Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2
1 OS FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA
3
É com esse meio ambiente que as empresas precisam interagir para sobreviver. Não há
mais espaço para ineficiência nos meios de produção, pois isso impactará
negativamente na rentabilidade gerada e, consequentemente, aumentará o risco de
desinvestimento. As empresas que não conseguirem se encaixar nesse novo cenário
fatalmente serão fechadas ou simplesmente vendidas.
A bem da verdade, todas as áreas das empresas precisam agregar valor para a
organização. Os recursos humanos precisam contratar profissionais cada vez mais
qualificados e desenvolver meios para alinhar estrategicamente as suas competências
às necessidades da empresa; os profissionais de marketing precisam identificar
mercados cada vez mais promissores e desenvolver estratégias de crescimento; por sua
vez, a administração financeira também tem seus desafios: administrar da maneira
mais eficiente possível os recursos financeiros da empresa.
4
Conforme Assaf Neto e Lima (2014), a administração financeira deve assegurar um
melhor e mais eficiente processo de captação (financiamento) e alocação (investimento)
de recursos. Ainda segundo os autores, a administração financeira se envolveria tanto
com a questão da escassez de recursos quanto com a realidade operacional e prática da
gestão financeira das empresas.
Administração de ativos:
o administrador deve
Planejamento e controle
perseguir os melhores
financeiro: planejar é se
investimentos em negócios
antecipar a possíveis
em termo de risco e
problemas e também
retorno, sempre buscando
identificar oportunidades no
equalizar essa variável no
futuro. Por meio de relatórios
sentido de maximizar o
como os balanços
retorno dos investidores.
patrimoniais e os fluxos de
caixa, é possível avaliar
tendências (como Administração de passivos:
crescimento do para aplicar os recursos,
endividamento) e identificar faz-se necessário a
possíveis situações de aquisição de fundos
problemas de caixa, (financiamentos) e é preciso
permitindo ao administrador obter a melhor combinação
tomar ações de caráter de capital próprio e de
preventivo. terceiros, buscando a
estrutura mais adequada
em termos de liquidez e
Fonte: adaptado pelo autor.
custos.
5
1.3 Administração financeira e Contabilidade
“Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo ‘o estudo,
o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos
de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para
permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à
centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre
em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões
internacionais’.” (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS)
6
1.4 Administração financeira e Economia
O administrador financeiro precisa estar atento ao meio ambiente o qual interage, pois
cada vez mais a competição pelo mercado aumenta. É preciso ter raciocínio lógico,
analítico e conhecimento do todo que envolve as operações empresariais para que se
possa tomar as melhores decisões para que possam atingir o seu principal desafio: criar
valor para o acionista.
Para tal fim, o administrador financeiro deve realizar então as funções de planejamento
financeiro, tomar decisões de investimento e tomar decisões de financiamento tanto no
que tange ao curto como o longo prazo.
No que tange a sua profissão, o administrador financeiro pode ocupar cargos que vão
do assistente ou analista financeiro júnior até o cargo de diretor financeiro, apoiando
as atividades de tesouraria, como contas a pagar e a receber, analisando a capacidade
de pagamento de clientes para determinação de linhas de crédito, negociação de
7
créditos em litígio (cobrança de inadimplentes), além de operações de hedge e câmbio.
Os salários podem variar muito, mas dificilmente são inferiores a US$ 500,00 conforme
cotação de 30 de maio de 2018.
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2014.
FOGO de Chão é vendida para fundo americano por US$ 560 milhões. Correio
Braziliense, São Paulo, 21 fev. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/UC8w4G>. Acesso
em: 8 jun. 2018.
8
2 AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E A SUA ANÁLISE
Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 231), a análise das demonstrações financeiras é
um dos estudos mais importantes das Finanças Corporativas sendo que, para o
administrador financeiro, a análise serve como uma forma de avaliar o desempenho da
organização assim como fornecer tendências considerando o ritmo do crescimento dos
resultados.
As análises horizontal e vertical são uma metodologia da análise de balanços que tem
como principal finalidade avaliar a evolução das contas da empresa sobre diversos
aspectos, como a estocagem, o endividamento de curto e longo prazos, o faturamento
e as despesas operacionais.
9
A análise começa com o planilhamento do balanço patrimonial, no qual são
consolidadas as contas de maior relevância. Normalmente, o exercício de análise é feito
para três períodos. Depois é feita a análise horizontal e a análise vertical.
Exemplo:
10
Tabela 2.2 – Planilhamento do balanço patrimonial da empresa Natura S.A. entre os
exercícios de 2014 a 2016.
11
Tabela 2.3 – Planilhamento do balanço patrimonial da empresa Natura S.A. entre os
exercícios de 2014 a 2016.
Para se realizar a análise, primeiro se toma o período mais antigo como base 100 (%).
Depois, avalia-se se houve aumento ou redução em termos percentuais em relação a
esse período. O cálculo para se analisar a variação entre os períodos analisados segue a
seguinte fórmula:
12
Tabela 2.4 – Análise horizontal: ativos.
Caixa, bancos e
1.695,90 100 2.783,60 64,1 2.298,80 –17,4
investimentos
Contas a receber de
847,4 100 909 7,3 1.051,90 15,7
clientes
Estoques 890 100 963,6 8,3 835,9 –13,3
Impostos a recuperar 240,3 100 320,3 33,3 329,4 2,8
Outros direitos 565,4 100 1.041,80 84,3 286,7 –72,5
Total dos ativos
4.239,00 100 6.018,30 42 4.802,70 –20,2
circulantes
Impostos e depósitos
593,6 100 789,7 33 1.076,50 36,3
judiciais
Outros ativos não
85,6 100 17,6 –79,4 23 30,7
circulantes
Permanente e 2.281,30 100 2.568,70 12,6 2.518,80 –1,9
intangível
Total dos ativos não
2.960,50 100 3.376,00 14 3.618,30 7,2
circulantes
Total dos ativos 7.199,50 100 9.394,30 30,5 8.421,00 –10,4
Pela análise, é possível perceber grandes variações na conta caixa da empresa, que
aumentou 64,1% entre 2014 e 2015, e reduziu 17,4% no ano de 2016. Houve um ligeiro
crescimento da conta de clientes, e a empresa perceptivelmente está otimizando os
seus estoques.
13
Tabela 2.5 – Análise horizontal: passivos
Empréstimos e
1.466,50 100 2.161,30 47,4 1.764,40 –18,4
financiamentos
Outras obrigações de
126,7 100 359,4 183,7 235,1 –34,6
curto prazo
Total dos passivos
3.118,70 100 4.572,60 46,6 4.097,90 –10,4
circulantes
Empréstimos e
2.514,60 100 3.374,40 34,2 2.625,60 –22,2
financiamentos
Total do patrimônio
1.148,60 100 1.077,70 –6,2 996,3 –7,6
líquido
14
É possível perceber uma oscilação muito grande no endividamento de curto e longo
prazo nos anos de 2014 e 2015, com redução também grande no ano de 2016, fazendo
com que os números voltassem praticamente aos mesmos patamares de 2014. A
redução também chama a atenção, embora pequena, mas constante do patrimônio
líquido nos períodos analisados. Houve aumento na conta de impostos a pagar entre
2014 e 2015, e esse número ficou constante em 2016.
Outras
receitas/(despesas) 19,8 100 65,7 231,8 54,4 –17,2
operacionais
Lucro operacional 1.364,8 100 1.256,8 –7,9 1.083,0 –13,8
Aqui, verifica-se que as vendas estão praticamente no mesmo patamar nos períodos
analisados. Houve, contudo, crescimento gradual e constante das despesas com vendas
e administrativas e, destacadamente, das despesas financeiras – 42% entre 2014 e 2015
e 72% entre 2015 e 2016 – o que reflete o elevado perfil de alavancagem da empresa,
comprometendo inclusive o resultado que vem demonstrando piora nos períodos
analisados.
15
Depois de feita a análise horizontal, é feita complementarmente a análise vertical.
A proposta é cruzar as informações das oscilações destacadas na análise horizontal para
checar se o crescimento não foi apenas proporcional ao crescimento dos demais
números da empresa.
Por definição, a análise vertical é uma metodologia de análise de balanços que busca
avaliar a evolução das contas do balanço patrimonial de maneira proporcional.
A proposta é a de se avaliar a participação de uma conta ou subgrupo de contas do
balanço sobre um todo, e, a partir daí, analisar a sua evolução comparativamente entre
os períodos analisados.
16
Aqui, é possível verificar na conta caixa, destacada na análise horizontal, que houve
oscilação de fato em termos relativos, mas não tão expressiva (menos de 5%). Há uma
redução gradual e proporcional da conta estoques, mostrando que de fato a empresa
está buscando trabalhar em níveis menores, o que contribui positivamente para a
geração de caixa da empresa.
