a empresa ou abrir novas filiais (DUDDLES apud
GITMAN, 1997, p.2).
Finanças pode ser conceituada como a arte e a ciência de administrar fundos. Ela é ampla e
dinâmica, afetando diretamente a vida de todas a pessoas e organizações, financeiras ou não
financeiras, privadas ou publicas, grande ou pequenas, com ou sem fins lucrativos (GITMAN, 1997,
p.4).
A área de Finanças está muito mais complexa e avança a passos mais rápidos atualmente. Os
mercados financeiros estão mais voláteis; as taxas de juros podem subir ou cair acentuadamente, num
período de tempo muito curto. Essas mudanças afetam as decisões financeiras de uma empresa, cuja
orientação tem como objetivo básico a maximização do valor da empresa a longo prazo. Essas
decisões, entretanto, não devem ser tomadas isoladamente. O pessoal de finanças precisa trabalhar em
conjunto com o pessoal de marketing e de operações (DUDDLES apud GITMAN, 1997, p.3).
A área de Finanças pode ser divida em duas amplas partes: serviços financeiros e
Administração Financeira. Os serviços financeiros são voltados à concepção e à prestação de
assessoria, tanto quanto à entrega de produtos financeiros a indivíduos, empresas e governo. Já a
Administração Financeira diz respeito às responsabilidades de um administrador financeiro numa
empresa (GITMAN, 1997, p.4).
A Administração Financeira tem como meta a maximização da riqueza dos acionistas, que
constitui algo mais amplo e profundo do que a maximização dos lucros. Para que a haja essa
maximização, os seguintes aspectos são envolvidos: perspectiva de longo prazo da empresa, valor do
dinheiro no tempo, retorno do capital próprio, risco e dividendos (BRAGA, 1889, p.30).

2. O papel do administrador financeiro

O papel do administrador financeiro é assegurar que o capital esteja disponível nos montantes
adequados, no momento certo e ao menor custo (DUDDLES apud GITMAN, 1997, p.2).
Suas principais atividades podem ser relacionadas às demonstrações financeiras da empresa;
elas são as seguintes: realizar análises e planejamento financeiro; tomar decisões de investimento; e
tomar decisões de financiamento.
A análise e o planejamento financeiro dizem respeito ao ato de transformar dados financeiros,
de forma que possam ser utilizados parara monitorar a situação financeira da empresa, avaliar a
necessidade de se aumentar ou reduzir a capacidade produtiva e determinar aumentos ou reduções dos
financiamentos requeridos. Seu objetivo principal é avaliar o fluxo de caixa da empresa e desenvolver
planos que assegurem que os recursos adequados estarão disponíveis para o alcance dos objetivos da
empresa (GITMAN, 1997, p.14).
As decisões de investimento tomadas por um administrador financeiro determinam a
combinação e o tipo de ativos constantes do balanço patrimonial da empresa, fixando e mantendo
certos níveis ótimos para cada tipo de ativo circulantes, decidindo quais são os melhores ativos
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permanentes a adquirir, e decidindo quando os ativos devem ser modificados, substituídos ou


liquidados (GITMAN, 1997, p.14).
As decisões de financiamento tomadas determinam: primeiramente, a combinação mais
apropriada entre financiamento a curto e longo prazo; e, em um segundo momento, quais são as
melhores fontes individuais de financiamento, em um dado instante (GITMAN, 1997).
Há também outra atividade, a tomada de decisões de distribuição de dividendos, que
determinam a porcentagem de lucros paga aos acionistas, a estabilidade dos dividendos em relação a
uma tendência, divisão dos dividendos, e recompra de ações. Essa atividade é mais voltada para as
empresas de capital aberto (sociedades anônimas) (VAN HORNE, 1995, p.6).
Um administrador financeiro desempenha uma variedade de tarefas relacionadas a essas
atividades principais, tais como orçamentos, previsões financeiras, administração de caixa,
administração do crédito, análise de investimentos e captação de fundos (GITMAN, 1997, p.4).
Um administrador financeiro deve ter várias linhas de relação; internamente, com todos os
setores da empresa; e externamente, como interlocutor da empresa em negociações com instituições
externas como clientes, fornecedores, acionistas, governo, etc. dada a importância do capital
gerenciado.
Outro ponto que o administrador financeiro deve cuidar é a amplitude de sua visão gerencial,
tanto microeconômica, onde ele deve ter conhecimento profundo da situação interna da empresa,
quanto macroeconômica, onde ele deve compreender o conhecimento dos fatores externos que podem
influenciar as decisões (SENAC, 1996, p.11).

3. A gestão do fluxo de caixa

A Administração Financeira enfatiza o fluxo de caixa, ou seja, entradas e saídas de caixa. O


administrador financeiro mantém a solvência da empresa, analisando e planejando o fluxo de caixa
para satisfazer as obrigações e adquirir os ativos necessários ao cumprimento dos objetivos da
empresa. Ele adota o regime de caixa para reconhecer as receitas e despesas que efetivamente
representam entradas e saídas de caixa (GITMAN, 1997, p. 12).

4. A gestão do capital de giro

O relevante é identificar as causas que levam uma empresa a ter problemas de liquidez. O
problema da dificuldade financeira de alguém decorrer de ganhar pouco ou de gastar muito, ou da
combinação desses dois fatores. Entendemos, portanto que a situação de liquidez de uma empresa é
efeito da combinação de diversos fatores de caráter operacional e de decisões estratégicas tomadas
pela sua direção (PEREIRA, 1990, p. 200).
O planejamento de nível de capital de giro depende das projeções dos elementos da estrutura
patrimonial. O disponível, o estoque e os créditos a receber formam o capital de giro. A projeção dos
valores mínimos desses elementos determinará a necessidade mínima do capital de giro. Essa projeção
envolve fatores que variam para cada empresa, dependendo das políticas de estocagem, de vendas e de
compras, assim como da estratégia de risco operacional (SENAC, 1996, p. 65).
As vendas a prazo convertem os produtos estocados em duplicatas a receber, sendo que estas
somente se transformarão em caixa após a concretização da cobrança, podendo nesta fase ocorrer
atrasos e perdas por falta de pagamento. Os passivos de funcionamento são constituídos por fontes não
onerosas de recursos geradas espontaneamente pelas atividades operacionais, tais como: salários a
pagar, encargos sociais e impostos a recolher, obrigações provisionadas. São constituídos também por
fontes onerosas de recursos por envolverem encargos financeiros, exemplos: empréstimos bancários e
duplicatas descontadas (p. 82)
A falta de instantaneidade e sincronização entre os pagamentos, as vendas, e as cobranças,
implica na imprecisão e riscos na conversão dos estoques em duplicatas a receber e destas em
numerário. O descompasso entre os fluxos de pagamentos e de recebimentos deverá ser coberto pelo
capital circulante (CCL), também conhecido por capital de giro líquido.
Com relação ao CCL x Liquidez, o capital circulante líquido constitui uma medida estática da
folga financeira que a empresa apresenta para liquidar seus compromissos de curto prazo. É de supor
que, quando maior for CCL menor será o risco de insolvência da empresa, todavia deve se atentar para
a composição do ativo circulante. Por outro lado o CCL baixo nem sempre implica em dificuldades
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financeiras. Uma grande rede de supermercados compra a prazo de seus fornecedores e gira
rapidamente seus estoques através de vendas a vista, obtendo deste modo grande volume de numerário
correspondente às exigibilidades ainda não vencidas. Aplicando esses recursos no mercado financeiro
a empresa consegue realizar grandes lucros, possibilitando inclusive ofertar determinadas mercadorias
a preços inferiores àqueles que serão pagos aos fornecedores.
O CCL x Rentabilidade, onde se o capital circulante líquido elevado prejudica a rentabilidade,
pois: o excesso de ativos circulantes poderia indicar ineficiência; com exceção dos estoques, os demais
ativos circulantes estão expostos aos efeitos da inflação que corrói o poder aquisitivo dos valores a
receber ou mantidos sob a forma de disponibilidades; os recurso próprios e de terceiros a longo prazo
que compõem o CCL envolvem custos elevados.
O CCL x Passivo Circulante, onde a análise do potencial de crédito da empresa, realizada
pelos seus fornecedores e pelas instituições financeiras, constitui um mecanismo que delimita a
expansão do passivo circulante. A esses agentes interessa que a empresa mantenha determinada folga
financeira representada pelo CCL. Desse modo as empresas não podem contar exclusivamente com
dívidas de curto para compor o seu capital de giro (p. 86).

5. Análise dos índices financeiros

A análise dos índices financeiros é feita com o objetivo de mostrar o desempenho, ou seja, a
situação em que a empresa se encontra. A interpretação desses índices utiliza cálculos para medir o
desempenho da empresa, sendo eles: demonstrativo do resultado e o balanço patrimonial com
referencia ao período analisado. Os mais interessados em fazer essa análise são os acionistas que
olham os níveis de risco e retorno, os credores que visam a liquidez a curto prazo e a habilidade da
empresa efetuar os pagamentos de juros, e a administração da empresa em questão que se certifica de
que o negócio é saudável e se continuara dando lucro.

Questões:

1. Qual o papel da contabilidade na administração financeira de uma empresa?


2. Quais as funções do administrador financeiro?
3. Quais são as duas tarefas básicas da função financeira?
4. Quais são as áreas de decisão financeira?
5. O que distingue o objetivo de maximização dos lucros da empresa do objetivo de
maximização da riqueza dos proprietários?
6. Quais são os objetivos da administração financeira?
7. O que é rentabilidade?
8. O que é liquidez?
9. Se a liquidez da empresa não for insuficiente, isso será uma indicação de que o
desempenho da administração financeira é satisfatório. Verdadeiro ou falso? Por
que?
10. Deve a empresa acumular volume excessivo de recursos monetários? Por que? O
que quer dizer volume excessivo de recursos monetários?
11. As três áreas de decisões financeiras são interdependentes? Por que?
12. Uma empresa que apresente boa liquidez e não possua passivos exigíveis no curto
prazo, tem alguma vantagem competitiva em relação a outras empresas?
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Fluxo de Caixa
É a previsão de entradas e saídas de recursos monetários, por um determinado período.
O principal objetivo dessa previsão é fornecer informações para a tomada de decisões, tais
como: prognosticar as necessidades de captação de recursos bem como prever os períodos em
que haverá sobras ou necessidades de recursos; aplicar os excedentes de caixa nas alternativas
mais rentáveis para a empresa sem comprometer a liquidez.

Exemplo de Fluxo de Caixa

Felipe está realizando o seu planejamento financeiro para o segundo semestre 2010.
Sabe-se que ele ganha 1.040 reais de salário, sendo que nos meses de março a maio ele obtém
uma renda extra de 10% do valor do seu salário através de horas extras. Ele gasta
mensalmente 30% do seu salário fixo com habitação (aluguel, luz, água, iptu). Em passagens
de ônibus, ele precisa reservar 90 reais por mês. A mensalidade do seu curso representa um
gasto de 210 reais mensais. Com alimentação, Felipe gasta 9 reais por dia e 75 reais por mês
com cinema e livros. Com base nessas informações, faça o orçamento de caixa de Felipe para
o segundo semestre de 2010.

Recebimento parcelado: os recebimentos e pagamentos do fluxo de caixa na maioria


das vezes acontecem de forma parcelada como pode ser vislumbrado nas tabelas a seguir.

Programação de recebimentos:
Previsão de vendas AGO SET OUT NOV DEZ
100 200 400 300 200
Vendas a vista (0,20) 20 40 80 60 40
Após um mês (0,50) 50 100 200 150
Após dois meses (0,30) 30 60 120
Outros recebimentos 30
Total dos recebimentos 210 320 340

Programação de pagamentos:
Compras AGO SET OUT NOV DEZ
70 140 280 210 140
Compras a vista (0,10) 7 14 28 21 14
Após um mês (0,70) 49 98 196 147
Após dois meses (0,20) 14 28 56
Pagamento de aluguéis 5 5 5
Ordenados e salários 48 38 28
Pagamento de impostos 25
Aquisição de equipamentos 130
Pagamento de juros 10
Dividendos em dinheiro 20
Pagamento de empréstimos 20
Total de pagamentos 213 418 305
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Fluxo de Caixa
Estudo de caso

O fazendeiro Paulo planta soja. Dispõe em sua propriedade de um trabalhador pelo


qual paga um salário mensal de 360,00. Entre novembro e março ele gasta 400,00 por mês,
em despesas diversas nas suas plantações, inclusive mão-de-obra sazonal. A contratação da
colheita custa 1.100,00 em março.
Os preços de venda variam, mas uma estimativa moderada considera a produção do
exercício em 3.804 Kg, que deverão ser vendidos à vista por 2,75 o quilo no mercado interno.
Dois terços são vendidos à vista em abril e o restante em maio.
Paulo também cria porcos; ele vende o primeiro lote por 500,00 em dezembro e o
segundo pelo mesmo preço em julho. As despesas de manutenção da família de Paulo são de
350,00 por mês. Ele começou o período com 1000,00 em dinheiro e nenhum débito com
bancos.
A partir das informações acima pede-se:
 Elaborar o fluxo de caixa de acordo com o quadro anexo.
 Determinar a quantidade de recursos que Paulo precisa tomar emprestado para
manter um mínimo de 460,00 por mês em caixa durante todo o ano.
 Determinar os meses que ele precisa destes empréstimos para evitar a
ociosidade do dinheiro.
Importante: Fazer recomendações ao fazendeiro para ele gerir melhor sua
propriedade.
13

Fluxo de caixa (resolução)

Contas/Mês NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT
Saldo inicial
Receita com soja
Receita com porcos
Receita Total
Despesa da família
Pagamento empregado
Mão-de-obra sazonal
Despesa com colheita
Total das despesas
Variação Líquida de caixa
Empréstimos bancários
Débitos bancários acumulados
Pagamento dos empréstimos
Saldo final de Caixa
14

Administração de Caixa - Exercício

COMPANHIA CARAMBOLA

As vendas e compras realizadas pela Companhia Carambola para novembro e


dezembro de 2009, juntamente com as vendas e compras previstas para o período de janeiro a
junho de 2010, são apresentadas abaixo:

Ano Mês Valor Vendas - R$ Valor Compras - R$


2009 Novembro 210.000 120.000
Dezembro 250.000 150.000
2010 Janeiro 170.000 140.000
Fevereiro 160.000 100.000
Março 140.000 80.000
Abril 180.000 110.000
Maio 200.000 100.000
Junho 250.000 90.000

A empresa fatura 20% do total de suas vendas à vista e cobra 40% de suas vendas após
30 dias. O restante é cobrado em 60 dias. Outras entradas de caixa esperadas são de R$
12.000 em janeiro, fevereiro e abril e de R$ 15.000 em março, maio e junho. A empresa paga
10% de suas compras à vista, paga 50% das compras no mês seguinte e 40% dois meses
depois.
Pagamento de ordenados e salários perfazem 20% das vendas do mês precedente. O
aluguel de R$ 20.000 precisa ser pago mensalmente. Os pagamentos de juros de R$ 10.000
referentes a um financiamento de longo prazo vencem em março e junho. A empresa espera
pagar R$ 40.000 de dividendos em parcelas iguais em janeiro e abril, sendo que neste último
mês também vence o prazo para pagamento de impostos no valor de R$ 80.000. O saldo final
de caixa em dezembro foi de 20.000, que é o valor inicial de caixa em janeiro.