Outras obrigações de curto prazo 126,7 1,8 359,4 3,8 235,1 2,8
Total dos passivos circulantes 3.118,70 43,3 281,9 48,7 384,0 49,1
17
O endividamento de curto e longo prazo mostra um pequeno crescimento entre 2014 e
2015 em termos proporcionais, voltando quase aos mesmos níveis em 2016, no qual se
verifica que de fato a empresa vem operando da mesma maneira quanto à gestão do
passivo financeiro nos períodos analisados. O patrimônio líquido mostrou redução entre
2014 e 2015 e ficou no mesmo patamar em 2016.
É possível observar que a empresa teve pequeno crescimento, mas gradual e constante,
tanto nas despesas de vendas como administrativas. As despesas financeiras mais que
dobraram nos períodos analisados, prejudicando, dessa maneira, o resultado da
empresa.
18
Após essas análises se faz necessário buscar uma explicação para as oscilações
apontadas. Muitas dessas explicações constam nas próprias notas explicativas dos
balanços, mas, complementarmente, é necessário buscar informações na mídia
especializada. E, na época, a empresa de fato acusou o impacto do crescimento de
grandes concorrentes do mesmo setor, além de terem reconhecido trabalhar com uma
estrutura administrativa inchada.
Índices financeiros
Liquidez Atividade Rentabilidade Endividamento
Índices de liquidez
Liquidez
Liquidez seca Liquidez geral
corrente
Cada um desses índices indica quantos reais a empresa possui para cada R$ 1,00 de
dívida. Dessa forma, quanto maior do que 1 for cada índice, melhor. Para o cálculo, são
utilizadas as seguintes fórmulas:
19
𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 =
𝑝𝑎𝑠𝑠𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑙𝑎𝑛𝑡𝑒
A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de liquidez da Natura S.A. para o ano
de 2014:
4.239,0
𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = = 1,4
3.118,7
4.239,0 − 890,0
𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑒𝑧 𝑠𝑒𝑐𝑎 = = 1,1
3.118,7
Percebe-se que a empresa possui boa capacidade para honrar seus compromissos tanto
de curto como de longo prazo, observado o resultado próximo de 1.
20
2.3.2 Índices de atividade
Os índices de atividade, conforme mostram Assaf Neto e Lima (2014), objetivam medir
as diversas durações de um “ciclo operacional”, o que envolve as atividades de uma
empresa que vão desde a aquisição de itens para a produção até o recebimento das
vendas realizadas. Para reduzir esse prazo, que deve ser o menor possível, as empresas
buscam prazos com seus fornecedores.
Entre os pontos a serem analisados, destaca-se aqui o prazo médio dos estoques, pois
indica se a empresa está administrando o nível de sua produção de maneira adequada.
Em momentos de crise, pode sair mais barato para a empresa negociar férias coletivas,
por exemplo, para reduzir os custos de estocagem e de produção.
Índices de atividades
Prazo Médio
Prazo Médio Ciclo Prazo Médio de
de Ciclo
de Estoques Operacional Pagamentos
Recebimentos Financeiro (CF)
(PME) (CO) (PMP)
(PMR)
𝑒𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑀é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝐸𝑠𝑡𝑜𝑞𝑢𝑒𝑠 = × 360
𝑐𝑚𝑣
21
𝐶𝑖𝑐𝑙𝑜 𝑂𝑝𝑒𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑙 = 𝑃𝑀𝐸 + 𝑃𝑀𝑅
𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠
𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑀é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑃𝑎𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 = × 360
𝑐𝑚𝑣
A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de atividade da Natura S.A. para o
ano de 2014:
890,0
𝑃𝑀𝐸 = × 360 = 142,4 𝑑𝑖𝑎𝑠;
2.250,1
847,4
𝑃𝑀𝑅 = × 360 = 41,2 𝑑𝑖𝑎𝑠;
7.408,4
CO = 183,6 dias;
599,6
𝑃𝑀𝑃 = × 360 = 95,9;
2.250,1
22
2.3.3 Índices de endividamento
Conforme Assaf Neto e Lima (2014), esses índices são usados com a finalidade de medir
a composição das fontes de recursos de terceiros de uma empresa. Eles mostram o
quanto recursos próprios e de terceiros são usados para o financiamento de uma
empresa. Aqui serão destacadas duas medidas:
𝑃/ 𝑒𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
=
𝑃𝐿
𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑃/ = 𝑒𝑥𝑖𝑔í𝑣𝑒𝑙 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
𝐴𝑇
𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
Em P/PL, quanto maior do que 1 pior, pois indica haver mais capital de terceiros
aplicados na empresa do que recursos dos sócios; já em P/AT indica a participação do
capital de terceiros na composição de ativos da empresa sendo que quanto mais
próximo de 1, pior.
A título de exemplo, observe o cálculo dos índices de endividamento da Natura S.A. para
o ano de 2014:
𝑃/ (3.118,7 + 2.932,1)
𝑃𝐿 = = 5,3
1.148,6
𝑃/ (3.118,7 + 2.932,1)
𝐴𝑇 = = 0,84
7.199,4
23
P/AT 0,84 0,89 0,88
Aqui se percebe que a empresa está com elevada alavancagem, considerando que para
cada R$ 1,00 de capital próprio há R$ 7,00 de capital de terceiros. Verifica-se também
que a participação de capital de terceiros no ativo total é de quase 90%.
Cálculo do ROA:
Conforme Assaf Neto e Lima (2014), o ROA pode ser analisado como sendo o custo
financeiro máximo que a empresa pode incorrer em suas operações de financiamento.
O lucro operacional líquido é calculado deduzindo-se os impostos do resultado
operacional.
Cálculo do ROE:
𝑙𝑢𝑐𝑟𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
𝑅𝑂𝐸 =
𝑝𝑎𝑡𝑟𝑖𝑚ô𝑛𝑖𝑜 𝑙í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑜
O ROE mostra o retorno dos recursos aplicados na empresa por seus proprietários, ou
seja, para cada R$ 1,00 investido de recursos próprios, mostra o quanto os sócios têm
de retorno.
24
A título de exemplo, observe o cálculo do índice de rentabilidade da Natura S.A. para o
ano de 2014:
1.364,8 − 355,1
𝑅𝑂𝐴 = × 100 = 14,0%
7.199,5
741,5
𝑅𝑂E = × 100 = 64,6 %
7.199,5
741,5
𝑅𝑂𝐸 = × 100 = 64,6%
1.149,6
É possível perceber que todos os índices da empresa vêm tendo queda de rentabilidade
tanto sobre o ativo como sobre o patrimônio líquido. Em 2016, por exemplo, para cada
R$ 100,00 investidos na empresa, os sócios tiveram um retorno de R$ 31,00.
25
o ponto central que norteia a tomada de decisões financeiras e esse desempenho é
demonstrado pelo grau de alavancagem. A aplicação da alavancagem operacional e
financeira na avaliação de uma empresa permite que se conheça sua viabilidade
econômica, identificando-se claramente as causas que determinaram eventuais
variações nos resultados (ASSAF NETO, 2020).
Para melhor compreensão dos efeitos dos custos e despesas fixos na alavancagem de
lucros, é preciso diferenciar custos fixos e variáveis. Observe na figura, a seguir, uma
visão sintética do comportamento desses custos.
26
O gráfico expressa o comportamento dos custos em relação ao volume de produção e
vendas. Veja que os custos fixos se mantêm inalterados quando o volume de produção
aumenta entre X1 e X2. Por outro lado, os custos variáveis aumentam conforme o
volume produzido cresce. Por conseguinte, o custo total (soma dos fixos e variáveis),
também aumenta conforme o volume produzido.
Dessa forma, os estudos de alavancagem consideram que os custos fixos, por não se
alterarem em função do aumento da produção e das vendas, devem ampliar os lucros
uma vez que a receita de vendas cresce e os custos se mantêm no mesmo patamar.
ALAVANCAGEM OPERACIONAL
Esse tipo de alavancagem pode ocorrer em função da presença de custos e despesas
fixos na estrutura operacional da empresa. Isso acontece porque as decisões financeiras
relacionadas à expansão do nível de atividade, a partir de uma estrutura de custos e
27
despesas operacionais fixos, têm por objetivo o aumento do lucro operacional, que na
demonstração de resultados é apresentado como Lucro antes dos juros e dos impostos
sobre lucros (Lajir). Custos e despesas como depreciação de máquinas e equipamentos,
aluguel, salários das áreas administrativas, por exemplo, não sofrem variação em virtude
de mudanças no volume de atividade, mantendo-se relativamente constantes ao longo
do tempo, pois independem do volume de produção ou de vendas ocorrido em
determinado período (ASSAF NETO, 2020; MEGLIORINI; VALLIM, 2009).