PEDE-SE:
Supondo que a empresa deseja manter um saldo operacional de caixa no valor de R$
15.000 em 2010, faça o planejamento de caixa da empresa para os meses de janeiro a junho de
2009, determinando ainda os excedentes de caixa a serem investidos mensalmente e/ou as
necessidades de financiamento de curto prazo. Considere rentabilidade de aplicações
financeiras de curto prazo de 1,2% ao mês e juros de empréstimos bancários de 4,5% ao mês.
15

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho


Saldo Inicial
Entradas
A vista (20%)
30 dias (40%)
60 dias (40%)
Outras entradas
Juros de Aplic.
TOTAL das
entradas
Saídas
A vista (10%)
30 dias (50%)
60 dias (40%)
Salário
Aluguel
Dividendos
Impostos
Financiamento
Juros de Emp.
TOTAL das
saídas
VLC
Empréstimos
Aplicações
Saldo final
16

Estudo de caso: Lojas Shitsuke


As Lojas Shitsuke, em preparação para o movimento do fim de ano de 2009, tendo em
vista as necessidades financeiras para atender aquele movimento, realizaram o planejamento
das suas necessidades de capital de giro para o período de outubro de 2009 até fevereiro de
2010, com base nas seguintes informações geradas pelas unidades operacionais da referida
empresa:
Dois terços das vendas da loja são pagos à vista, sendo que o restante é cobrado dentro
de um período médio de 90 dias.
• 75% das compras são realizadas com condições de vencimento em 60 dias; 25% são
adquiridas mediante o pagamento à vista. É política da empresa aceitar as condições
oferecidas pelos fornecedores.
• A folha de pagamento mensal está estimada em 21% sobre as vendas do mês anterior.
• As despesas operacionais mensais estão estimadas em 17% das vendas do mês e são
pagas no mês em que ocorrem.
• O saldo de caixa auditado no dia primeiro de outubro de 2004 era de R$13.000,00.
• É desejo da empresa manter um saldo mínimo mensal de caixa na ordem de
R$6.000,00.
• Os valores que excederem ao saldo mínimo de caixa determinado pela empresa,
deverão ser aplicados no mercado financeiro. Segundo informações da gerência financeira, a
melhor taxa líquida que o mercado oferece é de 2,1% am.
• As necessidades mensais de recursos para atender as demandas de caixa e o saldo
mínimo mensal, deverão ser captadas no mercado financeiro. Pelos contatos da área
financeira, a menor taxa observada foi de 6,2% am.
• Os resgates das aplicações, bem como, as amortizações relativas às captações, deverão
ser processadas no mês subseqüente da ocorrência do respectivo fato gerador.
Com base nestas informações, elabore o fluxo de caixa da empresa Lojas Shitsuke
para o período de outubro de 2009 até fevereiro de 2010. Após realize os comentários
gerenciais pertinentes.
As compras da empresa nos meses de julho, agosto e setembro foram de 50.000,
75.000 e 40.000 respectivamente e as vendas foram de 90.000, 100.500 e 81.000
respectivamente. As compras e vendas projetadas pela empresa para o período de outubro de
2009 até fevereiro de 2010 são:
ITENS JUL 09 AGO 09 SET 09 OUT 09 NOV 09 DEZ 09 JAN 10 FEV 10
COMPRAS 50.000,00 75.000,00 40.000,00 157.000,00 140.000,00 80.500,00 87.500,00 136.500,00
VENDAS 90.000,00 100.500,00 81.000,00 199.500,00 178.500,00 262.500,00 168.000,00 147.000,00
Saldo Inicial
Entradas a vista
Entradas a prazo
Total das entradas
Saídas
Compras a vista
Compras a prazo
Salários
Despesas
Total das despesas
VLC
Empréstimos
Pag. empréstimos
Aplicações
Saldo final
17

NATUREZA E FINANCIAMENTO DO CAPITAL DE GIRO (Braga, cap.3)

A administração do capital de giro envolve um processo contínuo de tomada de


decisões voltadas principalmente para a preservação da liquidez da empresa, mas que também
afetam a sua rentabilidade.
Segundo Brigham e Houston (1999) historicamente o termo “Capital de giro teve
origem com os antigos mascates (vendedores ambulantes) ianques (EUA), que carregavam
suas carroças com mercadorias e percorriam suas rotas vendendo seus artigos”. Ainda
segundo esses autores:

A mercadoria era chamada de Capital de giro porque era o que o mascate


vendia ou girava, para produzir seus lucros. A carroça e o cavalo eram seus
Ativos Fixos. E estes eram financiados com recursos próprios, mas os fundos
para comprar as mercadorias costumavam ser provenientes de empréstimos.
Estes eram chamados de empréstimos de capital de giro e tinham que ser
liquidados a cada viagem, para demonstrar ao banco que o crédito do
mascate era bom. Se o comerciante itinerante conseguia pagar o empréstimo
que tinha tomado, então o banco lhe fornecia outro empréstimo.

Assim, iniciou-se a longa história do Capital de giro, que ainda hoje é um dos fatores
determinantes para o bom gerenciamento de qualquer empresa.

NATUREZA DO CAPITAL DE GIRO

Em sentido restrito, o capital de giro corresponde aos recursos aplicados no ativo


circulante, formado basicamente pelos estoques, contas a receber e disponibilidades. Uma
abordagem mais ampla contempla também os passivos circulantes. Deste modo, a
administração do capital de giro está relacionada com os problemas de gestão dos ativos e
passivos circulantes e com as inter-relações entre esses grupos patrimoniais.
Os passivos circulantes podem ser classificados em duas categorias: passivos de
funcionamento e passivos de financiamento.
Os passivos de funcionamento são constituídos de fontes não onerosas de recursos
geradas espontaneamente pelas atividades operacionais: salários a pagar, encargos sociais e
impostos a recolher, obrigações provisionadas, etc. Os passivos de financiamento são
fontes onerosas de recursos por envolverem encargos financeiros: empréstimos bancários e
duplicatas descontadas.
Segundo a ADEMPE (1997, p. 130), onde foi feita uma analogia sobre o termo, o
Capital de giro de uma empresa é: Como a rotação do motor de um carro. Quanto mais giros
tiver o motor, mais potência tem. Quanto menos giros tiver o motor, menos potência tem. Ou
seja: quanto mais capital (dinheiro) girar a empresa, mais potência tem. Quanto menos capital
(dinheiro) girar a empresa, menos potência tem.

FLUXO DO CAPITAL DE GIRO

O ciclo de capital de giro em uma indústria inicia com as compras de materiais e


termina com a geração de um valor excedente ao que foi aplicado no processo. Tal excesso
corresponde ao lucro líquido realizado financeiramente adicionado das despesas de
depreciação.
Dependendo do tipo de negócio e da qualidade da sua gestão, cada ciclo do capital de
giro será repetido mais ou menos vezes em determinado período. Assim, é de se supor que
18

quanto mais ciclos se completarem em cada período, mais eficientemente estarão sendo
geridos os recursos aplicados no ativo circulante, ocasionando maior rentabilidade.

CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO

Enquanto há exata determinação das épocas em que deverão ser efetuados os


pagamentos relativos aos passivos circulantes, o mesmo não ocorre com as entradas de caixa
provenientes das atividades de produção, vendas e cobrança.
A falta de instantaneidade e sincronização entre essas três atividades básicas implica
imprecisão e riscos na conversão dos estoques em duplicatas a receber e destas em
numerário. O descompasso entre os fluxos de pagamentos e de recebimentos deverá ser
coberto pelo capital circulante liquido (CCL), também conhecido por capital de giro líquido.

Ativo Circulante Passivo Circulante


AC PC

CCL’ CCL’’

Ativos não Recursos de


Circulantes Longo Prazo e
Permanentes
(ANC) (PNC +PL)

A Figura mostra que CCL’ = CCL”

CCL’ = AC - PC => AC = PC + CCL”, evidenciando que o ativo circulante é


financiado pelo passivo circulante e pelo capital circulante líquido.
CCL = (PNC + PL) - (ANC), demonstrando que o capital circulante líquido é
constituído pelo excedente dos recursos de longo prazo e permanentes sobre os ativos não
circulantes. Como “o dinheiro não é carimbado”, teremos de admitir que o CCL é
constituído por uma parcela dos empréstimos e financiamentos a longo prazo e por uma
parcela do patrimônio líquido. (Se a totalidade do exigível a longo prazo fosse constituída
por contratos de financia mento de bens que integram o ativo permanente, teríamos de
admitir que o CCL seria constituído basicamente por recursos próprios.)

CCL X Liquidez

Visto pelo ângulo do CCL’ (=AO - PO), o capital circulante líquido constitui uma
medida estática da folga financeira que a empresa apresenta para liquidar seus
compromissos de curto prazo.
É de se supor que, quanto maior for o CCL’, menor será o risco de insolvência da
empresa. Todavia, deve-se atentar para a composição do ativo circulante. Se houvesse elevada
participação de estoques de realização difícil ou demorada, a referida folga financeira seria
apenas ilusória.
Outro aspecto refere-se à programação de vencimentos das contas a receber e a
pagar. Poderíamos encontrar grande volume de duplicatas a receber com prazos superiores a
19

120 dias, enquanto que as obrigações a curto prazo teriam de ser liquidadas em até 60 dias.
Neste caso, a visão estática de um capital circulante líquido elevado estaria encobrindo uma
defasagem de fluxos de caixa que demandaria o levantamento de empréstimos bancários
e/ou desconto da parte das duplicatas.
Por outro lado, o CCL’ baixo nem sempre implica em dificuldades financeiras. Uma
grande rede de supermercados compra a prazo de seus fornecedores e gira rapidamente
seus estoques através de vendas a vista, obtendo deste modo grande volume de numerário
correspondente às exigibilidades ainda não vencidas.
Aplicando esses recursos no mercado financeiro a empresa consegue realizar
grandes lucros, possibilitando inclusive ofertar determinadas mercadorias a preços
inferiores àqueles que serão pagos aos fornecedores.
Com os negócios em contínua expansão, os recursos assim gerados podem ser
parcialmente desviados para ativos não circulantes, tornando o CCL’ negativo. O grande risco
desse esquema de financiamento de ativos permanentes ou realizáveis a longo prazo com
dívidas de curto prazo decorreria da possibilidade de haver brusca queda nas vendas a vista.
Por contarem com elevado grau de segurança em relação às suas entradas de caixa,
as empresas de energia elétrica, telefone e de outros serviços públicos podem atuar com
CCL’ reduzido ou até negativo.
Então, salvo exceções como as acima apontadas, um CCL’ elevado constitui
indicador de boa liquidez da empresa.
Um capital circulante líquido elevado prejudica a rentabilidade da empresa, pois:

• o excesso de ativos circulantes poderia indicar ineficiência no uso dos recursos financeiros;
• com exceção dos estoques, os demais ativos circulantes estão expostos aos efeitos da inflação que
corrói o poder aquisitivo dos valores a receber ou mantidos sob a forma de disponibilidades;
• os recursos próprios e de terceiros a longo prazo que compõem o CCL” envolvem custos
elevados.

Os recursos próprios implicam um custo de oportunidade correspondente à


expectativa de lucro dos acionistas em face do risco assumido. Por um lado, os empréstimos e
financiamentos a longo prazo envolvem custos nominais elevados, constituídos pela
correção dos saldos das dívidas em face da inflação ou da variação cambial adicionada dos
juros, taxas de serviços bancários, IOF etc.
Essas despesas financeiras são integralmente dedutíveis para fins da tributação do
imposto de renda. Por outro lado, a empresa obtém ganhos monetários sobre essas dívidas em
decorrência dos efeitos inflacionários. Tudo isto faz com que o custo real dos empréstimos
e financiamentos seja muito menor do que as taxas nominais de juros e encargos.
Mesmo assim, o custo médio global dos recursos próprios e de terceiros que
integram o CCL’’ poderá ser bastante significativo em face da rentabilidade operacional da
empresa.