É importante destacar que a expressão custos e despesas fixos não significa que os
valores envolvidos são constantes (fixos), mas ao fato de sua relação não estar vinculada
ao volume de atividade. Os salários do pessoal da administração, por exemplo, sofrem
alterações de valor pela aplicação anual do reajuste salarial, assim como os aluguéis são
reajustados em virtude das condições contratuais negociadas. No entanto, essa variação
no valor não ocorre por causa de oscilações observadas na produção e nas vendas.
Considere duas empresas A e B que são semelhantes em todos os fatores, com exceção
da sua estrutura de custos. A empresa A, por ser mais automatizada, tem uma relação
custo e despesa fixo/custo e despesa total mais alta que B. Os resultados dessas
empresas são apresentados a seguir.
28
As duas empresas obtiveram o mesmo volume de vendas e lucro operacional, no
entanto a capacidade da empresa A em alavancar seus resultados operacionais é
superior à demonstrada por B. O risco operacional de A, diante da variabilidade de seus
lucros, também é maior que o de B. Tudo isso pode ser explicado pela maior participação
dos custos e despesas fixos na estrutura da empresa A do que em B. Para identificar em
que medida essas estruturas de custos e despesas fixos refletem na geração de lucro
operacional, é preciso calcular o Grau de Alavancagem Operacional das duas empresas.
29
O GAO das empresas demonstra que a empresa A proporciona um aumento do Lajir 7
vezes maior que a variação da receita, enquanto na empresa B o aumento é de 4 vezes.
Isso acontece porque a empresa A apresenta maior participação de custos e despesas
fixos, o que concede maior potencial de promover resultados.
No entanto, é importante destacar que a alavancagem operacional ocorre nos dois
sentidos, ou seja, se houver uma queda na geração de receitas, os impactos nos lucros
serão os mesmos mensurados pelo GAO das empresas.
ALAVANCAGEM FINANCEIRA
A alavancagem financeira é resultado da existência de despesas financeiras decorrentes
dos juros cobrados pela utilização de capital de terceiros que integra a estrutura de
capital da empresa. Essas despesas tendem a se manter constantes, mesmo com as
30
variações da produção e das vendas, por isso, quando as receitas e o lucro operacional
aumentam, e as despesas financeiras permanecem, o lucro líquido aumentará. Essa
situação é observada quando o custo do capital de terceiros é menor que os retornos
produzidos por sua aplicação. A diferença positiva encontrada promove uma elevação
mais que proporcional nos resultados líquidos dos proprietários, alavancando a
rentabilidade (ASSAF NETO, 2020; MEGLIORINI; VALLIM, 2009).
Variação % LL 80%
Variação % Lajir 60%
GAF 1,33
Fonte: elaborado pela autora com fins didáticos (2020).
31
O GAF demonstra que relação entre a variação do Lajir e do Lucro Líquido é maior que
1,00, indicando a existência de alavancagem financeira favorável. O retorno do
investimento supera o custo do capital de terceiros, produzindo resultados positivos aos
proprietários. Nessa situação, qualquer variação no lucro operacional resultará em uma
variação 1,36 vezes maior no resultado líquido dos proprietários.
No entanto, é preciso considerar que a alavancagem financeira, assim como a
operacional, também funciona no sentido contrário. Se, por um lado, quanto maior for
o GAF, mais elevada se apresenta a capacidade de a empresa elevar o retorno de seus
proprietários com o acréscimo no lucro operacional; em caso de redução do nível de
atividade, com queda das vendas, o lucro operacional será reduzido e a alavancagem
financeira causará redução no lucro líquido.
Observe, utilizando o mesmo exemplo anterior, o impacto no lucro líquido quando há
uma queda no Lajir, provocada por uma queda nas vendas.
Variação % LL -80%
Variação % Lajir -60%
GAF 1,33
32
O GAF de 1,33 funcionou em direção a uma queda na rentabilidade, o que significa que
a existência de despesas financeiras contribuiu para consumir a riqueza dos
proprietários.
É possível concluir, portanto, que a crescente participação de recursos de terceiros na
estrutura de capital faz com que a empresa assuma maiores riscos financeiros
(endividamento). Assim, uma eventual redução em sua atividade operacional pode levar
a alavancagem financeira a atuar de maneira desfavorável, consumindo os resultados
dos proprietários. Por isso, a necessidade de o gestor financeiro manter as decisões
relacionadas à captação de recursos com base na relação entre o risco e retorno dos
investimentos.
ALAVANCAGEM TOTAL
A alavancagem total, também chamada de alavancagem combinada, expressa os
impactos do conjunto das alavancagens operacional e financeira. Ela permite analisar a
repercussão que uma oscilação nas vendas e receitas promove no lucro líquido,
portanto, mede os efeitos dos custos e despesas fixos, operacionais e financeiros, nos
resultados líquidos dos proprietários (ASSAF NETO, 2020; MEGLIORINI; VALLIM, 2009).
33
Fonte: Assaf Neto (2020, p. 131).
34
2.5 A criação de valor: o EVA® e o MVA®
O capital é uma “commoditie” internacional e dessa maneira a sua aquisição é cada vez
mais disputada pelas empresas. Como recompensa para esses investidores as empresas
precisam gerar retornos cada vez maiores, ou seja, precisam criar valor econômico ou
valor econômico agregado. Conforme Assaf Neto e Lima (2014), as empresas precisam
criar valor que pelo menos seja maior do que o seu custo de capital, pois, caso contrário,
estarão destruindo valor.
As medidas de mensuração de valor que serão aqui expostas são o EVA® e o MVA®.
Segundo Assaf Neto e Lima (2014), o EVA® seria o resultado de uma empresa após a
dedução do custo do capital próprio. Caso o resultado seja positivo, existe criação de
valor para o acionista; caso contrário, destruição de valor. Entretanto, em seu cômputo,
é considerado também os custos de capital de terceiros, pois é necessário analisar a
criação de valor como sendo resultante da subtração dos custos totais de capital.
A combinação de capital próprio e de terceiros que existe para financiar uma empresa
evidencia a sua estrutura de capital. Ao calcular o custo de capital de uma empresa, é
preciso considerar que as fontes de capital próprio e de terceiros possuem diferentes
custos. Assim sendo, é necessário o cálculo do custo médio ponderado de capital (CMPC
ou WACC em sua sigla em inglês – Weighted Average Cost Capital).
Sendo que:
Ke = custo de capital próprio
Wpl = participação do capital próprio Ki = custo do capital de terceiros
Wp = participação do capital de terceiros
O MVA® é uma avaliação calculada tendo como base as expectativas do mercado com
relação ao investimento criar valor. Ainda segundo os autores, esse resultado seria o
35
valor intangível do negócio, chamado de goodwill que foi gerado em função de sua
gestão. Conforme Assaf Neto e Lima (2014), o MVA® seria o valor presente do EVA®:
𝐸𝑉𝐴®
MVA® =
𝑊𝐴𝐶𝐶
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2014.
36
3 O VALOR DO DINHEIRO NO TEMPO
3.1 Juros
Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 66), “o juro pode ser entendido como o custo do
dinheiro. É o preço que se cobra para emprestar dinheiro, ou o retorno que se espera
ganhar em operações de investimento”, ou seja, o preço a ser recebido ou pago por
emprestar ou tomar emprestado recursos de terceiros.
37
Os juros e o tempo são duas variáveis diretamente associadas: quanto maior for o tempo
que o capital ficar tomado, maiores os juros a serem pagos. Dessa forma,
o administrador financeiro precisa gerenciar essa questão por impactar diretamente
sobre os custos de capital: quanto maior for o uso de capital de terceiros, maiores serão
os custos financeiros e isso impactará negativamente na rentabilidade dos negócios.
Os juros normalmente são expressos sobre a forma de taxa (%). A relação entre a
remuneração do capital e o capital usado é denominada taxa de juros. Considere por
exemplo os juros de R$ 100,00 gerados sobre um capital de R$ 1.000,00. A taxa é obtida
da seguinte maneira:
𝑅$ 100,00
𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑗𝑢𝑟𝑜𝑠 = × 100 = 0,1 (× 100) = 10%
𝑅$ 1.000,00
Percebam que o valor calculado foi multiplicado por 100 para que o
resultado se dê em termos porcentuais.
38
Nas operações de curto prazo, normalmente são usados juros simples, já nas operações
de longo prazo, são usados juros compostos.
Variável Definição
É o valor negociado nas operações financeiras,
Principal ou valor presente sendo expresso nas calculadoras financeiras pela sigla
PV (Present Value em inglês).
Relação entre os juros e o principal, sendo indicada nas
Taxa de juros calculadoras pela letra i de interest rates em inglês.
É a soma do principal mais os juros. É expresso nas
Montante ou valor futuro calculadoras pela sigla FV (Future Value em inglês).
Servem para indicar as situações nas quais o retorno do
Parcelas capital não se dá de uma única vez. Nesse caso, é
indicada nas calculadoras financeiras pela sigla PMT
(payments em inglês).
Juros Remuneração do capital. Nas fórmulas será indicada
pela letra J.
Período da operação. Nas fórmulas e nas calculadoras é
Período expresso pela letra n (number of periods em inglês)
39
3.2 Taxas equivalentes
Por definição, conforme Assaf Neto e Lima (2014), taxas equivalentes são taxas de juros
que geram os mesmos montantes quando aplicadas sobre um mesmo capital e prazo.
Sendo que:
ie = taxa de juros equivalente a uma parte de determinado intervalo do tempo
i = taxa de juros efetiva do período
Prazo que eu tenho: grandeza temporal da taxa de juros informada
Prazo que eu quero: grandeza temporal da taxa de juros que se quer a equivalência
Parte 1 – Quando se tem a taxa de juros em unidade de tempo menor e quer calcular
unidade maior. Exemplo: ao mês (a.m.) para taxa ao ano (a.a.)
Outros Exemplos:
40
𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟎𝟐𝟖)𝟒𝟓/𝟑𝟎 – 1 = 𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟎𝟐𝟖)𝟒𝟓/𝟑𝟎 – 1
𝒊𝒆 = 1,04229 – 1=
𝒊𝒆 = 0,04229 x 100 =
𝒊𝒆 = 4,23% em 1 mês e meio ou por 45 dias.
Parte 2 – Quando se tem a taxa de juros em unidade de tempo maior e quer calcular
unidade menor. Exemplo: taxa ao ano (a.a.) para taxa ao mês (a.m.)
41
𝒊𝒆 = (𝟏 + 𝟎, 𝟑𝟔)𝟏/𝟑𝟔𝟎 – 1 =
𝒊𝒆 = (𝟏, 𝟑𝟔)𝟏/𝟑𝟔𝟎 – 1
𝒊𝒆 = 1,00085 – 1=
𝒊𝒆 = 0,00085 x 100=
𝒊𝒆 = 0,09% a.d.
1) Considere a uma taxa de juros de 21% a.a. sendo solicitada a equivalência ao mês
(a.m.):
42
(período da taxa que quero)
yx (1,21)1/12 = 0,08333 1,016011868
Numeral 1, seguido da tecla subtração, taxa
1 – 0,016011868
equivalente mensal em decimal
Numeral 100, seguido da tecla multiplicação X, taxa
100 x 1,60
equivalente mensal em porcentagem
2) Considere a uma taxa de juros de 21% a.a. sendo solicitada a equivalência ao trimestre
(a.t.):
Conforme foi dito no início deste capítulo, os sistemas de capitalização podem ser
lineares (juros simples) ou exponenciais (juros compostos). A seguir, será analisada essa
temática. Aqui, cabe observar que nas operações analisadas o retorno do capital
somente se dará no final do período considerado nos problemas.
43
3.3.1 Juros simples
Os juros são ditos simples quando não ocorre a capitalização dos mesmos, ou
seja, não é cobrado juro dos juros. Calcula-se o juro de um período e sobre
ele não é mais calculado juro, mesmo que o valor não seja pago. (...) No
critério linear, os juros incidem unicamente sobre o principal (capital
inicialmente aplicado) e geram, em consequência, remunerações (ou custos)
diretamente proporcionais ao capital e prazo envolvidos na operação.
Considerando os significados das siglas expostas, as fórmulas usadas para os cálculos em
juros simples são as seguintes:
𝐹𝑉 = 𝑃𝑉 + 𝐽
𝐽 = 𝑃𝑉 × 𝑖 × 𝑛
𝐽
𝑃𝑉 =
i×𝑛
𝐽
𝑛=
𝑃𝑉 × 𝑖
𝐽
𝑖=
𝑃𝑉 × 𝑛
𝐹𝑉 = 𝑃𝑉 × (1 + 𝑖 × 𝑛)
𝐹𝑉
𝑃𝑉 =
(1 + 𝑖 × 𝑛)
44
Exemplos:
Calcule o valor futuro e os juros de uma aplicação de R$ 100.000,00 efetuada pelo prazo
de 8 meses a uma taxa de juros simples de 18% ao ano.
Resolução:
i = 18%/12 = 1,5%
Que capital gerou rendimento de R$ 350,00 durante 10 meses a uma taxa de 1,0%
ao mês?
Resolução:
PV = R$ 350,00 / 0,01 x 10 = R$ 3.500,00
Pedro pagou ao Banco JuroAlto R$ 10,00 por um dia de atraso sobre uma prestação de
R$ 150,00. Qual foi a taxa mensal de juros aplicada pelo banco?
Resolução:
I = R$ 10,00 / R$ 150,00 x 1 = 0,0667 x 100 = 6,67% ao dia; i (mensal) = 6,67% x 30
(dias) = 200% ao mês
Determine o valor da aplicação cujo valor de resgate bruto foi de R$ 90.000,00 por um
período de 1 mês sabendo que a taxa de juros foi de 2,0% ao mês.
Resolução:
PV = R$ 90.000,00 / (1 + 0,02 x 1) = R$ 88.235,29
45
Durante quanto tempo foi aplicado um capital de R$ 1.000,00 que gerou rendimentos
de R$ 300,00 a uma taxa de juros de 1,5% ao mês?
Resolução:
N = R$ 300,00 / R$ 1.000,00 x 0,015 = 20 meses
As funções de períodos, taxas, parcelas, valor presente e futuro já foram expostas. Cabe
informar que nas operações com a financeira é relevante teclar “f” “clx” para limpar a
memória. A tecla “f” também serve para ativar as funções em laranja na calculadora; a
tecla “g” faz o mesmo.
Exemplos:
Se uma pessoa desejar obter $ 200.000,00 dentro de um ano, quanto deverá aplicar hoje
num fundo que rende 3,0% a.t.? Em outras palavras, qual é o valor presente dessa
aplicação?
Pela fórmula:
200.000
𝑃𝑉 = 4
𝑅$ 177.697,41
(1 + 0,03)
Qual o tempo que um investimento de R$ 10.000,00 precisa ficar aplicado para gerar um
valor futuro de R$ 15.000,00 a uma taxa de 1,5% ao mês?
M
a
i 47
s
u
Obs.: no cálculo de prazo pela fórmula, arredonda-se sempre para mais.
A que taxa mensal uma quantia de R$ 8.000,00 gerou um valor futuro de R$ 9.500,00 no
prazo de 6 meses?
𝑖=
48
Fórmulas:
Na primeira fórmula, você tem o valor das parcelas, o prazo e a taxa de juros, e quer
saber o valor à vista do bem:
Na segunda fórmula, você tem o valor à vista do bem, o prazo e as taxas, e quer calcular
as parcelas:
Na terceira fórmula, você tem o valor de uma série de depósitos, o prazo e a taxa de
juros, e quer calcular o valor futuro acumulado:
49
Na quarta fórmula, você quer saber o quanto vai ter de depositar mensalmente para
acumular determinado valor, sabendo prazo e taxa:
Um carro teve um saldo devedor de R$ 10.000,00 financiado a uma taxa de juros de 1,5%
ao mês pelo prazo de 24 meses. De quanto foi o valor da parcela? (Desconsidere IOF e
demais taxas.)
50
Você vai começar a depositar R$ 100,00 mensalmente em uma aplicação que paga
rendimentos de 0,8% ao mês pensando nos estudos de seu filho que acabou de nascer.
O resgate será feito quando ele tiver 18 anos de idade. Qual será o valor do resgate?
Obs.: Nesse caso, é mais fácil passar o prazo de anos para meses: 18 x 12 = 216 meses.
Você quer comprar um celular Apple mais recente para dar de presente de natal a
alguém especial e observou que ele está sendo anunciado por R$ 4.500,00. É mês de abril
ainda, faltando exatamente 8 meses para o natal. Considerando que a taxa de juros que
é possível obter é de 0,4% ao mês, quanto seria necessário economizar mensalmente
para acumular esse valor? (Considerando que o celular não vai aumentar de preço.)
51
Um eletrodoméstico está sendo oferecido nas seguintes condições: pagamento à vista
da primeira parcela de R$ 350,00 mais 24 pagamentos mensais a uma taxa de juros de
0,5% ao mês. Qual seria o valor à vista desse aparelho?
Aqui você está financiando a aquisição de um carro, sendo que o saldo devedor é de R$
10.000,00 e a taxa de juros é de 2,5% ao mês. O prazo dos pagamentos é de 24 meses, e
a primeira parcela é paga no ato. Qual seria o valor das parcelas?
Você decidiu viajar! Para tal, foi até o banco e fez uma aplicação programada, sendo que
a primeira será feita no ato da contratação. A proposta é aplicar R$ 250,00 mensais para
que depois de 12 meses se tenha um valor para as férias. A taxa contratada foi de 0,8%
ao mês. No final desse período, quanto se espera juntar?
52
esse cliente vai ter de economizar mês a mês, considerando que ele trouxe recursos para
fazer o primeiro depósito para aplicar no ato?