CCL X Passivo Circulante

A análise do potencial de crédito da empresa, realizada pelos seus fornecedores e pelas


instituições financeiras, constitui um mecanismo que delimita a expansão do passivo
circulante. A esses agentes interessa que a empresa mantenha determinada folga financeira
representada pelo CCL’.
Deste modo, as empresas não podem contar exclusivamente com dívidas de curto
prazo para compor o seu capital de giro, havendo necessidade de utilizar também
recursos permanentes para essa finalidade.
Assim, a administração do capital de giro tem por objetivo gerir os ativos e passivos
20

circulantes de tal forma que seja mantido um nível adequado de capital circulante
líquido.

ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO

Objetivo da administração do capital de giro: gerir adequadamente as contas de ativo e


passivo circulante, a fim de alcanças equilíbrio entre lucratividade e risco.

Alterações no CGL influenciam Risco e Lucratividade:

Ativo circulante:
a. se aumenta: diminuem risco e lucratividade
b. se diminui: aumentam risco e lucratividade
Passivo circulante:
a. se aumenta: aumentam risco e lucratividade
b. se diminui: diminuem risco e lucratividade

Bibliografia:
BRAGA, Roberto. Fundamentos e técnicas de administração financeira. São Paulo: Atlas, 1995.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira, Cap. 16 (até pg. 627) e MARTINS,
Eliseu & ASSAF NETO, Alexandre, Administração Financeira, Cap. 10
ADEMPE (Associação dos Empresários da Pequena e Média Empresa do Brasil). Socorro:
tenho uma empresa! – Como Organizar e Dirigir Uma Empresa. São Paulo, 1997.

Capital de Giro (texto complementar)


As contas circulantes da empresa, ativo e passivo circulantes, fazem parte da
administração do capital de giro. Portanto, o objetivo da administração de capital de giro é
administrar as contas circulantes, para que possa garantir um nível aceitável de capital
circulante líquido. É interessante ressaltar que toda empresa deve manter um mínimo possível
de capital de giro, pois os ativos circulantes tem que ser capaz de cobrir os passivos
circulantes, e é claro com alguma margem de segurança.
Os ativos circulantes que tem mais destaque são: caixa, títulos negociáveis, duplicatas
a receber e estoques. Cada um desses ativos circulantes deve ser bem administrado para que
se possa garantir a liquidez da empresa. Em se tratando dos passivos circulantes, os mais
importantes são: duplicatas a pagar, títulos a pagar e despesas provisionadas. É preciso que
seja bem administrado para garantir que cada uma das fontes de financiamento a curto prazo
seja utilizada da melhor maneira possível. A administração do capital de giro é a atividade
mais conhecida da Administração Financeira. A maior parte do tempo do administrador
financeiro é tomado pela administração do ativos correntes.
Para seu funcionamento, as empresas utilizam recursos materiais de renovação lenta
(imóveis, instalações, máquinas, equipamentos), denominados capital fixo ou permanente, e
recursos de rápida renovação (dinheiro, créditos, estoques) que formam seu capital
circulante ou capital de giro, também chamado de ativo corrente.
Capital de giro, portanto, é o ativo circulante que sustenta as operações do dia-a-dia da
empresa e representa a parcela do investimento que circula de uma forma a outra, durante a
condução normal dos negócios. Assim,
CAPITAL DE GIRO = Ativo Circulante
21

Uma administração ineficiente do capital de giro poderá afetar de forma dramática o


fluxo de caixa da empresa. O volume de capital de giro utilizado por uma empresa depende de
seu volume de vendas, de sua política de crédito comercial e do nível de estoques que ela
precisa manter. Duas considerações muito importantes na administração do capital de giro são
os ciclos econômicos e a sazonalidade específica de determinados negócios.
As indústrias normalmente possuem maior proporção de ativos permanentes em
relação aos ativos totais, e tendem a concentrar-se nas necessidades de caixa a longo prazo; as
empresas comerciais trabalham com maior percentagem de capital de giro e concentram-se
principalmente nas contas a receber e nos estoques, buscando mais os financiamentos a curto
prazo; as empresas de serviço, por sua vez, possuem poucos ativos permanentes e enfocam
basicamente as contas a receber.
O capital de giro necessita de recursos para seu financiamento, como acontece com o
capital permanente. Assim, quanto maior for o capital de giro, maior será a necessidade de
financiamento, seja com recursos próprios, seja com recursos de terceiros.
O capital de giro é fortemente influenciado pelas incertezas inerentes a todo tipo de
atividade empresarial. Por esse motivo, a empresa deve manter uma reserva financeira para
enfrentar os eventuais problemas que podem surgir. Quanto maior for a reserva financeira
alocada à manutenção do capital de giro, menores serão as possibilidades de crises
financeiras, ou seja, menor será o risco de a empresa deixar de honrar seus compromissos
financeiros a curto prazo, nas datas de seus vencimentos. Mais uma vez, no entanto, deve ser
lembrado que somente os ativos permanentes proporcionam a rentabilidade satisfatória para a
empresa. A rentabilidade obtida pela reserva de capital de giro aplicada no mercado
financeiro não constitui a atividade-fim das empresas não-financeiras.
O administrador financeiro deve buscar, portanto, um equilíbrio entre o volume
necessário à manutenção da reserva de capital de giro e o valor a ser aplicado no ativo
permanente da empresa. Deve lembrar, por fim, que a rentabilidade da empresa pode esperar
por uma recuperação de lucros, mas que o capital de giro não pode esperar. Ele é prioritário.
Sem o lucro, a empresa fica estagnada ou encolhe, porém, sem o capital de giro, ela
desaparece.

Exercícios

1. O que é Capital de Giro?


2. O que é Capital Circulante Líquido?
3. Qual o objetivo da Administração do Capital de Giro?

Artigo sobre capital de giro:

1. A administração do capital de giro abrange quais contas? Descreva decisões que


podem ser tomadas em relação a estas contas para uma melhor gestão do capital de giro.
22

Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro

O ciclo financeiro ou o ciclo de caixa é o tempo que eu preciso financiar o ciclo


operacional. O ciclo de caixa representa as minhas necessidades de recursos para financiar o
ciclo operacional. Os recursos podem se próprios ou de terceiros. O ciclo operacional inicia
com a compra até o recebimento das vendas. Quanto mais idênticos forem o ciclo financeiro e
o ciclo operacional mais recursos serão necessários para financiar o ciclo operacional.
Quanto maior a diferença entre o ciclo operacional e o ciclo financeiro menor será a
necessidade de recursos para financiar o ciclo operacional.
Este estudo está diretamente ligado ao volume e ao tempo (velocidade) que esses
recursos transitam pelos mais diversos órgãos do organismo empresarial. Se eu controlar esses
recursos no volume e na quantidade eu posso administrar o equilíbrio financeiro. Isso implica
em informações, ter controle e saber usar essas informações.

Estudo de Caso: Um estudo financeiro realizado numa empresa industrial de médio


porte revelou que ela adquire todas as suas matérias-primas e demais insumos necessários
para o processo produtivo aceitando as condições impostas pelos fornecedores, que
determinam que ela pague, por ocasião da compra, 25% do total, concedendo-lhe para o
restante as seguintes condições: 30% deverá ser pago nos próximos 45 dias, 18% nos
próximos 55 dias e para o restante ela terá um prazo de 70 dias. O estudo também apresentou
dados relativos as vendas. Neste sentido ele revelou que esta empresa vende a sua produção
nas seguintes condições: 20% ela recebe por ocasião da venda, 15% em 15 dias, 45% em 35
dias e o restante em 60 dias. A justificativa para estas condições estaria no fato de a empresa
estar atuando num mercado altamente competitivo, onde essas condições lhe dariam algum
diferencial sobre seus competidores. Outros dados constantes no referido estudo demonstram
que, pela distância da empresa dos seus fornecedores, as matérias-primas e os insumos
demoram em média, após a compra, 8 dias para chegar à empresa. Por problemas na recepção
existe uma demora de 4 dias após a chegada para que efetivamente esses materiais sejam
utilizados no processo produtivo, cujo ciclo está dimensionado em 23 dias. Após concluído o
ciclo produtivo, os produtos normalmente aguardam em média 5 dias na expedição para
serem vendidos. Isto se deve pela morosidade do setor da expedição e do faturamento. Com
base nestas informações, oriundas do referido estudo financeiro, dimensione e demonstre
adequadamente o ciclo financeiro e o ciclo operacional, evidenciando todos os elementos,
procedendo ao final uma análise técnica com as pertinentes recomendações.

Precisamos identificar o Prazo médio de pagamento dos fornecedores.

PMPg = ( 25% x 0 ) + ( 30% x 45 ) + ( 18% x 55 ) + ( 27% x 70 )


100%

PMPg = 42,3 dias

Temos também que calcular o Prazo Médio de recebimento. O estudo também


23

apresentou dados relativos as vendas, nesse sentido, ele revelou que a empresa vende sob as
seguintes condições:
20% a vista
15% em 15 dias
45% em 35 dias
20% em 60 dias

PMR = ( 20% x 0 ) + ( 15% x 15 ) + ( 45% x 35 ) + ( 20% x 60 )


100%

PMR = 30 dias

Vamos reduzir os prazos médios de recebimento das vendas e, assim, vamos reduzir o
ciclo financeiro, porém, estou num mercado altamente competitivo, eu não posso fazer como
eu quero.
Qual deve ser o grande sinalizador das compras?
As vendas. A área de vendas tem que ter muito cuidado porque se esta área falha na
sua análise, nas suas projeções a empresa morre. Na nossa área comercial é trabalhado o
cenário otimista. Devemos pegar 3 cenários.
Onde está o problema do desequilíbrio financeiro no comércio?
- Compra Administração de

- Concessão de crédito Capital de Giro

Lembrado que quem determina as compras são as vendas e nas vendas está um
camarada chamado cliente muito exigente. Hoje não se vendi qualquer coisa. Uma empresa
comercial não compra para a empresa, mas compra para o mercado.
Outros dados constantes no referido estudo mostraram que pela distância da empresa
dos seus fornecedores as matérias-primas e insumos demoram em média 8 dias. Por
problemas de recepção existe uma demora de 4 dias após a chegada para efetivamente esses
materiais sejam utilizados no processo produtivo cujo ciclo está dimensionado em 23 dias.
Depois de concluído o ciclo produtivo os produtos aguardam em média 5 dias para a
expedição e venda.
Vamos montar o ciclo. Qual é a definição de Ciclo Operacional?
É o tempo compreendido entre a compra até o recebimento da venda.
Nós temos um primeiro período que é o tempo de chegada da matéria-prima e dos
insumos que é de 8 dias. Depois da chegada da matéria-prima temos mais o tempo de
estocagem da matéria-prima e dos insumos que é de 4 dias. A produção dura 23 dias. O tempo
de estocagem de produtos prontos é de 5 dias e depois começam as vendas. O tempo médio de
24

recebimento de vendas é de 30 dias. O ciclo operacional total é de: 8 + 4 + 23 + 5 + 30 = 70


dias.
O prazo médio de pagamento dos fornecedores é de 42,3 dias.
O Ciclo Financeiro ou de Caixa é obtido da seguinte forma:
Ciclo financeiro = Ciclo Operacional – PMP

Ciclo Financeiro = 70 dias – 42,3 dias = 27,7 dias

O ciclo financeiro inicia com o pagamento da matéria-prima até o recebimento da


venda. Isso quer dizer quanto tempo a empresa precisa em média para se financiar. Neste
tempo são necessários recursos para financiar o ciclo de 70 dias.
Devemos ver o dinheiro sob duas dimensões: tempo (velocidade) e quanto (volume de
recursos). Esses 27,7 dias nos dizem que 39,57% do ciclo operacional de 70 dias precisa ser
financiado pela empresa. Essa conta é feita da seguinte forma:
27,7 dias dividido por 70 dias = 0,3957 ou 39,57%
O ciclo financeiro pode se deslocar para a direita ou para a esquerda. Se vier para a
esquerda e se aproximar do ciclo operacional podemos dizer o seguinte:
Quanto mais similares forem os ciclos mais recursos serão necessários para financiar o
ciclo operacional. Quanto maior a diferença entre os ciclos financeiro e operacional é uma
evidência de uma menor necessidade de recursos para financiar o ciclo operacional.
Quanto mais parecidos forem os ciclos operacional e financeiro mais recursos eu
preciso. Por exemplo: Se o ciclo financeiro fosse deslocado para a esquerda e fosse de 40
dias, estaria mais próximo a 70 dias. Se ele fosse igual a 70 é sinal de que a empresa teria que
financiar todo o investimento.
O ciclo operacional é o ciclo de operações que vai desde a compra até o recebimento
da venda. Este período de tempo é de 70 dias. Desses 70 dias eu preciso financiar 27,7 dias. O
restante já está sendo financiado pelos prazos médios que eu tenho recebido dos fornecedores.
Eu começo a pagar a partir do 42,3 dias, desse dia até o dia 70 são 27,7 dias.
Desde que a empresa comprou até receber as vendas leva 70 dias para fechar esse
ciclo. Se ela pagasse a matéria-prima no ato da compra o ciclo financeiro seria igual ao
operacional, ela financiaria 100% do ciclo de 70 dias. Isso quer dizer que ela precisa de muito
mais tempo de financiamento com seus próprios recursos. Se o prazo médio de pagamento
fosse de 70 dias a empresa precisaria menos financiamento. Quando aumento o prazo de
pagamento diminui o ciclo financeiro. Quanto mais tempo a empresa tiver para pagar os
compromissos melhor é.
Poderíamos dizer que é desaconselhável que o ciclo financeiro seja igual ao ciclo
25

operacional?
Não. Se a empresa tiver os recursos para financiar o ciclo operacional não há nenhum
problema. Depende das condições de financiamento desse ciclo financeiro. Se a empresa
conseguir repassar os custos financeiros para as vendas podendo assim ser absorvido pelo
mercado consumidor sem que isto afete a lucratividade, ou seja, a rentabilidade, não há
nenhum problema.
Este é um instrumento de gerenciamento do capital de giro no qual nós trabalhamos
estoques e clientes. Neste caso eu preciso de capital de giro para 27,7 dias. Mas isso pode
mudar porque é dinâmico, precisa ser analisado permanentemente.
Veja no quadro abaixo como as ações tomadas afetam o ciclo financeiro.