Assaf Neto (2017, p. 233) ensina que os “sistemas de amortização são desenvolvidos
basicamente para operações de empréstimos e financiamentos de longo prazo,
envolvendo desembolsos periódicos do principal e encargos financeiros”.
Conceito Significado
A amortização refere-se exclusivamente ao pagamento do
principal (capital emprestado), o qual é efetuado, geralmente,
Amortização
mediante parcelas periódicas (mensais, trimestrais etc.)
Representa o valor do principal da dívida, em determinado momento,
Saldo devedor após a dedução do valor já pago ao credor a título de amortização
53
É composta do valor da amortização mais os encargos
financeiros devidos em determinado período de tempo. Assim:
Prestação
Prestação = Amortização + Encargos Financeiros
Para isso, multiplica-se o saldo devedor do período anterior pela taxa de juros em
decimal. As parcelas são calculadas somando as amortizações com os juros. Dada sua
metodologia de cálculo, os juros e as parcelas são decrescentes! É usado no
financiamento habitacional.
Vejamos um exemplo:
54
Considere uma operação de empréstimo de $100.000 (cem mil), com pagamento
programado para 4 parcelas, com atualização da taxa de juros de 10% sobre o saldo
devedor.
Nesse sistema, as parcelas são constantes. Primeiro, o cálculo das parcelas é feito
utilizando como metodologia a série uniforme de pagamentos por juros compostos
póstecipados. Depois, os juros são calculados tendo como base o saldo devedor do
período anterior. As amortizações são calculadas deduzindo-se as parcelas dos juros.
O novo saldo devedor é calculado subtraindo-se o saldo devedor do período anterior da
amortização do período.
Esse sistema é usado na maioria dos empréstimos para se adquirir bens de maior valor
agregado. Pela sua metodologia, as amortizações são crescentes e os juros,
decrescentes.
55
Exemplo:
Ressalta-se que a operação financeira é finalizada com SALDO DEVEDOR “0” zero, que
representa quitação do empréstimo, porém, por conta de arredondamentos de valores
ao longo do desenvolvimento da tabela, pode ocorrer pequena diferença entre o valor
do saldo devedor do penúltimo período e o valor da amortização do último período, que
na teoria devem ser iguais a zero. No exemplo apresentado houve a diferença de $0,76.
56
3.5.3 Sistema de amortização americano
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2014.
ASSAF NETO, A. Matemática financeira: edição universitária. São Paulo: Atlas, 2017.
57
4 FLUXO DE CAIXA
Projeção • Estratégica,
financeira de envolvendo decisões
longo prazo de investimento.
58
4.2 Fluxos de Caixa
Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 670), “fluxos de caixa são os recursos que
transitam (entram e saem) pelo caixa em determinado intervalo de tempo”. Os fluxos
de caixa são instrumentos que são utilizados pelas empresas para realizar o controle e a
gestão (curto prazo) e para avaliação de investimentos (longo prazo). Segundo Hoji
(2017), os fluxos de caixa devem refletir as transações oriundas das atividades
operacionais, de investimentos e de financiamentos.
• Vendas: R$ 200.000,00
• Despesas Operacionais Desembolsáveis: R$ 90.000,00
• Despesas com Depreciação: R$ 40.000,000
• Despesas Financeiras: R$ 35.000,00
• Imposto de renda: 35%
59
Tabela 4.1 – Dados para o cálculo do fluxo de caixa líquido.
Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 213), a elaboração e publicação da DFC se tornou
obrigatória através da Lei n. 11.638/2007 em substituição à DOAR. Ainda segundo os
autores, os DFCs podem ser classificados em três categorias:
60
4.2.2 Métodos do fluxo de caixa
Conforme Hoji (2017), os Demonstrativos de Fluxo de Caixa podem ser elaborados tanto
pelo método direto como pelo método indireto. Ainda segundo o autor,
61
Tabela 4.3 – Método Indireto.
62
Assaf Neto e Lima (2014) nos mostram uma estrutura resumida que elucida bem as
diferenças entre esses dois métodos:
63
A importante ferramenta de gestão indica momentos em que eventualmente o caixa
possa ficar em uma situação deficitária, indicando necessidades de financiamento; por
outro lado, pode apontar situações superavitárias, o que pode ser útil para programação
de investimentos. É uma ferramenta simples de se utilizar, conforme pode ser
observado no exemplo a seguir:
Resolução:
Lançamentos Valor
A – Saldo inicial de caixa R$ 2.000,00
B – Entradas previstas de caixa
Recebimentos de vendas R$ 12.000,00
Aumento de capital por integralização R$ 2.000,00
Recebimento de realizável a curto prazo R$ 1.000,00
C – Total das entradas R$ 15.000,00
D – Saídas de caixa
Compras de estoques R$ 10.000,00
Pagamento de despesas operacionais R$ 2.000,00
Pagamento de despesas financeiras R$ 1.000,00
E – Total das saídas R$ 13.000,00
F – Saldo líquido de caixa (saldo inicial + entradas – saídas) R$ 4.000,00
Fonte: adaptado de ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 683.
64
4.3.2 Orçamento de capital
Convencionemos para fins didáticos que o investimento será de R$ 500 mil e será
realizado da seguinte forma: R$ 200 mil serão recursos próprios e R$ 300 mil serão
recursos de terceiros (BNDES).
Portanto:
65
• Custo de produção: 60% das receitas brutas;
• Matéria-prima, salários, água, luz, aluguel etc.;
• Impostos estaduais: 4% das receitas brutas;
• Impostos federais: 30%;
• Taxa de juros do BNDES: 8% ao ano;
• Horizonte de planejamento: 5 anos.
Em R$ 1.000
Discriminação Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5
Vendas brutas 957,6 861,8 670,3 766,1 861,8
Impostos estaduais 38,3 34,5 26,8 30,6 34,5
Receita líquida 919,3 827,4 643,5 735,4 827,4
Custos de produção 574,6 517,1 402,2 459,6 517,1
Margem bruta 344,7 310,3 241,3 275,8 310,3
Pagamento/Financiamentos 75,1 75,1 75,1 75,1 75,1
Lucro antes do imposto de renda 269,6 235,2 166,2 200,7 235,2
Imposto de renda 80,9 70,5 49,9 60,2 70,5
Saldo final 188,7 164,6 116,4 140,5 164,6
Investimentos
Recursos próprios 200,0
Recursos de terceiros 300,0
Total dos investimentos 500,0
De onde se chega ao fluxo de caixa livre, que é efetivamente o utilizado para aplicarmos
as técnicas de orçamento de capital e avaliarmos se é viável ou não o investimento.
66
4.4 Gestão de caixa
• Planejamento financeiro;
• Administração do fluxo de caixa;
• Negociação e controle de:
o Aplicações financeiras;
o Empréstimos e financiamentos;
o Garantias e seguros.
• Administração dos riscos de flutuação de preços e taxas;
• Operações de câmbio;
• Crédito e cobrança;
• Contas a pagar.
67
Fonte: HOJI, 2017, p. 141.
Para recordar, o ciclo operacional é o período que existe desde o desembolso inicial das
despesas para fabricar ou vender algo até o seu recebimento.
O ciclo financeiro é calculado deduzindo o prazo médio obtido do ciclo operacional junto
a fornecedores, sendo dessa forma o período em que a empresa necessitará financiar
seu capital de giro com capital de terceiros.
68
Quadro 4.2 – Ciclo operacional e financeiro completo.
Quanto maior for o ciclo financeiro de uma empresa, maior vai ser a sua dependência
de capital de terceiros. Dessa forma, estratégias no sentido de reduzir o ciclo financeiro
consistem em:
69
• Eventuais visitas às instalações dos clientes e entrevistas com seus executivos
para avaliar suas expertises administrativas.
Para esse fim, devem ser usadas técnicas de negociação com a proposta de buscar os
menores prazos entre os fornecedores, tomando o cuidado para não fazer o conhecido
“leilão”, pois essa forma de conduzir negociações pode colocar em cheque a
credibilidade da empresa no mercado.
A análise dinâmica do capital de giro é conhecida por diversas nomenclaturas, tais como
modelo dinâmico do capital de giro, modelo de necessidade de capital de giro, análise
avançada de capital de giro e Modelo Fleuriet (nome do criador da metodologia). Trata-
se de uma metodologia destinada a avaliar os investimentos realizados em capital de
giro de maneira diferente das técnicas tradicionais, uma vez que considera os seus
aspectos dinâmicos, combinando aspectos quantitativos e qualitativos e ampliando as
possibilidades de análise (NASCIMENTO, 2014).
70
gestão de curto prazo da empresa, portanto, seu foco está nas contas do ativo e passivo
circulante.
1
As expressões Operacional e Financeiro, em referência ao Modelo de Fleuriet, podem ser encontradas
em algumas obras com a nomenclatura de Circulantes Cíclicos, para os operacionais; e Circulantes
Erráticos, para os financeiros.