Atividades situação atraso no aceleração aumento combinação


base pagamento das no giro das três
fornecedor cobranças de estratégias
estoques
dias dias dias dias dias
Prazos médios de:
Estocagem (PME) 120 120 120 90 90
Cobrança (PMC) 75 75 60 75 60
Pagamento (PMP) 60 70 60 60 70
Ciclo financeiro (CF) 135 125 120 105 80
Giro de caixa (360/CF = vezes vezes vezes vezes vezes
GC) 2,667 2,880 3,000 3,429 4,5

Cálculo do ciclo financeiro e operacional através do Balanço Patrimonial e DRE

No exemplo que foi utilizado anteriormente para definir os ciclos operacional e


financeiro, os prazos que formavam os diversos períodos mostrados eram evidentes. Quando
toda a informação que possuímos advém das demonstrações financeiras, alguns cálculos
auxiliares precisam ser desenvolvidos para que se descubram os prazos médios de venda de
produtos estocados e o prazo médio de cobrança de uma venda.
Os dados de balanço e da demonstração de resultados necessários são:
a) do Balanço Patrimonial (BP):
• Valor inicial e final dos Estoques
• Valor inicial e final das Contas a Receber
• Valor inicial e final das Contas a Pagar
26

b) da Demonstração de Resultados (DRE):


• Valor das Vendas Líquidas
• Custo da Mercadoria Vendida

Os seguintes cálculos são necessários para conseguirmos elaborar o ciclo operacional e


financeiro:
1) PMRE (Prazo médio de rotação dos estoques) = (Saldo médio dos estoques X 360
/CMV)
2) PMRV (Prazo médio de rotação das vendas) = (Saldo médio de contas a receber X
360 / Vendas Líquidas)
3) PMPC (Prazo médio de pagamento das compras) = Saldo médio de fornecedores X
360 / Compras)

A seguir são apresentados alguns valores das contas de uma empresa nos anos de 2008
e 2009:
Elementos 2008 2009
Estoques de produtos 1.521.283 2.115.134
CMV 12.429.378 14.033.155
Contas a receber 813.574 803.736
Vendas Líquidas 15.231.554 16.903.231
Fornecedores 1.118.355 1.144.860
Compras 11.835.527 14.045.681

Ciclo operacional: CO = PMRE + PMRV


CO = 1.818.208 x 360 + 808.655 x 360
12.429.378 15.231.554
CO = 53 + 19
CO = 72 dias

Ciclo financeiro: CF = PMRE + PMRV – PMRC


CF = 1.818.208 x 360 + 808.655 x 360 - 1.131.607 x 360
12.429.378 15.231.554 11.835.527
CF = 53 + 19 – 34
CF = 38 dias.
27

Exercícios

1) A Loja “Veste Bem”, vende todos os seus produtos a crédito, com prazo médio de cobrança
de 35 dias. O tempo médio entre a entrada e a venda dos produtos é de 42 dias, e o pagamento a
fornecedores, ocorre com um prazo médio de 17 dias. Sabe-se ainda que a empresa possui gastos
anuais, na ordem de 600.000 reais. Com o objetivo de administrar eficientemente o seu caixa, os
administradores financeiros, pretendem alterar os seguintes prazos:
- reduzir os estoques em 7 dias;
- aumentar o prazo de pagamento a fornecedores em 5 dias, e
- diminuir o crédito a clientes em 10 dias.
Em função das decisões acima, verifique se os resultados financeiros são favoráveis para a
empresa, calculando:
a) Ciclo Operacional e Financeiro atual e proposto.
b) Comente os resultados obtidos, em função das alterações nos prazos.

2) Com base nas informações abaixo, calcule: o ciclo operacional e o ciclo financeiro.

CPV anual $ 2.286.160 Prazo Médio dos Estoques 30 dias


Compras anuais $ 1.570.250 Prazo Médio de Recebimento 45 dias
Vendas anuais $ 2.776.670 Prazo Médio de Pagamento 60 dias

3) A Netsystem informática vende os seus produtos a crédito, com prazo médio de cobrança
de 65 dias. O tempo médio desde a compra até a venda dos produtos é de 32 dias, sendo de 07
dias o prazo médio que a empresa espera para receber o produto dos fornecedores desde o
momento em que efetuou o pedido. O pagamento a fornecedores ocorre com um prazo médio
de 35 dias. Com o objetivo de administrar eficientemente o seu caixa, pede-se:
a) Qual é o Ciclo Operacional e Financeiro da empresa.
b) Quais recomendações você sugere para a melhoria do ciclo financeiro da empresa?
28

Exercícios de fixação

1) O que é fluxo de caixa e qual sua importância para o administrador financeiro?

2) Qual a relação entre CCL (capital circulante líquido) e Liquidez e Rentabilidade?

3) Além do envolvimento permanente com a análise e planejamento financeiro, a tomada de


decisões de investimentos e financiamentos são:
a) a atividade secundária do administrador financeiro.
b) a atividade secundária da controladoria.
c) a atividade principal do administrador financeiro.
d) a atividade principal da controladoria.
e) a atividade principal da contabilidade.

4) Nas afirmações a seguir assinale verdadeiro ou falso.


(xx) A importância e o volume do capital de giro são determinados principalmente pelo
volume de vendas, pela sazonalidade do negócio, por fatores cíclicos da economia, pela
tecnologia e pela política dos negócios.
(xx) O capital circulante líquido é a parcela dos ativos circulantes financiada com recursos a
curto prazo.
(xx) As aplicações permanentes de recursos podem ser encontradas, também, no ativo
circulante da empresa.
(xx) A rentabilidade é alcançada à medida que o negócio da empresa proporcione a
maximização dos retornos dos investimentos feitos pelos proprietários ou acionistas.
(xx) O administrador financeiro deve preocupar-se apenas com a gestão financeira.

5) Capital circulante líquido é:


(xx) A soma do ativo e passivo circulante.
(xx) O ativo circulante.
(xx) A diferença entre a soma do patrimônio líquido e o Exigível a longo prazo e a soma do
realizável a longo prazo e o ativo permanente.
(xx) A diferença entre o Patrimônio Líquido e o Ativo Permanente.

6) A empresa Mashmelow Ltda, inaugurada em maio de 2002, está desenvolvendo um fluxo


de caixa para julho, agosto e setembro de 2002. As vendas foram de R$100.000,00 em maio e
R$200.000,00 em junho. Estão previstas vendas de R$400.000,00, R$300.000,00 e
R$200.000,00, respectivamente, para julho, agosto e setembro. Das vendas feitas pelo setor,
20% têm sido à vista, 50% têm gerado duplicatas com prazo de um mês, e as 30% restantes,
de dois meses. A previsão de recebimentos em julho de 2002, em reais, é de
(A) 900.000,00 (B) 400.000,00 (C) 300.000,00
(D) 210.000,00 (E) 80.000,00

7) A Sapatex vende os seus produtos a crédito, com prazo médio de cobrança de 45 dias. O
tempo médio desde a compra até a venda dos produtos é de 30 dias. O pagamento a
fornecedores ocorre com um prazo médio de 25 dias. Com o objetivo de administrar
eficientemente o seu caixa, pede-se:
a) Qual é o Ciclo Operacional e Financeiro da empresa.
b) Quais recomendações você sugere para a melhoria do ciclo financeiro da empresa?
29

DESEQUILÍBRIO FINANCEIRO (Leitura complementar)

Nesta aula veremos dois grupos de decisões: as decisões operacionais e as decisões de


capital. O capital de giro está relacionado com as decisões operacionais de curto prazo. Já as
decisões de capital são de longo prazo, são investimentos pesados de grande monta.
Nós podemos tratar o desequilíbrio financeiro sob três pontos de vista:
1. SINTOMAS
2. CAUSAS
3. CONSEQUÊNCIAS

1. SINTOMAS
A) Quando uma empresa está tendo insuficiência crônica de caixa. Quando isso
acontece ela tem insuficiência de dinheiro para saldar seus compromissos. Ela não consegue
atingir seu objetivo de liquidez. Isto é crônico porque ela não vive sem liquidez. Esse é um
sintoma claro de desequilíbrio.
B) Quando ela necessita captar sistematicamente recursos de empréstimos. Quando
isso ocorre a empresa não consegue financiar seu ciclo com recursos próprios. Ela está
sistematicamente captando recursos através de empréstimos de terceiros. Está buscando fontes
correntes ou permanentes de terceiros.
C) Sensação de esforço desmedido: por mais que as empresas trabalham, se esforçam,
quanto mais elas querem acertar, parece que pior elas vão. Não basta ter vontade, pensamento
positivo, parece que isso não faz sentido. É toda uma sensação de esforço que não dá
resultado. Esse é um sintoma claro de que há um desequilíbrio.
D) A sensação começa a ficar mais grave "Eu acho que vou quebrar". Quando chega
neste estágio o dono do negócio procura ajuda. O consultor verá se pode ou não salvar o
negócio. Se não pode salvar o negócio tentará pelo menos salvar o dono do negócio. Neste
estágio o dono do negócio se torna bem mais obediente.

2. CAUSAS
A) Excesso de investimentos: A empresa está investindo muito em máquinas. São
decisões de investimento inadequadas que não geram retorno adequado. A empresa investe
excessivamente em estoques ou itens de baixa rotação. O estoque deve ficar apenas algumas
horas na empresa. Eles não são comprados para ficar na empresa. Os estoques são comprados
para atender a uma demanda. Saber comprar é saber atender fundamentalmente o mercado.
Itens de baixa rotação consomem dinheiro.
B) O prazo médio de recebimento é maior que o prazo médio de pagamento. Isso é
muito ruim.
C) Excesso de imobilizações: pego todo o lucro da empresa e vou imobilizando para
atender a interesses pessoais. Isso gera desequilíbrios na empresa.
D) Inflação monetária: É um grande perigo porque faz você perder a noção da
realidade. Com a inflação você tem uma sensação perigosa de investimento. Normalmente as
organizações ficam inchadas. Sem a inflação elas ficam esqueléticas e morrendo.

3.CONSEQÜÊNCIAS
A) Vulnerabilidade ante as flutuações do mercado: se as empresas têm dificuldades
perante os competidores, financiadores, clientes, tecnologia, como essas são todas variáveis
de competitividade, no momento em que ela fica vulnerável perante isso, ela tende a
sucumbir.
A ordem de Peter Druker é a seguinte: "Hoje eu sou competitivo ou eu não sou nada".
B) Atrasos nos pagamentos de dívidas: Quando eu tenho insuficiência crônica de caixa
eu atraso meus pagamentos. A vulnerabilidade também é uma conseqüência. Se eu não tenho
30

caixa e dependo de capitais de terceiros, que não são fáceis de obter em condições adequadas,
isso complica muito a minha situação. Isso começa a gerar tensões internas.
C) Tensões internas: As pessoas começam a não se entender, começam a achar
culpados. Isso é muito ruim no sentido de encontrar saídas. Provavelmente, dependendo do
estágio eu já estou com endividamento além do limite, estou com uma imagem desgastada
perante fornecedores e clientes, estou com tensões internas, estou com atraso tecnológico. As
causas disso tudo podem ser em função de um problema financeiro devido a um problema
tecnológico ou por excesso de imobilizações. Eu posso ter várias razões ou causas do meu
desequilíbrio financeiro. Depois que ele acontece ele tem um efeito irradiador negativo
fantástico, não consigo mais conter ele. Dependendo do estágio em que ele se encontra pode
me levar a uma concordata ou até a uma falência.
Isso tudo não acontece por acaso, nenhuma concordata, nenhuma falência, nem os
atrasos nos pagamentos, nem a solvabilidade. Isso acontece porque tem suas razões próprias.
Como nós vimos que tudo tem implicações financeiras diretas ou indiretas de curto, médio e
longo prazo então temos que ver as causas disso tudo.