71
Fonte: Assaf Neto e Silva (2012, p. 66).
Como demonstra a Figura 4.2, e com base em Assaf Neto e Silva (2012), o ativo circulante
operacional (ACO) engloba as contas que apresentam relação direta com a atividade
operacional da empresa. São elementos que recebem influência direta do volume de
negócios, tais como produção e vendas; bem como das fases características do ciclo
operacional, como condições de recebimentos das vendas e dos pagamentos a
fornecedores, prazo de estocagem etc. Portanto, o ACO deve manter coerência com o
ciclo operacional da empresa, de forma que o volume dos investimentos nestes itens
represente as suas necessidades de investimento em capital de giro.
Por outro lado, o ativo circulante financeiro (ACF) é formado sem apresentar
necessariamente um vínculo direto com o ciclo operacional da empresa, assim, não
apresenta comportamento associado aos negócios e suas fases, variando mais
estreitamente em função da conjuntura e do risco de maior ou menor liquidez que a
empresa deseja assumir.
Da mesma forma que o ACO, o passivo circulante operacional (PCO), que evidencia as
obrigações de curto prazo, está relacionado ao ciclo operacional da empresa. Por isso,
as contas do PCO representam as dívidas de funcionamento (operacionais) da empresa.
72
direta com sua atividade operacional. As variações ocorridas no volume de atividade ou
nas fases operacionais não refletem diretamente sobre o PCF.
Seu cálculo é realizado com a diferença entre as contas operacionais do circulante: NCG
= ACO – PCO. A NCG varia em função da operação constante da empresa, aumentando
quando as contas operacionais do ativo aumentam ou o passivo operacional diminui. E
apresenta redução quando as operações caminham no sentido inverso. Por isso, ela
pode ser positiva, negativa ou nula.
NCG positiva: indica que o fluxo de saída de recursos é mais rápido que o fluxo de
entrada, gerando necessidade de investimento em capital de giro. O ACO maior que o
PCO mostra que existe demanda de recursos para o giro do próprio negócio, que podem
ser obtidos com outros recursos próprios ou de terceiros.
NCG negativa: quando o ACO é menor que o PCO, não é necessário que a empresa
procure obter recursos de giro. Significa que o PCO está financiando todo ACO e pode
haver excedentes, aplicados em outras áreas ou em aplicações financeiras.
73
NCG nula: é uma das situações mais difíceis de ser observada, pois implica que o ACO é
exatamente igual ao PCO, ou seja, a empresa não tem necessidade de capital e consegue
financiar-se utilizando apenas as contas operacionais.
Nas situações em que o capital de giro não é suficiente para suprir NCG, é preciso buscar
outras fontes de recursos para suprir a diferença e manter as atividades operacionais da
empresa. Essa análise é feita por meio do Saldo de Tesouraria (ST), obtido pela diferença
entre os ativos circulantes financeiros e os passivos circulantes financeiros, de acordo
com a fórmula: ST = ACF – PCF.
No ACF, estão todas as aplicações de curto prazo, enquanto o PCF evidencia o total das
fontes de recursos financeiros de curto prazo. Por isso, o ST é a diferença, em curto
prazo, entre as aplicações e as fontes. Assim como a NCG, o ST também pode ser
positivo, negativo ou nulo.
ST positivo: é obtido nas situações em que o ACF é superior ao PCF, demonstrando que
as aplicações de recursos no curto prazo estão sendo realizadas com certa folga
financeira.
74
ST nulo: quando o ACF é igual ao PCF, o ST é nulo indicando que há recursos suficientes
de capital de giro para financiar a NCG.
É por esse motivo que o CCL é o indicador que demonstra a folga financeira que a
empresa possui para pagar todas as suas obrigações de curto prazo, bem como o
excedente originado pelas fontes de longo prazo, necessárias para manter as operações
da empresa.
Estruturas financeiras
75
Quadro 4.2 – Estruturas financeiras
76
Esse fenômeno é resultado do “efeito tesoura” em que um crescimento relevante das
vendas não é suportado pelos recursos necessários à cobertura de maior necessidade
de capital de giro. Nesse cenário, a empresa passa a utilizar recursos onerosos de curto
prazo (PCF) para financiar sua NCG, tornando seus negócios dependentes da
manutenção dos recursos de terceiros obtidos em instituições financeiras, mediante
pagamento de juros (NASCIMENTO, 2014).
77
obtenção, viabilizando o crescimento da empresa sem comprometer o equilíbrio
financeiro das suas operações.
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2014.
NASCIMENTO, André. Gestão do capital de giro. São Paulo: Pearson Education do Brasil,
2014.
78
5 ORÇAMENTO DE CAPITAL
5.1 Orçamento
No curto prazo, essas atividades objetivam a gestão do dia a dia das empresas; no longo
prazo, compreendem a análise estratégica do negócio, objetivando realizar
investimentos de capital, devendo ser então objeto de análise e estudo.
Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 366), “as propostas de investimentos de capital
de uma empresa podem ser enquadradas segundo suas diversas origens, isto é, de
acordo com os motivos internos que determinaram seus estudos”.
79
5.1.2 Tipos de investimentos
Por exemplo, faz-se necessário reformar as instalações elétricas da empresa para que
ela possa receber uma máquina.
80
• Investimentos mutuamente excludentes:
Por exemplo, quando a empresa recebe a proposta de aquisição de duas máquinas que
fazem uma mesma função.
81
Fonte: ASSAF NETO; LIMA, 2014, p. 375.
Todo investimento demanda a alocação de capital que pode ser próprio, de terceiros ou
uma combinação de ambos. Segundo Assaf Neto e Lima (2014, p. 376),
82
5.2.2 O período de payback
Para se calcular o payback simples, deve-se somar os resultados dos fluxos de caixa ao
valor do investimento (negativo) até que se chegue a um resultado positivo:
Para calcular o tempo exato: 30,3/140,5 = 0,215 x 12 (meses) = 2,58 ou 3 anos, dois
meses e 15 dias aproximadamente.
83
O payback simples foi de 3 anos e dois meses, enquanto o descontado foi de 4 anos e 1
mês denotando perfil mais conservador.
Por isso, são utilizadas as metodologias do valor presente líquido e da taxa interna de
retorno para se analisar a viabilidade econômica e financeira de um investimento.
O valor presente líquido é uma técnica de orçamento de capital que traz como resultado
um montante (R$). Esse montante é calculado trazendo-se a valor presente todo o fluxo
de caixa projetado do investimento a uma dada TMA e depois somando- se ao valor do
investimento (com sinal negativo).
Análise:
Fórmula:
84
Considerando o mesmo fluxo de caixa fornecido anteriormente como exemplo, o VPL
calculado manualmente é dado por:
A TIR é também a taxa que, aplicada a um fluxo de caixa, chega-se a um VPL igual a zero.
Fórmula:
Assim, temos:
85
A metodologia de cálculo da TIR é a mesma da VPL, sendo que “na mão” deve-se, por
tentativa e erro, calcular o VPL em um fluxo de caixa diversas vezes até se chegar a um
VPL igual ou bem próximo de zero. No entanto, a calculadora financeira possui a função
TIR:
A TIR pode não dar a resposta correta quando se trata de fluxos de caixa não
convencionais. Suponha o fluxo de caixa dado abaixo:
Assim, para cumprir seu objetivo, a TIRM traz todos os fluxos negativos do projeto a
valor presente – VAC, ou Valor Atual dos Custos –, e leva todos os fluxos positivos para
valor futuro – VT, ou Valor Terminal. Feito isso, a fórmula da TIRM fica:
86
Para resolução do problema exemplo, os fluxos de caixa positivos do projeto são levados
para o final do quarto ano, usando o custo de capital da empresa (TMA), para determinar
o que se costuma chamar de valor terminal (VT).
Na sequência, é calculado o Valor Atual dos Custos (VAC) para trazer todos os fluxos de
caixa negativos do projeto, ao custo de capital da empresa (TMA), para o valor atual ou
data zero:
Conforme nos ensina Ferreira (2005, p. 174), o “custo de capital é a taxa de retorno que
uma empresa necessita obter sobre os investimentos para manter inalterado o seu valor
patrimonial”. Assaf Neto e Lima (2014, p. 514) complementam ao dizer que “o custo de
capital é usado como taxa de desconto dos fluxos previstos de caixa do investimento”.
• Capital próprio;
• Capital de terceiros.
87
“a estrutura de capital-alvo é definida como a média de pesos de estrutura de capital
(baseada nos valores de mercado) que uma empresa terá no futuro”.