Medidas de Saneamento

A idéia, do ponto de vista da gestão financeira, é de nós eliminarmos as causas, aliviar


os sintomas, e, com isso, evitar as conseqüências. O primeiro ataque é eliminar as causas e
com isso estaremos eliminando os sintomas e as conseqüências. As medidas de saneamento
são paradoxais e contraditórias:
A) Aumento de capital próprio através da entrada de novos sócios ou do
reinvestimento dos lucros. Uma empresa que tem fracassos financeiros tenderá a ter fracassos
econômicos. Como eu vou reinvestir os lucros se eu não tenho mais lucros? Quem vai colocar
capital na empresa se ela está perdendo dinheiro?
B) Redução do ritmo das atividades operacionais.
C) Contenção de custos e despesas operacionais.
D) Adequação do nível de operações ao nível de recursos disponíveis.
E) Planejamento e controle financeiro.
Essas medidas devem ser tomadas dependendo do agravamento. Eu só posso perceber
se o agravamento é acentuado ou não através de um estudo, através de um Check-list
financeiro. Com isso eu vou poder ver o nível de gravidade.
Muitas vezes é necessário fazer opções, pois os interesses competem entre si. Quando
as pessoas procuram um profissional da área se faz todo um estudo, se faz vários cenários, se
discute os cenários, se vê qual é o cenário menos pior e esse deve ser desenvolvido. O cliente
fica exposto às variáveis ambientais, isto é, aos comentários. Nós estudiosos de
Administração precisamos aprender que em negócios temos que ser discretos e reservados.
Negócios não se comentam em bares, restaurantes ou rodas de amigos. Negócios se
comentam quando se trata de reuniões de trabalho. Qualquer negócio precisa ajudar a
reproduzir o capital, tem que agregar valor à minha riqueza, caso contrário, ele não serve.
Muitas vezes, quando se busca fazer o saneamento financeiro você esbarra na resistência do
próprio interessado motivado por comentários descaracterizados ou sem a devida análise
técnica.

1) Quais são os sintomas de desequilíbrio financeiro em uma empresa?


2) Cite algumas razões que levam uma empresa a ter desequilíbrio financeiro.
3) Quais medidas de saneamento podem ser tomadas para se eliminar ou reduzir o
desequilíbrio financeiro?
31

Análise da Rentabilidade (Padoveze, cap. 3)


Rentabilidade do investimento é o lucro obtido em um período em razão de um
investimento feito em um projeto, empreendimento ou empresa. Representa a remuneração
obtida como prêmio pela aplicação de recursos financeiros em um investimento.
Normalmente, também é expressa em uma taxa percentual.
A rentabilidade é a resultante das operações da empresa em um determinado período e,
portanto, envolve todos os elementos operacionais, econômicos e financeiros do
empreendimento. Esse resultado pode ser visto por diversos ângulos, que estão representados
no balanço patrimonial. O ativo representa todos os investimentos feitos na empresa, e o
passivo, as duas fontes de financiamento (capital de terceiros e capital próprio). Estes três
elementos patrimoniais conduzem às três abordagens principais da análise de rentabilidade.
A abordagem principal de rentabilidade tem como referência os donos da empresa (os
sócios, se limitadas, ou acionistas, se sociedade anônima). O valor do investimento dos
proprietários é denominado, em finanças, capital próprio, e é representado no balanço
patrimonial pela figura do patrimônio líquido.
Essa abordagem é considerada a análise definitiva de rentabilidade, pois relaciona o
lucro líquido após os impostos, que é a mensuração final do lucro obtido, com o valor do
patrimônio líquido, mensurando a rentabilidade à luz do interessado mais importante no
investimento na empresa, que é o dono do capital.
A segunda abordagem objetiva mensurar a rentabilidade da empresa como um todo,
sem se preocupar, primariamente, quem financiou o investimento. Essa abordagem busca
mensurar a rentabilidade do investimento total, ou seja, do ativo, também denominada
rentabilidade do ativo operacional.
A terceira abordagem qualificada de mais importante busca identificar o impacto do
financiamento que a empresa obteve do capital de terceiros (as instituições financeiras que
concederam empréstimos e financiamentos a empresa). Avaliam-se o custo médio do capital
de terceiros e sua relação com a rentabilidade operacional, para verificar se houve vantagem
na utilização desses capitais. Esta vantagem quando ocorre é denominada alavancagem
financeira.
As três abordagens podem ser visualizadas na figura a seguir.

Rentabilidade
Operacional
Rentabilidade do
Patrimônio Líquido
Rentabilidade do
Financiamento

Figura 1 – Abordagens básicas de Rentabilidade

Dada a complexidade da análise de rentabilidade, outras abordagens foram


desenvolvidas, basicamente centradas nos conceitos de valor adicionado e criação de valor.
De um modo geral, essas abordagens introduzem um elemento adicional, não explícito, que é
o custo de oportunidade de capital, avaliando a rentabilidade obtida por meio de sua
confrontação com a rentabilidade de outros ativos e investimentos no mercado financeiro. Os
conceitos de EVA e MVA são decorrentes dessas abordagens.

Lucratividade e Margem x Rentabilidade


32

Essas nomenclaturas têm sido comumente utilizadas como se fossem a mesma coisa,
mas representam mensurações econômico-financeiras distintas. Reconhecemos que para um
leigo podem parecer iguais, mas tecnicamente convém fazer a correta distinção entre elas.
Lucratividade e margem podem ser consideradas sinônimos. Representam o lucro
obtido em relação ao valor das vendas. Podemos ter o lucro ou margem unitária como lucro
ou margem total. A lucratividade/margem unitária é o lucro obtido pela venda de cada
unidade de produto ou serviço. A lucratividade/margem total é o lucro líquido total obtido
pelo total das receitas das vendas dos produtos e serviços durante um período.
A margem e a lucratividade são expressas tanto em valor quanto em percentual. Por
exemplo, temos a margem de contribuição unitária em valor e a margem de contribuição
unitária em percentual. Temos o lucro (margem) bruto em valor e o lucro (margem) bruto em
percentual.

Margem ou lucratividade é uma relação do resultado obtido com o valor da venda.

Objetivando-se o aprofundamento na análise de rentabilidade e geração de lucro,


mensuram-se vários tipos de margem em relação às vendas. As margens mais comuns,
decorrentes da análise das demonstrações financeiras, são:
• a margem bruta, representada pelo lucro bruto, que significa a receita de vendas
deduzida dos custos de comercialização ou fabricação;
• a margem operacional, representada pelo lucro operacional, que é o lucro bruto
deduzido das despesas administrativas comerciais;
• a margem antes dos impostos sobre o lucro, representada pelo lucro operacional,
deduzido das despesas financeiras líquidas das receitas financeiras e outros elementos
considerados não operacionais nas demonstrações publicadas;
• a margem líquida do período, representada pelo lucro líquido após os impostos sobre o
lucro, que é o resultado final apurado pela empresa no período e fica à disposição dos
sócios ou acionistas para distribuição ou retenção dentro da empresa.

Exemplo – Margem unitária:


Preço de venda de um produto $ 2.000,00 100%
(-)Custo unitário de fabricação $ (1.200,00) 60%
= (Lucro) margem bruta $ 800,00 40%
(-)Custo administrativo e comercial $ (500,00) 25%
= Lucro (margem) operacional $ 300,00 15%

Exemplo – Margem total:


Receita das vendas de mercadorias $ 300.000,00 100%
(-)Custo das mercadorias vendidas $ (210.000,00) 70%
= Lucro (margem) bruto $ 90.000,00 30%
(-)Despesas administrativas e comerciais $ (30.000,00) 10%
= Lucro (margem) operacional $ 60.000,00 20%
(-)Despesas financeiras líquidas $ (15.000,00) 5%
= Lucro (margem) antes dos impostos $ 45.000,00 15%
(-)Impostos sobre o lucro $ (15.000,00) 5%
=Lucro (margem) líquida do período $ 30.000,00 10%
33

A rentabilidade relaciona o lucro obtido ao investimento feito ou existente. O objetivo


da rentabilidade é determinar o retorno do investimento. Em outras palavras, a apuração da
rentabilidade tem por finalidade saber se o retorno foi real foi coerente com o retorno
planejado. A rentabilidade é sempre uma medida percentual, e, portanto, relativa.

Rentabilidade é uma relação percentual do resultado obtido com o valor do investimento.

Exemplo – Ativo financeiro:


Aplicação na poupança 10.000,00 (a)
Rendimento obtido após um mês 120,00 (b)
Rentabilidade do mês 1,2% (b:a)
Exemplo – Lucro empresarial:
Patrimônio líquido inicial 1.000.000,00 (a)
Lucro líquido anual 135.000,00 (b)
Rentabilidade do ano 13,5% (b:a)

A rentabilidade é uma medida definitiva: pode ser comparada com qualquer empresa
ou qualquer investimento. A lucratividade é uma medida parcial: sua mensuração só tem
significado para a empresa analisada, uma vez que, em linhas gerais, cada empresa tem sua
estrutura de custos e despesas em relação às receitas ou ao preço de venda de seus produtos e
serviços. Porém, há uma ligação direta entre essas duas medidas de desempenho econômico-
financeiro, uma vez que por meio da lucratividade ou da obtenção das margens sobre as
vendas se consegue a rentabilidade do investimento.

A margem ou lucratividade sobre vendas e receitas é o elemento para se obter a


rentabilidade do investimento.

Os fatores que impulsionam a Rentabilidade: Giro e Margem

Se a margem é o elemento para se obter a rentabilidade, o caminho é o “giro”. A


palavra giro, na análise financeira, significa a produtividade do investimento representada
pela velocidade com que os ativos são operacionalizados e transformam os insumos em
vendas.
A medida clássica do giro é a divisão do valor das receitas pelo ativo total. Como o
ativo total representa os investimentos na empresa, quanto mais vendas a empresa fizer, mais
produtivo será o ativo (investimento) da empresa. Quanto mais uma empresa consegue faturar
com o mesmo valor de investimentos, mais possibilidade ela tem de obter lucros, pois, em
cada venda, há a possibilidade de obter uma lucratividade unitária.

Valor das vendas


Giro do Ativo =
Valor do Ativo (Investimento)
34

Vejamos um exemplo comparativo hipotético:


Tabela 1 – Exemplo de Giro do Ativo
Empresa A Empresa B Empresa C
Receita de vendas anuais – (a) 2.000.000 3.000.000 4.000.000
Valor do Ativo (Investimento) - (b) 2.000.000 2.000.000 2.000.000
Giro (a:b) 1,0 1,5 2,0

No exemplo acima, a empresa A tem o menor giro, e a empresa C, o maior. Note que o
valor do investimento é o mesmo para as três empresas, só que a empresa C consegue
produzir receita de vendas 50% a mais que a empresa B e o dobro em relação à empresa A
Caracteriza-se a empresa C com maior produtividade do investimento, pois consegue gerar
muito mais receita operacional do que as outras empresas comparadas.
Por que isso é importante?
A importância do maior giro possível está em que, havendo lucratividade/margem nos
produtos e serviços que a empresa vende, quanto maior a quantidade de venda, e,
conseqüentemente de receita, há a possibilidade de gerar mais lucros, e, portanto,
rentabilidade. Reforçando, se o elemento fundamental da rentabilidade é a lucratividade, o
caminho é o giro do investimento (do ativo).
Vamos imaginar que todas as três empresas do exemplo consigam obter a mesma
margem líquida em cada venda realizada, da ordem de 12%. Observe na tabela abaixo que a
empresa C obtém um maior montante de lucro líquido. A rentabilidade da empresa C é de
24%, contra apenas 12% da empresa A.

Tabela 2 – Giro do Ativo, margem e rentabilidade


Empresa A Empresa B Empresa C
Receita de vendas anuais – (a) 2.000.000 3.000.000 4.000.000
Valor do Ativo (Investimento) - (b) 2.000.000 2.000.000 2.000.000
Giro (c = a : b) 1,0 1,5 2,0
Margem líquida (d) 12% 12% 12%
Resultado líquido (e = d x a) 240.000 360.000 480.000
Rentabilidade do investimento (e : b) 12% 18% 24%

Com os dados da tabela podemos, então, apresentar a fórmula dos componentes ou


fatores da rentabilidade.

Rentabilidade = Margem x Giro

Utilizando novamente a tabela podemos apresentar a rentabilidade, segundo os


componentes da sua fórmula, para cada empresa do exemplo.

Tabela 3 – Fórmula da rentabilidade


Empresa A Empresa B Empresa C
Margem – (a) 12% 12% 12%
Giro - (b) 1,0 1,5 2,0
Rentabilidade (a x b) 12% 18% 24%
35

Sistema de Análise (Fórmula Dupont)

Vendas

Menos
Custo dos
produtos
Lucro
Menos Líquido
Margem
Despesas líquida
Dividido por
Operacionia
Vendas
Menos
Despesas
Taxa de retorno
Financeiras sobre o ativo
Multiplicado por total
Menos
Imposto de
renda
Vendas
Giro do
ativo total
Ativo Dividido por
Circulante Ativo Total Taxa de
retorno sobre
Mais Multiplicado por o patrimônio
líquido
Ativo
(ROE)
permanente

Passivo
Total do
Circulante Exigível passivo +
PL = Ativo
total total
Mais
Exigível a Mais Multiplicador de
Dividido por alavancagem
longo prazo Patrimônio financeira MAF
líquido
Patrimônio
líquido
36

Taxa de retorno sobre o ativo operacional (Fórmula Dupont)


Receita
Operacional
Receita
Operacional (-)
Líquida
Devoluções
sobre vendas

Lucro
Operacional (-)
Custo das
Vendas

Margem Custos e
Operacional ÷ despesas +
Operacionais Despesas
Operacionais

Receita
Taxa de Retorno Operacional
sobre o Ativo x Líquida
Operacional
Estoques
Giro do Ativo
Operacional ÷ Capital de Giro

Duplicatas a
Ativo
Operacional + + receber, líq. da
provisão
Ativo Fixo
(Imobilizado líq.
da deprec. acum. Disponibilidades
37

Valor do dinheiro no tempo


À utilização da moeda estão associados alguns fatores como inflação e os juros. De
acordo com Padoveze (2005), o fundamento para a existência do juro é a possibilidade de
alguma pessoa antecipar ou não o consumo de bens e serviços. Esse deslocamento de tempo
pode ser considerado um serviço, razão por que o pagamento de juros também é denominado
pagamento do serviço da dívida.
Assim sendo, o valor do dinheiro no tempo decorre: a)do seu custo (para quem paga) e
b)da renda (de quem recebe). Assim, o dinheiro de uma unidade monetária vale hoje mais do
que uma unidade monetária disponível no futuro, uma vez que o dinheiro disponível agora
pode ser investido e começar a render juros imediatamente.