Conforme Assaf Neto e Lima (2014, p. 514 e 516), “o custo de capital é essencialmente
formado por uma taxa livre de risco mais um prêmio associado ao projeto em avaliação”,
sendo que “o custo de capital de terceiros é a remuneração exigida pelos credores de
dívidas da empresa” (idem) e “o custo do capital próprio é o retorno mínimo que os
acionistas exigem de seu capital investido na empresa”
O custo de capital dessa forma é determinado por uma média ponderada de ambos
denominada Custo Médio Ponderado de Capital (conhecido pela sua sigla em inglês
WACC ou Weighted Average Cost of Capital):
𝑊𝐴𝐶𝐶 = ∑𝑛 𝑊𝑖 × 𝐾𝑖
𝑖=1
Sendo que:
As empresas de capital aberto podem, no entanto, contar com outros instrumentos para
captação de recursos. No que tange aos recursos próprios, a empresa pode optar por
88
reter lucros que poderiam ser distribuídos aos acionistas ou emitir novas ações; quanto
aos recursos de terceiros, a empresa pode emitir títulos de dívida (debêntures). O
modelo matemático usado para calcular o custo de capital nessa situação é denominado
Modelo de Gordon. Conforme Ferreira (2005, p. 178), “o Modelo de Gordon baseia-se
na premissa de que o valor da ação é igual ao valor presente do fluxo de caixa dos
dividendos futuros esperados durante um horizonte infinito de tempo”.
𝑫𝒆
𝑲𝒏 = 𝑷𝒐−𝑷𝒐 𝒙 𝒇
+ 𝒈 – Custo de emissão de novas ações
Sendo que:
Sendo que:
O custo efetivo a ser considerado para o cálculo do WACC é dado após a dedutibilidade
fiscal (𝐾𝑖).
89
Dessa forma, o WACC pelo Modelo de Gordon é dado por:
𝑊𝐴𝐶𝐶 = 𝐾𝑆 × 𝑊𝑆 + 𝐾𝑁 × 𝑊𝑁 + 𝐾𝑖 × 𝑊𝑖
Exemplo prático:
Considere que uma empresa está avaliando a sua estrutura de capital. O preço corrente
da ação é de R$ 30,00 com uma distribuição anual de dividendos de R$ 6,00 e
apresentam uma taxa de crescimento constante de 5%. O deságio proveniente da
emissão de novas ações é de 20%. Quanto ao capital de terceiros, a empresa paga juros
de 10%, sendo que novos papéis têm deságio de 20% e custos de lançamento de
R$ 10,00 o papel para um prazo de vencimento de 10 anos. A alíquota do imposto de
renda é de 30%. Qual seria o seu custo médio ponderado de capital considerando uma
proporção de 30% para lucros retidos, 30% para emissão de novas ações e 40% para
recursos de terceiros?
Para qualquer projeto a ser estudado por essa empresa, a taxa interna de retorno deve
ser superior então a 20,28%. Caso contrário, o financiamento do projeto por meio da
retenção de lucros, emissão de ações ou debêntures é inviável!
90
Assaf Neto e Lima (2014, p. 748) completam dizendo que “o valor de uma empresa é
definido pelo que ela é capaz de produzir de benefícios econômicos futuros de caixa,
pelos seus resultados esperados”.
Ainda segundo Assaf Neto e Lima (2014), o patrimônio físico de uma empresa somente
terá valor se for capaz de produzir benefícios futuros. Comentam os autores que não se
dissocia da avaliação certo caráter de subjetividade, uma vez que leva em consideração
resultados futuros esperados e complementam afirmando que “não há fórmula mágica
de avaliação que produza um valor final inquestionável” (p. 748).
O método de avaliação que, conforme Brigham e Ehrhardt (2016) e Assaf Neto e Lima
(2014), é utilizado para determinação do valor da empresa é do fluxo de caixa
descontado.
Isto significa que o valor de uma empresa é determinado pela sua geração de
resultados no futuro, que devem ser descontados por uma taxa de juro que
reflete o risco do investimento. O valor da empresa é o valor presente do que
ela é capaz de produzir de benefícios de caixa no futuro. (ASSAF NETO; LIMA,
2014, p. 748).
Ainda de acordo com Assaf Neto e Lima (2014), o valor da empresa é estimado:
• Pelos benefícios futuros esperados, ou seja, pela projeção de seu fluxo de caixa;
• Pelo risco associado a esses resultados;
• Pela taxa de retorno requerida expressa pelo custo médio ponderado de capital
(WACC).
91
Somando-se o Modelo de Gordon à perpetuidade, o valor da empresa é dado por:
Exemplo:
Considere que os fluxos de caixa anuais projetados de uma empresa para os próximos
três anos sejam de $ 180.000, $ 210.000 e $ 250.000, respectivamente. A partir do quarto
ano, os fluxos de caixa crescerão indeterminadamente a uma taxa de 2% ao ano.
Considerando que o WACC da empresa é estimado em 15% ao ano, pede-se para calcular
o valor da empresa.
Assaf Neto e Lima (2014) apontam outros princípios determinantes do valor da empresa:
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2014.
92
BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. Administração financeira: teoria e prática.
Tradução: Noveritis do Brasil, Pólen Editorial, Solange Aparecida Viscont. Revisão
técnica: James R. Hunter, Peter Edward Mr. Wilson. 3. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.
93
6 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E MERCADO DE CAPITAIS
O Sistema Financeiro Nacional atual foi desenvolvido no biênio 1964/65, logo que os
militares assumiram o poder após a intervenção militar de 1964. As Leis n. 4.595/1964
e n. 4.728/1965 formaram a estrutura que existe até hoje, na qual se destaca a criação
do Banco Central do Brasil, cujas funções atuais eram realizadas pelo Banco do Brasil e
outras autarquias.
Neste bloco serão expostos os principais participantes do SFN, mostrando suas funções
e relevância para o sistema. Também serão discutidas as características do mercado de
capitais, suas funções e participantes.
Conforme nos mostra Assaf Neto e Lima (2014), o SFN é dividido em dois grandes
subsistemas: o normativo e o de intermediação.
94
Esses subsistemas possuem participantes vinculados conforme poderá ser observado a
seguir.
95
Entre suas funções, destacam-se:
96
De acordo com o site do Bacen, Conselho Nacional de Seguros Privados é o
Responsabilidades:
97
6.1.1.6 Instituto de Resseguros Brasil (IRB)
Empresa estatal até o ano de 1996, quando abriu seu capital passando a se tornar uma
empresa de economia mista, manteve o monopólio do resseguro até o ano de 2007,
quando o mercado foi aberto. Em 2013 passou por um processo de privatização. Ainda
se mantém líder no setor de resseguros no Brasil.
98
6.1.2.1 Instituições financeiras
Cumpre aqui destacar o papel dos agentes especiais (Banco do Brasil, Caixa Econômica
Federal e BNDES) que executam funções estratégicas: no caso do Banco do Brasil, além
de realizar todos os recebimentos de impostos e pagamentos previstos pela advocacia
geral da união, é responsável pela maior parte do crédito agrícola no país. A Caixa
Econômica Federal, conforme veremos a seguir, se atém ao financiamento habitacional
e o BNDES empresta recursos para segmentos considerados estratégicos pelo governo
federal.
99
6.1.2.4 Instituições auxiliares
Atualmente no Brasil existe somente uma bolsa de valores: a B3 – Brasil, Bolsa e Balcão.
São instituições que, embora não sejam consideradas instituições financeiras, exercem
um relevante papel no sistema financeiro. Entre elas, temos as empresas de factoring,
as administradoras de cartões de crédito, as sociedades de arrendamento mercantil
(leasing) e as financeiras, sendo que as empresas de factoring realizam a compra de
títulos (duplicatas), as administradoras de cartões de crédito, como a Visa, lidam com a
negociação de cartões, as empresas de leasing exercem atividades de arrendamento
mercantil (aluguel) de ativos imobilizados, notadamente veículos, e as financeiras
realizando empréstimos para financiamento de bens.
100
De uma maneira geral, todos os que participam no mercado de capitais podem ser
considerados investidores. Entretanto, a rigor, é possível estabelecer que:
Por definição, ações são a fração do capital social de uma empresa. O proprietário de
uma ação é denominado acionista e terá direito a um “pedacinho do lucro”
representativo do montante de ações que possui em relação ao total. Dividendo seria o
nome dado a essa participação no lucro, ou seja, a remuneração está vinculada ao
desempenho da empresa. As ações podem ser:
• Preferenciais: não possuem direito a voto, mas recebem uma maior parte dos
dividendos;
• Ordinárias: possuem direito a voto, mas recebem uma porção menor dos
dividendos – acionistas residuais.
101
• A remuneração são juros, normalmente pagos anualmente;
• Em alguns casos, no vencimento existe a conversibilidade em um determinado
número de ações;
• A sua remuneração não está vinculada aos resultados da empresa.