Valor Presente Líquido (VPL)


O que é Valor Presente Líquido?
O valor presente líquido (VPL) de um projeto de investimento é igual ao valor
presente de suas entradas de caixa menos o valor presente de suas saídas de caixa. Para
cálculo do valor presente das entradas e saídas de caixa é utilizada a Taxa Mínima de
Atratividade (TMA) como taxa de desconto. O valor presente líquido calculado para um
projeto significa o somatório do valor presente das parcelas periódicas de lucro econômico
gerado ao longo da vida útil desse projeto. O lucro econômico pode ser definido como a
diferença entre a receita periódica e o custo operacional periódico acrescido do custo de
oportunidade periódico do investimento.
Método de cálculo
Para responder a pergunta acima devemos trazer todos os fluxos financeiros para uma
data comum (que por costume é a data zero). Considerando uma taxa de juros arbitrária de 2%
ao período e utilizando a fórmula podemos resumir da seguinte forma:

VF n VP Saldo
1000 0 -1000 -1000
200 1 196 -804
200 2 191,92 -612,08
200 3 187,76 -424,32
200 4 183,51 -240,81
200 5 179,18 -61,62
200 6 174,77 113,14

Podemos ver que a soma dessas operações (todas trazidas à data zero) fez com que o
38

saldo final se tornasse positivo a partir do sexto período. A soma de todos esses fluxos
trazidos a uma data comum é chamada de Valor Presente Líquido. O Valor Presente Líquido
nesse caso é de 113,14, ou seja, se a empresa comprasse um equipamento por 1.000 reais e
esse equipamento tivesse vida útil de 6 anos (considerando os períodos como anuais) o
investimento seria viável uma vez que retornou um valor maior do que foi investido.
A Fórmula Geral então para o cálculo do VPL então seria:
VPL = Valor 1 * (1+i)^n + Valor 2 * (1+i)^n + Valor 3 * (1+i)^n + ... + Valor n (1+i)^n
Logo:

C0 é o fluxo de caixa feito na data zero. (Que no caso acima era de -1000)
Cn é o fluxo de caixa feito no período n
n é o número do período em que foi feito determinado fluxo
i é a taxa de juros corrente ao período n

Quais os critérios de tomada de decisão?


• Maior do que zero: significa que o investimento é economicamente atrativo, pois o
valor presente das entradas de caixa é maior do que o valor presente das saídas de caixa.
• Igual a zero: o investimento é indiferente pois o valor presente das entradas de caixa
é igual ao valor presente das saídas de caixa.
• Menor do que zero: indica que o investimento não é economicamente atrativo porque
o valor presente das entradas de caixa é menor do que o valor presente das saídas de caixa.

Período de Payback
O que é período de Payback?
Este método visa calcular o nº de períodos ou quanto tempo o investidor irá precisar
para recuperar o investimento realizado. Um investimento significa uma saída imediata de
dinheiro. Em contrapartida se espera receber fluxos de caixa que visem recuperar essa saída.
O Payback calcula quanto tempo isso irá demorar.
Método de cálculo
João deseja comprar um micro computador no valor de R$ 1.600,00. O salário de João
é de R$ 4.000,00. Ele costuma gastar em média para o seu sustento e o de sua família
aproximadamente 90% do seu salário. Os 10% de renda estão destinados a seus gastos sejam
para a poupança ou para o consumo imediato. João sabe que dispõe de R$ 400,00 para gastar
mensalmente com o que quiser. Assim sendo João decidiu comprar o computador e ao chegar
na loja conversou com o gerente e com seu "bom papo" conseguiu com que o gerente
dividisse o computador em quatro vezes sem juros. Assim sendo, a primeira coisa que veio a
sua cabeça, e que viria a cabeça de todos nós, é quanto tempo ele levará para pagar o
computador. Usando uma simples conta, chegaríamos a conclusão de que João iria demorar
quatro meses para pagar o computador, pois o mesmo é quatro vezes maior do que o preço
que João pode gastar por mês (1600 = 4 * 400). Diríamos então que o Payback desse
investimento é de quatro períodos. A conclusão lógica é que a fórmula do Payback é:
39

Payback = Valor do Investimento ÷ Valor do Fluxo Periódico Esperado

No caso citado o Payback seria de: 4 = 1600 ÷ 4

Quais os critérios de tomada de decisão?


• Se o Período de Payback for menor que o período definido como o máximo para o
projeto se pagar devemos aprovar o projeto.
• Se o Período de Payback for maior que o período definido como o máximo para o
projeto se pagar devemos descartar o projeto.

Taxa Interna de Retorno (TIR)


O que é Taxa Interna de Retorno?
A TIR é a taxa de juros que torna o valor presente das entradas de caixa igual ao valor
ao presente das saídas de caixa do investimento. Isso quer dizer que a TIR é a taxa que "zera"
o seu investimento. É uma taxa tal que se utilizada fará com que o lucro do seu projeto seja
nulo ou VPL = 0.

Método de cálculo
Vamos utilizar um exemplo para descrever como a TIR é calculada. Suponha que a empresa
WYS necessita investir R$ 30.000.000,00 para obter fluxos futuros de R$ 11.000.000,00, R$
12.100.000,00 e R$ 13.310.000 ao longo de 3 anos. Vejamos como seria calculada a TIR.

Visualizando as operações da empresa teríamos a seguinte equação. Para que seja


calculada a TIR devemos considerar que VP seja igual a zero. Se VP for igual a zero a única
resposta seria 0,1. Concluímos a taxa interna de retorno do projeto é de 10% ao ano.
Se Substituirmos i por 0,1. Teremos que VP = -30.000.000 + 10.000.000 + 10.000.000
+ 10.000.000. O VP, portanto será igual a zero.
Quais os critérios de tomadas de decisões?

Através de nossos cálculos chegamos a seguinte conclusão:

• Se a taxa de retorno for maior que a taxa de juros do mercado, é rentável fazer o
investimento.
• Se a taxa de retorno for menor que a taxa de juros do mercado, não é rentável fazer o
investimento.
• Quando a taxa de retorno se equivale a taxa de juros do mercado, o investimento é
indiferente, pois a rentabilidade é nula.
40

Exercícios sobre investimento de capital

1) Os alunos Carlos e Marcos resolveram abrir uma sorveteria. O capital para abrir a
sorveteria é 8.000 reais. Como eles só tinham disponível 40% do capital necessário; o restante
foi conseguido através de um empréstimo a ser pago em 4 anos com juros de 13% ao ano.
Sabendo-se que a previsão de lucro feita pelos dois é de 2.100 reais por ano; este investimento
é viável para uma taxa de retorno de 14% e período de funcionamento de 5 anos?

2) A “Neuman Manufacturing” está investimento em um projeto que exige um capital inicial


de 42.000. Esse projeto proporciona benefícios líquidos de caixa de 7.000 por ano pelo
período de dez anos. A empresa tem um período aceitável de payback de 8 anos. Pergunta-se:
A empresa deveria aceitar esse projeto?

3) Um gerente financeiro está realizando uma análise preliminar para lançamento de um novo
projeto. Depois de consultar os setores da empresa, ele conseguiu estabelecer as seguintes
estimativas:
O prazo de análise do investimento foi fixado em 4 anos;
O valor total do Investimento será de R$ 400 na data zero;
O fluxo de caixa dos retornos anuais após os impostos será de R$ 120;
A taxa mínima requerida para este projeto é de 10% ao ano.
Com os dados acima, calcule o Valor Presente Líquido desse projeto, assinalando abaixo a
única alternativa correta;
A ( ) R$ (19,62) B ( ) R$ 19,62 C ( ) R$ 40,30
D ( ) R$ 50,38 E ( ) R$ 780,38

4) Um projeto tem gastos de 200.000 no período 1 e 200.000 no período 2. O lucro é de


180.000 nos próximos 3 anos. Se desejarmos uma taxa de 10% de retorno, qual o VPL? Se a
taxa for de 15% ao ano, qual o VPL?

5) A empresa onde você trabalha pretende comprar um tear novo por 100.000 reais. Os fluxos
de caixa futuros serão de 50.000 nos próximos 3 anos. Considerando juros de 14% ao ano, o
investimento é viável?

6) Um amigo lhe faz uma proposta. Por uma quantia “X” que você aplicaria na empresa dele
você receberia 400 reais no 1º ano; 800 no 2º; 500 no 3º; 400 no 4º e 300 no 5º ano. Se você
deseja um valor mínimo de retorno de 9%, qual o valor máximo que você deveria aplicar na
empresa de seu amigo para que esse investimento seja viável?
41

Exercícios extras sobre análise de investimentos


1) Foram apresentadas ao gerente financeiro de uma empresa, responsável pela análise de projetos de
investimentos, duas propostas para seleção de apenas uma delas. Não há nenhuma restrição
orçamentária. A taxa de atratividade é de 15% a.a. As alternativas são as seguintes:
Benefícios líquidos esperados de Caixa
Alternativa Investimento Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4
A $ 250.000 $ 100.000 $ 150.000 $ 130.000 $ 300.000
B $ 400.000 $ 200.000 $ 200.000 $ 180.000 $ 150.000
O gerente escolheu a alternativa A. Ele tomou a decisão correta? Justifique.

2) Uma empresa está avaliando duas propostas de investimento de capital cujas informações básicas
são apresentadas a seguir:
Fluxo de caixa esperado
Alternativa Investimento Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4
A ($ 1.300.000) $ 900.000 $ 750.000 $ 600.000 $ 600.000
B ($ 1.300.000) $ 300.000 $ 400.000 $ 1.350.000 $ 1.700.000
Sabe-se que a taxa de retorno exigida pela empresa atinge 30% a.a. Diante desses valores:
a) Determinar a taxa interna de retorno e o valor presente líquido de cada projeto.
b) Admitindo que os projetos possam ser implementados conjuntamente, você recomendaria os dois
investimentos?
c) E na hipótese de serem mutuamente excludentes, ou seja, somente um deles poder ser aceito, qual
deles seria economicamente mais atraente?

3) Suponha que estejam sendo avaliadas duas alternativas de investimento, X e Y, cujas informações
básicas são fornecidas a seguir. Sabendo que os projetos são mutuamente excludentes, ou seja, a
direção da empresa deve decidir-se por somente um deles, demonstre a decisão mais correta a ser
tomada através de uma análise incremental. A taxa de retorno exigida pela empresa é de 30%.
Projeto Investimento Inicial Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5
X 400 120 160 200 240 280
Y 800 160 240 280 600 920

4) A seguir são apresentados os Valores presentes de quatro propostas de investimentos admitindo-se


diferentes taxas de desconto.
Taxa de Desconto Projeto A Projeto B Projeto C Projeto D
0% 25,2 50,0 40,0 50,0
4% 8,2 37,0 26,4 30,1
8% (0,2) 25,9 14,9 13,7
12% (9,9) 16,3 5,0 0,0
16% (18,1) 7,9 (3,43) (11,4)
20% (25,2) 0,5 (10,8) (21,0)
Pede-se:

a) Se a taxa de desconto mínima aceitável atingir 16%, indicar as alternativas de investimento que
podem ser aceitas.
b) Qual a alternativa que apresenta a maior taxa de rentabilidade periódica?
c) Qual a TIR da alternativa D?
d) O projeto C é mais rentável (apresenta maior TIR) que o projeto D?
e) A TIR do projeto B é maior ou menor que 20%?
f) A TIR do projeto A é menor que 8%?
42

Métodos de amortização de dívidas


Sistema de amortização francês (Tabela Price)

Exemplo 1: Compra de um produto de 5.000 reais para pagar em 7 meses com juros de
4%a.m.

Mês Prestação Juros Amortização Sd. Devedor


0 Financiamento 5.000
1 833,05 200 633,05 4366,95
2 833,05 174,68 658,37 3708,58
3 833,05 148,34 684,70 3023,88
4 833,05 120,96 712,09 2311,78
5 833,05 92,47 740,58 1571,21
6 833,05 62,85 770,20 801,01
7 833,05 32,04 801,01 0,00
Totais 5000,00

Exemplo 2: Compra de um produto de 5.000 reais para pagar em 7 meses com juros de
4%a.m. e prazo de carência de 2 meses, pagando juros nesse período.

Mês Prestação Juros Amortização Sd. Devedor


0 Financiamento 5.000
1 200 200 0 5.000
2 200 200 0 5.000
3 833,05 200 633,05 4366,95
4 833,05 174,68 658,37 3708,58
5 833,05 148,34 684,70 3023,88
6 833,05 120,96 712,09 2311,78
7 833,05 92,47 740,58 1571,21
8 833,05 62,85 770,20 801,01
9 833,05 32,04 801,01 0,00
Totais 5000,00

Exemplo 3: Compra de um produto de 5.000 reais para pagar em 7 meses com juros de
4%a.m. e prazo de carência de 2 meses, sem o pagamento de juros nesse período.