Por fim, os títulos públicos são títulos de dívida pública emitidos pelo tesouro nacional
para captação de recursos no mercado financeiro. A remuneração dos títulos públicos
tem como base a taxa SELIC, entretanto, as condições de remuneração e a forma como
são remunerados pode variar conforme o tipo de título:
102
6.2.2 Bolsa de Valores
Aqui cabe dar destaque para os chamados papéis para liquidação futura, denominados
derivativos. A palavra “derivativo” vem de “deriva de, ou vem de”. Significa que a
rentabilidade dos derivativos está atrelada à rentabilidade de um ativo negociado no
mercado à vista o qual lhe faz referência. Por exemplo, no mercado para liquidação à
vista negociam-se as ações da Petrobras; no mercado para liquidação futura,
negociam-se as opções de compra da as ações da Petrobras. Em sua essência, o mercado
futuro é um mercado de apostas para os investidores, contudo, é nesse mercado que
as empresas realizam as operações de hedge, que é justamente o oposto.
Uma operação de hedge é usada pelos empresários para buscar proteção contra as
oscilações dos preços futuros de seus produtos. Por exemplo, um agricultor pode
negociar a entrega no futuro de determinada quantidade de milho a um preço
previamente estabelecido (negociado) por um instrumento denominado contrato
futuro. Em data futura, o agricultor receberá aquele valor previamente acordado,
independentemente do preço que o milho estiver sendo negociado para entrega à vista.
Para o comprador do contrato futuro, caberá à obrigação realizar o pagamento
previamente acordado.
103
6.2.3.1 Tipos de contratos
Aqui cabe uma observação: os contratos futuros são usados para a maioria das
commodities, no entanto, ainda são usados contratos a termo para entrega de alguns
ativos como moedas, por exemplo.
Commodities são ativos que possuem a sua cotação determinada pelo mercado
internacional, sendo usados como matéria-prima para a indústria. Como exemplo,
cita-se a soja, o petróleo, o café, a soja, o couro, entre outros.
O exemplo da Petrobras citado acima é o que se chama de opções, que são derivativos,
os quais permitem ao investidor o direito, não a obrigação (como ocorrem nos mercados
futuros) de o investidor assumir determinada posição de risco em data futura.
Entretanto, diferentemente do que ocorre com os contratos futuros nos quais o
pagamento só ocorre em data futura e se referencia a mercadoria, nas opções há a
obrigação do pagamento do prêmio, que seria “custo”, para adquirir a opção.
104
Figura 6.1 – Call (compra) e put (venda).
Por fim, existem os swaps, que é um termo em inglês que significa trocar. Conforme
Hoji,
(PERIGO) (OPORTUNIDADE)
Fato: não é possível ter retornos minimamente atraentes sem assumir determinado
nível de perigo ou de risco. Existem duas formas de observá-lo:
105
• Não sistemático: risco intrínseco ao negócio, está associado à gestão da
empresa, ao seu segmento de atuação, enfim, à performance financeira que
vem obtendo ao longo de sua existência. Um investidor pode eliminar esse risco
diversificando ativos;
6.3.1 Retorno
Por exemplo:
Considere que determinado ativo gerou dividendos de R$ 1,00 em um ano e foi vendido
por R$ 20,00. O preço de aquisição desse ativo foi de R$ 15,00. Qual foi o retorno gerado
por esse ativo?
106
6.3.2 Cálculo do risco
O cálculo do risco é mais complexo e envolve cálculos estatísticos. O risco pode ser
avaliado para um ativo de maneira individual. Nesse caso, o estudo é realizado através
da análise de sensibilidade onde se avalia através da projeção de cenários os retornos
associados para cada ativo. Esses cenários podem ser pessimistas, mais prováveis ou
otimistas. Por exemplo: considere as possibilidades de ocorrência em 30% nos cenários
pessimista e otimista e 40% no cenário mais provável.
107
Suponha calcular o risco entre dois ativos gama e beta, considerando que os retornos
estimados para os diferentes cenários abaixo estimados:
Verifica-se dessa forma ser o ativo beta o mais arisco, porém não se pode deixar de
observar ser o que gera mais retorno em cenários positivos.
108
6.3.2.1 Investindo em carteiras
Para calcular o risco de uma carteira de ativos, deve-se calcular o desvio-padrão para
cada um dos ativos, a covariância entre eles e por fim a correlação. A correlação é uma
medida estatística que mostra como os retornos de dois ou mais ativos se dão entre si
ao longo do tempo sendo que o resultado pode ser:
• Positivo: ruim, indica que os ativos têm variações de preço em mesmo sentido.
Se o resultado for (+1), chama-se positiva perfeita.
109
Suponha os retornos históricos para os ativos X e Y conforme a tabela a seguir:
COVX, Y 1,12
CORRX, Y 0,400654665
110
Observação: Para se chegar ao resultado da correlação 0,400654665
deve-se manter todas as 9 casas decimais em todas as operações realizadas
anteriormente, ou seja, deve ser feita a seguinte multiplicação:
(1,624807681 x 1,720465053) = 2,7954248933.
Na sequência teríamos a correlação a partir de:
1,12 / 2,795424833 = 0,400654665.
Nesse caso, a correlação é positiva, pois seu resultado é positivo e maior do que 0.
Agora existe a questão do risco sistemático. Esse é um tema de discussões até hoje entre
os investidores. De que maneira medir como o preço de determinado ativo responde às
oscilações do mercado como um todo, provocado por questões externas? A resposta:
usando o modelo desenvolvido por Harry M. Markowitz e Willian F. Sharpe – MODELO
CAPM (Capital Asset Pricing Model ou modelo precificador de ativos de capital).
O beta de uma empresa “X” em relação a uma carteira de ativos de mercado “M”
é dada por:
111
O beta da empresa “X” é a razão da covariância entre os retornos históricos do ativo X
em relação a uma carteira de ativos de mercado “M” pela variância da carteira de ativos
de mercado.
Exemplo:
112
Nesse caso, o beta é menor do que 1, indicando que a ação da empresa “X” oscila menos
do que proporcionalmente o mercado. Os betas podem ser:
Exemplo:
Supondo o beta calculado da empresa “X”, o retorno oferecido por ativos considerados
livres de risco igual a 7% e o retorno de uma carteira de ativos de mercado igual a 12%,
o retorno exigido para o ativo “X” é dado por:
A governança corporativa veio como uma forma de contornar um problema cada vez
mais comum nas grandes corporações: o problema de agência. Segundo Brigham e
Ehrhardt (2016, p. 442),
113
complicada se o proprietário vende algumas ações da empresa para um
estranho, e ainda mais complicada se o proprietário contrata alguém para
gerir a empresa. Nessa situação, há muitos possíveis conflitos entre
proprietários, funcionários e credores. Esses conflitos de agência ocorrem
sempre que os proprietários autorizam alguém a agir em seu nome como seus
agentes.
Essa delegação de tarefas surgiu pelo próprio desenvolvimento das empresas, que
passaram a se tornar grandes corporações, associado ao desinteresse das famílias dos
fundadores de se manter à frente dos negócios. Isso provocou o “descolamento da
propriedade da gestão” fazendo surgir daí o problema de agência.
O tema começou a ganhar corpo nos debates corporativos no início da década de 1990
com escândalos corporativos na Inglaterra.
Em 1992, um renomado empresário britânico, Sir Cadbury, elaborou o que viria a ser o
primeiro código de boas práticas de governança corporativa. Para desenvolver meios de
administrar o problema de agência, passaram a desenvolver estudos de governança
corporativa.
114
Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, entidade vinculada a CVM e
responsável pela disseminação do tema no Brasil:
115
• Auditoria independente: tem como atribuição inspecionar as contas da
empresa, verificando a conformidade das demonstrações contábeis que
deverão estar escrituradas conforme as normas vigentes do país.
As empresas devem sim objetivar o lucro, mas, considerando as mudanças nos valores
que vêm ocorrendo nas sociedades, outras questões foram somadas a seus objetivos. É
necessário que possuam uma preocupação efetiva com o bem-estar social e o meio
ambiente.
Atualmente, as empresas que não demonstram essa preocupação vêm sendo alvo de
críticas, principalmente nas redes sociais. Essas críticas podem deteriorar a imagem de
uma empresa e isso, por sua vez, pode gerar dúvidas sobre sua capacidade de gerar os
retornos esperados pelos acionistas. Essa dúvida pode derrubar os preços das ações.
Dessa forma, a discussão sobre os objetivos das empresas está mais alinhado aos 3 Ps
da sustentabilidade: People (Pessoas), Planet (Planeta) e Profit (Lucro).
• Profit (Lucro): é claro que, para poder produzir, as empresas precisam de lucro.
Sem atingir o resultado financeiro, não há condições de se produzir. Para tal,
devem se desenvolver sistemas de metas quantitativas e qualitativas.
O resultado das empresas não deve apenas ser um número positivo, mas deve gerar um
valor superior à rentabilidade oferecida pelas opções mais conservadoras de
investimento: criar valor para os empresários, para os acionistas e, assim, para a
sociedade como um todo.
116
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2014.
117