Mês Prestação Juros Amortização Sd. Devedor


0 Financiamento 5.000
1 0 200 (200) 5.200
2 0 208 (208) 5.408
3 901,02 216,32 684,70 4723,30
4 901,02 188,93 712,09 4011,20
5 901,02 160,45 740,58 3270,63
6 901,02 130,83 770,20 2500,43
7 901,02 100,02 801,01 1699,42
8 901,02 67,98 833,05 866,37
9 901,02 34,65 866,37 0,00
Totais 6307,17 903,17 5408,00
43

Sistema de amortização constante (SAC)

Exemplo 1: Compra de um imóvel de 28.000 reais para pagar em 7 anos com juros de
10%a.a.

Mês Prestação Juros Amortização Sd. Devedor


0 Financiamento 28.000
1 6800,00 2800 4000,00 24.000,00
2 6400,00 2400 4000,00 20.000,00
3 6000,00 2000 4000,00 16.000,00
4 5600,00 1600 4000,00 12.000,00
5 5200,00 1200 4000,00 8.000,00
6 4800,00 800 4000,00 4.000,00
7 4400,00 400 4000,00 0,00
Totais 39200,00 11200 28000,00

Exemplo 2: Compra de um imóvel de 28.000 reais para pagar em 7 anos com juros de
10%a.a. e prazo de carência de 2 meses, pagando juros nesse período.

Mês Prestação Juros Amortização Sd. Devedor


0 Financiamento 28.000
1 2.800 2.800 0 28.000
2 2.800 2.800 0 28.000
3 6800,00 2800 4000,00 24.000,00
4 6400,00 2400 4000,00 20.000,00
5 6000,00 2000 4000,00 16.000,00
6 5600,00 1600 4000,00 12.000,00
7 5200,00 1200 4000,00 8.000,00
8 4800,00 800 4000,00 4.000,00
9 4400,00 400 4000,00 0,00
Totais 39200,00 11200 28000,00

Exemplo 3: Compra de um imóvel de 28.000 reais para pagar em 7 anos com juros de
10%a.a. e prazo de carência de 2 meses, sem o pagamento de juros nesse período.

Mês Prestação Juros Amortização Sd. Devedor


0 Financiamento 28.000
1 0 2800 (2800) 30.800
2 0 3080 (3080) 33.880
3 8228,00 3388 4840,00 29.040,00
4 7744,00 2904 4840,00 24.200,00
5 7260,00 2420 4840,00 19.360,00
6 6776,00 1936 4840,00 14.520,00
7 6292,00 1452 4840,00 9.680,00
8 5808,00 968 4840,00 4.840,00
9 5324,00 484 4840,00 0,00
Totais 47432,00 13552 33880,00
44

Decisão de Investimento e estrutura do Ativo


Determinar a estrutura do ativo significa identificar a quantidade e a qualidade do
investimento.
Conceitua-se determinação da estrutura do ativo como a decisão de investimento que é
tomada com base na obtenção da combinação ideal de ativos em relação ao negócio proposto,
objetivando a menor estrutura de capital.
Essa combinação objetiva determinar a parcela ideal de investimentos em ativos fixos
e capital de giro para o negócio ou empresa a ser constituída.
Essa talvez seja uma das decisões mais difíceis de serem modeladas na gestão
econômica das empresas. A determinação da estrutura do ativo é conseqüência de uma série
de outras decisões anteriores, que decorrem do planejamento estratégico. Da análise do plano
estratégico para investir em uma nova empresa, ou em uma nova unidade de negócio, sairão
as diretrizes e os pontos referenciais que vão determinar a estrutura do ativo do investimento.
Exemplo de estruturas de ativos
A seguir, será apresentado um exemplo de como pode se apresentar a estrutura do
ativo de uma nova empresa ou unidade de negócio, estruturado em cima do setor de
confecção de vestuário. O exemplo apresenta duas opções para o decisor, a partir de uma
definição inicial. A empresa pode ser estruturada desenvolvendo o máximo possível suas
atividades operacionais internamente (opção 1), como pode entregar a terceiros o
desenvolvimento das atividades necessárias para levar o produto ao consumidor final (opção
2).
A opção 1 representa uma empresa de confecção que produz e vende com corpo
próprio de vendas. A opção 2 representa uma empresa uma empresa que não produz; apenas
põe sua marca e, além disso, vende por meio de vendedores terceirizados que ganham por
comissão. A tabela a seguir representa como uma estrutura de ativo pode ser diferente de
outra, a partir de decisões de tecnologias e segmento da cadeia operacional. As quantidades a
serem vendidas são as mesmas para as duas opções.

Opção 1 Opção 2
$ % $ %
GIRO
Estoque de materiais 24.000,00 9,56% 0,00 0,00%
(-)Fornecedores (8.000,00) -3,19% (16.266,67) -13,96%
Estoque de produtos acabados 43.000,00 17,13% 48.800,00 41,88%
Clientes 60.000,00 23,90% 60.000,00 51,49%
Soma 119.000,00 47,41% 92.533,33 79,41%
ATIVO FIXO
Imóveis – Fábrica 48.000,00 19,12% 0,00 0,00%
Equipamentos – Fábrica 60.000,00 23,90% 0,00 0,00%
Equipamentos – 24.000,00 9,56% 24.000,00 20,59%
Administração/Vendas
Soma 132.000,00 52,59% 24.000,00 20,59%
TOTAL 251.000,00 100,00 116.533,33 100,00

Fica evidente que o ativo decorrente da escolha pela opção 1 é muito maior do que se
escolhida a opção 2, porque, internando mais processos, há necessidade de mais ativos fixos e
estoques. A opção 2 exige menos investimentos. Outro ponto importante é a estrutura
percentual do ativo. A opção 1 tem 52,59% de ativos fixos e 47,41% de capital de giro. A
45

opção 2 tem muito mais participação de capital de giro (79,41%), já que, por não ter fábrica,
exige menos investimentos em ativos fixos.

Lucro Esperado

Cada opção traz resultados diferentes em termos de lucro ou prejuízo. As estruturas de


gastos, de materiais e de ativos são diferentes. Portanto, fica claro que o lucro será diferente.
Na tabela a seguir, é apresentada a resultante, em termos de resultado, das duas opções, a
partir dos dados levantados inicialmente. Neste momento, não introduziremos as despesas
financeiras do financiamento dos investimentos, nem os impostos sobre o lucro, objetivando
uma análise operacional mais focada.

Demonstração de Resultados Opção 1 Opção 2


$ % $ %
RECEITA TOTAL 40.000,00 100,00 40.000,00 100,00
(-)Custos Variáveis
. Materiais 8.000,00 20,00% 24.400,00 61,00%
. Comissões 0,00 0,00% 6.000,00 15,00%
Total 8.000,00 20,00% 30.400,00 76,00%
Margem de Contribuição (1) 32.000,00 80,00% 9.600,00 24,00%
(-) Custos/Despesas Fixas 28.700,00 71,75% 7.700,00 19,25%
(A+B+C)
Lucro Operacional (2) 3.300,00 8,25% 1.900,00 4,75%

A opção 1 evidencia um lucro operacional mensal de $3.300,00, bem maior que o


lucro operacional de $1.900,00 da opção 2. Se atentássemos apenas para o valor absoluto do
lucro, poderíamos escolher a opção 1. Porém, essa análise não é conclusiva. É necessário
fazer a análise de rentabilidade, por meio do retorno sobre o ativo, uma vez que cada opção
exigiu valores de investimentos diferentes nos ativos.
De qualquer maneira, as diversas etapas do modelo de decisão conduziram a
determinadas estruturas de ativos, que, por sua vez, conduziram a determinadas estruturas de
resultado, e, conseqüentemente, de lucro esperado.

Retorno do Investimento

Esta é a análise final dentro desta etapa de definição. O retorno do investimento é que
deve ser o elemento a determinar a escolha de uma alternativa ou outra. Ele é a relação entre o
lucro operacional e os ativos necessários para se obter esse lucro, pelo processamento das
transações e operações necessárias para produzir, administrar e vender o produto escolhido
para a nova empresa ou unidade de negócio. Esta análise é apresentada a seguir. A
anualização da rentabilidade foi feita de forma simples, multiplicando por 12 a rentabilidade
mensal obtida.

RENTABILIDADE DO ATIVO Opção 1 Opção 2


Lucro Operacional (A) 3.300,00 1.900,00
Ativo Total (B) 251.000,00 116.533,33
Rentabilidade do Ativo (anualizada) (A:B) 15,78% 19,57%
46

De posse dessa análise, verificamos que, apesar do lucro operacional da Opção 2 ser
menor, pelo fato de ela ter exigido menos investimentos de recursos financeiros na estrutura
de ativos, a rentabilidade é maior – 19,57%, contra os 15,78% da opção 2. A opção 1 exigiu
mais ativos, à luz dos dados elaborados. Assim, mesmo tendo lucro maior, a rentabilidade
final foi menor que a opção 2. A decisão seria, neste momento, pela opção 2.

Decisão de Financiamento e estrutura do Passivo

Define-se estrutura do passivo a participação relativa dos diversos tipos de fontes de


capital remuneradas que estão em uso para financiar os investimentos do ativo da empresa. A
estrutura do passivo também é denominada estrutura de capital.
Dentro do estudo da estrutura do passivo não se consideram fontes de capital os
passivos normais decorrentes do financiamento dos custos das operações da empresa, como
fornecedores, contas a pagar, salários e encargos sociais a pagar, impostos a recolher e
adiantamentos de clientes. Estes são denominados passivos de funcionamento, pois não são
remunerados explicitamente com juros, e os prazos de pagamento desses passivos existem
para dar operacionalidade de rotina de pagamentos. Esses passivos, para estudo da estrutura
do passivo, devem ser alocados no ativo com sinal negativo, pois fazem parte do investimento
no capital de giro. Os passivos remunerados com juros, que fazem parte do conceito de
estrutura do passivo, são denominados passivos de financiamento. A seguir é apresentado dois
exemplos de estrutura do passivo.

Empresa A Empresa B
Valor - $ Participação % Valor - $ Participação %
Financiamentos 100.000 10% 250.000 25%
Debêntures 250.000 25% 350.000 35%
Ações preferenciais 300.000 30% 150.000 15%
Ações ordinárias 350.000 35% 250.000 25%
Total 1.000.000 100% 1.000.000 100%

A empresa A apresenta fontes de capital captadas externamente – financiamentos e


debêntures – que totalizam 35% da estrutura do passivo. A maior parte está representada por
captação junto a acionistas ordinários e preferenciais, que detêm 65% da estrutura do passivo.
A empresa B tem uma situação oposta: 60% de sua participação é captação externa, e
apenas 40% é de captação junto aos acionistas. Abaixo é apresentado a estrutura do passivo
das duas empresas.
47

Empresa A Em presa B

35% Capital dos Capital dos


acionistas 40%
acionistas
Fontes externas Fontes externas
65% 60%

Estrutura do Passivo como opção

Já vimos que a decisão de investimento e determinação da estrutura do ativo


apresentam possibilidades. Sabe-se, contudo, que determinados negócios, dentro de volumes e
tecnologias recomendadas, exigem determinadas estruturas de ativo que permitem menor
liberdade de ação para a sua decisão.
Para determinação da estrutura do passivo, existe maior grau de liberdade, tanto nas
decisões iniciais de financiamento dos investimentos como posteriormente, quando, dentro de
um conjunto normal de condições empresariais, há sempre possibilidades de refazimento do
perfil da dívida, tanto em termos de participações percentuais como de prazos para
amortização e taxas de juros.
Os principais parâmetros norteadores da estrutura do passivo são:
• grau de aversão ao risco;
• dilema liquidez x rentabilidade;
• mensuração do endividamento.

Capital Próprio e Capital de terceiros

A visão tradicional de finanças (denominada abordagem ortodoxa) encara os


fornecedores de fontes externas de capital (financiamento e debêntures) como capital de
terceiros, ou seja, seus detentores não fazem parte da gestão da firma.
O valor das fontes para os acionistas, considerados fornecedores internos de capital, é
denominado capital próprio. Em nosso país, enquadram-se aí os acionistas preferenciais e
ordinários. Na literatura financeira internacional, basicamente denominada pela literatura
norte-americana, as ações preferenciais são consideradas capitais de terceiros.
Basicamente, a separação entre capital próprio e capital de terceiros decorre de dois
fundamentos:
48

1. Aspecto Jurídico: legalmente, os acionistas assumem os riscos e as responsabilidades


finais pelo empreendimento, quando de sua eventual liquidação.
2. Tipo de remuneração: as fontes de capital de terceiros devem ser remuneradas de acordo
com termos contratuais, por meio de juros ou prêmios, independentemente de a empresa
ter ou não lucro suficiente para tanto. São considerados como renda fixa. Já as fontes de
capital próprio são remuneradas basicamente pelo lucro residual, após o pagamento dos
juros aos financiadores externos. Em caso de inexistência de lucros residuais (prejuízo), os
acionistas não terão lucros para serem distribuídos. Os lucros pagos aos acionistas são
denominados dividendos ou lucros distribuídos. São considerados como renda variável
por serem residuais.

Grau de Endividamento e Risco financeiro

A separação das fontes de capital em capital próprio e capital de terceiros decorre,


então, como já vimos, do fato de a empresa, por meio dos seus acionistas, ser responsável
final pelo empreendimento; além disso, os financiadores externos (bancos e debenturistas)
devem receber os juros independentemente da existência ou não de lucros. Denomina-se risco
financeiro a possibilidade de a empresa não se responsabilizar, temporária ou definitivamente,
pelos pagamentos das parcelas do principal e dos juros contratuais. Portanto, os financiadores
externos têm um risco de não receber em devolução o capital emprestado e seus juros. Esse é
o risco financeiro da empresa.
Os financiadores externos adotam como referência básica para medir o risco financeiro
de cada empresa, além do potencial de geração operacional de lucros, o grau de
endividamento atual e futuro. O grau de endividamento é a relação percentual entre o total das
fontes de capital de terceiros em relação ao total das fontes de capital próprio.

Capital de Terceiros
Grau de Endividamento =
Capital Próprio

Quanto maior o grau de endividamento maior o risco financeiro da empresa, pois há


uma maior utilização do capital de terceiros. Como o capital de terceiros exige uma
remuneração fixa, quanto mais empréstimos e debêntures existirem dentro da empresa maior
serão os comprometimentos financeiros no seu fluxo de caixa. Os financiadores externos
sempre estarão atentos a empresas com elevado grau de endividamento, pois, em caso de
lucros futuros menores que os esperados, a possibilidade de inadimplência dos compromissos
financeiros aumenta.
O grau de endividamento também mostra uma relação de garantia. Evidencia qual é a
proporção em que os acionistas estão financiando o negócio em relação ao capital de
terceiros. Quanto mais os acionistas investem no próprio negócio, mais evidentes são os sinais
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de que há confiança no empreendimento e que os acionistas estão dispostos a assumir os


riscos operacionais, evidenciando aos donos do capital de terceiros uma garantia adicional.
Tabela 4 – Exemplos de grau de endividamento
Estrutura A Estrutura B Estrutura C
Capital de Terceiros (A) 0 500.000 750.000
Capital Próprio (B) 1.000.000 500.000 250.000
Total das fontes – Passivo total 1.000.000 1.000.000 1.000.000
Grau de endividamento (A/B) 0,0 1,0 3,0

A estrutura A é de uma empresa que não utiliza capital de terceiros e, portanto, o


endividamento é zero, bem como seu risco financeiro. É também denominada estrutura
financeira não alavancada, absolutamente conservadora. A estrutura B mostra uma relação
1:1, ou seja, para cada unidade monetária de capital de terceiros, os acionistas também
participam da estrutura financeira em montante igual. Portanto, o endividamento é igual a 1.
A estrutura C mostra uma empresa com pouco grau de aversão ao risco e uso intensivo de
capital de terceiros, com grau de endividamento igual a 3. Pode ser considerada uma estrutura
arrojada financeiramente.
No Brasil, são comuns estruturas financeiras com grau de endividamento entre 0,5 e
1,0, sendo considerados aceitáveis até 1,20. Nos países europeus, nos Estados Unidos e no
Japão não é incomum haver estruturas financeiras com grau de endividamento ao redor de 2,
pois as taxas de juros são menores e os ambientes econômicos têm maior estabilidade.
Tecnicamente, existiria a possibilidade de estrutura financeira somente de capital de
terceiros. Porém, dentro da abordagem ortodoxa, tal situação não existe na realidade.

Estrutura financeira, Rentabilidade do ativo e Rentabilidade do Acionista

A rentabilidade geral da empresa decorre da rentabilidade do ativo, do resultado


operacional. A rentabilidade do capital próprio depende, outrossim, de quanto em juros deve
ser pago para os empréstimos (capital de terceiros). Com isso, empresas do mesmo setor
podem ter a mesma rentabilidade do ativo e, no entanto, obterem rentabilidades diferentes
para o capital próprio, decorrente de sua estrutura financeira e da taxa de juros do capital de
terceiros.
A tabela 5 apresenta três estruturas financeiras e o impacto na rentabilidade dos
acionistas sob o efeito de duas taxas de juros escolhidas arbitrariamente, 12% e 18%. O lucro
operacional para todas as hipóteses é o mesmo (150.000), uma vez que a rentabilidade
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operacional está relacionada com os ativos e sua estrutura não é afetada pela estrutura de
capital. Outrossim, a estrutura de capital, considerando os juros devidos ao capital de
terceiros, afeta a rentabilidade líquida, que é o lucro residual, de direito dos acionistas. Não
estamos considerando os impostos sobre o lucro neste momento, para fins de simplificação.
Tabela 5 – Endividamento e Rentabilidade
Hipótese 1 – Taxa de juros de 12% a.a.
Estrutura A Estrutura B Estrutura C
Lucro operacional antes dos juros 150.000 150.000 150.000
Juros de 12% a.a. s/ Capital de terceiros 0 60.000 90.000
Lucro líquido para os acionistas 150.000 90.000 60.000
Rentabilidade do Ativo 15,0% 15,0% 15,0%
Rentabilidade dos Acionistas 15,0% 18,0% 24,0%

Hipótese 2 – Taxa de juros de 18% a.a.


Estrutura A Estrutura B Estrutura C
Lucro operacional antes dos juros 150.000 150.000 150.000
Juros de 12% a.a. s/ Capital de terceiros 0 90.000 135.000
Lucro líquido para os acionistas 150.000 60.000 15.000
Rentabilidade do Ativo 15,0% 15,0% 15,0%
Rentabilidade dos Acionistas 15,0% 12,0% 6,0%

Na hipótese 1, na estrutura financeira A, a rentabilidade do ativo é igual à


rentabilidade do capital próprio (dos acionistas), por que não há endividamento; por isso, não
há ocorrência de juros. Toda a rentabilidade é do acionista e todo o ativo é financiado com
recursos próprios. Nas estruturas B e C, a rentabilidade dos acionistas cresce, porque a taxa de
juros sobre capital de terceiros (12%) é menor que a rentabilidade obtida pelos ativos (15%).
Na hipótese 1, quanto mais capital de terceiros existir na estrutura financeira maior será a
rentabilidade residual para os acionistas.
Na hipótese 2, as estruturas financeiras B e C evidenciam queda da rentabilidade para
o acionista em relação à remuneração do capital de terceiros. Ao pagar 18% ao ano para os
financiadores externos, os acionistas terminam por obter rentabilidade inferior até aquela
gerada pelo ativo. Nesse caso, a taxa de juros compromete a estrutura e a alavancagem
financeiras.
Na hipótese 2, fica clara a relação do endividamento financeiro com o risco financeiro.
Tomando como base a estrutura C, se o lucro operacional, por perturbações não previstas, for
inferior a 135.000, a empresa não conseguirá honrar seus compromissos financeiros anuais,
entrando em problemas de liquidez.
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Exercícios sobre estrutura de capital

1) Dialógica Sistemas está decidindo qual a melhor estrutura de capital para a empresa. Na
alternativa A, a empresa teria 200.000 ações e não teria dívida alguma. Na alternativa B, a
empresa tomou emprestado $4 milhões no banco e recomprou 100.000 ações, ficando com
essa dívida e somente 100.000 ações. Os juros sobre o endividamento da empresa são de 10%
e não existem impostos.
a) Se o LAJIR for de $600.000, qual dos planos oferece um maior Lucro por Ação (LPA)?
b) Se o LAJIR for de $3.4 milhões, qual dos planos oferece um maior Lucro por Ação (LPA)?

2) A JBW Engenharia está analisando três estruturas de capital diferentes. Na primeira a


empresa teria 650 ações e $8.750 de dívidas. Na segunda, teria 860 ações e $3.500 de dívidas.
Na terceira a empresa teria 1.000 ações e não teria dívida alguma. A taxa de juros sobre
empréstimos é de 8%. Ignore os impostos.
a) Suponha que o LAJIR seja de $5.000. Qual dos três planos tem o maior LPA?
b) Qual é o LAJIR de equilíbrio que faz com que os planos 1 e 3 tenham o mesmo LPA?

3) As empresas de construção civil CasaAlta e CasaBaixa são idênticas, exceto no que se


refere à sua alavancagem financeira e custo de capital de terceiros. Cada uma tem $20
milhões em ativos, lucro operacional de $4 milhões e alíquota total de imposto de 40%.
CasaAlta tem um índice de endividamento geral de 50% e paga 12% a.a. de juros, enquanto
que a CasaBaixa tem endividamento geral de 30% e paga 10% de juros sobre o capital de
terceiros que utiliza.
a) Calcule a taxa de retorno sobre o investimento (Lucro Líquido/Patrimônio Líquido) de cada
empresa.
b) Observando que CasaAlta tem um maior retorno sobre investimento, o tesoureiro da
CasaBaixa decide aumentar o seu endividamento de 30% para 60%, o que fará com que os
juros subam para 15% sobre todo o endividamento da empresa. Calcule o novo retorno sobre
investimento da CasaBaixa.
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A empresa “Titubeante S.A.” é industrial. Seus proprietários dizem que já trabalharam


demais e querem vender as suas participações para gozar uma boa aposentadoria. O Balanço
Patrimonial é apresentado:

BALANÇO PATRIMONIAL

ATIVO PASSIVO 31/12/09

CIRCULANTE CIRCULANTE
Disponível 10.000 Fornecedores 150.000
Duplicatas Receber 70.000 Empréstimos a Pagar 100.000
Estoque 80.000 IPI a Pagar 10.000
--------- ---------
160.000 260.000
ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO
CIRCULANTE
Empréstimos à Coligadas 120.000 Financiamentos a Pagar 110.000

PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Investimentos 140.000
Imobilizado 50.000 Capital Social 100.000
Diferido 30.000 Reserva de Lucros 30.000
---------- ------------------------ ---------
220.000 130.000
Total 500.000 Total 500.000

Considerar que a empresa tem apenas dois anos de existência. Os empréstimos a pagar no
curto prazo foram avalizados pelos sócios (tem garantia). Os dados do Balanço Patrimonial foram
auditados (maior credibilidade).
Admita que você seja um consultor financeiro que irá aconselhar um grupo espanhol
interessado em adquirir a empresa. Após uma análise cuidadosa o grupo faz as seguintes questões

1) Uma indústria concentra maior parte dos investimentos no imobilizado. A Titubeante S.A. tem
apenas 10% dos Investimentos no Imobilizado. Por que?
( ) a) Talvez a empresa não seja Indústria. Houve um equívoco.
( ) b) Pode ser uma Indústria totalmente Automatizada.
( ) c) Talvez a empresa trabalhe com “Leasing”.

2) Por que o subgrupo Investimentos é tão elevado?


( ) a) Provavelmente a empresa adquiriu terrenos para futuro uso.
( ) b) Há fortes evidências de se tratar de aplicações em outras empresas.
( ) c) Possivelmente itens do Imobilizado foram classificados erroneamente em investimentos.

3) Como está a situação financeira da empresa ?


( ) a) Ruim, não tem Capital de Giro Próprio.
( ) b) Ruim, porém irá melhorar quando vender o estoque e receber as duplicatas.
( ) c) Razoável, pois a empresa vai receber $ 120.000 de coligadas.

4) Os sócios investiram muito pouco na empresa. Por que?


( ) a) A empresa é ruim e deficitária, nem eles acreditam na empresa.
( ) b) O endividamento da empresa está dentro dos padrões internacionais.
( ) c) Optaram em trabalhar mais com Capitais de Terceiros, reduzindo o risco pessoal/particular.

5) Quanto a empresa tem de capital fixo e capital corrente?


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( ) a) R$ 260.000 e R$ 130.000
( ) b) R$ 500.000 e R$ 420.000
( ) c) R$ 220.000 e R$ 160.000

6) A qualidade do endividamento é:
( ) a) Péssima, pois tem dívidas com fornecedores a curto prazo.
( ) b) Razoável, pois tem cerca de 30% em dívidas a longo prazo.
( ) c) Boa, pois mesmo com dívidas tem lucros acumulados.

7) O Departamento Financeiro deixou vazar que provavelmente a empresa está atrasando um tipo
de obrigação. O que poderia ser?
( ) a) Empréstimo Bancários a pagar.
( ) b) Fornecedores.
( ) c) IPI a pagar.

8) Analisando o ativo permanente da empresa, você diria que estas aplicações são sensatas?
( ) a) Não, pois existe uma concentração muito elevada em investimentos.
( ) b) Não, pois existe uma concentração muito elevada em imobilizado.
( ) c) Sim, pois provavelmente a empresa trabalha com leasing?

9) Se você fosse contratado para ser o administrador dessa empresa, as decisões que tomaria
seria:
( ) a) Vender parte dos investimentos e injetar capital próprio.
( ) b) Receber as duplicatas e solicitar um empréstimo para pagar os que estão vencendo.
( ) c) Liquidar os Estoques e parcelar os fornecedores.
Justifique sua resposta.

10) O Grupo não entendeu porque Lucros Acumulados estão no lado do Passivo.
( ) a) Eles tem razão, o correto seria Disponível.
( ) b) Foi lançado no Passivo para o Balanço bater.
( ) c) Representa o Lucro reinvestido pelos proprietários.

11) Admitindo que os Itens no Ativo fossem totalmente realizáveis (vendíveis pelo valor
evidenciado no Balanço) e que o preço da empresa fosse $ 130.000 você recomendaria ao
Grupo espanhol a compra da empresa ?
( ) a) Não.
( ) b) Sim.
( ) c) Deveria pensar mais.
Justifique sua resposta.

12) A Proporção de Capital Próprio em relação ao Capital de Terceiros é:


( ) a) Boa, pois o Ativo é igual ao Passivo.
( ) b) Ruim, à vista disso, a empresa precisa de injeção de capital.
( ) c) Boa, visto que a empresa tem dívidas a longo prazo.

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